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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
ANÁLISE DA PREDAÇÃO DE
Puma concolor
EM
REBANHOS DOMÉSTICOS NA REGIÃO DO PARQUE
NACIONAL DE SÃO JOAQUIM E ENTORNO, SC, BRASIL.
LUIZ GUILHERME MARINS DE SÁ
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PORTO ALEGRE, OUTUBRO DE 2005
ANÁLISE DA PREDAÇÃO DE
Puma concolor
EM REBANHOS
DOMÉSTICOS NA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DE SÃO
JOAQUIM E ENTORNO, SC, BRASIL,
LUIZ GUILHERME MARINS DE SÁ
DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA COMO REQUISITO
PARCIAL À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM
ECOLOGIA.
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ECOLOGIA TERRESTRE.
ORIENTADORA: PROFA. DRA. SANDRA MARIA HARTZ
COMISSÃO EXAMINADORA
PROF. DR. ANDREAS KINDEL
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PROF. DR. MARCELO ABREU DA SILVA
PROF. DR. PETER GRANSDEN CRAWSHAW JR.
PORTO ALEGRE, OUTUBRO DE 2005.
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AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas me ajudaram no processo de produção desta dissertação,
das maneiras mais diversas.
Primeiramente, quero agradecer à minha família, que têm me dado suporte
ao longo de todos esses anos. Meu pai Mário, minha mãe Regina, minha tia Zéka,
minhas irmãs Roberta e Renata e minha prima Mariana sempre me deram força,
incondicionalmente, não importava o que eu quisesse. Até mesmo morar na
cidade mais fria do Brasil!
Não posso, de maneira alguma, deixar de agradecer à minha sogra do
coração, Carla Schlieper de Castilho, pelo incomensurável amor em seu coração e
pela desmesurada confiança na minha pessoa.
Depois destas pessoas, tem uma quantidade imensa de pessoas que
contribuíram com este trabalho. Algumas, pelo simples fato de acreditarem em
mim e no trabalho em si. Paulo Fernando Meliani e Andrei Langeloh Roos, Cláudio
Henschel de Matos e Maurício Gil Viana, amigos de muuuuito tempo. Roberto
Fusco Costa, Vitor Piacentini de Queiroz, Rafael Engelmann Machado e Juliano
Morales de Oliveira são irmãos e amigos que merecem todo o meu respeito e
agradecimento.
v
Aos amigos e conterrâneos de Urubici, Juan Rivas Beasley, Gisele
Carreres, Jordan Paulo Wallauer, Martha Tresinari Bernardes Wallauer, Sônia
Emmerich e Walter Emmerich pelas incontáveis horas de descontração, amizade e
comprometimento com uma vida melhor.
Aos amigos de longa data Jordan Paulo Wallauer e Martha Tresinari
Bernardes Wallauer, que me trouxeram inspiração e sabedoria no decorrer do
caminho. O tempo passa e nossa amizade se torna cada vez mais rica!
Muitas pessoas me receberam de braços abertos em Urubici. Seu Hamilton
Firmino e Dona Rose foram, de longe, os mais generosos. Sua confiança e
amizade foram uma força impulsora muito forte. Obrigado por confiarem em mim.
Além deles, Seu Tito Costa e Dona Olívia também foram maravilhosos. Álvaro
Costa cuidou muitas vezes de meus cachorros e, por isso, pude viajar bastante.
Obrigado, Álvaro.
Toda a equipe do Parque Nacional de São Joaquim foi muito receptiva.
Edison Plinio de Moraes, Marcelino Costa Filho, Michel Tadeu R. N. de Omena e
Isaac Simão Neto são pessoas de muito bom coração e de uma coragem infinita.
Minha querida orientadora Profa. Dra. Sandra Maria Hartz, pela imensa
paciência, amizade, gentileza e, acima de tudo, extrema compreensão. Sandra,
muito obrigado por tudo!
Ao CNPq pela bolsa de estudo concedida.
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A The Nature Conservancy do Brasil (TNC/Brasil) pelo financiamento tão
oportuno.
A todos os professores da Programa de Pós-Graduação em Ecologia, em
especial à coordenadora Profa. Dra. Sandra Maria Hartz, aos colegas do
Laboratório de Ecologia Terrestre pela convivência no primeiro ano.
Ao Laboratório de Geoprocessamento, em especial ao Prof. Henrich
Hasenack, Carlos Sarmento e Márcia Colares.
Existe uma pessoa que merece, senão todo, quase todo o mérito desse
trabalho. Minha amada Camila, sem a tua presença (meu grilo falante), não teria
ido tão longe. Obrigado! Amo-te!
Este trabalho não seria possível sem a permissão dos proprietários de
terras na região de Urubici. Muito obrigado por me receberem em suas fazendas.
Meus agradecimentos finais são para os leões-baios, animais belos,
fascinantes e intrigantes.
vii
Análise da predação de Puma concolor em rebanhos domésticos na região do Parque
Nacional de São Joaquim e entorno, SC, Brasil.
RESUMO
Autor: Luiz Guilherme Marins de Sá
Orientadora: Profa. Dra. Sandra Maria Hartz
A predação de rebanhos domésticos por predadores silvestres é o conflito mais intenso
entre seres humanos e animais silvestres por causa do prejuízo econômico. A solução
encontrada pelos fazendeiros é o abate do predador, causa principal de mortalidade destes
animais ao redor do mundo. Para compreender melhor as variáveis ambientais relacionadas
a este conflito na região do Parque Nacional de São Joaquim, SC, Brasil, e entorno, foram
visitadas propriedades que registraram a presença de leões-baios (Puma concolor) e
propriedades que sofreram perdas para este animal durante o ano de 2004. Informações
relacionadas ao manejo utilizado com os rebanhos e com a área da fazenda foram coletadas
e analisadas conjuntamente com dados provenientes de geoprocessamento (cobertura
florestal, altitude, declividade, distância de corpos hídricos e de estradas) mostrando que o
manejo utilizado com os rebanhos na área de estudo potencializa os eventos de predação
de rebanhos domésticos pelo felídeo em questão. Melhorias no manejo dos rebanhos e das
propriedades, diminuição da caça de animais silvestres e a proteção dos fragmentos
florestais são ações que, considerando a regionalidade do conflito, podem reduzir os
índices de predação. Agências ambientais federais e estaduais tem papel importante na
disseminação de informações a respeito da ecologia dos predadores, fornecendo subsídios
para os proprietários melhorarem o manejo de seus rebanhos e propriedades. Órgãos
extensionistas devem planejar e implantar programas de apoio com técnicas adequadas de
manejo das propriedades visando a conservação do meio ambiente.
viii
Analysis of livestock depredation by mountain lions in São Joaquim National Park and
surroundings, SC, Brazil.
ABSTRACT
Author: Luiz Guilherme Marins de Sá
Supervisor: Profa. Dra. Sandra Maria Hartz
Livestock depredation by wild predators is the most intense conflict between human and
wildlife, due to economic losses. Farmers try to solve this by killing the predator, which is
the major cause of death of mountain lions all over the world. Attempting to understand
the environmental factors related to this conflict in São Joaquim National Park, SC, Brazil,
and surroundings, farms with mountain lions (Puma concolor) and farms with livestock
depredation by mountain lions were surveyed in 2004. Data related to livestock and farm
management were gathered and analyzed along with landscape data (forest cover,
elevation, terrain slope, water and road distances), showing that livestock management in
the study area may increase livestock depredation by mountain lions. Livestock and farm
management improvements, reduction on wildlife hunting and forest fragments protection
are actions that can decrease the livestock depredation. Federal and state environmental
agencies should play a very important role on the dissemination of the information about
predator ecology, helping landowners to improve livestock and farm management.
Extension agencies should plan and implant support programs with adequate farm
management techniques, taking into consideration environmental conservation.
SUMÁRIO
ix
1. Introdução..........................................................................................................................1
1.1 Justificatica...........................................................................................................8
1.2. Objetivos............................................................................................................12
2. Material e Métodos...........................................................................................................13
2.1. Área de
Estudo...................................................................................................13
2.2. Métodos.............................................................................................................18
2.2.1. Coleta de Dados..................................................................................18
2.2.2. Geoprocessamento..............................................................................19
2.2.3. Análise dos Dados..............................................................................20
3. Resultados........................................................................................................................21
3.1. Questionários.....................................................................................................21
3.2. Geoprocessamento.............................................................................................28
3.3. Análise dos Dados.............................................................................................32
4. Discussão..........................................................................................................................36
4.1. Recomendações.................................................................................................43
5. Referências
Bibliográficas................................................................................................45
6. Anexos..............................................................................................................................54
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização do Parque Nacional de São Joaquim (SC) no Brasil e no estado de
Santa Catarina........................................................................................página 17
Figura 2. Imagem de satélite da região geográfica do Parque Nacional de São Joaquim,
SC, e entorno..........................................................................................página 29
Figura 3: Análise de ordenação dos pontos de predação.........................................página
32
Figura 4: Análise de agrupamento dos pontos de predação....................................página 33
Figura 5: Nitidez e suficiência amostral..................................................................página 35
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Informações sobre área da fazenda, tipo de rebanho, número de cabeças,
quantidade predada e manejo utilizado em cada rebanho para as propriedades
existentes no Parque Nacional de São Joaquim, SC..............................página 23
Tabela 2: Registro de animais predados nos rebanhos domésticos do Estado de Santa
Catarina, durante dez anos.....................................................................página 24
Tabela 3. Informações sobre os pontos de ocorrência de predação de leões-baios a
rebanhos domésticos no Parque Nacional de São Joaquim, SC, e entorno
durante o período de janeiro de 2004 a março de 2005.........................página 30
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: Ficha de entrevista utilizada no trabalho de campo..................................página 54
Foto 1: Fotografia do chiqueiro da propriedade SB. No detalhe, um suíno escondido na
vegetação................................................................................................página 55
Foto 2: Cachorro doméstico mal alimentado...........................................................página 55
1
1. INTRODUÇÃO
Conflitos entre seres humanos e animais silvestres podem acontecer de diferentes maneiras
e intensidades. Para essa situação acontecer, três elementos precisam estar presentes: uma
espécie animal causando o dano, um objeto sendo danificado e uma pessoa sendo afetada
por este dano (Conover, 2002). Lavouras, rebanhos domésticos e prédios são os exemplos
mais comuns de objetos danificados, enquanto que a pessoa afetada pelo dano
freqüentemente é o proprietário do objeto danificado, mas pode ser qualquer pessoa da
sociedade. Os danos mais comuns são as perdas financeiras (perda de lavoura, perda de
rebanhos domésticos, etc.) e perda de segurança e qualidade de vida (medo de encontrar
uma cobra no quintal da sua casa, por exemplo) (Conover, 2002; Linnell et al., 1996).
Porém, o prejuízo mais significativo é o financeiro, em especial a predação de rebanhos
domésticos por carnívoros (Linnell et. al. 1999). Esta situação pode ser encontrada em
todo o mundo com alta intensidade (Noss et al., 1996; Primm & Clark, 1996). Entre os
exemplos existentes encontram-se lobos (Canis lupus) e ursos (Ursus spp.) predando
ovelhas na América do Norte e na Europa, leões-baios (Puma concolor) e onças-pintadas
(Panthera onca) predando gado bovino na América do Sul (Quigley & Crawshaw, 1992) e
tigres (P. tigris) e leopardos (P. pardus) predando rebanhos domésticos na Ásia (Jackson
& Nowell 1996; Kaczensky, 1999; Karanth & Madhusudan, 1997). A tendência é de que o
conflito seja mais agudo em locais onde estes animais estiveram ausentes
temporariamente, retornando posteriormente aos seus locais originais (Kaczensky 1999,
Mazzolli 2005, Blanco et al. 1992, Oli et al. 1994, Cozza et al. 1996).
Estes problemas, na sua maioria, são resolvidos de maneira ilegal pelos
proprietários, com o abate do predador (Novaro, 1995; Palomares et al., 1995). O conflito
2
resultante da interação entre predadores e produtores rurais tem sido o principal fator
redutor do número e da distribuição dos carnívoros de porte médio e grande do planeta
(Linnell et al., 1996).
Conforme os esforços conservacionistas obtiveram sucesso e alguns carnívoros
experimentaram aumento tanto de distribuição quanto de densidade, o problema dos
antigos conflitos também retornou. Com isso, estes animais passaram, em alguns lugares,
de pragas a símbolo dos efeitos das mudanças causadas pelo desenvolvimento econômico;
as técnicas de manejo mudaram com o passar do tempo de “atirar no primeiro que passar”
a “proteger a qualquer custo” (Linnell et al., 1996). Infelizmente, nos dias atuais, está se
amplificando a intensidade dos conflitos (Mazzolli, 2005, Linnell et al., 1996).
No sul do Brasil é utilizado o nome popular leão-baio para designar o Puma
concolor (Linnaeus 1771) (Ordem Carnivora, Família Felidae) (Ewer, 1973). Este animal é
o mamífero com a maior distribuição geográfica no continente americano, ocorrendo desde
o Estreito de Magalhães até a região do Yukon canadense (Oliveira, 1994; Iriarte et al.,
1990), e desde o nível do mar até altitudes de 5000 metros (Oliveira, 1994). Nesta ampla
região, a espécie apresenta grande plasticidade comportamental, habitando desde áreas
desérticas até florestas tropicais (Oliveira, 1994). É, sem dúvida, o felídeo americano mais
bem conhecido e com maior informação disponível para as suas subespécies norte-
americanas (Anderson, 1983). Entretanto, existem poucos estudos realizados sobre a
espécie no bioma Mata Atlântica. Em dois destes estudos, realizados em Santa Catarina,
foram amostradas fezes de pumas onde se identificou as seguintes presas: tamanduás,
(Tamandua tetradactyla), tatús (Dasypus novemcinctus), cotias (Dasyprocta azarae) e
coendú (Sphiggurus villosus) (Wallauer et al. 2000). Também foram encontrados restos de
animais domésticos, como ovinos e caprinos (Graipel & Cherem, 1997). No entanto, a
3
grande biodiversidade do ecossistema resulta em um número potencial de espécies de
presas possivelmente muito maior, o que indica a necessidade de estudos mais abrangentes
(Brito, 2000).
É um animal carnívoro, oportunista, que se alimenta das presas disponíveis
(Currier, 1983). O seu hábito alimentar já foi descrito para vários lugares, sendo
amplamente conhecido para a América do Norte. Mamíferos de pequeno e médio porte de
diferentes grupos taxonômicos são presas freqüentes, sendo que os marsupiais, os
lagomorfos e grandes roedores os mais comuns. A média de peso dos vertebrados predados
(MPVP) da América Central (Belize) é de 0,4 kg, enquanto que na América Austral
(Parque Nacional de Torres del Paine, Chile) é de 29 kg, mais de setenta vezes maior
(Iriarte et al., 1990).
No sul do Brasil, existem poucos trabalhos realizados com esse animal (Mazzolli,
1992, 1993, Mazzolli et a1., 1996, 2002; Santos et. al., 2004), se comparados com outras
regiões das Américas.
Em relação a massa corporal dos mamíferos predados, leões-baios podem predar
igualmente nas três categorias de peso (grandes > 15 kg., médios 1-15 kg. e pequenos < 1
kg.). Quando se compara a massa corporal em relação às presas, espera-se que leões-baios
(60-100 kg) predem animais de médio porte. Mas não é o que se observa, pois os leões
predam animais de médio e pequeno porte, e no Pantanal, 96,7% das presas eram de
grande porte (Quigley & Crawshaw, 1992). Levando em conta sua amplitude de
distribuição, é esperado que seus hábitos alimentares também apresentem diferenças de
acordo com a latitude, refletidas no MPVP. Quanto maior a latitude, maior tende a ser a
massa corporal dos leões-baios e das suas presas (Iriarte et al., 1990). Combinado a isso, a
disponibilidade e a vulnerabilidade das presas pode levar aquele animal a predar animais
4
maiores, praticando forrageamento seletivo. A própria disponibilidade de presas pode
condicionar fortemente a seleção das mesmas e o tamanho do corpo dos leões-baios (Iriarte
et al., 1990; Emlen, 1966).
A predação de grandes mamíferos herbívoros não é uma ação recente dos leões-
baios. Há muito tempo atrás, antes da extinção dos grandes ungulados pastadores da
América do Sul (Toxodontia, Litopterna e Gliptodontes), no Pleistoceno, e dos imigrantes
do Plioceno (Proscidea, Perissiodactyla e Artiodactila), o leão-baio convivia com outros
predadores (onças-pintadas, Panthera onca; dentes-se-sabre, Smilodon fatalis, S. gracilis,
Homotherium serum; e uma espécie de guepardo, Miracinoys spectatus) e se alimentava de
presas de grande porte (Cartelle, 1999; MacFadden & Shockley, 1997; Martin, 1967;
Webb, 1978; Morgan & Seymour, 1997). Quando o homem branco chegou a este
continente e começou a criação de rebanhos, os animais domésticos começaram a ser
“oferecidos” aos predadores nativos, além de promoverem profundas transformações no
habitat, necessárias em vista do manejo utilizado (Crosby, 2000). Para o sul da América do
Sul, comenta que:
O primeiro povoado em Buenos Aires malogrou, mas os espanhóis tentaram
novamente, e com sucesso, em 1580. Nesta data, os quadrúpedes europeus, descendentes
de animais desgarrados da primeira colônia ou de animais bravios que vagaram de outros
postos avançados europeus, já estavam presentes em grandes números. As origens das
manadas bravias a leste do Rio da Prata, onde hoje ficam o Uruguai e o Rio Grande do
Sul, também são obscuras... A primeira data confirmável que temos é 1638, quando os
jesuítas abandonaram uma missão naquela área, deixando 5.000 cabeças de gado para
trás...
5
Os fatores que predispõem carnívoros a atacarem animais domésticos podem ser
divididos em duas categorias básicas: a primeira diz respeito ao predador, a segunda ao
proprietário do rebanho. E há entre eles uma interação que pode sustentar o conflito por
um longo período de tempo.
O comportamento inato e/ou aprendido, a saúde e o status social são fatores que
levam o predador a atacar rebanhos domésticos. Através do cuidado maternal, a fêmea de
leão-baio mostra aos filhotes, que a acompanham até 18 meses de idade, como e onde
predar, seja animal doméstico ou silvestre, utilizando seu território para tal fim. Caso
existam rebanhos domésticos compreendidos dentro deste, a chance de serem incluídos
neste processo de aprendizado é real. O comportamento típico de caça do leão-baio é
senta e espera”; existem vários pontos de espera dentro de seu território, os quais ele
visita freqüentemente até obter sucesso. Não empreende grandes corridas atrás da presa,
iniciando o evento de predação assim que a presa está muito próxima, em torno de 5 a 8
metros, arrastando a carcaça para, no máximo, 80 metros de distância do local de predação
propriamente dito (Beier et. al., 1995).
O segundo fator que também diz respeito aos predadores é a sua saúde e status
social. Animais velhos e/ou inaptos (caninos quebrados, problemas de locomoção) podem
passar a predar animais domésticos pela facilidade de obtenção, pois estes estão
desprovidos de defesas anti-predador, resultado da domesticação. A perseguição e abate do
predador pode ser ineficiente pois, como Rabinowitz (1986) notou nos llanos
venezuelanos, os animais abatidos por predação, na grande maioria (76,92%, n=13),
possuíam injúrias no crânio ou no corpo. Caninos quebrados, cicatriz ou pedaços de
chumbo no crânio e no corpo foram os principais ferimentos causados por humanos.
Indivíduos jovens, machos em especial, por estarem cruzando território de outro animal,
6
eventualmente podem predar um animal doméstico, mais uma vez pela facilidade e
vulnerabilidade da presa. Esses indivíduos estabelecem territórios temporários e podem ser
responsáveis por predação em locais outrora sem histórico de predação e depois
continuando a dispersar, abandonando a área (Beier, 1993).
A dispersão é um processo importante na dinâmica populacional destes felinos,
pois o recrutamento ocorre, principalmente, pela imigração de juvenis de populações
vizinhas, enquanto que a prole da população local emigra para outras áreas (Beier, 1995).
Os machos exibem um comportamento de dispersão obrigatório e de longa distância,
independente de densidade populacional, enquanto que as fêmeas exibem comportamento
filopátrico, dispersando a curtas distâncias, parcialmente independente de densidade
populacional (Ross & Jalkotzy, 1992, Seidensticker, et al. 1973, Logan et al., 1986, Logan
et al. 1996, Sweanor et al., 2000). A idade esperada para este processo acontecer é de 10 a
33 meses de idade (Ross & Jalkotzy, 1992, Hemker et al., 1984, Sweanor et al., 2000),
antes de atingirem a maturidade sexual (Anderson et al. 1992, Logan et al., 1996). A
estratégia de dispersão possibilita a estes felinos expandirem suas áreas e recolonizar
hábitats onde extinções locais ocorreram (Beier, 1995). A recolonização é importante para
recompor o equilíbrio da cadeia alimentar nestas áreas, nas quais a ausência de grandes
carnívoros possibilita a ocorrência de explosões populacionais de predadores de médio
porte, oportunistas, podendo quadruplicar a sua abundância, aumentando excessivamente a
predação em ovos e ninhos de aves (Noss et al., 1996).
A inclusão de presas domésticas acontece quando a quantidade de energia obtida
supera os gastos investidos na captura (Emlen, 1966), o que reforça a necessidade de
adequação do manejo utilizado nas propriedades que possuam predadores em sua área.
Hoogensteijn & Hoogensteijn (2005) ressaltam que, para um animal habituado a predar
7
porcos-do-mato (Tayassu sp.), os quais pesam em torno de 25 kg, predar um bezerro com
50 quilos (e mais vulnerável) é algo realmente proveitoso do ponto de vista de obtenção de
alimento.
O ritmo atual de desmatamento e a conseqüente fragmentação dos ambientes
naturais vão de encontro às necessidades destes carnívoros. A fragmentação do hábitat em
manchas cada vez menores faz com que populações, antes contínuas, fiquem isoladas e
muitas vezes com um número reduzido de indivíduos, causando perda de variabilidade
genética e aumento da consangüinidade, resultando em aceleração do processo de extinção
(Beier, 1993).
A fragmentação e redução do hábitat contribuem também para o aumento do
contato do leão-baio com as áreas habitadas pelo homem, pois o animal percorre grandes
distâncias para encontrar o número de presas necessário a sua manutenção (Courtin et al.,
1980). Essas alterações na paisagem original e a dispersão dos leões-baios jovens, em
especial os machos, são fatores que podem operar conjuntamente para as interações
negativas entre estes animais e os rebanhos domésticos, causando prejuízos materiais aos
produtores locais (Beier, 1995; Mazzolli, 1992; Courtin et al., 1980).
A alteração da distribuição das presas naturais leva os predadores a se deslocarem
pelas manchas de habitat em busca de alimento, tornando os encontros com animais
domésticos mais freqüentes. Em um lugar onde as presas são raras ou estão distribuídas
heterogeneamente no espaço, o predador aceitará todas as presas encontradas. Mas quando
elas são mais abundantes e a sua distribuição é conhecida, predadores acabam escolhendo
com grande seletividade (Emlen, 1966; MacArthur & Pianka, 1966; Sunquist & Sunquist,
1989) e noção de risco envolvido na situação (Mazzolli et al., 2002).
8
A caça predatória e o desmatamento produzido pelo homem levaram o leão-baio a
viver em regiões montanhosas e locais menos populosos (Currier, 1983). Por ser
considerado uma ameaça aos rebanhos, o abate ao leão-baio se dá ao longo de toda a área
de sua distribuição, sendo o principal fator de mortalidade deste animal na América do
Norte (Currier, 1983). Apesar da falta de dados para a região, Mazzolli (1992) acredita ser
este também o principal fator de mortalidade na América do Sul, mesmo constituindo um
crime ambiental.
As doenças, a caça desportiva e a caça comercial são outros fatores de pressão
sobre as populações de carnívoros que, na sua maioria, são encontrados nas listas de
animais em perigo ou ameaçados de extinção (Fuller, 1995; Noss et al., 1996). O Puma
concolor não está excluído desta situação, estando presente no Apêndice I do CITES
(2005). A subespécie que ocorre em Santa Catarina é Puma concolor capricornensis
(Nelson & Goldman, 1929 in Currier, 1983) e é citada na Lista Oficial de Fauna Ameaçada
de Extinção do IBAMA (2003) como vulnerável.
1.1. JUSTIFICATIVA
Em Santa Catarina foram efetuados registros da ocorrência do leão-baio em 22 pontos
diferentes, confirmando a sua presença atual no Estado. A maioria dos registros se deu em
áreas próximas a fazendas com criação de ovelhas e/ou cabritos, através de denúncias ao
IBAMA de eventos de predação de animais domésticos (Mazzolli, 1992). Ao atender os
eventos de predação a rebanhos domésticos, Mazzolli (1992) constatou que, na região
serrana dos estados de SC e RS, os moradores têm familiaridade com a espécie, pois é
9
comum o abate destes animais, sendo geralmente guardado peças do esqueleto e a pele
como troféus.
Os produtores locais mais antigos da região de Urubici (SC), região serrana do
estado de Santa Catarina, relatam que a presença do leão baio se tornou mais comum nos
últimos dez anos (Mazzolli, 2005), fato corroborado pelos registros do CENAP/IBAMA
(dados não-publicados) dos eventos de predação aos rebanhos domésticos e abates de
leões-baios. Foram predados ovinos, caprinos, bovinos, suínos e eqüinos; além disto,
existem casos tanto de predação quanto de abate do predador que não são sistematicamente
registrados, pois a falta de providências dos órgãos competentes faz com que alguns dos
proprietários tomem atitudes drásticas, abatendo os animais.
As pessoas possuem determinados valores básicos frente aos animais e a natureza
que, inevitavelmente, afetam sua percepção em relação à uma espécie. As características
físicas e comportamentais de uma espécie, tais como o tamanho do animal, a morfologia, a
locomoção, as associações históricas e culturais, influenciam significativamente nas
atitudes das pessoas quanto à estes animais. A percepção das pessoas é, também, afetada
pelas interações passadas e presentes com uma espécie em particular. Dentre estas
interações estão incluídos os conflitos, os usos recreacionais, as relações de propriedade e
o status de manejo. O conhecimento e o entendimento da espécie podem influenciar
atitudes relacionadas à consciência da conservação ambiental (Kellert et al. 1996).
Os grandes carnívoros têm sido considerados indicadores das condições e
integridade dos ecossistemas. A sua presença, mesmo em áreas biologicamente
empobrecidas, pode ser indicador de um grande potencial para a recuperação do ambiente,
tendo em vista que a teia alimentar permanece pouco alterada (Noss et al., 1996). Como
são animais de topo de cadeia alimentar, possuem valor prático para a conservação
10
ambiental. As grandes áreas que precisam para suprir suas necessidades abrigam também
áreas de ocorrência de outras espécies. Assim, a conservação de uma espécie situada nesta
posição e seu habitat implica na conservação das espécies que são simpátricas. Por isso, é
chamada de espécie guarda-chuva (Noss et al., 1996), e pode ser utilizada para estabelecer
diretrizes para o manejo de ecossistemas (Estes, 1996).
O Parque Nacional de São Joaquim (PARNASJ), situado nos municípios de
Urubici, Bom Jardim da Serra, Orleans e Grão-Pará, foi criado através do decreto 50.922
em 06 de julho de 1961 e até hoje não tem sua situação fundiária regularizada e nem plano
de manejo. Esses fatores caracterizam a inexistência de informações a respeito da área e as
ameaças às quais este ambiente está sujeito. Espera-se que as informações geradas pelo
presente estudo sirvam como subsídio para ações estratégicas e elaboração do plano de
manejo desta área.
A pecuária extensiva praticada na região do PARNASJ e seu entorno contribui, de
certa maneira, para a manutenção do conflito. As transformações no habitat, decorrentes
desta prática, diminuem e fragmentam a quantidade de habitat disponível para os felinos e
suas presas naturais. Isso traz conseqüências diretas para a movimentação dos leões-baios
dentro de seu território. Como conseqüência direta da transformação de habitat, a
quantidade de presas disponíveis é diminuída pela redução de área. Além disso, muitas das
espécies-presa mais importantes também são utilizadas pelos humanos como fonte de
alimento. Quando a modificação de habitat está relacionada à indústria madeireira, a
primeira atividade transformadora realizada em grande escala na região de estudo, as
alterações na disponibilidade de presas são ainda maiores, pois este tipo de
empreendimento normalmente fazia uso de caçadores para a obtenção de alimento
protéico.
11
O manejo utilizado tanto com o rebanho quanto com a propriedade são fatores que,
na maioria das vezes, são inadequados e ineficientes frente à presença do predador e,
dependendo da situação, podem agravar o conflito.
O manejo preventivo é específico para cada rebanho, de acordo com sua
vulnerabilidade, apesar de algumas medidas serem gerais. Os rebanhos devem ser
vacinados e desverminados periodicamente. Além disso, o fornecimento de água em
bebedouros (para que os animais não tenham que procurar água em rios, local de provável
encontro com predadores), a adoção de estações de monta curtas (concentrando o
nascimento dos bezerros a um período determinado) e a manutenção dos distantes dos
capões de mata e corredores de mata de galeria (áreas utilizadas pelos predadores para
deslocamento) são práticas aconselhadas.
Para o gado bovino e eqüino, o importante é que o proprietário (ou capataz)
mantenha as vacas e éguas prenhas e/ou com bezerros e potros recém-nascidos próximos a
casas ou sede da fazenda pelo período de, no mínimo, três meses, para que os filhotes
cresçam e diminuam a vulnerabilidade. Com os rebanhos ovino e suíno, vulneráveis ao
longo de todo o período de vida, as medidas precisam ser mais restritivas. Para as ovelhas,
caso sejam mantidas em campos afastados da sede, o melhor é que o proprietário tenha
cães pastores acompanhando o rebanho, recolhendo-as à noite para um local fechado,
próximo de instalações humanas. Para os suínos, o mais indicado é que estes animais
sejam mantidos ou em chiqueiros adequados, fechados e cobertos, ou no caso de criação a
campo, que o proprietário ou capataz os recolha durante a noite.
12
1.2. OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho é realizar uma análise de risco de predação dos rebanhos
domésticos por leões-baios (Puma concolor) no Parque Nacional de São Joaquim, Urubici,
SC.
Pretende-se, assim, responder aos seguintes questionamentos:
1º) O manejo utilizado com os rebanhos domésticos dentro e no entorno do PARNASJ
facilita a predação por leões-baios?
2º) Qual tipo de rebanho é mais suscetível a predação?
3º) As variáveis ambientais da paisagem influenciam a predação dos rebanhos domésticos?
13
2. MATERIAL & MÉTODOS
2.1. ÁREA DE ESTUDO
O Parque Nacional de São Joaquim está localizado no sudeste do estado de Santa Catarina,
entre os paralelos 49° 22’ e 49°39’S e meridianos 28°04’ e 28°19’W e tem uma área
aproximada de 49.200 ha. Compreende parte dos municípios de Urubici, Grão Pará,
Orleans e Bom Jardim da Serra (Figura 1).
Localizado no Brasil meridional, se encontra influenciado pelo clima temperado,
super-úmido, tendo precipitações anuais que variam entre 1250 e 1800 mm, e a
temperatura média de 17°C e a mínima registrada de –14°C, com formação freqüente de
geadas e ocasional queda de neve. O relevo apresenta altitudes de 350 até 1822 metros
(Fernandes, 2000).
O PARNASJ pode ser dividido em duas porções distintas. A primeira porção,
chamada de Serra Abaixo, está situada abaixo das encostas da Serra Geral, na região
geomorfológica da Planície Costeira e apresenta a fitofisionomia composta pela Floresta
Ombrófila Densa (IBGE, 1986). A segunda porção, chamada de Campos de Cima da Serra
(Boldrini, 1997), está situada acima das escarpas da Serra Geral, na região geomorfológica
do Planalto das Araucárias e apresenta a fitofisionomia da Floresta Ombrófila Mista e da
Região da Savana (IBGE, 1986).
14
REGIÃO DA SERRA ABAIXO
A fisionomia desta região do PARNASJ é toda composta pela Floresta Ombrófila Densa,
caracterizada pela marcada predominância de árvores de grande porte (fanerófitas),
associadas a outras formas biológicas, principalmente epífitas e lianas. Encontra-se
predominantemente sobre as encostas que constituem a Serra do Mar e suas ramificações
mais interiores. Apresenta variações altitudinais demonstradas na proposta de classificação
da vegetação brasileira pelo reconhecimento de formações ordenadas segundo uma
hierarquia topográfica, que apresentam fisionomias distintas e variações ecotípicas
resultantes de ambientes distintos. As formações denominadas de submontana e montana
ocorrem em altitudes superiores a 1000 m.s.n.m. Apresentam comunidades epifíticas
bastante ricas e abundantes, sendo um dos traços mais marcantes destas formações (IBGE,
1986).
As espécies vegetais mais características são a canela-preta (Ocotea catharinensis),
a canela-sassafrás (O. pretiosa), a canela-fogo (Cryptocaria aschersoniana) a canela-
garuva (Nectandra rigida), o pau-óleo (Copaifera trapezifolia), a peroba-amarela
(Aspidosperma olivaceum), a laranjeira-do-mato, a guapeva (Pouteria torta), a figueira-de-
folha-miúda (Ficus organensis) o baguaçú (Talauma ovata), os ipês (Tabebuia spp.), a
cupiúva (Tapirira guianensis) o tanheiro (Alchornea triplinervia), a bicuíva (Virola
oleifera), o palmito (Eutherpe edulis), as embaúbas (Cecropia spp.) o macuqueiro
(Bathysa meridionalis) e o guapuruvu (Schizolobium parahyba) (Leite, 2002)
15
CAMPOS DE CIMA DA SERRA
Esta porção do PARNASJ apresenta duas regiões ecológicas distintas e entremeadas. A
Floresta Ombrófila Mista e a Região da Savana.
A Floresta Ombrófila Mista, na região em questão, apresenta duas formações
vegetais distintas, a Floresta Montana e a Floresta Alto-Montana. A Floresta Montana está
situada nas áreas de difícil acesso, com relevo montanhoso, o que não impediu a extração
do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), árvore que caracteriza o estrato emergente.
No estrato dominante estão presentes a canela-areia (Cryptocaria aschersoniana), a
canela-lajeana (Ocotea pulchella), a canela-sebo (O. puberula), o pessegueiro-bravo
(Prunus sellowii) e a bracaatinga (Mimosa scabrella). A submata é composta,
principalmente, da aroeira (Lithraea brasiliensis), do pinheirinho (Podocarpus lambertis),
do guamirim-ferro (Calyptranthes concinna), do guamirim (Myrceugenia euosma), do
cambuí (Myrciaria tenella) e da erva-mate (Ilex paraguariensis). Já a Floresta Alto-
Montana apresenta o pinheiro-brasileiro como estrato emergente, a caúna (Ilex
microdonta), o cambuí e a bracaatinga como estrato dominante. Na submata é freqüentes a
ocorrência de guamirim (Gomidesia sellowiana), goiaba-da-serra (Feijoa sellowiana), o
xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana) e o cará-mimoso (Chusquea mimosa). Inserida nesta
formação está a “matinha nebular”, localizada no alto vale do Rio Pelotas. Como
características físicas mais marcantes estão a baixa estatura das árvores (5 metros) com
copas densas, que são retorcidas e recobertas por musgos e liquens por causa das chuvas e
cerração freqüentes. A ausência do pinheiro-brasileiro é evidente, e as espécies mais
freqüentes são a gramimunha (Weindmania humilis), dois cambuís (Siphoneugena reitzii e
Myrceugenia euosma), a casca-d’anta (Drimys brasiliensis), a caúna e a bracatinga.
16
Espécies ocorrentes nesta formação como o pinheiro-do-paraná, a imbuia (O. porosa), o
sassafrás (O. odorifera) e o xaxim-bugio figuram na lista oficial de espécies ameaçadas de
extinção do Brasil, entre outros motivos, pela vulnerabilidade a que estão sujeitas suas
populações naturais, em função das práticas de manejo inadequado adotadas no passado e
da grande pressão de ocupação observada atualmente.
A Região da Savana, que tem limites muito recortados no contato com a Floresta
Montana, apresenta duas fisionomias distintas, a área campestre, com vegetação gramíneo-
lenhosa, e a formação Parque. A área campestre, denominada Campos de Cima da Serra
por Boldrini (1997), apresenta a fisionomia bem uniforme, apesar de ser bastante
heterogênea em questão de espécies gramíneas. As mais características são o capim-
caninha (Andropogon lateralis), espécie mais dominante que confere aos campos a
coloração amarelada às coxilhas no final do verão, onde domina uma matriz de espécies
herbáceas e poucas espécies arbustivas baixas. Além daquela, também ocorre o capim-
mimoso (Schizachyrium tenerum), o Paspalum maculosum e Axonopus siccus. A
Formação Parque é caracterizada por agrupamentos florestais nas áreas campestres em
forma de capões, florestas-de-galeria e pinhais, áreas onde se encontram associações puras
e densas de pinheiro-brasileiro, com a quase completa ausência de vegetação arbórea e
arbustiva e a cobertura do solo de gramíneas.
17
Figura 1. Localização do Parque Nacional de São Joaquim (SC) no Brasil e no estado de Santa Catarina (fonte: IBAMA).
18
2.2. MÉTODOS
2.2.1 – COLETA DE DADOS
O trabalho de campo foi iniciado em janeiro de 2004. Os primeiros contatos aconteceram
no município-sede do PARNASJ, Urubici (SC), através do contato direto com alguns
fazendeiros e cidadãos. Os primeiros a serem contatados foram os fazendeiros que já
haviam procurado a sede do PARNASJ para reclamar da predação. Quando aqueles eram
contatados, perguntava-se se os vizinhos também tinham problemas semelhantes.
Durante todo o ano de 2004 foram realizadas visitas às fazendas e entrevistas
informais (sem a utilização de um questionário), para conhecer a percepção dos
fazendeiros a respeito do assunto e uma melhor aproximação do pesquisador.
A partir de novembro de 2004 até março de 2005 foi realizado o atendimento aos
eventos de predação de leões-baios, de acordo com a metodologia proposta por Leite et. al.
(2002), com um questionário apropriado à situação (anexo 1). No momento do
atendimento, foram coletadas informações como o tamanho da fazenda, manejo utilizado,
tipo e quantidade de rebanho predado ao longo do período de amostragem e local da
predação, registrado com o auxilio de um receptor GPS Garmin E-Trex Vista.
Para registrar a presença do leão-baio foram realizadas incursões a campo, com a
finalidade de encontrar pegadas, rastros, fezes e possíveis encontros com o animal. Nas
propriedades onde foi confirmada a presença do animal sem o respectivo registro de abates
também se realizou o questionário para a obtenção dos mesmos dados citados acima,
exceto os de predação.
19
2.2.2 - GEOPROCESSAMENTO
Os limites das imagens de satélite georreferenciadas utilizadas foram definidos a partir do
posicionamento das localizações extremas de avistamento ou de predação. A janela de
trabalho possui 1600 Km² e situa-se entre as coordenadas UTM da Zona 22 655730 mE-
615745 mE e 6910000 mN-6870000 mN.
O mapa de cobertura do solo foi gerado a partir de interpretação em tela de um
mosaico de imagens LANDSAT (disponível em https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid/) no
software Cartalinx (Hagan et al., 1998), e nele foram identificadas apenas duas classes de
cobertura: herbácea ou arbórea.
O mapa de declividades foi gerado a partir de modelo numérico de terreno (Weber
et al., 2004). Os sistemas hidrográfico e viário foram utilizados de imagens provenientes
do IBGE (disponível em www.ibge.gov.br). As respectivas cartas individuais foram
editadas e reunidas em um único arquivo, gerando, para cada variável, um mapa de
distâncias médias.
Os pontos de predação foram transformados para arquivos no formato “shape”. Em
torno de cada um dos pontos foram criados buffers de 100 metros de raio no software
Arcview 3.2 (Esri, 1996), uma vez que os leões-baios arrastam suas presas em torno de 80
metros do local da predação (Beier et al., 1995). Para cada ponto foram extraídos valores
de cobertura do solo (quantidade total e proporção de cobertura arbórea), declividade
média e distância média de rios e do sistema viário. Este procedimento foi realizado
através do software Idrisi 32 (Eastman, 1999). Além disso, através de um receptor GPS
Garmin e-Trex Vista foram registradas as altitudes de cada ponto de predação.
20
2.2.3 – ANÁLISE DOS DADOS
Objetivando caracterizar os padrões gerais dos eventos de predação de leão-baio a
rebanhos domésticos, foram analisados os buffers a partir dos dados ambientais gerados
pelo geoprocessamento. Na tentativa de explorar os padrões de predação aos rebanhos
domésticos, bem como a relação destes com as variáveis ambientais, foi empregada análise
exploratória baseada em técnicas multivariadas de ordenação e agrupamento, além de
análise de variância através de testes de aleatorização.
A matriz de dados ambientais foi composta pelas cinco variáveis avaliadas, que
foram padronizadas por normalização dentro das variáveis, por serem descritas por
unidades diferentes. A medida de semelhança utilizada foi a distância euclidiana.
A matriz apresenta os buffers de predação sendo as unidades amostrais e as
variáveis qualitativas as informações ambientais (cobertura florestal, altitude, declividade,
distância de corpo hídrico e distância de via). Através do aplicativo MULTIV (Pillar,
2001) foi realizada uma Análise de Componentes Principais (PCA), utilizando como
medida de semelhança a correlação entre variáveis. O agrupamento foi realizado por
Variância Mínima (Ward 1963; Orlóci 1967).
Para a avaliação da nitidez dos grupos formados, a estabilidade dos eixos de
ordenação e a suficiência amostral dos padrões em ambas as análises, foi empregado o
método de auto-reamostragem descrito em Pillar (1998, 1999a, 1999b). De maneira geral,
esses métodos geram probabilidades úteis à avaliação da consistência ou casualidade dos
padrões evidenciados, assim como a variação destas probabilidades em função do tamanho
amostral. Essas probabilidades são geradas através de 1000 iterações de reamostragem,
21
considerando-se o limiar α= 0,1 para a sua interpretação. Para a avaliação da significância
dos eixos de ordenação, o eixo de ordenação é significativo e merecedor de interpretação
(Pillar, 1999b) quando as probabilidades estão abaixo do limiar. Já para a avaliação da
nitidez dos grupos, as probabilidades devem estar acima do limiar, para que estes grupos
não sejam difusos e mais claramente nítidos (Pillar, 1999b).
3 - RESULTADOS
3.1 - QUESTIONÁRIOS
Através do atendimento aos eventos de predação de leões-baios a rebanhos domésticos foi
registrada a predação em rebanhos bovinos, suínos, ovinos e eqüinos. Além disso,
informações relativas à área da fazenda, tipo e número de cabeças de cada rebanho, total
predado e o manejo utilizado com cada rebanho também foram registrados (Tabela 1). Os
questionários também foram aplicados em propriedades onde foi confirmada a presença do
predador mas não houve predação à criação. No total foram visitadas 15 propriedades,
sendo que em sete propriedades foi registrada a presença do predador mas não houve
predação à criação e em oito foram registrados eventos de predação à criação.
O maior rebanho registrado nas fazendas visitadas é o bovino, com mais de 2.000
animais, seguido do suíno (156 animais), ovino (139 animais) e eqüino (114 animais)
(Tabela 1). Durante o ano de 2004, na região de estudo, foram predados 41 animais
domésticos, como mostra a Tabela 1. Apesar de apresentar um maior número de animais, o
rebanho bovino foi proporcionalmente menos predado por Puma concolor, com somente
22
0,64%, diferentemente o rebanho suíno, onde 12,82% dos animais foram abatidos. A
predação em ovinos ficou bem abaixo do observado em anos anteriores. Porém, para os
outros rebanhos, os índices foram maiores (Tabela 2). A incidência de atividades de
manejo preventivo dos rebanhos ocorreu em somente 40% dos registros de predação por
Puma concolor.
Quando questionados a respeito da razão pela qual acontecem os eventos de
predação, 62,5 % dos entrevistados (n=5) responderam que é por fome, 25 % (n=2)
disseram que é por facilidade e 12,5 % (n=1) ignorava a razão.
23
Tabela 1: Informações sobre área da fazenda, tipo de rebanho, número de cabeças,
quantidade predada e utilização de manejo preventivo em cada rebanho para as
propriedades existentes no Parque Nacional de São Joaquim, SC, durante o período
compreendido entre janeiro de 2004 e março de 2005.
Nome da propriedade Área (ha) Rebanho Total Predação Manejo
Fazenda Água Fria (AF) 1290 bovino 400 0 não
ovino 20 0 sim
Fazenda Bom Sucesso (FB) 133 bovino 70 0 não
suíno 4 0 sim
Fazenda Campo de Fora (CF) 900 eqüino 10 0 sim
bovino 270 0 sim
Fazenda Morrinhos (FM) 876 eqüino 5 0 não
bovino 300 0 não
Fazenda São Domingos (SD) 36 eqüino 2 0 não
bovino 37 0 sim
Granja São Francisco (SF) 89 bovino 42 0 sim
Villa da Montanha (VM) 36 eqüino 11 0 não
Fazenda Arroio da Barra (AB) 25 suíno 16 1 não
ovino 3 3 não
bovino 10 4 não
Fazenda do Cedro (FC) 20 eqüino 1 1 não
bovino 10 0 sim
Fazenda do Espenilho (E1) 120 bovino 450 0 não
eqüino 12 1 não
ovino 53 0 sim
Fazenda do Espenilho (E2) 500 bovino 150 0 não
eqüino 10 1 não
ovino 50 0 sim
Fazenda Rincão do Meio (RM) 350 bovino 100 1 sim
Fazenda Santa Bárbara (SB) 570 eqüino 18 0 não
bovino 200 5 não
ovino 13 5 sim
suíno 12 10 sim
Seu Daniel (D) 12 bovino 10 0 sim
suíno 26 5 sim
Sítio Bom Sucesso (BS) 270 suíno 98 4 não
Total 2413 41
24
Tabela 2: Registro de animais predados nos rebanhos domésticos do Estado de
Santa Catarina, durante dez anos. (CENAP, dados não publicados) e os registros de
predação durante o período de janeiro de 2004 e março de 2005.
Ano ovino caprino bovino suíno eqüino Total
1990 3 - - - - 3
1991 6 7 - - - 13
1992 31 - - - 1 32
1993 - 29 - - 1 30
1994 102 22 7 1 1 134
1995 120 25 2 5 - 152
1996 334 - 16 - 3 353
1997 24 4 5 1 - 34
1998 131 - 29 8 4 172
1999 20 - 2 - 1 23
2000 3 - - - - 3
Média de predação 77,4 8,7 6,1 1,5 1,1 -
2004/2005 8 0 10 20 3 41
Na propriedade AB foram predados três tipos de rebanhos diferentes (quatro
bovinos, três ovinos e um suíno) e os pontos de predação foram todos muito próximos uns
dos outros, pois a propriedade está situada em um “fundo de vale” florestado e a sede da
propriedade está na saída deste vale. Esta propriedade tem 25 hectares e todos os animais
predados estavam soltos no pasto, e é desta maneira que são mantidos ao longo de todo o
tempo, não sendo recolhidos nem durante a noite.
A propriedade SB, localizada no alto vale do rio Pelotas, também sofreu perda dos
mesmos três tipos de rebanho, mas em maior quantidade. Neste local foram predados cinco
bovinos, cinco ovinos e 10 suínos. Está situada na região de maiores altitudes da área de
estudo, os campos de Santa Bárbara. Nesta propriedade é realizado manejo com os
rebanhos suíno e ovino que continha, respectivamente, 12 e 13 cabeças cada, mas não se
realiza manejo com o rebanho bovino. As ovelhas são recolhidas para um galpão durante a
noite e os suínos estão confinados em um cercado de tela com um metro de altura,
possuindo vegetação arbustiva em seu interior (foto 01, em anexo). O rebanho bovino
25
contém 200 cabeças; é mantido solto nos campos durante todo o tempo e o nascimento dos
bezerros também acontece nos campos. A fitofisionomia predominante é a vegetação de
savana, com áreas campestres e capões de mata, com o relevo bem acidentado, e ela está
dentro da área do PARNASJ.
A menor propriedade visitada é a D, com 12 hectares. Está situada também em uma
região de grandes altitudes, com predominância de vegetação campestre, apesar de
existirem capões de mata bem próximos ao local da predação. Possui rebanho bovino (10
cabeças) e suíno (26 cabeças), onde foram predados cinco suínos. O capataz passou a
realizar manejo preventivo com os suínos após os eventos de predação, que ocorreram no
começo do ano de 2004, quando ele começou a trabalhar na propriedade em questão. O
rebanho bovino não é recolhido, permanecendo solto no campo mesmo durante a noite.
Limítrofe a propriedade anterior, BS possui apenas rebanho suíno, e é o maior de
todas as áreas visitadas (98 cabeças). A área desta propriedade é de 270 hectares, e o
capataz mantém o rebanho solto, mesmo tendo perdido quatro suínos. Sua postura foi clara
quanto ao assunto, dizendo não se importar em perder essa quantidade. Além disso, em
uma única noite, ele perdeu quatro filhotes, pois a fêmea se deitou por cima deles durante a
noite. Quando questionado sobre a presença de caçadores, diz que não é permitido caçar
dentro da propriedade, mas que algumas vezes ele escuta tiros na mata.
As propriedades E1 e E2 são limítrofes e foi predado o mesmo tipo de rebanho,
eqüino. As predações ocorreram na mesma noite e os potros predados tinham uma idade
aproximada de três meses. E1 tem 120 hectares e apresenta, proporcionalmente, o maior
rebanho bovino (3,75 animais/ha) de todas as propriedades visitadas. A E2 tem 500
hectares de área e possui 150 cabeças de bovinos, 10 cabeças de eqüinos e 50 cabeças de
ovinos, e realiza manejo preventivo apenas com os ovinos.
26
Também ocorreu predação de um eqüino na FC. Nesta área o proprietário adota
manejo diferenciado para cada rebanho, onde os bovinos são mantidos próximos à sede até
aproximadamente três meses, assim o animal atinge um tamanho corporal menos
vulnerável, e os eqüinos são mantidos sempre soltos, com o nascimento ocorrendo no
pasto.
Na propriedade RM foi predado apenas um bovino durante o período de estudo.
Nesta propriedade é realizado o manejo preventivo do rebanho, mantendo os terneiros
próximos à sede até os três meses de idade. Porém, o proprietário adotou este manejo
somente após a perda do animal. O mesmo aconteceu na propriedade D, onde foram
predados cinco suínos ao longo do ano. Semelhantemente à RM, o capataz passou a
realizar manejo preventivo após perder os suínos.
Nas propriedades SD, VM, SF, FB, AF, FB e CF foi registrada a presença do
predador, porém não houve predação durante o período de estudo.
As propriedades SD, VM e SF são próximas umas das outras, entre as localidades
de São Francisco e Rio Vacariano. Na primeira (SD) são criados os rebanhos bovino e
eqüino, 37 e duas cabeças, respectivamente. Todo o gado é de leite, e é realizado manejo
com este rebanho. Os bezerros são mantidos próximos à sede da propriedade até
aproximadamente três meses de idade, e após este período são mantidos soltos durante a
noite. Os eqüinos são mantidos soltos durante todo o tempo.
Na propriedade VM só é criado rebanho eqüino e não é utilizado manejo
preventivo. Em algumas situações o proprietário recolhe alguns animais por causa do frio.
Nesta propriedade a finalidade dos animais é montaria, pois o local é um condomínio rural.
É uma propriedade de tamanho reduzido (36 hectares) e está situada um pouco afastada da
estrada, muito próxima a um paredão rochoso.
27
Na Granja São Francisco (SF) só existe rebanho bovino e todos os animais são
mantidos perto da casa até os três meses de idade. Após este período, o gado de corte é
mantido em um pasto um pouco mais afastado da sede da propriedade, mas o gado
destinado à produção de leite é mantido mais próximo à sede, pois precisa ser manejado
duas vezes ao dia.
Na propriedade FB são criados rebanhos bovino e suíno. O proprietário mantém os
suínos presos em um chiqueiro e os bovinos soltos no pasto. Diferentemente da
propriedade SB, o chiqueiro desta propriedade é todo fechado e com telhado, em um
sistema de criação intensiva.
A propriedade CF e AF são do mesmo proprietário. Na primeira (CF), situada na
região de campos, são criados rebanhos bovino (270 cabeças) e eqüino (10 cabeças), e o
proprietário realiza manejo nos dois. Mantém os terneiros próximos à sede até os três
meses de idade e após este período eles são mantidos sempre em invernadas próximas à
sede, e o mesmo é feito com os eqüinos. É a maior propriedade visitada (1290 hectares), e
está situada no entorno imediato do PARNASJ. Já na propriedade AF são criados os
rebanhos bovino e ovino. Porém, é adotado manejo diferente para o rebanho bovino, que
tem 400 cabeças. São mantidos sempre soltos, mesmo os terneiros. Já o rebanho ovino é
recolhido durante a noite para um mangueiro anexo à sede da fazenda. Esta propriedade
está situada em uma região diferente da anterior, onde a vegetação predominante é
florestada.
Outra propriedade situada no interior do PARNASJ é a FM. São criados rebanhos
bovino (300 cabeças) e eqüino (cinco cabeças), mas são mantidos todo o tempo soltos no
pasto. Neste local não há atividade humana, a não ser quando o proprietário reúne o
rebanho, o que acontece esporadicamente.
28
3.2 - GEOPROCESSAMENTO
Foram registrados 16 pontos geográficos de predação de leões-baios a rebanhos
domésticos e 7 registros de presença do predador na área de estudo (Figura 2).
As informações relativas à cobertura florestal, altitude, declividade, distancia de
corpo hídrico e de estradas para cada ponto de predação estão apresentadas na Tabela 3.
Dentre os 16 pontos de predação, 12 pontos (75%) possuem 100% de cobertura
florestal, um ponto (6,25%) possui 78,20%, um ponto (6,25%) possui 70,13%, um (6,25%)
possui 24,68% e um (6,25%) possui 11,54% de cobertura florestal.
A declividade média, medida em graus, variou dentro dos pontos de predação de
0,371 a 2,552, enquanto que a altitude entre 991 e 1.523 metros. Os pontos de menor
declividade, BS (0,371) e D (0,466), estão situados na porção oeste da área de estudo
(Figura 2) e são muito próximos entre si. Esta área é, fitofisionomicamente, a região com a
maior proporção de campos e, conseqüentemente, altitudes elevadas (1.424 e 1.425 metros,
respectivamente). Apesar de serem áreas de fácil acesso, as atividades humanas são de
pouca intensidade, restritas ao tráfego de moradores e ao manejo das propriedades e
rebanhos.
29
Figura 2. Imagem de satélite da região geográfica do Parque Nacional de São Joaquim,
SC, e entorno (coordenadas UTM Zona 22 655730 mE-615745 mE e 6910000 mN-
6870000 mN), indicando os pontos de registro de Puma concolor com predação de
rebanhos domésticos (pontos azuis) e sem predação (pontos amarelos). As áreas de cor
roxa representam solo exposto (áreas de agricultura), as áreas de cor rosa e avermelhada
representam campo, as áreas verde claro Floresta Ombrófila Densa e as áreas verde-escuro
Floresta Ombrófila Mista.
30
Tabela 3. Informações sobre os pontos de ocorrência de predação de leões-baios a
rebanhos domésticos no Parque Nacional de São Joaquim, SC, e entorno durante o período
de novembro de 2004 a março de 2005.
ponto
local
predação
manejo
cobertura
florestal(%)
declividade
(graus)
altitude
(msnm)
distância de
corpo hídrico (m)
distância
de
estrada (m)
08 RM sim sim 78,20 2.100 1648 335 726
09 SB sim
sim 11,54 1.145 1400 40 113
10 SB sim
sim 24,68 1.430 1397 41 98
11 BS sim
não 70,13 0.371 1424 116 116
12 D sim
sim 100 0.466 1425 53 220
13 FC sim
não 100 2.017 1171 267 637
14 AB sim
não 100 2.360 992 50 48
15 AB sim
não 100 2.371 993 50 48
16 AB sim
não 100 2.341 993 50 47
17 AB sim
não 100 2.344 993 50 48
18 AB sim
não 100 2.466 991 51 56
19 AB sim
não 100 2.464 1009 42 153
20 AB sim
não 100 2.426 1012 42 158
21 AB sim
não 100 2.552 1009 42 142
23 E1 sim
não 100 2.323 1357 143 64
24 E2 sim
não 100 2.348 1389 175 41
A propriedade SB, situada na região dos Campos de Cima da Serra, apresentou as
declividades intermediárias (1,145 e 1,430) e altitudes elevadas (1.400 e 1.397 metros,
respectivamente). Esta propriedade está na área leste-sudeste da área de estudo, dentro do
PARNASJ, local de difícil acesso, com pouca atividade humana, restritas ao manejo da
propriedade e dos rebanhos.
As propriedades que possuem maior declividade e altitudes não tão pequenas em
relação as propriedades visitadas são a E1 e E2. Estas áreas possuem, respectivamente,
2,323 e 2,348 graus de declividade média, e as altitudes registradas nestas propriedades são
1.357 e 1.389 metros. Ambas estão situadas em uma área de alta quantidade de cobertura
florestal, na porção sudoeste da área de estudo, com difícil acesso, o que limita as
atividades humanas de manejo relacionadas aos rebanhos e das propriedades.
31
A propriedade que exibe uma situação de alta declividade (2,017 graus) e altitude
relativamente elevada (1.171 metros) é a FC. Está situada na porção central da área de
estudo, e também é uma área de pouca atividade humana, limitada ao tráfego esporádico
dos moradores. Semelhante a esta situação está a propriedade RM. Foram registradas
altitude (1.648 metros) e declividade (2,100 graus) elevadas. Está situada na porção
noroeste, de maior cobertura florestal da área de estudo, que também está no regime de
pouca atividade humana, restrita às atividades relacionadas ao manejo do rebanho bovino.
A propriedade AB, na qual estão situados oito pontos de predação, é o local com as
maiores declividades (2,552 graus) e menores altitudes registradas (991 metros). Está
situada na porção central da área de estudo, encravada no fundo de um vale, justificando a
alta declividade, no qual existe bastante cobertura florestal.
As distâncias de corpos hídricos e de estradas variaram de 40 a 335 metros e 113 a
726 metros, respectivamente. As predações mais próximas de um corpo hídrico ocorreram
a uma distância não maior a 55 metros (n=12, 70,58%) e a maioria destes (n=10, 83,33%)
ocorreram a menos de 160 metros de uma estrada. Dentro desta situação estão os pontos
situados nas propriedades SB, D, AB e C. Os outros pontos de predação (n=5, 29,42%)
ocorreram a partir de 116 metros de distância de um corpo hídrico e a partir de 41 metros
de distância de uma estrada.
32
3.3 - ANÁLISE DOS DADOS
A análise de ordenação, realizada para reduzir ao máximo as dimensões de um universo
amostral multidimensional mantendo a maior porcentagem de informação, revelou a
existência de três grupos amostrais distintos (figura 3), além de demonstrar que o
percentual de variação contida no eixo 1 é de 47,94% e no eixo 2 é de 35,11%, perfazendo
83,05% da variação total dos dados.
Além disso, a correlação entre as variáveis e o eixo 1 foram: altitude (0,92),
cobertura florestal (-0,48), declividade (-0,47), distância de um corpo hídrico e distância de
uma via (0,73). Com o eixo 2 a correlação foi: declividade (-0,71), cobertura florestal (-
0,67), distância de um corpo hídrico (-0,62), distância de uma via (-0,57).
Figura 3: Análise de ordenação dos pontos de predação de leões-baios a rebanhos
domésticos no Parque Nacional de São Joaquim (SC) e entorno. O método de ordenação
utilizado foi a Análise de Componentes principais (PCA) baseada na correlação entre as
33
variáveis. Os números identificam os pontos de predação, a primeira letra após o número
identifica o tipo de rebanho e a segunda letra a existência de manejo (m) ou não (n).
A análise de agrupamento das unidades amostrais (figura 4) evidenciou grupos
nítidos com uma leve tendência a suficiência amostral para dois ou três grupos (figura Y).
A análise de nitidez de grupos por auto-reamostragem indicou a existência de dois e três
grupos, com as probabilidades de 0,443 e 0,428, respectivamente (figura 4).
Figura 4: Análise de agrupamento dos pontos de predação de leões-baios a
rebanhos domésticos no Parque Nacional de São Joaquim (SC) e entorno. O método de
agrupamento utilizado foi o de Variância Mínima através da Distância Euclidiana entre as
variáveis. Os números identificam os pontos de predação, a primeira letra após o número
identifica o tipo de rebanho e a segunda letra a existência de manejo (m) ou não (n).
No grupo 1 (figura 4) apesar da diferença entre as porcentagens de cobertura
florestal que existe entre os eventos de predação da propriedade SB (1sm, 11,54%; 2om,
24,68%) e das propriedades BS (3sn, 70,13%) e D (4sm, 100%), estas são as propriedades
34
situadas nas áreas mais altas da região de estudo, todas perto dos 1.400 metros de altitude
e, coincidentemente, foram predados os rebanhos mais vulneráveis (ovinos e suínos). Estas
duas regiões são constituídas de campos fragmentados naturalmente, em conseqüência da
geomorfologia do terreno e da fitofisionomia da região. A diferença entre elas está na
declividade, pois SB está situada muito próxima da borda da Serra Geral, os Campos de
Cima da Serra, e é caracteristicamente declivosa. Já as propriedades BS e D apresentam
baixa declividade, pois estão mais próximas do Planalto das Araucárias. Na propriedade
SB os suínos são mantidos sempre dentro de um cercado sem cobertura e os ovinos são
recolhidos durante a noite para uma mangueira com muros de taipa com aproximadamente
50 centímetros de largura, próximo a casa. Em BS os suínos não são contidos dentro de um
cercado ou chiqueiro e em D os suínos são recolhidos no final da tarde para um chiqueiro
com cobertura e soltos depois das nove horas da manhã, aproximadamente, atividade
realizada pelo capataz após a perda dos suínos registrados no trabalho.
No grupo 2 estão as três propriedades situadas nas áreas mais declivosas da área de
estudo (acima de 2 graus), AB, E1 e E2. Em AB todos os rebanhos (bovino, suíno e ovino)
são mantidos soltos em uma área de alta declividade (2,41 graus, em média). Nas
propriedades E1 e E2 a situação se repete e os eqüinos também são mantidos no pasto, área
também de bastante declividade, apesar de menores que a propriedade anterior (2,33 graus,
em média). Nestes três locais, a cobertura florestal nos pontos de predação é de 100%.
35
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
0,5
6 7 8 9 10111213141516
número amostral
P(GNull<=G*)
2 grupos
3 grupos
Figura 5: Nitidez e suficiência amostral para dois e três grupos. O agrupamento foi
realizado com base nas distâncias euclidianas, com os dados sendo normalizados dentro
das variáveis. A nitidez dos grupos foi avaliada com base nas probabilidades finais de cada
curva (p0,10 indicando nitidez), e a suficiência amostral pelo paralelismo das curvas com
a abscissa.
As propriedades que estão no grupo 3 são a FC e a RM, as quais são muito
próximas entre si. Apresentam declividades semelhantes (2,01 e 2,10, respectivamente),
cobertura florestal idêntica (100%), mas suas altitudes são distintas (1.171 e 1.618 metros,
respectivamente). A predação ocorreu em rebanhos diferentes (eqüino na FC, bovino na
RM) com manejos também diferenciados; em FC os eqüinos são mantidos no pasto e em
RM as vacas e os terneiros ficam em pastos próximos a casa, apesar deste manejo ter sido
adotado após os eventos de predação registrados neste trabalho.
36
4 - DISCUSSÃO
As características do conflito na área de estudo não diferem de outros locais onde a
predação de rebanhos domésticos também acontece. O manejo utilizado com os rebanhos,
apesar das diferenças ambientais entre as propriedades, é o potencial causador da predação
dos rebanhos.
As propriedades que tem leão-baio dentro de sua área e não registraram eventos de
predação corroboram esta hipótese, pois nelas são realizadas atividades de manejo
preventivo, mesmo que o proprietário não esteja ciente disso. Em VM, por exemplo, apesar
de o proprietário declarar que não realiza manejo, os animais estão habituados a
retornarem a sede da propriedade no fim da tarde, quando recebem uma porção de ração. O
proprietário mora no local, alimenta seus cachorros adequadamente e existe sempre
atividade humana intensa, o que provavelmente mantém os leões-baios distantes.
A partir das respostas dos responsáveis pelo manejo dos rebanhos nas propriedades
que registraram eventos de predação pode-se perceber que a maioria dos proprietários
considera que os eventos de predação ocorrem pela fome do predador, sem se darem conta
da vulnerabilidade de seu rebanho, enquanto os demais atribuem os eventos de predação a
disponibilidade e facilidade de ataque aos rebanhos domésticos mas não levam este
entendimento a uma mudança de atitude na maneira de manejar seu gado. Uma constatação
interessante deste trabalho ocorreu nas propriedades RM e D, nas quais os proprietários
passaram a realizar manejo preventivo dos rebanhos após o evento de predação.
A predação média anual foi de 1,70%, abaixo do encontrado por Patterson et. al.,
(2004) no Kenya estudando predação por leões (Panthera leo). No norte do estado de
Goiás, Palmeira (2004) registrou 0,4% de predação média anual, semelhante a Conforti &
37
Azevedo (2003) trabalhando no entorno do Parque Nacional do Iguaçu, estado do Paraná.
Os principais fatores relacionados à maioria das predações foram a alta
porcentagem de cobertura florestal, a altitude e a declividade, sugerindo que estas variáveis
operam conjuntamente, desencadeando a predação. Riley & Malecki (2001) demonstraram
que a heterogeneidade topográfica e a quantidade de cobertura florestal influenciam
positivamente na distribuição dos leões-baios. Áreas florestadas com topografia declivosa
apresentam as maiores densidades populacionais de leões-baios.
Alguns trabalhos indicam as doenças, a desnutrição e acidentes em geral como
causadores da maioria das perdas em rebanhos domésticos em áreas sujeitas a predação de
grandes carnívoros (Schaller, 1983; Quigley & Crawshaw, 1992; Hoogensteijn et.
al.,1993; Oli et. al, 1994; Mazzolli et al., 2002). No Pantanal, para cada dez bezerros
mortos, apenas um foi predado por onça-pintada durante a estação de nascimentos
(Schaller, 1983). Parece existir uma relação disponibilidade/seletividade, pois como notou
Polisar et. al (2003), a predação foi intensa na estação de nascimento (20 bezerros/ano),
momento que a abundância de animais vulneráveis (bezerros) aumenta sensivelmente.
Como não há uma estação de nascimento definida na região de estudo, é difícil de
mensurar a variação da predação entre as estações.
Todos os rebanhos possuem graus de vulnerabilidade inerentes à espécie em pelo
menos um dos períodos de vida. O rebanho bovino e o eqüino são os que apresentam o
menor período de vulnerabilidade, que normalmente se encerra quando o filhote atinge
aproximadamente 50 kg. Na Venezuela, 69% dos bezerros predados tinham no máximo um
mês de idade (Polisar et al. 2003). Quando os bezerros são mantidos fora do alcance dos
leões-baios até adquirirem um tamanho corporal não vulnerável, o conflito pode ser muito
pequeno (Ackerman, 1984). Shaw (1977) demonstrou que bezerros recém-nascidos
38
perfaziam um total de 87% da predação nas áreas onde estes animais estavam dentro das
áreas de distribuição do predador, chegando a 93% das predações, quando considerados no
montante animais de até um ano de idade nascidos em áreas de baixa densidade de presas
naturais.
Os rebanhos ovino e suíno são sempre vulneráveis, pois são animais de menor
porte. Todos são boa fonte de alimento com baixo grau de gasto de energia por parte do
predador). Outra característica do manejo extensivo é a falta de “bebedouros”; os animais
são forçados a procurar água nos rios, situação que também oferece risco aos animais, pois
estas áreas também são utilizadas pelos leões-baios tanto para se deslocar quanto para se
alimentar. Por ser a pecuária desta região uma atividade extremamente extensiva, é normal
os rebanhos bovinos e eqüinos estarem, na sua grande maioria, dispersos nos campos.
Alternativas de baixo custo e eficientes para estes tipos de rebanho são a manutenção das
vacas prenhes ou com bezerros novos próximas a casa, o mesmo sendo verdade para os
eqüinos.
A pecuária extensiva mantém os rebanhos em uma matriz de pastos (campos) e
capões de floresta. Os campos são mantidos sob regime freqüente de fogo e os capões de
floresta são “roçados” por baixo, o que diminui a disponibilidade de presas naturais e
aumenta a de presas domésticas. Estes são fatores de exposição suficientes para que,
mesmo havendo disponibilidade de presas naturais, os rebanhos domésticos sejam
incluídos na dieta dos leões-baios (Iriarte et al., 1990). Ao invés de realizar uma busca
aleatória, leões-baios procuram locais para caçar que apresentem condições favoráveis e
tornem as presas vulneráveis, como a cobertura florestal. Achado esse local, assumem
postura imóvel, esperando a aproximação da presa. Essa estratégia faz com que qualquer
animal se torne vulnerável a predação (Hornocker, 1970).
39
A grande maioria dos eventos de predação aconteceu em áreas onde a cobertura
florestal é predominante (acima de 70%), e apenas dois eventos aconteceram em área de
campo. Isso evidencia o manejo inadequado frente à presença de um predador. Mesmo as
predações que ocorreram nas áreas de campo foram fruto de manejo inadequado. O
proprietário convive com este problema há muito tempo, mas continua mantendo seus
rebanhos da mesma maneira. Além do chiqueiro inadequado, (cercado com tela de arame
com aproximadamente 75 cm de altura, suficiente apenas para impedir a fuga do suíno), as
outras variáveis medidas neste trabalho mostram que a propriedade em questão se encontra
em uma situação de risco para perda por ataque. O manejo inadequado, rebanho vulnerável
(suíno e ovino), altitude (1400 metros) e declividade (1,145 e 1,430, respectivamente)
acentuadas são os fatores que contribuem neste local para que a predação ocorra.
Palmeira (2004) encontrou também uma tendência nos locais de predação. Em
alguns locais, a predação ocorreu por seis anos consecutivos e, mesmo após a retirada das
onças-pintadas responsáveis pela predação, ela ocorreu novamente, pois outras onças
passaram a usar o local. Em oposição aos locais de predação, Palmeira (2004) também
notou que os locais onde não foi registrada predação foram os pastos situados próximos às
instalações da fazenda, desprovidos de fragmentos florestais, com intensa atividade
humana, estradas e residências, semelhante ao ocorrido na área de estudo. Todas as
propriedades visitadas, com exceção da FM, são de intensa atividade humana, próximas de
localidades com residências e os proprietários moram no local. Ferraz et. al (2003),
trabalhando com danos de capivara (Hydrochoeris hydrochaeris) em plantações de milho
notou que, conforme a lavoura se distanciava da borda da floresta, os danos diminuíam.
Semelhantemente, Leite (2000) mostrou que a predação por onças-pintadas no estado do
Paraná ocorriam, no máximo, a 500 metros de distância do capão de mata, mostrando que
40
conhecendo o comportamento da espécie causadora do dano, pode-se diminuir ou cessar o
dano, caso medidas de manejo preventivo sejam utilizadas.
A grande quantidade de informação disponível a respeito do leão-baio mostra que a
espécie pode exibir diferenças significativas no seu comportamento, decorrentes de sua
ampla distribuição geográfica, acarretando em características regionais para tamanho de
território, densidade da população, tamanho corporal, entre outras. Mazzolli (2005)
acredita que a predação em áreas de campos aberto seja indicativo de um possível processo
de recolonização que se iniciou no começo da década de 1990, com os primeiros registros
de predação no Planalto Catarinense. A área em questão atravessou profundas
modificações na cobertura vegetal em um passado recente. Durante aproximadamente 40
anos a indústria madeireira promoveu retiradas maciças de pinheiro-brasileiro (Araucaria
angustifolia) o que pode ter trazido mudanças tanto na distribuição quanto na densidade
populacional do leão-baio, além de mudanças na distribuição das presas, decorrentes do
empobrecimento do habitat. A possibilidade de aumento de distribuição dos leões-baios
encontra suporte na topografia heterogênea do terreno, na fragmentação característica da
vegetação e na disponibilidade de presas domésticas, situação que pode potencializar a
predação de rebanhos domésticos.
Esta possibilidade é razão suficiente para a realização de trabalhos que visem
entender melhor a predação de rebanhos domésticos, buscando respostas quanto às
relações deste animal com o seu habitat, incluindo a distribuição e abundância de suas
presas naturais, a fragmentação e avaliação da qualidade dos fragmentos florestais.
A real dimensão deste conflito no Brasil ainda é desconhecida. É de suma
importância que os órgãos ambientais, sejam eles federais, estaduais e/ou municipais,
estejam capacitados para lidar com a questão da predação de animais domésticos, que é
41
apenas um dos conflitos entre seres humanos e animais silvestres. Como o prejuízo é
financeiro e a solução mais prática, do ponto de vista do proprietário, é abater o leão-baio,
o desenvolvimento de uma rede de informações em nível nacional é crucial para que a
conservação dos predadores naturais seja assegurada.
Em 1994 foi criado no Brasil o CENAP (Centro Nacional de Pesquisa e
Conservação de Predadores Naturais), dentro da estrutura do IBAMA, a fim de atender aos
eventos de predação de rebanhos domésticos. Porém, é necessária a criação e implantação,
por parte dos governos estaduais e municipais, de programas de incentivo a conservação
do meio ambiente por parte dos produtores rurais.
A criação de um programa de incentivos fiscais para os proprietários de terras
visando a manutenção da vida silvestre em suas áreas através da proteção e recuperação
dos fragmentos florestais e das áreas de mata de galeria, além de ser uma ferramenta para a
conservação do ambiente em si, pode ser uma alternativa de conservação fora das áreas
protegidas, fazendo com que os proprietários vejam os animais silvestres não mais como
uma peste, mas sim algo que pode trazer algum tipo de retorno. Sem isso, esta situação
continuará acontecendo, e o abate dos predadores se mantendo como o maior fator de
mortalidade dos predadores.
O desenvolvimento de medidas preventivas à predação deve levar em conta
aspectos sócio-econômicos e culturais da própria região, buscando alternativas viáveis para
a solução do conflito. Existem alternativas para aumentar a produtividade do pasto,
tornando desnecessário o desmatamento para aumento de área de pastagem, através do
melhoramento da pastagem. Os órgãos extensionistas devem ter em seu corpo técnico
profissionais capacitados para lidar com esta situação, principalmente em relação ao
manejo dos rebanhos e das propriedades. Melhoria das facilidades da propriedade,
42
melhores cuidados com o rebanho, zoneamento da propriedade para a identificação de
áreas com maior índice de predação, estações de monta definidas e até a escolha do
rebanho a ser criado são temas prioritários a serem considerados. Divulgação de
informações relativas ao assunto devem focar o produtor, assim como fizeram Leite &
Crawshaw (1999) e Indrusiak & Oliveira (2002). No caso dos ovinos e suínos (e aqui se
incluem também rebanhos não registrados pelo trabalho, como caprinos), rebanhos sempre
vulneráveis, a mudança nas técnicas de manejo deverá ser um pouco mais profunda, pois
as soluções que têm sido usadas têm se mostrado pouco eficientes. Para os suínos, a
construção de chiqueiros com cercas altas, afastados de áreas florestadas pode ser uma
alternativa. Ainda mais adequado será se o recinto for todo cercado de tela e coberto por
cima com telhado ou tela, iluminados, sem deixar nenhum espaço possível para o predador
entrar. Para os ovinos, além de impedir o acesso destes animais a áreas florestadas, deve-se
recolher o rebanho para mangueiras fechadas durante a noite, eliminando a disponibilidade
durante a noite, momento de extrema vulnerabilidade para estes animais.
Nos dois casos citados acima, uma ferramenta útil pode ser o uso de cachorros para
a guarda dos rebanhos. Muitos proprietários (ou capatazes) possuem cachorros junto a seus
rebanhos. Porém, para a proteção dos rebanhos, cachorros devem ser criados
especificamente para este fim, bem alimentados e tratados, mantidos constantemente com
os rebanhos, ao contrário do que acontece na região (Foto 2, em anexo).
43
4.1 - RECOMENDAÇÕES
É necessário lembrar que algumas medidas podem funcionar em determinado lugar e
em outros não, pois indivíduos de leões-baios podem responder de maneira diferenciada
frente aos estímulos das medidas preventivas. O conhecimento concreto da ecologia do
predador, das características físicas da fazenda e seu histórico de predação, do manejo
utilizado com cada rebanho podem ajudar a diminuir o conflito e, em algumas
circunstâncias, propiciar o término do mesmo. De acordo com Leite et al. (2002),
Hoogensteijn & Hoogensteijn (2005) e os resultados obtidos no presente estudo
recomenda-se:
1. Evitar a caça de animais silvestres na área da fazenda e adjacências (a diminuição
do número de presas naturais pode levar os carnívoros a predarem animais
domésticos);
2. Construir reservatórios de água para a fauna silvestre (esta é uma forma de atrair
animais silvestres, diminuindo a possibilidade de predação dos animais
domésticos);
3. Não caçar leões-baios como forma de diminuir ou prevenir ataques (muitas vezes o
animal abatido não é o responsável pela predação. Além disso, caçadores
inexperientes injuriam o animal, impossibilitando-o de caçar presas naturais);
4. Não deixar vacas prenhes ou com bezerros recém-nascidos perto dos capões de
mata (animais silvestres utilizam os capões de mata e é o local que os predadores
costumam utilizar para se alimentar e se deslocar);
44
5. Estabelecer estações de monta curtas, permitindo supervisão mais intensa neste
período (a utilização desta medida facilita e concentra os animais prenhes e seus
filhotes a um período do ano, facilitando a proteção do rebanho);
6. Estabelecer “áreas de maternidade” protegidas por cercas elétricas (junto com a
estação de monta curta, o estabelecimento de áreas de maternidade protegidas
facilita o trabalho de proteção do rebanho);
7. Manter animais experientes no rebanho para que estes possam ensinar aos mais
novos comportamentos adequados de agrupamento como defesa a ataques (animais
experientes podem repassar os conhecimentos de defesa anti-predador para outros
animais do rebanho);
8. Em áreas com maior intensidade de predação, recolher o rebanho para áreas
próximas à sede, com iluminação e cerca elétrica (evitar utilizar áreas com maior
índice de predação durante certo período pode fazer com que o predador deixe de
utilizar a área em questão);
9. Evitar o uso de áreas com histórico de predação para maternidade (estas áreas
devem ser utilizadas para a manutenção de animais maiores, menos vulneráveis a
predação);
10. Evitar a exposição de rebanhos mais vulneráveis em áreas com alto grau de
predação (escolher o rebanho adequado e utilizar medidas preventivas adequadas
ao rebanho pode diminuir a intensidade da predação).
45
5. - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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54
Anexo 1: Ficha de entrevista utilizada no trabalho de campo
PROJETO LEÃO BAIO
PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE PREDADORES SILVESTRES
Formulário n____
Nome da propriedade:__________________________________________________Data:__/__/____
Nome do proprietário:________________________________________________________________
Nome e função do entrevistado:_________________________________________________
Área total da propriedade:_________________hectares
Coordenadas geográficas_________________
Acesso:
Culturas:_______________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
Sistema de criação e manejo adotado: Corte ( ) Leite ( ) Misto( )
Tipo de criação: ( ) Bovino ( ) Ovino ( ) Suíno ( ) Eqüino ( ) Caprino Outro ______________
Número de cabeças:__________________________________________________________________
Aspecto sanitário da criação: ( ) Ótimo ( ) Regular ( )Ruim
Vacinação/Vermifugação: ( ) Freqüente ( ) Rara
Condição das instalações: ( ) Ótimas ( ) Regulares ( ) Péssimas
Tipo de cerca: ( ) Arame liso ( )Arame farpado ( ) Cerca elétrica
Número de fios:____ Altura da cerca:_____metros
Os animais são presos à noite: ( ) Sim ( ) Não
Água para os animais: ( ) Rio ( ) Açude ( ) Encanada Outra:__________________________
Topografia da área: ( ) Plana ( ) Ondulada ( ) Montanhosa
Área antropizada próxima:_____________km.
PREDAÇÃO
Espécies atacadas: ( ) Bovino ____ ( ) Eqüino ____ ( ) Suíno____ ( ) Ovino ____ ( ) Caprino ____
Há caça na região?: ( ) Sim ( ) Não
Características do local do ataque: ( ) Pasto ( ) Mata ( ) Campo ( ) Cultura
Como sabe que foi ataque?: ( ) Visualização do predador ( ) Tipo de mordida ( ) Pegadas ( ) Fezes
Quais bichos são vistos na região:______________________________________________________
55
______________________________________________________________________________________
Porque você acha que está ocorrendo ataques na sua propriedade?:
_______________________________________________________________________________________
_
OBSERVAÇÕES:_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
__
Entrevistador:___________________________________________________________________________
________________
Foto 1: Fotografia do chiqueiro da propriedade SB. No detalhe, um suíno escondido na
vegetação.
Foto 2: Cachorro doméstico mal alimentado.
56
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