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privilegiar a escrita. Entre o que o autor traz e o que nega, constitui sua identidade e a
partir do momento que recontam, reafirmam a identidade cultural, construindo um espaço
de representação das relações na sociedade dos negros e mestiços. Bhabha nos
esclarece:
O trabalho fronteiriço da cultura exige um encontro com “o novo” que não seja parte do
continuum de passado e presente. Ele cria uma idéia do novo como ato insurgente de
tradução cultural. Essa arte não apenas retoma o passado como causa social ou
precedente estético; ela renova o passado, refigurando-o como um “entre-lugar”
contingente, que inova e interrompe a atuação do presente. O “passado-presente” torna-
se parte da necessidade, e não da nostalgia, de viver.” (1998, p27)
Ressaltamos também que as vozes que permeiam os romances pertencem aos
narradores, mas ainda apresentam inferências de outras vozes através de diálogos, pois
“os personagens não são objetos do discurso do autor, mas sim sujeitos de seu discurso”
(BAKHTIN, 1981 p.2 Apud MACHADO, 1995, p.93), caracterizando como romances
polifônicos que
somente por ser representação de idéias em confronto, o romance polifônico pôde se
oferecer como conversa e discussão, em que “cada opinião se torna de fato um ser vivo e
inseparável da voz humana materializada” (M. Bakhtin, 1981:11) É desse modo que o
romance não só se define enquanto voz, como representação do homem que fala,
conversa e discute idéias, como também se insere na “continuidade à linha dialógica na
evolução da prosa ficcional européia”. Bakhtin considera “a criação do romance polifônico
em um imenso avanço não só na evolução da prosa ficcional do romance, ou seja, de
todos os gêneros que se desenvolvem na órbita do romance, mas, generalizando,
também na evolução do pensamento artístico da humanidade” (M. Bakhtin, 1981:237).
Por isso enquanto gênero se coloca no limiar do processo de prosificação da cultura.
(MACHADO, 1995, p. 93-94)
Identificamos que os romances contemporâneos tornam-se expressão cultural, e
o papel do autor não é mais o único criador, “mas autores-sujeitos cujos discursos se
apresentam em constante interação.” (MACHADO, 1995, p. 94)
Por meio da oralidade, os narradores carregam o texto com expressões
angolanas, tornando natural o discurso da cultura representado pela língua de sua nação,
como “aliconde”, “arimo”, “dongo”, “jindungo”, “imbamba”, “kilombo”, “mukulunto”,
“njango”, “pumbeiro” entre outras, mas sendo considerada Literatura de Expressão