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se com o escravo, e como negro deve manter-se em seu lugar no
mundo dos brancos.
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Quando Métraux chega ao país, os estudos sobre a questão racial no Brasil
meridional, realizados sob a coordenação de Florestan Fernandes e Roger Bastide,
já se encontravam em andamento respondendo à solicitação de Paulo Duarte, da
Revista Anhembi, à qual a UNESCO então se associou, custeando parcialmente a
coleta de dados. O Inquérito UNESCO-Anhembi foi publicado originalmente pela
Anhembi, graças a uma subvenção conseguida junto à Universidade de São Paulo,
no volume X-XI, n. 30, 1953, ano em que Les élites de couleurs dans une ville
brésilienne, de Thales de Azevedo, é publicado pela UNESCO. Fica sem resposta
a questão sobre a validade de atribuir o desinteresse da UNESCO pela publicação
de “Brancos e negros em São Paulo (...)” aos resultados contrários àqueles esperados,
tendo em vista as finalidades extracientíficas às quais, se esperava, a ciência
conferisse os fundamentos. Florestan Fernandes atribui à rigidez da UNESCO
quanto ao prazo da pesquisa o fato de ser ela apresentada nessa primeira edição
sem todas as conclusões teóricas alcançadas. Mas refere-se também a críticas
segundo as quais o trabalho apresentado pelo grupo fora considerado “perigoso”,
o que merece de F. Fernandes o comentário: “como se os investigadores fossem
responsáveis pelas tensões latentes ou abertas, que eles se limitaram a descrever e
a interpretar”. Cf. BASTIDE, Roger e FERNANDES, Florestan. Brancos e negros
em São Paulo. Ensaio sociológico sobre aspectos da formação, manifestações
atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana. 2
a
. ed. (revista e
ampliada) Coleção Brasiliana, vol. 305, São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1959. Há que se ressaltar, entretanto, que, no relatório às Nações Unidas, 1952-
1953, John W. Taylor , ocupando interinamente o cargo de diretor-geral da UNESCO
em virtude da demissão, a pedido, de Torres de Bodet, relaciona entre os novos
relatórios publicados os seguintes trabalhos:“Les Relations Raciales à São Paulo:
contribution à l’étude sociologique du préjugé de couleur dans ses rapports avec
les structures sociales”, de R. Bastide e F. Fernandes; “Les relations raciales dans
la ville d’Itapetininga, État de São Paulo”, de Oracy Nogueira, assim como o
relatório de estudo psicológico sobre os preconceitos em escolares preparado por
Aniela Ginsberg e Virgínia Bicudo. Cf. UNESCO. Rapport aux Nations Unies
1952-1953. Paris: UNESCO, 1953 b, p.159. Florestan Fernandes, ressalta a
importância desses estudos realizados com os sociólogos que com ele trabalharam
na Faculdade de Filosofia da USP, não apenas como contribuição empírica para o
conhecimento da sociedade brasileira, mas também na sua vida, como sociólogo e
como ser humano. Cf. FERNANDES, Florestan. A condição de sociólogo. São
Paulo: Hucitec, 1978, p. 24-25 e 92-96. Seu projeto, que abre uma linha de
pesquisa, foi estendido, posteriormente, para o Sul do país, com o trabalho de
CARDOSO, Fernando Henrique e IANNI, Octavio. Cor e mobilidade social em
Florianópolis: aspectos das relações entre negros e brancos numa comunidade do
Brasil meridional. Prefácio de Florestan Fernandes. Col. Brasiliana, vol. 307, São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960.