Nas cidades, a lama parecia-me de súbito vermelha e negra, como
um espelho quando a lâmpada circula na peça contígua, como um
tesouro na floresta! Boa sorte, exclamava eu, e via um mar de
labaredas e fumaça no céu, e, à esquerda, à direita, todas as riquezas
ardendo como um milhar de relâmpagos.
Mas a orgia e a camaradagem das mulheres me estavam proibidas.
Nem ao menos um companheiro. Via-me diante de uma multidão
exasperada, em frente ao pelotão de fuzilamento, chorando a
desgraça de que não houvessem podido compreender, e perdoando!
– Como Joana d'Arc! - "Sacerdotes, professores, mestres, vós vos
enganais entregando-me à Justiça. Jamais pertenci a este povo daqui
de baixo; jamais fui cristão; eu pertenço à raça que cantava no
suplício; não compreendo as leis; não tenho senso moral; sou um
bruto: vós vos enganais".
Sim, tenho os olhos cerrados para a vossa luz. Sou uma, um negro.
Contudo posso salvar-me. Vós sois falsos negros; vós, maníacos,
ferozes, avarentos. Mercador, tu és negro; magistrado, tu és negro;
general, tu és negro; imperador, velho prurido, tu és negro; tu
bebeste um licor não selado, da fábrica de Satã. – Este povo está
inspirado pela febre e pelo câncer. Mutilados e velhos são de tal
modo respeitáveis que pedem que os cozinhem. – O mais sábio é
abandonar este continente, onde ronda a loucura para prover de
reféns estes miseráveis. Entro no verdadeiro reino dos filhos de Can.