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Eles não estão nem aí, eles vêm e tiram. Na verdade, eles são tão sofridos, tão judiados que
eles são arrancados duas vezes, porque tira dos pais e depois tira daqui de novo e vai embora.
Então é muito sofrido não só para nós, mas para eles, para nós, para eles é muito sofrido, é um
trabalho bom de fazer, mas é muito sofrido, eu vou te falar que é muito sofrido.
Pesquisadora: Acho que a Senhora também está aqui há muito tempo, está numa posição...
Vera: É o que nós vemos, o que nós observamos... Você vê...e a gente aqui não tem notícia!
A menina! Eu não tenho nenhuma notícia e ela está aqui pertinho e ela falou que não pode
trazer a menina aqui por ordem (cita alguém) que aconselhou a não trazer.
Aí não era hora de fazer um trabalho com essa mãe? “Olha, não é por aí, é a casa que eles
conheceram, é a casa que eles moraram, lá eles têm os irmãos, lá eles têm a tia que cuidou
deles”. Não precisava ser essa coisa brusca. A questão, o que eles estão fazendo, é aquela
coisa brusca com as crianças. Arranca daqui, arranca dali. Mas eu ainda tenho esperanças de
mudanças aqui, nós ficamos pensando: “Um dia pode mudar”. Nós ficamos naquela
esperança, naquela ilusão de que um dia pode mudar para melhor, nós esperamos mudanças
para melhor.
Pesquisadora: Quando a Senhora estava cuidando das crianças maiores, a Senhora percebia
dificuldades de aprendizagem na escola, dificuldades de aceitarem regras, ou mesmo outras
coisas que poderiam nos dizer que algo não vai bem no desenvolvimento?
Vera: Muitas! Muitas! Eu, por exemplo, em meu caso aqui, eu sou uma mãe que se preocupa,
eu sou conhecida...agora eu não vou na escola porque aqui não tem criança na escola, mas eu
sou a mãe mais conhecida aqui da escola, toda semana eu estava na escola, ela mandava
bilhete, eu ia, então elas falavam, eu sou conhecida de todos ali na escola, eu ia em uma sala,
eu ia na outra...Então, eu sou conhecida de todas lá, eu era uma pessoa que me preocupava
mesmo, elas chamavam crianças, inclusive esse que foi adotado, mas ele deu um trabalho na
escola, é a minha preocupação maior com ele é isso aí. Ele deu muito trabalho na escola, teve
um ano, no ano passado, teve uma professora na escola que falou para mim que adoeceu,
ficou com problema de saúde por causa dele. Então eu falei para ela “Você analisa a minha
situação, você que fica aqui com ele meio período e você está dizendo para mim que adoeceu,
que ele te deixou doente, deu problema de pressão alta. Agora está com problemas de saúde,
agora você vê o meu lado. Que não é só ele e são vinte e quatro horas”, ela falou “Você é uma
guerreira”, eu ouvi isso lá “Você é uma guerreira”. Então, esse ano ela ficou com ele o ano
passado, o ano todo, ela ficou doente, ele não conseguiu fazer nada, ele foi reprovado. Então
quando foi esse ano, quando ele foi para a escola, então ele ficou assim... ele é problemático,