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obrigasse a ir fundo em buscas, pesquisas, aquela coisa de livro com
mil notas de rodapé e uma bibliografia de humilhar qualquer não
acadêmico’. O livro seguiu sem as notas, mas o projeto cresceu e, com
isso, a preocupação. ‘O compromisso teria que ser maior, eu teria que
ir além da despretensão que fora a idéia inicial, isto é, teria que
pesquisar, conversar com parentes da biografada e pessoas que a
conheceram bem, ir às bibliotecas, aos arquivos, à internet’. O
resultado chega agora às livrarias, com a minissérie.
Não há nada de sisudo na escrita de Bivar. Nos primeiros nove
capítulos - as primeiras 150 páginas -, a organização é cronológica. A
primeira ida à Europa, os momentos vividos em Paris, o casamento
com Jayme Telles, o divórcio, o modo como surpreendeu a sociedade
da época ao assumir os negócios da fazenda da família, a Empyreo,
modernizando suas atividades, instituindo práticas que iriam inspirar a
grande parte dos fazendeiros brasileiros. Todos estes momentos das
primeiras décadas de sua vida guardam um interesse duplo, para o
qual chama a atenção o autor. A história de Yolanda Penteado já é
fascinante pelas suas conquistas e realizações. Mas há outro
componente: o contexto em que viveu, as pessoas com quem privou e
o modo como as retratou em sua biografia (uma das principais fontes
do livro).
A paixão por voar, as dificuldades surgidas com o início da guerra na
Europa, a tentativa de cultivar o bicho-da-seda, a relação com os
irmãos, a reação à criação do Masp e de seu acervo: a vida de Yolanda
vai seguindo e a narrativa de Bivar perde a linearidade, até o momento
em que ela conhece Ciccillo Matarazzo Sobrinho, seu futuro marido e,
aos poucos, ele começa a explicar sua própria afirmação de que aquela
seria uma união que traria imensos frutos para a vida brasileira. Bivar
conta, com auxílio do depoimento de Maria Bonomi e outras
personalidades, o modo como conseguiram tamanha proeza, desde a
sugestão inesperada de Ciccillo à esposa até o lobby feito por Yolanda
junto a deputados para aprovar a lei.
Mas há muitos outros detalhes, como a visita a André Malraux na
tentativa de conseguir com ele ajuda na hora de trazer obras ao Brasil,
para não falar, mais tarde, da criação do Museu de Arte
Contemporânea da USP, em 1963. Ou, então, da 2.ª Bienal, em 1954,