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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
JADER DE OLIVEIRA SANTOS
VULNERABILIDADE AMBIENTAL E ÁREAS DE
RISCO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO COCÓ –
Região Metropolitana de Fortaleza - Ceará
Fortaleza – Ceará
2006.
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ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
JADER DE OLIVEIRA SANTOS
VULNERABILIDADE AMBIENTAL E ÁREAS DE RISCO
NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO COCÓ – Região
Metropolitana de Fortaleza - Ceará
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico
em Geografia da Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do grau de mestre em
Geografia. Área de Concentração: Análise Geoambiental e
ordenação do Território nas Regiões Semi-Áridas e
Litorâneas.
Orientador: Marcos José Nogueira de Souza
Fortaleza – Ceará
2006.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Curso de Mestrado Acadêmico em Geografia
Título do Trabalho: VULNERABILIDADE AMBIENTAL E ÁREAS DE RISCO NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO COCÓ – Região
Metropolitana de Fortaleza - Ceará
Autor: Jader de Oliveira Santos
Defesa em: 11/09/2006. Conceito obtido:_____
Nota obtida:: ______
Banca Examinadora
____________________________________
Marcos José Nogueira de Souza, Prof. Dr.
Orientador
____________________________________
Antonio Jeovah de Andrade Meireles, Prof. Dr.
____________________________________
Vládia Pinto Vidal de Oliveira, Profa. Dra.
iv
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Fátima e Hélio pelo amor, dedicação e
princípios que me foram dedicados, e que se constituem
a base de minha formação pessoal.
Aos meus irmãos Alexandre e Joyce pelo
companheirismo, incentivo e apoio que me foi
dispensado.
A todos os moradores de áreas de riscos situados às
margens do leito principal e afluentes do rio Cocó.
v
AGRADECIMENTOS
A presente dissertação não é fruto de um esforço individual, mas sim de um
grande esforço coletivo, pois várias pessoas contribuíram direta ou indiretamente
para o seu desenvolvimento. É justamente a essas pessoas que se seguem os meus
sinceros agradecimentos.
Agradeço à minha família, principalmente à minha mãe e meu irmão pela
compreensão, força e incentivo ao longo de todo esse percurso.
Agradeço ao meu orientador professor Marcos José Nogueira de Souza pela
confiança em mim depositada, presteza, ética profissional demonstrada no decorrer
da orientação, e principalmente pelo elo profissional e pessoal construído.
Agradeço à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – FUNCAP pelo apoio financeiro através da concessão da bolsa de
pesquisa que possibilitou o desenvolvimento da dissertação.
Agradeço também, aos professores Levi Sampaio, Elisa Zanella, Salete
Souza, Daniel Pinheiro, Lidriana Pinheiro, Luiz Cruz, Eustógio Dantas, Amaro
Alencar e tantos outros que contribuíram para minha formação acadêmica na
graduação e na pós-graduação.
Agradeço fortemente aos amigos que me apoiaram no ingresso do mestrado
e ao longo da pesquisa, principalmente ao grande amigo Prof. Paulo Thiers pelo
companheirismo e confiança, ao Prof. Jeovah Meireles pelas contribuições dadas
em diversos momentos e oportunidades a mim oferecidas, ao Prof. Manoel
Fernandes pela importante contribuição em minha formação acadêmica e pessoal,
ao Marcus Vinícius pela colaboração na reta final do trabalho e ao Flávio Rodrigues
pelo incentivo e apoio, desde a elaboração do projeto de pesquisa à conclusão da
dissertação.
Agradeço às Professoras Vládia Pinto Vidal de Oliveira e Sandra Baptista da
Cunha pelas contribuições dadas à pesquisa para o desenvolvimento do trabalho.
Agradeço aos colegas de laboratório de Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento, e Laboratório de Geografia Física e Estudos Ambientais
Auricélia, Nancy, Eder, Paula e principalmente à Professora Lúcia Brito pela gentil
acolhida, amizade e pronto apoio nas mais diversas ocasiões.
Agradeço aos amigos Taygoara Martins e Lucinaldo Acácio pelo
profissionalismo e presteza nos trabalhos de campo. Agradeço também a Clarice
Silvestre e Márcia Veras pelo companheirismo e apoio.
vi
Agradeço a todos que fazem o MAG, notadamente aos funcionários Gerda,
Júlia, Eslebão, Juliana e Jaqueline pelos incontáveis momentos em que necessitei
de sua colaboração. Aos colegas de MAG por ter sido representante discente no
Colegiado do curso, onde pude participar de um processo construtivo objetivando a
melhoria do mestrado. Porém devo um agradecimento especial aos colegas da
turma 2004, Adriana, Paulo, Eluziane, Sergiano, Davis, João Sérgio, Josi, Marcelo,
amiga Marília e Ana Maria. Esta última em especial pelo carinho, amizade, incentivo
e cobranças a mim dirigidas.
Agradeço aos diversos órgãos que forneceram subsídios ao
desenvolvimento dessa pesquisa, principalmente à Coordenadoria de Defesa Civil
de Fortaleza na pessoa do Sr. Erlon Alves, à Secretaria de Planejamento de
Fortaleza na pessoa do Secretário Prof. Meneleu Neto, aos Srs. Eduardo Sávio e
Ricardo Martins da FUNCEME.
Agradeço a todos os companheiros da Coordenadoria de Políticas
Ambientais da SEMAM, Lenine, Flávia, Bete, Roberta, Josael, João Saraiva, Patrícia
Notthingam, Andréa Crispim, Raimundo José, Wilson Uchoa, e principalmente à
Rosana Coelho e Cláudio Bezerra pelo apoio e compreensão.
Agradeço à Cleide Madeiro pelo carinho, paciência, compreensão e pelo
tempo que deixamos de estar juntos para a realização desse trabalho.
Em fim, agradeço também às várias pessoas que contribuíram direta ou
indiretamente para a conclusão da presente dissertação e que não foram citadas,
porém tiveram papel fundamental na construção desse trabalho.
vii
Resumo
O presente estudo trata da Vulnerabilidade Ambiental na bacia hidrográfica do Rio
Cocó. A referida bacia abrange parte significativa da Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF) e abriga um diversificado mosaico de sistemas ambientais que sofreram agudas
transformações motivadas pelo forte processo de urbanização e rápido crescimento
demográfico verificado na cidade na Fortaleza e sua Região Metropolitana nos últimos
quatro decênios. Essas transformações desencadearam uma série de problemas sócio-
ambientais, com destaque para a degradação dos recursos naturais e ocupação
desordenada das áreas dotadas de maior vulnerabilidade ambiental. Neste sentido a
presente pesquisa apresenta a caracterização dos sistemas ambientais, principais impactos,
riscos e formas de uso e ocupação do solo existentes na bacia hidrográfica do rio Cocó. Os
sistemas ambientais foram identificados a partir de um referencial sistêmico e holístico
respaldado numa discussão geoambiental de forma a compreender as inter-relações
estabelecidas entre os processos geoambientais e a estrutura social. A vulnerabilidade
ambiental apresenta-se mais fortemente nos ambientes recentes da planície litorânea,
planície fluvial e alguns setores das planícies lacustres, flúvio-lacustres e vertentes mais
íngremes dos maciços e cristas residuais. Por outro lado as áreas com menor
vulnerabilidade localizam-se nos setores mais conservados da Serra da Aratanha, trechos
mais abrigados da depressão sertaneja e nos tabuleiros pré-litorâneos. Ao final do trabalho
pôde-se concluir que o principal problema refere-se a ocupação indiscriminada dos terrenos
instáveis, principalmente por moradias de famílias de baixa renda nas áreas dotadas de
maior vulnerabilidade ambiental, o que expõe os residentes a uma série de riscos
ambientais, o que denuncia a irracionalidade no processo de uso e ocupação do solo e a
inadequação desse processo face a capacidade de suporte dos sistemas ambientais
existentes.
viii
Lista de Siglas
AMIS – Associação Amigos da Sabiaguaba
APA – Área de Proteção Ambiental
APP – Área de Preservação Permanentes
ARIE – Área de Relevante Interesse Ecológico
Art. – Artigo (referente à legislação)
AUMEF – Autarquia Metropolitana de Fortaleza
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNB – Banco do Nordeste do Brasil
CAD – Computer Aided Designer (Desenho assistido por Computador)
CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará
CBH – Comitê de Bacia Hidrográfica
CE – Estado do Ceará
CEASA/CE – Central de Abastecimento do Ceará S/A
CELACO – Ceará Laminado e Compensados
CEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente (antiga sigla)
CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco
COEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente
COGERH – Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos
COMDEC – Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Fortaleza
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
CONERH - Conselho Estadual de Recursos Hídricos do Ceará
CPDH – Centro de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (Serviço Geológico do
Brasil)
DI – Distrito Industrial
DNER – Departamento Nacional de Estadas e Rodagem
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
DSG – Diretoria do Serviço Geográfico
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
EMLURB – Empresa de Limpeza Urbana
EPE – Erro Padrão Estimado
ETA – Estação de Tratamento de Água
ix
ETA-Gavião – Estação de Tratamento de Água do Gavião
ETM – Enhanced Thematic Mapper
ETM+ – Enhanced Thematic Mapper Plus
FIEC – Federação das Indústrias do Ceará
FLONA – Floreta Nacional
FUNCEME – Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos
GIS – Geographic Information System (mesmo que SIG)
GPS – Global Position System (Sistema de Posicionamento Global)
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano
LANDSAT – Land Remote Sensing Satellite
LO – Licença de Operação
M.Cidades – Ministério das Cidades
MMA – Ministério do Meio Ambiente
NEB – Nordeste Brasileiro
OMT – Organização Mundial do Turismo
ONG – Organização Não Governamental
PARNA – Parque Nacional
PEC – Padrão de Exatidão Cartográfica
PEMAS - Plano Estratégico Municipal de Assentamentos Subnormais
PMF – Prefeitura Municipal de Fortaleza
PRADE – Plano de Recuperação de Área Degradada
REP – Reserva Ecológica Particular
RESEX – Reserva Extrativista
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
RMF – Região Metropolitana de Fortaleza
RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural
SAABRMF – Sistema de Abastecimento de Água Bruta para Região Metropolitana
de Fortaleza
SAD 69 – South American Datum – 1969
SDU – Secretaria do Desenvolvimento Urbano
SEDURB – Superintendência do Desenvolvimento Urbano do Estado do Ceará
x
SEINF – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura de
Fortaleza;
SEINFRA – Secretaria Estadual de Infra-estrutura
SEMACE – Superintendência Estadual do Meio Ambiente
SEMAM – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano
SFIEC – Sistema da Federação das Indústrias do Ceará
SIG – Sistemas de Informação Geográfica
SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SOCEMA - Sociedade Cearense de Proteção e Defesa do Meio Ambiente
SPRING - Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas
SPRING – Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas;
SUPLAM –Superintendência do Planejamento do Município de Fortaleza
TGS – Teoria Geral dos Sistemas
TM – Tematic Mapper
U.C – Unidade de Conservação
U.R.S.S – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
UECE – Universidade Estadual do Ceará
UFC – Universidade Federal do Ceará
ZCIT – Zona de Convergência Intertropical
ZEE – Zoneamento Ecológico-Econômico
xi
Lista de Figuras
Figura 01 - Geossistema, unidade físico territorial. .................................................................25
Figura 02: Evolução do número de mortes nos períodos de 1946 a 1967 e 1968 a 1989;.......49
Figura 03: Relação entre mortes e os prejuízos materiais........................................................50
Figura 04 Localização da área de estudo..................................................................................52
Figura 05: Município de Fortaleza divisão por bacias hidrográficas .......................................53
Figura 06: Média pluviométrica nos municípios drenados total ou parcialmente pela bacia do
Cocó..........................................................................................................................................59
Figura 07: Distribuição das chuvas ao longo do ano................................................................60
Figura 08: Horas de insolação ao longo do ano .......................................................................61
Figura 09: Gráfico que evidencia a relação precipitação x evaporação e média evaporada....63
Figura 10: Total pluviométrico anual no período de 1974 a 2005...........................................64
Figura 11: Rio Cocó após a ETA-Gavião. Notar a adutora e o padrão sinuoso do rio. ...........69
Figura 12: Vista aérea de parte da planície flúvio-marinha do rio Cocó..................................70
Figura 13: Gráfico da distribuição dos poços por aquífero......................................................71
Figura 14: Vegetação de caatinga entre os municípios de Itaitinga e Pacatuba.......................80
Figura 15: Vegetação de caatinga após as primeiras chuvas (abril de 2006), jusante do Açude
Gavião.......................................................................................................................................80
Figura 16: Mata ciliar a montante da ponte sobre a av. Perimetral. Notar a quantidade de lixo
acumulado.................................................................................................................................81
Figura 17: Planície flúvio-marinha do rio Cocó a jusante da ponte sobre a av. Eng. Santana
Júnior........................................................................................................................................82
Figura 18: Vegetação de dunas fixas no bairro Dunas em Fortaleza.......................................83
Figura 19: Mapa de Sistemas Ambientais................................................................................90
Figura 20: Vista parcial da Serra da Aratanha........................................................................101
Figura 21: Intenso processo de ocupação no entorno do Parque Ecológico do rio Cocó.......103
Figura 22: Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba e APA da Sabiaguaba. ......105
Figura 23: Possível mosaico de U.C´s na região Leste de Fortaleza......................................108
Figura 24: Cicatrizes deixadas por antiga lavra de mineração em Itaitinga...........................118
Figura 25: Bacias hidrográficas do estado do Ceará. .............................................................124
Figura 26: Bacias Metropolitanas e seus principais reservatórios..........................................125
Figura 27: Canal de ligação do Riaçhão ao açude Gavião.....................................................126
Figura 28: Vista parcial da área urbana de Pacatuba..............................................................129
Figura 29: Riacho Timbó nas proximidades da confluência com o Cocó, notar na vegetação a
velocidade do escoamento......................................................................................................
130
Figura 30: Avanço da ocupação urbana sobre o campo de dunas..........................................131
Figura 31: Área de inundação ocupada e residências expostas a riscos.................................131
Figura 32: Ocupação da planície de inundação do riacho sangradouro do açude Uirapuru, na
av. Alberto Craveiro próximo à CHESF e a confluência do com o rio Cocó. .......................133
Figura 33: Planície fluvial do rio Cocó ocupada com o aterro do Jangurussu.......................134
Figura 34: Vista do balneário das Andréas.............................................................................139
Figura 35: Atividade e cicatrizes de mineração às margens da CE-060. ...............................142
Figura 36: Imagem de satélite localizando área de extração mineral clandestina..................143
Figura 37: Cicatrizes de mineração em área de topografia plana nos tabuleiros, verificar os
desníveis na antiga lavra.........................................................................................................
144
Figura 38: Péssimas condições da estrada de acesso às lavras clandestinas. Notar ao fundo a
adutora e estação elevatória do Ancuri...................................................................................145
Figura 39: Impactos derivados da mineração sobre o campo de dunas da Sabiaguaba. ........145
Figura 40: Desmonte do campo de dunas por mineração.......................................................146
Figura 41: Engarrafadora de água mineral em área de tabuleiros (Fortaleza-Ce). Notar ao
fundo o remanescente de mata de tabuleiro do Curió. ...........................................................147
xii
Figura 42: Cultivo em área dos Tabuleiros. ...........................................................................149
Figura 43: Preparação dos produtos florestais para serem transformados em carvão............150
Figura 44: Poluição atmosférica causada pela transformação do carvão vegetal. Notar a
espessura das toras utilizadas no processo. ............................................................................150
Figura 45: Lagoa assoreada às margens da av. Perimetral nas proximidades do Conjunto José
Walter .....................................................................................................................................162
Figura 46: Drenagem pluvial na área do aterro do Jangurussu. Notar a velocidade do
escoamento.............................................................................................................................163
Figura 47: Áreas de risco no Canal do Tauape.......................................................................164
Figura 48: Vista parcial mostrando o elevado nível de eutrofização do Canal do Tauape. Notar
a ocupação irregular pelas margens e obras de limpeza do canal. .........................................165
Figura 49: Área total do remanescente de mata de tabuleiro do Curió. .................................167
Figura 50: Porte dos indivíduos existente no remanescente do Curió....................................168
Figura 51: Remanescente de cerrado no bairro Cidade dos Funcionários. Notar o elevado grau
de ocupação na sua área de entorno........................................................................................
169
Figura 52: Ocupação da planície flúvio-marinha pelo shopping Iguatemi ............................170
Figura 53: Mortandade da vegetação de mangue à montante da av. Gal. Murilo Borges......171
Figura 54: Riscos de acidentes e desmoronamentos no barreiro da Cidade 2000 em Fortaleza-
Ce............................................................................................................................................
175
Figura 55: Riscos de desmoronamentos no barreiro da Sabiaguaba......................................175
Figura 56: Áreas de Risco na cidade de Fortaleza em 2006...................................................180
Figura 57: Áreas de Risco na bacia do rio Cocó ....................................................................182
Figura 58: Mapa de Unidades de Intervenção........................................................................192
xiii
Lista de Quadros
Quadro 01 - Classificação das paisagens por Bertrand. ...........................................................26
Quadro 02: Ecodinâmica das paisagens, vulnerabilidade e sustentabilidade ambiental..........29
Quadro 03: Síntese das condições litoestratigráficas e formas de relevo.................................57
Quadro 04: Aqüíferos na bacia hidrográfica do rio Cocó e suas características......................74
Quadro 05: Correlação entre a classificação anterior e atual classificação de solos................75
Quadro 06: Classe de solos, unidades geomorfológicas e feições morfológicas. ....................78
Quadro 07: Unidade fitoecológica, classe de solos e localização geográfica. .........................84
Quadro 08: Sinopse da Compartimentação Geoambiental – Faixa praial, dunas móveis e fixas.
..................................................................................................................................................86
Quadro 09: Sinopse da Compartimentação Geoambiental –Planície flúvio-marinha, planícies
fluviais, lacustres e flúvio-lacustres. ........................................................................................87
Quadro 10: Sinopse da Compartimentação Geoambiental – Planícies fluviais e tabuleiros pré-
litorâneos ..................................................................................................................................88
Quadro 11: Sinopse da Compartimentação Geoambiental – Serra da Aratanha e depressão
sertaneja....................................................................................................................................89
Quadro 12: Impactos ambientais, conseqüências negativas e sistemas ambientais afetados. 173
Quadro 13: Evolução no número das áreas de risco e quantidade de famílias atingidas em
Fortaleza,Ce............................................................................................................................178
Quadro 14: Síntese das características ambientais, ecodinâmica, uso atual, impactos e riscos
associados, e diretrizes ambientais.........................................................................................184
xiv
Lista de Tabelas
Tabela 01: Impactos Ambientais conforme o grau de urbanização..........................................41
Tabela 02: Indicadores de eventos catastróficos de 1974 a 1989.............................................48
Tabela 03 Relação entre a média de mortes e os prejuízos materiais causados.......................50
Tabela 04: Média pluviométrica anual nos municípios total ou parcialmente drenados pela
bacia do Cocó ...........................................................................................................................58
Tabela 05: Horas de insolação ao longo dos meses .................................................................60
Tabela 06: Média anual e média das temperaturas máximas e mínimas..................................61
Tabela 07: Evaporação ao longo do ano (mm).........................................................................62
Tabela 08: Distribuição das chuvas por município no período de 1974 a 2005.......................65
Tabela 09: Poços por aqüíferos nos município da Bacia..........................................................71
Tabela 10: População dos municípios integrantes da bacia em comparação com a RMF e o
CE...........................................................................................................................................112
Tabela 11: Crescimento Demográfico nos municípios drenados pela bacia do rio Cocó em
comparação à RMF e ao Ceará...............................................................................................113
Tabela 12: Percentual da população em relação à educação..................................................114
Tabela 13: Rede de abastecimento de água, domicílios com banheiros e acesso ao serviço de
coleta de lixo...........................................................................................................................115
Tabela 14: Consumo percentual de água no Brasil ................................................................122
Tabela 155: Situação atual dos mananciais que abastecem Fortaleza....................................126
Tabela 16: Recurso mineral, ocorrência e destino final. ........................................................148
xv
Sumário
Resumo.....................................................................................................................vii
Lista de Siglas...........................................................................................................viii
Lista de Figuras..........................................................................................................xi
Lista de Quadros.......................................................................................................xiii
Lista de Tabelas....................................................................................................... xiv
1. Introdução..........................................................................................................17
2. Material e Método ..............................................................................................21
2.1. Análise Geoambiental ..............................................................................................22
2.1.1. Geossistemas ................................................................................................23
2.1.2. Ecodinâmica da paisagem ............................................................................26
2.2. Procedimentos Técnico-operacionais.......................................................................31
3. Vulnerabilidade e Riscos Ambientais em Bacias Hidrográficas .........................37
3.1. Impacto Ambiental...................................................................................................38
3.2. Vulnerabilidade e Riscos Ambientais ......................................................................42
4. Caracterização Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Cocó....................52
4.1. Componentes geoambientais....................................................................................54
4.1.1. Geologia Geomorfologia...........................................................................54
4.1.2. Hidroclimatologia.........................................................................................57
4.1.3. Solos e Cobertura Vegetal............................................................................74
4.2. Sinopse da Compartimentação Geoambiental..........................................................84
5. Áreas Legalmente Protegidas............................................................................91
5.1. Áreas de Preservação Permanente (APP).................................................................92
5.2. Unidades de Conservação.........................................................................................96
5.2.1. Unidades de Conservação existentes............................................................99
6. Uso e Ocupação do Solo .................................................................................111
6.1. Histórico de Uso e Ocupação da Bacia Hidrográfica do rio Cocó.........................115
6.2. Principais Tipos de Usos........................................................................................121
6.2.1. Uso dos Recursos Hídricos.........................................................................121
6.2.2. Urbano e Industrial.....................................................................................127
6.2.3. Turismo.......................................................................................................137
6.2.4. Mineração...................................................................................................141
6.2.5. Agroecossistemas .......................................................................................148
6.3. Ações da Sociedade Civil organizada para a Proteção Ambiental.........................151
7. Estado de Conservação, Impactos, Riscos Ambientais e Subsídios ao
Zoneamento Ecológico-Econômico.........................................................................159
7.1. Estado Atual de Conservação dos Recursos Naturais............................................160
7.2. Impactos e Riscos associados na Bacia do rio Cocó..............................................172
7.2.1. Áreas de Risco na Bacia do Rio Cocó........................................................177
7.3. Síntese do Estado Atual de Conservação, Impactos e Riscos Ambientais.............183
7.4. Subsídios ao Zoneamento Ecológico-Econômico..................................................190
8. Conclusões e Recomendações........................................................................193
Referências.............................................................................................................199
xvi
Bibliográficas .....................................................................................................................199
Documentais.......................................................................................................................204
Legislação...........................................................................................................................205
Hipertexto...........................................................................................................................206
Anexos ....................................................................................................................208
1. Introdução
A partir da segunda metade do século XX, o Brasil vivenciou um
intenso processo de urbanização. Em 1940 o país era predominante rural, com
apenas 26% da população vivendo nas cidades. No ano 2000 a população
urbana atinge mais de 82% da população total. Esse processo, segundo
Maricato (1996) foi desencadeado por uma forte intervenção estatal, pautada
no binômio crescimento e pobreza com concentração dos investimentos
financeiros nos grandes centros urbanos. Ainda segundo a autora, o fim desse
suposto desenvolvimento na década de 1980 ocasionou a ampliação das
desigualdades sociais gerando uma enorme massa de excluídos.
No Ceará assim como no Brasil, o processo de urbanização trouxe
uma série de conseqüências negativas, principalmente para o espaço
compreendido pela Região Metropolitana de Fortaleza – RMF e, por
conseguinte na bacia hidrográfica do rio Cocó. A referida bacia ocupa uma área
de 513,84 km² abrangendo parte dos municípios de Pacatuba, Itaitinga,
Maracanaú, Maranguape, Eusébio, Aquiraz e Fortaleza todos integrantes da
RMF. Suas nascentes localizam-se na vertente oriental da Serra da Aratanha
município de Pacatuba e sua desembocadura em Fortaleza entre as praia do
Caça e Pesca e Sabiaguaba. A bacia do Cocó compreende um mosaico de
paisagens, abrangendo desde os terrenos cristalinos dos maciços residuais e
depressão sertaneja a cobertura sedimentares cenozóicas da planície
litorânea, planícies e tabuleiros pré-litorâneos.
Por estar inserida totalmente na RMF o espaço compreendido pela
bacia hidrográfica do rio Cocó sofreu e sofre fortemente as conseqüências
negativas desse rápido processo de urbanização e adensamento demográfico,
trazendo desequilíbrios significativos nas relações sociedade x natureza e
tendo como efeito mais marcante a degradação ambiental e a ampliação das
desigualdades sociais. Esses por sua vez se refletem em inúmeros problemas
relacionados aos recursos naturais, educação, transporte, saúde, moradia, má
qualidade de vida, dentre outros.
Como conseqüência do processo de urbanização tem-se a
supervalorização do espaço urbano, o que aumenta a segregação espacial e
18
dificulta o acesso à moradia, fazendo com que a população de baixa renda
busque alternativas de sobrevivência e venham a ocupar terrenos dotados de
alta vulnerabilidade ambiental, que estão constantemente sujeitos às
contingências ambientais, as chamadas áreas de risco. Esse problema assume
proporções alarmantes na bacia hidrográfica do rio Cocó, onde concentram-se
cerca de 35% das 105 áreas de risco existentes na cidade de Fortaleza.
Os riscos ambientais são derivados primordialmente da ocupação
irregular dos ambientes dotados de maior vulnerabilidade ambiental, ou seja,
na realidade o problema se manifesta pela irracionalidade do processo de
ocupação do espaço. Essas áreas, via de regra, são constituídas por áreas
legalmente protegidas, onde há precariedade do controle ambiental e
consequentemente ausência de fiscalização favorecendo a ocupação.
Ante o exposto, a presente pesquisa busca diagnosticar as condições
geoambientais existentes na bacia hidrográfica do rio Cocó. Para tanto
procedeu-se a delimitação dos sistemas ambientais, suas potencialidades e
limitações, bem como a identificação das principais formas de uso e ocupação
do solo, buscando-se entender como se deu esse processo de ocupação, e
principalmente compreender quais as conseqüências negativas para o meio
ambiente.
Neste sentido, ao longo da pesquisa apresenta-se uma síntese da
caracterização geoambiental, das formas de uso e ocupação e dos principais
impactos e riscos ambientais associados na bacia hidrográfica do rio Cocó.
Essa proposta é apoiada na análise temática de variáveis ambientais e nas
relações mútuas entre as mesmas, associadas aos processos produtivos, uso
e ocupação do solo e legislação ambiental pertinente.
Priorizou-se a visão de totalidade para a caracterização dos sistemas
ambientais e dos conceitos e princípios da ecodinâmica para definição de suas
potencialidades e limitações face os processos produtivos.
A definição da vulnerabilidade ambiental procedeu-se a partir da
definição das potencialidades e limitações de cada sistema, impactos
ambientais derivados das atividades socioeconômicas, formas de uso e
ocupação do solo, legislação ambiental pertinente, sazonalidade, ocupação
irregular das áreas que primariamente são destinadas à manutenção da
funcionalidade dos sistemas ambientais e exposição das comunidades a riscos
19
ambientais. Neste contexto destacou-se a utilização de concepções
metodológicas consagradas em trabalhos ligados a diagnósticos e
zoneamentos ambientais.
Embora a vulnerabilidade ambiental se manifeste indistintamente nos
diferentes sistemas ambientais, suas manifestações tornam-se mais evidentes
nas áreas urbanizadas. Isso decorre principalmente da inexistência de espaços
que sirvam para amenizar os efeitos das cheias, o elevado adensamento
demográfico e principalmente a ocupação irregular dos espaços dotados de
maior vulnerabilidade ambiental, expondo os morados a uma série de riscos
ambientais.
Considerando os pressupostos retromencionados, o presente estudo
tem como objetivo principal realizar o estudo da vulnerabilidade ambiental na
bacia hidrográfica em apreço, identificando os principais impactos e riscos
ambientais associados face ao processo de uso e ocupação do solo. Os
objetivos específicos são assim esboçados:
¾ Realizar diagnóstico geoambiental da bacia hidrográfica do rio Cocó,
caracterizando os principais sistemas ambientais;
¾ Avaliar a ecodinâmica da bacia em epígrafe a partir de suas
potencialidade e limitações;
¾ Verificar os processos de uso e ocupação da bacia;
¾ Definir um conceito de áreas de risco a partir de critérios geoambientais;
¾ Elaborar mapas temáticos que possam dimensionar: as características
naturais dominantes, potencialidades, limitações, vulnerabilidades,
impactos e riscos ambientais associados em cada sistema ambiental;
¾ Estabelecer a compartimentação geoambiental levando-se em conta a
vulnerabilidade, sustentabilidade e riscos ambientais, indicando assim as
potencialidades e limitações de cada sistema ambiental face os
processos produtivos e de uso e ocupação do solo;
¾ Fornecer subsídios ao Zoneamento Ecológico-econômico.
20
Para atingir-se os objetivos retromencionados fez-se necessário a adoção de
uma abordagem sistêmico holística, respaldada numa discussão Geoambiental
como forma identificar os processos e as vulnerabilidades a que os sistemas
ambientais estão susceptíveis.
21
2. Material e Método
Para o alcance dos objetivos delineados adotou-se um procedimento
capaz de privilegiar a relação sociedade-natureza sob uma ótica sistêmico-
holística. Nesta perspectiva, a pesquisa utiliza como referência metodologias
consagradas de análises integradas do meio ambiente para entender a
estrutura e as condições de funcionamento do meio físico e suas articulações
com as formas de uso, ocupação e produção do espaço.
Num estudo geoambiental é imprescindível a análise das articulações
estabelecidas entre os processos geoecológicos e sociais, na medida em que
os efeitos desencadeados nos sistemas ambientais oportunizados pelas
intervenções das atividades socioeconômicas afetam, sobremaneira, a
estrutura e funcionamento dos sistemas ambientais.
Com os objetivos anteriormente delineados, a presente pesquisa
enfoca a vulnerabilidade ambiental e riscos associados na bacia do rio Cocó,
contudo, o enfoque mais detalhado dá-se nas áreas mais urbanizadas, devido
à maior complexidade existente.
Conforme assinala Lima e Silva et al (2000), para entender as
mudanças ocorridas no meio ambiente, principalmente no meio ambiente
urbano “faz-se necessário não somente entender a mecânica dos componentes
dos sistemas, mas também suas inter-relações com a estrutura social”.
Segundo estes autores as grandes cidades são locais de conflito de interesses
notadamente entre a classe mais abonada e a camada mais pobre, pois são
áreas que sofrem transformações significativas em virtude das mudanças
ocorridas no ambiente em espaços muito reduzidos e adensados
demograficamente.
Por assim pensar, “o meio ambiente urbano é um sistema altamente
inter-relacionado, em que tanto os elementos que são obra do homem como os
elementos naturais são considerados parte do sistema de relações, e os
resultados (bons ou ruins) são fruto da combinação dos dois” (BRANDÃO,
2001).
22
2.1. Análise Geoambiental
Os sistemas representam um conjunto de objetos ou entidades,
interligados por relações mais estreitas do que as que se estabelecem
isoladamente. O conjunto das relações entre estes elementos e entre seus
estados constitui a estrutura dos sistemas. Tricart (1977) considera a adoção
da abordagem sistêmica para as questões ambientais uma forma inteligente de
trabalhar a problemática ambiental, pois permite a integração de
conhecimentos anteriormente isolados pelas diversas disciplinas.
Christofolletti (1979) classifica, descreve e analisa os sistemas naturais
a partir de suas combinações e interações, com base em critérios variados
para melhor entendimento dos fenômenos naturais.
Os sistemas de classificação da superfície terrestre fundamentam e/ou
influenciam as metodologias de diagnósticos ambientais e de análise da
paisagem. Bertrand (1972) apresenta e discute a paisagem sob o ponto de
vista de uma geografia física global, integrando as implicações das ações
antrópicas, admitindo o resultado da combinação dinâmica de elementos
físicos, biológicos e antrópicos em contínua evolução, formando e
transformando a paisagem em um conjunto único e indissociável.
Para identificação e delimitação das unidades ambientais, utilizou-se a
análise geoambiental, pois conforme assinala NASCIMENTO (2003)
“a Análise Geoambiental preconiza o estudo integrado da paisagem
através do entendimento da inter-relação e interdependências
inerentes de suas partes, diferentes entre si pelas funções
específicas que cada uma desempenha no conjunto global da
paisagem, enfatizando sua morfologia, dinâmica e exploração
biológica”.
A concepção de análise geoambiental parte da teoria dos
geossistemas, que considera a forma como se organizam e se interrelacionam
os diversos componentes geoambientais. Ao considerar a dinâmica da
interrelação dos componentes, foge-se da perspectiva estática dos estudos
setorizados, que predominavam até meados de 1950.
Na análise geoambiental não se pode restringir o estudo da natureza à
compreensão isolada de cada um dos componentes do meio físico. É preciso
pautar-se numa perspectiva integrada do meio ambiente visando à
23
compreensão das interrelações dos seus componentes. Esta concepção, ao
invés de considerar o estudo setorizado dos componentes ambientais privilegia
a interrelação dos diversos elementos em busca de uma noção de totalidade.
Esta perspectiva mostra-se extremamente eficiente na medida em que a
natureza constitui-se como um todo e não apenas o somatório de suas partes,
ignorando a divisão formal de suas partes estabelecida por alguns setores das
ciências.
Contudo, este enfoque metodológico não pretende negar a importância
dos estudos setorizados, muito pelo contrário, é somente através de análises
setoriais que se pode chegar à síntese de organização dos componentes
geoambientais.
2.1.1. Geossistemas
Pode-se entender por Geografia Física como o estudo dos
geossistemas, os quais seguem uma organização espacial expressa pela
estrutura, distribuição e arranjo espacial dos elementos que constituem o
sistema de interrelações resultantes da dinâmica e das relações estabelecidas
entre os componentes geoambientais (CHRISTOFOLLETI, 1979).
O estudo dos geossistemas fornece elementos para o conhecimento
sobre a estrutura e funcionamento da natureza, proporcionando um
planejamento racional de uso e ocupação do solo, de acordo com a capacidade
de resiliência e homeostase de cada sistema ambiental.
Até meados da década de 50 do século XX, os métodos e análises
relacionadas à Geografia Física baseavam-se em estudos de ordem
geomorfológica, climatológica, pedológica, hidrográfica e biogeográfica, de
forma setorizada sem considerar como esses componentes se articulavam no
espaço geográfico. Essa especialização do conhecimento pautava-se na
perspectiva cartesiana de fragmentação da ciência em vários setores. Estas
perspectivas de análise mostraram-se ineficientes na medida em que se perdia
de perspectiva a noção de totalidade.
A introdução da Teoria Geral dos Sistemas (TGS) à Geografia Física,
possibilitou uma nova forma de compreender como os elementos estabelecem
24
suas relações de forma a produzir e organizar o espaço geográfico. Constituiu-
se como uma nova forma de abordar a problemática ambiental.
Atualmente a teoria dos geossistemas constitui-se como principal
marco da incorporação da Teoria Geral dos Sistemas aos estudos de
Geografia Física. Sua origem se deu na década de 1960 na antiga União
Soviética (U.R.S.S). Sotchava (1976) descreve um geossistema como uma
unidade dinâmica que apresenta uma organização geográfica própria,
classificando os geossistemas em homogêneos ou diferenciados,
hierarquizando-os em três níveis: planetário, regional e topológico, sendo
qualquer um desses níveis chamado de geossistema.
Algumas críticas foram feitas a essa classificação por não apresentar
de forma clara uma taxonomia das paisagens, principalmente por não levar em
conta a noção de escala, um constituinte fundamental no estudo da paisagem
(NASCIMENTO, 2001), ao passo que cada disciplina se apóia em um sistema
de delimitação formado de unidades homogêneas e hierarquizadas que se
encaixam umas nas outras.
No início da década de 70 do século XX, Bertrand (1972) otimiza o
conceito de geossistema, dando a este uma conotação mais precisa, utilizando
para isso a teoria da Bio-resistasia, relacionando a evolução dos solos à
cobertura vegetal e evolução do relevo, possibilitando situar os geossistemas
numa escala compatível com a humana, a histórica, por exemplo. (SOUZA,
2000).
Nesta perspectiva, os geossistemas ou unidades geoambientais, são o
resultado da combinação do potencial ecológico, da exploração biológica e da
ação social, interagindo dialeticamente umas sobre as outras (figura 01).
25
Exploração Biológica
ão Social
GEOSSI STEM A
Potencial Ecológico
Figura 01 - Geossistema, unidade físico territorial.
Fonte: Bertrand, 1972.
A combinação dos fatores morfo-estruturais (geologia e geomorfologia)
e climato-hidrológicos (clima, hidrografia) correspondem ao potencial ecológico,
que proporcionam a exploração biológica exposta por: solos, cobertura vegetal
e fauna. Estes elementos associados à intervenção social (ação antrópica) vão
constituir a estrutura dos geossistemas. À luz de Bertrand (1972), Souza (2000)
diz
“o geossistema é um complexo dinâmico mesmo numa perspectiva
de espaço-tempo muito breve, por exemplo, histórica. Assim, o
potencial ecológico, a exploração biológica e a ocupação antrópica
constituem dados instáveis com efetiva variação têmporo-espacial.
Por sua variação interna e por sua estrutura, o geossistema não
apresenta necessariamente, uma homogeneidade fisionômica”.
As delimitações das paisagens, segundo Bertrand (op. cit), são
arbitrárias e é impossível se achar um sistema geral do espaço que respeite os
limites próprios de cada ordem de fenômenos. Numa tentativa de
hierarquização dos geossistemas, este autor estabelece uma taxonomia. Por
fim, propõe um sistema de classificação têmporo-espacial, que agrupa seis
níveis, divididos em duas unidades: superiores e inferiores.
As unidades superiores são constituídas pela zona, domínio e região
natural, e estão ligadas principalmente às condições climáticas, estruturais e
grandes biomas.
Já as unidades inferiores estão situadas numa escala socioeconômica,
ou seja, onde se faz sentir, mais evidentemente, os efeitos da intervenção
26
social, e onde se encontra a maior parte dos fenômenos que resultam em
combinações dialéticas formadoras das paisagens, particularmente úteis aos
estudos Geoambientais. As unidades inferiores são o geossistema, o geofácie
e o geótopo. O quadro 01 apresenta um esboço de hierarquização das
paisagens segundo os critérios estabelecidos por Bertrand (op. cit).
Quadro 01 - Classificação das paisagens por Bertrand.
Unidade da
paisagem
Escala têmporo-espacial
(A. Cailleux & J. Tricart)
Unidade Ambiental
configurada
Elementos
fundamentais
Zona
G: grandeza
G.I
+ de 1.000.000 Km²
Intertropical
Domínio
G.II
100.000 a 1000.000 Km²
Das Caatingas Semi-áridas
Região
natural
G.III-IV
1000 a 100000 Km²
Depressão Sertaneja
Climáticos
e
estruturais
Geossistema
G.
IV-V
“+10 a 1 Km²”
Planície Litorânea e Tabuleiro
pré-litorâneo
Geofácies G. VI
Planícies Flúvio-marinha e
Fluvial do Rio Cocó,
Geótopo G. VII
Salinas Desativadas, e outros
elementos bem particulares.
Biogeográficos
e
antrópicos
Fonte: Adaptado de Bertrand, 1972 e Nascimento, 2001
Conforme assinalado por Souza (op. cit.) o geossistema não apresenta
necessariamente uma homogeneidade fisionômica. Ele se caracteriza por
possuir morfologia, funcionamento e comportamento específicos que o
diferencia dos demais. Constitui-se como um mosaico de geofácies e geótopos,
principalmente se analisados do ponto de vista fitoecológico.
Como enfatiza Christofoletti (2001), faz-se necessário um maior
aprofundamento dos conhecimentos sobre as características e processos dos
geossistemas, com o intuito de conhecer a estabilidade e sua capacidade de
resiliência. Dessa forma é possível avaliar a manutenção da estrutura e
mensurar até que ponto a intensidade e extensividade dos impactos
antropogenéticos podem ser absorvidos pelo sistema.
2.1.2. Ecodinâmica da paisagem
A ecodinâmica das paisagens é uma abordagem cujo intuito é fazer
uma Geografia Física cooperada com a Biologia. Para Tricart (1977) a partir
27
dessa aproximação é possível estabelecer a definição das unidades
ecodinâmicas.
O conceito de unidade ecodinâmica é integrado ao conceito de
ecossistemas, baseado no instrumento lógico dos sistemas, onde são
enfocadas as relações mútuas entre os diversos componentes da dinâmica
ambiental e os fluxos de matéria e energia existentes no meio ambiente.
Tricart (1977) diz que através da aferição do balanço entre
morfogênese e pedogênese é possível qualificar a ecodinâmica das paisagens.
Quando a relação for predominantemente favorável à pedogênese maior
estabilidade será conferida ao ambiente o que lhe assegurará estágio mais
avançado de estabilidade. Quando a morfogênese predominar configura
tendência a um ambiente ecodinamicamente instável. Nos casos em que
podem prevalecer a pedogênese ou morfogênese, verificam-se os ambientes
de transição (intergrades). Nessa perspectiva são propostos três meios
ecodinâmicos: estáveis, de transição (intergrades) e fortemente instáveis. Para
Tricart (op. cit.) esse entendimento só seria possível ao realizar uma Geografia
Física cooperada com a Ecologia, e por conseqüência apta e útil em aplicações
práticas. Conforme Tricart (1977) e Souza (2000) são apresentadas a seguir
algumas características dos meio ecodinâmicos.
¾ Os ambientes estáveis são ambientes onde os processos pedogenéticos
predominam em relação aos processos morfogenéticos, ou seja, a
deposição supera a erosão. A estabilidade morfogenética é antiga, em
função principalmente do baixo potencial erosivo, conseqüentemente há
um recobrimento vegetal bem desenvolvido e pouco alterado pelas
atividades socioeconômicas, assemelhando-se às condições
vegetacionais originais ou em processo avançado de regeneração. Nos
ambientes que apresentam essas condições há equilíbrio entre o
potencial ecológico e a exploração biológica.
¾ Ambientes de transição ou “Intergrades” ocorrem onde os processos de
formação de solos ou de relevo encontram-se numa relação que pode
favorecer a uma ou outra condição. Quando há predomínio da
morfogênese a ecodinâmica é de transição com tendências à
instabilidade. Quando os processos pedogenéticos são mais atuantes há
28
ocorrência de um ambiente de transição com tendências à estabilidade.
Nesse tipo de meio ecodinâmico o equilíbrio entre o potencial ecológico
e a exploração biológica pode ser facilmente alterado em razão das
intervenções oportunizadas pelas atividades socioeconômicas, podendo
um ambiente passar do estágio de transição com tendências à
estabilidade para um ambiente de transição com tendências à
instabilidade, e dependendo do grau de alteração pode chegar à
condição de forte instabilidade.
¾ Nos ambientes instáveis os processos exodinâmicos predominam
fortemente em relação aos processos pedogenéticos. A atividade dos
processos erosivos é intensa, por vezes acarretando o exaurimento da
capacidade produtiva dos recursos naturais. Nessas situações as
reservas paisagísticas são fortemente comprometidas chegando, muitas
vezes, à condição de irreversibilidade com rupturas do equilíbrio
ecológico, remoção dos solos, e impossibilidade de manutenção da
exploração biológica.
Souza (2000), à luz de Tricart (1977), assinala que “com base no
potencial de recursos naturais, nas principais limitações de uso e no estado
atual de conservação...” é possível diagnosticar a baixa, moderada ou forte
susceptibilidade/vulnerabilidade ambiental, guiadoras das formas conformes de
uso e ocupação da terra. Em estudos para o Estado do Ceará, Souza (op. cit.)
estabeleceu os seguintes níveis de sustentabilidade: baixa, moderada e alta. E
para as categorias de vulnerabilidade propôs três níveis: baixa, moderada e
alta, conforme quadro 02.
29
Quadro 02: Ecodinâmica das paisagens, vulnerabilidade e sustentabilidade ambiental.
Ecodinâmica
dos
Ambientes
Condições de Balanço entre
Morfogênese e Pedogênese
Vulnerabilidade
Ambiental
Sustentabilidade
Ambiental
Ambientes
Estáveis
Apresentam fraco potencial
erosivo decorrente da
estabilidade morfogenética,
favorecendo a pedogênese; a
cobertura vegetal protege bem
os solos contra os efeitos
morfogenéticos e de dissecação
e erosão moderada, pois está
pouco degradada.
Vulnerabilidade
Nula ou muito
baixa: Áreas com
características
relacionadas nos
setores de
Sustentabilidade
Alta.
Sustentabilidade Alta: boa
capacidade produtiva dos
recursos naturais e com
limitações mitigáveis com o uso
de técnicas simples. Potencial
hídrico satisfatório considerando o
escoamento fluvial; potencial
hídrico superficial e subterrâneo
com boa quantidade de água
acumulada. Clima úmido; chuvas
bem distribuídas. Solos
moderadamente profundos com
média a alta fertilidade natural,
pouco susceptíveis à erosão
devido à conservação vegetal.
Ambientes
de Transição
ou
Intergrades
Há ação simultânea dos
processos morfo e
pedogenéticos; a dinâmica atual
do ambiente pode tender a uma
ou outra condição de
estabilidade: quando a
morfogênese domina há
tendências a instabilidade,
quando da predominância da
pedogênese, há tendências à
estabilidade.
Vulnerabilidade
Moderada –
Áreas que
apresentam
características
contidas nos
ambientes com
Sustentabilidade
Moderada.
Sustentabilidade Moderada:
razoável capacidade produtiva
dos recursos naturais, incluindo
condições satisfatórias dos
recursos hídricos e possibilidades
de uso das reservas
paisagísticas. Clima subúmido a
semi-árido. Chuvas moderadas e
distribuição tempo-espacial
regular. Moderado potencial
edafoclimático, bom estado de
conservação pela vegetação
primária ou pela sucessão
ecológica com tendência a
fitoestabilização/clímax.
Ambientes
Instáveis
A deterioração ambiental é
evidente e a capacidade
produtiva dos recursos naturais
está comprometida devido à
intensa atividade do potencial
erosivo que diminui a densidade
vegetacional, formando
processos morfogenéticos mais
atuantes, provocando a ablação
dos solos; a morfogênese
predomina fortemente,
ocasionando rupturas do
equilíbrio ecodinâmico; os
recursos paisagísticos estão
comprometidos ou severamente
comprometidos.
Vulnerabilidade
Alta ou muito
Forte: Áreas com
condições de
sustentabilidade
enquadradas nas
categorias de
Sustentabilidade
Baixa a muito
baixa.
Sustentabilidade Baixa a muito
Baixa - sérios problemas quanto à
capacidade produtiva dos
recursos naturais renováveis,
degradação ambiental evidente
ou irreversível onde a
sustentabilidade é muito baixa
apresentando: baixo potencial de
recursos hídricos; irregularidade
climática; deficiência hídrica
anual; solos rasos, muito
erodidos, com afloramentos
rochosos e baixa fertilidade
natural.
Fonte: Adaptado de Tricart (1977) e Souza (2000).
Tomando como base essas categorias, faz-se possível o entendimento
dos processos atuantes, as principais limitações de uso e seu estado atual de
conservação. Através de uma análise qualitativa dessas categorias pode-se
30
indicar a tendência da evolução dos geoambientes, permitindo assim cenarizar
tendências futuras.
Em bacias hidrográficas como a do rio Cocó onde o nível de
urbanização é bastante elevado há significativas alterações nas características
naturais dominantes em todos os sistemas ambientais. Em situações como
essa o entendimento da vulnerabilidade ambiental requer uma análise mais
detalhada dos efeitos negativos que as atividades socioeconômicas exercem
sobre o meio, principalmente os derivados de formas inadequadas de uso e
ocupação do solo.
Nesse sentido faz-se premente o entendimento da vulnerabilidade das
comunidades aos processos naturais. Esse entendimento só é possível à
medida que se buscar entender como as alterações ocasionadas no meio
ambiente provenientes das atividades socioeconômicas podem afetar os
sistemas ambientais e quais suas repercussões para a sociedade. Ante esse
quadro o entendimento das relações estabelecidas entre sociedade e natureza
assumem destaque.
Esse entendimento só é possível quando se consideram numa
perspectiva holística as alterações exercidas pelas atividades
socioeconômicas, e principalmente suas repercussões negativas para a
sociedade. Ante esse quadro, para o entendimento das relações entre os
processos sociais e ecológicos é preciso pautar-se numa perspectiva dinâmica,
que envolva relações dialéticas entre a natureza e a sociedade.
Conforme assinala Coelho (2001), a rigor estudar o meio ambiente
urbano significa entendê-lo de um lado como reflexo social, e de outro, como
condicionante social, isto é, refletir os processos e as características da
sociedade que o criou e ali vive. Assinala ainda que o tecido social urbano
desigual e marcado por contradições de todos os tipos, reflete a gestão dos
problemas ambientais nas cidades, e para uma gestão efetiva dos problemas
ambientais faz-se necessário uma construção social em que o Estado -
Governo compartilhe com a sociedade civil as responsabilidades das decisões
e das execuções.
31
2.2. Procedimentos Técnico-operacionais
Os procedimentos técnico-operacionais são parte fundamental para o
desenvolvimento de uma pesquisa, na medida em que os mesmos são
delimitados pela opção metodológica adotada como meio de atingir os
objetivos delineados.
Matias (2002) atribui à técnica papel decisivo na história da evolução
humana, pois a incorporação de novos instrumentais e tecnologias possibilitam
maior integração e capacidade de correlação de dados. Já os procedimentos
dizem respeito aos caminhos que devem ser adotados para o alcance dos
objetivos. Neste sentido, para a concretização dos objetivos delineados foram
utilizados uma série de procedimentos e técnicas de campo e escritório, ambos
complementares e inter-relacionados.
Revisão bibliográfica
Foi procedida uma criteriosa revisão bibliográfica durante todo o
percurso do trabalho, desde a formulação do projeto de pesquisa até a
apresentação dos resultados. Para tanto, buscou-se fontes bibliográficas que
atingissem o objeto de estudo, de modo a proporcionar maior embasamento
teórico – metodológico. Essa busca permeou questões relacionadas à
Geografia, teoria sistêmica e geossistêmica, ecodinâmica, risco ambiental,
vulnerabilidade e sustentabilidade ambiental, uso e ocupação do solo,
urbanização, habitação, áreas de risco e geoprocessamento. Procedeu-se a
análise de uma série de trabalhos, relatórios e publicações a cerca dos temas
acima relacionados e da área em estudo.
No que se refere à análise dos recursos naturais foram utilizados
autores consagrados tais como Ab´Saber (1974, 1994, 2004) Sotchava (1976),
Bertrand (1969), Tricart (1977), Souza (1998, 2000), Cristofoletti (1979),
Brandão (1995, 2003), Guerra (2004), entre outros. Já no que se refere às
geotecnologias buscou-se abordagens relacionadas a sensoriamento remoto
(interpretação e processamento), elementos cartográficos (analógicos e
digitais) e sistemas de informações geográficas (SIG), para aproveitamento e
aplicabilidade dessas técnicas.
32
Compilação, armazenamento, tratamento, processamento e
manipulação do material geocartográfico
Esta etapa corresponde às atividades de geoprocessamento, que
permeiam toda a execução da pesquisa. A incorporação de geotecnologias
(tecnologias da geoinformação) aos estudos ambientais proporcionou uma
mudança na forma do fazer científico. Contudo essa mudança não se deu
somente na introdução de novos procedimentos metodológicos (no fazer), mas
também na forma de pensar a produção do conhecimento científico.
Essa mudança foi proporcionada principalmente pela utilização de
produtos de sensoriamento remoto, ferramentas de cartografia digital e
utilização de sistemas de informação geográfica (SIG), que proporciona o
armazenamento, processamento, manipulação de uma grande quantidade de
dados e informações de forma integrada, que auxiliam, sobremaneira, nas
análises ambientais e no processo de tomada de decisão.
Os procedimentos relativos ao material geocartográfico foram
executados em etapas envolvendo a aquisição e tratamento dos dados. A
aquisição foi procedida junto às instituições e órgãos governamentais (SEMAM,
SEINF, IBGE, IPLANCE, INCRA, Coordenadoria Estadual de Defesa Civil,
Célula de Defesa Civil do Município de Fortaleza, UFC, e UECE); Assembléia
Legislativa; Câmara Municipal de Fortaleza; associações e entidades não
governamentais (Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza – FBFF, Cearah
Periferia, Centro de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese
de Fortaleza – CPDH).
Após a aquisição dos dados coletados foram procedidas atividades de
tratamento e manipulação. A primeira etapa corresponde ao armazenamento
em meio magnético dos dados. Num segundo momento foi executada a
compatibilização dos diferentes formatos e bases e posteriormente procedeu-
se a atualização dessas informações. Os materiais cartográficos utilizados
referiram-se a cartas básicas e mapas temáticos em formatos analógicos e
digitais, a saber:
¾ Folha SA-24-Z-C-IV-Fortaleza. Escala 1:100.000, DSG;
33
¾ Folha SA-24-Z-C-V-Aquiraz. Escala 1:100.000, DGS;
¾ Folha SB-24-X-A-I-Baturité. Escala 1:100.000, DGS;
¾ Folha SB 24-X-AII-Beberbe. Escala 1:100.000, DGS;
¾ RADAMBRASIL, Folha Fortaleza - SA24 – Geologia e Geomorfologia;
¾ Mapa básico municipal de Fortaleza. Escala 1:25.000, SEINF (2004);
¾ Cartas planialtimétricas de Fortaleza. Escala 1:2.000, SEINF (1999);
O material cartográfico digital estava disponível em diferentes formatos
(DWG, DGN, DFX e SHP). Em virtude desse empecilho os dados foram
padronizados para o formato DXF, e posteriormente, anexados, compilados e
atualizados em um banco de dados geográfico, através do Sistema de
Processamento de Informações Georreferenciadas (SPRING) versão 4.0,
software de SIG de distribuição gratuita desenvolvido pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
Na coleta dos produtos de sensoriamento remoto foi adquirida grande
diversidade de produtos com diferentes formatos e resolução espacial, tais
como:
¾ ETM+ LANDSAT 7 Cena 217/63 com resolução espacial de 30 metros
nas bandas multi-espectrais (b7,b5,b4,b3,b2,b1) e 15 metros na
pancromática (b8) imageadas em 07/10/1999 e 28/08/2002;
¾ Imagem RGB do sensor SPOT 5 com resolução espacial de 4 m;
¾ Imagem fusionada Quick Bird com resolução espacial de 60 centímetros;
¾ Ortofotocartas em escala de 1:8.000 cobertura aerofotogramétrica de
2001 - SEINF
À exceção das cenas Landsat os demais produtos não abrangiam todo
o espaço territorial da bacia. Desta feita a identificação das geoformas foi
procedida através da interpretação das imagens ETM+ e devidamente
corrigidas com as imagens de maior resolução, considerando a cobertura
disponível dos diferentes produtos para cada unidade.
A atualização da base cartográfica e produção da cartografia temática
foram procedidas através de técnicas de sensoriamento remoto e trabalhos de
campo, devidamente apoiados por receptor de navegação do sistema GPS
34
(Global Position System). No que concerne ao receptor GPS, foi utilizado o
GPS Garmim 12 xl com 12 canais, com método de posicionamento absoluto. O
erro teórico desse método é de 10 a 15 metros, porém melhorias no sistema
garantem resultados inferiores a três metros de erro, perfeitamente compatível
com a escala de mapeamento do trabalho. Com intuito de assegurar maior
precisão aos dados levantados em campo só foram consideradas as
coordenadas com Erro Padrão Estimado (EPE) inferior a dez metros,
perfeitamente adequado ao Padrão de Exatidão Cartográfica (PEC) exigido
para o mapeamento.
As técnicas de sensoriamento remoto consistiram em etapas de
tratamento e interpretação das imagens. O tratamento desses produtos
corresponde ao georrefenciamento e aplicação de técnicas de realce,
contraste, composições RGB e transformação de cores (fusão de bandas). A
correção geométrica, georrefrenciamento, composições RGB e técnicas de
realce e contraste das imagens foram executados no programa Image Analyst
(Intergraph Corporation) que usa como plataforma o software de CAD
(Computer Aided Designer) MicroStation MSSE da Bentley Systems. O modelo
matemático utilizado para as correções e padronização foi Affine. Ao final, os
diferentes produtos estavam todos georreferenciados ao SAD 69 (South
American Datum - 1969) datum geodésico horizontal oficial do Brasil.
Devido à complexidade das formas de uso e ocupação existentes na
bacia, não foram utilizadas técnicas de classificação digital de imagens, pois os
resultados poderiam ser, sobremaneira, comprometidos pela complexidade
acima relacionada e pela baixa resolução espacial dos sensores cujos produtos
estavam disponíveis para toda bacia. Procedeu-se então a interpretação visual
das imagens e checagens de campo para identificação da verdade terrestre.
Para tanto, foram feitos processamentos digitais para facilitar a identificação
dos alvos. As principais técnicas utilizadas foram as de composição de
imagens coloridas (RBG) proporcionando a falsa cor, fusão de bandas
pancromáticas com multiespectrais e técnicas de realce e contraste para
melhor identificação das geoformas e tipos de usos. A fusão das imagens foi
realizada através da transformação HVS no software ENVI versão 4.0.
Dada a quantidade de informações e processamentos necessários
para execução do trabalho foi necessário lançar mão de uma série de
35
equipamentos que pudessem manipular e processar, organizar e apresentar
adequadamente a massa de dados trabalhados. Neste sentido foram utilizados
uma série de equipamentos de campo e escritório que proporcionassem bom
desempenho a saber:
¾ Computador Pentium 4 H.T 2,8Ghz, com 1,5Gb de RAM, H.D 250Gb e
acelerador gráfico Agp8x de 128Mb e 64 bits, monitor LCD 17 pol.;
¾ Impressoras Deskjet HP 930cxi e HP 3820;
¾ Impressora Laser HP 1010c;
¾ Scaner formato A4;
¾ Plotter jato de tinta do tipo HPGL2;
¾ Receptor do Sistema NAVSTAR GPS Garmin 12xl;
¾ Altímetro;
¾ Câmera fotográfica digital com 7.2 megapixel de resolução e cartão de
memória de 1Gb;
No que se refere aos programas utilizados para o armazenamento,
organização, manipulação e apresentação dos dados e informações foram
utilizados os seguintes:
¾ Autocad Map 2000
¾ MicroStation MSSE;
¾ Image Analyst
¾ ENVI 4.0
¾ GeoMedia 5.2 Professional
¾ SPRING 4.0
¾ ArcGis 9.0
¾ Sistema Gerenciador de Banco de Dados MS – Access-2003;
¾ Planilha Eletrônica MS Excel 2003;
¾ Editor de Texto Microsoft Word 2003;
¾ Powerpoint 2003.
36
Vulnerabilidade e Subsídios ao Zoneamento Geoambiental
A definição da vulnerabilidade ambiental partiu primeiramente da
análise das potencialidade e limitações naturais dos sistemas ambientais.
Esses por sua vez foram definidos a partir de um referencial sistêmico holístico
que considera as características e as relações estabelecidas entre os
diferentes componentes geoambientais.
A incorporação dos conceitos e princípios da ecodinâmica permite
definir o grau de vulnerabilidade ao uso e ocupação do solo. Vulnerabilidade
essa que é fortemente influenciada pelas diferentes formas de uso e
exploração dos recursos naturais.
Portanto, o estudo da vulnerabilidade ambiental pauta-se numa relação
mútua entre os processos ecológicos e sociais, e a maior ou menor
vulnerabilidade se dá face às potencialidades e limitações, sazonalidade,
desenvolvimento dos processos produtivos e formas de uso e ocupação do
solo.
A partir dos preceitos acima relacionados e com base em Souza (2000)
foi possível delimitar os graus de vulnerabilidade e sustentabilidade dos
sistemas ambientais. Essa (vulnerabilidade) por sua vez, serve como
referencial básico para a definição das unidades de intervenção, que
expressam as limitações impostas ao uso e ocupação, e servem de subsídio ao
zoneamento geoambiental e constitui-se como importante ferramenta para o
desenvolvimento regional.
37
3. Vulnerabilidade e Riscos Ambientais em Bacias
Hidrográficas
Bacia hidrográfica é uma porção territorial onde ocorrem as interações
entre os elementos ecológicos e socioeconômicos e sua dimensão espacial é
definida pelas terras drenadas por um rio principal e seus afluentes, que
transportam água e sedimentos ao longo de seus canais sendo delimitada
espacialmente pelos divisores de águas. (Suguio e Bigarela, 1990; Botelhos,
1999; Cunha, 2001,2003; Silva, 2003; Nascimento, 2003; e Araújo e Guerra,
2005).
Segundo Botelhos (1999), considerar a bacia hidrográfica como
elemento natural de análise da superfície terrestre permite analisar de forma
indissociada o complexo sistema de relações existentes entre os diversos
componentes da paisagem e seus processos de esculturação. Nascimento
(2003) diz que a bacia hidrográfica é um conjunto compreendido pelos
processos ecológicos e as influências exercidas pelas atividades
socioeconômicas, cujo elemento integrador é a água. A esse respeito o referido
autor afirma que a bacia hidrográfica
é um sistema complexo – dado o número de elementos e variáveis -,
em que as relações mútuas entre os seus componentes estruturais
possibilitam a análise integrada do meio ambiente, permitindo uma
acurada avaliação dos aspectos, quer físicos, quer econômicos e
sociais (Nascimento, 2003).
Cunha (2003) reforça o caráter integrador da bacia hidrográfica ao
afirmar que as bacias hidrográficas são unidades dinâmicas e estão sujeitas às
interferências provenientes do comportamento dos componentes naturais e das
atividades socioeconômicas
Sob o ponto de vista do auto-ajuste pode-se deduzir que as bacias
hidrográficas integram uma visão conjunta do comportamento das
condições naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas
uma vez que, mudanças significativas em qualquer dessas unidades,
podem gerar alterações, efeitos e/ou impactos a jusante e nos fluxos
energéticos de saída (descarga, cargas sólidas e dissolvida).(Cunha,
2003)
38
Neste sentido deve-se portanto inserir a bacia hidrográfica na
discussão a cerca da gestão dos recursos hídricos como um processo
potencializador de melhoria das condições socioeconômicas. Por isso mesmo,
a bacia hidrográfica freqüentemente é utilizada como referencial geográfico
para o planejamento e gerenciamento territorial.
É justamente pelo caráter integrador e articulador exercido pela bacia
hidrográfica que um estudo de vulnerabilidade ambiental se restrito a
determinado trecho, deve levar em consideração as influências de toda a bacia
e não somente aos processos que ocorrem sobre os recursos fluviais. A esse
respeito Araújo (2005) diz que
não podemos pensar numa bacia hidrográfica levando-se em conta
apenas os processos que ocorrem no leito dos rios, porque grande
parte dos sedimentos que eles transportam é oriunda de áreas
situadas mais a montante, vindos das encostas, que fazem parte da
bacia hidrográfica. Portanto, qualquer dano que aconteça numa
bacia hidrográfica vai ter conseqüências diretas ou indiretas sobre os
canais fluviais. Os processos de erosão de solos, bem como
movimentos de massa, vão fazer com que o escoamento superficial
transporte os sedimentos oriundos desses danos ambientais para
algum rio que drena a bacia.
Ante o exposto fica evidente o papel fundamental que a bacia
hidrográfica assume para identificar as vulnerabilidades ambientais a que os
sistemas ambientais estão susceptíveis. Conforme Christofoletti (2001) “o
reconhecimento das áreas de riscos geoambientais e o estudo sobre os azares
naturais refletem os efeitos dos impactos ambientais e a avaliação da
vulnerabilidade das organizações sócio-econômicas”. A partir do entendimento
desses três fatores (impactos, vulnerabilidade e riscos) e do processo de uso e
ocupação do espaço é possível entender a vulnerabilidade ambiental e os
riscos associados a cada sistema ambiental.
3.1. Impacto Ambiental
Várias são as definições de impacto ambiental e embora estejam
fundamentadas em diferentes princípios essas definições possuem algo em
comum, atribuindo impacto ambiental a uma alteração ocasionada no meio
ambiente. Embora os impactos possam ser derivados das próprias condições
39
ambientais, para efeitos legais o impacto ambiental é considerado como sendo
qualquer alteração no meio ambiente resultado das atividades humanas.
Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto
ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria
ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, Resolução nº
001/1986)
Conforme a referida resolução, só se caracteriza o impacto ambiental
se a interferência ocasionada no meio ambiente for negativa e derivada das
atividades humanas. Outro aspecto a ser considerado é a carga
antropocentrista existente nessa definição, onde o que primeiramente
caracteriza o impacto são os efeitos negativos à saúde ou bem estar da
população. Nessa perspectiva o objetivo fundamental de preservar - conservar
o meio ambiente é assegurar as condições necessárias à sobrevivência
humana.
Christofoletti (2001) define impacto ambiental como sendo uma
mudança sensível nas condições de estabilidade de um ecossistema, mudança
essa que pode ser positiva ou negativa. Essas interferências podem ser
acidentais ou planejadas ocasionando efeitos variados, de forma direta ou
indireta. Ante essa concepção o autor deixa clara a intenção de associar os
impactos ambientais desencadeados pelas atividades socioeconômicas aos
efeitos adversos que esses (impactos) podem ocasionar às sociedades. “Dessa
maneira, são considerados os efeitos e as transformações provocadas pelas
ações humanas nos aspectos do ambiente físico e que se refletem, por
interação, nas condições que envolvem a vida humana.” (CHRISTOFOLETTI,
op. cit.).
Dessa forma o impacto ambiental corresponde a uma interferência num
ambiente, interferência essa que pode ser positiva ou negativa, ocasionada
pela própria dinâmica natural ou pelas atividades socioeconômicas. A definição
se essa interferência é negativa ou positiva pauta-se no resultado que essa
alteração acarreta a um dado sistema ambiental. O repovoamento de um
40
ambiente com espécies nativas pode ocasionar melhorias nas condições de
estabilidade ambiental, ao tempo em que a supressão da cobertura vegetal
pode acarretar uma série de ações que irão favorecer os processos
morfogenéticos, influindo negativamente no equilíbrio do ambiente.
O que dimensiona realmente a magnitude de um impacto é capacidade
de homeostase e resiliência dos sistemas ambientais a essas interferências.
Silva (2003) com base em Christofoletti (1980) diz que ao ocorrer um fato que
ocasione desequilíbrio em um ecossistema, esse responde através de um
conjunto de ações visando sua recomposição. Se bem sucedido o sistema
tende a retornar ao estágio anterior, caso contrário o novo estado trará
modificações em relação à situação original. São justamente essas alterações
que irão determinar a manutenção ou eliminação das espécies menos
resistentes às perturbações.
A identificação e mensuração de impactos ambientais é extremamente
importante, porém numa perspectiva de prevenção e gestão dos recursos
ambientais muito mais importante que identificar, é prever os impactos. Nesse
sentido emerge a necessidade de se realizar estudos prévios de impacto
ambiental, principalmente quando da instalação de grandes empreendimentos.
Essa avaliação não deve ser realizada somente no local de implantação do
empreendimento e sim em toda a área de entorno, já que essa será fortemente
afetada a médio ou a longo prazo.
O sítio de implantação de um projeto tem importância, mas muito
mais importante é a área do entorno, considerada em seu arranjo de
ruas e caminhos, população residente, qualidade do ar, qualidade
das águas, qualidade do solo e remanescentes de biodiversidade
dignos de preservação. Nesse sentido prever impactos é ato de
tomada de precauções para garantir a harmonia e compatibilizar
funções no interior do espaço total no futuro. Ab´Saber (1994).
Ante o exposto fica evidente o objetivo central do estudo prévio de
impacto ambiental que é “evitar que um projeto (obra ou atividade), justificável
sob o prisma econômico ou em relação aos interesses imediatos de seu
proponente, se revele, depois nefasto ou catastrófico para o meio ambiente
(MILARÉ,1994).
Em áreas urbanas os impactos ambientais se apresentam mais
fortemente do que nas áreas rurais. Quanto maior o grau de urbanização maior
41
serão os impactos associados. A tabela 01 sintetiza os principais impactos
ambientais derivados do processo de urbanização, relacionando o estágio de
desenvolvimento urbano ao impacto ambiental decorrente.
Os impactos ambientais associados às condições geoambientais e
formas de uso e ocupação da terra têm influências diretas na definição das
vulnerabilidades ambientais a que os geoambientes estão susceptíveis.
Tabela 01: Impactos Ambientais conforme o grau de urbanização
Estágio Impacto
1. Transição do Estágio Pré-Urbano para o urbano inicial
a) Remoção de árvores ou vegetação Redução na transpiração e aumento no fluxo
de chuvas
b) abertura de vias de acesso Erosão do solo
c) perfuração de poços Rebaixamento do Lençol freático
d) Construção de fossas sépticas etc. Aumento da umidade do solo e possível
contaminação
2. Transição do urbano inicial para o urbano médio
a) Retirada total da vegetação Erosão acelerada do solo
b) Construção maciça de casas e etc. Redução na infiltração
c) Uso descontínuo e abandono de alguns
poços rasos
Elevação do lençol freático
d) Desvio de rios próximos para o
fornecimento ao público
Redução do runoff entre os pontos de desvio
e) Esgoto sanitário não tratado ou tratado
inadequadamente em rios e poços
Poluição de rios e poços
3. Transição do urbano médio para completamente urbano
a)Urbanização da área completada pela
adição de mais prédios
Redução na infiltração e rebaixamento do
lençol freático; picos mais altos de
alagamento e fluxos d`água mais baixos
b) Quantidades maiores de resíduos não
tratados em cursos d`água
Aumento da poluição
c) Abandono dos poços rasos remanescentes Elevação do lençol freático
d) Aumento da população necessitando do
estabelecimento de novos sistemas de
distribuição de água
Aumento no fluxo dos cursos d`água locais se
o suprimento é proveniente de uma bacia
externa
e) Canais de rios restritos, pelo menos em
parte, por canais e túneis artificiais
Estágio mais alta para um dado fluxo d`água
(portanto, um aumento dos danos por
alagamento)
f) Construção de sistema de drenagem Retirada de mais água do local
g) Melhoramento do sistema de drenagem
pluvial
Impacto positivo
h) perfuração de poços industriais mais
profundos e com maior capacidade
Pressão d`água mais baixa, subsidência,
salinização da água.
Fonte: Adaptado de Araújo, 2005.
Portanto, através do levantamento dos impactos ambientais existentes
nos diversos sistemas ambientais de uma bacia hidrográfica é possível traçar
42
uma série de diretrizes estratégicas para o planejamento e elaboração de
projetos visando à preservação, conservação e minimização de riscos
ambientais.
3.2. Vulnerabilidade e Riscos Ambientais
A vulnerabilidade ambiental pode ser entendida como o grau de
exposição que determinado ambiente está sujeito a diferentes fatores que
podem acarretar efeitos adversos, tais como impactos e riscos, derivados ou
não das atividades socioeconômicas.
Assim como no processo de identificação de impactos, uma forma
eficiente de verificar a vulnerabilidade ambiental de um ambiente é através do
diagnóstico. Segundo Nascimento (2001, 2003) o estado geoambiental mostra
o estágio de degradação/conservação dos recursos naturais denunciando se o
sistema ambiental encontra-se em biostasia ou resistasia através da
combinação das condições geoecológicas com as formas de uso/ocupação e
impactos associados.
Analisar a vulnerabilidade de determinadas áreas, principalmente áreas
urbanizadas face os azares naturais a que estão susceptíveis, permite
identificar os principais riscos que podem ser desencadeados. Nesse sentido
os fenômenos geomorfológicos assumem significativa importância à medida
que “os azares relacionados com os fenômenos geomorfológicos ganham
compreensão sobre sua magnitude e freqüência quando integrados aos inputs
energéticos fornecidos por outras categorias de fenômenos”. Christofoletti
(2001).
Christofoletti (op cit) cita como exemplo os deslizamentos de terra
ocorridos no ano de 1967 em Caraguatatuba, Serra das Araras e no Rio de
Janeiro, eventos esses que estavam diretamente relacionados ao inadequado
uso e ocupação do solo e às intensas precipitações incidentes na região. A
bacia do Rio Cocó é um exemplo de irracionalidade nas formas de uso e
ocupação do solo, que acarretam uma série de eventos catastróficos que
causam prejuízos materiais e perdas de vidas humanas, principalmente os
relacionados às cheias e inundações.
43
Com base em Degg (1992) Christofoletti (2001) assegura que para
além das questões ambientais, a vulnerabilidade está relacionada às condições
socioeconômicas das populações, a medida que “o reconhecimento das áreas
de riscos geoambientais e o estudo sobre os azares naturais refletem os efeitos
dos impactos ambientais e a avaliação da vulnerabilidade das organizações
sócio-econômicas.” (CHRISTOFOLETTI, op. cit). Neste contexto mais uma vez
pode-se verificar a aplicabilidade dessa afirmação à bacia em epígrafe, na
medida em que as grandes incidências de riscos a acidentes fatais afetam as
camadas menos favorecidas da sociedade.
Ante o exposto fica evidente que um estudo geoambiental não pode ser
analisado somente a partir da lógica preservação/proteção ambiental.
Conforme Penna (2002) o meio ambiente, principalmente o urbano deve ser
analisado “sob a ótica do ambiente construído pela apropriação e produção do
urbano e do ambiente”. Nesta perspectiva ainda segundo autora é possível
vincular a problemática ambiental às questões habitacionais, crescimento
urbano e expansão das periferias produtos das contradições da produção,
consumo e apropriação do espaço.
Portanto, a vulnerabilidade das diversas unidades ambientais
configuradas pela dinâmica geoambiental são objetos de conflitos entre os
organizadores e implementadores do espaço urbano, promovendo impactos
ambientais emergentes, onde a morfodinâmica pode, sobremaneira, ser
influenciada (CARVALHO E RODRIGUES, 2003).
Risco Ambiental
Conceitualmente risco é um termo genérico que pode assumir variadas
conotações, indo do risco econômico ao ambiental. Sobre as diferentes
análises de risco LIMA e SILVA et al (2000), afirma que:
“Os pesquisadores, em sua grande maioria atribuem o conceito de
análise de risco ambiental à avaliação dos riscos que as atividades
humanas impõem ao meio ambiente; a análise de Risco Ecológico
visa aos riscos às espécies ou ecossistemas. A análise de risco
humano, na área de saúde pública ou na toxicologia, refere-se às
probabilidades de efeitos indesejados à saúde humana em função da
incorporação de substâncias tóxicas. Existe ainda um quarto
conceito de análise de risco, muito utilizado na área industrial e
44
militar, usada para avaliar riscos tecnológicos acidentais,
denominada aqui de Risco Tecnológico Acidental. Esse tipo de
análise restringe-se a avaliar danos humanos”.
Conforme assinala Brilhante (2002), a noção de risco, notadamente o
risco ambiental é comumente confundido com impacto ambiental. Embora
esses dois eventos estejam intimamente relacionados existe uma diferença
significativa entre eles. Impacto, corresponde a uma interferência num
ambiente, podendo essa ser positiva ou negativa. Já o risco assume sempre
um efeito negativo. Ainda segundo esse autor outra questão que diferencia
esses dois conceitos é a noção de probabilidade, pois o risco está sempre
associado a essa noção e impacto não necessariamente.
Tem-se o costume de associar a noção de risco a um perigo imediato.
O risco não significa necessariamente uma situação de perigo. Exemplificando
essa diferença, sair de casa representa um risco já que podemos ser
atropelados, assaltados, vítimas de uma bala perdida e etc., porém seria
exagerado afirmar que o ato de sair de casa corresponda a um perigo. Embora
estejamos sujeitos a essas situações, não significa que elas estejam na
iminência de acontecer. É nesse sentido que a noção de probabilidade assume
seu papel, pois tais eventos são prováveis de acontecer e não há certeza que
eles venham a se realizar. O que cabe na realidade é saber gerenciar (conviver
com) esses riscos, de forma a tomar precauções no sentido de evitá-los.
Zuquette (1994), referenciado por Alves (2000), assinala que “o risco é
o resultado entre o evento e a vulnerabilidade dos elementos sob o risco... e
que corresponde à sua predisposição em ser afetado ou estar susceptível a
sofrer perdas (danos)”. Ou seja, depreende-se que é a vulnerabilidade a qual
um sistema ou comunidade estão expostos, a um dado evento perigoso
(hazard), evento esse associado a um fenômeno natural agravado ou
provocado pelo homem. Além do que, uma área de risco está constantemente
sujeita a sofrer ações danosas de fenômenos externos de origem natural ou
provocados pelo homem.
As cheias nas planícies de inundação são um fenômeno estritamente
natural, porém no meio urbano se manifesta em forma de catástrofe, pois a
busca por espaços sobretudo os destinados à moradia é constante, fazendo
com que a população venha a ocupar áreas de acumulação sazonal, que
45
servem para o extravasamento natural das cheias. Essa ocupação se
manifesta pela incorporação de terrenos das Áreas de Preservação
Permanente (APP), decapeamento da mata ribeirinha, que proporciona uma
magnificação das cheias.
Conforme Christofoletti (2001)
“a ampliação das áreas urbanizadas, devido à construção de áreas
impermeabilizadas, repercute na capacidade de infiltração das águas
no solo, favorecendo o escoamento superficial, a concentração das
enxurradas e a ocorrência de ondas de cheia”.
Sobre a intensificação das ondas de cheia em áreas urbanas,
Christofoletti (op cit) referencia o trabalho de Leopold (1998), que “salienta a
influência da urbanização na freqüência das ondas de cheia, mostrando que o
período de retorno é drasticamente diminuído para as cheias de mesma
magnitude”.
Em um estudo do meio ambiente urbano, o risco não pode ser
considerado puramente como uma contingência. Ele é, na realidade, parte de
um processo de construção social, pois esses foram gerados a partir da ação
social. Por exemplo, se um canal de rio é alterado, o solo da circunvizinhança é
impermeabilizado, e a mata ciliar retirada, consequentemente haverá uma
menor infiltração que acarretará em maior escoamento superficial, provocando
a expansão da área de alagamento.
Os riscos ambientais num sistema urbano fazem-se presente de forma
mais iminente nas chamadas Áreas de Risco. Tarefa difícil é definir um
conceito para áreas de risco, dada a complexidade da questão e quantidade de
agentes envolvidos, onde muitas vezes há um intenso conflito de interesse,
notadamente, entre as camadas com menor poder aquisitivo, a de melhores
condições financeiras e o poder público.
O documento Propostas dos Moradores e Entidades das Áreas de
Risco (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, 2001), diz que
“Áreas de risco são áreas dentro da cidade onde as pessoas ocupam
espaços inabitáveis, em margem de rios e lagoas, dunas, prédios
abandonados, debaixo de pontes e viadutos, sob vias de alta tensão,
dentro da área de segurança das vias férreas e próximo às refinarias
de petróleo, revelando espaços onde é impossível se pensar em
construções e implementação de infra-estrutura básica”.
46
Por ser de origem dos movimentos populares, essa definição privilegia
o aspecto social generalizando as áreas de risco a todas as situações em que
a população de determinada área esteja sujeita a sofrer ações que causem
risco constante a vida dos residentes. Segundo ainda o relatório referido acima
“As definições do poder público são variadas. O Estado por exemplo,
classificava como manchas as áreas de ocupações indevidas, a
PMF, segundo o Plano Estratégico Municipal de Assentamentos
Subnormais – PEMAS, e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento – BID, define de ‘assentamentos subnormais’”.
Concorda-se com a definição dos movimentos sociais, pois essas
áreas só justificam tal denominação se oferecem perigo às pessoas. Porém
será enfoque desse trabalho tratar das áreas de risco que estão sujeitas às
contingências ambientais. Para tanto são consideradas áreas de risco como
ambientes susceptíveis à ação dos agentes naturais que colocam em risco a
vida da população que ali vive, a partir de uma relação de causa e efeito, tendo
como causa a ocupação de áreas impróprias que deveriam ser destinadas à
preservação e manutenção dos sistemas naturais e como efeito a alteração do
funcionamento desses sistemas, expondo frequentemente comunidades aos
efeitos (hazard) dos agentes naturais caracterizados pela sazonalidade.
As áreas de risco assim são conceituadas, por envolverem riscos às
vidas humanas. A vulnerabilidade de certos ambientes é um fenômeno natural,
mas quando trata-se de áreas de risco, no seu cerne, é antes de tudo um
fenômeno social, pois é na sociedade que suas conseqüências vão repercutir.
Os riscos, porém podem ser gerenciados. Para isso faz-se necessário
um bom conhecimento das condições geoambientais, de suas causas e
principalmente, conseqüências, para a partir de então realizar plano de ação
integrada, onde sobressai-se um zoneamento a fim de definir quais áreas
podem ou não ser ocupadas sem a iminência de riscos.
Nas cidades, quando ocorrem fenômenos naturais simples,
notadamente as enchentes, essas se transformam em calamidades dada a
falta de racionalidade na ocupação e gerenciamento do espaço urbano. A esse
respeito Bernard Hétu (2003) diz:
47
“Na maioria dos casos quando um agente natural atinge uma casa
ou uma rodovia, trata-se de um problema de localização a causa
primeira da catástrofe e não a fatalidade: as pessoas e/ou a infra-
estrutura se encontravam em local e momento inadequado. Portanto,
e fundamentalmente, é a nossa capacidade de gerenciar bem o
espaço que é questionada”.
Historicamente as cidades, têm seu crescimento e ocupação
primeiramente à margem de rios. Esse processo se evidencia em todo o Brasil
e é muito nítido no Estado do Ceará dada a escassez de recursos hídricos
superficiais e busca pelos mesmos. Todavia, essas áreas que foram
primeiramente ocupadas estão sujeitas às inundações. Com o passar do
tempo, desenvolvimento dos meios de transporte e melhoria dos serviços
urbanos a classe mais rica se afasta dessas áreas e vai ocupar outras de
topografia mais favorável. Já classe mais pobre, desprovida de recursos para
aquisição de terrenos dotados de melhores condições continua sendo atingida
pelas enchentes. A esse respeito segundo Maricato (1996)
“É nas áreas rejeitadas pelo mercado imobiliário privado e nas áreas
públicas situadas em regiões desvalorizadas que a população
trabalhadora pobre vai instalar-se: beira de córregos, encostas dos
morros, terrenos sujeitos a enchentes ou outros tipos de riscos,
regiões poluídas ou,... áreas de proteção ambiental (onde a vigência
de legislação de proteção e ausência de fiscalização definem a
desvalorização”.
Dessa forma os impactos ambientais na cidade são sentidos
principalmente pelos setores menos favorecidos da sociedade que estão
confinados às áreas mais suscetíveis aos processos ecológicos e que não
podem pagar por áreas mais seguras do ponto de vista ambiental (COELHO,
2001) afirma que
“Os problemas ambientais (ecológicos e sociais) não atingem
igualmente todo o espaço urbano. Atingem muito mais os espaços
físicos de ocupação das classes sociais menos favorecidas do que
os das classes mais elevadas. A distribuição espacial dos primeiros
está associada à desvalorização do espaço, quer pela proximidade
dos leitos de inundação dos rios, das indústrias, de usinas
termonucleares, quer pela insalubridade, tanto pelos riscos
ambientais (susceptibilidade das áreas e das populações aos
fenômenos ambientais) como desmoronamentos e erosão, quanto
pelos riscos das prováveis ocorrências de catástrofes naturais, como
terremotos e vulcanismos.”
48
Segundo Coelho (op cit.), “o Meio Ambiente é ativo e passivo. É ao
mesmo tempo suporte geofísico, condicionado e condicionante de movimento,
transformador da vida social. Ao ser modificado, torna-se condição para novas
mudanças, modificando, assim a sociedade”.
Por isso, faz-se necessário um equilíbrio entre a ocupação das áreas
urbanas e o meio natural, levando-se em consideração as limitações de
determinado ambiente e respeitando os limites impostos pela própria dinâmica
ambiental. Trata-se de uma questão social, onde a classe mais pobre da
população fica à mercê desses fenômenos, já que não tem acesso às melhores
condições de moradia. Essa realidade é muito nítida na bacia em foco, pois os
efeitos das adversidades ambientais são sentidos sobremaneira pela
população mais pobre do que pelos estratos sociais mais favorecidos. Feliz em
sua afirmativa é Rodrigues (1991), afirmando que “a exclusão ambiental é parte
do processo de exclusão como um todo”.
A vulnerabilidade ambiental e a incidência de riscos às vidas humanas,
encontram-se intimamente relacionados às condições sócio-econômicas da
população residente em determinado ambiente. Degg (1992) (apud
Christofoletti, 2001) salienta que a vulnerabilidade nos países tropicais é mais
acentuada que na América do Norte, conforme verificado na tabela 02.
Tabela 02: Indicadores de eventos catastróficos de 1974 a 1989
Indicador Perído América do Norte América do sul, África,
Ásia e Austrália
Número de mortes 7.965 414.315
Média de mortos por
evento
1947 a 1967
38 984
Número de mortes 4.683 1.476.868
Média de mortos por
evento
1969 a 1989
19 2066
Fonte: Degg (1992) apud Christofoletti (2001).
Conforme se verifica na tabela acima, o número de mortos em cada
evento catastrófico na América do Norte caiu pela metade entre os dois
períodos analisados, passando de 38 para 19 pessoas mortas em média a
cada evento. Ao tempo em que, no mesmo período, nos países tropicais o
número médio de mortos mais que duplicou passando de 984 para 2.066 no
período de 1969 a 1989 (figura 02).
49
38
984
19
2066
0
500
1000
1500
2000
2500
1946 a 1967 1968 a 1989
América do Norte Ásia, América do Sul, África e Austrália
Figura 02: Evolução do número de mortes nos períodos de 1946 a 1967 e 1968 a 1989;
Fonte: Degg (1992) apud Christofoletti (2001).
Os prejuízos materiais também são extremamente desproporcionais,
enquanto no último período 1969 a 1989 os prejuízos materiais na Ásia,
América do Sul, África e Austrália foram da ordem de 6,2 bilhões de dólares, na
América do Norte os prejuízos foram de 21.6 bilhões de dólares.
A partir de uma rápida análise desses números fica evidente a relação
estreita estabelecida entre as contingências ambientais e a realidade
socioeconômica da população mais fortemente atingida. A figura 03 apresenta
o gráfico que trata da média de mortes a cada evento catastrófico e sua relação
com os prejuízos materiais ocasionados no período que vai de 1969 a 1989.
A tabela 03 mostra a relação entre a média de mortes e o somatório
dos prejuízos materiais ocasionados no período. Verifica-se que cada morte na
América Latina, África, Ásia e Austrália custa pouco mais de U$ 3.000.000,00
(três milhões dólares) em prejuízos materiais, ao tempo que na América do
Norte cada morte representa mais de hum bilhão cento e trinta seis milhões de
dólares (U$1.136.842.105,26), ou seja, 378 vezes mais.
50
19
21.600
2066
6.200
0
5000
10000
15000
20000
25000
América do Norte América do sul, África,
Ásia e Austrália
Média de mortos por evento Prejuízo em milhões de U$
Figura 03: Relação entre mortes e os prejuízos materiais
Fonte: Degg (1992) apud Christofoletti (2001).
Fica evidentemente estabelecida a relação inversamente proporcional
existente entre os prejuízos materiais e o número de mortes. Quanto maiores
os prejuízos materiais menores são as perdas humanas. Isso se deve
mormente pela implantação de infra-estrutura, e intervenções que visam a
proteção da população a esses eventos, tais como abrigos subterrâneos,
diques marginais para a contenção de cheias, sistemas eficientes de drenagem
urbana e etc. A consolidação desses serviços quando da ocorrência de eventos
catastróficos proporcionam uma maior proteção à vida das pessoas e menos
perdas humanas.
Tabela 03 Relação entre a média de mortes e os prejuízos materiais causados
Região Período
Média de
Mortos por
Evento
Prejuízos
Materiais (U$)
Custo por morte
(U$)
América do
Norte
19 21.600.000.000,00 U$ 1.136.842.105,26
América do Sul,
África, Ásia e
Austrália
1969 a
1989
2.066 6.200.000.000,00 U$ 3.000.968,05
Fonte: Degg (1992) apud Christofoletti (2001).
Já os países periféricos não contam com a consolidação desses
serviços de apoio e minimização de perdas humanas em eventos catastróficos,
51
já que é praticamente regra a precariedade e má distribuição das condições de
infra-estrutura básica (esgotamento sanitário, água tratada e sistema de
drenagem) e na maioria das vezes a inexistência das mesmas. Situação essa
que pode ser facilmente verificada na bacia do Cocó, já que a maior parte do
território não dispõe de rede de esgotamento sanitário e o sistema de
drenagem é extremamente precário. Para ter noção do problema, o plano
diretor de drenagem urbana para a Região Metropolitana de Fortaleza é de
1979, e atualmente mostra-se totalmente ineficiente mediante o grande
crescimento demográfico e urbano que a área evidenciou ao longo desses
anos.
Outro ponto a ser considerado é a maior eficiência dos sistemas de
alerta e simulações de evacuação para eventos catastróficos. Na América do
Norte, Europa e Japão esses sistemas estão bem desenvolvidos e são
amplamente conhecidos pela população. Nos países periféricos esses
sistemas são ineficientes e na maioria das vezes inexistentes, como é o caso
de Fortaleza.
Contudo, não se pretende dizer que os sistemas de alerta
proporcionam a eliminação dos riscos. Na realidade se mostram como
mecanismos que auxiliam em ações emergenciais, à medida em que preparam
a população para conviver com os eventos catastróficos. Muito menos
pretende-se insinuar que esses sistemas são totalmente eficientes/confiáveis,
pois os mesmos trabalham com probabilidades. É evidente, porém que a
existência de tais serviços auxiliam sobremaneira na minimização de perdas
humanas.
Infelizmente a ausência de dados na bacia em estudo não nos permite
fazer uma análise detalhada da relação existente entre as perdas humanas
com as materiais, muito menos pode-se avaliar os sistemas de alerta devido à
inexistência dos mesmos.
52
4. Caracterização Geoambiental da Bacia Hidrográfica
do Rio Cocó
A Bacia Hidrográfica do Rio Cocó está inserida totalmente na Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF), sendo o Cocó o principal rio da cidade de
Fortaleza. Suas nascentes estão localizadas na vertente oriental da Serra da
Aratanha, município de Pacatuba, com coordenadas 38°35’ de longitude oeste
e 4° de latitude sul, indo desaguar no Oceano Atlântico, na praia do Caça e
Pesca em Fortaleza. A área total de drenagem da bacia é de aproximadamente
513,84 Km² abrangendo parte dos municípios de Pacatuba, Maraguape,
Itaitinga, Maracanaú, Eusébio, Aquiraz e Fortaleza, conforme verificado na
figura 04.
Figura 04 Localização da área de estudo
Dentre os municípios drenados pela bacia hidrográfica do rio Cocó, o
de Fortaleza é o que apresenta maior área de drenagem, com 66,42% do seu
território, o que representa 38,66% da área total da bacia do rio Cocó. A figura
53
05 apresenta as bacias hidrográficas de Fortaleza, onde pode-se verificar a
extensividade da área municipal drenada pelo Cocó e seus tributários.
Figura 05: Município de Fortaleza divisão por bacias hidrográficas
O leito principal estende-se por 42,5km com direção sul - norte. Nas
proximidades de sua desembocadura faz uma curva de sudoeste para leste,
desse ponto em diante segue um percurso meândrico até desaguar no Oceano
Atlântico entre as praias do Caça e Pesca e Sabiaguaba.
O principal afluente é o rio Coaçu que deságua no Cocó já nas
proximidades de sua foz. O rio Cocó possui uma série de afluentes sendo 29
na sua margem direita, 16 na margem esquerda. (Silva, 2004).
A referida bacia apresenta clima tropical úmido com diferentes tipos de
ambientes que conferem grande complexidade ambiental à área, expressa
pelos componentes litológicos, pedológicos, geomorfológicos, climáticos,
hidrológicos e fitoecológicos. Através do relacionamento desses diversos
54
componentes estabelecem-se diferentes tipos de paisagens que constituem um
diversificado mosaico de sistemas ambientais.
Esta diversidade ambiental foi fundamental para o processo de uso e
ocupação da terra e para o estabelecimento das diversas atividades produtivas
que se desenvolveram ao longo dos anos em toda bacia. Dada a relevância
econômica e ecológica da área para Fortaleza e sua Região Metropolitana, a
bacia hidrográfica do rio Cocó assume papel de destaque dentro das demais
bacias metropolitanas.
4.1. Componentes geoambientais
Um estudo geoambiental pressupõe o estudo e compreensão dos
componentes naturais de maneira integrada. O estudo desses componentes
pressupõe aspectos relacionados aos condicionantes geológico-
geomorfológicos, hidroclimatológicos, pedológicos e fitoecológicos, associados
aos fatores socioeconômicos. Somente a partir da análise desses componentes
é possível chegar à síntese, que fornece elementos para a identificação das
potencialidades e limitações naturais impostas a cada sistema ambiental.
Conforme assinala Nascimento (2003), essa visão de conjunto fornece
elementos fundamentais para o planejamento territorial.
4.1.1. Geologia – Geomorfologia
A litologia é um dos componentes fundamentais para os processos de
formação e evolução das paisagens, à medida que as propriedades
geomorfológicas das rochas influenciam sobremaneira nos processos de
formação e evolução do relevo terrestre.
Na área de drenagem da bacia hidrográfica do rio Cocó, verifica-se a
ocorrência de dois principais grupos litológicos. Esses grupos são expressos
pelos terrenos cristalinos e coberturas sedimentares cenozóicas (BRASIL,
1981; BRANDÃO at. al, 1995; SOUZA, 1998 e 2000).
55
Os terrenos cristalinos são compostos por rochas do Complexo
Nordestino (RADAMBRASIL, 1981) e correspondem aos Maciços e Cristas
Residuais, e a Depressão Sertaneja.
Os Maciços e Cristas Residuais são relevos resultantes do processo de
erosão diferencial, derivados da maior resistência de determinadas rochas aos
processos morfogenéticos. O Maciço de maior expressão e importância é a
Serra da Aratanha situada no município de Pacatuba.
A Serra da Aratanha é composta por rochas pré-cambrianas
ortoderivadas de natureza granitóide-migamatítica. Trata-se de um típico relevo
resultante dos efeitos da erosão diferencial, onde a maior resistência dos
granitos proporcionou a formação de um relevo dissecado, com topos
aguçados em relação às rochas circunjacentes de natureza gnáissica que
proporcionou o rebaixamento das áreas adjacentes menos resistentes aos
processos erosivos incidentes ao longo do tempo geológico (BRANDÃO op. cit,
ZEE APA da Aratanha).
As Depressões Sertanejas são superfícies de aplainamentos em
rochas do embasamento cristalino, resultado dos processos erosivos, que
truncou indistintamente variados litotipos, constituídas principalmente por
rochas de natureza ganissico-migmatíticas (AB´SABER, 1974; RADAMBRASIL,
1981; BRANDÃO, 1995 e SOUZA, 2000). Seu aspecto morfológico faz-se
presente em forma de rampas com inclinação suave em direção ao litoral ou ao
fundo dos vales.
As coberturas sedimentares cenozóicas são compostas por sedimentos
de origem continental e marinha que foram depositadas ao longo do tempo
geológico através dos processos deposicionais. Suas principais unidades são
os tabuleiros da Formação Barreiras, e os sedimentos areno-quartzosos da
Planície Litorânea (faixa praial, campo de dunas móveis e fixas e planície
flúvio-marinha) e Planície Fluvial.
Segundo Brandão (op cit) e Souza (op cit), litologicamente, a Formação
Barreiras é uma faixa alongada de largura variável disposta paralelamente à
linha de costa formada por sedimentos tércio-quaternários mal selecionados,
de textura areno-argilosa e coloração avermelhada, creme ou amarelada,
muitas vezes apresentando aspecto mosqueado. Forma um relevo tabular com
declive do interior em direção ao litoral e inclinações não superiores a 5º. De
56
forma geral, a morfologia dos tabuleiros apresenta um aspecto rampeado
característico dos glacis de acumulação, originado em condições climáticas
pretéritas que permitiram a formação de uma ampla plataforma de deposição
de sedimentos.
Tomando por base os trabalhos anteriormente realizados por
RADAMBRASIL (1981), Brandão (1995), Souza (1988, 2000) e Silva (1998),
segue-se uma descrição sucinta as formas e as condições litológicas de cada
uma das sub-unidades constituintes da planície litorânea do rio Cocó. A faixa
praial e o campo de dunas são constituídos por sedimentos recentes que foram
transportados pelos processos fluviais, e posteriormente retrabalhados e
depositados pela ação marinha e eólica. A faixa praial exibe uma configuração
contínua e alongada que se estende por toda costa até a base do campo de
dunas, sendo constantemente re-trabalhada pela abrasão marinha.
O campo de dunas é constituído pelo mesmo material da faixa praial,
sedimentos areno-quartzosos de granulometria fina a média, que foram
selecionados pelo transporte eólico, estando geralmente sobrepostos a uma
litologia mais antiga.
A planície flúvio-marinha é um ambiente bastante peculiar, por sofrer
influência de processos marinhos e continentais, formando um ambiente
lamacento, encharcado, úmido, rico em matéria orgânica, constituído por
sedimentos siltosos de textura argilosa, oriundos do transporte fluvial que
quando em contato com as águas salobras dos estuários precipita as partículas
em suspensão.
Já as planícies fluviais, litologicamente, são constituídas por siltes,
argilas, areias e cascalhos, oriundos do transporte fluvial. Quando sobre os
terrenos cristalinos forma uma faixa estreita de terras compostas por
sedimentos grosseiros (seixos e cascalheiras) expondo terraços fluviais que
não são condizentes com a capacidade energética do rio. Quando dessas
situações fica evidentes condições hidroclimáticas pretéritas que evidenciam
oscilações eustáticas. Já sobre os terrenos sedimentares da Formação
Barreiras devido à redução do gradiente há diminuição da velocidade do
transporte sedimentar e a deposição é principalmente de siltes e argilas,
favorecendo uma ampla área de acumulação, que fica fortemente sujeita às
inundações quando do período chuvoso.
57
Segundo Souza (op. cit.), e Brandão at. al (op. cit.) o relevo da bacia
hidrográfica do rio Cocó, está compartimentado em cinco unidades
geomorfológicas: maciços e cristas residuais, depressão sertaneja, glacis de
deposição pré-Litorâneos, planícies fluviais e lacustres e planície litorânea.
O quadro 03 apresenta uma síntese das características geológicas e
geomorfológica das formas de relevo existentes na bacia do rio Cocó,
sumarizando a litologia, período geológico, compartimentação regional das
formas de relevo e feições geomorfológicas derivadas.
Quadro 03: Síntese das condições litoestratigráficas e formas de relevo
Crono-
litoestratigrafia
Compartimentação do
Relevo
Feições
Geomorfológicas
Sedimentos areno-
argilosos
Holocênicos
Planície Litorânea
Campo de dunas
móveis e fixas;
Faixa praial; e
Planície Flúvio-
marinha
Sedimentos aluviais
Holocênicos
Planícies de Acumulação
Planícies Fluviais,
lacustres e fluvio-
lacustres; áreas de
acumulação
sazonal.
Sedimentos Plio-
pleistocênicos da
Formação Barreiras
Glacis de deposição
Tabuleiros Pré-
Litorâneos
Maciços Residuais
Cristas, colinas e
lombadas.
Rochas pré-
Cambrianas do
Embasamento
Cristalino
Superfícies de Aplainamento
Pedimentos
parcialmente
dissecados
Fonte: Brandão (1995), Souza (2000) e Nascimento (2003).
4.1.2. Hidroclimatologia
O Ceará, e no nordeste brasileiro como um todo são marcados pela
forte irregularidade climática. A climatologia da região nordeste é uma das mais
complexas do globo, devido a sua extensão territorial e posição geográfica em
relação aos sistemas de circulação atmosférica. A constituição de grandes
vales baixos, com altitudes geralmente inferiores a 500m entre superfícies
elevadas como a Borborema, Araripe, Ibiapaba, Diamantina, Baturité e outros
relevos elevados associados a diferentes mecanismos de circulação
atmosférica garantem essa complexidade (NIMER, 1972).
58
Trata-se de um clima azonal, se comparado a latitudes similares. O
regime pluviométrico é variável, com prolongados períodos de estiagem e anos
com excessos pluviométricos que causam sérios problemas sócio-ambientais,
afetando sobremaneira as atividades produtivas.
A circulação atmosférica na área da bacia do Cocó é regida
basicamente por três sistemas sinóticos: as frentes frias originárias do pólo Sul,
Centro de Vorticidade Ciclônica e a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT),
além de outros sistemas de menor escala que atuam na área como as linhas
de instabilidade formadas ao longo da costa, e as brisas marítimas.
(BRANDÃO at. al, 1995; SOUZA, 2000).
Na área da bacia do rio Cocó, os índices pluviométricos variam com
médias entre 1.100 a 1.600 mm/ano, com média de 1.3262,35 milímetros,
conforme se verifica na tabela 04, que considera os dados obtidos da série
histórica compreendida entre 1974 a 2005. A exceção se configura nos níveis
mais elevados do maciço residual da Serra da Aratanha, devido principalmente
à altitude e posição geográfica em relação aos ventos úmidos oriundos do
litoral, promovendo, desta forma, a ocorrência de chuvas orográficas que
contribuem para um nível pluviométrico médio variando de 1400 a 1600
mm/ano. Sobre a influência do relevo na incidência de chuvas para o nordeste
brasileiro Nimer (1972:72) diz que
“as saliências locais do relevo abreviam o período seco, enquanto
que as depressões o prolongam, mesmo tratando-se de topografias
cujos acidentes não sejam muito importantes do ponto de vista
morfológico”.
Tabela 04: Média pluviométrica anual nos municípios total ou parcialmente drenados pela bacia do
Cocó
MUNICÍPIO Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Aquiraz 98,40 172,46 312,52 315,91 198,87 159,10 68,82 21,62 15,54 9,32 6,51 28,43 1.397,35
Eusébio 122,53 154,14 298,74 372,95 203,29 124,61 54,21 16,41 10,89 7,15 11,53 21,33 1.397,33
Fortaleza 133,56 196,91 363,25 357,19 209,74 168,28 86,43 27,33 24,80 13,43 11,64 36,53 1.629,09
Itaitinga 116,23 125,46 251,88 263,11 161,61 82,91 25,18 11,51 10,75 0,31 2,75 7,81 1.059,01
Maracanaú 112,59 163,03 297,85 271,43 174,11 112,61 56,19 15,25 12,10 11,42 12,06 40,89 1.269,13
Maranguape 119,54 169,50 275,22 248,39 150,83 100,47 50,35 15,08 11,51 7,45 7,71 28,04 1.183,23
Pacatuba 130,54 188,80 284,13 286,35 178,20 87,75 34,70 9,08 12,90 2,36 8,07 32,34 1.253,93
MÉDIA 116,62 163,53 289,16 293,10 174,87 113,90 50,13 15,72 13,44 6,99 8,17 28,48 109,68
Fonte: FUNCEME, 2005.
59
A figura 06 apresenta o gráfico das médias pluviométricas anuais nos
municípios que são total ou parcialmente drenados pela bacia hidrográfica do
rio Cocó.
1.397,35
1.397,33
1.629,09
1.059,01
1.269,13
1.183,23
1.253,93
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1.000,00
1.200,00
1.400,00
1.600,00
1.800,00
Aq
ui
r
az
Eu
s
ébio
Fortaleza
I
tai
t
ing
a
M
a
ra
ca
naú
M
a
r
ang
u
ape
Pa
c
at
u
ba
Média Anual
Figura 06: Média pluviométrica nos municípios drenados total ou parcialmente pela bacia do Cocó
Fonte: FUNCEME, 2005.
Assim como ocorre na maior parte do nordeste setentrional as chuvas
na bacia concentram-se em cerca de 90% no primeiro semestre do ano, tendo
seu ápice nos meses de março a maio. A ZCIT é o principal sistema sinótico
responsável pelo estabelecimento da quadra chuvosa. Ela se faz mais evidente
quando da sua máxima aproximação no Hemisfério Sul, durante o Equinócio
Outonal (23 de março), retornando ao Hemisfério Norte no mês de maio,
ocasionando o declínio do período chuvoso (Brandão, op cit), conforme pode
ser verificado na figura 07 que mostra o gráfico de distribuição das chuvas ao
longo do ano.
60
119,05
167,19
297,65
302,19
182,38
119,39
53,70
16,61
14,07
7,35
8,61
27,91
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
250,00
300,00
350,00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 07: Distribuição das chuvas ao longo do ano.
Fonte: FUNCEME, 2005.
A proximidade da linha do Equador garante à região uma forte
incidência de radiação solar no decorrer do ano. A esse respeito NIMER (1972)
explica que enquanto na zona temperada o sol nunca atinge o zênite, nas
baixas latitudes o sol atinge o zênite não somente uma vez, mas sim duas
vezes no período de um ano, ficando desta forma evidente que toda a região
nordeste é submetida a uma forte radiação solar. A insolação média no vale do
Cocó situa-se entre 2.900 a 3.000 horas de sol/ano.
Os meses de março e abril são os que apresentam a menor quantidade
de horas de sol com 148,9 e 152,8 horas/mês, respectivamente. Já os meses
de outubro (296,1 horas) e novembro (283,2 horas) apresentam a maior
incidência de radiação solar. A tabela 05 mostra a distribuição das horas de
sol/ano conforme as normais climatológicas no período de 1961 a 1990 para a
estação de Fortaleza e a figura 08 evidencia a regularidade na distribuição da
radiação solar expressa no total de horas/ano se comparado à média anual no
período retromencionado.
Tabela 05: Horas de insolação ao longo dos meses
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
216,2 175,8 148,9 152,8 209,1 239,6 263,4 168,9 282,9 296,1 283,2 257,4
Fonte: INMET, 2005.
61
Insolação Total (horas) ao Longo do Ano
0
100
200
300
400
123456789101112
Distribuição ao Longo do Ano Média Anual
Figura 08: Horas de insolação ao longo do ano
Fonte: INMET (2005).
A constante insolação associada à latitude não proporciona variações
significativas de temperatura no decorrer do ano. As temperaturas médias
anuais nas regiões próximas à linha do Equador giram em torno de 26º a 28ºC
(NIMER, 1972). Ainda segundo o referido autor, não são só as médias anuais
que são elevadas, e sim as médias mensais, o que confere a alta temperatura
da região. Assim como ocorre em todo o território brasileiro situado no
hemisfério austral, os meses de junho e julho são geralmente os que
apresentam menor temperatura.
A bacia hidrográfica do rio Cocó não foge a essa regra, a temperatura
média em Fortaleza é de 26,6ºC, enquanto que a média das mínimas é de
23,5ºC e a média das máximas é 29,9ºC (Tabela 06)
Tabela 06: Média anual e média das temperaturas máximas e mínimas.
Mês Mínima Máxima Média
Janeiro 24,7 30,5 27,3
Fevereiro 23,2 30,1 26,7
Março 23,8 29,7 26,3
Abril 23,4 29,7 26,5
Maio 23,4 29,1 26,3
Junho 22,1 29,6 26,9
Julho 21,8 29,5 25,7
Agosto 22,6 29,1 26,1
Setembro 23,4 29,2 26,6
Outubro 24,5 30,5 27
Novembro 24,4 30,7 27,2
Dezembro 24,6 30,7 27,3
MÉDIA 23,5 29,9 26,6
Fonte: INMET (2005).
62
Conforme verificado na tabela 06 os meses de julho e agosto
apresentam a menor média de temperatura com 25,7 e 26,1ºC, enquanto
novembro (27,2ºC), dezembro (27,3ºC) e janeiro (27,3ºC), tem as maiores
médias. Os meses de menor temperatura mínima média são junho e julho com
21,1 e 21,8ºC, já em novembro e dezembro verifica-se a média máxima mais
elevada com 30,7ºC cada.
Se há uma concentração pluviométrica no primeiro semestre, no
segundo, observam-se escassos índices de precipitação, que associados à
forte incidência de radiação solar e alta temperatura contribuem para o
aumento da evaporação, que em média chega a 1.469 mm/ano na cidade de
Fortaleza.
A evaporação se dá de forma inversamente proporcional à
precipitação, e em consonância à maior radiação solar, à medida que nos
meses mais chuvosos menor é a incidência de radiação, e consequentemente
menores são os índices de evaporação. Durante a máxima atuação da ZCIT
(período mais chuvoso) nos meses de março, abril e maio observam-se os
menores índices de evaporação 72 mm, 68 mm e 84 mm, respectivamente. Já
as máximas se dão durante o período de estio nos meses de setembro (167
mm), outubro (173 mm) e novembro (168 mm), conforme se verifica na tabela
07, o que contribui para o saldo negativo no balanço hídrico anual.
Tabela 07: Evaporação ao longo do ano (mm)
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
120,1 95,5 72,4 68,1 84,6 94,7 118,3 151,8 167,8 173,5 168,1 154,3
Fonte: INMET, 2005.
As precipitações na bacia sofrem constantes irregularidades
pluviométricas, com anos em que os índices pluviométricos médios não são
atingidos e anos em que as precipitações superam a média histórica. A figura
09 expressa em forma de gráfico a relação entre precipitação e evaporação
médias e a precipitação anual total no período de 1974 a 2005.
63
Relação Precipitação - Evaporação
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
Precipitado Precipitação Média Evaporação Média
Figura 09: Gráfico que evidencia a relação precipitação x evaporação e média evaporada
Fonte: FUNCEME, 2005; INMET, 2005.
Essa irregularidade pluviométrica está associada às irregularidades
ocasionadas pela temperatura dos oceanos tropicais e aos fenômenos El Niño
e La Niña. Esses fenômenos ocasionam efeitos variados. O El Niño causa
prolongados períodos de secas, geradores de sérios problemas
socioambientais que pauperizam ainda mais a população mais carente
mormente as residentes nas áreas rurais; já o La Niña provoca fortes chuvas
que causam situações calamitosas, principalmente nas áreas sujeitas à riscos
ambientais.
Analisando os totais pluviométricos anuais constantes na figura 10 e na
tabela 08, verifica-se, que as maiores secas registradas na série ocorreram nos
anos de 1979 a 1983, 1992 e 1993 e 1997 e 1998. Dentre os anos que
apresentam o total pluviométrico inferior à média do período, o de 1993
desponta por apresentar o menor índice registrado (624 milímetros). 1983
assume destaque por encerrar uma série de cinco anos de estio (1979 a 1983).
Trata-se do período mais seco da série, onde os valores totais de cada ano não
ultrapassaram 1030 milímetros.
Os anos mais chuvosos foram os de 1974 e 1985 com 2.346,33 e
2.274,48 milímetros, respectivamente. No período compreendido pelos anos de
2002 (1.589mm), 2003 (1677 mm) e 2004 (1.522mm) foram registrados índices
que ultrapassaram a média, ocasionando uma série de problemas
64
socioambientais nas planícies de inundação do Rio Cocó e seus tributários
notadamente na cidade de Fortaleza onde a ocupação e impermeabilização do
solo das áreas de acumulação sazonal são intensas.
A partir do exposto fica evidente que a principal marca da precipitação
na bacia em tela, não é o total pluviométrico, mas sim sua distribuição espacial,
sobretudo pela concentração na distribuição ao longo do ano. Porém, o que
causa maiores problemas socioambientais é a irregularidade na distribuição
das chuvas ao longo dos anos, provocando anos de pronunciadas cheias e
outros de escassez.
74
2.346
75
1.703
76
1.215
77
1.583
78
1.110
79
923
80
891
81
803
82
950
83
545
84
1.622
85
2.274
86
1.821
87
852
88
1.678
89
1.512
90
711
91
1.121
92
858
93
584
94
1.890
95
1.570
96
1.398
97
845
98
798
99
1.005
0
1.571
1
1.252
2
1.589
3
1.677
4
1.522
5
884
0
500
1000
1500
2000
2500
ANO Precipitado
Figura 10: Total pluviométrico anual no período de 1974 a 2005.
Fonte: FUNCEME, 2005.
65
Tabela 08: Distribuição das chuvas por município no período de 1974 a 2005.
ANO Aquiraz Eusébio Fortaleza Itaitinga Maracanaú Maranguape Pacatuba
Média
Anual
1974 - - 2.751,30 - 2.262,30 2.311,70 -
2.751,3
1975 - - 1.813,30 - 2.050,00 1.499,20 -
1.813,3
1976 - - 1.489,80 - 1.497,20 1.108,10 -
1.489,8
1977 - - 2.019,90 - 1.616,00 1.344,10 -
2.019,9
1978 - - 1.557,10 - 1.153,00 1.023,40 -
1.557,1
1979 1.089,90 - 1.190,60 - 644,00 1.018,10 970,50
1.190,6
1980 880,70 - 1.216,00 - 458,00 1.043,50 882,70
1.216,0
1981 679,00 - 1.086,40 - 987,30 748,70 744,30
1.086,4
1982 1.121,00 - 1.051,40 - 1.152,70 1.003,50 815,80
1.051,4
1983 559,10 - 955,20 - 775,80 601,90 27,00
955,2
1984 2.050,00 - 2.029,30 - 1.479,40 1.430,00 1.413,10
2.029,3
1985 2.785,70 - 2.836,00 - 2.778,50 2.122,00 1.964,70
2.836,0
1986 2.209,50 - 2.456,70 - 2.081,00 1.808,20 1.381,50
2.456,7
1987 1.180,20 - 1.259,70 - 766,00 858,10 314,00
1.259,7
1988 1.941,60 - 1.862,10 - 1.451,00 1.723,00 2.056,20
1.862,1
1989 1.763,20 - 1.862,50 - 1.134,00 1.369,00 1.618,20
1.862,5
continua
66
Cont. Tabela 08
ANO Aquiraz Eusébio Fortaleza Itaitinga Maracanaú Maranguape Pacatuba Média
Anual
1990 1.000,10 801,60 978,10 457,60 728,00 537,50 750,30
978,1
1991 1.461,00 1.271,30 1.548,70 934,80 801,00 1.065,80 1.181,70
1.548,7
1992 859,10 874,20 1.088,80 640,70 867,00 808,60 955,20
1.088,8
1993 433,70 628,90 1.042,70 407,60 650,00 550,90 659,70
1.042,7
1994 2.304,70 2.063,40 2.379,60 1.419,50 1.920,00 1.542,40 1.960,30
2.379,6
1995 1.655,30 1.768,40 2.143,50 1.543,60 1.443,00 1.239,20 1.636,60
2.143,5
1996 1.387,10 1.636,40 1.708,20 1.174,70 1.168,00 1.258,50 1.604,80
1.708,2
1997 1.104,90 1.020,00 1.143,30 740,30 595,60 687,80 804,20
1.143,3
1998 722,10 880,50 1.012,40 812,00 933,60 756,00 809,80
1.012,4
1999 935,30 1.269,40 1.346,60 968,40 838,90 1.007,90 942,40
1.346,6
2000 1.807,60 1.759,20 1.673,20 1.515,00 1.401,60 1.567,40 1.689,40
1.673,2
2001 1.494,30 1.609,30 1.554,50 1.134,00 951,80 1.163,20 1.160,00
1.554,5
2002 1.790,50 1.868,10 1.742,00 1.504,00 1.433,20 1.363,20 1.633,10
1.742,0
2003 1.856,90 1.995,00 2.208,40 1.423,00 1.656,80 1.539,70 1.466,90
2.208,4
2004 1.661,50 1.870,00 1.991,10 1.421,00 1.378,40 1.297,40 1.465,40
1.991,1
2005 994,40 1.041,50 1.132,40 848,00 748,00 465,20 781,40
1.132,4
Média Municipal 1.397,35 1.397,33 1.629,09 1.059,01 1.243,78 1.183,23 1.173,67 1.362,35
Fonte: FUNCEME, 2005.
67
As características do escoamento e do potencial hídrico superficial e
subterrâneo são dependentes das condições climáticas, das propriedades
litológicas do terreno, aspectos geomorfológicos e fitoecológicos de
determinada área. As condições de uso/ocupação também influenciam
sobremaneira o potencial hidrológico, a qualidade e disponibilidade hídrica.
As condições climáticas têm influências diretas sobre os recursos
hídricos, principalmente através das chuvas, à medida que elas são a principal
fonte de suprimento aos mananciais, e modificam de modo temporário a
quantidade de água disponível na superfície e subsuperfície.
As condições geológicas interferem diretamente no escoamento
superficial da área, à medida em que os terrenos mais porosos da planície
litorânea e dos tabuleiros pré-litorâneos propiciam uma maior infiltração, e por
conseguinte uma maior disponibilidade de água no solo e subsolo, que
contribui para manter o nível do lençol freático. Já as rochas impermeáveis dos
terrenos cristalinos favorecem ao escoamento superficial. Sobre as rochas
impermeáveis do maciço residual da Serra da Aratanha e das depressões
sertanejas, as condições geológicas permitem a ampliação da capacidade de
escoamento superficial em direção aos talvegues dos rios e riachos,
contribuindo para que haja uma maior ramificação da rede de drenagem.
As características de relevo determinam a velocidade do escoamento
superficial, e consequentemente definem a capacidade energética dos rios em
escavar vales, transporte de sedimentos e definição de feições morfológicas.
Já as condições fitoecológicas e de uso e ocupação, associadas às condições
geológicas do terreno definem a proteção à superfície, capacidade de
infiltração e armazenamento da água no solo.
Os rios da bacia do rio Cocó apresentam traços característicos,
principalmente em relação à duração do escoamento e seu padrão de
drenagem em conformidade com os sistemas ambientais configurados. De
certa forma, os rios tendem a refletir o regime pluviométrico (SOUZA, 2000).
Embora se trate de uma bacia de pequena extensão territorial, a bacia do rio
Cocó também guarda essas características.
68
Nas áreas dos terrenos cristalinos, devido à impermeabilidade dos
terrenos a drenagem assume padrão dendrítico. A irregularidade pluviométrica
e a má distribuição das chuvas ao longo do ano asseguram um regime
intermitente sazonal, com exceção dos níveis mais elevados da Serra da
Aratanha. Já sob as condições de maior permoporosidade dos tabuleiros pré-
litorâneos e da planície litorânea, o escoamento passa a ser perene, em razão
da maior capacidade de retenção de água no solo, e ocorrência de lagoas
costeiras e afloramento do lençol freático, principalmente nas proximidades do
campo de dunas (BRANDÃO, 1995; NASCIMENTO op. cit.).
Conforme assinalado no zoneamento da APA da Serra da Aratanha
(SEMACE, 1998), a drenagem no maciço é fortemente influenciada pelas
melhores condições pluviométricas da área pois “a abundância da chuva impõe
maior permanência ao escoamento fluvial, intensificando, por conseqüência, a
capacidade de escavamento dos vales pelos cursos d’água”. Esse escoamento
acarreta um maior acidentamento do relevo em função da ação dos processos
erosivos lineares, originando feições morfológicas mais aguçadas, intercaladas
por vales em forma de “V”’ ou ligeiramente alargados nos setores de topografia
mais suave.
Sob as condições das depressões sertanejas os vales são largos, com
uma ampla planície de inundação, recobertos por sedimentos grosseiros que
são transportados quando do escoamento superficial. Contam ainda com uma
ampla planície de inundação, recobertas originalmente por vegetação de mata
ciliar, fortemente degradada.
O rio Cocó é perenizado a partir do Açude Gavião onde está localizada
a Estação de Tratamento de Água (ETA-Gavião), responsável pelo
abastecimento da cidade de Fortaleza e parte de sua Região Metropolitana. A
figura 11 mostra o rio Cocó perenizado logo após à ETA-Gavião.
69
Figura 11: Rio Cocó após a ETA-Gavião. Notar a adutora e o padrão sinuoso do rio.
No domínio do Glacis de Deposição pré-litorâneos, a drenagem
assume um padrão paralelo. A permoporosidade do material constituinte dessa
feição assegura o escoamento superficial durante todo o ano, entalhando os
glacis em feições tabuliformes (SOUZA op cit). Já nas proximidades de sua foz
sob as condições da planície litorânea, o baixo gradiente define a pouca
competência do rio em escavar vales, propiciando um padrão de drenagem
anastomótico com vários canais meândricos e o surgimento de algumas ilhas
resultantes da deposição do material transportado (figura 12).
70
Figura 12: Vista aérea de parte da planície flúvio-marinha do rio Cocó.
No que se refere aos recursos hídricos subterrâneos, nota-se uma
relação direta entre o tipo de aqüífero e a geologia. Embora não possa haver
detalhamento em função da escassez de dados do potencial hidrogeológico,
serão considerados somente os dados referentes aos poços perfurados dentro
de critérios técnicos apropriados e cadastrados junto à Companhia de Pesquisa
e Recursos Minerais (CPRM). Segundo dados da CPRM as reservas hídricas
subterrâneas são associadas a três tipos de aqüíferos: Aluvionares,
Sedimentares e Fissurais, distribuídos conforme gráfico da figura 13.
71
Figura 13: Gráfico da distribuição dos poços por aquífero
Fonte: CPRM
No que se refere à distribuição dos poços por municípios, a tabela 09
apresenta os poços cadastrados junto à CPRM distribuídos por aqüífero e
quantidade existente em cada município.
Tabela 09: Poços por aqüíferos nos município da Bacia
MUNICIPIO ALUVIONAR FISSURAL SEDIMENTAR TOTAL
Aquiraz 2 144 331 477
Eusébio - 103 275 378
Fortaleza - - - 0
Itaitinga 1 61 - 62
Maracanaú - 120 - 120
Maranguape - 124 - 124
Pacatuba - 41 - 41
TOTAL 3 593 606 1.202
Fonte: CPRM
Aluvionares
Conforme Souza, Oliveira e Granjeiro (2002), os aqüíferos aluvionares,
estão restritos às planícies fluviais, porém encontram-se disseminados ao
longo dos terrenos cristalinos, em razão do adensamento da rede de
drenagem. São constituídos litologicamente por sedimentos areno-argilosos
recentes que se dispõem margeando as calhas dos principais cursos d’água.
São, via de regra, depósitos de pouca espessura, que têm sua capacidade
hídrica compensada pela alta permeabilidade do seu material constituinte.
3
593
606
0
100
200
300
400
500
600
700
ALUVIONAR FISSURAL SEDIMENTAR
Número de poços na bacia
72
Os poços abertos em aqüíferos aluvionares têm pouca
representatividade e correspondem a apenas três poços, o que representa
menos de 1% do total de poços existentes nos municípios total ou parcialmente
drenados pela bacia do rio Cocó. As únicas unidades existentes são em
Aquiraz com dois poços e Os únicos municípios que contam com esses
aqüíferos cadastrados são Aquiraz com duas ocorrências e Itaitinga com um
poço.
Sedimentares
Os aqüíferos sedimentares estão associados aos depósitos de
coberturas sedimentares (glacis de deposição pré-litorâneos). Essas formações
aqüíferas são as que apresentam maior produtividade em virtude da
porosidade primária das rochas sedimentares constituintes e da elevada
permeabilidade dos terrenos arenosos da planície litorânea, principalmente
sobre o campo de dunas na Praia do Futuro e Sabiaguaba.
Porém, no conjunto dos poços cadastrados junto a CPRM, não
registram-se ocorrências de poços nessas localidades. Com 606 poços
cadastrados correspondendo a mais de 50% dos poços existentes na bacia,
devido às características litológicas expressam-se somente em dois municípios
Aquiraz e Eusébio, com 331 e 275 poços, respectivamente. Vale destacar o
potencial desse aqüífero na planície litorânea de Fortaleza, principalmente no
Campo de Dunas da Região da Sabiaguaba e Praia do Futuro, além de outras
localidades sobre a Formação Barreiras, face a existência de duas
engarrafadoras de água mineral, uma na Sabiaguaba e outra na Lagoa
Redonda.
Fissurais
Já os aqüíferos do tipo fissural, estão relacionados aos terrenos de
rochas cristalinas, onde sua ocorrência não se dá pela permeabilidade da
rocha, mas sim pela ocorrência de fraturas e falhas que propiciam a
acumulação subterrânea. Esse aqüífero é de baixa produtividade,
representando 3% do potencial das reservas subterrâneas exploráveis do
Ceará, com boa parte desse volume comprometido pelos altos índices de
salinidade (SOUZA, OLIVEIRA e GRANJEIRO, 2002). Nas áreas de fraturas e
73
fissuras do Maciço Residual da Serra Aratanha a água é excelente qualidade
para o consumo humano, porém de pouca capacidade de exploração.
É nos aqüíferos fissurais, com 593 poços cadastrados que encontra-se
a maior quantidade de poços existentes na bacia, com pouco mais de 50% das
perfurações cadastradas. Mesmo compreendendo pouco menos de 50% dos
poços existentes, o potencial aqüífero desses poços não se compara com a
capacidade hídrica dos poços sedimentares. O município com mais poços
fissurais cadastrados é Aquiraz com 144 ocorrências.
Conforme verificado na tabela 09, pode-se notar a inexistência de
dados sobre os poços no município de Fortaleza. O que acaba por
comprometer os dados acima expostos, pois o referido município encontra-se
sobre coberturas sedimentares da Formação Barreiras e Planície Litorânea.
Tratam-se de terrenos porosos com grande permeabilidade, o que conferem
grande potencial hidrogeológico, tanto que é explorado por uma série de
industrias engarrafadoras de água mineral.
Aquiraz assume destaque por ser o único município a possuir os três
tipos de aqüíferos, assim como a maior quantidade de poços com 477 poços
cadastrados.
O Quadro 04 sintetiza os principais aqüíferos, suas potencialidades,
limitações e ocorrências por municípios.
74
Quadro 04: Aqüíferos na bacia hidrográfica do rio Cocó e suas características
AQÜÍFERO POTENCIALIDADE LIMITAÇÕES OCORRÊNCIAS
ALUVIONAR
Boa disponibilidade hídrica
e de qualidade das águas.
Apresenta facilidade de
recarga com elevada taxa
de renovação. Águas de
fácil captação, com boa
distribuição e freqüência
nos terrenos cristalinos.
Desde que observadas
condições sanitárias
adequadas pode ser
utilizado como fonte de
suprimento a demandas
principalmente em áreas
que as aluviões se
sobrepõem ao cristalino.
Pequena espessura das
aluviões, com
ocorrência limitada às
calhas fluviais.
Apresenta um pequeno
número de poços
funcionando
adequadamente.
Planícies de
inundação e
várzeas dos
principais cursos
d’água.
Encontram-se
registrados
somente nos
municípios de
Aquiraz e
Itaitinga.
SEDIMENTAR
Bom potencial aqüífero,
com forte indicação ao
suprimento da demanda,
principalmente em áreas
semi-áridas. As águas
geralmente apresentam boa
qualidade, com facilidade
de recarga. Sendo áreas
extensas, implica numa
maior capacidade de
armazenamento.
Significativa espessura
das formações que às
vezes indica grande
profundidade dos poços,
principalmente sobre a
Formação Barreiras,
gerando maior custo de
captação. Restritos às
áreas sedimentares da
bacia hidrográfica.
Pequena quantidade de
poços instalados e
número menor ainda em
funcionamento.
Glacis de
Acumulação
litorâneos e pré-
litorâneos
(Formação
Barreiras e
Planície
Litorânea).
Municípios de:
Aquiraz e
Eusébio.
FISSURAL
Cobrem a maior parte do
território estadual e dos
municípios integrantes da
bacia, funcionando como
reservas estratégicas para
as regiões que apresentam
menor disponibilidade
hídrica superficial, desde
que observadas as
condições sanitárias e
índices de salinidade.
Apresentam baixo
potencial aqüífero, com
forte limitações para
suprir a demanda
existente. As águas
geralmente não são de
boa qualidade
apresentando-se como
salobras ou salinas, à
exceção dos poços
situados na Serra da
Aratanha.
Terrenos do
embasamento
cristalino na
Depressão
Sertaneja e
Maciço Residual.
Municípios de:
Aquiraz, Eusébio,
Guaiúba,
Itaitinga,
Maracanaú e
Maranguape.
Fonte: Adaptado de Souza, Oliveira e Granjeiro (2002)
4.1.3. Solos e Cobertura Vegetal
A origem e evolução dos solos está relacionada a fatores que traduzem
as características dos condicionantes climáticos, litológicos e de relevo ao
longo do tempo. Guerra e Mendonça (2004) dizem que “a formação dos solos é
o resultado da interação de muitos processos, tanto geomorfológicos como
75
pedológicos”. Ainda segundo esses autores, os processos de formação de
solos resultam de uma variabilidade temporal e espacial bastante significativa.
A atividade biológica é um agente ativo que interfere definitivamente no
processo de formação dos solos. Nesse aspecto, sob o viés geoquímico o solo
é a interface entre a litosfera e a biosfera (FONSECA, 1999). A relação
estabelecida ente clima, geologia, topografia, relevo, atividade biológica e
tempo conferem aos solos características de elementos dinâmicos que estão
em constante evolução e vão se adaptando às diversas formas de variações de
fluxos de massas e energias, gradientes termodinâmicos e demais condições
exógenas (GUERRA e MENDONÇA, 2004).
Os solos encontrados na bacia em estudo têm variações significativas
quanto a tipologia, classes de solos e variação espacial. São encontradas as
seguintes classes de solos: Neossolos Quartzarênicos, Argissolos Vermelho
Amarelos eutróficos e distróficos, Neossolos Flúvicos e Gleissolos. O quadro
05 exibe a correspondência entre a classificação anteriormente utilizada e a
nova classificação de solos conforme o novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999).
Quadro 05: Correlação entre a classificação anterior e atual classificação de solos.
CLASSIFICAÇÃO ATUAL
CLASSIFICAÇÃO ANTERIORMENTE
UTILIZADA
Argissolo Vermelho Amarelo Eutrófico Podzólico Vermelho Amarelo Eutrófico
Argissolo Vermelho Amarelo Distrófico Podzólico Vermelho Amarelo Distrófico
Neossolos Quartzarênicos Areias Quartzozas e Areias Quartzozas
Marinhas
Neossolos Flúvicos Solos Aluviais
Gleissolos Solos Indiscriminados de Mangue
Fonte: Brandão (1995) e EMBRAPA (1999).
Tomando como base os trabalhos de campo, informações e descrições
contidas em diversos trabalhos técnicos e relatórios (IPLANCE, 1989;
RADAMBRASIL, 1981; CEARÁ, 1995; BRANDÃO, at al 1995; SOUZA, 2000),
segue uma breve descrição das principais classes de solos encontradas na
bacia em estudo, associando a classe de solos com a sua distribuição
geográfica.
76
Neossolos Quartzarênicos
Os Neossolos Quartzarênicos são solos arenosos geralmente
profundos, pouco desenvolvidos, com alta permeabilidade e baixa fertilidade
natural. Apresentam coloração esbranquiçada ou amarelada. São solos
distróficos (ácidos com baixa saturação por bases), praticamente desprovidos
de minerais primários o que confere pouca reserva de nutrientes para as
plantas. Sua distribuição geográfica está associada à Planície Litorânea e a
setores dos Tabuleiros Pré-litorâneos da Formação Barreiras.
Na planície litorânea sua ocorrência está associada ao campo de
dunas e setores da faixa praial, onde foi possível o desenvolvimento da
pedogênese que deu início ao processo de colonização vegetal. Por serem
solos pobres em matéria orgânica e nutrientes a vegetação assentada sobre
eles é constituída principalmente por espécies herbáceas e arbustivas de
vegetação pioneira do complexo vegetacional litorâneo, com exceção das
áreas à sotavento do campo de dunas.
Na área dos tabuleiros Pré-Litorâneos por vezes estão associados aos
Argissolos Vermelho-Amarelos. Seu desenvolvimento se deu a partir do re-
trabalhamento dos sedimentos da Formação Barreiras. São solos que variam
de profundos a muito profundos, excessivamente drenados com baixos teores
de argila e forte acidez. Sua coloração varia de avermelhada a branca, textura
arenosa e baixa fertilidade natural. Nele se assentam espécies do complexo
vegetacional litorâneo.
Argissolos Vermelho Amarelos distróficos
Os Argissolos Vermelho Amarelos distróficos, ocorrem nos tabuleiros
pré-litorâneos, e em relevos planos a suavemente ondulados. Sua
profundidade varia de profundo a moderadamente profundo com textura média
a argilosa. São solos bem drenados que apresentam acidez elevada. A
coloração é variada apresentando tons desde vermelho-amarelados até bruno
acinzentadas.
São solos de baixa fertilidade natural e elevada acidez. Por vezes
apresentam-se associados a Neossolos Quartzarênicos nas proximidades da
zona litorânea. O complexo vegetal dominante é a Mata de Tabuleiros.
77
Argissolos Vermelho Amarelos eutróficos
Os Argissolos Vermelho Amarelos eutróficos têm sua distribuição
espacial bastante variada, ocupando diferentes unidades geoambientais,
cobrindo desde relevos planos até montanhosos. Sua origem está relacionada
a diferentes tipos de materiais. São solos bem desenvolvidos e de modo geral
apresentam boas condições de fertilidade natural, a depender da
disponibilidade hídrica e das condições de relevo. É ocupado por diferentes
tipos vegetacionais, desde caatingas nas Depressões Sertanejas até Mata
Seca nas vertentes do maciço residual da Aratanha.
Neossolos Flúvicos
Os Neossolos Flúvicos têm sua formação a partir da sedimentação
fluvial e distribuem-se principalmente ao longo dos rios de maior fluxo hídrico.
Sua distribuição espacial está associada a presença de corpos hídricos,
notadamente bordejando a calha dos rios de maior porte (Cocó e Coaçu) e às
margens de lagoas sob o domínio dos glacis de deposição pré-litorâneos,
dentre as lagoas destaque para a da Precabura.
Variam de muito profundos a moderadamente profundos e textura
variada. Apresentam-se de moderada a imperfeitamente drenados, com acidez
moderada a levemente alcalinos. A camada superficial geralmente apresenta
coloração bruno-acinzentada-escura e bruno muito escura. São solos de alta
fertilidade natural, que por vezes sofrem inundações sazonais quando do
período chuvoso. Primariamente esses solos eram revestidos por uma
vegetação do tipo mata ciliar predominantemente composta por carnaúbas.
Devido à disponibilidade hídrica e boa fertilidade natural esses solos vêm
sendo sistematicamente ocupados por atividades agrícolas.
Gleissolos Sálicos
Gleissolos Sálicos ocorrem em áreas que apresentam altas taxas de
salinidade, nas zonas litorâneas e pré-litorâneas, principalmente na planície
flúvio-marinha do rio Cocó. Verifica-se também sua ocorrência nas margens de
lagoas situadas mais próximas ao litoral. Não possuem diferenciações nítidas
dos horizontes, sendo muito ricos em matéria orgânica em decomposição.
Geralmente apresentam elevadas concentrações de sais, que os tornam
78
inaptos as atividade agrícolas. São nesses solos que se desenvolvem os
manguezais.
Conforme exposto pode-se observar uma estreita relação entre as
classes de solos com o contexto geomorfológico. O quadro 06 sumariza essa
relação associando a Classe de Solo às unidades geomorfológicas feições do
modelado.
Quadro 06: Classe de solos, unidades geomorfológicas e feições morfológicas.
CLASSES DE SOLOS
UNIDADES
GEOMORFOLÓGICAS
FEIÇÕES MORFOLÓGICAS
Planície Litorânea Faixa de praia e campo de dunas
Neossolos Quartzarênicos
Glacis de deposição Pré-
litorâneos
Tabuleiros Pré-litorâneos
Argissolos Vermelho Amarelos
distróficos
Glacis de deposição Pré-
litorâneos
Tabuleiros Pré-litorâneos
Maciço Residual Maciço Residual
Argissolos Vermelho Amarelos
eutróficos
Depressões semi-áridas
sertanejas
Depressão Sertaneja
Neossolos Flúvicos
Planícies e Áreas de
acumulação sazonal.
Planície fluvial do rio Cocó e
Coaçu, Planícies lacustre, flúvio-
lacustre e áreas de acumulação
sazonal.
Gleissolos Sálicos Planície Litorânea Planície Flúvio-marinha
Fonte: Adaptado de Souza (2000) e Nascimento (2003).
No que se refere aos aspectos fitoecológicos as principais unidades da
bacia são: Mata úmida, Mata Seca, Caatingas, Mata Ciliar e Lacustre, e
Complexo Vegetacional da Planície Litorânea (manguezais, mata de tabuleiros
e vegetação pioneira do campo de dunas e faixa praial).
Mata Úmida
Nos setores mais elevados da Serra da Aratanha ocorre da vegetação
do tipo Mata úmida, a disposição altimétrica e geográfica da Serra da Aratanha
em relação aos ventos úmidos vindos do litoral favorece a ocorrência de
chuvas orográficas, o que contribui para acentuar as ações de intemperismo
químico se comparado às áreas das depressões sertanejas, favorecendo a
formação de solos profundos da classe dos Argissolos Vermelho Amarelos
eutróficos o que propicia a fixação de um recobrimento vegetal de grande porte
(Brandão et al, 1995).
79
É uma vegetação típica de ambientes serranos de maior umidade,
ocupando altitudes médias de 500 a 600 metros e em alguns casos chegando
aos 900 metros. Caracteriza-se pelo predomínio de espécies lianas e epífitas e
um intenso extrato herbáceo com predominância de espécies ombrófilas
(SEMACE, 1998). Por ser uma vegetação perenifólia, permanece com cerca de
75% a 100% de sua folhagem ao longo do ano. Essa característica é
influenciada principalmente pela capacidade da mata úmida retirar a água
necessária diretamente da umidade proveniente da nebulosidade.
Mata Seca
A Mata Seca é uma vegetação intermediária entre a floresta úmida e as
caatingas, recobrindo os níveis inferiores do maciço com altitude variando de
330 a 500 metros, cuja declividade varia de média a alta em solos rasos. Em
alguns casos essa vegetação chega aos fundos de vales, onde a umidade é
mais forte.
Seu porte é arbóreo se comparado às caatingas da depressão
sertaneja, com predominância de espécies subcaducifólias, à medida que
perdem suas folhas durante o período de estio. A exceção ocorre onde as
condições climáticas são mais amenas e proporcionam a folhagem permanecer
por mais tempo, como nos setores intermediários da Serra da Aratanha.
As caatingas
As caatingas ocupam os terrenos cristalinos pertencentes às
Depressões Sertanejas e os setores mais rebaixados da Serra da Aratanha
que não dispõe de disponibilidade hídrica satisfatória. É uma vegetação do tipo
caducifólia que apresenta elevado xerofismo, com fisionomia
predominantemente arbustiva, apresentando, porém algumas espécies
arbóreas dispersas pela Depressão Sertaneja e nos setores rebaixados dos
maciços residuais, como pode ser verificado nas figuras 14 e 15, suas
características variam conforme as condições edafoclimáticas.
80
Figura 14: Vegetação de caatinga entre os municípios de Itaitinga e Pacatuba.
Figura 15: Vegetação de caatinga após as primeiras chuvas (abril de 2006), jusante do Açude
Gavião.
Devido ao desmatamento desordenado, a caatinga está em processo
de sucessão ecológica principalmente nos níveis intermediários da Serra da
81
Aratanha, avançando sobre áreas que originalmente eram recobertas por
matas secas.
Essa vegetação vem enfrentando sérios problemas em virtude do
desmatamento descontrolado ao longo dos anos, principalmente para a
utilização de lenha como matriz energética.
Mata Ciliar e Lacustre
As planícies fluviais, lacustres e áreas de acumulação sazonal,
apresentam melhores condições hídricas e de solos. Dessa forma estabelece-
se uma vegetação com fisionomia de mata galeria ou ciliar, cuja espécie
dominante é a carnaúba, contrastando com a vegetação caducifólia das
caatingas. A figura 16 evidencia uma vegetação ciliar secundária na planície do
rio Cocó nas proximidades do Conjunto Palmeiras.
Figura 16: Mata ciliar a montante da ponte sobre a av. Perimetral. Notar a quantidade de lixo
acumulado.
Embora sejam áreas protegidas por legislação federal (Código Florestal
Lei nº 4.771/65 e Resolução CONAMA nº 303/2002), essa vegetação, vem
sofrendo constantemente com o processo de ocupação das planícies de
inundação dos rios, riachos e lagoas ao longo de toda RMF. Tal fato constitui-
82
se num problema da maior gravidade, acarretando o assoreamento dos rios,
aceleração dos processos erosivos, magnificação das cheias entre outros.
Complexo vegetacional da zona litorânea
O Complexo vegetacional da zona litorânea apresenta diferentes
espécies que se distribuem no campo de dunas, planícies flúvio-marinhas e
tabuleiros pré-litorâneos. As matas de tabuleiros apresentam dois aspectos em
função das propriedades químicas e físicas dos solos. Uma floresta densa de
tabuleiros nas fácies mais argilosas e uma transição de caatingas - cerrado nas
áreas recobertas por solos mais arenosos.
O Mangue ocupa os terrenos da planície flúvio-marinha. Por sofre
diariamente dois períodos de inundação ocasionados pela influência de maré, e
apresentar elevados índices de salinidade da zona estuarina, caracteriza-se
por ser uma vegetação altamente especializada, e com alta fragilidade às
intervenções humanas. Em alguns setores encontra bom estágio de
preservação com indivíduos de porte arbóreo como verificado na figura 17.
Figura 17: Planície flúvio-marinha do rio Cocó a jusante da ponte sobre a av. Eng. Santana Júnior.
83
A vegetação de dunas localiza-se nas proximidades da linha de costa.
Caracterizada por espécies pioneiras com predominância de gramíneas e
indivíduos de porte herbáceo que auxiliam no processo de fixação das dunas
ao amenizar os efeitos da ação eólica nas áreas a barlavento. A sotavento
sobre as dunas fixas observa-se indivíduos de porte arbóreo, já a barlavento
devido à maior exposição à salinidade as espécies são predominantemente de
porte arbustivo. A figura 18 mostra o porte da vegetação que se estabelece
sobre o campo de dunas fixas.
Figura 18: Vegetação de dunas fixas no bairro Dunas em Fortaleza.
A vegetação da faixa praial é incipiente e ocorre somente em alguns
trechos onde foi possível a fixação de espécies pioneiras, constituída
principalmente por gramíneas que se assemelham às que recobrem o campo
de dunas móveis.
Originalmente, eram encontradas algumas manchas de cerrados na
área dos tabuleiros pré-litorâneos, principalmente no setor centro-leste da
bacia, porém essa vegetação foi sumariamente suprimida para dar lugar à
expansão urbana. Atualmente existe um resquício de vegetação de cerrados
no Bairro da Cidade dos Funcionários com cerca de 28.000 m², que
84
corresponde ao ultimo remanescente desse complexo vegetacional na área da
bacia e no município de Fortaleza como um todo.
No que se refere aos aspectos de conservação da vegetação, verifica-
se que nas nascentes ela é relativamente conservada, com o predomínio de
espécies arbóreas. A faixa de proteção do Açude Gavião está quase toda
composta por vegetação arbórea, as áreas antropizadas estão na margem
direita imediatamente à jusante do reservatório. Em Fortaleza a vegetação é
substituída pela ocupação urbana, com exceções para algumas manchas que
se encontram bastante descaracterizadas. O manguezal está restrito a
aproximadamente 6,35 Km² que sofre constantemente com a ocupação urbana
e especulação imobiliária. A mata de tabuleiros praticamente já não existe, com
exceção de algumas áreas situadas no limite leste da bacia nas proximidades
da lagoa da Precabura, como a reserva do Curió. Embora protegida pelo
Código Florestal desde 1965, a vegetação de dunas vem sendo
paulatinamente substituída pela ocupação urbana, e mineração, principalmente
na região das dunas da Praia do Caça e Pesca e Sabiaguaba.
O quadro 07 relaciona a unidade fitoecológica à classe de solos de sua
ocorrência geográfica.
Quadro 07: Unidade fitoecológica, classe de solos e localização geográfica.
UNIDADE FITOECOLÓGICA CLASSES DE SOLOS UNIDADE GEOMORFOLÓGICA
Neossolos Quartzarênicos Planície Litorânea
Complexo Vegetacional
Litorâneo
Argissolos Vermelho-
marelos
Tabuleiros Pré-litorâneos
Argissolos Vermelho
Amarelo
Tabuleiros Pré-litorâneos
Mata de Tabuleiro
Neossolos Quartzarênicos
Cerrado Neossolos Quartzarênicos Tabuleiros Pré-litorâneos
Caatingas
Argissolos Vermelho
Amarelo
Depressão Sertaneja e
Tabuleiros pré-litorâneos
Mata Seca
Argissolos Vermelho
Amarelo
Serra da Aratanha
Mata Úmida
Argissolos Vermelho
Amarelo
Serra da Aratanha
4.2. Sinopse da Compartimentação Geoambiental
Os sistemas ambientais são identificados e hierarquizados conforme a
inter-relação dos seus componentes geoambientais, suas dimensões e
85
características de origem e evolução. Dessa forma é possível identificar suas
potencialidades e limitações para melhor avaliar a capacidade de suporte ao
uso e ocupação da terra.
Considerando a diversidade interna dos geossistemas, são delimitadas
as unidades elementares contidas em um mesmo sistema de relações,
destacando-se, desta forma, os geofácies. Sob esse aspecto, a concepção de
paisagem assume significado para a delimitação das subunidades, em função
da exposição de padrões uniformes ou de relativa homogeneidade.
Para a delimitação dos sistemas ambientais, o critério utilizado é
Geomorfológico, pois o mesmo constitui-se como o elemento mais facilmente
discernível na paisagem e o que melhor expressa o complexo jogo de relações
existente entre os componentes. Nesta perspectiva foram identificados os
seguintes geossistemas: planície litorânea tendo como geofácies o campo de
dunas, faixa praial e planície flúvio-marinha; planícies lacustres e flúvio-
lacustres, planície fluvial, tabuleiros pré-litorâneos; depressão sertaneja, e
maciços residuais, conforme se verifica na figura 19 mapa de Sistemas
Ambientais.
A sinopse da Compartimentação Geoambiental é expressa através de
quadros sinópticos (quadros 08-11) que sintetizam os sistemas ambientais
(geossistemas/geofácies). Desta forma os quadros apresentam a taxonomia
das paisagens através categorias espaciais de ambientes, com a
caracterização dos componentes naturais (lito-estratigrafia, geomorfologia,
hidrologia de superfície e sub-superfície, solos e cobertura vegetal) e
ecodinâmica das paisagens.
86
Quadro 08: Sinopse da Compartimentação Geoambiental – Faixa praial, dunas móveis e fixas.
CATEGORIAS ESPACIAIS DE
AMBIENTES
CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES NATURAIS
SISTEMA
AMBIENTAL
SUB-SISTEMA
LITO-
ESTRATIGRAFIA
GEOMORFOLOGIA
HIDROLOGIA DE
SUPERFÍCIE/
SUB-SUPERFÍCIE
SOLOS E COBERTURA
VEGETAL
ECODINÂMICA DA
PAISAGEM
Faixa Praial
Ambientes recentes
compostos por
sedimentos
arenosos,
grosseiros e
inconsolidados de
origem marinha
com ocorrência de
beach rocks.
Superfície contínua e
alonga que se estende
até a base do campo
de dunas, composta
pela faixa de praia,
pós-praia, beach rocks
e terraços,
constantemente
moldados pela
abrasão marinha.
Grande infiltração,
várias lagoas
freáticas em
Sabiaguaba. O
lençol freático é
muito alto, com
boa qualidade de
água nas áreas
mais distantes da
praia.
Ausência de solos, porém
em alguns setores da pós-
praia têm-se a ocorrência de
Neossolos Quartzarênicos, a
cobertura vegetal é ausente
com exceção de algumas
espécies pioneiras de
estrato herbáceo
(gramíneas).
Ambiente fortemente
instável.
Dunas Móveis
Sedimentos
grosseiros
inconsolidados
depositados pela
ação eólica.
Superfícies elevadas
em forma de domo ou
colina, que estão
sendo constantemente
mobilizados pela ação
eólica.
Ocorrência de
lagoas freáticas e
intermitentes nas
depressões
interdunares.
Ausência de solos,
compostos por sedimentos
inconsolidados onde não
desenvolveu-se a
pedogênese, à exceção de
algumas espécies pioneiras.
Ambiente Fortemente
instável.
Planície
Litorânea
Dunas Fixas
Sedimentos
arenosos que já
sofreram processos
de edafização.
Superfícies de
topografia mais
elevadas, via de regra
menos acidentada que
as duna móvies e
onde o processo de
edafização iniciou-se.
Ocorrência de
várias
ressurgências e
lagoas temporárias
nas depressões
interdunares.
Excelente
potencial aqüífero.
Neossolos quartzarênicos,
com desenvolvido estágio de
edafização, proporcionando
o desenvolvimento de
vegetação litorânea de porte
arbóreo arbustivo à
sotavento e herbáceo-
arbustivo à barlavento.
Ambiente de transição
com tendências à
estabilidade onde a
vegetação se
desenvolveu e à
instabilidade onde a
vegetação é menos
desenvolvida.
Fonte: Adaptado de Souza (2000), Souza, Oliveira e Granjeiro (2002) e Brandão at al (1995).
87
Quadro 09: Sinopse da Compartimentação Geoambiental –Planície flúvio-marinha, planícies fluviais, lacustres e flúvio-lacustres.
CATEGORIAS ESPACIAIS DE
AMBIENTES
CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES NATURAIS
SISTEMA
AMBIENTAL
SUB-SISTEMA
LITO-
ESTRATIGRAFIA
GEOMORFOLOGIA
HIDROLOGIA DE
SUPERFÍCIE/ SUB-
SUPERFÍCIE
SOLOS E COBERTURA
VEGETAL
ECODINÂMICA
DA PAISAGEM
Planície
Litorânea
Planície Flúvio-
marinha
Sedimentos
Quaternários de
origem flúvio-
marinha argilo-
arenosos, mal
selecionados e ricos
em matéria orgânica.
Área de acumulação
e topografia plana
com eventuais
ocorrências de
solapamentos das
margens. Ambiente
parcialmente
submerso com
inundações duas
vezes ao dia.
Regime fluvial
perene, com padrão
de drenagem
anastomótico.
Solos lodosos, profundos,
ricos de matéria orgânica
em decomposição, que só
oferece condições de
fixação à vegetação de
mangue que é altamente
especializada e suporta
elevados níveis de
salinidade.
Ambiente instável.
Vales
Planícies
Lacustres, Flúvio-
lacustres e áreas
de inundação
sazonal
Constituído por
sedimentos coluviais
e lagunares areno-
argilosos, variando
de moderadamente
a mal selecionados.
Faixas de
acumulação de
sedimentos que
bordejam lagoas, e
áreas aplainadas
e/ou deprimidas com
problemas de
drenagem com ou
sem cobertura
arenosa sujeitas
periodicamente às
inundações.
Lagoas de origem
fluvial, freática ou
mista em áreas que
são precariamente
incorporadas à rede
de drenagem.
Neossolos Flúvicos
recobertos originalmente
por vegetação ciliar,
principalmente carnaúbas
que se encontram
fortemente alteradas.
Ambientes de
transição com
tendências à
instabilidade,
podendo
facilmente ser
convertido em
ambientes
instáveis.
Fonte: Adaptado de Souza (2000), Souza, Oliveira e Granjeiro (2002) e Brandão at al (1995).
88
Quadro 10: Sinopse da Compartimentação Geoambiental – Planícies fluviais e tabuleiros pré-litorâneos
CATEGORIAS ESPACIAIS DE
AMBIENTES
CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES NATURAIS
SISTEMA
AMBIENTAL
SUB-SISTEMA
LITO-
ESTRATIGRAFIA
GEOMORFOLOGIA
HIDROLOGIA DE
SUPERFÍCIE/ SUB-
SUPERFÍCIE
SOLOS E COBERTURA
VEGETAL
ECODINÂMICA
DA PAISAGEM
Vales
Planícies Fluviais
Sedimentos aluviais
composto por areias
mal selecionadas,
incluindo siltes,
argilas e cascalhos.
No médio-alto curso
predominam os
sedimentos
grosseiros, já no
baixo-média as
areias são mais
finas.
Áreas de topografia
plana e rebaixadas,
sujeitas às
inundações quando
da incidência de
fortes chuvas. Em
alguns setores a
planície é bastante
estreita.
À exceção do baixo
curso do Cocó que é
perenizado pela
permoporosidade dos
tabuleiros, o regime é
do tipo intermitente
sazonal, porém
encontra-se
perenizado a partir da
barragem do Gavião.
As reservas hídricas
subterrâneas são de
boa qualidade e
capacidade de vazão.
Os Neossolos Flúvicos
apresentam problemas de
drenagem, com boa
fertilidade natural, o que
favorece a instalação de
mata ciliar bastante
descaracterizada.
Ambiente instável,
principalmente nas
áreas onde a
vegetação ciliar foi
removida.
Glacis de
acumulação
pré-litorâneos
Tabuleiros pré-
litorâneos
Depósitos tércio-
quaternários da
Formação Barreiras,
composto por
sedimentos areno-
argilosos mal
selecionados de
coloração
esbranquiçada ou
amarelo-
avermelhada.
Relevo plano de
aspecto rampeado,
com sua inclinação
em direção ao litoral,
dissecado por
interflúvios
tabuliformes.
Padrão de drenagem
paralelo, escoamento
intermitente sazonal,
com baixo poder de
entalhe. Ocorrência
de várias lagoas
intermitentes e
perenes. Boa
disponibilidade e
qualidade dos
aquíferos.
Apresenta Argissolos
Vermelho Amarelo
Eutróficos e Neossolos
Quartzarênicos recobertos
originalmente por mata de
tabuleiros, complexo
vegetacional litorâneo,
caatingas e alguns
encraves de cerrado, todos
já fortemente
descaracterizados.
Ambiente estável.
Fonte: Adaptado de Souza (2000), Souza, Oliveira e Granjeiro (2002) e Brandão at al (1995).
89
Quadro 11: Sinopse da Compartimentação Geoambiental – Serra da Aratanha e depressão sertaneja
CATEGORIAS ESPACIAIS DE
AMBIENTES
CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES NATURAIS
SISTEMA
AMBIENTAL
SUB-SISTEMA
LITO-
ESTRATIGRAFIA
GEOMORFOLOGIA
HIDROLOGIA DE
SUPERFÍCIE/ SUB-
SUPERFÍCIE
SOLOS E COBERTURA
VEGETAL
ECODINÂMICA
DA PAISAGEM
Maciços e
Cristas
Residuais
Serra da Aratanha e
Ancuri
Rochas pré-
cambrianas
orotoderivadas do
Complexo
Nordestino de
natureza
granitóide-
migamatíticas.
Superfície
dissecada,
tipicamente
resultante dos
processos de erosão
diferencial onde a
maior resistência das
rochas graníticas
originou um relevo
topo aguçado se
comparado às áreas
circunjascentes.
Devido a maior
disponibilidade hídrica e
topografia acidentada a
rede de drenagem
apresenta grande
capacidade energética,
com vales em forma de
“v” ou ligeiramente
alargados nos setores de
topografia mais suave.
A maior profundidade dos
Argissolos Vermelho
Amarelo Eutróficos
associado às melhores
disponibilidades hídricas,
proporciona um
recobrimento vegetal do
tipo plúvio-nebular nos
setores mais elevados, já
nas vertentes mais secas e
setores mais rebaixados
na zona de transição com
as caatingas predomina a
mata seca.
Ambiente de
transição com
tendências à
estabilidade nas
áreas de cimeira
onde a vegetação
encontra-se mais
preservada. Já
nas vertentes mais
íngremes é
instável,
principalmente
pela retirada da
cobertura vegetal.
Depressão
Sertaneja
Depressão
Sertaneja
Litotipos variados
do Complexo
Nordestino
constituído
principalmente por
rochas de
natureza
ganaissico-
migmatitos.
Superfície aplainada
por processo de
pediplanação,
apresenta aspecto
rampeada com
caimento topográfico
suave em direção
aos fundos de vales.
A drenagem é
intensamente ramificada
com padrão dendrítico e
regime intermitente
sazonal. Com exceção
das áreas a jusante do
açude Gavião. Apresenta
baixo potencial
hidrogeológico dado a
impermeabilidade do
material constituinte.
Argissolos Vermelho
amarelos revestidos por
caatingas que apresentam
diferenciados padrões
fisionômicos.
Ambiente de
transição com
tendências à
estabilidade.
Fonte: Adaptado de Souza (2000), Souza, Oliveira e Granjeiro (2002) e Brandão at al (1995).
90
Figura 19: Mapa de Sistemas Ambientais
91
5. Áreas Legalmente Protegidas
No que concerne à conservação do meio ambiente, os preceitos
estabelecidos na Constituição Federal pressupõem um meio ambiente
equilibrado de forma a que possa proporcionar uma melhor qualidade de vida é
direito de todos. Um meio ambiente equilibrado é base para que esse direito
(qualidade de vida) possa ser exercido em sua plenitude.
Desta forma a legislação brasileira fornece uma série de instrumentos
jurídicos para assegurar um meio ambiente sadio e equilibrado. Dentre os
instrumentos existentes para garantir a preservação pode-se citar como mais
importantes: A própria Carta Magna; Código Florestal (Lei nº 4.471/1965); a
Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981); Lei de Crimes
Ambientais (Lei nº 9.605/1998); Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (Lei nº 9.985/2000); Sistema Nacional de Meio Ambiente
(SISNAMA); Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA); entre outras
instâcias nas esferas estadual e municipal.
Algumas áreas por serem dotadas de atributos ambientais que
conferem significativa importância ecológica assumem o status de espaços
territoriais especialmente protegidos, cabendo ao Poder Público destinar
especial atenção as mesmas. Esses preceitos estão alicerçados na
Constituição Federal que em seu Art. 255 afirma que todos têm direito a um
meio ambiente equilibrado e que cabe ao Poder Público o dever de preservá-lo
e defende-lo.
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
Parágrafo primeiro. Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público:
...
III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais
a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
preservação”.
92
Os espaços territoriais que devem ser especialmente protegidos
envolvem duas modalidades a saber: Áreas de Preservação Permanente
(APP), definidas pelos artigos 2º e 3º do Código Florestal Brasileiro Lei Nº
4.771/1965 e Unidades de Conservação (U.C), estabelecidas pela Lei Nº
9.985/2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC).
Utilizando os referidos instrumentos ao espaço territorial abrangido por
esta pesquisa, encontram-se as duas modalidades acima descritas, de vez que
existe mata ciliar ao redor dos reservatórios naturais e/ou artificiais mesmo que
em alguns setores apresente-se bastante degradada, bem como ao longo das
calhas fluviais, formações florestais nos setores mais elevados da Serra da
Aratanha e a existência de Unidades de Conservação no território em epígrafe.
5.1. Áreas de Preservação Permanente (APP)
Conforme descrito anteriormente, as Áreas de Preservação
Permanente (APP) compreendem espaços territoriais especialmente
protegidos. Diferentemente das Unidades de Conservação, as APP não
necessitam de instrumentos normativos para sua implementação, pois essas
áreas já estão devidamente definidas no Código Florestal (Lei Nº. 4.771/65),
cabendo ao Poder Público unicamente assegurar sua manutenção e
segurança.
Essa diferenciação é importante no contexto dessa pesquisa uma vez
que em toda a bacia em análise existem espaços territoriais detentores de
atributos e características que conferem o status de áreas de preservação
permanente.
O Art. 2º do Código Florestal trata das florestas e demais formações
vegetais consideradas por esse instrumento como Áreas de Preservação
Permanente.
“Art. 2º. Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito
desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural
situadas
1
:
1
Os itens a), c) e parágrafo único têm sua redação dada pela Lei Nº 7.803 de 18/07/1989.
93
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d´água desde o seu nível
mais alto cuja largura mínima será: ...
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais ou
artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos
d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio
mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°,
equivalente a 100% na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de
mangues; ...
Ainda conforme exposto no item a) do referido artigo a faixa de APP
varia no corpo hídrico conforme sua largura mínima, sendo aplicada a seguinte
relação:
¾ 30 metros para os cursos d´água com menos de 10 metros de largura;
¾ 50 metros para os cursos d`água com largura variando de 10 a 50
metros;
¾ 100 metros onde a variação da cheia máxima for de 50 a 200 metros;
¾ 200 metros para os rios de apresentam largura máxima de 200 a 600
metros; e
¾ 500 metros nas calhas fluviais que tenham mais de 600 metros de
largura.
A resolução 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) esclarece a cerca dos parâmetros, definições e limites das Áreas
de Preservação Permanente, que variam conforme a largura do corpo hídrico,
com área territorial ocupada e inclinação do terreno.
Embora a Resolução 303/2002 do CONAMA confira às dunas móveis
ou fixas o status de Área de Preservação Permanente, os incorporadores e
especuladores imobiliários, conseguiram tornar a Resolução sem efeito,
alegando que o Código Florestal define como área de APP somente a
vegetação fixadora sobre o campo de dunas. Como uma Resolução (mesmo
federal) não pode suplantar uma Lei, ficou definido que o que realmente é
objeto de proteção é a vegetação do campo de dunas e não as dunas
propriamente ditas. A partir desse entendimento foi elaborado Projeto Lei que
está tramitando no Congresso Nacional para assegurar ao campo de Dunas
94
móveis e fixas o status de área de Área de Proteção Permanente (APP). Porém
essa matéria permanece parada no Congresso Nacional devido às pressões de
lobistas representantes dos especuladores e grandes grupos hoteleiros.
Essa definição afetou diretamente de forma negativa o campo de
dunas do Cocó, deixando as dunas da Sabiaguaba e Praia do Futuro sem
amparo legal para evitar ações danosas ao meio ambiente, à exceção das
dunas recobertas por vegetação, o que na prática torna-se pouco operacional e
dificultou sobremaneira a fiscalização.
Dado o caráter estratégico que os recursos hídricos têm para o Ceará,
e com o objetivo de garantir a preservação dos mananciais, em 1995 foi
promulgada a Lei Estadual nº 12.552/1995 que estabelece como áreas
especialmente protegidas as nascentes e olhos d`água situadas no Estado do
Ceará. Conforme disposto no Art. 2º da Lei supracitada essas áreas serão
denominadas de Perímetro de Conservação de Nascentes e Olhos D`água.
Isso vem a fortalecer os instrumentos legislativos para a proteção e
preservação das áreas de nascentes.
Porém, verifica-se alguns pontos conflitantes entre a Legislação
Federal e Estadual a cerca da proteção e conservação dos recursos naturais. A
Política Florestal do Estado do Ceará Lei nº 12.488/1995 em seu Art. 20
aparentemente em consonância com o Código Florestal diz o seguinte a cerca
de supressão vegetal em áreas de APP:
Art. 20 - É proibida a supressão parcial ou total da cobertura florestal
nas áreas de preservação permanente de que trata a Lei Federal Nº
4.771/65, salvo quando necessário à execução de obras, planos ou
projetos de utilidade pública ou interesse social, mediante prévia
autorização do Poder Público Federal e elaboração do EIA-RIMA e
licenciamento dos órgãos competentes.
Vale destacar que a vegetação que trata o artigo supracitado refere-se
exclusivamente às coberturas florestais, desta forma, excluindo a vegetação
em regeneração e vegetação pioneira fixadora de dunas e estabilizadora de
mangues, muito presente nas áreas da Planície Litorânea da bacia em análise.
Ainda no que diz respeito à esfera estadual, em 1977 foi promulgada a
Lei nº 10.147/77 que disciplina o uso do solo para a proteção dos mananciais,
cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos para a Região
95
Metropolitana de Fortaleza. O Art. 3º da referida Lei divide as áreas de
proteção em 1ª e 2ª categorias.
Art. 3º Nas áreas de proteção, deverão ser estabelecidas áreas ou
faixas de 1ª e 2ª categorias, características por restrições
decrescentes de uso.
Parágrafo único – as áreas ou faixas de 1ª categoria, sujeitas a
maior restrição, abrangerão inclusive o corpo de água e, nos seus
limites, terão início as áreas ou faixas de 2ª categoria.
O Decreto Estadual nº 15.274/82 regulamenta a supracitada Lei quanto
à metragem das categorias, orientando as delimitações para os recursos
hídricos de Fortaleza e sua Região Metropolitana.
Embora a Lei e Decreto Estadual supracitados não tratem no texto
especificamente de espaços territoriais especialmente protegidos, subentende-
se que a área de APP seja a faixa de preservação de 1ª categoria.
Desta forma, emerge a discussão a cerca de qual instrumento deva ser
utilizado para a delimitação das áreas de APP na bacia hidrográfica do rio
Cocó, já que essa se encontra totalmente inserida no espaço territorial da RMF.
Ante a dúvida, deve-se recorrer à competência de poderes. Segundo
SEMAM (2006) para situações como essa se recorre à Constituição Federal
que ao atribuir competência à União para editar normas gerais, pressupõe a
observação destas normas pelos demais entes federativos, quando forem
legislar ou aplicar a legislação local. Isto quer dizer, deve-se sempre observar a
hierarquia entre as normas e quando houver conflito aplica-se sempre aquela
de hierarquia superior.
Como o CONAMA é dotado de poder normativo, suas resoluções têm
força de Lei Federal, assim, os critérios por ele estabelecidos prevalecerão em
relação às Leis e Decretos das outras esferas. Norberto Boddio apud SEMAM
(2006) diz que em casos como esse não há dúvidas quanto ao critério que
deve ser adotado, pois o cronológico só deve ser utilizado em normas da
mesma esfera, já a hierarquia se sobrepõe como forma de dar consistência ao
sistema jurídico.
Como os Decretos e Leis estaduais e municipais são hierarquicamente
inferiores ao Código Florestal e à Resolução CONAMA Nº 303/2002, são estes
96
últimos que prevaleceram para a delimitação das áreas de APP nesta
pesquisa.
5.2. Unidades de Conservação
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é um
conjunto de normas e critérios para a criação, implantação e gestão de
Unidades de Conservação (U.C). O sistema foi criado pela na Lei Nº. 9.985 de
18 de julho de 2000 que regulamenta o art. 225, §1º, incisos I,II,III e VII da
Constituição Federal, e institui o Sistemas Nacional de Unidades de
Conservação, cujo objetivo principal é assegurar uma série de normas, critérios
e suporte legal para a conservação da natureza.
Para fins da referida Lei o art. 2º define Unidade de Conservação e
Conservação da Natureza.
Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;
II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza,
compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização
sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural,
para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis,
às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as
necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a
sobrevivência dos seres vivos em geral;
O Decreto Nº. 4.430 de 22 de agosto de 2002 regulamenta artigos da
Lei nº. 9.985/2000, que dispõe sobre o SNUC e dá demais providências. A
referida Lei, Decreto e artigo 255 da Constituição Federal são as bases legais
que fundamentam o SNUC.
O artigo 2º da Lei 9.985/2000 define os fundamentos processuais para
a caracterização das Unidades de Conservação. Já o artigo 3º da Lei do
SNUC, diz que o sistema é constituído pelo conjunto das unidades de
conservação federais, estaduais e municipais, de acordo com o disposto nesta
Lei. Os objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação são
definidos pelo Art. 4º e são:
97
I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos
recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e
nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de
ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos
naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da
natureza no processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza
cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica,
geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa
científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação
ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de
populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua
cultura e promovendo-as social e economicamente.
As Unidades de Conservação que integram o sistema devem dividir-se
em duas categorias de manejo: unidades de proteção integral e unidades de
uso sustentável. Os §1º e §2º do Art. 7º trata a cerca dos objetivos básicos de
cada uma dessas categorias de manejo. As unidades de Proteção Integral
objetivam a preservação a natureza, sendo admitido somente o uso indireto
dos recursos naturais, já o grupo de Uso Sustentável tem como objetivo básico
compatibilizar a conservação da natureza com uso sustentável dos recursos
naturais.
98
As categorias de manejo pertencentes ao grupo das unidades de
Proteção Integral estão estabelecidas através do Art. 8º do SNUC, integram
esse grupo: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional,
Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre.
Já o Art. 14 trata do grupo das Unidades de Uso Sustentável. Incluem
esse grupo: Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse
Ecológico (ARIE), Floreta Nacional (FLONA), Reserva Extrativista (RESEX),
Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Na bacia hidrográfica do rio Cocó, existem Unidades de Conservação
(UC´s) pertencentes ao grupo das Unidades de Proteção Integral e de Uso
Sustentável, e outras que não estão enquadradas em nenhum desses dois
grupos.
No que tange às Unidades de Proteção Integral na área da bacia do
Cocó, têm-se um Parque Ecológico e um Parque Natural Municipal. Os
Parques Ecológicos não são categorias de manejo enquadradas no SNUC, Já
os Parques Naturais Municipais são criados por ato do Poder Público
Municipal, e recebem essa denominação conforme estabelecido no § 4º do Art.
11, assim exposto os Parques Naturais Municiais são regidos pelo Art. 11 da
Lei nº 9.985/2000 que trata dos Parques Nacionais.
Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação
de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza
cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico.
§ 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que
as áreas particulares incluídas em seus limites serão
desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições
estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas
estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e
àquelas previstas em regulamento.
§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão
responsável pela administração da unidade e está sujeita às
condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas
previstas em regulamento.
§ 4o As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou
Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e
Parque Natural Municipal.
99
Já no que se refere às Unidades de Uso Sustentável, na bacia
encontram-se três unidades de conservação de uso direto. Todas elas são
Áreas de Proteção Ambiental (APA), assim descritas pelo Art. 15 da Lei do
SNUC. De forma sucinta a APA é uma área em geral extensa, constituída por
terras públicas ou privadas, que apresenta certo grau de ocupação humana e é
dotada de atributos especialmente importantes para a qualidade de vida e o
bem estar das populações humanas. Os objetivos básicos de uma APA são:
proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Neste sentido face
a irracionalidade do uso e ocupação do solo na bacia do Cocó, a instituição
desse instrumento constitui-se num importante mecanismo de controle do uso
do solo.
As Unidades de Conservação existentes na bacia em foco são as que
seguem:
¾ APA da Serra da Aratanha;
¾ Parque Ecológico do rio Cocó;
¾ APA da Lagoa da Maraponga;
¾ Reserva Ecológica Particular da Lagoa da Sapiranga (RPPN);
¾ Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba; e
¾ Área de Proteção Ambiental da Sabiaguaba.
5.2.1. Unidades de Conservação existentes
APA DA SERRA DA ARATANHA
A Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Aratanha foi criada
através do Decreto Estadual Nº 24.959 de 05 de junho de 1998. A referida APA
situa-se no maciço residual da Serra da Aratanha, a delimitação da APA se dá
a partir da cota de 200m abrangendo os municípios de Maranguape, Guaiúba e
Pacatuba, com área total é de 6.448,29 hectares.
Conforme Decreto de Criação e Zoneamento da APA, a unidade tem
os seguintes objetivos específicos:
Proteger as comunidades bióticas nativas, as nascentes dos rios e as
vertentes;
100
A conservação de remanescentes da Mata Atlântica, de leitos naturais
das águas pluviais e das águas fluviais e das reservas hídricas;
Proporcionar à população regional métodos e técnicas apropriadas ao
uso do solo de maneira a não interferir no funcionamento dos refúgios
ecológicos, assegurando a sustentabilidade dos recursos naturais e respeito às
peculiaridades histórico-culturais, econômicas e paisagísticas da região com
ênfase na melhoria da qualidade de vida dessas populações;
Ordenar o turismo ecológico, científico e cultural e as demais atividades
econômicas compatíveis com a conservação ambiental;
Desenvolver na população uma consciência ecológica e
conservacionista.
Já no que se refere as ações que são potencialmente prejudiciais à
unidade em epígrafe, são restringidas ou proibidas as seguintes ações:
A implantação ou ampliação de atividades potencialmente poluidoras
ou degradadoras, capazes de afetar os mananciais de água, formas de relevo,
o solo e o ar;
A realização de obras de terraplanagem e a abertura de canais ou de
estradas, bem como a sua manutenção, quando essas iniciativas importarem
em sensíveis alterações das condições ecológicas locais;
A derrubada de florestas e o exercício de atividades que infligem
matança, captura, extermínio ou, molestamento de espécies de animais
silvestres de qualquer espécie;
Projetos urbanísticos, parcelamento do solo e loteamentos, sem a
prévia autorização d órgão ambiental competente, antecedida dos respectivos
estudos de impacto ambiental nos termos das prescrições legais e
regulamentares;
Uso de agrotóxicos em desacordo com as normas ou recomendações
técnicas oficiais;
Qualquer forma de utilização que possa poluir ou degradar os recursos
hídricos abrangidos pela APA, como também o despejo de efluentes, resíduos
ou detritos capazes de provocar danos ao meio ambiente;
As demais atividades danosas previstas na legislação ambiental.
ZEE da APA.
101
A área territorial da APA extrapola os limites da bacia do Rio Cocó.
Todavia a referida APA é estratégica, por nela estarem situadas as nascentes
do Rio Cocó, servir de divisor de águas entre a bacia do Cocó e
Ceará/Maranguapinho, e por ser a Serra Úmida que apresenta melhor estado
de conservação dos recursos naturais no contexto cearense (figura 20).
Figura 20: Vista parcial da Serra da Aratanha
Desta forma, a instituição da APA juntamente com o Código Florestal,
Resolução CONAMA 303/2000, e Lei Estadual nº 15.522/1995 que trata a
cerca das nascentes e cursos dágua do Estado Ceará, se postas em prática
asseguram a preservação das nascentes do rio Cocó, e de tão importante
complexo paisagístico.
PARQUE ECOLÓGICO DO RIO COCÓ
O Parque Ecológico do Rio Cocó foi criado em 1989 através do
Decreto Estadual Nº 2.253 de 05 de setembro de 1989, visando preservar o
ecossistema manguezal. Localiza-se integralmente no município de Fortaleza
entre as coordenadas 38°30’ longitude w e 3°46’ de latitude s e 38°26’ w e
3°46’ s. Inicialmente sua área compreendia o trecho entre a rodovia BR – 116 e
a Avenida Parque do Cocó (atual Sebastião de Abreu). Após vários estudos e
102
por pressão popular no ano de 1993 a área do Parque Ecológico foi ampliada
da Avenida Sebastião de Abreu até a sua foz na praia do Caça e Pesca por
meio de Decreto Estadual nº 22.587 de 08 de junho de 1993
O Parque do Cocó tem aproximadamente 13 km de extensão e
representa uma área com cerca de 380 hectares. O ambiente conservado é
composto basicamente por áreas recobertas pela vegetação de mangue, que
por si só, já é APP. Contudo, a criação do Parque foi de fundamental
importância para a manutenção dos ambientes ali encontrados, principalmente
por este estar inserido totalmente dentro do perímetro urbano da cidade de
Fortaleza, notadamente numa área que sofre fortemente com a especulação
imobiliária em razão das amenidades provenientes de ser uma vegetação de
mangue densa, numa cidade carente de espaços verdes. Agravando a
situação, a área do Parque Ecológico constitui-se como o boom do setor
imobiliário local, principalmente a partir da década de 1990, com a
transferência de residências e condomínios verticais da Aldeota para os bairros
do Papicu e Cocó.
Agravante às pressões exercidas pela especulação imobiliária, é a
ocupação por moradias de baixa renda e empreendimentos comerciais (como é
o caso do shopping Iguatemi) nas proximidades da ponte sobre a BR116 e da
Avenida Sebastião de Abreu. Ao verificar o imageamento (figura 21) do parque
fica evidente que o mesmo está sendo sufocado pela expansão urbana de
Fortaleza, e a manutenção dos sistemas naturais torna-se cada vez mais difícil.
103
Figura 21: Intenso processo de ocupação no entorno do Parque Ecológico do rio Cocó.
Fonte: SPOT5 resolução espacial de 5m. Nesta composição, a vegetação está representada em vermelho.
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DA MARAPONGA
A APA da Lagoa da Maraponga foi criada por ato Poder Público
Municipal Decreto nº 21.349/91, a partir de Projeto Lei tramitado na Câmara
Municipal desde os fins de 1990. O Art. 2º do referido Decreto trata das
restrições impostas ao espaço da Área de Proteção Ambiental da Lagoa da
Maraponga e referem-se a: Aprovação de loteamentos; desenvolvimento de
atividades comerciais e industriais potencialmente poluidoras; execução de
obras que acarretem na alteração das condições ecológicas locais; e atividades
que ameacem destruir a biota.
O decreto também trata que todos os projetos, sejam de loteamentos
ou construções na área da APA estarão sujeitos à avaliação do Conselho de
Meio Ambiente. Essa instrução deriva principalmente, pela inexistência da
Legislação que instituiu o SNUC quando da criação da unidade. Por esta
mesma razão, a administração da referida APA não é feita pelo órgão
ambiental competente (SEMAM), mas sim pela Empresa de Limpeza Urbana
(EMLURB), trata-se de um dos grandes equívocos históricos da gestão
ambiental em Fortaleza, onde uma empresa de limpeza pública é responsável
pela administração de uma APA.
104
RESERVA ECOLÓGICA PARTICULAR DA LAGOA DA SAPIRANGA
No contexto da Legislação Estadual existe uma categoria de manejo
que não está prevista no SNUC, que são as Reservas Ecológicas Particulares,
o reconhecimento legal dessa categoria se dá através do Decreto Estadual nº
24.220 de 12 de setembro 1996, que reconhece as Reservas Ecológicas
Particulares (REP). Segundo o referido Decreto as REPs são áreas
especialmente protegidas por iniciativa de seu proprietário, tomando como
base sua instituição a importância da área para a conservação dos recursos
naturais.
É nesse contexto que se enquadra a Reserva Ecológica Particular da
Lagoa da Sapiranga, reconhecida através da Portaria SEMACE nº 031/97 de
03 e fevereiro de 1997. A referida reserva é administrada pela Fundação Maria
Nilva Alves e conta com uma área total de 58,76 hectares (SEMACE, 2006). Os
objetivos dessa reserva são: Proteção do Meio Ambiente; Educação Ambiental;
Pesquisa; e Monitoramento Ambiental.
Embora não seja uma categoria de manejo reconhecida no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, foi encaminhado pela SEMACE ao
CONAMA que essa categoria seja reconhecida, já que seus objetivos não se
acham contemplados em nenhuma das categorias existentes no SNUC.
PARQUE NATURAL MUNICIPAL DAS DUNAS DE SABIAGUABA
O Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba surgiu através
da iniciativa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano de
Fortaleza (SEMAM), em virtude da degradação ambiental exercida sobre as
dunas da Sabiaguaba. Essa degradação têm diversas origens, as atividades
mais impactantes na área são: mineração que provocava o desmonte de
dunas, tráfego de veículos e a ocupação desordenada sobre o campo de dunas
fixas e móveis (figura 22).
105
Figura 22: Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba e APA da Sabiaguaba.
Fonte: Imagens QuickBird com resolução 5m e aerofotografias em escala de 1:2.000.
Mesmo em face da iniciativa da SEMAM, o Parque é resultado
principalmente da pressão popular e do movimento ambientalista de Fortaleza
para a preservação da região, como forma de conter a especulação imobiliária
na área e degradação futura quando da conclusão das obras da ponte sobre o
rio Cocó ligando as Praias do Futuro e Sabiaguaba. A proposta do Parque das
Dunas também foi apresentada nas oficinas de planejamento do Projeto ORLA
2
Fortaleza
Sua instituição é recente, através do Decreto Municipal N 11.986 de 20
de fevereiro de 2006. Para sua criação, além de consulta pública realizada
junto à comunidade local e população de Fortaleza em geral, conforme
determina o SNUC, foram utilizados uma série de estudos praticados na região
a fim de verificar a viabilidade de criação de uma U.C na região. Desta feita, o
ato de criação atendeu todas as exigências estabelecidas no SNUC, fato raro
no que confere às Unidades de Conservação existentes no estado do Ceará.
2
Projeto do Governo Federal que estabelece convênio com as prefeituras municipais, cujo objetivo entre
outros é transferir para o município a cessão da faixa de orla (terrenos de marinha).
106
Conforme Decreto de criação e com base no Art. 11 do SNUC, o
Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba tem os seguintes objetivos
específicos: Preservar os ecossistemas naturais existentes; Realização de
pesquisas científicas Desenvolver atividades de turismo ecológico; e Promover
educação ambiental.
O Parque protege variados ambientais litorâneos, como o Campo de
Dunas fixas e móveis, faixa de praia, lagoas costeiras, e algumas áreas de
tabuleiros pré-litorâneos. Embora a maior parte do Parque seja constituído por
áreas de APP, foi verificada a necessidade de criação dessa unidade de
Proteção Integral, face ao processo irracional de ocupação do solo que
historicamente tem acontecido na cidade de Fortaleza.
A criação do Parque das Dunas de Sabiaguaba foi uma importante
vitória do movimento ambientalista de Fortaleza, embora a referida unidade
ainda enfrente problemas de regulamentação, já que é necessário enviar um
Projeto de Lei ao Legislativo para que as áreas de particulares inseridas no
interior do Parque sejam desapropriadas. Porém acredita-se que a matéria seja
aprovada mesmo face à grande pressão contrária ao projeto exercida pelos
especuladores imobiliários e mesmo setores da administração municipal.
APA DA SABIAGUABA
A Área de Proteção Ambiental (APA) da Sabiaguaba, foi gestada com o
intuito de ser mais um mecanismo legal para assegurar a proteção do Parque
Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba, a medida que sua delimitação
territorial foi pensada para servir como zona de amortecimento do Parque
(figura 22 - item anterior). Sua criação se deu no mesmo dia do Parque das
Dunas, através do Decreto nº 11.987 de 20 de fevereiro de 2006. Essa
alternativa foi utilizada pela impossibilidade de desapropriação de uma extensa
área devido aos elevados custos financeiros, que comprometeriam fortemente
o projeto do Parque, já que a APA tem uma área de 1.009,74 hectares.
A instituição da APA na área de entorno do Parque das Dunas tem
duas finalidades, uma como citado no parágrafo anterior é servir de zona de
amortecimento fortalecendo assim as restrições impostas à área, e após a
elaboração do Plano de Manejo, encaminhar ao Ministério do Meio Ambiente
107
(MMA) uma proposta de mosaico de Unidades de Conservação, composto
pelas unidades municipais.
Se analisado num contexto mais amplo que extrapole a bacia
hidrográfica do rio Cocó, toda a região litorânea leste da cidade de Fortaleza
está protegida por Unidades de Conservação. As Unidades que compõem esse
imenso mosaico informal seguem desde o Rio Cocó até o Rio Pacoti, com o
Parque Ecológico do Rio Cocó, APA da Sabiaguaba, Parque Natural Municipal
das Dunas de Sabiaguaba, APA e Corredor Ecológico do Rio Pacoti. Se forem
estabelecidas as devidas articulações interinstitucionais entre o município de
Fortaleza e o Governo do Estado do Ceará pode-se constituir um grande
mosaico de Unidades de Conservação, numa área extremamente carente de
espaços naturais protegidos como é a Região Metropolitana de Fortaleza,
conforme pode ser verificado na figura 23.
108
Figura 23: Possível mosaico de U.C´s na região Leste de Fortaleza.
Fonte: Landsat7 etm+, resolução de 5m. SEMAM e SEMACE.
OUTRAS ÁREAS LEGALMENTE PROTEGIDAS
APA da Lagoa de Messejana foi criada através da Lei Nº 7.524 de 03
de maio de 1994. A aprovação do Projeto de Lei fora justificada pelo relevante
valor turístico e ecológico que a lagoa representa para Fortaleza. O Art. 2º da
referida Lei diz que a APA será delimitada em no máximo 90 dias por Decreto
do poder executivo. Essa criação na realidade visava somente a criação de um
109
pólo de Lazer onde a preservação/conservação da natureza constitui-se como
um simples detalhe, como pode ser verificado no parágrafo único do Art. 2º
Na referida Área de Proteção Ambiental deverá ser instalado um pólo de lazer
e turismo.”
O Parque Ecológico do Lago Jacarey Lei nº 7.004 de 04 de novembro
de 1991, e Parque Ecológico da Lagoa de Porangabuçu Lei nº 7.728/1995
apresentam condições de criação bastante semelhantes. Nas duas situações a
Lei é bastante sucinta, sem a definição clara de objetivos, tão pouco quais
atributos são merecedores de conservação/preservação. Nos dois casos,
verifica-se redação de igual conteúdo, com apenas 3 artigos. No primeiro
decreta a criação do Parque Ecológico. O segundo artigo diz que o chefe do
poder executivo tem até 30 dias para proceder a delimitação dos referidos
parques e por fim no artigo terceiro diz que essa Lei entra em vigor a partir de
sua publicação.
Diferentemente do que ocorre com o Parque Ecológico do Rio Cocó, e
em desacordo com os preceitos estabelecidos no SNUC, nesses dois casos
(Lago Jacarey e Lagoa do Porangabuçu) o que se objetiva na realidade não é a
conservação da natureza, mas sim a instituição de um espaço público cuja
finalidade é simplesmente a execução de obras de urbanização, dotando os
referidos parques de infra-estrutura de lazer. Não podem desta forma, ser
consideradas como Unidades de Conservação.
A APA do Rio Cocó foi criada em 1986 através de Decreto Municipal nº
7.302/1986 que declara de relevante interesse público como Área de
Preservação Ambiental o vale do rio Cocó. A APA delimita-se pela sub-bacia
b2 (bacia do vale do rio Cocó), conforme estabelecido o Plano Diretor de
Drenagem das Águas Pluviais da Região Metropolitana de Fortaleza, elaborado
pela extinta Autarquia Metropolitana de Fortaleza (AUMEF).
A referida sub-bacia tem uma extensão aproximada de 22,25 km
perfazendo uma área de 6.547 hectares, desde o limite da cidade de
Maracanaú com Fortaleza até sua foz entre a praia do Caça e Pesca e a
Sabiaguaba. Ante a certeza dos desafios a serem superados, houve uma série
de ações para garantir a manutenção da APA do vale do rio Cocó. Em 1987 a
Superintendência do Planejamento do Município de Fortaleza (SUPLAN)
elabora proposta que define as diretrizes e normas para o parcelamento, uso e
110
ocupação do solo para a APA. No ano de 1988 a referida proposta é analisada
e discutida por diversas entidades da sociedade civil, e em 1988 a Prefeitura de
Fortaleza realiza um seminário com o objetivo de discutir a proposta de
zoneamento para a consolidação da APA do Cocó.
Porém, mesmo em face de todas essas atividades ao fim da Gestão e,
principalmente, com a instituição do Decreto Estadual nº 2.253/89 que cria o
Parque Ecológico do Rio Cocó, a APA caiu em obsolescência e
consequentemente, no abandono por parte do poder público municipal. Daí em
diante o Decreto de Criação da APA foi negligenciado e a mesma esquecida,
não sendo citada nem no Plano Diretor de 1992, posterior à sua criação.
Por tal razão, hoje na sub-bacia que compreende o vale do rio Cocó há
coalescência de outras Unidades de Conservação, tornando a APA desse rio
um problema a ser solucionado pela administração municipal, restando ao
gestor público uma dessas alternativas: revogação do Decreto que cria a APA;
redefinição dos seus limites não envolvendo toda a bacia do vale do Cocó (sub-
bacia b2); ou regulamentação da APA com a tomada das medidas pertinentes.
A regulamentação torna-se praticamente inviável dado o elevado grau
de ocupação da área. Ante a dificuldade de regulamentação da APA, tal como
ela está, acredita-se que a solução mais viável ao caso seja a redefinição dos
limites dessa unidade, pois só dessa maneira será possível uma verdadeira
gestão ambiental.
111
6. Uso e Ocupação do Solo
As formas de uso e ocupação da terra são derivadas das atividades
socioeconômicas, e, por conseguinte refletem o desenvolvimento do sistema
técnico-científico e as relações estabelecidas entre sociedade e natureza, além
de denunciar o grau de conservação, preservação e degradação dos recursos
naturais face aos processos produtivos.
Por localizar-se totalmente na RMF a bacia em foco concentra um
grande contingente demográfico com variadas formas de uso e ocupação.
Gonçalves (2004) diz que a concentração demográfica por si só implica em
uma série de problemas ambientais que não se pronunciam quando a
população está dispersa em áreas rurais, como o lixo, abastecimento de água,
saneamento básico, saúde pública e outros.
Esses problemas segundo o referido autor tornam-se o principal
desafio ambiental do mundo contemporâneo, pois as diferentes formas de uso
e ocupação da terra são, na verdade, o reflexo do desenvolvimento do sistema
técnico-científico. A esse respeito diz:
“O desafio ambiental está no centro das contradições do mundo
moderno-colonial. Afinal, a idéia de progresso – e sua versão mais
atual, desenvolvimento – é rigorosamente, sinônimo de dominação
da natureza! Portanto, aquilo que o ambientalismo apresentará como
desafio é, exatamente, o que o projeto civilizatório, nas suas mais
diferentes visões hegemônicas, acredita ser a solução: a idéia de
dominação da natureza. O ambientalismo coloca-nos diante da
questão de que há limites para a dominação da natureza. Assim,
além de um desafio técnico, estamos diante de um desafio político e,
mesmo, civilizatório.” (GONÇALVES, 2004).
Esse desafio assume maiores proporções a medida que se observam
as condições socioeconômicas existentes no espaço compreendido pela bacia
hidrográfica do rio Cocó, visto que a mesma encontra-se totalmente inserida na
RMF, que é a área mais densamente povoada do Estado do Ceará. A
população total da RMF é de 2.984.689 milhões de habitantes, deste 2.582.151
milhões de pessoas residem nos municípios drenados total ou parcialmente
pela bacia do rio Cocó. Trata-se de uma brutal concentração demográfica se
comparado ao restante do Ceará com 34,75% da população estadual e 86,51%
da Região Metropolitana de Fortaleza. A tabela 10 mostra essa disparidade,
112
principalmente se analisados os números totais da concentração demográfica
existente em Fortaleza com 71,75% da população de sua região metropolitana.
Tabela 10: População dos municípios integrantes da bacia em comparação com a RMF e o CE.
POPULAÇÃO % EM RELAÇÃO À
RMF
% EM RELAÇÃO AO
CEARÁ
CEARÁ 7.430.661
- 100
RMF 2.984.689
100,00 40,17
AQUIRAZ 60.469
2,03 0,81
EUSÉBIO 31.500
1,06 0,42
FORTALEZA 2.141.402
71,75 28,82
ITAITINGA 29.217
0,98 0,39
MARACANAÚ 179.732
6,02 2,42
MARANGUAPE 88.135
2,95 1,19
PACATUBA 51.696
1,73 0,70
TOTAL BACIA 2.582.151
86,51 34,75
Fonte: IBGE; Sistema Nacional de Indicadores Urbanos.
Vale destacar que os dados expressos na tabela 10 tomam como base
o censo 2000 e deste aos dias atuais (2006), pode-se verificar um aumento
populacional, onde só a cidade de Fortaleza conta atualmente com cerca de
2.300.000 habitantes.
Essa concentração demográfica se deu de forma bastante acelerada,
principalmente nas últimas quatro décadas (1970 a 2000), saltando de 857.980
habitantes em 1970 para 2.141.402 no ano 2000, só em Fortaleza, o que
representa 28,82% dos 7.430.661 moradores do Ceará. A análise dos números
acima expostos comprova a macrocefalia existente na capital estadual e
denuncia e inexistência de um menor nível de complexidade e
complementaridade da rede de cidades interioranas do Ceará (SILVA, 2000).
Esse crescimento demográfico vertiginoso foi verificado em todos os
municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, e em especial nos que são
drenados total ou parcialmente pela bacia hidrográfica do Cocó, como pode ser
verificado na tabela 11.
113
Tabela 11: Crescimento Demográfico nos municípios drenados pela bacia do rio Cocó em
comparação à RMF e ao Ceará.
População Total
Município
1970 1980 1991 1996 2000
CEARÁ 4.491.590 5.380.432 6.366.647 6.809.794 7.430.661
RMF 1.049.058 1.577.980 2.386.386 2.677.965 2.984.689
AQUIRAZ 25.557 33.016 46.305 52.282 60.469
EUSÉBIO 6.930 12.095 20.410 27.206 31.500
FORTALEZA 857.980 1.307.611 1.768.637 1.955.513 2.141.402
ITAITINGA 8.578 12.104 22.775 25.886 29.217
MARACANAÚ 15.685 37.894 157.151 160.065 179.732
MARANGUAPE 43.917 53.232 71.705 82.064 88.135
PACATUBA 11.546 16.455 37.773 43.594 51.696
Fonte: Sistema Nacional de Indicadores Urbanos.
Como visto na tabela 11, o crescimento da RMF e, por conseguinte dos
municípios que são drenados pela bacia do rio Cocó aconteceu de forma
bastante rápida num curto espaço de tempo. Crescimento esse impulsionado
em grande parte pela ocorrência de secas que sistematicamente aconteceram
no espaço cearense e pauperizaram ainda mais a população do campo.
A inexistência de políticas públicas para o setor rural impulsiona
fortemente as migrações, cujo principal destino é a capital estadual e sua
região metropolitana. Além dos índices pluviométricos naturalmente
desfavoráveis ao desenvolvimento de atividades agrícolas não houve por parte
do poder público a adoção de políticas agrícolas que valorizassem o trabalho
do homem do campo. Muito pelo contrário há que registrar um retrocesso da
atividade agrícola, impulsionado por políticas estaduais excludentes que
procuram privilegiar grandes grupos agro-industriais e indústrias de
substituição através da redução de direitos trabalhistas e isenção de impostos.
Em face disso, a população rural menos “qualificada” vê-se sem
opções de sobrevivência e implementam a “Triste Partida” para os centros
urbanos. Souza (1978) diz que devido à falta de dinâmica dos núcleos urbanos
no interior do Estado, Fortaleza tornou-se o principal destino desse fluxo
migratório, que engrossa o contingente dos excluídos que tem seus direitos
básicos negados, tais como saúde, moradia, emprego, educação só para citar
os mais essenciais.
114
Conforme se verifica na tabela 12, nos municípios que integram a bacia
em epígrafe o nível de escolaridade é baixo. Tomando-se como base Fortaleza
que apresenta os melhores índices de escolaridade pode-se verificar que
11,21% da população do município é analfabeta. A média de anos de estudo
da população acima de 25 anos é de apenas 6,9 anos e o percentual de
pessoas com idade superior a 25 anos e mais de onze anos de estudos é de
apenas 9,88%.
Tabela 12: Percentual da população em relação à educação.
Município
% população acima
de 15 anos que é
analfabeta
Média de anos de
estudo da
população acima de
25 anos
% da população com mais
de 25 anos de idade com
mais de onze anos de
estudo
Aquiraz 31,48 2,1 0,43
Eusébio 23,84 2,9 2,54
Fortaleza 11,21 6,1 9,88
Itaitinga 25,1 - -
Maracanaú 14,98 4,1 1
Maranguape 23,75 3 0,99
Pacatuba 17,48 3,2 0,57
Fonte: Sistema Nacional de Indicadores Urbanos.
A distribuição dos serviços de infra-estrutura em toda a RMF deixa
muito a desejar, principalmente no que se refere ao saneamento básico.
Através da análise da tabela 13 pode-se verificar a distribuição irregular dos
serviços de abastecimento de água, domicílios com banheiros, esgotamento
sanitário e coleta de lixo nos municípios que compõem a área de drenagem da
bacia do Cocó.
Esses dados refletem as desigualdades e os problemas sociais
existentes nos municípios integrantes da bacia do Cocó, por conseguinte na
Região Metropolitana de Fortaleza e no Ceará como um todo, denunciando a
má distribuição de serviços e as precárias condições socioeconômicas de
grande da parte população. Essa situação favorece a degradação dos recursos
naturais, repercutindo negativamente na qualidade de vida de seus moradores
e no uso/ocupação e exploração dos recursos naturais.
115
Tabela 13: Rede de abastecimento de água, domicílios com banheiros e acesso ao serviço de coleta
de lixo
Município
Rede de
abastecimento
de água (%)
Banheiro ou
sanitário e outro
tipo esgotamento
(%)
Banheiro ou
sanitário ligado a
rio, lago ou mar
(%)
Acesso ao
serviço de
coleta de
lixo
Aquiraz 10,03 0,89 0,02 54,79
Eusébio 7,84 0,36 0,02 67,75
Fortaleza 87,21 0,82 1,32 95,20
Itaitinga 52,26 0,26 0,00 80,33
Maracanaú 84,09 0,53 0,29 89,99
Maranguape 54,38 1,23 0,22 69,08
Pacatuba 82,63 0,46 1,86 77,71
Fonte: Sistema Nacional de Indicadores Urbanos.
Como dito anteriormente, as formas de uso e ocupação na bacia
hidrográfica do rio Cocó assumem padrões diferenciados, podendo-se,
observar uma forte transversalidade nas principais formas de uso e ocupação
do solo no espaço em questão. Contudo para se compreender as formas de
uso, é preciso, primeiramente, remontar o processo histórico de ocupação da
cidade de Fortaleza que têm influência direta na ocupação de toda a bacia em
estudo.
6.1. Histórico de Uso e Ocupação da Bacia Hidrográfica do
rio Cocó
A cidade de Fortaleza é hoje a quarta maior cidade do Brasil e a
principal cidade do nordeste setentrional, porém nem sempre ocupou papel de
tamanho destaque. Diferentemente do que ocorrera nas demais capitais
nordestinas, seu crescimento se deu a partir da segunda metade do século
XVIII impulsionado principalmente pelo declínio da pecuária. Desta forma, para
entender o processo de ocupação da bacia em apreço, deve-se primeiramente
remontar o próprio processo de ocupação do território cearense, com ênfase
nos municípios que compõem a RMF.
Os colonizadores europeus adotaram duas linhas de ocupação para o
território nordestino: num primeiro momento a ocupação do litoral, sustentada
pela produção de cana de açúcar na zona da mata nordestina, e
posteriormente a ocupação do sertão semi-árido (maior parte do Ceará) com o
116
gado, por meio da pecuária extensiva, promovendo assim a efetivação da
exploração do povoamento no interior do continente.
Diferentemente da zona da mata nordestina a capitania do Ceará não
dispunha de condições favoráveis ao desenvolvimento de extensos canaviais,
tornando a atividade pecuária a base da economia cearense, destinando-se
principalmente a atender o mercado externo. Devido à inexistência de um porto
de grande porte na área atualmente compreendida pela RMF que pudesse
escoar a produção o charque era exportado pelo Porto de Aracati na foz do rio
Jaguaribe. Consequentemente, a produção pecuária se concentrou na região
do vale do Jaguaribe, o que conferiu às cidades do vale (principalmente Aracati
e Icó) a maior importância econômica do Ceará colonial.
Durante todo este período Fortaleza e sua área de entorno vive uma
constante estagnação econômica. Seu comércio era bastante incipiente em
função da precariedade de suas vias de acesso e inexistência de um porto de
grande porte. Sua função primordial era a defesa do território. Em razão da
existência do forte e por estar mais abrigada ao ataque dos índios, em 1726
tomou de Aquiraz o posto de capital da província. Com referência à estagnação
econômica de Fortaleza nesse período Souza (1978) diz:
“com efeito, o crescimento de Fortaleza, no período colonial, foi
muito lento, pois, apesar de ser a capital administrativa, não foram
desenvolvidas atividades econômicas que pudessem provocar uma
maior dinamização do núcleo. O porto era precário, dificultando
assim o contato com outras áreas e a inexistência de estradas para o
interior do Ceará, impossibilitava o maior relacionamento com as
áreas de produção. Desta forma as cidades de Icó e Aracati,
localizadas no vale do Jaguaribe, em contato com as zonas de maior
desenvolvimento das fazendas de gado, tiveram neste período, um
crescimento mais acelerado que a capital.”(SOUZA, 1978:99)
A ocorrência de grandes secas (anos de 1777, 1778, 1790 e 1793)
praticamente dizimou os rebanhos cearenses, que associado ao comércio de
carne seca proveniente do Rio Grande do Sul e ao início da atividade
algodoeira, decretaram o declínio da pecuária no Ceará. Segundo Silva (1982),
a introdução da produção algodoeira além da acabar com o exclusivismo da
pecuária no estado, marca a entrada do Ceará na divisão internacional do
trabalho. A melhoria do Porto, dos caminhos que levam à capital, e a
introdução de uma malha ferroviária (fins do século XIX e início do século XX)
117
consolidaram Fortaleza como principal centro comercial, político e
administrativo do Ceará.
Assim como ocorre com a ocupação do território cearense os
municípios que compõem a bacia do rio Cocó tiveram seu processo de
ocupação espontânea e desordenada, porém fortemente influenciados pelas
intervenções públicas que em muitos casos induziram o processo de
crescimento urbano, principalmente com a instituição do Distrito Industrial e da
Região Metropolitana de Fortaleza.
A ocupação do espaço que hoje representa o município de Pacatuba
onde localizam-se as nascentes do Cocó, cujo significado em tupi quer dizer
lugar onde há muitas pacas
3
” teve início com a incursão dos holandeses à
busca de prata na Serra da Aratanha e Maranguape (ZEE da APA da
Aratanha). Quando constatada a inviabilidade econômica dessa atividade, e
com a saída dos holandeses do território cearense a ocupação da área foi
interrompida. Seu processo efetivo de ocupação se dá com a concessão das
primeiras sesmarias em fins do século XVII e início do século XVIII. A partir
desse momento os níveis inferiores da serra foram sendo sistematicamente
ocupados por cafezais. No ano de 1845 fortes secas trouxeram grande
quantidade de agricultores para o sopé da Serra da Aratanha, o que
proporcionou a formação da primeira aglomeração humana mais significativa
na região.
Sua ligação mais efetiva com a capital da província ocorrera em 1803
quando foi aberta uma estrada ligando o ainda distrito de Maranguape à
referida capital. Contudo, a estrada que hoje a liga a Fortaleza (CE-060) só
teve seu início em 1855. Em 1876 foi inaugurada a estrada de ferro que
dinamizou e impulsionou o crescimento do município, tanto que em 1887 foi
emancipada de Maranguape, tendo sido elevada à condição de cidade em
1889.
Antigo distrito de Pacatuba, Itaitinga foi emancipado após a
promulgação da Constituição de 1988 no ano de 1992. Seu processo de
ocupação também é recente. Chamada inicialmente de Vila Gereraú, seus
primeiros registros de ocupação datam de 1930, com a atividade de mineração.
3
Mamífero roedor da família dos cuniculídeos.
118
O atual perfil urbano com arruamento estreito e tortuoso é reflexo do histórico
processo desordenado de ocupação.
A ocupação de Itaitinga (Ita – y – tinga) que em tupi significa rio das
pedras, está fortemente associada, como o próprio nome sugere, à exploração
das pedreiras existentes no território municipal. Inicialmente a exploração foi
impulsionada pelo DNER (Departamento Nacional de Estadas e Rodagem) que
tinha uma pedreira nas proximidades da atual Estrela Britagem (Itaitinga,
2006). Atualmente a atividade de mineração ainda é muito forte em todo o
município, assim como existem cicatrizes de mineração em boa parte do
município que em alguns pontos chegam a formar lagos e calhas fluviais nas
antigas lavras de mineração (figura 24).
Figura 24: Cicatrizes deixadas por antiga lavra de mineração em Itaitinga.
Assim como ocorre em Itaitinga a origem e ocupação de Eusébio é
recente. Antigo distrito de Aquiraz sua emancipação ocorre em junho de 1987
através da Lei 11.333 (www.ceará.com.br). A partir de 1935 passa a ser
chamado de Eusébio de Queiroz, nome que perdurou até 1938 onde através
de decreto voltou a ser chamado novamente de Eusébio.
Foi elevado à condição de distrito de Aquiraz em 1943. Sua ocupação
predominante sempre foi por sítios e pequenas propriedades rurais. Embora
tenha sido alçado à condição de município, quando da sua emancipação, não
119
teve força política suficiente para conseguir terrenos na faixa de orla, o que
ocasionou certa estagnação econômica, pelo não desenvolvimento da
atividade turística. Atualmente com a expansão da cidade de Fortaleza se
consolidou como uma cidade dormitório com várias chácaras e segundas
residências. Mais recentemente vem sendo ocupado por condomínios de alto
padrão, como o Alphavile e Alphavile Eusébio.
Aquiraz cujo nome em tupi significa “Água logo adiante” foi a primeira
capital da província do Ceará. Em 13 de fevereiro de 1699 foi criada a então
Vila de Aquiraz, no entanto a vila só fora efetivamente instalada em 1713,
tornando-se sede da capitania do Siará-Grande (Aquiraz, 2006). Deixou de ser
a sede da Capitania do Ceará em 1726 quando Fortaleza foi elevada à
condição de vila (vila de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção), sobretudo
para assegurar ao poder central proteção aos constantes ataques sofridos
pelos indígenas.
Vivenciou o período áureo das charqueadas, fato que pode ser
facilmente observado pela existência do Mercado da Carne e a casa do
Capitão Mor, atualmente tombados pelo IPHAN. Esta última, construída com
paredes de pau-a-pique reforçadas com couro de boi, exibe uma nítida
referência às charqueadas que predominou em todo o Ceará até meados do
século XVIII.
Com o desmembramento de Eusébio, Aquiraz permaneceu com os
acessos ao oceano, que em parte reduziu significativamente o potencial
turístico do Eusébio, e fortaleceu a atividade em Aquiraz, atualmente uma de
suas principais atividades econômicas. Embora não tenha sua área urbana
drenada pela bacia do Cocó, a porção territorial ocupada é predominantemente
relacionada aos agroecossistemas.
A cidade de Maracanaú teve seu povoamento inicialmente em torno da
Lagoa de Maracanaú por volta de 1870, posteriormente se expandiu para as
lagoas de Pajuçara e Jaçanaú, fazendo com que os índios Jaçanaú, Mucunã e
Cágado perdessem o controle do território denominado Aldeia Nova para os
colonizadores. A partir do domínio do território pelos colonizadores o povoado
passou a chamar-se Vila do Santo Antonio do Pitaguary.
Anteriormente distrito de Maranguape, Maracanaú buscou sua
emancipação desde 1953 e em 1962 o município fora finalmente emancipado.
120
Entretanto o golpe militar de 1964 tornou sem validade as emancipações
realizadas em 1962, fazendo com que os movimentos políticos em prol da
emancipação se intensificassem. Várias foram as tentativas de emancipação e
somente em 1983 na 4ª tentativa e com o Distrito Industrial já consolidado foi
obtido êxito.
Com a expansão da linha férrea de Maranguape no final do período
oitocentrista acelerou-se a ocupação de Maracanaú. Foi a partir do fim da
década de 1960 com a instalação do Distrito Industrial (D.I) e expansão do
fornecimento de energia que o processo de uso e ocupação do solo se deu de
forma bastante acelerada, acarretando numa série de impactos e problemas
ambientais. Atualmente, o Distrito Industrial de Maracanaú corresponde à base
da economia municipal.
Como evidenciado anteriormente a grande força impulsora da
ocupação da bacia, foi a instituição da malha ferroviária e a melhoria dos
caminhos que partindo de Fortaleza, ligavam ao interior do Estado. Como
conseqüência, a ferrovia e os caminhos que davam acesso ao interior
contribuíram fortemente para impulsionar o crescimento urbano de Fortaleza
para limites que extrapolavam os traçados por Adolfo Herbster
4
. Em 1950 com
a construção do Porto do Mucuripe o crescimento urbano foi mais acelerado, o
que dinamizou ainda mais o processo de ocupação da capital e proporcionou
na década de 1970, a criação da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Ao
mesmo tempo em que ligavam Fortaleza ao interior do estado facilitando o
escoamento da produção, os caminhos e trilhos traziam levas de imigrantes
vindos principalmente do semi-árido cearense.
Essa forte imigração ocasionada principalmente pela falta de
dinamismo dos núcleos urbanos do interior, declínio da atividade pecuária, e
ocorrência de secas, induziu o crescimento populacional da área em estudo,
acarretando aumento na pressão sobre os recursos naturais, degradação
ambiental, busca por espaços destinados à moradia e, consequentemente, o
consumo de água para o abastecimento humano. Nesse contexto é que o uso
4
Em 1875 o engenheiro Adolfo Herbster, com base planta elaborada por Silva Paulet no ano de 1818,
conclui a planta topográfica de Fortaleza. Com o traçado em forma de xadrez a planta tinha por objetivo
disciplinar a expansão urbana de Fortaleza.
121
e a destinação final dos recursos hídricos na bacia do rio Cocó assumem
destaque.
6.2. Principais Tipos de Usos
Assim como ocorre com os sistemas ambientais, há uma forte
heterogeneidade nos tipos de uso e ocupação na área da bacia hidrográfica do
rio Cocó. As diferentes formas de uso denunciam o nível de desenvolvimento
dos sistemas técnicos, e a quem esses sistemas beneficiam. Esses usos
diferenciados evidenciam os contrastes sociais existentes na área, com a
presença de atividades sofisticadas que empregam alta tecnologia e outras que
utilizam uma tecnologia extremamente rudimentar.
Como exemplo dessa disparidade, pode-se citar a área de entorno
imediato do reservatório do açude Gavião. A estação de tratamento (ETA-
Gavião) emprega um moderno sistema de captação e tratamento de água, só
que essa água não é utilizada pela comunidade que reside nas proximidades
do reservatório, sua destinação final é o consumo urbano para a cidade de
Fortaleza.
Dentre as principais formas de uso e ocupação na bacia hidrográfica do
rio Cocó estão os usos: dos recursos hídricos, urbano, industrial, turismo,
mineração e agroecossistemas.
6.2.1. Uso dos Recursos Hídricos
As variadas formas de uso dos recursos hídricos (dessedentação de
animais, agricultura e consumo humano) são o elemento chave para definição
da bacia hidrográfica como unidade de planejamento territorial, influenciado,
em grande parte, pela crescente ocupação urbana. Segundo Gonçalves (2004),
a demanda de água aumenta constantemente e a urbanização tem um papel
importante no aumento do consumo, visto que um habitante urbano consome
em média três vezes mais água que um rural. Há uma incrível disparidade
entre as nações ricas e as pobres, ao comparar o uso dos recursos hídricos por
122
habitante diz que um cidadão alemão consome em média nove vezes mais
água do que um indiano (Petrella, apud Gonçalves, 2004).
Verifica-se, porém que o principal consumo da água não é para o uso
doméstico, já que os maiores consumidores de água são as atividades
agropecuárias, seguidas pelo uso doméstico e industrial. A tabela 14 mostra
percentualmente o tipo de consumo da água superficial e subterrânea no Brasil
em relação à sua destinação final.
Tabela 14: Consumo percentual de água no Brasil
CONSUMO SUPERFICIAL SUBTERRÂNEO
Agrícola 61 38
Industrial 18 25
Doméstico 21 37
Fonte: WWF, 2003 (apud Gonçalves, 2003).
Na bacia do rio Cocó, dadas suas condições hidroclimáticas que
determinam o regime torrencial, a sazonalidade das chuvas, disponibilidade
hídrica e capacidade de armazenamento, os recursos hídricos assumem papel
destaque para o desenvolvimento regional. Tanto que o Estado do Ceará
considera os recursos hídricos como fator chave para o desenvolvimento
territorial tendo as bacias hidrográficas como critério básico para o
planejamento.
Em 1992, o Estado do Ceará elaborou o Plano Estadual de Recursos
Hídricos
5
, (Lei nº 11.996 de 24 de junho de 1992) que considera as bacias
hidrográficas como unidades de planejamento territorial. Neste sentido e com
base nos critérios estabelecidos no referido plano, o Ceará está dividido em 11
regiões hidrográficas (figura 25), compreendida por 07 bacias hidrográficas,
quais sejam: Acaraú, Aracatiaçu, Curu, Coreaú, Poti, Bacias Metropolitanas e
rio Jaguaribe, sendo essa última subdividida em 05 bacias: Banabuiú, Salgado,
Alto, Médio e Baixo Jaguaribe.
5
A Política Estadual de Recursos Hídricos foi criada em 1992, ou seja, cinco anos antes da Lei federal nº
9.433 de 08 de janeiro de 1997 que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema
Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos e regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição
Federal, e 11 anos antes do Decreto Federal nº 4.613/03 que regulamenta o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos e dá outras providências. Desta forma a referida Lei estadual precisa ser revista para
estar de acordo com a Lei Federal. Um projeto de Lei já encontra-se na Assembléia Legislativa
aguardando entrar na pauta de discussão e votações.
123
A Resolução nº 003/2002 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos
do Ceará (CONERH) de 18 de dezembro de 2002 regulamenta o Decreto
Estadual nº 26.462/2001 e estabelece o comitê das Bacias Metropolitanas. O
conjunto das Bacias Metropolitanas é constituído pelo rio Cocó e mais 15
bacias hidrográficas (figura 26) conforme estabelecido no § 2 da referida
resolução.
§ 2º. O CBH - RMF terá como área de abrangência 16 bacias
hidrográficas correspondentes aos rios: São Gonçalo, Gereraú,
Cauhipe, Juá, Ceará, Maranguape, Cocó, Coaçu, Pacoti, Catu,
Caponga Funda, Caponga Roseira, Malcozinhado, Choró, Uruaú e
Pirangi, composto pelos seguintes municípios: São Gonçalo do
Amarante, Caucaia, Maranguape, Maracanaú, Fortaleza, Pacatuba,
Itaitinga, Eusébio, Pacoti, Palmácia, Redenção, Acarape, Guaiuba,
Aquiraz, Pindoretama, Cascavel, Choró, Itapiuna, Capistrano,
Aratuba, Mulungu, Guaramiranga, Baturité, Aracoiaba, Ocara,
Barreira, Chorozinho, Pacajus, Horizonte, Beberibe, Ibaretama.
(grifos nossos)
124
Figura 25: Bacias hidrográficas do estado do Ceará.
125
Figura 26: Bacias Metropolitanas e seus principais reservatórios
Fonte: COGERH, 2006.
No contexto estadual, e no conjunto das bacias metropolitanas, a bacia
do rio Cocó é estratégica por ser uma das responsáveis pelo Sistema de
Abastecimento de Água Bruta para a Região Metropolitana de Fortaleza -
SAABRMF. A tabela 15 mostra a situação atual dos mananciais que abastecem
Fortaleza. Pela Tabela pode-se notar a grande quantidade de água acumulada
na bacia em questão. Essa capacidade, contudo, é sempre elevada, em virtude
do Gavião ser o último reservatório do sistema.
Apesar da pequena extensão territorial, a bacia em estudo assume
papel de destaque por ser o principal rio da cidade de Fortaleza e ser
integrante do SAABRMF, mais especificamente por ser responsável pelo
abastecimento de água tratada para Fortaleza, Eusébio, Maracanaú e Caucaia
através do Sistema Pacajús/Pacoti - Riaçhão - Gavião.
Esse sistema foi projetado na década de 70 do século XX com o
objetivo de garantir o abastecimento de água tratada para Fortaleza e parte de
sua Região Metropolitana. O projeto fora estruturado para funcionar como um
único reservatório, através de interligação dos açudes Pacoti-Riaçhão-Gavião
por meio de bombeamento e construção de canais de ligação. (figura 27)
Posteriormente, em 1994, o sistema foi ampliado através da integração do
açude Pacajús ao Sistema, e a construção do Canal do Trabalhador que trouxe
126
as águas da bacia do Jaguaribe para garantir o abastecimento de água para a
RMF.
Tabela 15: Situação atual dos mananciais que abastecem Fortaleza
VOL. ARMAZENADO
AÇUDE
COTA-
SANGRIA
CAPACIDADEm³
COTA
ATUAL
M³/situação %
Acarape do Meio 130,02 31.500.000 120,38 10.603.195 33,66
Gavião 36,00 32.900.000 35,50 29.520.000 89,73
Pacajus 38,00 240.000.000 34,35 127.082.456 52,95
Pacoti 45,00 380.000.000 36,57 97.868.392 25,75
Riachão 45.00 46.950.000 36,57 13.649.099 29,09
Aracoiaba 95,00 170.700.000 93,11 142.232.832 83,32
TOTAL 902.050.000 - 420.955.974 46,7
Fonte: Programa de Gerenciamento de águas territoriais (COGERH) situação em 28/03/2006.
Figura 27: Canal de ligação do Riaçhão ao açude Gavião.
O açude Gavião é originado a partir do barramento do rio Cocó. Trata-
se do último açude do sistema Pacoti-Riachão-Gavião e o que possui menor
capacidade de armazenamento. Porém no referido reservatório é captada a
água bruta que é tratada na Estação de Tratamento do Gavião (ETA-Gavião).
127
A partir desse ponto, o rio é perenizado pelos efluentes oriundos da Estação de
Tratamento, sangradouro e abertura de comportas.
Segundo a COGERH (2004:26),
“O açude gavião constitui-se como um reservatório estratégico para
o abastecimento de água bruta para a RMF, (SAABRMF) por
fornecer água bruta à ETA-Gavião e ocasionalmente ao Distrito
Industrial de Maracanaú. Uma característica marcante desse
reservatório é que o volume armazenado varia dentro de uma faixa
muito estreita durante o ano em razão de ter que abastecer à ETA-
Gavião, operada pela CAGECE por gravidade.”
Contudo, devido ao aumento da demanda por água na RMF, a
capacidade de tratamento da ETA-Gavião com 5,4 m³ por segundo (m³/s)
mostrava-se insuficiente para atender a demanda, e por isso mesmo desde
2000 estão sendo realizadas reformas e obras de ampliação com intuito de
aumentar a sua capacidade de vazão
6
. Em 2001 a ETA-Gavião teve sua vazão
ampliada para 6,2 m³/s (Diário do Nordeste, 2000). Em janeiro de 2006
novamente sua vazão ampliada para 7m³/s, sendo que ainda estão previstas
obras de ampliação até que seja atingida a vazão de 8,3m³/s (GACEGE, 2005).
Ante o exposto, fica evidente a importância da bacia do Cocó,
mormente face ao processo de uso e ocupação do solo, e caráter estratégico já
que contribui decisivamente para o abastecimento de água tratada da maior
parte da população da RMF.
6.2.2. Urbano e Industrial
A principal característica de uma ocupação urbana é o intenso uso do
solo, expresso principalmente pelas atividades comerciais e edificação de
residências isoladas ou agrupadas em condomínios horizontais e/ou verticais.
Segundo Araújo (2005) com o processo de urbanização os espaços
permeáveis, incluindo aí as áreas cobertas por vegetações e bosques são
6
Em 1995 o custo da ampliação da ETA-Gavião para uma vazão de água tratada de 10m³/s estava orçado
em R$ 34 milhões, fato que levou o Governo do Estado a propor a privatização da ETA, sob a
justificativa de indisponibilidade de recursos e que uma empresa privada poderia tornar a ETA uma das
mais modernas do país. Porém à época o Sindicato dos Trabalhadores de água, esgoto e meio ambiente do
Ceará (SINDÁGUA) fez uma campanha contrária, mostrando a possibilidade de ampliação da ETA por
etapas sem contudo prejudicar a oferta à população.
128
convertidos em usos que muitas vezes aumentam as áreas impermeabilizadas
dos solos, o que resulta no aumento do volume escoado superficialmente
(runoff) e da carga de poluentes. A suavização topográfica (cortes e aterros)
também contribui para o aumento do escoamento e velocidade das águas
pluviais. Ainda segundo autor, esse aumento no runoff pode variar de duas a
dezesseis vezes em relação ao volume que era escoado antes do processo de
urbanização. Assim sendo, o regime hidrológico é alterado significativamente
em áreas que apresentam um índice de urbanização elevado.
Com base em Schuueler (1987) e Leopold (1968), Araújo (op cit)
sintetizou as principais mudanças ocasionadas na hidrologia dos cursos d`água
em função do aumento da impermeabilização resultante da urbanização. Essas
mudanças podem ser verificadas na bacia do Cocó e estão relacionadas a:
¾ Elevação do pico de descargas se comparado aos níveis existentes
antes do desenvolvimento (Leopold, 1968);
¾ Aumento significativo no volume do escoamento superficial (runoff)
urbano produzido em cada tempestade, se comparado à situação pré-
urbanização;
¾ Redução do tempo necessário para que o escoamento superficial
alcance o curso d`água (Leopold, 1968), principalmente se tiverem sido
realizadas obras de melhoria na rede de drenagem;
¾ Aumento da magnitude e freqüência dos alagamentos;
¾ Redução no fluxo dos cursos d`água, durante os períodos de estio,
devido principalmente à redução da infiltração na bacia hidrográfica; e
¾ Maior velocidade do escoamento superficial durante as tempestades,
devido à combinação dos efeitos acima descritos.
A ocupação urbana da bacia é muito forte. Conforme exposto no
Gerenciamento das Bacias Metropolitanas, a bacia do rio Cocó é a que
apresenta o maior índice de urbanização dentro do conjunto das bacias
metropolitanas, tanto que dos sete municípios que são banhados pelo rio
principal e seus tributários, apenas Maranguape e Aquiraz não têm seus
núcleos urbanos drenados total ou parcialmente pela bacia do rio Cocó.
129
Por estar situado no sopé da Serra da Aratanha (onde se encontram as
nascentes do Cocó) o município de Pacatuba tem toda a malha urbana
drenada pela bacia. A concentração urbana do município está disposta de
forma paralela à Serra, e acompanha o traçado da Rodovia Senador Carlos
Jereissate (CE-060), não ultrapassando 1km à margem direita da rodovia
(sentido leste). Já na margem contrária (sentido oeste), a expansão urbana
está limitada pelas vertentes íngremes e de difícil acesso da Serra da Aratanha
(figura 28), que não ultrapassa 2km de largura em relação à rodovia.
Figura 28: Vista parcial da área urbana de Pacatuba
A tipologia das ocupações segue um padrão horizontalizado estando
concentradas a esse pequeno núcleo. Itaitinga não foge ao padrão de
ocupação existente em Pacatuba, porém a ocupação se dá de forma não
linear, com uma mancha urbana bem definida. O município de Eusébio
apresenta pouca expressão urbana. A ocupação é espaçada com
predominância do padrão horizontalizado. A grande maioria das ocupações se
dão através de sítios dispersos ao longo do perímetro municipal. Os principais
bairros como a Mangabeira, são drenados por outra bacia hidrográfica (do Rio
Pacoti).
130
Já em Maracanaú os problemas são agudizados, em função
principalmente da concentrada ocupação urbana e atividades do distrito
industrial. Ao receber as águas do riacho Timbó (figura 29) já nas proximidades
de Fortaleza, agravam-se os problemas provenientes da poluição dos recursos
hídricos. Isso se dá especialmente porque o referido riacho atravessa boa parte
da sede de Maracanaú e Distrito Industrial, coletando grande quantidade de
esgotos clandestinos de origem residencial e industrial.
Figura 29: Riacho Timbó nas proximidades da confluência com o Cocó, notar na vegetação a
velocidade do escoamento.
Em Fortaleza, os problemas são acentuados, já que a referida bacia
drena aproximadamente 70% do território municipal. É justamente a partir
desse trecho que ocorrem os maiores problemas de poluição e degradação
ambiental, como aterros e assoreamento de corpos hídricos, supressão da
cobertura vegetal, elevados índices de poluição e substituição das áreas
anteriormente permeáveis por superfícies impermeabilizadas, que acarreta o
aumento da quantidade e velocidade do escoamento superficial.
A ocupação urbano descontrolada avança sobre todos os sistemas
ambientais da planície litorânea. A figura 30 mostra o avanço da ocupação
desordenada sobre o campo de dunas no Caça e Pesca.
131
Figura 30: Avanço da ocupação urbana sobre o campo de dunas
Ocupações irregulares em áreas de APP, nas planícies de inundação
das lagoas, tributários e do rio principal são freqüentes. Essas ocupações além
de prejudicar a dinâmica hidrológica e ambiental da bacia, constituem sérios
problemas sócio-ambientais, com o estabelecimento de as áreas de riscos às
inundações e enchentes (figura 31).
Figura 31: Área de inundação ocupada e residências expostas a riscos.
132
A ocupação ilegal das áreas de APP pela população de baixa renda é
uma estratégia de sobrevivência dessas comunidades à urbanização predatória
que impõe uma dinâmica urbana cada vez mais excludente e segregadora.
Segundo Souza (1978) a ocupação dessas áreas segue características gerais
de habitação e disponibilidade de serviços urbanos, resultantes da existência
de uma estrutura e organização social existentes no contexto urbano. Ainda
segundo Souza (op cit), em Fortaleza “a concentração de padrões residenciais,
apresenta padrões regulares de zoneamento, diferenciados em função dos
níveis de renda da população”.
Na realidade a ocupação das áreas de várzeas, planícies de
inundação, áreas de acumulação sazonal, encostas e outras, via de regra, são
negligenciadas pelo poder público. A esse respeito Maricato (1996) diz:
“Destaca-se que a ocupação ilegal de terras é informalmente
consentida (ou por vezes até incentivada) pelo Estado que entretanto
não admite o direito formal de acesso à terra e à cidade... A
ocupação é consentida mesmo em áreas de proteção ambiental,
mas raramente em áreas valorizadas pelo mercado imobiliário
calcado em relações capitalistas”.
Esse tipo de ocupação predomina fortemente na margem esquerda do
rio desde o bairro do Jangurussu, passando pelo Castelão e Boa Vista, até os
limites do Parque Ecológico do Cocó. No entanto a ocupação urbano-
residencial de baixa renda é interrompida nas proximidades da BR-116 onde
encontra-se uma subestação da CHESF (Companhia Hidrelétrica do São
Francisco) e dois grandes empreendimentos comercias, uma revenda de
carros da Renault (Jangada Veículos) e supermercado (Makro Comercial
Atacadista).
Esses empreendimentos impermeabilizaram uma extensa área que
originalmente formava uma grande planície de inundação, que corresponde ao
leito maior do rio Cocó e riacho do Açude Uirapuru. Como conseqüência dessa
ocupação há forte interferência na dinâmica hidrológica, tornando os vales
fluviais insuficientes para escoar toda a água precipitada, o que ocasiona fortes
alagamentos na região que tornam a área intransitável quando do período
chuvoso (figura 32).
133
Figura 32: Ocupação da planície de inundação do riacho sangradouro do açude Uirapuru, na av.
Alberto Craveiro próximo à CHESF e a confluência do com o rio Cocó.
O aterro do Jangurussu, mesmo desativado, constitui-se como um
problema de grande envergadura. O referido aterro ocupa a planície de
inundação do rio Cocó, logo após a ponte sobre a Avenida Costa e Silva
(Perimetral), situado a cerca de cem metros da margem esquerda do rio Cocó
(figura 33). O aterro foi instalado no ano de 1978, seu projeto inicial previa o
funcionamento por um período de três anos. Nesse espaço de tempo deveria
ser selecionada uma nova área para a instalação do lixão, porém o problema
foi se prolongando e o aterro sanitário funcionou por vinte anos, tendo sua
desativação somente em julho 1988 (Opovo, 2002).
134
Figura 33: Planície fluvial do rio Cocó ocupada com o aterro do Jangurussu.
Durante esses 20 anos de funcionamento o aterro do Jangurussu era o
único lixão existente para atender toda a cidade de Fortaleza. Quando da sua
desativação, recebia diariamente 3.300 toneladas de lixo. Segundo Silva
(2003), ao final dos vintes anos de deposição, o lixão acumulou uma área de
21,6 hectares chegando a ter em alguns pontos mais de 35 metros de altura
em relação à base, formando um relevo em forma de chapada. Dessa
formação surgiu o nome popular dado ao aterro sanitário “rampa do
Jangurussu”.
Atualmente desativado, o aterro encontra-se coberto por uma
vegetação rasteira, e nas suas imediações encontram-se ocupações
irregulares de baixa de renda dos antigos catadores, reassentamentos de
famílias residentes em áreas de riscos, cooperativa de catadores do
Jangurussu e uma usina de reciclagem de lixo.
O processo de urbanização existente na RMF é tão forte que
praticamente já não existe separação entre alguns municípios da região, como
é o caso de Maracanaú, Maranguape, Aquiraz e Eusébio que passaram
praticamente a ser considerados bairros dormitórios. Neste sentido, o poder
público e mercado imobiliário atuaram fortemente na aceleração do processo
135
de cornubação com a instalação de conjuntos habitacionais na periferia de
Fortaleza e instalação de condomínios de alto padrão em Eusébio e Aquiraz.
De forma geral, assim como ocorreu em Fortaleza a expansão urbana
da bacia do Cocó se deu por meio da expansão das periferias, o que acarreta
um meio ambiente urbano altamente segregado e degradado, ocasionando
uma série de mudanças no jogo de relações estabelecido entre os
componentes geoambientais, comprometendo, sobremaneira, o equilíbrio
ambiental nos diferentes sistemas ambientais.
Assim como ocorre com a urbanização, a industrialização é vista como
um dos ícones mais expressivos de dominação da natureza e por conseguinte
desenvolvimento da técnica, que representa mais fortemente o suposto
processo de desenvolvimento que muitas vezes foi alcançado com elevados
custos ambientais. O processo de industrialização deu-se primeiramente nos
países desenvolvidos. Com o passar do tempo as indústrias pesadas, via de
regra mais poluentes, foram sendo transferidas para países “periféricos”
transferindo dessa forma boa parte dos problemas ambientais para o terceiro-
mundo.
Assim como ocorreu no Brasil, o processo de industrialização no
Ceará, mais especificamente na bacia do rio Cocó foi tardio, principalmente à
época do boom do crescimento econômico. O Milagre Econômico, assim
chamado, estava pautado numa busca incessante por crescimento, balizado
principalmente no crescimento da indústria. É nesse contexto que surge o
Distrito Industrial de Maracanaú situado em grande parte da bacia em estudo.
Com efeito, indústrias foram instaladas sem que fossem observadas as
limitações impostas pelo ambiente natural, bem como as conseqüências
negativas dessa industrialização tardia e predatória geradora de uma série de
problemas ambientais.
A ocupação industrial tem impactos diretos e indiretos no meio
ambiente e para a sociedade. Como impactos diretos pode-se citar:
desmatamentos; aplainamento de terrenos; impermeabilização do solo;
aumento do escoamento superficial e da ocupação da área de entorno;
poluição atmosférica, hídrica, sonora, visual e dos solos. Já no que se refere
aos impactos indiretos tem-se: a redução da qualidade de vida; aumento no
fluxo de veículos; especulação imobiliária; alteração no modo de vida das
136
comunidades tradicionais; enfim, uma série de impactos de vizinhança que
muitas vezes não justificam o empreendimento.
Além de tudo, a industrialização é um forte processo indutor de
mudanças no padrão de urbanização em áreas urbanas consolidadas ou em
áreas pré-urbanizadas. Neste contexto a rede de drenagem em análise sofre
uma série de influências ocasionadas desde a implantação do Distrito Industrial
de Maracanaú.
O Distrito Industrial (D.I) de Maracanaú foi pensado pelo governo
estadual em 1964 no primeiro governo Virgílio Távora (1963-1966). Porém sua
implantação se deu somente em março de 1966, com a instalação da Ceará
Laminado e Compensados (CELACO). No ano de 1967 o D.I teve amento
significativo de oferta energética com o fornecimento da energia proveniente da
CHESF, o que incrementou a ocupação da área e consequentemente a
instalação de novas indústrias.
Atualmente quarenta anos após sua instalação o distrito industrial
emprega cerca de 16,5 mil pessoas em 100 empresas instaladas e extrapola
os limites da bacia, ocupando uma área aproximada de 1.100 hectares,
correspondendo a mais de 12% do território de Maracanaú. O DI arrecada
cerca a 10% do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
do Estado do Ceará (SFIEC, 2006). Ainda segundo a SFIEC, cerca de 50% dos
16,5 mil trabalhadores formais do D.I residem nos conjuntos habitacionais e
áreas de entorno do pólo industrial, ficando evidente desta maneira o forte
impacto demográfico e nas formas de uso que o D.I impulsionou na região.
Ao lado do Distrito Industrial foi instalada a Central de Abastecimento
do Ceará S/A (CEASA/CE). A referida central atacadista centraliza a
distribuição dos produtos agrícolas provenientes do interior do Ceará e outras
Unidades da Federação. Como conseqüência houve um maior adensamento
da área onde foi instalada, o que pode ser verificando devido a existência de
inúmeros frigoríficos e currais nas proximidades da CE-060, o que contribui
para a deteriorização da qualidade ambiental.
Em Fortaleza, verifica-se a existências de indústrias, sobretudo nas
proximidades da avenida Costa e Silva. São indústrias de produtos avícolas e
rações. Devido à existência do lixão do Jangurussu, foi instalada uma usina de
reciclagem de lixo. A usina originalmente era abastecida pelo lixo coletado
137
pelos cerca de 600 catadores que atuavam na Rampa. Dos 600 catadores
existentes, no ano de 2002 a usina de reciclagem empregava cerca de 240
funcionários (O povo, 2002). Atualmente existe uma cooperativa de catadores
com 178 catadores cooperados (PMF, 2006).
Como dito anteriormente, os processos de urbanização e
industrialização encontram-se fortemente articulados, podendo-se afirmar que
esses dois formam o maior ícone do sentimento desenvolvimentista. Conforme
enfatiza Gonçalves (2004) “afinal ser desenvolvido é ser urbano, é ser
industrializado, enfim, é ser tudo aquilo que nos afaste da natureza e que nos
coloque diante de constructos humanos, como a cidade, como a indústria”. Por
esta razão para fins de representação cartográfica a presente pesquisa
agrupou em uma única classe de mapeamento a ocupação urbana e industrial,
com destaque para os núcleos urbanos e para o Distrito Industrial de
Maracanaú.
6.2.3. Turismo
O turismo se caracteriza principalmente pelo constante movimento de
pessoas, mobilidade essa que é impulsionada por uma série de fatores dentre
os quais os de maior significância são as questões sociais, culturais, religiosas
e econômicas. Esses viajantes se deslocam a variados lugares em busca de
algo que lhe despertam interesse. Essa busca é motivada principalmente pela
tendência que a sociedade urbano-industrial tem de concentrar-se em grandes
núcleos urbanos. Nesta perspectiva o despertar turístico envolve uma busca
pelo novo, sobretudo para propiciar uma fuga do cotidiano. Conforme
estimativas da Organização Mundial do Turismo (OMT) o turismo é uma das
atividades econômicas lícitas que mais gera divisas em todo o mundo,
movimentando cerca de U$ 3,5 trilhões de dólares ao ano, perdendo somente
para a indústria armamentista e a petrolífera.
Segundo Coriolano (2001), o turismo é incentivado basicamente por
dois fatores que se referem: a possibilidade e a vontade. A vontade é motivada
por diferentes fatores, sendo os mais marcantes à descoberta do novo, desejo
de aventura, busca do desconhecido, influência da mídia e outros. Já a
138
possibilidade refere-se às condições que determinada pessoa tem de exercer a
atividade, principalmente refere-se à disponibilidade de recursos financeiros,
tempo e meios de transporte que são os principais limitantes no fazer turístico.
O turismo vem assumindo papel de destaque enquanto atividade
econômica na bacia em estudo, notadamente o turismo litorâneo impulsionado
por uma forte campanha de mídia promovida pelo poder público que vende a
imagem de paraíso tropical que a cada ano atrai um número maior de visitantes
e empresários interessados em investir capital nas cidades litorâneas do
Ceará, com a perspectiva de sol e praia. Devido a essa intensa campanha de
marketing os investimentos turísticos chegam fortemente à região, na grande
maioria das vezes ignorando os impactos socioambientais derivados dessa
atividade. Os maiores investidores são grupos de capital local que investem na
especulação imobiliária e grupos hoteleiros estrangeiros que por vezes
privatizam os espaços litorâneos com a construção de hotéis e resorts. Esse
movimento já é observado em Sabiaguaba dado o interesse de um grupo
português de construir um resort na área.
O sol que anteriormente era visto como o maior entrave ao
desenvolvimento econômico da região tornou-se o principal provedor de
oportunidades de desenvolvimento com a valorização e exploração turística
dos espaços litorâneos, através da difusão da imagem de paraíso tropical com
praias ensolaradas o ano inteiro.
O principal local de atração turística na região é a Praia do Futuro,
embora conte com um número reduzido de hotéis e pousadas a área atrai
diariamente um número significativo de banhistas. O nível de ocupação urbana
é baixo principalmente devido aos elevados índices de salinidade (maresia)
existentes na região que compromete as construções e dificulta sobremaneira
a ocupação da área. Porém, a faixa de praia é totalmente tomada por barracas
de praia que impedem o livre acesso à praia. Trata-se da privatização dos
espaços públicos e por isso mesmo está sendo movida uma ação do ministério
público federal para a retirada das barracas desse espaço.
A praia da Sabiaguaba tem uma ocupação menos significativa,
sobretudo devido à dificuldade de acesso e por ter o litoral constituído em sua
grande maioria por beach rocks. Por isso, esse ambiente litorâneo apresenta
elevado grau de preservação com uma faixa de praia sem ocupações e um
139
campo de dunas com mais de 400 hectares, mesmo com a grilagem de terras e
os problemas decorrentes da mineração existente há mais de 20 anos na área.
O turismo tende a ser fortemente impulsionado com a criação do Parque
Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba e da Área de Proteção Ambiental
que se bem administrados vão conferir o status de “natureza intocada”, o que
valorizará, ainda mais a imagem de paraíso tropical e consequentemente, o
aumento dos problemas derivados da especulação imobiliária.
O turismo serrano é desenvolvido na Serra da Aratanha, sendo bem
menos significativo que o turismo de praia. O turismo serrano se desenvolve
principalmente através da instalação de segundas residências, sítios e no
Parque Aquático das Andréas todos situados em Pacatuba na Serra da
Aratanha. Outro tipo de turismo é o ecológico, esse motivado pela busca de
uma natureza ”intocada” e ocorre principalmente nas áreas de camping e
trilhas ecológicas existentes na Serra da Aratanha. A ocupação dos espaços
por essa atividade não é tão explorada como ocorre no maciço de Baturité,
porém a procura é intensa, principalmente no balneário das Andréas (figura
34).
Figura 34: Vista do balneário das Andréas
140
A instituição da APA da Serra da Aratanha impulsionou a atividade
turística na região, principalmente para a instalação de segundas residências e
eco-turismo. Nos fins de semana vários são os grupos que procuram as trilhas
da Serra para acampar ou fazer caminhadas e explorar as cachoeiras
existentes. Embora pouco impactante, esse tipo de turismo deve ser fiscalizado
já que muitos dos visitantes não recolhem adequadamente o lixo produzido e
por vezes retiram espécies da fauna e da flora da região.
O turismo é uma atividade econômica que pode alavancar o
crescimento econômico da região, porém se mal implementado pode causar
danos ambientais irreversíveis e afetar, sobremaneira, os costumes e cultura
da população local, visto que o desenvolvimento desordenado dessa atividade
gera uma série de impactos, principalmente onde os sistemas ambientais
apresentam maiores vulnerabilidades. Devido à alta vulnerabilidade dos
ambientes litorâneos a atividade turística deve ser praticada seguindo normas
de ordenamento territorial que levem em consideração a capacidade de
suporte de cada sistema.
Esses problemas, via de regra, ocorrem em áreas onde se desenvolve
o turismo de massa, já que esse é o tipo de turismo mais praticado na região.
Esse turismo deve ser rejeitado e substituído por um turismo racional, que além
dos aspectos cênicos privilegie uma perspectiva histórico-cultural pautado nos
preceitos da sustentabilidade, onde a cultura local seja sobremaneira
privilegiada.
Nesse contexto a Associação Amigos da Sabiaguaba (AMIS) e o
Movimento Salve Sabiaguaba assumem papel de suma importância com ações
visando preservar o modo de vida e os costumes da população local.
Se bem implementado, respeitando a capacidade de suporte dos
ambientes e privilegiando os aspectos culturais, o turismo é um importante
mecanismo de desenvolvimento regional. Para tanto, dever ser praticado
conforme os preceitos de sustentabilidade, evitando o processo de perda da
identidade cultural das comunidades tradicionais respeitando os valores,
crenças, costumes e modo de vida da população que ali vive. Só assim pode-
se assegurar a comunidade local o efetivo direito à moradia em seus locais de
origem e maiores oportunidades de emprego e renda.
141
6.2.4. Mineração
A mineração é uma atividade que se desenvolve fortemente ao longo
de toda a bacia. Isso decorre devido à complexidade ambiental existente na
área e sua conseqüente diversidade de recursos minerais. Há que se verificar
que boa parte dessa atividade ocorre à margem da Lei, já que para sua
operacionalização é preciso autorização do órgão ambiental através do devido
licenciamento ambiental. Por sua vez, esse só pode ser emitido se precedido
por Estudo de Impacto Ambiental (EIA) com seu respectivo Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA), além do Plano de Recuperação de Área Degradada
(PRADE).
Existem várias lavras de mineração em atividade ao longo da bacia,
embora sejam diferentes tipos de produtos extraídos, a maior parte são os da
classe II, ou seja, são as substâncias minerais de uso imediato na construção
civil. Os principais recursos minerais explorados na bacia são: Granito (brita),
Areia grossa, areia fina (vermelha), areia branca (do campo de dunas). Além
desses recursos minerais de uso imediato na construção civil, também são
explorados os aqüíferos subterrâneos cujo destino final é o abastecimento
humano pelas indústrias engarrafadoras de água mineral.
A mineração teve papel importante no processo de uso e ocupação da
bacia. Os primeiros registros dessa atividade datam da época da ocupação
holandesa no território cearense à procura da prata. Só com a exploração do
granito é que a atividade teve importância econômica. Em Itaitinga como o
próprio nome diz (em Tupi quer dizer rio das pedras) a grande ocorrência de
relevos cristalinos favoreceu a instalação de pedreiras para exploração de
britas destinadas à construção civil. Além de Itaitinga, as pedreiras foram
instaladas em alguns setores mais rebaixados da Serra da Aratanha e relevos
cristalinos de baixa topografia existentes em Pacatuba, fato que pode ser
facilmente verificado nas cicatrizes expostas ao longo da CE-060 (figura 35).
142
Figura 35: Atividade e cicatrizes de mineração às margens da CE-060.
Os sedimentos arenosos grosseiros que ocorrem no fundo dos vales
fluviais e ao longo do leito maior dos rios de maior porte são comumente
chamados de areia grossa. Esse material é amplamente empregado na
construção civil, preferencialmente sendo usado na mistura que origina o
concreto. Sua exploração via de regra se dá de forma clandestina na planície
fluvial do rio Cocó e riachos dos Macacos e Timbó. Esse tipo de mineração
ocasiona uma série de problemas ambientais, por interferir diretamente na
hidrodinâmica fluvial.
A areia vermelha (areia fina) é extraída em áreas dos tabuleiros pré-
litorâneos e já foi amplamente explorada em toda a bacia. Atualmente, somente
uma lavra possui licença de operação localizada no bairro Cidade 2000 em
Fortaleza. Situada sobre um campo de dunas fortemente descaracterizado pela
mineração e ocupação urbana, a referida jazida se encontra praticamente
exaurida, faltando apenas executar efetiva fiscalização da extração e da
implementação do PRAD. Até metade de 2005, existiam três lavras com
autorização de funcionamento no campo de dunas da Sabiaguaba
7
, porém em
junho do referido ano a atividade fora embargada por estar minerando
irregularmente sobre o campo de dunas recoberto por vegetação, em
7
Hoje a área é um Parque Natural Municipal (ver mais no cap. 3)
143
desacordo com a Licença de Operação (LO) e por se constituir infração penal
enquadrada na Lei de Ccrimes Ambientais (Lei 9.605/98).
A retirada desse material assume significativa importância negativa
porque exibem diversas cicatrizes deixadas ao longo da bacia pela mineração
clandestina. Destaque se dá para a área situada entre o Conjunto Palmeiras e
via de ligação entre a BR-116 e CE-060 (figura 36), no local acompanhando
estrada vicinal, verifica-se nitidamente a existência de cicatrizes de mineração.
A figura 37 mostra as cicatrizes deixadas em área de mineração clandestina.
Figura 36: Imagem de satélite localizando área de extração mineral clandestina.
Fonte: SPOT, RGB-5m2003 e trabalho de campo.
144
Figura 37: Cicatrizes de mineração em área de topografia plana nos tabuleiros, verificar os
desníveis na antiga lavra.
A mineração clandestino-descontrolada existente nessa área ocasiona
uma série de danos ambientais, com destaque para as rupturas topográficas
derivadas. A figura 38 mostra as péssimas condições de acesso à lavra
clandestina situada nos tabuleiros pré-litorâneos nas proximidades do conjunto
Palmeiras. Já na figura 39 mostra uma área de mineração sobre o campo de
dunas da Sabiaguaba e os impactos derivados dessa atividade, com retirada
da vegetação fixadora e cicatrizes que em alguns casos chegam a formar
lagos, como o exposto na referida fotografia.
145
Figura 38: Péssimas condições da estrada de acesso às lavras clandestinas. Notar ao fundo a
adutora e estação elevatória do Ancuri.
Figura 39: Impactos derivados da mineração sobre o campo de dunas da Sabiaguaba.
Areia branca é o sedimento quartzoso que se encontra disperso por
toda a planície litorânea. Especificamente é o material básico que constitui o
campo de dunas móveis e a faixa praial ambas áreas de APP conforme
resolução 303/2000 do CONAMA. Seu uso mais comum é para construção
146
civil, embora também seja utilizada na indústria metalúrgica para a fabricação
de moldes industriais. Atualmente não existem lavras autorizadas para
extração, porém sua retirada ocorria em áreas que hoje compõem o Parque
das Dunas de Sabiaguaba (figura 40). Na realidade a retirada de areia
(desmonte de dunas) de um ambiente jovem em processo de formação,
portanto, extremamente frágil e de grande importância cênica e ambiental para
utilizar em aterros para a construção civil é algo inconcebível sob o ponto de
vista ambiental, cultural, socioeconômico e ético.
Figura 40: Desmonte do campo de dunas por mineração.
Fonte: SEMAM, 2006.
O potencial aqüífero existente nos tabuleiros pré-litorâneos é explorado
por uma série de industrias engarrafadoras de água mineral. As principais são
a Naturágua e Indaiá, ambas situadas na porção leste da bacia, entre as sub-
bacias do vale do rio Cocó (sub-bacia b2) e do rio Coaçu, próximas à Lagoa da
Precabura (figura 41) e na Sabiaguaba. Também verificam-se duas industrias
engarrafadoras (Água Mineral Rica e Iracema) no bairro do Mundubim (extremo
oeste da bacia) especificamente entre as avenidas Godofredo Maciel e
Presidente Costa e Silva (perimetral). Nessas áreas o cuidado com os aspectos
147
de sanitaridade devem ser redobrados devido ao elevado grau de ocupação
urbana da região.
Figura 41: Engarrafadora de água mineral em área de tabuleiros (Fortaleza-Ce). Notar ao fundo o
remanescente de mata de tabuleiro do Curió.
Embora seja uma atividade de médio impacto ambiental, a super
exploração dos aqüíferos pode ocasionar um rebaixamento do lençol freático, e
o conseqüente ressecamento de olhos d`água. Outro aspecto a ser
considerado é o elevado risco de contaminação dos aqüíferos em detrimento
do grande índice de ocupação urbano-industrial das áreas de tabuleiros e, por
conseguinte, a deposição de resíduos que podem contaminar o subsolo e, por
percolação, atingir as reservas hídricas.
A tabela abaixo (16) sintetiza os principais recursos minerais
explorados na área, correlacionando ao seu ambiente de ocorrência,
destinação e produto final.
148
Tabela 16: Recurso mineral, ocorrência e destino final.
Material
minerado
Ambiente de Ocorrência Destinação Produto final
Granito
Pequenos maciços
residuauis e terrenos
cristalinos
Construção Civil
Fundação de
edificações e brita
para asfalto e
concreto.
Areia Grossa
Planície Fluvial do rio
Cocó e riacho dos
Macacos e Timbó
Construção Civil Concreto
Areia Vermelha
(fina)
Tabuleiros e campo de
dunas
Construção civil
e indústria
Alvenaria e moldes
para indústria
metalúrgica
Areia branca
(areia de duna)
Campo de dunas e faixa
de praia
Construção civil
e indústria
Aterros, alvenaria e
moldes para
indústria
metalúrgica
Água
Tabuleiros e Campo de
dunas
Indústria de
engarrafamento
Consumo humano
6.2.5. Agroecossistemas
São nos agroecossistemas onde ocorrem a maioria dos ciclos minerais,
processos bioecológicos, e onde coalescem diferentes formas de uso e
ocupação da terra. Apesar de diferentes entre si, essas formas de uso
compartilham semelhanças, notadamente por serem desenvolvidos em
pequenas propriedades rurais e empregarem um sistema tecnológico bastante
rudimentar cujo destino principal é a subsistência com comercialização do
excedente.
Estão incluídas nessa forma de uso e ocupação da terra as seguintes
atividades: agricultura de subsistência de ciclo curto; cultivo de hortaliças, agro-
extrativismo, pecuária extensiva e atividades de mineração clandestina. O uso
descontrolado e indiscriminado desses ambientes ocasiona a perda de
produtividade e descaracterização dos sistemas ambientais com a introdução
de espécies invasoras, elevação da degradação ambiental, além de contribuir
para um baixo nível de desenvolvimento humano.
As culturas de ciclo curto, como milho, feijão e mandioca (figura 42)
ocorrem indistintamente em toda a bacia. Face às melhores disponibilidades
hídricas e de solos, encontram-se mais fortemente concentradas nas planícies
fluviais. Já as atividades pastoris (gado e caprinos) encontram-se dispersas
pela área das Depressões Sertanejas, e em menor escala nos tabuleiros pré-
149
litorâneos com destaque nas proximidades da Avenida Perimetral periferia da
cidade de Fortaleza.
Figura 42: Cultivo em área dos Tabuleiros.
Embora para fins de cobrança de IPTU (Imposto Predial e Territorial
Urbano) o território de Fortaleza seja todo urbano, o que se verifica é a
existência de áreas com uso predominantemente rural. Como exemplo pode-se
citar as áreas dispostas entre os conjuntos José Walter e Palmeiras, e entre o
campo de dunas e tabuleiros no bairro da Sabiaguaba, onde o cultivo de
hortaliças e atividades agro-silvo-pastoris são fortemente empregadas.
Outra atividade que se desenvolve às margens da legalidade é a
transformação de produtos florestais em carvão nas carvoarias clandestinas
existentes em Fortaleza (figura 43). Estão localizadas basicamente nos
agroecossistemas situados no polígono entre a via que liga a BR-116 à CE-
060, CHESF e o conjunto Palmeiras. A matéria prima utilizada é derivada das
áreas circunjascentes, desmatamentos promovidos pela construção civil e de
restos de troncos e galhos recolhidos ao longo do perímetro urbano. Conforme
pode ser verificado na figura 44 algumas toras são derivadas de indivíduos de
grande porte e diâmetro, ou seja, exemplares raros no contexto da bacia.
150
Infelizmente, mesmo com as entrevistas realizadas junto aos carvoeiros não foi
possível precisar a origem desse material.
Figura 43: Preparação dos produtos florestais para serem transformados em carvão.
Figura 44: Poluição atmosférica causada pela transformação do carvão vegetal. Notar a espessura
das toras utilizadas no processo.
151
É justamente nos agroecossistemas que se desenvolvem a maioria dos
processos produtivos e onde se deu os primeiros passos no processo de uso
ocupação e exploração do solo. Conforme assinala Ab´Sáber (1994) os
agroecossistemas formam o grande território de predação progressiva dos
componente da natureza, como verificado nas famosas regiões pioneiras de
São Paulo e norte do Paraná. Especificamente na unidade hidrográfica em
foco, os agroecossistemas constituem a forma de ocupação que primeiramente
se estabelece e abre espaço para a ocupação urbano-industrial.
6.3. Ações da Sociedade Civil organizada para a Proteção
Ambiental
Ante o pensamento reinante que a relação sociedade e natureza deve
pautar-se na dominação da mesma, Gonçalves (2004) traz a reflexão sobre a
inviabilidade de pensarmos a natureza como algo a ser dominado, moldado as
necessidades humanas. Nesse sentido o conceito de desenvolvimento emerge
como sinônimo de dominação da natureza, um modelo que devemos adotar
para chegar à condição de bem estar social.
“Desenvolvimento é o nome síntese da idéia de dominação da
natureza. Afinal ser desenvolvido é ser urbano, é ser industrializado,
enfim, é ser tudo aquilo que nos afaste da natureza e que nos
coloque diante de constructos humanos, como a cidade, como a
indústria.” GONÇALVES (2004).
Ainda segundo o autor, durante muito tempo houve uma forte crítica
por parte dos intelectuais e movimentos populares organizados ao
desenvolvimento. Todavia, essa se deu não ao processo de desenvolvimento
em si e seu modelo, mas sim à desigualdade desse desenvolvimento. Essas
críticas foram impulsionadas principalmente pela teoria do Desenvolvimento
Desigual e Combinado. Com o avanço dessas críticas, avança também esse
modelo de desenvolvimento, já que essas críticas pregavam que o progresso
era um direito de todos (universal). Assim sendo, a superação da pobreza e da
miséria só se daria através de mais desenvolvimento.
Os ambientalistas perceberam a insustentabilidade desse modelo de
desenvolvimento econômico, e começaram a questionar esse tipo de
152
“desenvolvimento” que não considerava os limites da natureza, considerando-a
como um obstáculo a ser superado. Ao imprimir essa visão os ambientalistas
passaram a ser fortemente criticados pelos setores da economia
desenvolvimentista como retrógrados. A esse respeito Gonçalves (2004) diz
“Por fazerem a crítica a essa idéia chave de desenvolvimento, os
ambientalistas, com freqüência se vêem acusados de querer voltar
ao passado, ao estado da natureza, enfim, de ser contra o progresso
e o... desenvolvimento. A idéia de progresso é de tal forma parte da
hegemonia cultural tecida a partir do Iluminismo, que mesmo aqueles
que se consideram os maiores críticos da vertente burguesa da
modernidade – isto é, do capitalismo -, se assumem como
progressistas , e é com base nesse fundamentos que criticam os
ambientalistas.”
A preocupação ambiental emerge no mundo moderno estritamente
relacionado à degradação dos recursos hídricos, impulsionada pelo período de
forte crescimento econômico e industrialização no pós-guerra já na década de
1960 (MOREIRA, 2004). Esse movimento se deu primeiramente nos países
centrais, sobretudo nas cidades européias, no Japão e nos EUA. No Brasil, o
processo de industrialização se deu de forma mais lenta, e consequentemente
o crescimento econômico acelerado foi mais tardio, e só em 1970 é que
começaram a surgir os primeiros movimentos que se preocupavam com a
manutenção e melhoria dos recursos hídricos e ambientais.
Assim como ocorrera no Brasil, a proteção dos ecossistemas naturais
na cidade de Fortaleza, só começa a tomar corpo na década de 70 do século
XX a partir de pressões de ambientalistas e da sociedade civil organizada. Foi
nesse contexto que começaram os movimentos de revitalização e proteção do
rio Cocó. Esses movimentos culminaram com o Decreto Municipal que instituiu
a Área de Proteção Ambiental do Rio Cocó, Parque Adhail Barreto e o Parque
Ecológico do Rio Cocó.
Sobre a ação dos movimentos ambientalistas Silva (2003) e
Nottingham (2006) destacam a ação da já extinta SOCEMA (Sociedade
Cearense de Proteção e Defesa do Meio Ambiente). Essa sociedade em
conjunto com outros movimentos ambientalistas, jornalistas, cientistas e
políticos conseguiram juntar esforços para evitar que a área hoje ocupada pelo
Parque Ecológico do Rio Cocó se tornasse a sede administrativa do BNB
(Banco do Nordeste do Brasil).
153
No Ano de 1977 o executivo tinha um projeto de desapropriação de 35
hectares como de utilidade pública, resultado de pressões populares
anteriores. Porém em 1977 o executivo municipal entrou em acordo com a
diretoria do BNB para que parte da área desapropriada fosse trocada com o
BNB, e em troca o banco urbanizaria a parte que coubera à prefeitura. Esse
projeto já previa uma redução da área desapropriada de 35 para 20 hectares e
que fosse destinado 12ha ao banco, enquanto a prefeitura ficaria com os outros
8 que seriam devidamente urbanizados pelo banco.
A SOCEMA ajuizou uma ação popular contra a negociata acusando a
PMF e o BNB de crime ecológico. De imediato o banco justificou que dos 12
hectares destinados seriam utilizados apenas 7, ficando 5 como áreas verdes.
A celeuma foi parar na Câmara municipal, a essa altura o projeto já contara
com o apoio dos parlamentares, sendo a prefeitura acusada de fazer papel de
corretora de imóveis. No mês de março de 1978 os debates a cerca do projeto
iam se acirrando e as entidades empresariais e bancárias lançam um memorial
apoiando o projeto com a justificativa de que o banco iria urbanizar uma área
de solução impraticável (Silva 2003 e Nottingham, 2006). A SOCEMA
organizou no dia 02 de abril um piquenique ecológico no Cocó. O evento previa
a apresentação de grupos artísticos e culturais, com o objetivo de ser um
espaço de lazer e entretenimento para os fortalezenses, além de despertar o
interesse ambiental para a área. O evento foi um sucesso. Cerca de 1.500
pessoas compareceram a essa manifestação pacífica contra a construção da
sede do banco no referido local. Na metade de abril o banco anuncia a
desistência do projeto, com a justificativa de que os prazos estavam
inviabilizando a obra.
Sobre a justificativa da direção do BNB de não mais construir sua sede
administrativa na área devido ao prolongamento dos prazos Nottingham (op
cit.) diz que foi uma estratégia utilizada pelo banco para abandonar o
empreendimento e não atribuir o sucesso da empreitada à SOCEMA e
articulação da sociedade civil, já que as estratégias para barrar o processo
tiveram início em agosto de 1977 e se estenderam até abril de 1978.
Entre a mobilização contra a instalação da sede do BNB e a criação da
APA do Vale do Rio Cocó, apenas 10 hectares haviam sido desapropriados e
4,3 hectares haviam sido urbanizados para a construção do Parque Adhail
154
Barreto. Ao tempo, várias foram as intervenções promovidas pelo capital
imobiliário na área do vale do Cocó. Como mais marcante têm-se em 1982 a
instalação do shopping Iguatemi, empreendimento implantado em plena área
de manguezal. Esse empreendimento não afetou somente o sítio de instalação,
mas também induziu um intenso processo de ocupação de seu entorno e
expansão do comércio nas principais vias de acesso ao shopping (SILVA,
2000).
Com a abertura política e o acirramento da campanha eleitoral
municipal surge o movimento S.O.S Cocó. Diferentemente da SOCEMA esse
movimento aproveita o fim da repressão e abertura política para dar um tom
mais politizado aos movimentos de defesa do meio ambiente, para tanto
agrega diversas organizações governamentais, entidades de classe e
representantes de partidos políticos de esquerda. Foi nesse contexto que o
movimento S.O.S Cocó incluiu na pauta eleitoral as questões ambientais e a
preservação do rio Cocó, para tanto em 1985 promoveu um debate com os
candidatos a eleição municipal para tratar das questões ambientais, onde o os
problemas relativos ao Cocó assumem destaque.
Em 1º de setembro de 1985 o S.O.S Cocó reedita o piquenique
ecológico de 1978, como o primeiro essa ação também foi um sucesso.
Segundo Notthingam (2006) essa re-edição é diferente da primeira,
principalmente pelo tom mais politizado do movimento, aproveitando a abertura
política e o acirramento do debate eleitoral, além de contar com a participação
de todos os estratos sociais, desde a classe média aos ribeirinhos que
retiravam do rio seu sustento.
Os principais candidatos à prefeitura de Fortaleza estiveram presentes
e na oportunidade firmaram compromisso com causa. Em janeiro de 1986 a
então prefeita Maria Luiza honra o compromisso firmado na campanha e assina
o decreto nº 7.302 de 29 de janeiro de 1986 que declarou a Área de
Preservação Ambiental (APA) do rio Cocó.
Como discutido no capítulo referente às áreas legalmente protegidas a
referida APA foi um ato de ousadia e compromisso ambiental, e encerrou 8
anos de luta do movimento ambientalistas em prol da preservação do rio Cocó
e obviamente contrariou os interesses dos grupos empresariais, do Governo do
Estado e do Legislativo estadual e municipal. Notthingam (op. cit) apresenta
155
que dadas as dificuldades enfrentadas na regulamentação e implementação da
APA, no fim de 1986 o movimento S.O.S Cocó enviou uma carta ao Governo
do Estado exigindo a preservação da área do vale do rio Cocó, apresentando
inclusive duas minutas de decretos, amparados na Política Nacional de Meio
Ambiente.
Contudo os apelos e pressões populares não foram suficientes e
somente em 1989 é que o Governo do Estado Cria a primeira etapa do Parque
Ecológico do Rio Cocó. A criação do Parque sucinta o debate acerca dos
interesses (coletivos ou individuais) que motivaram a criação do mesmo, visto
que a primeira etapa não incluía toda a área de manguezal, restringindo-se
apenas a área de entorno imediato do shopping Iguatemi de propriedade do
então governador do Estado.
A luta do movimento ambientalista assume significativa importância no
contexto do mundo contemporâneo, onde se opõem idéias em prol da
sustentabilidade ambiental e os desejos dos lucros incessantes, nesse contexto
Notthingam (2006) ressalta a importância dos movimentos em prol do Cocó
“A luta em defesa do Rio suscitam reflexões sobre dificuldades com
relação à compreensão das idéias defendidas nas lutas ecológicas,
cujo obstáculo é fruto, principalmente, da contraposição entre
princípios ecológicos e interesses econômicos que defendem o
modelo capitalista de desenvolvimento.”
Mediante a importância do rio Cocó não só para a cidade de Fortaleza,
mas para toda RMF, e ante as pressões da sociedade civil organizada na
busca por uma melhoria das condições ambientais da bacia, foram realizadas
uma série de intervenções visando a manutenção do equilíbrio ecológico em
toda a extensão da bacia, umas bem sucedidas, outras nem tanto. Essas
intervenções e ações podem ser distintas em duas categorias: a elaboração de
estudos, propostas e instituição de mecanismos jurídicos e institucionais para a
preservação do rio Cocó. Sumariamente apresenta-se a cronologia das
principais perspectivas:
¾ 1977 – Lei Estadual 10.147 de 01/12/1977 que dispõe sobre o
disciplinamento do uso do solo para a proteção dos recursos hídricos da
RMF, fundamentada na Lei Federal 4.771 de 15/09/1965;
156
¾ 1980 – Em 15/11/1980 a Prefeitura Municipal de Fortaleza cria o Parque
Adahil Barreto;
¾ 1982 – Decreto Estadual nº 15.274 de 25/05/1982, que dispõe sobre as
faixas dos recursos de 1ª e 2ª categoria, Faixas de Preservação
permanente dos recursos e de Manejo Sustentável respectivamente
para o rio Cocó;
¾ 1985 – A ação do Movimento SOS Cocó resulta num estudo com a
participação da AUMEF (Autarquia Metropolitana de Fortaleza) que
apresenta a Proposta de Ampliação da área de proteção de 1ª categoria
do rio Cocó para a cota 3;
¾ 1986 – A PMF lança decreto municipal nº 7.302 de 29/01/1986 que
declara de relevante interesse público como Área de Proteção Ambiental
(APA) o vale do Rio Cocó, compreendendo a sub bacia B2;
¾ 1987 – A Superintendência do Planejamento do Município de Fortaleza
(SUPLAM) elabora a Proposta de Parcelamento, uso e ocupação do
solo para a APA do Rio Cocó;
¾ 1988 – A prefeitura de Fortaleza promove um seminário com o objetivo
de discutir a proposta de zoneamento para a consolidação da APA do
Cocó;
¾ 1988 – Análise da Proposta de Parcelamento, uso e ocupação do solo
para a APA do Rio Cocó por diversas entidades da sociedade civil;
¾ 1989 – Decreto Estadual nº 20.252 de 05/09/1989, que altera o decreto
nº 15.274 de 05/05/1982 que regulamentava as faixas de 1ª e 2ª
categorias das áreas marginais do Cocó;
¾ 1989 – O Governo do Estado através do decreto nº 20.253 de
05/09/1989, declara de interesse social, para fins de desapropriação a
área de terra que abrange o trecho compreendido entre a rua Sebastião
de Abreu e a BR – 116, onde se compreenderia o Parque Ecológico do
Cocó;
¾ 1990 – O Governo do Estado, através do SDU, AUMEF e SEMACE
elabora o Projeto do Parque Ecológico do Rio Cocó;
¾ 1993 – Através do convênio UFC/PMF é criado o projeto Parque Vivo,
cuja sede se instalaria no Parque Adahil Barreto;
157
¾ 1993 – Decreto Estadual nº 22.587 de 08/06/1993 que declara de
interesse social, para fins de desapropriação, as áreas de terras
destinadas a ampliação do Parque do Cocó, da avenida Parque do Cocó
atual Sebastião de Abreu até sua Foz;
¾ 1998 – Criada a APA da Serra da Aratanha através de Decreto Estadual
nº 24.959 de 05 de junho de 1998;
¾ 1998 – Elaboração do Termo de Referência do projeto de Revitalização
Urbana, Econômica, Cultural e Social do Parque do Cocó (SDU,
SEDURB e SEMACE);
¾ 2000 – Reunião no COEMA cria a Câmara Técnica do Cocó, com o
objetivo de criar propostas para assegurar propostas de conservação do
parque, propor uma campanha de conscientização junto à população e
levantar a situação jurídica do parque;
¾ 2002 – Criação do Comitê Gestor da Sociedade Civil do Cocó, composto
por organizações governamentais e ONG´s;
¾ 2003 – A SEMACE elabora a Proposta de Proteção, Conservação e
Recuperação do Rio Cocó, mas na realidade o documento é muito
superficial e só propõe algumas ações emergenciais como coleta de lixo
e limpeza do canal principal do rio;
¾ 2005 – Embargo por parte da SEMAM das três lavras de mineração
sobre as Dunas móveis e fixas da Sabiaguaba;
¾ 2005 – Parecer Técnico sobre a ponte do Rio Cocó ligando a praia do
Futuro a Sabiaguaba elaborado pela SEMAM (PMF), sugere a
conclusão das obras da ponte condicionado à criação de Unidades de
Conservação Municipal;
¾ 2006 – Através do Decreto nº 11.987/2006 da prefeitura de Fortaleza
cria a Área de Proteção Ambiental (APA) da Sabiaguaba;
¾ 2006 – Decreto Municipal nº 11.986/2006 da Prefeitura de Fortaleza cria
o Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba;
Embora nem todas essas intervenções tenham logrado êxito, ou
mesmo algumas delas tenham se tornado inviáveis, constituem-se como
importantes instrumentos de planejamento e gestão dos recursos naturais
existentes na bacia hidrográfica do rio Cocó, com intuito de conservá-los.
158
Face essa importância dada ao rio pela população e
consequentemente pelo Poder Público, vários foram os estudos técnicos
executados e projetos pensados para a área do Rio Cocó, fazendo-se a seguir
uma lista dos principais trabalhos elaborados
8
.
¾ 1987 - AUMEF, Autarquia da Região Metropolitana de Fortaleza: análise
do diagnóstico ambiental do rio Cocó. Fortaleza;
¾ 1997 - EIA/RIMA da Ponte sobre o Rio Cocó;
¾ 1998 - Zoneamento da APA da Serra da Aratanha;
¾ 2000 - Relatório Informativo “Parque do Cocó”. – SEINFRA;
¾ 2003 - A Degradação do Manguezal do Rio Cocó: uma análise das
causas;
¾ 2003 - SEMACE, Proposta de Proteção, Conservação e Recuperação
do Rio Cocó. Fortaleza, 2003;
¾ 2005 - Parecer técnico sobre o tráfego de veículos e mineração nas
dunas da Sabiaguaba;
¾ 2005 - Parecer técnico sobre a ponte do rio Cocó ligando a praia do
Futuro à Sabiaguaba;
¾ 2005 - Análise da Forma de proteção das dunas da Praia do Futuro;
¾ 2005 - Zoneamento sócio-ambiental participativo do lugar denominado
Caça e Pesca – Contribuição ao desenvolvimento sustentável da capital
cearense;
¾ 2006 - Laudo Técnico Geoambiental, ecodinâmico e socioeconômico
para a criação – Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba e
Área de Proteção Ambiental da Sabiaguaba;
¾ Parque Ecológico do Rio Cocó 2ª etapa;
¾ Projeto de Revitalização urbana, econômica, ambiental, cultural e social
do Parque do Cocó – Termo de Referência;
¾ Proposta de ampliação das faixas de proteção da Sub-Bacia B-2 rio
Cocó;
¾ Projeto Parque Ecológico do Rio Cocó;
8
Os trabalhos que não apresentam ano de realizaçãoo documentos impressos onde não constam datas
de execução.
159
7. Estado de Conservação, Impactos, Riscos
Ambientais e Subsídios ao Zoneamento Ecológico-
Econômico
Conforme exposto na compartimentação geoambiental, os sistemas
ambientais existentes na bacia do rio Cocó embora em alguns casos
apresentem semelhanças, guardam características que os diferenciam entre si.
Nesse sentido apresentam também diferentes estágios de vulnerabilidade,
impactos e riscos ambientais face aos processos produtivos e de uso e
ocupação do solo. No contexto da bacia do rio Cocó, verificou-se que quanto
mais recente é o ambiente, mas vulnerável se torna às atividades
socioeconômicas. Contudo, essa constatação deve ser relativizada e não pode
ser tomada como regra, pois como já dito o que determina a vulnerabilidade
ambiental não é a idade geológica e sim a combinação da ecodinâmica face
aos impactos, riscos e processo de uso e ocupação do solo.
Os tabuleiros pré-litorâneos embora sejam os ambientes que
apresentem o maior grau e ocupação, são os que apresentam menor
vulnerabilidade ambiental. Nesse sentido, mesmo face ao elevado grau de
alteração ambiental, os impactos provenientes das atividades socioeconômicas
não se manifestam tão fortemente como em outros geoambientes. Nas
vertentes mais íngremes da Serra da Aratanha, a retirada da cobertura vegetal
pode transformar esses ambientes em fortemente instáveis, ocasionando
movimentos de massa e deslocamentos rochosos (rolamentos de rochas),
ações morofogenéticas catastróficas que oferecem uma série de riscos
principalmente face ao elevado grau de ocupação no sopé da Serra.
Nas áreas da Depressão Sertaneja a vulnerabilidade é baixa, em razão
principalmente da estabilidade ambiental conferida a esse sistema ambiental.
Os ambientes quaternários da planície litorânea apresentam-se como
ambientes instáveis, portanto extremamente sensíveis às atividades humanas,
principalmente à ocupação urbana. Se ocupados de forma descontrolada pode-
se ocasionar uma série de impactos e riscos ambientais, que causam além do
comprometimento muitas vezes irreversível dos componentes naturais,
160
oferecendo uma série de riscos às construções implantadas e principalmente à
vida humana, como é o caso do campo de dunas e da planície flúvio-marinha.
As planícies fluviais e lacustres, embora não sejam tão sensíveis aos
processos ambientais como a planície litorânea, assumem papel de destaque
na medida em que a vulnerabilidade dessas áreas, muitas vezes acaba por se
refletir em catástrofes, à medida que atingem diretamente um significativo
quantitativo de pessoas quando das inundações.
7.1. Estado Atual de Conservação dos Recursos Naturais
Em alguns setores da bacia do rio Cocó os recursos naturais
encontram-se fortemente comprometidos, Esse avançado estágio de
comprometimento ambiental é ocasionado por uma série de fatores, embora a
pressão demográfica exercida pelo acelerado crescimento demográfico seja
uma das principais causas da degradação ambiental. Mas não se pode atribuir
somente aos aspectos demográficos a responsabilidade pelo elevado grau de
degradação dos recursos naturais.
Conforme Cunha (2003) atribuir os problemas ambientais somente ao
crescimento populacional é uma análise simplista e que não corresponde à
realidade. Afirma ainda que deve-se romper com a visão errônea de que as
áreas com grande concentração populacional estariam necessariamente
sujeitas a um forte processo de degradação ambiental. Para a referida autora a
concentração é sim um fator, porém não é o único tão pouco o principal
elemento causador da degradação ambiental.
As próprias condições naturais que por si só podem favorecer os
processos morfogenéticos, associadas a um manejo inadequado, utilização
predatória dos recursos naturais e o desordenado uso e ocupação do espaço
podem acelerar sobremaneira os problemas de degradação ambiental. Ante os
aspectos expostos a correta forma de identificação do estágio atual de
conservação dos recursos naturais é através da utilização da bacia hidrográfica
como instrumento de análise.
A bacia do Cocó assim como a maioria das bacias hidrográficas
situadas ou que atravessam áreas urbanas verifica-se uma série de problemas
161
ambientais, com maior ênfase na deteriorização dos recursos hídricos,
decapeamento da cobertura vegetal e ocupação irregular das planícies de
inundação.
Recursos Hídricos
Dentre os fatores que contribuem decisivamente para a deteriorização
dos recursos hídricos os aterros, assoreamentos, remoção da cobertura
vegetal principalmente a vegetação ciliar e elevados indicadores de poluição
são os que mais fortemente degradam os recursos hídricos.
As lagoas e áreas de acumulação sazonal que anteriormente
recobriam boa parte do território da bacia, principalmente sobre os terrenos
sedimentares dos tabuleiros pré-litorâneos encontram-se aterradas,
assoreadas ou fortemente poluídas. O aterro de ambientes lacustres ocasiona
o aumento significativo do escoamento superficial, já que sob o ponto de vista
da drenagem urbana esses ambientes funcionam como reservatórios que
retêm o excedente pluvial. Com o nivelamento, o excedente hídrico não
consegue acumular-se ocasionando alagamentos, inundações e aumento do
escoamento superficial. Já o assoreamento, a medida que reduz a
profundidade do corpo hídrico provoca maior área de espraiamento das águas
das chuvas, aumentando a área de alagamento.
A figura 45 mostra o processo de assoreamento de quase a totalidade
do espelho d`água numa lagoa situada às margens da perimetral próxima ao
conjunto José Walter. O completo assoreamento do corpo hídrico aconteceu
num curto espaço de tempo, impulsionado principalmente pelas características
de uso-ocupação da área de entorno que apresenta produção de hortaliças em
larga escala e com utilização de tecnologia extremamente rudimentar e
predatória.
162
Figura 45: Lagoa assoreada às margens da av. Perimetral nas proximidades do Conjunto José
Walter
Várias foram as lagoas que foram aterradas em Fortaleza motivados
principalmente pela construção civil. Essas obras, via de regra, são promovidas
por particulares, porém não são raros os exemplos de ações desse tipo
promovidas pelo Poder Público, como foi o caso da construção do Conjunto
José Walter. Quando da realização da obra uma extensa lagoa foi aterrada
para dar lugar a uma parte do conjunto. Por conseqüência, na área, se
verificam constantes alagamentos quando da incidência de fortes chuvas.
Os riachos que entalham a superfície dos tabuleiros pré-litorâneos e
que cortam os núcleos urbanos de Fortaleza e Maracanaú encontram-se
fortemente degradados sem a cobertura vegetal primária por vezes servindo
como coletores de esgotos clandestinos que drenam parte significativa dessas
cidades, o que aumenta, sobremaneira, os níveis de poluição do Cocó.
Segundo Ceará (1994) apud Silva (2003) até receber as águas do riacho Tim
o rio Cocó encontra-se pouco impactado, já que este recebe uma quantidade
muito grande de resíduos e esgotos domésticos e industriais oriundos da sede
municipal e distrito Industrial de Maracanaú. A quantidade de resíduos
domésticos se intensifica deste ponto em diante, principalmente ao fluir no
163
território de Fortaleza, pois o rio recebe os dejetos de vários conjuntos
habitacionais como o Palmeiras, Jangurussu e São Cristóvão.
Embora desativado, o aterro sanitário do Jangurussu constitui-se num
grande poluidor-contaminador das águas do rio Cocó. Por estar situado a
pouco menos de 100 metros da margem esquerda do rio, o chourume
produzido pela decomposição do material orgânico depositado chega
diretamente ao Cocó por canais produzidos para esse fim, pelo entupimento do
dreno que leva o chourume até a lagoa de estabilização
9
ocasionando
vazamentos ou por percolação até às camadas mais profundas do solo
contaminando o lençol freático. Esse problema é sobremaneira agudizado
quando do período chuvoso, já que as calhas de drenagem levam as águas
pluviais diretamente ao rio Cocó como pode ser verificado na figura 46.
Figura 46: Drenagem pluvial na área do aterro do Jangurussu. Notar a velocidade do escoamento.
9
Segundo matéria do DN o dreno que leva o chourume à lagoa de estabilização do Cocó encontrava-se
entupido com o chourume correndo livremente para o Cocó. Para resolver o problema a PMF atribuía a
responsabilidade à CAGECE que por sua vez dizia que a culpa era da prefeitura já que o projeto de
construção do duto fora realizado pela PMF.
164
Dentre todos os afluentes do rio Cocó o Canal do Tauape é o que mais
contribui para os elevados índices de poluição do rio Cocó. O referido canal
comanda o sistema de drenagem de parcela significativa da capital cearense,
recebendo as águas dos canais do Jardim América, Aguanambi e pequenos
córregos. Por drenar uma área de grande densidade demográfica o Canal do
Tauape recebe uma grande quantidade de resíduos in natura, o que contribui
para alta taxa de poluição do Cocó (SILVA, 2003). Na realidade dado a grande
quantidade de esgotos (figura 47) o canal constitui-se num verdadeiro esgoto a
céu aberto, o que pode ser verificado pelo alto nível de eutrofização como
exposto na figura 48.
Figura 47: Áreas de risco no Canal do Tauape.
165
Figura 48: Vista parcial mostrando o elevado nível de eutrofização do Canal do Tauape. Notar a
ocupação irregular pelas margens e obras de limpeza do canal.
O aumento de efluentes despejados em canais, rios, lagoas e longo do
rio principal ocasionam sérios problemas socioambientais. A concentração de
metais pesados e coliformes fecais nesses ambientes, dificulta sobremaneira a
oxigenação da água, aumentando o grau de enxofre e decomposição da
matéria orgânica existente e acarretando a mortandade de peixes, fenômeno
que ocorre constantemente em diversas lagoas existentes em Fortaleza.
O exemplo mais recente ocorreu em março de 2006, quando da
execução das obras de “limpeza” e dragagem para a quadra chuvosa
executadas na Lagoa de Porangabuçu. No caso específico a mortandade foi
ocasionada pelo aumento significativo da quantidade de fósforo e seu
conseqüente aumento na quantidade de clorofila A que acarreta redução no
nível de oxigênio na água e resultou na morte de mais de nove toneladas de
peixes
10
Vegetação
10
Como mostra reportagem do Jornal Opovo de 23 de março de 2006 intitulada “Falta de oxigênio causa
morte de peixes da Lagoa do Porangabuçu”.
166
A cobertura vegetal existente em toda área da bacia apresenta elevado
grau de degradação. Os enclaves de vegetação existente são basicamente
compostos por uma vegetação secundária de porte arbustivo. Esse aspecto
fisionômico é derivado principalmente do elevado grau de ocupação existente
em toda a área da bacia. As áreas de exceção são alguns remanescentes de
mata de tabuleiro, mangue, caatinga, mata úmida e um pequeno encrave de
cerrado.
A vegetação das nascentes é relativamente preservada, com o
predomínio de espécies arbóreas e indivíduos de grande porte. Embora
verifique-se em alguns setores da Serra da Aratanha predominância de
vegetação secundária, os aspectos florísticos e fisionômicos apresentam
elevado grau de preservação devido as dificuldades de acesso à área e ao
baixo nível de ocupação existente.
As atividades agrícolas existentes na Serra são de baixo impacto e
pouco significância espacial. Sua destinação é principalmente ao uso turístico e
ecológico, embora verifique-se, atualmente, uma tentativa de povoamento dos
setores serranos com a instalação de segundas residências e equipamentos
turísticos. Mesmo em face desse recente processo de ocupação da área, a
Serra da Aratanha é o maciço residual que apresenta o mais elevado grau de
conservação dentro dos ambientes serranos cearenses.
Os maiores níveis de conservação das caatingas são encontrados na
faixa de proteção do açude gavião, e nos setores mais rebaixados da Serra da
Aratanha. A faixa de proteção do Gavião é composta predominantemente por
indivíduos de porte arbóreo-arbustivo. As áreas mais descaracterizadas estão
dispostas na sua margem direita imediatamente a jusante do reservatório, onde
os agroecossistemas são mais intensamente usados. Já nos setores mais
rebaixados da Aratanha a vegetação de caatingas é composta principalmente
por uma vegetação secundária com extrato predominantemente arbustivo-
arbóreo. Verificam-se também algumas manchas dispersas ao longo da
depressão sertaneja.
Dado a expressão territorial dos tabuleiros pré-litorâneos, pode-se
facilmente verificar que a vegetação típica desse sistema ambiental é a que se
encontra mais fortemente reduzida. Fato que pode ser facilmente verificado
pelo elevado grau de ocupação urbano-industrial sobre os tabuleiros pré-
167
litorâneos. A exceção da área institucional localizada dentro do quartel da Base
Aérea de Fortaleza que apresenta níveis de alteração, os remanescentes estão
na porção oeste da bacia. A de maior expressão territorial está localizada no
extremo oeste da bacia, nas proximidades da BR-116, e no Curió nas
proximidades da Lagoa da Precabura.
Por estar inserido no núcleo urbano de Fortaleza o encrave do Curió
assume destaque pelo elevado nível de preservação. Ocupa uma área de
aproximadamente 52 hectares, Destes, 43,55 apresentam grande conservação
(figura 49) constituída por indivíduos de porte arbóreo cujo diâmetro é superior
a 01 metro (figura 50). Essa área sofre com a pressão da ocupação urbana e
às intenções do Governo Estadual de implantar um reassentamento popular na
área. Não se pretende inviabilizar um projeto de construção de moradias
populares. Questiona-se na verdade, a disponibilidade de outras áreas,
inclusive nas proximidades do projeto.
Figura 49: Área total do remanescente de mata de tabuleiro do Curió.
Fonte: Aerofotografias com resolução de 15cm, 2001 SEINF-PMF.
168
Figura 50: Porte dos indivíduos existente no remanescente do Curió.
O cerrado é um complexo vegetacional típico de áreas do Planalto
Central brasileiro apresentando diferentes aspectos fisionômicos cuja principal
característica é a tortuosidade dos caules. Embora seja uma vegetação típica
do Domínio Morfoclimático dos Cerrados, verificam-se alguns encraves na área
da RMF. Esses encraves segundo Soares (2005), constituem-se como
evidências de flutuações climáticas. Na bacia do Cocó existe um encrave
situado no bairro da Cidade dos Funcionários, ocupando uma área total de
28,43 hectares. Destes, 9,24 hectares encontram-se fortemente preservados e
8,69 ha apresenta estágio de recomposição vegetal (Nascimento e Chitarra,
2006).
O referido encrave está situado numa área de forte valorização
imobiliária, circundado por condomínio horizontais e residências de médio-alto
padrão implantados ou em fase de implantação, como pode ser verificado na
figura 51. A referida área ainda não fora ocupada, por ser a antiga estação de
transmissão do Exército brasileiro e a outra parcela da quadra ser de
propriedade da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Porém as
pressões especulativas na área são intensas, reforçadas com as intenções do
169
Exército em vender seus terrenos, e o projeto de transferência do centro
administrativo dos correios.
Figura 51: Remanescente de cerrado no bairro Cidade dos Funcionários. Notar o elevado grau de
ocupação na sua área de entorno.
Fonte: aerofotogrametria com resolução de 15 cm, 2001 SEINF/PMF e trabalho de campo.
Apesar da pequena extensão territorial a referida área assume
significativa importância por ser a única área de cerrados existente em toda a
bacia do Cocó, tornando-se assim insubstituível para estudos, projetos,
pesquisas, conservação da biodiversidade e desenvolvimento de atividades de
educação ambiental. Pareceres realizados por renomados pesquisadores (Prof.
Afrânio Fernandes – UECE, Profa. Francisca Soares - UFC) relatam a
importância da área e sugerem a preservação desse importante Patrimônio
Natural Ambiental da cidade de Fortaleza.
170
Ante o exposto faz-se necessário a adoção de mecanismos que
possam assegurar sua preservação e impeçam que essa área seja incorporada
pelo mercado imobiliário.
A vegetação de mangue encontra-se bastante reduzida se comparada
ao espaço que ocupava anteriormente. Considerando-se os rio Cocó e Coaçu o
mangue ocupa uma área aproximada de 6,35 Km², em relação aos atuais 8,25
Km² ocupados por planícies flúvio-marinha. Esses números contudo não levam
em consideração as áreas que já sofreram ação das atividades humanas,
como aterros e construções ilegais. Só o shopping Iguatemi ocupa hoje uma
área aproximada de 0,2 Km² na planícies flúvio-marinha, que originalmente
eram recoberta por manguezais (figura 52).
Figura 52: Ocupação da planície flúvio-marinha pelo shopping Iguatemi
Fonte: ETM+ Landsat 7, 15m de resolução espacial, 2002.
Diferentemente do que ocorrera na década 1970, onde os manguezais
foram ocupados por salinas e com a desativação das mesmas, a vegetação
entrou num processo de recuperação. Atualmente com a ocupação urbana,
esses ambientes ficam impossibilitados de se recuperar dado o aterro de
extensas áreas que posteriormente são destinadas à construção, como pôde
171
ser facilmente verificado através da descontinuidade da vegetação exposto na
figura 52.
Não obstante a intervenção pública ao longo dos anos tem-se
provocado uma série de danos ambientais ao manguezal do rio Cocó, como a
construção das avenidas Sebastião de Abreu e General Murilo Borges. A
construção dessa última seccionou o manguezal ao meio impedindo a
passagem da cunha salina, como conseqüência têm-se a mortandade de
extensa área de mangue
11
situada à montante da avenida como pode ser visto
na figura 53. Além dos problemas ambientais a avenida funciona como um
imenso dique que além de impedir a passagem da cunha salina, dificulta o
escoamento das águas pluviais ocasionando alagamentos e inundações à
montante (região do Lagamar).
Figura 53: Mortandade da vegetação de mangue à montante da av. Gal. Murilo Borges.
A planície do rio Cocó sofre com a ocupação urbana e industrial
desordenada, principalmente face ao acelerado crescimento da Região
Metropolitana de Fortaleza. Por conseqüência as matas ciliares que
11
A cerca desse assunto pode-se obter mais detalhes na dissertação de Silva (2003) que apresenta os
principais problemas e impactos ambientais ao manguezal do rio Cocó promovidos principalmente pela
construção das avenidas Sebastião de Abreu e General Murilo Borges.
172
originalmente protegiam as margens de rios, riachos e lagoas foram
paulatinamente suprimidas para dar lugar a esse tipo de ocupação. Dos 21,64
Km² de planície fluvial existentes na bacia, apenas 10,96 Km² encontram-se
recobertos por vegetação ciliar, ou seja, 51,7% da cobertura vegetal original.
Outro ponto a ser observado é que mesmo a mata ciliar hoje existente
encontra-se bastante descaracterizada, onde praticamente inexistem indivíduos
da cobertura vegetal original. A vegetação atualmente existente é praticamente
toda secundária e composta basicamente por espécies de extrato herbáceo-
arbustivo onde se deu o processo de sucessão ecológica.
Essa redução da mata ciliar constitui um problema de extrema
gravidade na medida em que essa vegetação exerce funções fundamentais
para o equilíbrio ambiental. Sobre essas funções Cunha (2003) destaca como
primordiais as seguintes: proteção à erosão e assoreamento; maior infiltração;
recarga de aqüíferos; redução da erosão, dos impactos, da quantidade de
produtos químicos que chegam ao canal; e fornecimento de alimentos à fauna
(aves e peixes).
7.2. Impactos e Riscos associados na Bacia do rio Cocó
Como pôde ser verificado ao longo do trabalho a bacia do Cocó sofre
uma série de impactos ambientais em toda sua dimensão territorial. Esses
impactos, contudo, não ocasionam somente perdas ao meio ambiente e sim
para toda a sociedade, principalmente para os moradores das áreas de risco.
A partir dos trabalhos de campo foram identificados como principais
impactos ambientais os seguintes: mineração; tráfego de veículos; ocupação
irregular das áreas de APP; aceleração dos processos erosivos; compactação
dos solos; retirada da cobertura vegetal; impermeabilização dos solos;
degradação dos recursos hídricos; desmonte de dunas;
De forma sintética o quadro 12 apresenta os ambientais verificados na
bacia do rio Cocó, identificando os principais problemas que acarretam ao meio
ambiente e em quais sistemas ambientais se manifestam mais fortemente.
173
Quadro 12: Impactos ambientais, conseqüências negativas e sistemas ambientais afetados.
Impacto
Ambiental
Conseqüências Negativas ao Meio Ambiente Sistema Ambiental de
Ocorrência
Retirada da
cobertura vegetal
Aumento do escoamento superficial, redução da
biodiversidade, alteração no micro-clima,
desconforto térmico, aceleração dos processos
erosivos, assoreamento, redução da infiltração.
Todos os sistemas
ambientais
Mineração Retirada da cobertura vegetal, redução da
biodiversidade, degradação paisagística, re-
ativação dos processos erosivos, riscos de
desmoronamentos e escorregamentos, migração
de dunas, transformação de dunas fixas em
móveis, cicatrizes irreversíveis na paisagem,
ressecamento dos olhos d`água e rebaixamento
do lençol freático.
Serra da Aratanha,
Depressão Sertaneja,
Tabuleiros, Planície
Fluvial e Campo de
dunas fixas e móveis.
Ocupação
irregular das áreas
de APP
Desmatamentos, impermeabilização do solo,
inundações, magnificação das cheias, redução
da qualidade e quantidade das águas, perda de
biodiversidade, desencadeamento de ações
morfogenéticas.
Planícies fluviais,
lacustres e flúvio-
lacustres, Serra da
Aratanha, faixa praial,
campo de dunas e
planícies flúvio-marinha.
Desmonte de
dunas
Degradação paisagística, alteração no by pass
de sedimentos que alimentam a deriva litorânea,
soterramentos de estuários, da vegetação
fixadora, de lagoas freáticas e litorâneas,
aceleração da migração do campo de dunas e
mudança de dunas fixas para móveis.
Campo de Dunas fixas
e móveis.
Aceleração dos
processos
erosivos
Aumento da morfogênese, remoção de solos,
movimentos de massa, assoreamentos e perdas
paisagísticas.
Todos os sistemas
ambientais
Impermeabilização
dos solos
Redução da infiltração, aumento da velocidade
do escoamento superficial, magnificação das
cheias, redução no tempo de retorno das
enchentes, redução da biodiversidade.
Todos os sistemas
ambientais.
Compactação dos
solos
Redução da infiltração, ressecamento dos olhos
d`água, aumento do escoamento superficial e
rebaixamento do lençol freático.
Planícies fluviais e
lacustres, planície
litorânea, tabuleiros e
depressão sertaneja.
Tráfego de
veículos
Poluição atmosférica e sonora; sulcos de erosão
em áreas serranas e de dunas, compactação e
impermeabilização dos solos em áreas de
tabuleiros e faixa praial, destruição da vegetação
pioneira, re-ativação do transporte eólico em
dunas fixas.
Todos os sistemas
ambientais.
Degradação dos
recursos hídricos
Poluição dos recursos hídricos, redução de
espécies da fauna e flora, mortandade de peixes,
eutrofização, alteração nos níveis de
balneabilidade, interferências no regime
hidrológico e hidrodinâmica, assoreamento,
aumento da área de espraiamento, transmissão
de doenças,
Cursos hídricos, corpos
lacustres a áreas de
acumulação sazonal.
Como pôde ser verificado no quadro acima os impactos ambientais
incidentes nos diferentes geoambientes expõem os sistemas e as comunidades
residentes a uma série de riscos ambientais, dentre os quais os que assumem
174
maior significância são os relacionados aos escorregamentos (movimentos de
massa), inundações e enchentes.
Entende-se por escorregamentos os movimentos gravitacionais de
massa que mobilizam solos, rochas ou ambos (M.Cidade e IPT). O volume do
material mobilizado é bastante variável de evento a evento, assim como a
velocidade que pode variar de alguns metros por hora a vários metros por
segundo.
Para que os deslizamentos mobilizem grandes quantidades de
materiais é preciso que haja combinação de uma série de fatores de origem
natural e antropogênica. Os fatores naturais que mais contribuem para esse
fenômeno são as condições geológicas e pedológicas, inclinação do terreno,
grande incidência de chuvas, nível do lençol freático e cobertura vegetal. Já no
que se refere às intervenções antropogênicas, o que mais contribui são os
desmatamentos, o lançamento de efluentes em superfície, ocupação irregular
de encostas, corte e aterros.
A serra da Aratanha é o único ambiente susceptível a esse tipo de
evento em sua forma mais catastrófica (deslizamento de solos e material
rochoso). Isso se dá devido à inclinação de suas vertentes e existência de uma
série de blocos rochosos no maciço. Porém o risco é baixo face ao elevado
índice de conservação existente e o conseqüente baixo nível de ocupação do
solo. Todavia, há que se verificar a real possibilidade de reversão dessa
condição de baixa vulnerabilidade, se não forem adotadas e amplamente
empregadas técnicas e medidas conservacionistas.
O campo de dunas (móveis e fixas) são os sistemas ambientais mais
susceptíveis aos riscos relacionados aos movimentos de massa. Essa
vulnerabilidade aos riscos decorre da topografia mais elevada e das
características geológicas e de solos desses ambientes. O campo de dunas é
composto por sedimentos arenosos inconsolidados, que devido à jovialidade do
ambiente não proporcionou a formação de uma espessa camada de solos, e
em alguns casos verifica-se a inexistência desses, como ocorre com as dunas
móveis. Aliado a esses condicionantes geoambientais acresce-se a ocupação
irregular e mineração desordenada que conferem a esses ambientes alta
vulnerabilidade e exposição aos riscos de movimentos de massa. As fotos 54 e
175
55 mostram os riscos de solapamento e mobilização de grande quantidade de
material em virtude da atividade mineradora.
Figura 54: Riscos de acidentes e desmoronamentos no barreiro da Cidade 2000 em Fortaleza-Ce.
Fonte: SEMAM, 2006.
Figura 55: Riscos de desmoronamentos no barreiro da Sabiaguaba
176
Embora não se constituam em áreas de riscos por não coexistirem
assentamentos precários, essas áreas de mineração oferecem grandes
probabilidades de perdas humanas, em virtude do maquinário pesado existente
e por riscos de desabamentos como ocorrera no barreiro da Cidade 2000,
quando duas crianças que brincavam na área foram soterradas por um
desmoronamento.
Segundo o curso de treinamento de técnicos municipais para o
mapeamento e gerenciamento de áreas urbanas com riscos de
desmoronamentos, enchentes e inundação do Ministério das Cidades -
M.Cidades e Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT (M.Cidade e IPT, 2004)
as enchentes e inundações são um dos principais tipos de desastres naturais
que atingem diversas comunidades em diferentes partes do planeta, seja em
áreas urbanas ou rurais.
O mesmo documento apresenta diferentes definições para enchentes e
inundações, considerando enchente como a elevação temporária do nível de
água em determinado canal de drenagem, elevação essa ocasionada pelo
aumento da vazão ou descarga no canal. A inundação é caracterizada pelo
extravasamento das águas do canal de drenagem para as áreas marginais,
quando a enchente atinge nível superior à cota máxima da calha principal do
rio. As áreas marginais são os terrenos de várzeas, planícies de inundação e
leito maior do rio.
As enchentes e inundações são os riscos mais freqüentes encontrados
na bacia do rio Cocó. Assim como acontece com os deslizamentos, as
enchentes e inundações são fenômenos naturais que podem ser sobremaneira
influenciados e intensificados pelas intervenções provenientes das atividades
socioeconômicas. Os principais fatores naturais causadores de enchentes e
inundações são o excedente hídrico proveniente da pluviosidade, as condições
topográficas (relevo), a forma da bacia e a dinâmica do escoamento pluvial. Os
fatores derivados das atividades produtivas que favorecem a ocorrência de
enchentes e inundações relacionam-se principalmente à impermeabilização do
solo, remoção da cobertura vegetal, erosão, assoreamento e medidas de
intervenção estruturais (obras) realizadas ao longo do curso do rio e de toda a
bacia hidrográfica.
177
Cunha (2003) afirma que esses fenômenos (enchentes e inundações)
não causam riscos somente às vidas humanas e aos bens matérias, mas
também a toda biota e comprometem a sustentabilidade dos ambientes
aquáticos.
As inundações na bacia do Cocó são derivadas do relevo plano nas
áreas dos tabuleiros pré-litorâneos com pequenos desníveis dos interflúvios em
relação aos fundos de vales, ocupação irregular das áreas marginais,
assoreamento, alto grau de impermeabilização dos solos e regime torrencial
das chuvas.
Esses aspectos associados ao extensivo uso e ocupação do solo,
notadamente ocupação irregular nas áreas de APP, ocasiona uma série de
riscos para as comunidades situadas às margens de rios, riachos e lagoas.
Normalmente, essas comunidades são constituídas por assentamentos
precários de baixa renda que não têm acesso a terrenos mais estáveis do
ponto de vista geoambiental, as chamadas áreas de risco.
7.2.1. Áreas de Risco na Bacia do Rio Cocó
A incidência de cheias e inundações nas áreas de riscos do rio Cocó
ocasionam uma série de danos diretos e indiretos às comunidades que residem
nessas áreas. Esses danos estão relacionados à integridade física e às perdas
materiais e patrimoniais. Os danos diretos relacionam-se a mortes, destruição
de moradias, perdas econômicas e gastos com recuperação. Já os indiretos
podem ser sentidos através da mobilidade da população (migrações), perda da
identidade e dos laços de vizinhança, surtos de doenças transmissíveis pela
água principalmente a leptospirose.
Como já dito anteriormente as áreas de risco são ambientes
susceptíveis à ação dos fenômenos naturais que colocam em risco a vida da
população que ali vive, riscos esses ocasionados pela ocupação irregular de
áreas com alta vulnerabilidade ambiental.
Embora existam algumas áreas de risco dispersas ao longo de toda a
bacia do rio Cocó, serão analisados os dados referentes às existentes em
178
Fortaleza-Ce. Essa opção foi utilizada em razão da escala de análise e
disponibilidade de dados oficiais sobre essas aglomerações.
O quadro 13 apresenta a evolução do número de áreas de risco em
Fortaleza no período que vai de 1999 a 2006. Esses números, contudo,
consideram somente as áreas de risco oficialmente reconhecidas pela Defesa
Civil estadual e Célula de Ações de Defesa Civil do município.
Quadro 13: Evolução no número das áreas de risco e quantidade de famílias atingidas em
Fortaleza,Ce.
ANO ÁREAS DE
RISCO
FAMÍLIAS POPULAÇÃO
ATINGIDA
12
1999 45 4.287 21.435
2000 47 4.938 24.690
2001 52 7.239 36.195
2002 69 11.546 48.493
2003 82 12.375 51.975
2004 92 17.078 71.728
2005 94 20.580 DN
2006 105 22.984 96.533
Fonte: CPDH (1999), Defesa Civil Estadual (2003), e Defesa Civil Municipal (2006).
Em 1999, existiam 45 áreas de risco em Fortaleza, totalizando uma
população de 21.435 pessoas residentes nessas áreas (CPDH,1999). Em 2003
o número de áreas de risco teve um crescimento superior a 82% chegando a
82 áreas com 12.375 famílias, totalizando 51.975 pessoas. Atualmente existem
105 áreas em Fortaleza com 22.984 famílias.
Comparado-se a quantidade de áreas de risco no período de 1999 a
2006, verificou-se um crescimento superior a 233%, ou seja uma média de
crescimento anual superior a 33%. Ao confrontarmos o número de famílias
residentes nas áreas de risco o crescimento é maior ainda, com acréscimo
superior a 536% no período, ou seja, uma média de crescimento anual de mais
de 76%. Esses números só confirmam o crescimento geométrico no número de
áreas e a explosão demográfica da população que vive em assentamentos
extramente precários, estando expostas a uma série de riscos ambientais.
Os riscos relacionados aos recursos hídricos (alagamentos e
inundações) correspondem a cerca de 81,90 % do total com 86 dessas áreas.
12
Os cadastros em áreas de risco são realizados considerando-se o número de famílias, o número de
pessoas atingidas é calculado com base na relação 4,2 pessoas por família.
179
Já os relacionados aos movimentos de massa correspondem somente a
15,28% com 16 casos. Os 2,82% restantes estão relacionados a mais de um
tipo de risco, sendo as seguintes: inundação e alagamento; inundação e
deslizamento; e inundação e radiação, totalizando 03 áreas , conforme pode
ser verificado na tabela 13 e figura 56.
Tabela 13: Relação entre o tipo de risco e número de áreas
TIPO DE RISCO NºÁREAS Nº FAMÍLIAS
Alagamento 13 2075
Inundação 73 17500
Deslizamento 15 2949
Desmoronamento 01 33
Mais de um risco* 03 427
TOTAL 105 22984
Fonte: Defesa Civil da Prefeitura Municipal de Fortaleza
Segundo Relatório da Comissão Especial das Áreas de Risco da
Região Metropolitana de Fortaleza (2002), dados referentes ao ano de 2001
demonstram que nas enchentes ocorridas nesse ano, 8.208 unidades
domiciliares foram atingidas, deixando seus moradores total ou parcialmente
desabrigados um contingente de 36.195 pessoas aproximadamente. No ano
seguinte (2002), o número de domicílios atingidos ultrapassou 9.082, forçando
o município a decretar estado de calamidade pública por duas vezes. Houve
instalação de comissões especiais na Assembléia Legislativa e Câmara
Municipal, para diagnosticar e acompanhar o problema. Mesmo em face dos
fatos e antecedentes ocorridos nos anos 2001 e 2002, o problema não foi
amenizado. Pelo contrário, em 2003 foi observado o crescimento geométrico
no número de famílias atingidas pelas chuvas, chegando a 17.531.
Em 2004 a situação foi ainda mais grave, já que associado ao
crescente número de ocupações de risco foi registrada a maior chuva na região
desde 1910 com 265 milímetros precipitados somente na madrugada do dia 28
para o dia 29 de janeiro. Essa chuva causou o caos na cidade e levou pânico
às famílias que residiam nas áreas de risco, destruindo 107 habitações e
deixando outras 2.036 casas danificadas. Mais de 70.000 pessoas foram
desalojadas ou desabrigadas, além de duas pessoas desaparecidas (O Povo,
30/01/2004).
180
Figura 56: Áreas de Risco na cidade de Fortaleza em 2006.
181
O retorno das águas ao nível de cheia máxima do rio foi bastante lento,
em alguns pontos. Esse processo demorou cerca de dois dias. Nesse evento
as inundações e alagamentos atingiram toda a cidade de Fortaleza, afetando
diretamente toda a população municipal. Caracterizou-se num evento atípico
com tempo de retorno superior a 100 anos, o que contribui para o maior
registro histórico do mês cerca de 500 milímetros, ou seja, 3,74 vezes superior
à média do mês de janeiro que é de 133,6 milímetros. Ao fim do ano foram
contabilizadas 1.145 ocorrências na Defesa Civil que atingiram 23.303 famílias,
com 97.873 pessoas afetadas e um saldo de 746 desabrigados, 1763
desalojados e 2.230 casas total ou parcialmente destruídas (Diário do
Nordeste, 2005).
Os anos de 2005 e 2006 foram relativamente tranqüilos, embora os
dados de 2006 não estejam consolidados. Até o presente momento não foram
registradas grandes ocorrências. Essa baixa quantidade de ocorrências se
deve principalmente aos baixos índices pluviométricos registrados no período.
Das 105 áreas de risco existentes na capital cearense, 37 encontram-
se na bacia do rio Cocó (figura 57), o que representa cerca de 38,85% do total
com 8.860 famílias expostas à riscos. Assim como acontece com o município
de Fortaleza a grande maioria dessas áreas estão relacionadas a problemas de
enchentes e inundações, com 36 áreas atingindo 8.588 famílias, o que
corresponde a cerca de 36.070 pessoas.
Embora estejam dispersas ao longo da bacia, a maior concentração
dessas áreas se dá no baixo-médio curso do vale do Cocó nas áreas de APP e
planícies de inundação que bordejam a calha principal do rio, desde os
domínios territoriais de Fortaleza no bairro Santa Filomena e conjunto
Palmeiras. O setor mais densamente povoado por áreas de risco é o
compreendido entre a avenida Costa e Silva (perimetral) às margens do aterro
do Jangurussu até a Boa Vista perfazendo um percurso linear aproximado de
6.120 metros, concentrando cerca de 7 áreas de risco com 1.264 famílias.
Vale destacar que todas essas áreas anteriormente eram recobertas
por vegetação do tipo mata ciliar que amorteciam os efeitos das cheias, que
sem a cobertura vegetal, impermeabilização do solo, assoreamento, aumento
da velocidade e das áreas de espraiamento intensificam sobremaneira os
182
efeitos das cheias. As áreas supracitadas são consideradas de alto risco, já
que é freqüente a ocorrência de enchentes e inundações por pelo menos três
vezes num período de 05 anos. Ou seja, o tempo de retorno é muito curto, e a
freqüência bastante elevada.
Figura 57: Áreas de Risco na bacia do rio Cocó
Fonte: Coordenadoria de Defesa Civil do município de Fortaleza
183
7.3. Síntese do Estado Atual de Conservação, Impactos e
Riscos Ambientais
Esses problemas têm diversas repercussões negativas no ambiente. A
retirada da cobertura vegetal ocasiona a aceleração dos processos erosivos
lineares e conseqüentemente aumenta o transporte de sedimentos face à
exposição dos solos aos agentes erosivos. Esse material deposita-se no leito
principal do rio e nas diversas lagoas dispersas ao longo da bacia, o que
ocasiona o assoreamento do canal principal e a redução da profundidade dos
ambientes lacustres.
Com subsídios da capacidade de suporte de cada Sistema, do
desenvolvimento das formas de uso e ocupação da terra e dos principais
problemas ambientais existentes na bacia do Cocó, pode-se verificar o estágio
atual de conservação dos recursos naturais, principais impactos e riscos
ambientais existentes, indicando diretrizes ambientais para a manutenção
desses sistemas.
O quadro 14 apresenta de forma sintética as características naturais
dominantes, as potencialidades e limitações geoambientais face os processos
produtivos, as principais formas de uso e ocupação, Impactos ambientais
verificados, os riscos associados e a proposição de diretrizes a serem
adotadas.
184
Quadro 14: Síntese das características ambientais, ecodinâmica, uso atual, impactos e riscos associados, e diretrizes ambientais.
UNIDADE
CARACTERÍSTICAS
NATURAIS
DOMINANTES
POTENCIALI-
DADES
LIMITAÇÕES USO ATUAL
IMPACTOS
VERIFICADOS
RISCOS
ASSOCIADOS
DIRETRIZES
AMBIENTAIS
Faixa
Praial e
Campo de
Dunas
Móveis
Faixa contínua e
alongada constituída por
sedimentos marinhos
grosseiros, depositados
pela deriva litorânea, e
que são constantemente
mobilizados pela ação
eólica e re-trabalhados
pela abrasão marinha da
faixa praial, por vezes
indo assorear o canal
fluvial e demais recursos
hídricos. Não
desenvolveram solos, por
vezes recobertos por uma
vegetação pioneira
herbácea.
Patrimônio
paisagístico;
Ecoturismo;
Reserva
hídrica
subterrânea
estratégica;
Lazer e
turismo
ecológico;
Desenvolvime
nto de
atividades de
pesquisa
Restrições
legais;
Agricultura;
Implantação
viária;
Ocupação
urbana;
Lazer e turismo;
Loteamentos;
Mineração;
Trânsito de
veículos of road;
Barracas de praia;
Privatização dos
espaços públicos;
Unidades de
Conservação.
Mineração;
Remobilização dos
sedimentos pelo
tráfego de veículos;
Destruição da
vegetação fixadora;
Sulcos de erosão nas
trilhas deixadas pelos
veículos;
Interferências no fluxo
de sedimentos eólicos
e na deriva litorânea;
Erosão marinha;
Movimentos de massa
ocasionados pela
mobilização de
sedimentos e
mineração que podem
ocasionar o
soterramento de
residências, vegetação
fixadora, estuários,
manguezal e lagoas
freáticas. Efeitos da
abrasão marinha e
riscos de
atropelamentos na
faixa de praia e campo
de dunas.
São áreas que
devem ser
constantemente
monitoradas
com destinação
a atividades de
lazer, recreação
e turismo
controlados.
Campo de
Dunas
Fixas
Depósitos sedimentares
holocênicos. O relevo é
fortemente ondulado. Os
solos são tipo Neossolos
Quartzarênicos revestidos
por vegetação de porte
arbóreo nas vertentes à
sotavento, e arbustivo à
barlavento. A infiltração é
a principal característica
da drenagem, com
ocorrência de lagoas
freáticas e exutórios.
Patrimônio
Paisagístico
Ecoturismo;
Recuros
hídricos
subterrâneos e
corpos
lacustres;
Lazer.
Restrições
legais;
Agricultura;
Extrativismo
vegetação;
Implantação
viária e
loteamentos;
Expansão
urbana;
Edificações;
Loteamentos;
Implantação
urbana e viária;
Agroextrativismo;
Mineração;
Unidades de
Conservação
Retirada da cobertura
vegetal;
Impermeabilização do
solo;
Erosão;
Desmonte do campo de
dunas pela mineração;
Tráfego de veículos;
Retomada dos
processos erosivos;
Assoreamentos; e
Aterramento das vias
de acesso.
Movimentos de Massa,
que podem ocasionar
deslizamentos,
desmoronamentos e
soterramento de
ambientes naturais e
construções,
principalmente
residências.
Zonas que
devem ser
destinadas à
manutenção do
equilíbrio
ambiental, com
desenvolviment
o de atividades
de lazer,
educação e
turismo
ecológico.
Continua
185
Continuação do quadro 14.
UNIDADE
CARACTERÍSTICAS
NATURAIS
DOMINANTES
POTENCIALI-
DADES
LIMITAÇÕES USO ATUAL
IMPACTOS
VERIFICADOS
RISCOS
ASSOCIADOS
DIRETRIZES
AMBIENTAIS
Planície
Flúvio-
marinha
Área de acumulação,
constituída por
sedimentos quaternários
de origem fluvial e
marinho, solos lodosos
profundos, ricos em
matéria orgânica,
parcialmente submersos
com altos teores de
salinidade. Regime
fluvial perene com
padrão de drenagem
anastomosado. A
topografia é plana, com
eventuais ocorrências de
solapamentos nas
margens. O manguezal
serve de berçário de
várias espécies animais.
Apresenta vegetação de
mangue que é
extremamente
especializada, com a
predominância do
mangue vermelho.
Preservação da
biodiversidade;
Patrimônio
ambiental e
paisagístico;
Berçário de
espécies
marinhas e
continentais;
Pesca
artesanal;
Pesquisa
científica;
Educação
Ambiental; e
Ecoturismo.
Restrições
legais (U.C -
APP) e
edáficas;
Agricultura;
Salinidade;
Áreas
diariamente
sujeitas à
inundações.
U.C (Parque
Ecológico
Estadual);
Turismo, lazer e
recreação;
Ocupação
irregular das
áreas legalmente
protegidas (U.C e
APP).
Alto nível de poluição
das águas;
Remoção das espécies
de mangue;
Aterros no manguezal;
Ocupação irregular das
áreas protegidas;
Obras de engenharia
que interferem na
dinâmica estuarina,
como a Ponte ligando a
Praia do Futuro à
Sabiaguaba, e as
avenidas Sebastião de
Abreu e Murilo Borges
que impedem a
passagem da cunha
Salina;
Mortandade da
vegetação de mangue
no Lagamar em razão
da construção das
referidas avenidas;
Redução da
produtividade biológica.
Inundações e
enchentes,
principalmente
quando da incidência
de grandes chuvas
associadas às
influências de marés
que impedem o
escoamento do
excedente hídrico,
ocasionando
alagamentos para
áreas além do
manguezal.
Ações voltadas
para conservação,
recuperação e
manutenção do
patrimônio
paisagístico,
equilíbrio
ambiental e
diversidade
biológica.
Controle de
efluentes;
Educação
Ambiental;
Lazer, e
ecoturismo.
Continua
186
UNIDADE
CARACTERÍSTICAS
NATURAIS
DOMINANTES
POTENCIALI-
DADES
LIMITAÇÕES USO ATUAL
IMPACTOS
VERIFICADOS
RISCOS
ASSOCIADOS
DIRETRIZES
AMBIENTAIS
Planícies
Fluviais,
Flúvio
lacustres
e várzeas
Áreas de acumulação
com sedimentos
quaternários de
constituição litológica
areno-argilosa mal
selecionados, de
granolumetria fina a
grosseira. Bom potencial
de águas subterrâneas.
Os Neossolos Flúvicos
apresentam boa
fertilidade natural. Em
alguns trechos de alto
médio curso forma uma
planície bastante
estreita. Regime fluvial
intermitente que se
encontra perenizado em
razão dos barramentos
feitos à montante. A
topografia é plana com
grandes áreas de
espraiamento no médio
curso do rio principal.
Disponibilidade
hídrica
superficial e
sub-superficial;
Patrimônio
paisagístico;
Pesca
artesanal;
Agricultura de
subsistência;
Mineração
controlada;
Ecoturismo.
Áreas de APP;
Inundações
periódicas;
Baixo suporte
para
edificações;
Limitações à
mecanização;
Drenagem
imperfeita dos
solos;
Expansão
urbana.
Agroextrativismo;
Mineração
clandestina;
Ocupação
urbano-industrial
bastante
pronunciada;
Remoção quase na
totalidade da mata
ciliar;
Ocupação urbana e
industrial desordenada;
Despejo de efluentes
industriais e
residenciais;
Aterro Sanitário;
Poluição dos solos;
Aumento das áreas
inundáveis;
Redução da
biodiversidade;
Elevado grau de
degradação ambiental,
principalmente nas
áreas urbanas.
Enchentes e
inundações
ocasionadas
principalmente por
aterros e
assoreamentos das
zonas que
amorteciam os
efeitos das chuvas, e
aumento da
velocidade do
escoamento
superficial pela
retirada da cobertura
vegetal e aumento
das áreas
impermeabilizadas.
Programa de
recomposição das
matas ciliares;
Redução da
impermeabilização
dos solos;
Retirada das
ocupações de
risco;
Programa de
monitoramento da
qualidade das
águas;
Limpeza e
saneamento das
áreas próximas
aos recursos
hídricos; e
Repovoamento
dos ambientes
aquáticos com
alevinos.
Continua
187
UNIDADE
CARACTERÍSTICAS
NATURAIS
DOMINANTES
POTENCIALI-
DADES
LIMITAÇÕES USO ATUAL
IMPACTOS
VERIFICADOS
RISCOS
ASSOCIADOS
DIRETRIZES
AMBIENTAIS
Tabuleiros
Pré-
litorâneos
Depósitos sedimentares
tercio-quaternários da
Formação Barreiras.
Trata-se de ambiente de
transição entre o litoral e
a Depressão Sertaneja. O
relevo é plano em forma
de rampa, com suave
inclinação em direção ao
litoral. O regime fluvial é
perene com padrão de
drenagem paralela, fraco
poder de entalhe. Solos
originalmente recobertos
por mata de tabuleiros
bastante
descaracterizada e um
remanescente de cerrado
cercado pela intensa
ocupação urbana. Grande
quantidade de lagoas
perenes e intermitentes
ligadas originalmente por
uma série de canais que
se encontram fortemente
alterados.
Agro-
extrativismo;
Expansão
urbana e viária
controlada;
Potencial
aqüífero;
Agricultura de
subsistência;
A principal
limitação
desse
ambiente
refere-se a
deficiência
hídricas
durante a o
período de
estiagem;
Ocupação
urbano-industrial;
Agroextrativismo;
Agricultura de
subsistência;
Mineração
clandestina e
licenciada;
Desencadeamento de
processos erosivos em
áreas fortemente
degradas;
Impermeabilização dos
solos pode
comprometer os
aqüíferos;
Poluição hídrica,
atmosférica e sonora;
Irracionalidade no uso
e ocupação do solo.
Os riscos se referem
às Inundações e
enchentes,
principalmente por
aterros e
assoreamentos que
impedem a
acumulação do
excedente hídrico,
assim como o
aumento da
velocidade das
águas pela
impermeabilização
dos solos e a
transmissão de
doenças pelos
recursos hídricos.
Adoção de
práticas
conservacionistas
para o uso e
ocupação da terra;
Proteção de
mananciais;
Gerenciamento e
manejo adequado
dos recursos
hídricos;
Expansão do
sistema de
saneamento
básico.
Continua
188
UNIDADE
CARACTERÍSTICAS
NATURAIS
DOMINANTES
POTENCIALI-
DADES
LIMITAÇÕES USO ATUAL
IMPACTOS
VERIFICADOS
RISCOS
ASSOCIADOS
DIRETRIZES
AMBIENTAIS
Depressão
Sertaneja
Superfície plana,
rampeada com caimento
topográfico em direção
aos fundos de vales,
formadas por rochas do
embasamento cristalino.
A drenagem é densa com
padrão dendrítico de
regime intermitente
sazonal interrompida
pelos barramentos à
montante. Potencial
hidrogeológico baixo em
razão da alta
impermeabilidade dos
solos revestidos por
caatingas de variados
padrões fisionômicos.
Expansão
urbana e
viária;
Instalações
industriais;
Mineração
controlada de
matérias de
uso imediato
na construção
civil;
Manejo
ambiental da
fauna e flora.
Baixo
potencial
hídrico
superficial e
subterrâneo;
Agricultura;
Degradação
dos recursos
ambientais;
Agricultura de
subsistência;
Atividades agro-
silvo pastoris;
Mineração;
Ocupação urbana
e industrial.
Remoção da cobertura
vegetal;
Degradação dos
recursos naturais;
Mineração
descontrolada;
Perda da
biodiversidade;
Degradação
paisagística;
Poluição dos recursos
hídricos;
Desencadeamento de
processos erosivos.
Inundações e
enchentes;
Quedas de blocos
dos relevos
residuais.
Recuperação de
terras e da
biodiversidade;
Redução da
degradação;
Continua
189
UNIDADE
CARACTERÍSTICAS
NATURAIS
DOMINANTES
POTENCIALI-
DADES
LIMITAÇÕES USO ATUAL
IMPACTOS
VERIFICADOS
RISCOS
ASSOCIADOS
DIRETRIZES
AMBIENTAIS
Maciços
Residuais
Composto por rochas
pré-cambrianas
ortoderivadas de
natureza granitóide-
migamatítica. Trata-se
de um típico relevo
resultante dos processos
da erosão diferencial.
Apresenta melhores
condições climáticas,
devido ao relevo e
posição geográfica em
relação ao litoral, que
ocasiona chuvas
orográficas. A rede de
drenagem apresenta
grande capacidade
energética, com vales
em forma de “V” ou
ligeiramente alargados
nos setores de topografia
mais suaves. Solos são
profundos, recobertos
com mata úmida nos
setores mais elevados e
caatingas nas vertentes
inferiores na zona de
transição com as
caatingas.
Boa fertilidade
natural dos
solos;
Favorável a
atividades de
mineração em
alguns setores
da Serra;
Maior
disponibilidade
hídrica em
virtude das
melhores
condições
climáticas;
Ecoturismo;
Áreas
legalmente
protegidas;
Declividade
das encostas;
Forte
susceptibilidad
e à erosão;
Impedimentos
à
mecanização;
Unidades de
Conservação;
Agroextrativismo;
Atividades de
turismo ecológico;
Mineração de
matérias de uso
imediato na
construção civil;
Ocupação irregular de
áreas com forte
declividade;
Culturas inadequadas
para declividade;
Mineração
desordenada;
Os riscos estão
relacionados aos
movimentos de
massa, com
deslizamentos,
solifluxão e
rolamentos de
blocos rochosos nas
vertentes mais
íngremes,
ocasionados
principalmente pela
retirada da cobertura
vegetal.
Ações de manejo
adequadas para
garantir a
preservação da
flora e fauna;
Execução do
Plano de Manejo
na APA;
Obediência às
restrições
impostas pela
legislação
ambiental;
Implementação e
manutenção de
um programa de
turismo ecológico.
Fonte: xxxxx
190
7.4. Subsídios ao Zoneamento Ecológico-Econômico
As Unidades de Intervenção são áreas definidas e delimitadas com
base nos sistemas ambientais em função da capacidade de suporte de cada
sistema (AAE-CIP, 2005 e ZEE-Castanhão, 2006). Como dito anteriormente a
capacidade de suporte é definida a partir das potencialidades e limitações dos
sistemas ambientais, fundamentadas primordialmente nas condições
ecodinâmicas e por conseguinte, na vulnerabilidade ambiental presente em
cada sistema ambiental.
A definição das Unidades de Intervenção é o elemento básico da
partição do espaço geográfico (MMA, 2001). Ante o exposto a definição-
delimitação das unidades de intervenção são etapas fundamentais para
execução de um Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE.
Levando-se em consideração esses preceitos retromencionados e com
base nos critérios estabelecidos foram definidas três categorias de unidades de
intervenção, a saber: Áreas frágeis, Áreas medianamente frágeis e Áreas
estáveis.
Áreas Frágeis
As áreas frágeis são representadas pelas áreas dotadas de
ecodinâmica de ambientes fortemente instáveis. A definição dessas áreas,
considera também, as limitações impostas pela Legislação Ambiental,
notadamente as Áreas de Preservação Permanente e Unidades de
Conservação.
Constituem essas Unidades de Intervenção as áreas legalmente
protegidas e os ambientes frágeis da planície litorânea, com faixa praial, campo
de dunas móveis e fixas, planícies flúvio-marinha, planícies ribeirinhas e
lacustres, além dos setores mais íngremes das cristas e maciços residuais,
como ocorre na Serra da Aratanha e no Ancuri.
Áreas Medianamente Frágeis
191
São compostas pelas áreas que apresentam ecodinâmica de
ambientes de transição, onde há frágil equilíbrio entre as condições de
morfogênese e pedogênese. Esses ambientes podem ser, sobremaneira,
influenciados pelas atividades socioeconômicas e por isso mesmo requerem
critérios específicos de uso e ocupação do solo para que o equilíbrio ambiental
não seja alterado.
Essas áreas são constituídas, principalmente, por setores das planícies
fluviais, áreas de inundação sazonal, patamares mais rebaixados e com menor
declividade dos maciços e cristas residuais, dunas dissipadas e setores mais
abrigados das cheias nas planícies fluviais e lacustres.
Áreas Estáveis
As áreas estáveis estão representadas pelos ambientes
ecodinamicamente em equilíbrio, ou seja, onde não há maiores problemas de
uso e ocupação do solo, face às atividades produtivas. São ambientes, via de
regra, mais antigos onde a estabilidade morfogenética é nítida. Essas áreas
não apresentam maiores problemas para o desenvolvimento de atividades
agrícolas. A limitação é apresentada em função das características
edafopedológicas e disponibilidades hídricas.
Os ambientes que se enquadram nessa categoria não apresentam
maiores problemas para instalação de grandes equipamentos industriais e de
expansão da malha viária e urbana. Fazem parte dessa unidade os setores
mais abrigados da depressão sertaneja e os tabuleiros pré-litorâneos.
Como forma de facilitar a leitura cartográfica, o mapa de unidades de
intervenção (figura 58), apresenta essas três categorias de unidades
representadas conforme as cores: vermelho para as áreas frágeis, amarelo
para as medianamente frágeis, e verde para as áreas estáveis.
192
Figura 58: Mapa de Unidades de Intervenção
193
8. Conclusões e Recomendações
Apesar de sua pequena dimensão territorial a bacia hidrográfica do rio
Cocó apresenta significativa diversidade de sistemas ambientais, o que confere
grandes potencialidade paisagísticas, e disponibilidade de recursos ambientais.
Porém, o acelerado processo de urbanização verificado na cidade de Fortaleza
e sua região metropolitana desencadeou uma série de transformações no
espaço em estudo.
Em alguns setores essas transformações acarretaram uma série de
impactos sócio-ambientais que excederam a capacidade de suporte dos
sistemas ambientais, desencadeando mudanças significativas na dinâmica da
paisagem e comprometimento dos recursos ambientais como verificado nas
áreas mais urbanizadas, principalmente na cidade de Fortaleza.
Esse quadro de degradação é fortemente influenciado pela ausência
de fiscalização ambiental, tanto que verifica-se o desenvolvimento de
atividades de grande impacto em desconformidade com as licenças de
operação e praticadas de forma clandestina, como mineração e produção de
carvão vegetal.
O problema de maior magnitude é o uso e ocupação desordenados do
solo. A situação é mais grave em áreas urbanas, principalmente nos ambientes
dotados de maior vulnerabilidade ambiental, como as planícies, áreas de
inundação e os terrenos inconsolidados da planície litorânea. É nessas áreas,
que via de regra, estão localizadas as áreas de risco. Conforme visto
anteriormente, existem 37 áreas de risco na bacia do Cocó somente em
Fortaleza, atingindo diretamente, 8.660 famílias, ou seja, mais de 36.372
pessoas estão susceptíveis à incidências de riscos ambientais.
Apesar de todos os problemas verificados ao longo do trabalho, alguns
setores apresentam boas condições de conservação dos recursos ambientais,
como nas áreas mais íngremes e de cimeira da Serra da Aratanha, nas áreas
de APPs e imediatamente à jusante do reservatório do açude Gavião, e em
setores do Parque Ecológico do rio Cocó, dunas da Sabiaguaba e Praia do
Futuro. A manutenção desses sistemas é possível, porém para tanto, é preciso
a adoção de medidas conservacionistas, que além auxiliar na sustentabilidade
194
ambiental dessas áreas favorece o desenvolvimento de atividades
socioeconômicas sustentáveis. Essas medidas corretamente implementadas
constituem-se em excelente oportunidade para geração de emprego e renda
para as populações tradicionais, principalmente atividades relacionadas ao
manejo e conservação dos recursos naturais e turismo ecológico.
O desenvolvimento de práticas de educação e interpretação ambiental
são favorecidas pela existência de um significativo número de unidades de
conservação. Essas, porém, necessitam de maior articulação entre os
diferentes órgãos ambientais e desses com a sociedade civil, principalmente
com as populações residentes nas unidades e seu entorno. É urgente a
execução de plano de manejo para as U.Cs, visto que, nenhuma delas possuir
tal instrumento técnico.
Ante o exposto ao longo do trabalho fica evidenciada a importância
ambiental da bacia do rio Cocó, que é fortemente reforçado pelo seu caráter
estratégico no contexto estadual e principalmente para a RMF, visto que é nela
que se encontra a ETA-Gavião que é responsável pelo abastecimento de toda
a cidade de Fortaleza e parcela significativa de sua região metropolitana. Ante
essas prerrogativas faz-se necessário a adoção de medidas que proporcionem
a mitigação dos impactos negativos oriundos das atividades socioeconômicas.
Neste sentido sugere-se que sejam adotadas as seguintes ações estratégicas:
¾ Execução de Zoneamento Ecológico-Econômico para a bacia do rio
Cocó. Tal zoneamento deve seguir as diretrizes estabelecidas no
Programa ZEE Brasil (MMA), com um diagnóstico detalhado das
condições geoambientais e socioeconômicas. Os recursos naturais
devem ser profundamente avaliados, levando-se em consideração suas
potencialidades e limitações, e consequentemente a vulnerabilidade
ambiental face às atividades socioeconômicas para identificação de
usos compatíveis com a conservação dos recursos naturais e com o
desenvolvimento socioeconômico.
¾ Instituir Unidade de Conservação de Proteção Integral no remanescente
da vegetação de cerrado existente no bairro Cidade dos Funcionários –
Fortaleza. Nesse caso em especial, sugere-se, a criação de um Refúgio
195
da Vida Silvestre (RVS). Essa categoria tem por objetivo básico
proteger/abrigar espécies raras da biota local e regional. Essa categoria
de manejo atende perfeitamente a área, visto se tratar de um dos
poucos remanescentes da vegetação de cerrado existente na RMF e o
único no município de Fortaleza-Ce.
¾ Criar Unidade de Conservação na reserva de mata de tabuleiro existente
no re-assentamento Curió. Embora os tabuleiros sejam o sistema
ambiental de maior representatividade espacial na bacia hidrográfica do
rio Cocó, esses encontram-se fortemente alterados pelas intervenções
oportunizadas pelas atividades socioeconômicas. Nesse contexto os 52
hectares de vegetação preservada de tabuleiros no Curió assumem
significativa importância no contexto da bacia em estudo e da RMF.
Além de assegurar a preservação/conservação desse ambiente a
criação de uma U.C favorece o desenvolvimento de atividades de lazer e
práticas de educação e interpretação ambiental. Outro aspecto positivo
para essa realização é a oportunidade de geração de emprego e renda
para as famílias residentes no re-assentamento Curió. Ante o exposto,
sugere-se a Criação de um Parque Natural Municipal.
¾ Criação de Unidade de Conservação de Uso Sustentável no campo de
dunas da Praia do Futuro. Alguns setores das dunas da Praia do Futuro
apresentam bom estado de conservação com recobrimento vegetal
primário, ou em fase de regeneração. Embora sejam áreas de grande
importância ambiental, a criação de uma U.C de proteção integral torna-
se inviável, devido à quantidade de parcelamentos aprovados na área e
seu elevado valor comercial. Nesse sentido, faz-se premente a
compatibilização da conservação desse sistema ambiental com os
processos de uso e ocupação, sugerindo-se a criação de uma Área de
Relevante Interesse Ecológico (ARIE).
¾ Criação de corredor ecológico no Rio Cocó, que poderá constituir um
eficiente mecanismo de gestão e conservação dos recursos naturais, na
medida em que pode-se integrar às unidades de conservação existente
196
num grande mosaico, assegurando a manutenção desse sistema fluvial
desde as nascentes na APA Serra da Aratanha até sua foz com o
Parque Ecológico do rio Cocó e APA da Sabiaguaba.
¾ Implantar unidade de conservação na Lagoa da Precabura. Devido à
grande extensão territorial da lagoa e por estar na jurisdição de três
municípios (Eusébio, Aquiraz e Fortaleza) essa U.C deve ser estadual
ou federal. Deve ser instituída, porém, em articulação com as prefeituras
envolvidas. Essa necessidade é urgente face ao acelerado processo de
ocupação verificado na região. Acredita-se que a instituição de uma APA
atende aos objetivos conservacionistas capazes de assegurar a
manutenção de tão importante ambiente lacustre.
¾ Elaborar os Planos de Manejo das U.C´s já implementadas e das que
venham a ser instituídas. O referido plano é de fundamental importância,
visto que o mesmo é norteador do uso dessas unidades,
independentemente da categoria de manejo. A elaboração desse
documento é urgente visto que nenhuma unidade existente na bacia em
estudo dispõe do plano e todas sofrem fortemente com as pressões
exercidas pelo processo de uso e ocupação do solo.
¾ Promover a efetiva gestão das Unidades de Conservação através de
articulação entre os órgãos gestores das unidades e das três esferas
governamentais com a sociedade civil. Essa etapa é premente,
principalmente face à existência de U.C´s estaduais e municipais no
espaço que extrapola os limites da bacia do rio Cocó e abre caminho
para criação de um mosaico de Unidades de Conservação.
¾ Criação de Mosaico de Unidades de Conservação no setor Leste de
Fortaleza, abrangendo unidades de conservação já criadas e as
sugeridas na presente pesquisa. Neste sentido o Mosaico seria
composto pelas seguintes unidades já existentes: Parque Ecológico do
Rio Cocó (Decreto Estadual nº20.253/1989 e 22.587/1993); APA da
Sabiaguaba (Decreto Municipal nº 11.987/2006); Parque Natural
197
Municipal das Dunas de Sabiaguaba (Decreto Municipal nº
11.1986/2006); APA do Rio Pacoti (Decreto Estadual nº 25.778/2000)
Corredor Ecológico do Rio Pacoti ( 25.777/2000). O Mosaico seria
complementado com a APA da Serra da Aratanha e a criação de outras
quatro Unidades de Conservação que são: APA da Lagoa da Precabura;
Corredor Ecológico do rio Cocó; ARIE das Dunas da Praia do Futuro;
Parque Curió; Corredor Ecológico Precabura-Curió; e outra U.C na orla
de Aquiraz (mapa em anexo).
¾ Proceder a recuperação do manguezal do rio Cocó. Para tanto faz-se
necessário a adoção de uma série de medidas, dentre as quais, pode-se
citar o re-povoamento com espécies de mangue, e o seccionamento das
avenidas Sebastião de Abreu, Engenheiro Santana Júnior e General
Murilo Borges. O seccionamento é imprescindível, à medida em que as
referidas obras servem de barragem e consequentemente impedem a
passagem da cunha salina na preamar, acarretando uma série de
problemas à montante, notadamente a mortandade do mangue e
magnificação das cheias.
¾ Elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana para Fortaleza e sua
região metropolitana. Um plano de drenagem urbana visa estabelecer
medidas estruturais e principalmente não estruturais para facilitar a
infiltração e o escoamento das águas pluviais, reduzindo assim os
efeitos negativos das cheias e a incidência de riscos sócio-ambientais.
¾ Alteração na Lei de Uso e ocupação do solo para que empreendimentos
acima de 5.000m² tenham planos objetivando a redução da área
impermeabilizada e do escoamento superficial. Para tanto, devem ser
adotadas uma série de medidas não estruturais como canteiros não
impermeabilizados, jardins e outros mecanismos visando aumentar os
índices de infiltração. Faz-se necessário também a adoção de medidas
estruturais como a construção de áreas de estabilização e reservatórios
para conter as ondas de cheias.
198
¾ Elaboração de Plano de Redução de Riscos para a RMF, com ênfase
nos riscos ambientais nas planícies fluviais e lacustres, flúvio-marinhas e
áreas de inundação sazonal. Tal plano deve prever a adoção de
medidas quando da incidência de chuvas concentradas, remoção das
famílias que ocupam as áreas de risco e principalmente identificar as
áreas que não devem ser ocupadas sob a iminência de riscos.
¾ Promover a recuperação de áreas de risco situadas ao longo dos corpos
hídricos ou de suas planícies de inundação. Essa ação é emergencial
dado o elevado número de áreas de risco existentes. Porém, além da
remoção dessas famílias, deve-se proceder a recuperação ambiental
dessas áreas para assegurar que as mesmas não venham a ser
novamente ocupadas. A execução dessa remoção deve levar em conta
os preceitos estabelecidos no estatuto da cidade, principalmente no que
concerne ao direito à moradia.
Embora a bacia hidrográfica do rio Cocó conte com um longo histórico
de agressões que comprometeram sobremaneira os recursos naturais
existentes, a bacia em apreço apresenta-se em alguns setores com elevado
grau de conservação que podem favorecer o estabelecimento de uma nova
relação entre sociedade e natureza, compatibilizando o desenvolvimento das
atividades socioeconômicas com a conservação/preservação ambiental. Para
que esse estágio seja atingido faz-se necessária uma mudança de postura,
focada num desenvolvimento sustentável visando assegurar um meio ambiente
equilibrado para as presentes e futuras gerações.
199
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Ecossistemas Associados – Fortaleza/CE. Equipe técnica: MEIRELES, Antonio
Jeovah de Andrade; BEZERRA, Cláudio. A. B; RODRIGUES, Hélio Alves;
SANTOS, Jader de Oliveira; UCHOA, José Wilson.
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BEZERRA, Cláudio. A. B; RODRIGUES, Hélio Alves; SANTOS, Jader de
Oliveira; UCHOA, José Wilson. Fortaleza, 2005.
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proteção dos recursos hídricos de Fortaleza e sua Região Metropolitana.
Decreto Estadual Nº 2.253/1989. Cria o Parque Ecológico do Rio Cocó.
Decreto Estadual Nº 22.587/1993. Amplia o Parque Ecológico do Rio Cocó.
Decreto Estadual Nº 24.220, que cria as REPS
Decreto Estadual Nº 24.959/1998. Cria a APA da Serra da Aratanha.
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Decreto Federal Nº 4.613, de 11.3.2003. Regulamenta o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, e dá outras providências
Decreto Federal Nº 4.613/03 que regulamenta o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos e dá outras providências.
Decreto Federal Nº. 4.430/2002. Regulamenta o SNUC
Decreto Municipal n 11.986/2006. Cria o Parque Natural Municipal das Dunas
de Sabiaguaba.
206
Decreto Municipal Nº 11.987/2006. Cria a Área de Proteção Ambiental da
Sabiaguaba.
Decreto Municipal Nº 21.349/91. Cria a Lagoa da Maraponga
Decreto Municipal Nº 7.302/1986. Cria a Área de Preservação Ambiental do
Rio Cocó.
Lei Estadual Nº 11.996 de 24 de junho de 1992 - Plano Estadual de Recursos
Hídricos
Lei Estadual Nº 10.147/77. Disciplina o uso do solo para a proteção dos
mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos para a
Região Metropolitana de Fortaleza.
Lei Estadual Nº 12.488/1995. Cria a Política Florestal do Estado do Ceará
Lei Estadual Nº 12.552/1995. Estabelece como áreas especialmente protegidas
as nascentes e olhos d`água situadas no Estado do Ceará.
Lei Federal Nº 4.771/65. Estabelece o Código Florestal Brasileiro.
Lei Federal Nº 9.433/1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e
cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
Lei Federal Nº 9.985/2000. Cria o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação.
Lei Municipal Nº 7.004/1991. Cria o Parque Ecológico do Lago Jacarey
Lei Municipal Nº 7.524/1994. Cria a APA da Lagoa de Messejana
Lei Municipal Nº 7.728/1995 Parque Ecológico da Lagoa de Porangabuçu
Portaria SEMACE Nº 031/97. Reconhece a Reserva Ecológica Particular da
Lagoa da Sapiranga.
Resolução CONAMA Nº. 303/2002
Resolução CONERH Nº 003/2002.
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208
Anexos
209
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211
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