Escravo — Acerca das leis do cativeiro entre os índios, leiam-se os
dois capítulos XV e XVI, que a este assunto consagrou Ives d'Evreux,
citado.
Os cativos viviam em plena liberdade na taba de seus senhores, e era
muito raro que fugissem, porque se consideravam ligados por um
vínculo, desde o momento em que o vencedor lhes calcava a mão
sobre a espádua. Quebrar esse vínculo, era por eles considerado uma
desonra.
Até os prisioneiros destinados ao suplício, preferiam a morte gloriosa
a se rebaixarem pela fuga no conceito de seus inimigos. "Muitas vezes
as mulheres tomavam substâncias que provocavam aborto, não
querendo passar pela miséria de verem trucidada a prole; e não raro
favoreciam a fuga dos tristes maridos d'alguns dias, pondo-lhes
comida nos bosques e até escapulindo-se com eles. Frequentemente
sucedeu isto a prisioneiros portugueses; os índios brasileiros, porém,
julgavam desonrosa a fuga, nem era fácil persuadi-los a tomá-la".
Southeym cap. VII, onde cita Notícias do Brasil, II, 69 e Herrera 4, 3,
13.
Abbeville ainda é mais explícito: — Et bien que estant desliez et libres
comme ils sont, ils puissent fuir et se sauver — si est ce qu'ils ne font
jamais encore qu'ils soient assurez de estre tuez et mangez au bout de
quelques temps. Car is quelqu'un des prisionniers s'estait eschapé pour
retourner en son pays, non seulement il serait tenu pour un couaen
eum, c'est a dire poltron et lasche de courage; mais aussi ceux de sa
nation mesme ne manqueroient de le tuer avec mille reproches de ce
quíl n'aurait pas eu le courage d'endurer la mort parmises ennemis,
comme si ses parents et tous ses semblables n'etaient assez puissants
pour venger sa mort. Etc — pág. 290.
As leis da cavalheria, no tempo em que floresceu na Europa, não
excediam por certo em pundonor e brios a bizarria dos selvagens
brasileiros. Jamais o ponto de honra foi respeitado como entre estes
bárbaros, que não eram menos galhardos e nobres do que esses outros
bárbaros, godos e arábes, que fundaram a cavalaria.
Ai está uma pedra de toque para aferir-se do caráter do selvagem
brasileiro, tão deprimido por cronista e noveleiros, ávidos de
inventarem monstruosidades para impingi-las ao leitor. Nem isso lhes
custava; pois a raça invasora buscava justificar suas cruezas
reabaixando os aborígines à condição de feras que era forçoso
montear. (ALENCAR, 1984, p. 38-39)
Algumas citações expostas por Alencar apresentam problemas relacionados com
as referências bibliográficas. Algumas estão incompletas, faltando dados da obra ou do
autor. Tomemos como exemplo a nota "Juçara", localizada no terceiro capítulo. Nela
Alencar cita um trecho da revista do Instituto com várias referências, menos o nome do
autor, elemento essencial numa citação.
Juçara - "Nas povoações feitas em terra, têm muitas nações guerreiras
a providência de as segurarem e munirem com fortes muralhas, não de
pedra, mas de estacas de pau duro como pedra. Outros as fabricam de