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TOXICIDADE DE INSETICIDAS UTILIZADOS EM CULTIVOS DE
ROSEIRA AO PREDADOR Orius insidiosus (SAY, 1832)
(HEMIPTERA: ANTHOCORIDAE)
FABRÍCIA ZIMERMANN VILELA TORRES
2005
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FABRÍCIA ZIMERMANN VILELA TORRES
TOXICIDADE DE INSETICIDAS UTILIZADOS EM CULTIVOS DE
ROSEIRA AO PREDADOR Orius insidiosus (SAY, 1832)
(HEMIPTERA: ANTHOCORIDAE)
Orientador:
Prof. Dr. Geraldo Andrade Carvalho
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
2005
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Lavras, como parte das exigências do Programa de
Pós-graduação em Agronomia/Entomologia, área de
concentração em Entomologia Agrícola, para
obtenção do título de “Mestre”.
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Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
Torres, Fabrícia Zimermann Vilela
Toxicidade de inseticidas utilizados em cultivos de roseira ao predador
Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae) / Fabrícia
Zimermann Vilela Torres. -- Lavras : UFLA, 2005.
83 p. : il.
Orientador: Geraldo Andrade Carvalho.
Dissertação (Mestrado) – UFLA.
Bibliografia.
1. Orius spp. 2. Inseticida. 3. Controle biológico. 4. Seletividade. 5. Manejo
integrado de praga. 6. Rosa. I. Universidade Federal de Lavras. II. Título.
CDD-632.96
-635.93337
FABRÍCIA ZIMERMANN VILELA TORRES
TOXICIDADE DE INSETICIDAS UTILIZADOS EM CULTIVOS DE
ROSEIRA AO PREDADOR Orius insidiosus (SAY, 1832)
(HEMIPTERA: ANTHOCORIDAE)
APROVADA em 28 de fevereiro de 2005.
Prof. Dr. Silvio Favero UNIDERP
Prof. Dr. Renê Luís de Oliveira Rigitano UFLA
Prof. Dr. Geraldo Andrade Carvalho
UFLA
(Orientador)
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Lavras, como parte das exigências do Programa de
Pós-graduação em Agronomia/Entomologia, área de
concentração em Entomologia Agrícola, para
obtenção do título de “Mestre”.
A Jesus Cristo
Com amor e gratidão
DEDICO
AGRADECIMENTOS
Ao meu esposo Lucas pelo seu amor, que proporcionou amizade,
carinho, companhia, dedicação, compreensão e força.
Aos meus avós, José e Astrogilda, pela dedicação à minha família.
À minha mãe Neli e ao Adão pela amizade, incentivo, alegria e
confiança.
Ao meu pai Luiz pela presença e força de vontade.
À minha tia Marta e ao Miguel pelo apoio, confiança e amizade.
A minha irmã Fabiana pela amizade e cumplicidade.
Aos meus tios, José e Lindaura, pelo cuidado, incentivo e amizade.
Aos meus sogros, Rigoberto e Terezinha, e também a Maria, Alice e
Thiago pelo apoio e dedicação.
Ao Prof. Dr. Geraldo Andrade Carvalho pela amizade, paciência,
dedicação e orientação na realização deste trabalho.
Aos amigos Edgar, Caroline, Carolina, Cleison e Marianne pelo
incentivo.
Aos amigos Liana, Patrícia, Éderson, Alan, Viviane e Anderson pela
amizade e pelos ensinamentos da Palavra de Deus.
Aos amigos Paulo e Ester pela amizade e força em Jesus Cristo.
Às amigas Viviane e Danila, lembrando nossas longas horas de estudo e
bate-papo.
Aos amigos Paulo e Cleide pela amizade e companheirismo.
As minhas amigas e companheiras de república, Danila e Letícia, pela
amizade, companhia e apoio.
Aos meus amigos da célula, Luci, Patrícia, Daniel e Renata, pelas horas
de descontração na Palavra de Deus.
Ao Pastor Paulo pela amizade e pelos conselhos.
Aos irmãos da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra pela acolhida e
amizade.
Ao amigo e estagiário Jander pela amizade e pela grande colaboração na
condução dos trabalhos práticos.
Aos amigos Alexandre e Luiz Carlos pela amizade, paciência e
orientação.
À amiga Lúcia pelas horas de paciência com as análises estatísticas.
Aos estagiários do Laboratório de Seletividade, Marina, Luciano, Olinto,
Adriano, Juliano, Nicolau, Alan, Valéria, Carla e Denise, pela colaboração.
Ao Prof. Dr. Renê Luís de Oliveira Rigitano pelo apoio e pelos
ensinamentos entomológicos.
Ao Prof. Dr. Silvio Favero pelo incentivo e pelos ensinamentos.
Aos professores do Departamento de Entomologia, Ronald, Brígida,
Vanda, Alcides, Jair, César e Américo, pelos ensinamentos.
Aos funcionários do Departamento de Entomologia, em especial Nazaré,
Elaine, Fábio, Lisiane, Edvaldo, Julinho, Néia, Marcos, Anderson, Cidinha e
Marli, pela colaboração.
Ao pesquisador Paulo Rebelles Reis por permitir a utilização da torre de
Potter.
Ao Márcio, funcionário da EPAMIG/CTSM, pelo auxílio na utilização
da torre de Potter.
Aos colegas do curso de Mestrado, Marcelo, Patrick, Marçal, Aldomário,
Leonardo e Carla, pelos estudos e contribuições.
À Universidade Federal de Lavras e ao Departamento de Entomologia,
pela oportunidade de realização do curso de Mestrado.
Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudos.
A todos que contribuíram para a realização deste trabalho.
“Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te
submergirão; quando pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.
Porque Eu sou o Senhor teu Deus” Is 43:2
SUMÁRIO
Página
RESUMO....................................................................................................... i
ABSTRACT................................................................................................... ii
CAPÍTULO 1................................................................................................. 1
1 Introdução Geral......................................................................................... 1
2 Referencial Teórico..................................................................................... 3
2.1 Aspectos econômicos da floricultura mundial......................................... 3
2.2 A cultura da roseira.................................................................................. 4
2.2.1 Aspectos botânicos............................................................................... 4
2.2.2 Principais pragas................................................................................... 5
2.3 Gênero Orius Wolff (Hemiptera: Anthocoridae)..................................... 6
2.3.1 Aspectos bioecológicos de Orius spp................................................... 7
2.4 Aspectos gerais de seletividade de produtos fitossanitários.................... 11
2.5 Impacto de produtos fitossanitários sobre inimigos naturais................... 12
2.6 Testes de seletividade.............................................................................. 15
2.7 Seletividade de produtos fitossanitários a Orius spp............................... 17
2.7.1 Ovos...................................................................................................... 18
2.7.2 Ninfas.................................................................................................... 18
2.7.3 Adultos.................................................................................................. 19
2.8 Modo de ação dos inseticidas utilizados nos bioensaios......................... 21
2.8.1 Endosulfan............................................................................................ 21
2.8.2 Imidacloprid.......................................................................................... 22
2.8.3 Formetanate.......................................................................................... 23
2.8.4 Spinosad................................................................................................ 23
2.8.5 Deltamethrin......................................................................................... 24
3 Referências Bibliográficas.......................................................................... 26
CAPÍTULO 2
Toxicidade de inseticidas utilizados em cultivos de roseira a ovos e ninfas
de quinto instar de Orius insidiosus (Say, 1832)(Hemiptera:Anthocoridae)
33
1 Resumo....................................................................................................... 33
2 Abstract....................................................................................................... 34
3 Introdução................................................................................................... 35
4 Material e Métodos..................................................................................... 36
4.1 Obtenção dos indivíduos e criação de laboratório................................... 36
4.2 Inseticidas avaliados................................................................................ 37
4.3 Efeito dos inseticidas sobre ovos de O. insidiosus.................................. 37
4.4 Efeito dos inseticidas sobre ninfas de quinto instar de O.
insidiosus....................................................................................................... 39
4.5 Análises estatísticas................................................................................. 41
4.6 Cálculos para classificação dos produtos avaliados................................ 42
5 Resultados e Discussão............................................................................... 43
5.1 Efeitos dos inseticidas na viabilidade de ovos, sobrevivência e
duração dos instares ninfais e na reprodução de adultos emergidos.............
43
5.2 Mortalidade de ninfas de quinto instar tratadas com os inseticidas
e efeito na reprodução de adultos emergidos................................................. 48
6 Conclusões.................................................................................................. 54
7 Referências Bibliográficas.......................................................................... 55
CAPÍTULO 3
Toxicidade de inseticidas utilizados em cultivos de roseira a adultos
de Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae)....................… 58
1 Resumo....................................................................................................... 58
2 Abstract....................................................................................................... 59
3 Introdução................................................................................................... 60
4 Material e Métodos................................................................................... 61
4.1 Obtenção dos indivíduos e criação de laboratório................................... 61
4.2 Inseticidas avaliados................................................................................ 61
4.3 Efeito da pulverização de inseticidas sobre adultos de O.
insidiosus....................................................................................................... 62
4.4 Efeito do endosulfan na capacidade predatória de adultos de
O. insidiosus.................................................................................................. 64
4.5 Efeito da ingestão de alimento contaminado com endosulfan sobre
adultos de O. insidiosus................................................................................. 65
4.6 Análises estatísticas................................................................................. 66
4.7 Cálculos para classificação dos produtos avaliados................................ 68
5 Resultados e Discussão............................................................................... 69
5.1 Efeito da pulverização dos inseticidas sobre adultos de O.
insidiosus....................................................................................................... 69
5.2 Efeito do endosulfan na capacidade predatória de adultos de
O. insidiosus.................................................................................................. 74
5.3 Efeito da ingestão de alimento contaminado com endosulfan para
adultos de O. insidiosus............................................................................... 75
6 Conclusões.................................................................................................. 80
7 Referências Bibliográficas.......................................................................... 81
i
RESUMO
TORRES, Fabrícia Zimermann Vilela. Toxicidade de inseticidas utilizados em
cultivos de roseira ao predador Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera:
Anthocoridae). 2005. 83p. Dissertação (Mestrado em Entomologia)
1
Universidade Federal de Lavras, Lavras.
A utilização de produtos fitossanitários seletivos a inimigos naturais no
controle de pragas é de extrema importância para que se possa implementar um
programa de manejo integrado de pragas. Objetivou-se avaliar a toxicidade de
alguns inseticidas utilizados na cultura da roseira ao predador Orius insidiosus
(Say, 1832). Os experimentos foram conduzidos em condições de laboratório, a
25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas. Os inseticidas avaliados e suas
respectivas diluições, em g i.a./100 mL de água, foram: endosulfan (0,021),
imidacloprid (0,008), formetanate (0,04), spinosad (0,0144) e deltamethrin
(0,0008), tendo sido utilizadas formulações comerciais dos mesmos. O
tratamento testemunha foi composto somente de água destilada. Os testes foram
realizados com ovos, os quais foram imersos nas caldas inseticidas por cinco
segundos, com ninfas de quinto instar previamente tratadas com os compostos
em torre de Potter, e com adultos, os quais foram tratados por meio de
pulverização ou ingestão de presas contaminadas. Os parâmetros avaliados
foram a viabilidade dos ovos tratados, a mortalidade e duração dos estádios
subseqüentes, a mortalidade das ninfas de quinto instar e de adultos, o número
médio diário e total de ovos colocados em 15 dias, a viabilidade dos mesmos e a
capacidade predatória dos adultos. Deltamethrin foi nocivo a todos os estágios
de desenvolvimento do predador; imidacloprid foi nocivo para ovos, levemente
nocivo para ninfas de quinto instar e moderadamente nocivo para adultos;
spinosad foi levemente nocivo para ovos e ninfas de quinto instar e
moderadamente nocivo para adultos. Endosulfan e formetanate foram levemente
nocivos para todos os estágios, sendo que endosulfan não afetou a capacidade
predatória dos adultos de O. insidiosus.
1
Orientador: Geraldo Andrade Carvalho – UFLA.
ii
ABSTRACT
TORRES, Fabrícia Zimermann Vilela. Toxicity of insecticides used in rose
crops to the predator Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera:
Anthocoridae). 2005. 83p. Dissertation (Master in Entomology)
2
– Federal
University of Lavras, Lavras.
The use of selective pesticides to natural enemies in pest control is of
great importance for implementative of an integrated pest management program.
The objective of this study was to evaluate the toxicity of some insecticides used
in rose crops to the predator bug Orius insidiosus (Say, 1832). The tests were
carried out under laboratory conditions at 25±2ºC, RH of 70±10% and 12 h-
photophase. The evaluated insecticides and respective concentrations, in g
a.i./100 mL of water, were: endosulfan (0,021), imidacloprid (0,008),
formetanate (0,04), spinosad (0,0144) and deltamethrin (0,0008), with
commercial formulations of the insecticides being used. Distilled water was used
as control. The tests were carried out with eggs, which were dipped in the
aqueous dilutions of the insecticides for five seconds; with fifth instar-nymphs,
which were treated using a Potter’s tower, and with adults, which were treated
either by spraying or ingestion of contaminated preys. The treated eggs viability,
the mortality of the fifth instar-nymphs and the adults, daily and the total
number of eggs for fifteen days and their viability, and the adults predatory
capacity were evaluated. Deltamethrin was highly toxic to all development
stages of the predator; imidacloprid was highly toxic to eggs, slightly harmful to
fifth instar-nymphs and moderately harmful to adults; spinosad was slightly
harmful to eggs and fifth instar-nymphs. Endosulfan, formetanate and spinosad
were slightly harmful to fifth instar nymphs and moderately harmful to adults.
Endosulfan and formetanate were slightly harmful to all stages. Endosulfan did
not affect the predatory capacity of O. insidiosus adults.
2
Adviser: Geraldo Andrade Carvalho – UFLA.
1
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO GERAL
A roseira (Rosa spp.), embora seja uma planta asiática, originária de
países como Japão, Coréia, China, Índia e Irã (Pérsia) e das proximidades do
Cáucaso, regiões de clima ameno, desenvolve-se bem no Brasil. Cultivam-se
roseiras em várias regiões brasileiras, principalmente nos estados de São Paulo,
Santa Catarina e Minas Gerais (Silva, 1987; Aki & Perosa, 2002). Em 2002, a
produção brasileira foi de 3.300.738 dúzias de rosas, e até junho de 2003 chegou
a 1.583.153 dúzias (Agrianual, 2004).
É comum o aparecimento de pragas na cultura da roseira, tais como
ácaros, pulgões, tripes, cochonilhas e besouros, as quais podem atingir níveis
populacionais que causam prejuízos econômicos aos produtores. Estes
organismos são controlados, na maioria das vezes, por inseticidas, que são de
fácil aplicação e proporcionam resultados rápidos.
Embora tenham essa praticidade, os inseticidas não afetam somente as
pragas, mas também insetos benéficos, como polinizadores e inimigos naturais,
além de aves, mamíferos e peixes. Aplicações indiscriminadas de produtos
fitossanitários podem causar ressurgência de populações de pragas devido à
seleção de genótipos resistentes e à eliminação de importantes inimigos naturais
(Nemoto, 1995).
Uma das alternativas ao método químico é o uso do controle biológico
de pragas, patógenos e ervas daninhas, que é sustentável e ambientalmente
favorável, sendo considerado importante tática no manejo integrado de pragas
(MIP) em muitos agroecossistemas.
2
Na Europa, ao contrário do que ocorre no Brasil, na maioria das vezes, o
controle de pragas em cultivos protegidos de roseira é realizado por meio do
método biológico, proporcionando redução da exposição de inimigos naturais e
dos aplicadores aos produtos fitossanitários e diminuindo o risco de poluição
ambiental (Barbosa, 2003).
Dentre os inimigos naturais, os percevejos do gênero Orius, predadores
em todos os estágios de seu desenvolvimento, desempenham importante função
como reguladores da dinâmica populacional de tripes, ácaros, afídeos e pequenas
lagartas de lepidópteros (Bueno, 2000). Atuam em diversos sistemas agrícolas,
desde o cultivo protegido de crisântemo, roseira, pimentão, berinjela e tomate,
até grandes áreas cultivadas com plantas de algodoeiro, feijoeiro, macieira,
milho e soja.
Para que esses predadores possam manifestar sua maior eficiência no
controle de pragas da cultura da roseira é importante o uso de produtos
fitossanitários seletivos, uma vez que há interesse em liberações de Orius
insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae) em cultivos protegidos de
roseira no Brasil. Dessa forma, objetivou-se avaliar a toxicidade dos inseticidas
endosulfan, imidacloprid, formetanate, spinosad e deltamethrin, utilizados em
roseira, para esse predador em condições de laboratório.
3
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Aspectos econômicos da floricultura mundial
Países como Colômbia, Equador, Costa Rica, EUA, Israel, Japão, África
do Sul, Quênia, Espanha, Itália, Dinamarca e Holanda destacam-se como
maiores produtores mundiais de flores. Produzem principalmente crisântemos,
rosas, gypsophilas, cravos, asters, lírios, tulipas, alstromerias, orquídeas,
bromélias, impatiens, poinsétias, ciclamens, begônias, violetas, azaléias e
gérberas, além de folhagens e material de propagação, como bulbos, mudas e
sementes (Motos, 2000).
Estima-se que a área mundial plantada com flores é de 190.000 ha,
movimentando valores próximos a US$ 16 bilhões/ano no comércio atacadista e
US$ 44 bilhões/ano em nível de varejo. Quanto às exportações, o mercado
mundial movimenta valores superiores a US$ 5 bilhões, sendo Holanda,
Colômbia, Itália, Dinamarca, Israel, Equador, Espanha, Quênia, Costa Rica,
África do Sul e Austrália os principais países exportadores (Motos, 2000).
A floricultura brasileira vem se expandindo e obtendo resultados
positivos, mesmo em períodos de crise econômica. Estima-se que a produção
nacional de flores movimenta por volta de US$ 100 milhões anuais, sendo mais
de 90% referentes ao consumo interno (Silveira, 1993). Na Companhia de
Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) são comercializadas,
por ano, aproximadamente 5 milhões de dúzias de rosas. Outros locais de intensa
comercialização são a Central de Abastecimento S/A de Campinas (CEASA) e a
Holambra (Barbosa, 2003).
A área cultivada com flores e plantas ornamentais no Brasil corresponde
a 5,2 mil hectares por ano, sendo a produção concentrada nos estados de São
4
Paulo (71,8%), Santa Catarina (11,6%) e Minas Gerais (2,8%) (Aki & Perosa,
2002). As flores e plantas ornamentais mais produzidas no Brasil são rosas,
crisântemos, violetas, prímulas, cinerárias, kalanchoes, gypsophilas, folhagens e
plantas de jardim e outras (Motos, 2000).
O comércio exterior de flores do Brasil totalizava, no ano de 2000,
US$11,9 milhões. Dentre os estados brasileiros que mais exportam flores e
plantas ornamentais destacam-se São Paulo e Minas Gerais, com 47,5% e 15,3%
do total exportado, respectivamente. Em São Paulo, o município que tem maior
participação é o de Holambra, com 13,8% das exportações, e em Minas Gerais,
Andradas é o maior exportador, também com 13,8% do volume exportado pelo
estado (Perosa, 2002).
Os principais destinos das exportações de flores do Brasil são o
Mercosul, os Estados Unidos, a União Européia e o Japão (Risch, 2004).
2.2 A cultura da roseira
2.2.1 Aspectos botânicos
A roseira pertence ao gênero Rosa e à família Rosaceae. Existem 4.266
espécies citadas, sendo as mais importantes Rosa lutea Miller, Rosa moschata
Miller, Rosa semperflorens Curtis, Rosa multiflora (Munger), Rosa indica
Linnaeus, Rosa rugosa Thumberg, Rosa wichuraiana Crépin, Rosa chinensis
Jacquin, Rosa centifolia Linnaeus, Rosa foetida Herrmann, Rosa gallica
Linnaeus, Rosa damascena Miller, Rosa canina Linnaeus, Rosa rubiginosa
Linnaeus, Rosa alpina Linnaeus, Rosa sempervirens Linnaeus e Rosa
pinpinellifolia Linnaeus (Barbosa, 2003).
As roseiras podem apresentar portes ereto, trepador ou reptante. A
disposição das folhas é de forma alternada, sendo suas flores de ocorrência
5
solitária ou em cacho, e os frutos do tipo aquênio, ou seja, normalmente seco,
indeiscente, com dois carpelos e apenas uma semente (Barbosa, 2003). O
tamanho das roseiras pode variar de 15 cm até 12 m de altura, no caso das
trepadoras (Gibson, 1994).
Existem atualmente mais de 30 mil variedades de roseiras, obtidas por
meio de cruzamentos e retrocruzamentos, porém apenas 20 mil estão
identificadas (Boettcher, 1991).
2.2.2 Principais pragas
A cultura da roseira é atacada por diversas pragas, sendo as principais o
ácaro-rajado Tetranychus urticae Koch, 1836 (Acari: Tetranychidae), que ataca
a face inferior das folhas e suga o líquido citoplasmático, tornando-as cloróticas,
acarretando o desfolhamento da planta e a não ocorrência de florescimento; os
pulgões Capitophorus rosarum (Kaltenbach, 1843) e Macrosiphum rosae
(Linnaeus, 1758) (Hemiptera: Aphididae), que atacam os brotos novos e tenros,
causando o enrolamento das folhas e a atrofia dos brotos por meio da sucção da
seiva; os tripes Frankliniella tritici (Fitch, 1855), Frankliniella occidentalis
(Pergande, 1895) e Thrips palmi (Karny, 1925) (Thysanoptera: Thripidae), que
atacam folhas e botões, causando deformações e manchas nas pétalas e
transmitem viroses para as plantas; as cochonilhas Chrysomphalus fícus
(Ashmead, 1880) e Aenodiella aurantii (Maskell, 1879) (Hemiptera:
Diaspididae), que revestem as hastes e sugam a seiva, podendo, em ataque
intenso, derrubar as folhas e causar secamento dos ramos; e os besouros
Macrodactylus pumilio Burmeister, 1855, Euphoria lurida (Fabricius, 1775),
Rutela lineola (Linnaeus, 1767) (Coleoptera: Scarabaeidae) e Paraulaca dives
(Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysomelidae), que se alimentam de folhas e
flores (Silva, 1987; Larson, 1992; Gallo et al., 2002; Barbosa, 2003).
6
2.3 Gênero Orius Wolff (Hemiptera: Anthocoridae)
A família Anthocoridae possui de 500 a 600 espécies (Lattin, 2000), das
quais por volta de 70 pertencem ao gênero Orius (Malais & Ravensberg, 1992).
Percevejos do gênero Orius são predadores generalistas e apresentam
ampla distribuição mundial. Ocupam diversos habitats, desde a vegetação nativa
até diferentes agroecossistemas, além de serem capazes de sobreviver em locais
com baixas densidades de presas (Cloutier & Johnson, 1993; Bueno, 2000).
Várias espécies vêm sendo utilizadas no controle biológico, tanto em campos
abertos quanto em cultivos protegidos (Argolo, 2000; Bueno, 2001).
As espécies mais promissoras são O. insidiosus, Orius albidipennis
(Reuter, 1884), Orius laevigatus (Fieber, 1860), Orius majusculus (Reuter,
1879), Orius minutus (Linnaeus, 1758), Orius niger (Wolff, 1811) e Orius
tristicolor (White, 1879) (Malais & Ravensberg, 1992; Bueno, 2000). O.
insidiosus, O. laevigatus e O. majusculus são muito utilizados, especialmente no
Canadá e Europa, em casas-de-vegetação e plantios comerciais de flores, para o
controle integrado de ácaros e tripes, sendo O. laevigatus o agente de controle
mais comum para F. occidentalis, em hortaliças na Europa (Bueno, 2000; 2001).
No Brasil, a espécie de maior ocorrência é O. insidiosus (Bueno, 2000;
Mendes, 2000; Silveira et al., 2003), sendo encontrada predando pragas em
diversas plantas cultivadas e algumas daninhas, como o picão-preto, além de
arbustos que florescem na primavera e verão.
Na Virginia, EUA, essa espécie foi encontrada alimentando-se de ovos
de Helicoverpa zea (Boddie, 1850) (Lepidoptera: Noctuidae), do pulgão
Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856) (Hemiptera: Aphididae) e do pulgão-da-
batata Macrosiphum euphorbiae (Thomas, 1878) (Hemiptera: Aphididae)
(Bueno, 2000).
7
Embora os percevejos do gênero Orius se alimentem das várias espécies
de pragas citadas no subitem 2.2.2, verifica-se maior preferência por pulgões e
tripes (Salas-Aguilar & Ehler, 1977). Num estudo comparativo de preferência
alimentar entre algumas espécies de tripes, ácaros e pulgões, realizado no Japão,
em condições de laboratório, verificou-se que fêmeas adultas de Orius spp.
preferiram T. palmi, seguido de Tetranychus kanzawai (Kishida, 1927) (Acari:
Tetranychidae) e de A. gossypii (Nagai, 1991).
Esses percevejos podem ainda ter como alimento alternativo o pólen de
flores (Malais & Ravensberg, 1992; Lattin, 1999; Bueno, 2000), o que é uma
vantagem em relação ao seu uso em programas de controle integrado.
O habitat desses predadores é muito variável. Num estudo realizado na
Califórnia constatou-se que populações de O. tristicolor são maiores em
sistemas de policultivo (trigo, milho e caupi) quando comparadas àquelas
presentes em monocultivo, como o de abóbora. O policultivo propicia condições
favoráveis de umidade e temperatura, além do fornecimento mais abundante de
alimento (Letourneau & Altiere, 1983).
2.3.1 Aspectos bioecológicos de Orius spp.
Os percevejos do gênero Orius são pequenos, com adultos apresentando
de 1,4 - 4,5 mm de comprimento a depender da espécie e do sexo (Lattin, 1999;
Bueno, 2000). Possuem três estágios de desenvolvimento, incluindo as fases de
ovo, ninfa (com cinco estádios ninfais) e adulta (Malais & Ravensberg, 1992).
O ovo possui aproximadamente 0,4 mm de comprimento por 0,13 mm
de diâmetro e forma elipsoidal, sendo no momento da postura pouco colorido,
tornando-se amarelado posteriormente. Os ovos são depositados pela fêmea
dentro dos tecidos das plantas, sempre na base ou na nervura principal da
superfície abaxial das folhas. Podem ainda ser colocados nas flores, sendo a
8
localização dependente da espécie. Às vezes são depositados em grupos mas, na
maioria dos casos, ocorrem de forma separada (Malais & Ravensberg, 1992).
Fêmeas de Orius spp. podem ovipositar em vários substratos naturais, como
vagens de leguminosas, caules de feijão, brotos de batata, inflorescências de
picão, pecíolos de folhas de algodoeiro, folhas de gerânio e pepino, dentre outros
(Bueno, 2000).
Assim que os ovos são depositados, apenas seus opérculos ficam
expostos, o que dificulta muito sua visualização. Em estágio mais avançado de
desenvolvimento, pode-se observar os olhos vermelhos e o corpo alaranjado do
embrião dentro do ovo (Malais & Ravensberg, 1992).
Fêmeas de O. insidiosus colocam em média 300 ovos, sendo 80% desses
nos primeiros 15 dias após sua emergência (Bueno, 2000). O número médio de
ovos/fêmea/dia pode variar em função do fotoperíodo, ficando entre 2,1 e 3,9
ovos, para fotofases de 13 e 10 horas, respectivamente, de acordo com trabalho
realizado por Argolo et al. (2002) e 2,74 e 4,22 ovos, para fotofases de 10 e 12
horas, respectivamente, num estudo realizado por Silveira & Bueno (2003), os
quais verificaram ainda que o número total de ovos colocados pelas fêmeas,
durante toda sua vida, variou de 37,7 a 53,7 ovos, em fotofases de 10 a 12 horas,
respectivamente.
Quando as ninfas eclodem são brilhantes e pouco coloridas, tornando-se
amarelas em poucas horas. No segundo e terceiro estádios são amarelo-
alaranjadas ou marrons, enquanto no quarto e quinto instares são mais escuras,
assemelhando-se com o adulto. Em todos os estádios os olhos vermelhos podem
ser observados com bastante nitidez. As asas começam a se desenvolver no
terceiro instar, sendo chamadas de tecas alares, mas somente no quinto estádio
seu crescimento é evidente. O tamanho das ninfas de primeiro instar é de 0,4 a
0,5 mm; de segundo de 0,6 a 0,8 mm; de terceiro de 0,9 a 1,2 mm; de quarto de
9
1,3 a 1,5 mm, atingindo, no quinto e último instar, de 1,6 a 1,8 mm de
comprimento (Malais & Ravensberg, 1992).
Ninfas de O. insidiosus apresentam uma glândula de cheiro de coloração
alaranjada, nos 3º, 4º e 5º urômeros, que só é visível nos primeiro, segundo e
terceiro instares, devido à sua coloração mais clara (Bueno, 2000).
Os percevejos Orius spp. desenvolvem-se de ovo a adulto em
aproximadamente 20 dias em casa-de-vegetação, sendo este período mais
extenso em condições de campo (Bueno, 2000). O primeiro instar tem duração
média de 3 dias; o segundo, terceiro e quarto instares duram em média 2,1 dias
cada um e o quinto, cerca de 4 dias, em temperatura de 25±2ºC, umidade relativa
de 70±10% e fotofase de 12 horas (Argolo, 2000). Mendes & Bueno (2001)
obtiveram resultados semelhantes com duração dos instares de O. insidiosus
entre 1,4 e 1,9 dia, do primeiro ao quarto instar, sendo o quinto de maior
duração, com 3,1 dias.
O adulto é amarelo imediatamente após a muda, assumindo coloração
característica dentro de poucas horas. Normalmente, sua cor varia de marrom a
preta, com manchas brancas nas asas. O macho e a fêmea possuem aparência
muito similar, sendo a fêmea maior que o macho (Malais & Ravensberg, 1992).
Sua longevidade é de três a quatro semanas, a depender da temperatura,
da disponibilidade de alimento (Bueno, 2000) e da quantidade de luz, podendo
alcançar 60 dias quando mantidos em ambientes com 14 horas de luz, 25±2ºC e
UR de 70±10% (Argolo et al., 2002). A longevidade das fêmeas é maior que a
de machos, observando-se 21 dias de vida para a fêmea e 12,4 dias para o macho
(Mendes & Bueno, 2001). Altas temperaturas e uma alimentação de boa
qualidade aceleram o desenvolvimento dos indivíduos da população (Malais &
Ravensberg, 1992).
Tommasini & Nicoli (1993) verificaram longevidade média de 17,1 dias
para O. insidiosus criado a 26±1ºC e fotofase de 16 horas, quando alimentado
10
com F. occidentalis. Mendes & Bueno (2001) constataram que essa mesma
espécie em ambiente com temperatura de 25±1ºC e 12 horas de fotofase,
alimentada com C. phaseoli apresentou longevidade média de 17,2 dias. Em um
trabalho realizado por Kiman & Yeargan (1985) com O. insidiosus, foi
observada longevidade média de 40,4 dias para indivíduos criados com dieta
composta de pólen e ovos de H. zea. Richards & Schmidt (1996) constataram
que ovos de Anagasta kuehniella (Zeller, 1879) (Lepidoptera: Pyralidae)
proporcionaram melhores resultados quando oferecidos juntamente com pólen
de plantas de milho para O. insidiosus, que apresentaram longevidade média de
43,7 dias.
As diferentes espécies do gênero Orius podem ser distinguidas
comparando-se o clásper genital do macho. A distinção entre os sexos é feita por
meio da genitália, sendo a dos machos assimétrica e curvada, em forma de
caracol, enquanto a das fêmeas apresenta simetria, com ovipositor alongado
(Salas, 1995).
Adultos de Orius spp. copulam logo após emergirem, e a postura é
realizada cerca de 2 a 3 dias após a cópula (Malais & Ravensberg, 1992).
O fotoperíodo, principalmente o de dias curtos, pode induzir a ocorrência
de diapausa reprodutiva nas fêmeas das espécies de Orius, principalmente em
regiões temperadas, tornando-as inativas durante períodos do ano em que as
pragas para as quais elas são liberadas são ativas, o que pode comprometer o
sucesso do controle (Bueno, 2000). Espécies do norte da Europa apresentam
comportamento de hibernação, principalmente as fêmeas fertilizadas. Em
outubro entram embaixo das cascas ou em pequenas fendas de árvores e arbustos
e, em abril, interrompem a diapausa (Malais & Ravensberg, 1992).
Fêmeas de O. insidiosus apresentam diapausa reprodutiva facultativa em
fotofase menor que 13 horas e temperatura de 25ºC, condições características de
clima temperado (Kingsley & Harrington, 1982; Ruberson et al., 1991); porém,
11
no Brasil, essa espécie não apresentou diapausa reprodutiva quando mantida em
fotofases de 10 a 13 horas e temperatura de 25ºC (Silveira & Bueno, 2003).
Esses predadores localizam suas presas por tato e visão, sendo a antena a
região de maior percepção. Ninfas de todos os estádios e adultos predam
pequenos insetos, segurando suas presas com as pernas dianteiras e perfurando-
as na cabeça ou no abdome para sugá-las. São predadores efetivos mesmo
quando o número de presas é baixo; porém, quando esse número é alto, matam
mais do que realmente necessitam como alimento (Malais & Ravensberg, 1992;
Bueno, 2000).
Podem ser canibais, além de consumir outros artrópodes benéficos
(Malais & Ravensberg, 1992). O canibalismo é mais acentuado nos estádios
ninfais iniciais, mas não é o maior fator de mortalidade em altas densidades nem
em criações de laboratório, desde que o predador seja suprido com quantidade e
qualidade adequadas de alimento e de local para abrigo, como um material de
dispersão no recipiente de criação (Bueno, 2000).
Os adultos fogem rapidamente ou se jogam no chão quando percebem
perigo. Podem voar a longas distâncias e, com isso, localizar um maior número
de presas (Malais & Ravensberg, 1992). Normalmente apresentam distribuição
agregada, mas essa condição é mais freqüente para ninfas em relação aos adultos
(Bueno, 2000).
2.4 Aspectos gerais de seletividade de produtos fitossanitários
Um produto fitossanitário pode ser considerado seletivo quando controla
eficientemente uma ou mais pragas, não afetando negativamente seus inimigos
naturais. A seletividade pode ser fisiológica ou ecológica (Ripper et al., 1951).
Seletividade fisiológica ocorre quando os produtos matam as pragas em
concentrações que não afetam os insetos benéficos (Ripper et al., 1951) e é
12
inerente ao produto (Rigitano & Carvalho, 2001; Gallo et al., 2002). Neste tipo
de seletividade estão envolvidos processos de absorção, penetração, transporte e
ativação de compostos, que podem agir em diferentes intensidades e provocarem
toxicidade diferencial em duas espécies. Também estão envolvidos a diferença
no sítio de ação do composto no corpo do inseto, a retenção em tecido
gorduroso, a excreção e o metabolismo seletivo, como, por exemplo, a
destoxificação (Foerster, 2002).
A seletividade ecológica ocorre quando a maior quantidade do produto
atinge as pragas-alvo e apenas uma pequena ou nenhuma quantidade do mesmo
entra em contato com insetos úteis, ou seja, existe uma exposição diferenciada
dos dois grupos de insetos com relação ao produto (Marques et al., 1999). São
utilizadas diferenças bioecológicas das pragas e dos inimigos naturais como base
para este tipo de seletividade (Ripper et al., 1951). A seletividade ecológica pode
se dar no tempo e/ou no espaço. No tempo a seletividade pode ser alcançada
explorando-se diferenças existentes nos ritmos de atividade diária de uma ou
mais gerações e, no espaço, a separação entre inimigos naturais e pragas pode
ocorrer em diferentes partes de uma planta, entre plantas em campo e entre
culturas (Foerster, 2002). Contribuem para a seletividade ecológica espacial e
temporal a época de aplicação do produto, o uso de formulações granuladas
sistêmicas no solo, a aplicação em faixas ou plantas alternadas, a aplicação
localizada, o uso de isca ou micro-cápsula, as subdosagens e a não aplicação em
plantas na fase de florescimento, o que evita atingir polinizadores (Marques et
al., 1999).
2.5 Impacto de produtos fitossanitários sobre inimigos naturais
Informações sobre o impacto de produtos fitossanitários sobre inimigos
naturais encontram-se disponíveis em um banco de dados chamado SELCTV,
13
que inclui, de 1950 até 1986, mais de 600 espécies de insetos e 400 produtos
químicos, como fungicidas, inseticidas, herbicidas, acaricidas, repelentes
alimentares e reguladores de crescimento de insetos e plantas (Croft, 1990).
De acordo com esse banco de dados, os predadores são menos
suscetíveis a inseticidas do que os parasitóides, existindo menor variabilidade
nos resultados obtidos com estes últimos em comparação com os primeiros.
Quanto aos compostos, os piretróides são os menos seletivos, seguidos pelos
organofosforados, tanto a predadores quanto a parasitóides, enquanto os
inseticidas microbianos e inibidores de crescimento são os grupos químicos mais
seletivos (Foerster, 2002).
Existem efeitos diretos e indiretos de produtos sobre os inimigos
naturais. O contato direto do inseticida com o inseto, ou deste com os resíduos
do produto, causam os efeitos diretos, que podem ser adquiridos também por
meio da ingestão de néctar, pólen ou “honeydew’ contaminados, ou mesmo pela
ingestão de água contaminada no processo de aplicação do composto. Os efeitos
indiretos de um produto sobre inimigos naturais podem ser conseqüência de sua
ação sobre espécies pragas (diminuição e/ou contaminação populacional), que
constituem as suas presas ou hospedeiros (Croft & Brown, 1975).
Os inseticidas, mesmo os seletivos, podem provocar a redução ou até a
extinção local de determinado predador ou parasitóide pela eliminação de suas
presas ou hospedeiros. Muitos inimigos naturais exploram melhor certas
densidades de presas e padrões de distribuição e alguns inseticidas não reduzem
apenas as densidades populacionais, mas provocam mudanças nos padrões de
distribuição das pragas, que se tornam mais regulares e agregadas. Isso pode não
estimular a atração de inimigos naturais, que abandonam a cultura, podendo
ressurgir populações de pragas. Além desses efeitos, os inseticidas podem
provocar a chamada “sincronização catastrófica” pela eliminação dos estágios
suscetíveis da praga. Isso ocorre porque, em muitas culturas, pragas e inimigos
14
naturais apresentam sobreposição de gerações, sendo que todos os seus estágios
estão presentes na maior parte do tempo. O período de cada geração é menor
para os inimigos naturais do que para as pragas, sendo que eles conseguem
persistir pela sobreposição de gerações. Quando o estágio suscetível da praga é
eliminado pelo inseticida, pode ocorrer a extinção local dos inimigos naturais,
provocada, então, por um efeito indireto do produto sobre estes (Foerster, 2002).
Fatores importantes, e só recentemente estudados, são os efeitos de doses
subletais dos compostos, que provocam alterações fisiológicas tanto em insetos-
praga, podendo, por exemplo, torná-los mais suscetíveis à atuação de predadores
e parasitóides, pelo seu enfraquecimento, quanto em inimigos naturais.
Geralmente as alterações fisiológicas provocadas são referentes a fecundidade,
longevidade, taxa de desenvolvimento e razão sexual (Croft & Brown, 1975).
No aspecto comportamental, doses subletais podem afetar a capacidade
de busca do predador/parasitóide, sua mobilidade, além de modificações no
comportamento reprodutivo e alimentar. Pode ainda haver um incremento no
desempenho de inimigos naturais afetados por doses subletais (Foerster, 2002).
Este efeito, chamado “hormoligose”, que significa estimular em pequenas
quantidades, pode também explicar, em casos de insetos fitófagos, a
ressurgência de pragas após a aplicação de inseticidas (Luckey, 1968).
A repelência gustativa de um inseticida pode produzir uma resposta
comportamental em um inimigo natural, a qual pode converter uma dose letal
em uma subletal devido à rejeição após gustação (Croft & Brown, 1975).
Os inimigos naturais apresentam muitas características que podem afetar
sua suscetibilidade a produtos, tais como idade, sexo, tamanho e estágio de
desenvolvimento. Quanto ao estágio de desenvolvimento, em geral sabe-se que
adultos, tanto de predadores como de parasitóides, são mais suscetíveis a
inseticidas. Já ovos e pupas são os estágios mais tolerantes, mesmo em
15
exposição direta aos compostos, pela dificuldade de penetração dos mesmos
(Foerster, 2002).
2.6 Testes de seletividade
Os principais métodos para se avaliar a seletividade de produtos
químicos a inimigos naturais são: aplicações tópicas, exposições a superfícies
tratadas (efeito residual), pulverizações diretas utilizando pulverizadores
convencionais ou torre de pulverização, imersões em caldas tóxicas, exposições
a vapores e testes de alimentação. Pode-se ainda fazer observação visual e
contagem do número de predadores vivos após aplicação do produto em uma
planta a campo e aplicações de produtos muito tóxicos, contando-se, em seguida,
o número de insetos não alvos coletados. Ainda que possa ser observado no
laboratório, o real efeito do composto só pode ser avaliado a campo, pois
ocorrem condições normais de abrigo, proteção, alternativas de escape,
alimentação e sobrevivência da espécie, utilizando parcelas grandes devido à
grande mobilidade que os insetos costumam apresentar. Os resultados dos testes
são classificados conforme a redução no número de espécies, alteração no
habitat, mudança de comportamento, alterações no crescimento e reprodução,
mudança na quantidade e qualidade de alimento, resistência, suscetibilidade a
doenças e biomagnificação. A avaliação precisa do efeito do produto deve
considerar sexo, idade, estado nutricional, estresse, saúde e microambiente em
que vive a espécie do inimigo natural (Rigitano & Carvalho, 2001).
Um grupo criado em 1974 impulsionou os estudos de seletividade de
produtos fitossanitários a organismos benéficos. Este grupo foi denominado
“Working Group Pesticides and Beneficial Arthropods”, pertencente a
“International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious
Animals and Plants” (IOBC), West Palaearctic Regional Section (WPRS), e
16
devido à inclusão de outros organismos como fungos entomopatogênicos e
anelídeos passou a se chamar “Pesticides and Beneficial Organisms” (Carvalho
et al., 2001).
Este grupo de trabalho permite a troca de resultados entre países, por
meio da cooperação, o que economiza recursos utilizados nas repetições de
testes, e possui como objetivos desenvolver padrões metodológicos de
laboratório, semicampo e campo para testes de efeitos secundários de produtos
sobre organismos benéficos, com base nos princípios aprovados
internacionalmente; organizar programações internacionais conjuntas para testar
o efeito secundário de compostos sobre organismos benéficos; estabelecer uma
cadeia de laboratórios de testes para organismos benéficos nos países membros
da IOBC, para uso contínuo e atualização dos métodos; fornecer suporte e
desenvolver pesquisas com inimigos naturais resistentes a produtos
fitossanitários e dar parecer na seleção de produtos seletivos para uso no manejo
integrado. Este grupo é capacitado a recomendar métodos para pesquisas dos
efeitos colaterais de compostos sobre organismos benéficos (Degrande, 1996).
A IOBC recomenda a realização de estudos de seletividade em uma
seqüência com testes de laboratório, semicampo e campo, com base no fato de
que um único método não fornece informações suficientes para verificar os
efeitos prejudiciais dos produtos sobre organismos benéficos (Hassan, 1997). Os
estudos de seletividade devem ter início em laboratório e conclusão em campo,
porém os compostos que mostrarem seletividade ao inseto benéfico em
laboratório dispensam novos testes e são considerados seletivos,
independentemente de outras condições (Carvalho et al., 2001; Veire et al.,
2002).
De acordo com este grupo de trabalho os produtos fitossanitários podem
ser enquadrados em classes de 1 a 4, com base no efeito total (E) do produto
sobre o organismo, considerando mortalidade, redução de oviposição,
17
parasitismo, predação e alterações na densidade populacional do inimigo natural.
Em testes de laboratório as classes são: 1 = inócuo (<30%), 2 = levemente
nocivo (30E80%), 3 = moderadamente nocivo (80<E99%) e 4 = nocivo
(>99%) (Franz et al., 1980; Hassan & Degrande, 1996; Veire et al., 1996;
Hassan, 1997).
Outra organização envolvida com estudos de seletividade é a
“Organização Européia e Mediterrânea de Proteção de Plantas” (OEPP/EPPO).
Esta enquadra os produtos nas classes 1 e 2 de toxicidade, sendo 1 = não nociva
(redução na capacidade benéfica menor que 30%) e 2 = nociva (efeito maior que
99%). Os produtos com valores intermediários a essas classes deverão ser
submetidos a novos testes de efeito residual de três dias em laboratório e testes
de campo para, posteriormente, serem classificados quanto ao seu efeito adverso
(Carvalho et al., 2001; Rigitano & Carvalho, 2001; Degrande et al., 2002).
No Brasil são carentes os estudos com seletividade, sendo poucos os
trabalhos publicados na área. Não existe um acordo nacional de uniformização
de metodologias ou padronização de procedimentos para avaliar os efeitos
colaterais de compostos sobre organismos benéficos, sendo, portanto, necessário
o desenvolvimento de programas de pesquisa que busquem a padronização de
métodos para estudos de seletividade em laboratório, semicampo e campo
(Degrande, 1996; Carvalho et al., 2001; Rigitano & Carvalho, 2001; Degrande et
al., 2002).
2.7 Seletividade de produtos fitossanitários a Orius spp.
Pesquisas em seletividade de produtos fitossanitários têm sido
desenvolvidas com predadores desse gênero. Até 1990 existiam 443 registros de
trabalhos em seletividade com espécies da família Anthocoridae em todo o
mundo (Croft, 1990).
18
2.7.1 Ovos
Foi verificado que ovos de O. insidiosus mostraram-se tolerantes a
produtos fitossanitários utilizados na cultura do crisântemo como cartap,
cyromazine, abamectin, fenpropathrin e imidacloprid. Os ovos podem ser
tolerantes a compostos em virtude de características físico-químicas, como a
espessura e a composição do córion, podendo afetar a penetração dos produtos, o
que, dessa forma, não prejudicaria o desenvolvimento ninfal. Além disso, o
desenvolvimento embrionário e a eclosão de ninfas normais podem ocorrer
devido à dificuldade de contato dos produtos com os ovos, uma vez que a
espécie apresenta postura endofítica (Morais, 2002).
Testando a toxicidade residual do produto spinosad sobre ovos de O.
laevigatus, Bielza (2000) não observou redução significativa na viabilidade dos
mesmos.
2.7.2 Ninfas
Pulverizando ninfas de O. insidiosus de primeiro, segundo e terceiro
instares com abamectin, fenpropathrin, imidacloprid, cartap e cyromazine
utilizados em cultivo de crisântemo, verificou-se que os três primeiros foram
tóxicos, enquanto cartap e cyromazine mostraram-se seletivos. Comparando os
estádios entre si, constatou-se que as ninfas de primeiro instar foram mais
suscetíveis aos produtos abamectin, imidacloprid e fenpropathrin do que as de
segundo e terceiro instares (Morais, 2002).
Num estudo em laboratório com inseticidas reguladores de crescimento,
ninfas de primeiro estádio de O. laevigatus foram colocadas em contato com
resíduos dos compostos aplicados sobre placas de Petri, verificando-se a
mortalidade das mesmas após 13 dias. Flucicloxuron, flufenoxuron, lufenuron e
19
teflubenzuron foram altamente nocivos, provocando 100% de mortalidade às
ninfas, enquanto diflubenzuron foi considerado pouco nocivo, com 32% de
mortalidade (Veire et al., 1996).
Os compostos abamectin, fenpropathrin e imidacloprid causaram 100%
de mortalidade quando pulverizados sobre ninfas de quarto instar de O.
insidiosus em condições de laboratório. Abamectin provocou efeito mais tardio
do que os outros produtos, com mortalidade de 100% somente ao final do
período de avaliação (120 horas após a sua aplicação), enquanto fenpropathrin e
imidacloprid causaram 100% de mortalidade às 3 e às 30 horas após a
pulverização, respectivamente. No mesmo bioensaio, o inseticida cyromazine
proporcionou apenas 10% de mortalidade e foi considerado inofensivo a O.
insidiosus. A baixa toxicidade de cyromazine foi atribuída à sua especificidade
de ação e à pouca ou nenhuma ação por contato, devendo este ser ingerido pelo
inseto para ser ativo (Carvalho et al., 2002).
2.7.3 Adultos
Numa pesquisa realizada na cultura do algodoeiro em Jaboticabal, SP,
verificou-se que aldicarb, aplicado para controle do pulgão A. gossypii, não
afetou a população de artrópodes predadores, como Orius spp., presentes nesta
cultura (Soares et al., 1996).
Em laboratório testaram-se inseticidas e acaricidas para o controle de F.
occidentalis, e verificou-se que o extrato de Neem (azadirachtin) pulverizado em
adultos de O. laevigatus não foi tóxico, o que indica sua compatibilidade como
inseticida de origem natural em programas de controle integrado de pragas com
esse predador. Já o composto abamectin foi extremamente tóxico a esse
predador (Veire et al., 1996).
20
Avaliando em laboratório produtos utilizados na cultura do crisântemo,
verificou-se que os inseticidas abamectin, acephate e clorfenapyr foram
prejudiciais em pulverização sobre adultos de O. insidiosus, sendo que acephate
e clorfenapyr foram os mais tóxicos, provocando mortalidades de 82,1% e
89,3%, respectivamente, após 72 horas da aplicação. Já os fungicidas
azoxystrobin, benomyl, imibenconazole, iprodione, metalaxyl + mancozeb e
triforine foram seletivos ao predador (Rocha, 2004).
Dentre as características fisiológicas de adultos de Orius spp. que podem
ser alteradas por inseticidas estão a fecundidade e a viabilidade dos ovos.
Estudando a seletividade de produtos fitossanitários a O. insidiosus, constatou-se
que cartap e cyromazine não alteraram a fecundidade do predador, porém este
último composto provocou baixa viabilidade dos ovos (Morais, 2002). Outros
pesquisadores observaram que adultos oriundos de ninfas de O. insidiosus
tratadas com cyromazine não apresentaram redução significativa na oviposição
acumulada em cinco dias (Carvalho et al., 2002).
Em trabalho realizado com O. insidiosus, cyromazine não afetou a
capacidade predatória dos adultos dessa espécie; já cartap reduziu o número de
ovos predados (Morais, 2002). Essa redução na alimentação pode levar à morte
por inanição, pois o inseticida causa paralisia no sistema nervoso central e o
inseto pára de se alimentar (Tomlin, 1994).
O efeito residual de spinosad, utilizado para o controle de F.
occidentalis, sobre ovos, ninfas e adultos de O. laevigatus, alimentados com
ovos de A. kuehniella, foi avaliado por Bielza (2000), que constatou 43,9% de
mortalidade de adultos e não verificou mortalidade significativa de ninfas nem
redução da viabilidade dos ovos.
Pulverizações de spinosad sobre plantas de crisântemo em casa-de-
vegetação reduziram a eficiência de adultos de O. insidiosus no controle do
tripes F. occidentalis (Ludwig & Oetting, 2001).
21
Avaliando a toxicidade de inseticidas a O. insidiosus alimentados com
ovos de H. zea contaminados, Elzen (2001) constatou a menor mortalidade de
machos (21,7%) com tebufenozide e a maior (62,5%) com malathion. Já para
fêmeas, a menor mortalidade (19,8%) também foi com tebufenozide, sendo de
65,7% com imidacloprid e de 52,8% com malathion. Os outros produtos
testados, azinphos-methyl, spinosad, fipronil, endosulfan, chlorfenapyr e
profenofos, apresentaram porcentagens de mortalidade intermediárias, sendo que
spinosad foi o mais tóxico para as fêmeas (54,6%) e chlorfenapyr, para os
machos (57,5%). Também foi relatado que spinosad não afetou a fecundidade de
O. insidiosus, enquanto fipronil, profenofos, cyfluthrin e malathion reduziram o
número total de ovos colocados. A capacidade predatória do predador foi
reduzida por fipronil, profenofos e cyfluthrin.
2.8 Modo de ação dos inseticidas utilizados nos bioensaios
2.8.1 Endosulfan
Foi o último dos hidrocarbonetos clorados a ser descoberto (Casida &
Quistad, 1998). O uso de compostos clorados, juntamente com endosulfan, é
proibido ou severamente restrito em mais de 30 países devido a sua alta
persistência e ao efeito cumulativo (Agro-Chemicals, 2003). No Brasil,
endosulfan ainda é utilizado na agricultura, por ser o único inseticida químico
recomendado para o controle da broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari,
1876) (Coleoptera: Scolytidae) (Souza & Reis, 1997).
O verdadeiro modo de ação do endosulfan ainda não foi bem esclarecido. Sabe-
se que o mesmo age nos canais de cloro mediados pelo receptor GABA (ácido
γ – aminobutírico), que atua como inibidor do sistema nervoso. Este receptor
opera aumentando a permeabilidade dos neurônios ao íon cloro. O endosulfan
22
impede os íons cloro de entrar nos neurônios, acoplando suas moléculas aos
canais desse íon e, assim, se antagonizam aos "efeitos calmantes" do GABA.
Esse composto parece afetar todos os animais de forma semelhante, primeiro
com a hiperexcitação nervosa, seguida por tremores, convulsões e prostração.
Sua toxicidade aumenta à medida que se eleva a temperatura ambiental (Ware &
Whitacre, 2004).
2.8.2 Imidacloprid
Pertence ao grupo químico dos neonicotinóides, também chamados
cloronicotinilas, os quais foram descobertos no final dos anos 80, quando se
buscavam inseticidas neurotóxicos que agissem em sítios diferentes para reduzir
problemas de resistência das pragas aos neurotóxicos mais antigos, como os que
agem nos canais de Na
+
e Cl
-
e na enzima acetilcolinesterase (Casida & Quistad,
1998). Imidacloprid foi o primeiro nicotinóide introduzido na Europa e no Japão
em 1990, e seu primeiro registro se deu nos EUA em 1992 (Ware & Whitacre,
2004).
Com propriedades sistêmicas, o imidacloprid age no receptor nicotínico da
acetilcolina, mesmo sítio das nicotinas naturais, porém com maior eficiência
(Casida & Quistad, 1998). Ligando-se ao receptor nicotínico da acetilcolina, as
moléculas do composto promovem a abertura dos canais de Na
+
. Essas
moléculas não são degradadas pela acetilcolinesterase, como a acetilcolina,
fazendo com que o íon Na
+
entre continuadamente dentro do neurônio (Ware &
Whitacre, 2004). Há bloqueio irreversível dos receptores nicotínicos (Cox,
2001). Seus efeitos são hiperexcitação, convulsões, paralisia e morte do inseto
(Rigitano & Carvalho, 2001; Extonet, 2004).
23
2.8.3 Formetanate
Formetanate é um éster do ácido dimetilcarbâmico, pertencente ao grupo
dos carbamatos, com propriedades inseticidas (Ramos, 1999; Gallo et al., 2002).
É assimilado por contato e/ou ingestão e rapidamente atinge a corrente
sanguínea, alcançando as células nervosas e promovendo a inibição da
acetilcolinesterase (Silva, 2001). Sua reação com o grupo hidroxila do
aminoácido serina, presente no centro ativo da acetilcolinesterase, promove a
formação de uma forte ligação covalente entre o inseticida e a enzima, que a
incapacita de degradar a acetilcolina após a transmissão do impulso. O acúmulo
de acetilcolina na sinapse resulta na formação de impulsos repetitivos na célula
pós-sináptica, causando hiperexcitação nervosa (Rigitano & Carvalho, 2001).
A constância de impulsos nervosos provocada por essa substância pode
causar uma disfunção nervosa no inseto, provocando inquietação, tremores,
convulsões, paralisia e morte (Rigitano & Carvalho, 2001). Essa hiperexcitação
do sistema nervoso é chamada de síndrome colinérgica (Gallo et al., 2002).
2.8.4 Spinosad
É componente do grupo chamado “Naturalyte”, o qual é constituído
basicamente de substâncias conhecidas como espinosinas. Essas substâncias têm
origem bacteriana e são derivadas de Saccharopolyspora spinosa (Mertz & Yao,
1990), um microrganismo de solo. O inseticida spinosad é uma mistura de
espinosinas A e D, por isso o nome “spinosAD”, sendo espinosina A o
componente em maior concentração (Casida & Quistad, 1998; Silva, 2001). Esse
composto atua no controle de lagartas, minadores, tripes e cupins, possuindo
atividade residual longa (Ware & Whitacre, 2004).
24
As espinosinas agem por contato e ingestão, sendo mais ativas por
ingestão. Seu mecanismo de ação se dá basicamente pelo bloqueio de um sítio
ativo da proteína químio-receptora da acetilcolina, assim como os
neonicotinóides, ou seja, impedindo a ligação da acetilcolina em seus receptores
nicotínicos no neurônio pós-sináptico. Promovem também um efeito no
complexo de receptores do GABA, bloqueando os canais de entrada de íons
cloro, causando distúrbios e levando o inseto à morte (Silva, 2001; Ware &
Whitacre, 2004).
2.8.5 Deltamethrin
Pertence ao grupo dos piretróides, que foram sintetizados a partir de
piretrinas naturais, presentes em flores de crisântemo, sendo compostos
altamente tóxicos a insetos, porém muito instáveis no ambiente (Soderlund &
Bloomquist, 1989).
Existem dois tipos de piretróides e essa diferenciação baseia-se na
variação de sintomas provocada por eles, tanto em insetos como em humanos,
bem como nos seus efeitos neurofisiológicos. Os compostos do Tipo I produzem
a síndrome do tremor e os do Tipo II provocam a síndrome da convulsão.
Ambos os tipos agem principalmente no sistema nervoso central, nos canais de
sódio da membrana das células nervosas dos insetos, mas existem evidências da
ação daqueles do Tipo II nos canais de cloro mediados pelo GABA.
Deltamethrin é considerado um piretróide Tipo II (Soderlund & Bloomquist,
1989).
Quanto à sua ação nos nervos, pode-se dizer que as moléculas de
piretróides, ao interagir com os canais de sódio da membrana, retardam seu
fechamento, induzindo a descargas repetitivas que aumentam a atividade
espontânea do neurônio (piretróides Tipo I) ou a uma seqüência de potenciais de
25
ação provocados por estímulos elétricos e posterior bloqueio na condução de
impulsos (Tipo II) (Soderlund & Bloomquist, 1989). Esses compostos também
excitam nervos periféricos, particularmente células sensoriais e nervos motores
terminais (Beeman, 1982). Além disso, provocam um aumento na liberação de
neurotransmissores pelas terminações nervosas, conseqüência de seus efeitos
nos canais de Na
+
(Rigitano & Carvalho, 2001).
Bioensaios com receptores GABA sugeriram que os piretróides afetam
este sítio de ação somente em altas concentrações. Assim, a concentração de
deltamethrin que afeta os canais de cloro mediados pelo GABA é bem maior que
aquela que mantém os canais de sódio na membrana dos nervos abertos
(Soderlund & Bloomquist, 1989).
26
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33
CAPÍTULO 2
TORRES, Fabrícia Zimermann Vilela. Toxicidade de inseticidas utilizados em
cultivos de roseira a ovos e ninfas de quinto instar de Orius insidiosus (Say,
1832) (Hemiptera: Anthocoridae). In: ______. Toxicidade de inseticidas
utilizados em cultivos de roseira ao predador Orius insidiosus (Say, 1832)
(Hemiptera: Anthocoridae). 2005. Cap.2, p.33-57. Dissertação (Mestrado em
Entomologia)
3
-Universidade Federal de Lavras, Lavras.
RESUMO
Avaliaram-se os efeitos letais e subletais de inseticidas utilizados para o
controle de pragas da roseira, sobre ovos e ninfas de quinto instar de Orius
insidiosus (Say, 1832). Foram utilizadas formulações comerciais dos compostos,
as quais foram diluídas em água nas seguintes concentrações (em g i.a./100 mL):
endosulfan (0,021), imidacloprid (0,008), formetanate (0,04), spinosad (0,0144)
e deltamethrin (0,0008). O tratamento testemunha foi composto somente de água
destilada. Os experimentos foram realizados em condições de laboratório, em
câmara climática regulada a 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas. Os
ovos do predador colocados em hastes de picão-preto (Bidens pilosa Linnaeus),
foram tratados através de imersão das hastes nas caldas inseticidas por cinco
segundos. As ninfas de quinto instar do predador foram tratadas com os
inseticidas em torre de Potter calibrada à pressão de 15 lb/pol
2
. Além da
mortalidade, foram avaliados os números diário e total de ovos colocados em 15
dias por adultos oriundos de ovos e ninfas que receberam os produtos e a
viabilidade desses ovos. Foi calculado o efeito total dos produtos e estes foram
enquadrados em classes toxicológicas segundo a IOBC. Imidacloprid e
deltamethrin foram nocivos e endosulfan, formetanate e spinosad levemente
nocivos a ovos do predador. Já para as ninfas de quinto instar, somente
deltamethrin foi nocivo, sendo os demais classificados como levemente nocivos.
3
Orientador: Geraldo Andrade Carvalho – UFLA.
34
CHAPTER 2
TORRES, Fabrícia Zimermann Vilela. Toxicity of insecticides used in rose
crops to eggs and fifth instar-nymphs of Orius insidiosus (Say, 1832)
(Hemiptera: Anthocoridae). In: ______. Toxicity of insecticides used in rose
crops to the predator Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera:
Anthocoridae). 2005. Chap.2, p.33-57. Dissertation (Master in Entomology)
4
-
Federal University of Lavras, Lavras.
ABSTRACT
The lethal and sublethal effects of the insecticides used for the pest
control in rose crops, on eggs and fifth instar-nymphs of Orius insidiosus (Say,
1832) were evaluated. Commercial formulations of the insecticides were used,
which were diluted in water in the following concentrations (in g a.i./100 mL):
endosulfan (0.021), imidacloprid (0.008), formetanate (0.04), spinosad (0.0144)
and deltamethrin (0.0008). Distilled water was used as control. The tests were
carried out under laboratory conditions (climatic chamber) at 25±2ºC, RH of
70±10% and 12 h-photophase. The eggs of the predator, on Bidens pilosa
Linnaeus stems, were treated by dipping the stems in the insecticides dilutions
for five seconds. The fifth instar-nymphs were treated with the insecticides using
a Potter’s tower regulated at 15 psi. The mortality, the daily and the total number
of eggs placed for fifteen days by the adults from treated eggs and nymphs, and
the viability of those eggs were evaluated. The total effect of the products was
calculated and they were classified into the toxicity categories as proposed by
the IOBC. Both imidacloprid and deltamethrin were harmful, whereas
endosulfan, formetanate and spinosad were slightly harmful to eggs of the
predator. With regard to fifth instar-nymphs, only deltamethrin was harmful, and
the others were classified as slightly harmful.
1
Adviser: Geraldo Andrade Carvalho – UFLA.
35
3 INTRODUÇÃO
A produção mundial de flores e plantas ornamentais, que concentrava-se
em alguns países como Holanda, Itália, Dinamarca, Alemanha e Japão,
atualmente vem se destacando em outros países, como Colômbia, Equador,
Costa Rica, EUA, Israel, África do Sul, Quênia e Espanha, com
aproximadamente 190.000 ha plantados, movimentando, em toda a cadeia
produtiva, valores próximos a 16 bilhões de dólares/ano no comércio atacadista
e US$ 44 bilhões/ano no varejo (Motos, 2000; Risch, 2004).
O Brasil ocupa o 20
o
lugar no mercado mundial de exportação de plantas
ornamentais, sendo os principais destinos da produção o Mercosul, os Estados
Unidos, a União Européia e o Japão (Risch, 2004). Os maiores centros de
produção de flores no Brasil encontram-se nos estados de São Paulo, Santa
Catarina e Minas Gerais. A produção destinada à exportação concentra-se no
município de Holambra, São Paulo, e em Andradas, Minas Gerais (Perosa,
2002).
Flores e plantas ornamentais requerem cuidado especial desde a
produção até o consumidor final, sendo importante o controle de pragas, as quais
atacam intensamente esses cultivos. Na cultura da roseira, as pragas de maior
ocorrência são ácaros, pulgões, tripes, cochonilhas e besouros.
Os produtos químicos visando ao controle das pragas da roseira, bem
como de outras flores e plantas ornamentais, ainda têm sido empregado em larga
escala, podendo ocasionar a seleção de populações resistentes aos compostos,
além de provocar a ressurgência de pragas e o aparecimento de pragas
secundárias.
Uma alternativa de controle das pragas é a liberação de percevejos
predadores do gênero Orius (Wolff, 1811), que são insetos pequenos, ágeis e
36
vorazes, eficientes em vários sistemas agrícolas, como cultivos de crisântemo,
pimentão, berinjela, tomate, algodão, feijão, maçã, milho e soja.
Porém, para que percevejos do gênero Orius possam mostrar sua maior
eficiência, deve-se integrar seu uso com produtos fitossanitários seletivos, os
quais, além da preservação desse inimigo natural no cultivo, poderão reduzir o
número de aplicações de produtos, proporcionando maior economia e menor
impacto ao meio ambiente.
Dessa forma, objetivou-se avaliar a toxicidade de endosulfan,
imidacloprid, formetanate, spinosad e deltamethrin, inseticidas utilizados na
cultura da roseira, para ovos e ninfas de quinto instar de O. insidiosus em
condições de laboratório.
4 MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram realizados no período de agosto a outubro de
2004.
4.1 Obtenção dos indivíduos e criação de laboratório
Adultos do predador O. insidiosus foram coletados em plantas de picão-
preto (Bidens pilosa Linnaeus). Após a coleta, os indivíduos foram levados ao
laboratório, mantidos em câmara climática regulada à temperatura de 25±2ºC,
umidade relativa de 70±10% e fotofase de 12 horas, sendo alimentados ad
libitum com ovos de Anagasta kuehniella (Zeller, 1879) (Lepidoptera:
Pyralidae), que foram previamente inviabilizados sob luz ultravioleta, conforme
método de criação descrito por Mendes (2000).
37
4.2 Inseticidas avaliados
Os inseticidas, com as respectivas dosagens testadas, estão em
fase de pesquisa para o controle de tripes em roseira. Os produtos
avaliados, com seus respectivos nomes técnicos, marcas comerciais,
grupos químicos e dosagens, encontram-se na Tabela 1. O tratamento
testemunha foi constituído apenas de água destilada.
TABELA 1. Nomes técnicos, comerciais, grupos químicos e dosagens dos
inseticidas avaliados para Orius insidiosus.
Nome
Técnico
Nome Comercial Grupo Químico
Dosagem
(g i.a./100 mL água)
Endosulfan Fersol 350 CE
Éster do ác. sulfuroso
de um dial cíclico
0,021
Imidacloprid Provado 200 SC Neonicotinóide 0,008
Formetanate Dicarzol 500 PS Carbamato 0,04
Spinosad Tracer 480 SC Espinosina 0,0144
Deltamethrin Decis 25 CE Piretróide 0,0008
4.3 Efeito dos inseticidas sobre ovos de O. insidiosus
Foram utilizados ovos de O. insidiosus com até 24 horas de idade,
ovipositados em hastes de picão-preto colocadas na criação de laboratório.
Contou-se o número de ovos por haste e o número de hastes necessárias,
separando-as e identificando-as. As hastes foram imersas nas caldas dos
inseticidas por cinco segundos e dispostas em placas de Petri de 10 cm de
38
diâmetro, com suas bases envolvidas em chumaço de algodão umedecido em
água destilada, para evitar sua dessecação. As placas foram fechadas com filme
plástico de cloreto de polivinila (PVC) e mantidas em câmara climática regulada
a 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas até o completo
desenvolvimento embrionário. À medida que as ninfas eclodiam, eram
individualizadas em placas de Petri de 5 cm de diâmetro, contendo um chumaço
de algodão umedecido em água destilada para manutenção da umidade e
alimentadas ad libitum, a cada 48 horas, com ovos de A. kuehniella previamente
inviabilizados.
O delineamento utilizado foi inteiramente ao acaso, com seis tratamentos
(cinco inseticidas e testemunha) e quatro repetições, sendo cada parcela
experimental constituída por 10 ovos do predador.
Avaliaram-se a viabilidade dos ovos, a duração do período embrionário e
de cada estádio ninfal e a sobrevivência das ninfas de primeiro, segundo,
terceiro, quarto e quinto instares a cada 24 horas.
As avaliações foram realizadas com auxílio de um microscópio
estereoscópico (40x), sendo considerado morto o indivíduo que apresentou
imobilidade ao toque de um pincel.
Para os tratamentos que permitiram sobrevivência de insetos no estágio
adulto, logo após sua emergência, os mesmos foram separados estabelecendo-se
um mínimo de cinco casais por tratamento, conforme recomendação da IOBC.
Cada casal foi colocado em placa de Petri de 5 cm de diâmetro, contendo ovos
de A. kuehniella, previamente inviabilizados para sua alimentação e algodão
umedecido, a qual foi fechada com filme plástico de PVC. As placas foram
mantidas em câmara climática regulada a 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de
12 horas. Os casais receberam diariamente uma haste de inflorescência de picão-
preto envolvida na base por um chumaço de algodão umedecido em água, para
oviposição, por um período de 24 horas, e alimento a cada 48 horas. Todos os
39
dias as hastes eram retiradas das placas e contado o número de ovos/haste, sendo
cada uma armazenada em tubos de vidro de 8,5 cm de comprimento x 2,5 cm de
diâmetro. Após sete dias foi realizada a avaliação da viabilidade de cada ovo,
sendo viáveis os que apresentaram opérculos abertos. O experimento foi
realizado em delineamento inteiramente ao acaso, com três tratamentos (dois
inseticidas e testemunha) e número mínimo de seis repetições, sendo cada
unidade experimental composta por um casal de O. insidiosus.
Avaliaram-se os números diário e total de ovos colocados em quinze
dias e a sua viabilidade.
4.4 Efeito dos inseticidas sobre ninfas de quinto instar de O. insidiosus
Ninfas de quinto instar de O. insidiosus, obtidas da criação de
laboratório, foram agrupadas em placas de Petri de 15 cm de diâmetro e levadas
à pulverização com os produtos apresentados na Tabela 1.
Para pulverização foi utilizada uma torre de Potter, calibrada a 15
lb/pol
2
, assegurando uma aplicação de 1,5±0,5 mg de calda/cm
2
, conforme as
recomendações da “International Organization for Biological and Integrated
Control of Noxious Animals and Plants (IOBC), West Palaearctic Regional
Section (WPRS)” (Franz et al., 1980; Hassan, 1994; Veire et al., 1996; Hassan,
1997; Degrande et al., 2002). Após cada pulverização a torre de Potter foi lavada
com água destilada, álcool 92,8ºGL, e novamente com água destilada, sendo
removido o líquido remanescente com papel-toalha após cada lavagem.
Em seguida, as ninfas foram individualizadas em placas de Petri de 5 cm
de diâmetro, contendo um chumaço de algodão umedecido com água destilada e,
para sua alimentação, foram utilizados ovos de A. kuehniella ad libitum
previamente inviabilizados. As placas foram fechadas e armazenadas conforme
descrito no subitem 4.3. O alimento foi colocado a cada 48 horas e o algodão
40
umedecido a cada 24 horas. O delineamento utilizado foi inteiramente ao acaso,
com seis tratamentos (cinco inseticidas e testemunha) e quatro repetições, sendo
cada parcela composta por oito insetos.
A mortalidade das ninfas foi avaliada 1, 3, 6, 12, 24, 48, 72, 96 e 120h
após aplicação dos produtos, com auxílio de um microscópio estereoscópico
(40x), sendo consideradas mortas as ninfas que não apresentavam mobilidade ao
toque de um pincel.
Nos tratamentos em que ocorreu emergência de adultos oriundos das
ninfas tratadas, os insetos foram agrupados em casais, sendo cada casal colocado
em placa de Petri de 5 cm de diâmetro, contendo ovos de A. kuehniella
previamente inviabilizados, oferecidos ad libitum como alimento, e algodão
umedecido, a qual foi fechada e armazenada conforme descrito no subitem 4.3.
Os casais receberam diariamente uma haste de inflorescência de picão-
preto para oviposição, por um período de 24 horas. Cada haste foi envolvida na
base por um chumaço de algodão umedecido em água destilada. Foi fornecido
alimento a cada 48 horas. Todos os dias as hastes eram retiradas das placas e
contado o número de ovos/haste, sendo cada uma armazenada em tubos de vidro
de 8,5 cm de comprimento x 2,5 cm de diâmetro. Após sete dias foi realizada a
avaliação da viabilidade de cada ovo, sendo viáveis os que apresentaram
opérculos abertos.
Utilizou-se delineamento inteiramente ao acaso, com três tratamentos
(dois inseticidas e testemunha) e número mínimo de seis repetições, sendo cada
unidade experimental composta por um casal de O. insidiosus.
Avaliaram-se os números diário e total de ovos colocados em quinze
dias e sua viabilidade.
41
4.5 Análises estatísticas
Para indivíduos oriundos de ovos tratados, as médias de sobrevivência
de cada instar foram transformadas para arco-seno
x
e submetidas à análise
de variância, em esquema fatorial 6 x 5 (tratamentos x instares). Os dados
referentes à viabilidade dos ovos tratados e à duração dos instares foram
submetidos à análise de variância sem qualquer transformação.
Aqueles correspondentes aos números diário e total de ovos colocados
em 15 dias por fêmeas adultas oriundas de ovos tratados foram transformados
para
1+x
, e os referentes à viabilidade dos ovos foram analisados sem
qualquer tipo de transformação.
Quanto às ninfas de quinto instar, os dados relativos à mortalidade dos
indivíduos 1, 3, 6, 12, 24, 48, 72, 96 e 120h após a aplicação dos produtos foram
transformados para arco-seno
x e submetidos à análise de variância. Para
avaliação dos produtos ao longo do período de avaliação, utilizou-se um modelo
de parcelas subdivididas no tempo, com os produtos na parcela, de acordo com o
modelo de regressão.
Os números diário e total de ovos ovipositados em 15 dias por fêmeas
adultas oriundas de ninfas de quinto instar tratadas e sua viabilidade foram
submetidos à análise de variância. Aqueles relativos ao número total de ovos
foram transformados para
1+x e os de viabilidade, para arco-seno x .
Para realizar as análises estatísticas foram utilizados os programas
estatísticos Sisvar (Ferreira, 2000) para os dados balanceados, e o proc GLM do
SAS (SAS Institute, 1990), para os não balanceados. Nos casos em que o teste F
da ANAVA foi significativo, a comparação das médias foi feita pelo teste de
Scott-Knott a 5% de significância (Scott & Knott, 1974).
42
4.6 Cálculos para classificação dos produtos avaliados
Os dados de mortalidade total foram corrigidos por meio da fórmula de
Abbott (1925): Ma = (Mt – Mc)/(100 – Mc) x 100, em que: Ma = mortalidade
corrigida em função do tratamento testemunha; Mt = mortalidade observada no
tratamento com o produto e Mc = mortalidade verificada no tratamento
testemunha.
Para o cálculo do efeito total (E) utilizou-se a fórmula proposta por Veire
et al. (1996), com base nos efeitos sobre a mortalidade e no número total de ovos
colocados: ER = Rt/Rc, em que: ER = efeito do produto sobre o número de ovos
colocados; Rt = número médio de ovos obtidos no tratamento inseticida e Rc =
número médio de ovos obtidos no tratamento testemunha.
Após a determinação dos coeficientes da equação, calculou-se o efeito
total: E = 100% - (100% - Ma) x ER, em que: E = efeito total (%); Ma =
mortalidade corrigida em função do tratamento testemunha e ER = efeito do
produto sobre o número de ovos colocados.
Após a determinação do efeito total, os produtos foram enquadrados em
classes toxicológicas: classe 1 = inócuo (E<30%), classe 2 = levemente nocivo
(30%E80%), classe 3 = moderadamente nocivo (80<E99%) e classe 4 =
nocivo (E>99%), de acordo com escala proposta por membros da IOBC (Hassan
& Degrande, 1996; Veire et al., 1996; Hassan, 1997).
43
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Efeitos dos inseticidas na viabilidade de ovos, sobrevivência e duração
dos instares ninfais e na reprodução de adultos emergidos
Nenhum dos inseticidas afetou negativamente a viabilidade dos ovos
tratados, alcançando médias que variaram de 80 a 92,5% (Tabela 2). Também
não foi constatado efeito negativo na duração do período embrionário para
nenhum dos tratamentos (Tabela 3). A postura endofítica realizada pelas fêmeas
de O. insidiosus proporciona um menor contato dos ovos com os produtos
aplicados, uma vez que apenas o opérculo do ovo fica exposto, caracterizando,
neste caso, seletividade ecológica dos inseticidas estudados em relação ao
predador. Além disso, a espessura do córion, bem como sua composição, pode
ter causado redução na capacidade de penetração dos compostos, permitindo um
desenvolvimento embrionário normal. Smith & Salkeld (1966) apresentaram
registros de que em Hemiptera, durante o desenvolvimento embrionário, ocorre
uma impregnação de cera adicional na superfície interna do córion, conferindo
mais uma camada de proteção contra a penetração de substâncias químicas.
Morais (2002), avaliando a seletividade de produtos fitossanitários
utilizados na cultura do crisântemo para O. insidiosus, verificou que os produtos
aplicados em hastes de picão-preto contendo ovos, dentre os quais imidacloprid
(0,042 g i.a./100 mL), não reduziram a viabilidade dos mesmos, obtendo média
de 75% de ovos viáveis.
Os inseticidas imidacloprid e deltamethrin não permitiram a
sobrevivência de ninfas de O. insidiosus recém-eclodidas. Endosulfan,
formetanate e spinosad diminuíram a sobrevivência dos insetos, com médias de
40, 35 e 25%, respectivamente (Tabela 2). A redução na sobrevivência das
44
ninfas provenientes de ovos tratados pode ser atribuída a dois fatores: o
rompimento da camada cerosa do ovo, no momento da eclosão, pode ter liberado
os inseticidas que eventualmente tenham ficado retidos nessa camada,
proporcionando o contato com as ninfas recém-eclodidas; além disso, o contato
das ninfas com resíduos dos produtos presentes nas hastes de picão-preto pode
ter provocado sua mortalidade.
Sterk et al. (2002), estudando os efeitos de alguns compostos sobre
artrópodes benéficos, verificaram que imidacloprid (0,02 g i.a./100 mL) foi
altamente tóxico ninfas de primeiro e segundo instares de O. laevigatus, quando
as mesmas entraram em contato com resíduos do inseticida pulverizado sobre
folhas de pimentão em casa-de-vegetação, e spinosad (0,0096 g i.a./100 mL) foi
inócuo. A menor dosagem de spinosad utilizada pelos autores, em relação à
aplicada no presente trabalho (0,0144 g i.a./100 mL), possivelmente provocou as
diferenças nos resultados observados.
Quanto aos efeitos ao longo dos instares ninfais subseqüentes, nenhum
inseticida provocou redução significativa, com médias que variaram de 40 a
47,5% para endosulfan, de 35 a 37,5% para formetanate e de 25 a 27,5% para
spinosad (Tabela 2).
Com relação à duração dos estádios ninfais, observou-se que endosulfan
e spinosad prolongaram a duração do primeiro estádio, alcançando média de 2,5
dias para ambos. Os demais instares não foram afetados pelos inseticidas, com
médias variando de 2,1 a 2,2 dias para o segundo e terceiro instares, de 2 a 2,1
dias para o quarto e de 2,7 a 3,1 dias para o quinto instar (Tabela 3). Morais
(2002) também não observou efeito na duração do período embrionário para o
inseticida imidacloprid (0,042 g i.a./100 mL) aplicado em hastes de picão-preto
contendo ovos de O. insidiosus.
45
TABELA 2. Viabilidade de ovos e sobrevivência subseqüente (%) de estádios ninfais de Orius insidiosus provenientes de
ovos tratados (±EP). Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Estádios ninfais
Tratamentos
Viabilidade
de ovos
1º instar 2º instar 3º instar 4º instar 5º instar
Testemunha 95,0 ± 2,50 a 90,0 ± 2,89 aA 90,0 ± 2,89 aA 87,5 ± 3,75 aA 87,5 ± 3,75 aA 87,5 ± 3,75 aA
Endosulfan 85,0 ± 5,95 a 47,5 ± 6,57 bA 45,0 ± 6,61 bA 42,5 ± 5,91 bA 42,5 ± 5,91 bA 40,0 ± 5,40 bA
Imidacloprid 92,5 ± 1,25 a 0,0 ± 0,00 c - - - -
Formetanate 92,5 ± 2,39 a 37,5 ± 2,39 bA 35,0 ± 2,50 bA 35,0 ± 2,50 bA 35,0 ± 2,50 bA 35,0 ± 2,50 bA
Spinosad 82,5 ± 3,15 a 27,5 ± 3,75 bA 25,0 ± 3,23 bA 25,0 ± 3,23 bA 25,0 ± 3,23 bA 25,0 ± 3,23 bA
Deltamethrin 80,0 ± 2,89 a 0,0 ± 0,00 c - - - -
CV(%) 15,2 20,8 20,1 19,4 19,4 18,4
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Scott-
Knott (P>0,05).
46
TABELA 3. Duração (dias) (±EP) do período embrionário e dos instares de Orius insidiosus oriundos de ovos tratados.
Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Estádios ninfais
Tratamentos
Período
embrionário
1º instar 2º instar 3º instar 4º instar 5º instar
Período ninfal
Testemunha 4,0 ± 0,05 a 2,2±0,01 b 2,2±0,04 a 2,0±0,04 a 2,0±0,02 a 2,8±0,07 a 11,20 ± 0,01 a
Endosulfan 3,9 ± 0,02 a 2,5±0,06 a 2,2±0,10 a 2,2±0,06 a 2,1±0,06 a 3,1±0,15 a 12,13 ± 0,18 a
Imidacloprid 3,9 ± 0,03 a - - - - - -
Formetanate 4,0 ± 0,04 a 2,3±0,05 b 2,1±0,04 a 2,1±0,13 a 2,1±0,05 a 3,0±0,09 a 11,49 ± 0,09 a
Spinosad 4,1 ± 0,05 a 2,5±0,08 a 2,2±0,04 a 2,1±0,05 a 2,0±0,04 a 2,7±0,09 a 11,50 ± 0,12 a
Deltamethrin 3,9 ± 0,03 a - - - - - -
CV(%) 3,9 9,3 11,0 14,8 9,2 14,5 5,0
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P>0,05).
47
Sobre os parâmetros reprodutivos de O. insidiosus avaliados, endosulfan
e formetanate não reduziram o número médio diário e total de ovos colocados
em 15 dias e também foram inofensivos à viabilidade dos mesmos obtidos de
fêmeas oriundas de ovos tratados (Tabela 4).
TABELA 4. Números diário e total de ovos em 15 dias e viabilidade dos ovos
(%) (± EP) de fêmeas de Orius insidiosus oriundas de ovos
tratados. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12
horas.
Tratamentos
Número diário de
ovos
Número total de
ovos em 15 dias
Viabilidade
Testemunha 5,0 ± 0,12 74,3 ± 1,78 52,5 ± 0,84
Endosulfan 4,8 ± 0,39 55,9 ± 5,76 63,4 ± 1,80
Formetanate 5,3 ± 0,25 79,0 ± 6,32 58,6 ± 1,68
CV (%) 24,8 32,1 46,7
Médias com diferenças não significativas pelo teste F (P>0,05).
Calculando o efeito total (E) dos produtos, verificou-se que imidacloprid
e deltamethrin foram os mais tóxicos (100% de mortalidade), sendo
categorizados na classe 4. Endosulfan, formetanate e spinosad provocaram
mortalidade média de 54,3; 60 e 71,4%, respectivamente, e foram enquadrados
na classe 2 (levemente nocivos), segundo escala de toxicidade preconizada pela
IOBC (Tabela 5).
Quanto ao imidacloprid, os resultados divergem dos obtidos por Morais
(2002), o qual constatou que esse produto (0,042 g i.a./100 mL) não foi tóxico
aos ovos de O. insidiosus. A diferença nos resultados pode ser atribuída à forma
de aplicação do inseticida, uma vez que o autor pulverizou as hastes de picão-
preto contendo os ovos diferentemente do presente trabalho, em que os ovos
48
contidos nas hastes foram imersos nas caldas inseticidas. Mesmo levando em
consideração que a postura de O. insidiosus é endofítica, a imersão das hastes
contendo os ovos pode ter permitido um maior contato desses com os inseticidas
quando comparada à pulverização.
TABELA 5. Mortalidade provocada pelos inseticidas em indivíduos oriundos de
ovos de Orius insidiosus tratados, efeito total (E) e classes de
toxicidade dos inseticidas. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10%
e fotofase de 12 horas.
Tratamentos
Nº inicial
de ovos
M%
1
Ma%
2
Nº de
casais
Nº total de
ovos/15 dias
E
(%)
3
Classe
4
Testemunha 40 12,5 - 10 74,3 - -
Endosulfan 40 60,0 54,3 6 55,9 65,6 2
Imidacloprid 40 100,0 100,0 - - 100,0 4
Formetanate 40 65,0 60,0 6 80,8 56,4 2
Spinosad 40 75,0 71,4 - - 71,4 2
Deltamethrin 40 100,0 100,0 - - 100,0 4
1
Mortalidade (%) acumulada ao longo do desenvolvimento do predador.
2
Mortalidade corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
Efeito total do produto sobre o predador.
4
Classe de toxicidade segundo a IOBC.
5.2 Mortalidade de ninfas de quinto instar tratadas com os inseticidas e
efeito na reprodução de adultos emergidos
A mortalidade ao longo das avaliações para deltamethrin, spinosad,
formetanate e imidacloprid foi crescente, sendo que uma hora após aplicação dos
produtos já ocorreram diferenças significativas. Deltamethrin causou 100% de
mortalidade às ninfas de quinto instar às 48h após a sua aplicação. Imidacloprid
49
apresentou médias de 53,1% e 75% de mortalidade às 48 e 120h,
respectivamente. Formetanate e spinosad foram inofensivos, apresentando
médias, às 120h após pulverização, de 46,9 e 40,6%, respectivamente.
Endosulfan foi inofensivo, causando apenas 6,3% de mortalidade dos
indivíduos, somente a partir de 96h após aplicação (Tabela 6 e Figura 1).
Resultados semelhantes, referentes a imidacloprid, foram constatados
por Morais (2002) quando pulverizou esse composto em ninfas de primeiro,
segundo e terceiro instares de O. insidiosus, utilizando a dosagem de 0,042 g
i.a./100 mL de água, o qual obteve médias de mortalidade de 65 a 95%.
50
TABELA 6. Mortalidade acumulada (%) (±EP) de ninfas de quinto instar de Orius insidiosus após aplicação dos
inseticidas. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Tempo (h) após aplicação dos produtos
Tratamentos
1 3 6 12 24 48 72 96 120
Testemunha
0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 6,3 ± 3,13 a
Endosulfan
0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 6,3 ± 3,13 a 6,3 ± 3,13 a
Imidacloprid
6,3 ± 1,80 b 6,3 ± 1,80 b 9,4 ± 1,56 b 18,8 ± 1,80 b 34,8 ± 1,56 b 53,1 ± 4,69 c 65,6 ± 6,44 c 75,0 ± 6,25 c 75,0 ± 6,25 c
Formetanate
0,0 ± 0,00 a 0,0 ± 0,00 a 6,3 ± 1,80 b 6,3 ± 1,80 a 21,9 ± 1,56 b 34,4 ± 2,99 b 40,6 ± 3,93 b 41,6 ± 3,93 b 46,9 ± 2,99 b
Spinosad
0,0 ± 0,00 a 6,3 ± 1,80 b 9,4 ± 2,99 b 12,5 ± 2,55 b 18,8 ± 4,03 b 28,1 ± 5,34 b 34,4 ± 2,99 b 37,5 ± 2,55 b 40,6 ± 2,99 b
Deltamethrin
15,6 ± 2,99 b 25,0 ± 4,42 c 34,4 ± 4,69 c 62,5 ± 3,61 c 93,8 ± 3,13 c 100,0 ± 0,00 d - - -
CV(%)
parcela
:
41,22 CV(%)
subparcela
: 35,53
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P>0,05).
51
0
20
40
60
80
100
120
0 20 40 60 80 100 120
Tempo de avaliação (h)
Mortalidade (%)
testemunha
endosulfan
imidacloprid
formetanate
spinosad
deltamethrin
FIGURA 1. Curvas de mortalidade (%) para ninfas de quinto instar de Orius
insidiosus tratadas com os inseticidas, ao longo do período de
avaliação.
Os números diário e total de ovos depositados em 15 dias por fêmeas
provenientes de ninfas de quinto instar tratadas foram reduzidos por endosulfan
(1,3 e 14,5, respectivamente) e spinosad (0,9 e 11,8, respectivamente). Quanto à
viabilidade desses ovos, endosulfan foi inofensivo, com média de 44,6%, e
spinosad mostrou-se tóxico, com média de 24% (Tabela 7).
Embora endosulfan e spinosad não tenham provocado altas taxas de
mortalidade às ninfas de quinto instar de O. insidiosus (Tabela 6), o efeito
negativo que causaram na reprodução de adultos oriundos dessas ninfas pode ser
: ŷ = 0,25 + 0,077x – 0,003x
2
+ 0,00002x
3
; R
2
= 0,95
: ŷ = 0,105 – 0,035x + 0,0008x
2
; R
2
= 0,86
: ŷ
= 2,89 + 1,36x – 0,006x
2
; R
2
= 0,99
: ŷ = 0,50 + 0,89x – 0,004x
2
; R
2
= 0,98
: ŷ = 6,03 + 0,34x; R
2
= 0,91
: ŷ = 9,14 + 4,75x – 0,07x
2
+ 0,0003x
3
; R
2
= 0,98
52
atribuído à dosagem utilizada, pois de acordo com Croft & Brown (1975), doses
subletais podem provocar alterações fisiológicas em fecundidade, longevidade,
taxa de desenvolvimento e razão sexual.
TABELA 7. Números diário e total de ovos em 15 dias e viabilidade dos ovos
(%) (± EP) de fêmeas oriundas de ninfas de quinto instar de Orius
insidiosus tratadas. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e
fotofase de 12 horas.
Tratamentos
Número diário de
ovos
Número total de
ovos em 15 dias
Viabilidade
Testemunha 1,8 ± 0,16 a 26,0 ± 2,24 a 51,9 ± 2,64 a
Endosulfan 1,3 ± 0,11 b 14,5 ± 1,63 b 44,6 ± 2,53 a
Spinosad 0,9 ± 0,23 b 11,8 ± 3,58 b 24,0 ± 7,06 b
CV (%) 40,0 46,3 43,9
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de
Scott-Knott (P>0,05).
O inseticida deltamethrin causou 100% de mortalidade, sendo
considerado nocivo (classe 4), enquanto endosulfan, imidacloprid, formetanate e
spinosad foram enquadrados na classe 2, ou seja, levemente nocivos (Tabela 8).
Esses resultados divergem daqueles obtidos por Carvalho et al. (2002)
para o imidacloprid, quando pulverizado sobre ninfas de quarto instar de O.
insidiosus, sendo categorizado na classe 4 por causar 100% de mortalidade às
ninfas. Esse fato pode ser atribuído às diferenças nas dosagens testadas, uma
vez que esses autores aplicaram 0,0315 g i.a./100 mL de água, equivalente a
quase quatro vezes a dosagem aplicada no presente estudo.
53
Com referência à toxicidade de deltamethrin, Conte (2001) verificou que
o composto também foi prejudicial para O. laevigatus quando pulverizado sobre
ninfas e adultos do predador.
TABELA 8. Mortalidade provocada pelos produtos a ninfas de quinto instar de
Orius insidiosus, efeito total (E) e classe de toxicidade dos
inseticidas. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de
12 horas.
Tratamentos M (%)
1
Ma (%)
2
Nº de
casais
Nº total de
ovos/15 dias
E (%)
3
Classe
4
Testemunha 6,3 - 10 26,0 - -
Endosulfan 6,3 0,0 10 14,5 44,0 2
Imidacloprid 75,0 73,3 - - 73,3 2
Formetanate 46,9 43,3 - - 43,3 2
Spinosad 40,6 36,7 6 11,8 70,9 2
Deltamethrin 100,0 100,0 - - 100,0 4
1
Mortalidade (%) acumulada ao longo do desenvolvimento do predador.
2
Mortalidade corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
Efeito total do produto sobre o predador.
4
Classe de toxicidade segundo a IOBC.
Os inseticidas avaliados apresentaram diferentes níveis de toxicidade a
ovos e ninfas de quinto instar de O. insidiosus, sendo nenhum deles considerado
inócuo. Dessa forma, tornam-se necessários estudos em condições de casa-de-
vegetação e campo para comprovação final de seus efeitos e possível
recomendação em programas de manejo integrado de pragas da roseira que
utilizem esse predador como agente de controle biológico.
54
6 CONCLUSÕES
Os inseticidas imidacloprid e deltamethrin foram nocivos aos ovos de O.
insidiosus.
Endosulfan, formetanate e spinosad foram levemente nocivos aos ovos e
estádios ninfais subseqüentes de O. insidiosus.
Endosulfan e formetanate não afetaram a reprodução de O. insidiosus
tratados na fase de ovo.
Deltamethrin foi nocivo às ninfas de quinto instar e, endosulfan,
imidacloprid, formetanate e spinosad foram levemente nocivos.
Endosulfan e spinosad afetaram a reprodução de adultos provenientes de
ninfas de quinto instar tratadas.
55
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57
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58
CAPÍTULO 3
TORRES, Fabrícia Zimermann Vilela. Toxicidade de inseticidas utilizados em
cultivos de roseira a adultos de Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera:
Anthocoridae). In: ______. Toxicidade de inseticidas utilizados em cultivos
de roseira ao predador Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera:
Anthocoridae). 2005. Cap.3, p.58-83. Dissertação (Mestrado em
Entomologia)
5
-Universidade Federal de Lavras, Lavras.
RESUMO
O presente trabalho objetivou avaliar o impacto de inseticidas utilizados
na cultura da roseira a adultos de Orius insidiosus (Say, 1832), por meio de
pulverização direta sobre os percevejos e ingestão de alimento contaminado.
Foram utilizadas formulações comerciais dos compostos, as quais foram diluídas
em água nas seguintes concentrações (em g i.a./100 mL): endosulfan (0,021),
imidacloprid (0,008), formetanate (0,04), spinosad (0,0144) e deltamethrin
(0,0008), sendo que somente endosulfan foi avaliado no teste de ingestão de
alimento contaminado. Utilizou-se água destilada no tratamento controle. Os
experimentos foram mantidos sob condições de laboratório, em câmara climática
a temperatura de 25±2ºC, umidade relativa de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Para pulverização dos produtos utilizou-se torre de Potter calibrada a 15 lb/pol
2
.
Ovos de Anagasta kuehniella (Zeller, 1879) foram imersos na calda inseticida e
oferecidos como fonte alimentar ao predador. Tanto para o teste de pulverização
como para o de ingestão de alimento contaminado avaliaram-se a mortalidade, o
número diário e total de ovos colocados em 15 dias e sua viabilidade, além da
capacidade predatória dos indivíduos. Os produtos foram enquadrados em
classes de toxicidade preconizadas pela IOBC, de acordo com seu efeito total.
Em pulverização, deltamethrin foi nocivo aos adultos de O. insidiosus;
imidacloprid e spinosad foram moderadamente nocivos e endosulfan e
formetanate foram levemente nocivos. Endosulfan foi levemente nocivo aos
adultos do predador quando alimentaram-se de ovos de A. kuehniella
contaminados. A capacidade predatória dos adultos de O. insidiosus não foi
afetada pelo endosulfan, quando em pulverização sobre os insetos, nem por meio
da ingestão de alimento contaminado.
1
Orientador: Geraldo Andrade Carvalho – UFLA.
59
CHAPTER 3
TORRES, Fabrícia Zimermann Vilela. Toxicity of insecticides used in rose
crops to adults of Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae). In:
______. Toxicity of insecticides used in rose crops to the predator Orius
insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae). 2005. Chap.3, p.58-83.
Dissertation (Master in Entomology)
6
-Federal University of Lavras, Lavras.
ABSTRACT
This work aimed to evaluate the impact of insecticides used in rose crops
to adults of Orius insidiosus (Say, 1832), by direct spraying on the bugs and by
ingesting contaminated food. Commercial formulations of the insecticides were
used, which were diluted in water in the following concentrations (in g a.i./100
mL): endosulfan (0.021), imidacloprid (0.008), formetanate (0.04), spinosad
(0.0144) and deltamethrin (0.0008), and only endosulfan was evaluated in the
ingestion of contaminated food test. Distilled water was used as control. The
bioassays were carried out under laboratory conditions, in climatic chamber at
25±2ºC, RH of 70±10% and 12 h-photophase. A Potter’s tower regulated at 15
psi was used to spraying the products on adults. Eggs of Anagasta kuehniella
(Zeller, 1879) were dipped in the chemical dilutions and offered as food source
to the predator. Either the sprayed test or the ingestion of contaminated food test,
the mortality, the daily and the total number of eggs laid during fifteen days and
their viability, and the predatory capacity of adults were evaluated. The products
were classified in toxicity categories as proposed by the IOBC, according their
total effect. By spraying, deltamethrin was harmful to adults of O. insidiosus;
both imidacloprid and spinosad were moderately harmful and endosulfan and
formetanate were slightly harmful. Endosulfan was slightly harmful to adults of
the predator when they fed of contaminated eggs of A. kuehniella. The predatory
capacity of O. insidiosus adults wasn’t affected by endosulfan, neither by
spraying the insecticide on insects, nor by ingestion of contaminated food.
1
Adviser: Geraldo Andrade Carvalho – UFLA.
60
3 INTRODUÇÃO
Estima-se que no Brasil existam cerca de 7.600 produtores de flores, em
cerca de 1.500 municípios. A área cultivada com flores no país é por volta de
9.000 hectares, mais da metade desses no estado de São Paulo (Kiyuna et al.,
2002).
A roseira é o principal cultivo na floricultura paulista, concentrando-se
nos municípios de Atibaia, Guararema e Holambra. Destaca-se também em
Minas Gerais, nos municípios de Barbacena e Andradas (Junqueira & Peetz,
2002).
O ataque de pragas na cultura da roseira é muito comum, principalmente
de ácaros e insetos sugadores como tripes, pulgões e cochonilhas. O controle
dessas pragas tem sido realizado na maioria dos casos por produtos químicos,
porém existe um grande interesse em programas de manejo integrado de pragas
em cultivos de roseira, incluindo agentes de controle biológico, como os
percevejos do gênero Orius.
Esses percevejos têm sido usados como agentes entomófagos em
diversos sistemas agrícolas, obtendo-se sucesso, por exemplo, no controle de
tripes, ácaros, afídeos, ovos e pequenas lagartas de lepidópteros (Bueno, 2000).
Para a otimização da eficiência desses predadores é necessária a sua
compatibilização com o método químico, sendo extremamente importante o uso
de produtos fitossanitários seletivos, que podem reduzir o ataque de pragas
secundárias, aumentar o intervalo de aplicações e diminuir a pressão de seleção
para resistência a inseticidas.
Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a toxicidade dos
inseticidas endosulfan, imidacloprid, formetanate, spinosad e deltamethrin,
utilizados em roseira, para adultos de O. insidiosus em laboratório.
61
4 MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram realizados no período de maio a julho de 2004.
4.1 Obtenção dos indivíduos e criação de laboratório
Adultos do predador O. insidiosus foram coletados em plantas de picão-
preto (Bidens pilosa Linnaeus). Após a coleta, os indivíduos foram levados ao
laboratório, mantidos em câmara climática regulada à temperatura de 25±2ºC,
umidade relativa de 70±10% e fotofase de 12 horas, sendo alimentados ad
libitum com ovos de Anagasta kuehniella (Zeller, 1879) (Lepidoptera:
Pyralidae), que foram previamente inviabilizados sob luz ultravioleta, conforme
método de criação descrito por Mendes (2000).
4.2 Inseticidas avaliados
Os inseticidas, com as respectivas dosagens testadas, estão em
fase de pesquisa para o controle de tripes em roseira. Os produtos
avaliados, com seus respectivos nomes técnicos, marcas comerciais,
grupos químicos e dosagens, encontram-se na Tabela 1. O tratamento
testemunha foi constituído apenas de água destilada.
62
TABELA 1. Nomes técnicos, comerciais, grupos químicos e dosagens dos
inseticidas avaliados para Orius insidiosus.
Nome
Técnico
Nome Comercial Grupo Químico
Dosagem
(g i.a./100 mL água)
Endosulfan Fersol 350 CE
Éster do ác. sulfuroso
de um dial cíclico
0,021
Imidacloprid Provado 200 SC Neonicotinóide 0,008
Formetanate Dicarzol 500 OS Carbamato 0,04
Spinosad Tracer 480 SC Espinosina 0,0144
Deltamethrin Decis 25 CE Piretróide 0,0008
4.3 Efeito da pulverização de inseticidas sobre adultos de O. insidiosus
Foram utilizados quarenta adultos com até 48 horas de idade, por
tratamento. Esses indivíduos, obtidos da criação de laboratório, foram colocados
em placas de Petri de 15 cm de diâmetro e levados à pulverização com os
produtos apresentados na Tabela 1.
Para pulverização foi utilizada uma torre de Potter, calibrada a 15
lb/pol
2
, assegurando uma aplicação de 1,5±0,5 mg de calda/cm
2
, conforme as
recomendações da “International Organization for Biological and Integrated
Control of Noxious Animals and Plants (IOBC), West Palaearctic Regional
Section (WPRS)” (Franz et al., 1980; Hassan, 1994; Veire et al., 1996; Hassan,
1997; Degrande et al., 2002). Após cada pulverização a torre de Potter foi lavada
com água destilada, álcool 92,8ºGL, e novamente com água destilada, sendo
removido o líquido remanescente com papel-toalha após cada lavagem.
Após a pulverização, os insetos foram individualizados em placas de
Petri de 5 cm de diâmetro, contendo um chumaço de algodão umedecido com
água destilada; para sua alimentação, forma oferecidos ovos de A. kuehniella ad
63
libitum previamente inviabilizados. As placas foram fechadas com filme plástico
de cloreto de polivinila (PVC) e mantidas em câmara climática regulada a
25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas. O alimento foi colocado a cada
48 horas e o algodão umedecido a cada 24 horas.
O delineamento utilizado foi inteiramente ao acaso, com seis tratamentos
(cinco inseticidas e testemunha) e quatro repetições, sendo cada parcela
experimental composta por dez insetos.
A mortalidade dos adultos foi avaliada 1, 3, 6, 12, 24, 48, 72, 96 e 120h
após aplicação dos produtos, com auxílio de um microscópio estereoscópico
(40x), sendo considerado morto o indivíduo que se manteve imóvel ao toque de
um pincel.
Para os tratamentos que após 24h apresentaram no mínimo cinco casais
vivos, estes foram separados em placas de Petri de 5 cm de diâmetro, contendo
ovos de A. kuehniella previamente inviabilizados, oferecidos ad libitum como
alimento, e algodão umedecido, as quais foram fechadas com filme plástico de
PVC. As placas foram mantidas em câmara climática regulada a 25±2ºC, UR de
70±10% e fotofase de 12 horas.
Os casais receberam diariamente uma haste de inflorescência de picão-
preto para oviposição, por um período de 24 horas. Cada haste foi envolvida na
base por um chumaço de algodão umedecido em água destilada. Foi fornecido
alimento a cada 48 horas. Todos os dias as hastes eram retiradas das placas e
contado o número de ovos/haste, sendo cada uma armazenada em tubos de vidro
de 8,5 cm de comprimento x 2,5 cm de diâmetro. Após sete dias foi realizada a
avaliação da viabilidade de cada ovo, sendo viáveis os que apresentaram
opérculos abertos.
O bioensaio foi realizado em delineamento inteiramente ao acaso, com
dois tratamentos (um inseticida e testemunha) e dez repetições, sendo cada
unidade experimental composta por um casal de O. insidiosus.
64
Avaliaram-se a mortalidade, os números diário e total de ovos colocados
em quinze dias e sua viabilidade.
4.4 Efeito do endosulfan na capacidade predatória de adultos de O.
insidiosus
Visto que foi observado maior número de insetos sobreviventes e ativos
no tratamento com endosulfan, decidiu-se realizar outro bioensaio para avaliação
da capacidade predatória de adultos do predador tratados com este inseticida.
Adultos de O. insidiosus com idade aproximada de 48 horas foram
coletados da criação de laboratório, distribuídos em placas de Petri de 15 cm de
diâmetro e pulverizados, conforme subitem 4.3, com o inseticida endosulfan.
Para o tratamento testemunha foi utilizada apenas água destilada. Foram
utilizados sessenta indivíduos/tratamento, trinta fêmeas e trinta machos.
Após a pulverização, os predadores foram individualizados em placas de
Petri de 5 cm de diâmetro contendo algodão umedecido e 25 ovos de A.
kuehniella, previamente inviabilizados, colados com goma arábica diluída a 50%
em água, em cartelas de cartolina azul de 4,5 cm de comprimento x 1,5 cm de
largura. Cada cartela contendo os ovos foi colocada dentro de uma placa de
Petri, sendo trocada diariamente, contando-se o número de ovos predados por
quatro dias. Foi considerado predado o ovo que se apresentou murcho. O
algodão mantido em cada placa de Petri foi umedecido a cada 24 horas. As
placas foram armazenadas da mesma maneira, conforme descrito no subitem
4.3.
Utilizou-se delineamento inteiramente ao acaso, com dois tratamentos
(um inseticida e testemunha) e quinze repetições, sendo cada unidade
experimental composta de dois indivíduos de mesmo sexo.
65
4.5 Efeito da ingestão de alimento contaminado com endosulfan sobre
adultos de O. insidiosus
Em função da menor mortalidade de adultos submetidos à pulverização
com endosulfan, avaliou-se uma outra forma de exposição dos insetos a este
produto.
Dessa forma, foram separados ovos de A. kuehniella com
aproximadamente 24 horas de idade, previamente inviabilizados, os quais foram
colados com goma arábica diluída a 50% em água em uma área de 0,5 cm de
largura x 0,25 cm de comprimento, em cartelas de cartolina azul de 4 cm de
comprimento x 5 cm de largura. Os ovos foram imersos na calda química do
endosulfan por 5 segundos. Cada cartela continha aproximadamente 60 ovos,
sendo oferecida uma a cada adulto de O. insidiosus, que foi previamente retirado
da criação de laboratório e individualizado em placa de Petri de 5 cm de
diâmetro, utilizando-se quarenta indivíduos/tratamento. As placas foram
fechadas e armazenadas conforme descrito no subitem 4.3.
Foi avaliada a mortalidade dos indivíduos às 24, 48, 72, 96 e 120h após
receberem o alimento contaminado, com auxílio de um microscópio
estereoscópico (40x), sendo considerado morto o indivíduo que se manteve
imóvel ao toque de um pincel.
O delineamento utilizado foi inteiramente ao acaso, com dois
tratamentos (um inseticida e testemunha) e dez repetições, sendo cada parcela
constituída de quatro indivíduos adultos.
A capacidade predatória foi avaliada diariamente até 72 horas após os
ovos contaminados terem sido ofertados, contando-se o número de ovos
predados em cada cartela. Foi considerado predado o ovo que estava murcho.
66
Utilizou-se delineamento inteiramente ao acaso com dois tratamentos
(um inseticida e testemunha) e dez repetições, sendo cada parcela composta de
dois indivíduos adultos de mesmo sexo.
Com os indivíduos sobreviventes após as avaliações da capacidade
predatória formaram-se casais, sendo cada casal colocado em placa de Petri de 5
cm de diâmetro, contendo ovos de A. kuehniella previamente inviabilizados,
oferecidos ad libitum como alimento, e algodão umedecido, a qual foi fechada
com filme plástico de PVC e armazenada conforme descrito no subitem 4.3.
Os casais receberam diariamente uma haste de inflorescência de picão-
preto para oviposição, por um período de 24 horas. Cada haste foi envolvida na
base por um chumaço de algodão umedecido em água. Foi fornecido alimento a
cada 48 horas. Todos os dias as hastes eram retiradas das placas e contado o
número de ovos/haste, sendo cada uma colocada em tubos de vidro de 8,5 cm de
comprimento x 2,5 cm de diâmetro. Após sete dias foi realizada a avaliação da
viabilidade de cada ovo, sendo viáveis os que apresentaram opérculos abertos.
Utilizou-se delineamento inteiramente ao acaso, com dois tratamentos
(um inseticida e testemunha) e número mínimo de dez repetições, sendo cada
parcela composta de um casal de O. insidiosus.
Avaliaram-se a mortalidade, a capacidade predatória, os números diário
e total de ovos colocados em quinze dias e sua viabilidade.
4.6 Análises estatísticas
No bioensaio de pulverização, os dados obtidos quanto à mortalidade
dos indivíduos 1, 3, 6, 12, 24, 48, 72, 96 e 120h após a aplicação dos inseticidas
foram submetidos à análise de variância em um modelo de parcelas subdivididas
no tempo, com os produtos na parcela, de acordo com modelo de regressão.
67
Os dados relativos ao número diário de ovos foram transformados para
x
e aqueles relacionados ao número total de ovos colocados em quinze dias,
para
5,0+x
e submetidos à análise de variância. Quanto aos dados de
viabilidade dos ovos, realizou-se análise sem qualquer transformação.
Quanto à predação diária e total, os dados foram submetidos à análise de
variância em esquema fatorial 2 x 2, sendo necessário que os de predação diária
fossem transformados para
x .
No bioensaio de ingestão de alimento contaminado, os dados referentes à
mortalidade dos indivíduos 24, 48, 72, 96 e 120h após a aplicação do inseticida,
foram transformados para arco-seno
x e submetidos à análise de variância em
um modelo de parcelas subdivididas no tempo, com o produto na parcela, de
acordo com modelo de regressão.
Aqueles relativos aos números diário e total de ovos foram
transformados para
1+x
; quanto à sua viabilidade, não houve necessidade de
transformação dos dados, sendo realizada análise de variância.
No que se refere à predação diária e total, os dados foram submetidos à
análise de variância em esquema fatorial 2 x 2, sendo necessário que os de
predação média diária fossem transformados para
1+x .
Para realizar as análises estatísticas foram utilizados os programas
estatísticos Sisvar (Ferreira, 2000) para os dados balanceados, e o proc GLM do
SAS (SAS Institute, 1990), para os não balanceados. Nos casos em que o teste F
da ANAVA foi significativo, a comparação das médias foi feita pelo teste de
Scott-Knott a 5% de significância (Scott & Knott, 1974).
68
4.7 Cálculos para classificação dos produtos avaliados
Os dados de mortalidade total foram corrigidos por meio da fórmula de
Abbott (1925): Ma = (Mt – Mc)/(100 – Mc) x 100, em que: Ma = mortalidade
corrigida em função do tratamento testemunha; Mt = mortalidade observada no
tratamento com o produto e Mc = mortalidade verificada no tratamento
testemunha.
Para o cálculo do efeito total (E) utilizou-se a fórmula proposta por Veire
et al. (1996), com base nos efeitos sobre a mortalidade e no número total de ovos
colocados: ER = Rt/Rc, em que: ER = efeito do produto sobre o número de ovos
colocados; Rt = número médio de ovos obtidos no tratamento inseticida e Rc =
número médio de ovos obtidos no tratamento testemunha.
Após a determinação dos coeficientes da equação, calculou-se o efeito
total: E = 100% - (100% - Ma) x ER, em que: E = efeito total (%); Ma =
mortalidade corrigida em função do tratamento testemunha e ER = efeito do
produto sobre o número de ovos colocados.
Após a determinação do efeito total, os produtos foram enquadrados em
classes toxicológicas: classe 1 = inócuo (E<30%), classe 2 = levemente nocivo
(30%E80%), classe 3 = moderadamente nocivo (80<E99%) e classe 4 =
nocivo (E>99%), de acordo com escala proposta por membros da IOBC (Hassan
& Degrande, 1996; Veire et al., 1996; Hassan, 1997).
69
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Efeito da pulverização dos inseticidas sobre adultos de O. insidiosus
Uma hora após a aplicação, nenhum inseticida foi tóxico aos adultos do
predador, com médias variando de 0 a 12,5% de mortalidade. Às 3h após
pulverização, constatou-se que deltamethrin foi o mais tóxico, causando
mortalidade de 47,5%; às 24h deltamethrin provocou 100% de mortalidade. Os
inseticidas endosulfan, imidacloprid, formetanate e spinosad, às 12h após
aplicação, causaram mortalidades médias de 30, 25, 40 e 25%, respectivamente.
Às 72h imidacloprid, formetanate e spinosad alcançaram médias de mortalidade
de 85, 80 e 85%, respectivamente, diferenciando-se do endosulfan (57,5%)
(Tabela 2).
As médias de mortalidade apresentadas ao final das avaliações, ou seja,
às 120h aplicação dos inseticidas, foram de 62,5% para endosulfan, 92,5% para
imidacloprid, 80% para formetanate e 85% para spinosad (Tabela 2).
Observando o efeito dos inseticidas ao longo do período de avaliação
(Figura 1), constatou-se que todos apresentaram curvas diferentes daquela
verificada para o tratamento testemunha, com aumento significativo na
mortalidade até as 48h da aplicação para formetanate, 72h para spinosad e 96h
para endosulfan e imidacloprid; a partir dessas avaliações houve pouco
incremento de mortalidade.
Morais et al. (2003) observaram que o imidacloprid (0,042 g i.a./100
mL) foi altamente tóxico a O. insidiosus, provocando 100% de mortalidade
quando pulverizado diretamente sobre insetos adultos. Elzen (2001) observou
que esse inseticida, na dosagem de 3,035 g i.a./100 mL, causou 62,7% de
mortalidade em fêmeas de O. insidiosus alimentadas com ovos de H. zea
70
contaminados com o produto. Veire et al. (2002) verificaram alta toxicidade de
imidacloprid (0,015 g i.a./100 mL) quando pulverizados sobre O. laevigatus em
testes de laboratório, semicampo e campo.
Os resultados observados no presente trabalho com relação ao inseticida
spinosad divergem daqueles obtidos por Ruberson & Tillman (1999), os quais
verificaram que o composto na dosagem de 0,109 g i.a./100 mL foi seletivo a
diversos predadores avaliados, dentre eles O. insidiosus. Esses autores avaliaram
o efeito do produto por meio do contato do predador com seus resíduos em
folhas de algodoeiro; no presente trabalho houve contato direto do percevejo
com o inseticida por meio de sua pulverização.
Studebaker & Kring (2003) observaram que spinosad, nas dosagens de
0,09 e 0,199 g i.a./100 mL, foi altamente tóxico a O. insidiosus quando aplicado
em placas de Petri em laboratório. Porém, quando aplicado em plantas de
algodoeiro em semicampo e campo, o composto foi pouco tóxico, causando
baixa mortalidade a insetos dessa espécie.
71
TABELA 2. Mortalidade acumulada (%) (±EP) de adultos de Orius insidiosus após pulverização dos inseticidas.
Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Tempo (h) após aplicação dos produtos
Tratament
os
1 3 6 12 24 48 72 96 120
Testemunha
0,0±0,00 a 0,0±0,00 a 0,0±0,00 a 0,0±0,00 a 2,5± 1,25 a 2,5 ± 1,25 a 10,0±2,04 a 10,0±2,04 a 10,0±2,04 a
Endosulfan
2,5±1,25 a 2,5±1,25 a 5,0±1,44 a 30,0±5,00 b 45,0±4,33 b 55,0±5,20 b 57,5±6,25 b 62,5±6,57 b 62,5±6,57 b
Imidacloprid
0,0±0,00 a 7,5±2,39 a 10,0±2,04 a 25,0±5,20 b 35,0±6,61 b 72,5±3,15 b 85,0±2,50 c 92,5±2,39 c 92,5±2,39 c
Formetanate
12,5±4,73 a 15,0±5,95 a 25,0±5,95 a 40,0±7,07 b 45,0±6,61 b 80,0±4,08 c 80,0±4,08 c 80,0±4,08 c 80,0±4,08 c
Spinosad
0,0±0,00 a 0,0±0,00 a 12,5±2,39 a 25,0±2,50 b 47,5±5,54 b 85,0±1,44 c 85,0±1,44 c 85,0±1,44 c 85,0±1,44 c
Deltamethrin
7,5±1,25 a 47,5±4,27 b 82,5±4,27 b 97,5±1,25 c 100,0±0,00 c - - - -
CV (%)
parcela
: 35,07
CV (%)
subparcela
: 19,26
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P>0,05).
72
0
20
40
60
80
100
0 24487296120
Tempo de avaliação (h)
Mortalidade (%)
testemunha:
endosulfan:
imidacloprid:
formetanate:
spinosad:
deltamethrin:
FIGURA 1. Curvas de mortalidade (%) de adultos de Orius insidiosus, tratados
com os inseticidas, ao longo do período de avaliação.
A capacidade reprodutiva dos adultos sobreviventes ao tratamento com
endosulfan não foi afetada, conforme mostram os resultados apresentados na
Tabela 3.
ŷ = 0,31 + 0,10x; R
2
= 0,90
ŷ = 20,8 + 1,48x – 0,01x
2
; R
2
= 0,94
ŷ = 9,37 + 0,85x; R
2
= 0,90
ŷ = 10,51 + 1,8x – 0,01x
2
; R
2
= 0,96
ŷ = 0,91 + 2,2x – 0,01x
2
; R
2
= 0,98
ŷ = 23,1 + 5,37x – 0,09x
2
+ 0,0004x
3
; R
2
= 0,79
73
TABELA 3. Números diário e total de ovos em 15 dias e viabilidade de ovos
(%) (±EP) de fêmeas adultas de Orius insidiosus pulverizadas com
os inseticidas. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase
de 12 horas.
Tratamentos
Número diário de
ovos
Número total de
ovos em 15 dias
Viabilidade
Testemunha 2,8 ± 0,16 38,1 ± 2,45 65,8 ± 1,87
Endosulfan 3,3 ± 0,17 44,0 ± 2,65 57,8 ± 2,31
CV (%) 34,5 36,7 31,8
Médias com diferenças não significativas pelo teste F (P>0,05).
No que se refere à classificação dos compostos quanto à toxicidade,
verificou-se que endosulfan e formetanate foram enquadrados na classe 2
(levemente nocivos), causando mortalidades de 58,3 e 77,8%, respectivamente.
Imidacloprid e spinosad foram categorizados como moderadamente nocivos
(classe 3) e deltamethrin, como nocivo, causando 100% de mortalidade (classe
4) (Tabela 4).
74
TABELA 4. Mortalidade de adultos de Orius insidiosus 120h após a
pulverização, efeito total (E) e classe de toxicidade dos
inseticidas. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase
de 12 horas.
Tratamentos M (%)
1
Ma (%)
2
Nº casais
Nº total
ovos/15 dias
E (%)
3
Classe
4
Testemunha 10,0 - 10 38,1 - -
Endosulfan 62,5 58,3 10 44,0 51,7 2
Imidacloprid 92,5 91,7 - - 91,7 3
Formetanate 80,0 77,8 - - 77,8 2
Spinosad 85,0 83,3 - - 83,3 3
Deltamethrin 100,0 100,0 - - 100,0 4
1
Mortalidade (%) acumulada 120h após pulverização do predador.
2
Mortalidade corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
Efeito total do produto sobre o predador.
4
Classe de toxicidade segundo a IOBC.
5.2 Efeito do endosulfan na capacidade predatória de adultos de O.
insidiosus
A capacidade predatória diária de adultos de O. insidiosus não foi
afetada pelo endosulfan, independentemente do sexo, nem a predação total ao
final de quatro dias de avaliação (Tabela 5). Foi verificada diferença nos
números diário e total de ovos predados apenas entre sexos, sendo que as fêmeas
predaram mais que os machos. Isenhour & Yeargan (1981) constataram que a
predação de fêmeas de O. insidiosus foi maior do que a de machos sem qualquer
aplicação de produtos e tendo como presas indivíduos de Sericothrips variabilis
(Beach) (Thysanoptera: Thripidae), inseto sugador que ataca a cultura da soja.
75
TABELA 5. Número de ovos predados (±EP) por machos e fêmeas de Orius
insidiosus até o quarto dia após pulverização dos inseticidas.
Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Predação diária
Predação total
Tratamentos
macho Fêmea macho Fêmea
Testemunha
5,5 ± 0,05 aB 7,60 ± 0,11 aA
21,0 ± 0,21 aB 29,7 ± 0,43 aA
Endosulfan
4,9 ± 0,68 aB 6,9 ± 0,11 aA
13,7 ± 3,00 aB 26,8 ± 0,44 aA
CV (%) 30,2 28,4
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de
Scott-Knott (P>0,05).
5.3 Efeito da ingestão de alimento contaminado com endosulfan para
adultos de O. insidiosus
Observou-se que endosulfan já na primeira avaliação, às 24h após
ingestão de ovos contaminados, provocou 35% de mortalidade de adultos de O.
insidiosus (Tabela 6). A mortalidade provocada pelo inseticida aumentou
gradativamente ao longo do período de avaliação (Figura 2), alcançando uma
média de 52,5% às 120h após a ingestão (Tabela 6 e Figura 2).
Esses resultados assemelham-se aos de Elzen et al. (1998), que
observaram uma mortalidade de 46,7% às 72h após exposição de adultos de O.
insidiosus aos resíduos do endosulfan aplicado em folhas de algodoeiro. E, mais
recentemente, Elzen (2001) verificou mortalidade média de 45,8% para machos
e 60% para fêmeas do predador, em laboratório, quando estes se alimentaram de
ovos de H. zea tratados com esse produto.
76
TABELA 6. Mortalidade acumulada (%) (±EP) de adultos de Orius insidiosus
após a ingestão de ovos de Anagasta kuehniella contaminados.
Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Tempo da avaliação (h) após ingestão
Tratamentos
24 48 72 96 120
Testemunha
10,0±2,89 a 15,0±2,50 a 15,0±2,50 a 17,5±3,15 a 17,5±3,15 a
Endosulfan
35,0±3,23 b 37,5±2,39 b 45,0±3,23 b 50,0±4,08 b 52,5±4,27 b
CV (%)
parcela
: 42,0
CV (%)
subparcela
: 36,6
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de
Scott-Knott (P>0,05).
0
10
20
30
40
50
60
24 48 72 96 120
Tempo de avaliação (h)
Mortalidade (%)
testemunha:
endosulfan:
FIGURA 2. Curvas de mortalidade (%) de adultos de Orius insidiosus que
ingeriram alimento contaminado, ao longo do período de
avaliação.
ŷ = 6,00 + 0,21x - 0,0009x
2
; R
2
= 0,92
ŷ = 29,75 – 0,20x; R
2
= 0,97
77
Quanto à reprodução de O. insidiosus, endosulfan reduziu os números
diário e total de ovos ovipositados, com médias de 1,2 e 13,7 ovos,
respectivamente; entretanto, a viabilidade dos ovos não foi afetada, com média
de 67,6% de ovos viáveis (Tabela 7).
Elzen (2001) observou que a fecundidade de O. insidiosus não foi
afetada por endosulfan (3,035 g i.a./100 mL) quando ovos de H. zea
contaminados com o produto foram ofertados aos adultos dessa espécie. Apesar
da alta dosagem aplicada em relação à utilizada no presente trabalho, obteve-se
uma média de 23,5 ovos colocados ao final de três dias após a ingestão do
alimento contaminado. A forma de exposição do predador aos resíduos do
produto pode ter contribuído para a divergência de resultados, visto que este
autor realizou a pulverização dos ovos, podendo não ter ocorrido total
contaminação da presa com o produto.
TABELA 7. Números diário e total de ovos em 15 dias e viabilidade de ovos
(%) (±EP) de fêmeas adultas de Orius insidiosus que ingeriram
ovos de Anagasta kuehniella contaminados.
Tratamentos
Número diário de
ovos
Número total de
ovos em 15 dias
Viabilidade
Testemunha 2,7 ± 0,14 a 36,4 ± 2,16 a 67,8 ± 1,87 a
Endosulfan 1,2 ± 0,12 b 13,7 ± 1,36 b 67,6 ± 3,83 a
CV (%) 34,2 45,8 31,1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de
Scott-Knott (P>0,05).
Com base na mortalidade e no número total de ovos ovipositados,
determinou-se o efeito total do endosulfan ao predador, enquadrando-o na classe
78
2 (levemente nocivo). A mortalidade corrigida para o inseticida foi de 42,4% e
seu efeito total foi de 78,4% (Tabela 8).
TABELA 8. Mortalidade de adultos de Orius insidiosus 120h após a ingestão de
ovos de Anagasta kuehniella contaminados, efeito total (E) e classe
de toxicidade do inseticida. Temperatura de 25±2ºC, UR de
70±10% e fotofase de 12 horas.
Tratamentos M (%)
1
Ma (%)
2
casais
Nº total
ovos/15 dias
E (%)
3
Classe
4
Testemunha 17,5 - 15 36,4 - -
Endosulfan 52,5 42,4 10 13,7 78,4 2
1
Mortalidade (%) acumulada às 120h após tratamento do predador.
2
Mortalidade corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
Efeito total do produto sobre o predador.
4
Classe de toxicidade segundo a IOBC.
Não houve efeito do endosulfan na capacidade predatória de percevejos
adultos que receberam alimento contaminado. As médias observadas foram de
18,3 ovos predados diariamente para machos e de 21,2 para fêmeas, e de 54,8 ao
final de três dias para machos e 63,1 para fêmeas. Também não houve diferença
significativa entre os sexos para essa característica biológica (Tabela 9).
Elzen (2001) também não constatou efeito negativo na predação de
adultos de O. insidiosus quando estes ingeriram ovos de H. zea contaminados
com endosulfan (3,035 g i.a./100 mL), verificando uma média de 23,5 ovos
consumidos por fêmea ao longo de três dias de avaliação.
79
TABELA 9. Número de ovos predados (±EP) por machos e fêmeas de Orius
insidiosus até o terceiro dia após ingestão de alimento
contaminado. Temperatura de 25±2ºC, UR de 70±10% e fotofase
de 12 horas.
Predação diária Predação total
Tratamentos
macho fêmea macho fêmea
Testemunha 16,7±0,25 19,3±0,32 50,1±0,74 57,3±0,97
Endosulfan 18,3±0,27 21,2±0,55 54,8±0,82 63,1±1,65
CV (%) 29,1 19,6
Médias com diferenças não significativas pelo teste F (P>0,05).
Como os inseticidas apresentaram diferentes níveis de toxicidade aos
adultos de O. insidiosus, recomenda-se a realização de experimentos em casa-
de-vegetação e campo para confirmação final de seus efeitos, a fim de que estes
mesmos possam ou não ser utilizados juntamente com esse predador em
programas de manejo integrado de pragas da roseira.
80
6 CONCLUSÕES
Deltamethrin, em pulverização, foi nocivo aos adultos de O. insidiosus;
imidacloprid e spinosad foram moderadamente nocivos e endosulfan e
formetanate foram levemente nocivos.
Endosulfan foi levemente nocivo aos adultos de O. insidiosus quando
alimentados com ovos de A. kuehniella tratados.
Endosulfan não afetou a capacidade predatória de adultos de O.
insidiosus, quando em pulverização sobre os insetos, nem por meio da ingestão
de alimento contaminado.
81
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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