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Não tem muito estresse entre nós dois. Por uma questão de não ter sentado
para fazer isso a gente vai dividindo. Então viajar: ora eu pago, ora ele paga,
ora os dois pagam. Eu pago o hotel, ele paga as despesas de ligação, então é
uma coisa muito sem regra, em minha opinião. A gente participa muito do que
o outro faz. (Carla)
Nas divisões das tarefas no cotidiano contemporâneo perdem-se cada vez mais os estigmas das
atividades destinadas aos homens e às mulheres, permitindo maior troca e a criação de parcerias.
Eu gosto de ir pra cozinha, de levar uma comidinha diferente para a gente
comer, mas já não gosto de lavar prato, não gosto de lavar louça. Então eu não
tenho, assim, essa preocupação mais doméstica, ele tem mais, ele liga mais pra
isso. Agora por exemplo, essa questão de administrar é com ele, ele gosta como
ele vê, ele percebe que eu não me ligo muito, ele assume essa parte. (Fernanda)
Entre os entrevistados, foi interessante observar a presença das divisões de tarefas como sendo
realizadas mais por afinidades do que por padrões sociais previamente estabelecidos.
Na verdade eu transfiro para ela tarefas do homem, tem que contratar
pedreiro, eletricista, isso e aquilo, não gosto de mexer com isso. Ultimamente
quem tem feito isso sou eu, mas até outro dia, por exemplo, teve a reforma, não
vou me meter na reforma, dei o dinheiro e não vou me meter. Não quero saber
de obra, quebra-quebra, poeira, sujeira não é minha praia, não fiz faculdade
para engenheiro. Mas, ultimamente, acho que eu cuido mais da casa, e também
sou mais organizado, gosto de ver tudo arrumadinho, bonitinho (...). (Victor)
Vale indicar que um dos homens dispunha de maior tempo nas atividades domésticas que a
própria esposa.
Não tínhamos empregadas nos primeiros anos, a gente optou por isso pra ter
uma intimidade maior. Como ela não sabia fazer as coisas e eu sabia, eu que
assumi mais, só que eu assumi a parte do homem e da mulher, eu assumi tudo
praticamente. Ela só fazia comida, ela cozinhava melhor do que eu, mas eu
cuidava muito da casa, lavava, passava, depois a gente contratou empregada,
pois eu já não estava conseguindo dar conta. (Roberto)
Assim, o jogo entre masculino e feminino na relação conjugal toma novos rumos nos quais não
mais se encontram papéis previamente estabelecidos, mas uma nova realidade em que homem e
mulher necessitam aprender o cuidado doméstico no decorrer da vida cotidiana.
Ele melhorou muito sobre a questão de tomar iniciativa porque eu comecei a
pressionar também, falei assim “oh, tem que chamar o chaveiro, ele que chame
o chaveiro”. Então, ou Victor se movimentava ou as coisas iam ficar
quebradas mesmo, eu tive um over book mental, não dava, era coisa de mais