67
O interessante é que esse processo tão complexo pode levar simplesmente
alguns segundos, dependendo do tempo que o trabalhador tem para definir sua
ação e dependendo das questões envolvidas. Em situações nas quais existem fatos
inesperados, passa a ser ainda mais necessária essa capacidade de discernimento,
que o induz a escolher entre uma ação e outras possibilidades.
Nesta pesquisa, o trabalho é percebido como sendo gestão, como um “lugar
de debate, um espaço de possíveis sempre a negociar onde não existe execução,
mas uso, e o indivíduo no seu todo é convocado na atividade” (SCHWARTZ, 2000a,
p. 34).
Conforme Schwartz (1998; 2000b), é preciso perceber que toda forma de
atividade requer que variáveis sejam geridas. Isso se dá em situações que fazem
história, mas que ao mesmo tempo, são em parte, singulares. Toda gestão supõe
escolhas, ponderações, critérios, um certo engajamento, uma hierarquização de atos
e objetivos, arbitragens, às vezes, de modo muito rápido, que são chamadas pelo
autor de “usos de si”, ou mesmo, “usos dramáticos de si”. E exemplifica: quantidade
versus qualidade, economia de si versus facilitar a ação coletiva.
O autor trata toda situação de trabalho como uma convocação do uso de si,
um lugar de dramáticas. Nessas situações de trabalho, a todo o momento, ocorrem
micro-escolhas, micro-decisões, levando a uma adaptação indefinida, uma vigilância
sensorial, relacional e intelectual, numa modificação constante de normas, regras e
procedimentos.
O uso de si por si é considerado por esse autor, como sendo sempre como
uma problemática. Por isso, o lugar de uma dramática, na qual ocorre uma gestão
de eventualidades específicas da atividade, gestão das interfaces entre estoques,
prazos, relações entre clientes e fornecedores, das relações no grupo de trabalho,
gestão da qualidade, das normas, do tempo, do orçamento, enfim, a gestão de
múltiplas questões. No momento da situação de trabalho, essa gestão solicita a
reflexão sobre o uso de si, sobre como fazer o uso de si, como se fazer disponível
para tornar compatíveis essas gestões heterogêneas.
Além disso, toda atividade de trabalho implica a gestão permanente das
dramáticas do uso de si, a gestão do uso de si por si e do uso de si pelos outros. A
partir disso, de acordo com Schwartz pode-se pensar a atividade de trabalho
envolvendo um si contextualizado, ou melhor, um si que percorre um continuum de
variações entre singularidades e coletividades.