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A areté, no entanto, é uma outorga de Zeus: é diminuída, quando se cai na
escravatura, ou é severamente castigada, quando o herói comete uma hýbris,
uma violência, um excesso, ultrapassando sua medida, o métron, e desejando
igualar-se aos Deuses. (BRANDÃO, 2004a, p.143)
No entanto, se os conceitos de Hýbris e Hamartía são indispensáveis para o
entendimento de como o trágico se configura a partir do humano, não menos essencial
é compreender o significado de Moira para os gregos antigos. Para isso vale, de início e
mais uma vez, recorrer ao mesmo Junito Brandão (2000) e a seu Dicionário Mítico-
Etimológico:
Moira, em grego Μolρα (Moîra), que provém do verbo µεφεσίJαι (meíresthai),
obter ou ter em partilha, obter por sorte, repartir, donde Moira é a parte, o lote,
o quinhão, aquilo que a cada um coube por sorte, o destino. Associada à
Moira tem-se, como seu sinônimo, nos poemas homéricos, a voz árcado-
cipriota Aîsa, em grego ΑΙσα (Aîsa), da mesma família etimológica do verbo
αloyµνάν (aisymnân), reinar sobre, ter o comando de. O grego homérico tem a
forma οϊτος (oîtos), sorte, destino. Uma aproximação com o osco aeteis, parte,
não é de todo desprezível. De qualquer forma, não se possui ainda uma
etimologia segura para Aîsa
que significa, como Moîra, lote, quinhão, a parte
que toca a cada um. Nota-se, de saída, o gênero feminino de ambos os
vocábulos, o que remete a idéia de fiar, ocupação própria da mulher e das
Moiras ou Queres. De outro lado, Moira e Aîsa aparecem no singular e só uma
vez na Ilíada, XXIV, 49, a primeira surge no plural, o que mais tarde, diga-se
logo, se repetirá muitas vezes. O destino só tardiamente foi personificado e,
em conseqüência, Moira e Aîsa não foram antropomorfizadas: pairam
soberanas acima dos deuses e dos homens, sem terem sido elevadas à
categoria de divindades distintas. A Moira, o destino cego, em tese, é fixo,
imutável, não podendo ser alterado nem pelos próprios deuses. Há, no
entanto, os que fazem sérias restrições a esta assertiva, sobretudo em relação
a Zeus. (BRANDÃO, 2000, p.140-141)
Em seu sentido mais direto, portanto, poder-se-ia dizer que a Moira,
conotativamente, significa o destino. Trata-se de uma entidade que, identificando-se
com o próprio Zeus, guarda em si a expressão da essência divina, na medida em que
também é reconhecida a partir da Ananké (necessidade) e de Nêmesis (justiça). Como
se pode ver pela análise mítica e etimológica anteriormente citada, Moira é o lote, a
parte que cabe a cada um. E, aqui, estamos falando de deuses e de homens.