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A figura anterior, que traduz uma operação da ação conceituada desenvolvida
pelos alunos, é denominada pelos professores de “tabuada ilustrada”. A própria nomenclatura
explicita que o foco é tabuada e não a idéia de multiplicação em si. À primeira vista, a
impressão é de que ali se evidência, pelos diagramas, uma das significações essenciais do
conceito de multiplicação: a adição de parcelas iguais. Observa-se que a finalidade é
apresentar a tabuada com dupla linguagem: numérica e figurativa. A ênfase, por exemplo, é o
fato de que 4 x 2 também pode ser representado por quatro diagramas com dois desenhos em
cada um. Essa apropriação não garante a generalização teórica do conceito de multiplicação,
como significação da adição de parcelas, pois nem a simbologia aritmética aditiva, 2 + 2 + 2 +
2, não é tratada. Há, portanto, somente uma concomitância do ilustrativo com a sentença
multiplicativa 4 x 2 = 8. Dessa forma, a tabuada é apenas tabuada e descaracterizada da idéia
de sistema conceitual em que a adição também faz parte. Assim, por mais bem intencionada
que seja, a proposição didática das professoras pode levar somente à “verbalização sem
sentido, um “papagaísmo”, como diria Vygotsky (2000).
Contudo, para os professores, esses procedimentos de ensino refletiram
preocupação com a mudança de postura frente à tabuada se comparada com o início da
carreira e agora. Segundo a professora H, nos primeiros anos de sua carreira docente,
costumava ser algo à parte no ensino de matemática, independente do conceito de
multiplicação.
“Então, no início quando comecei a trabalhar com primeira série é... eu trabalhava
assim, a tabuada. Pegava e já dava pronta no cartaz, na cartolina já botava na parede,
não tem iii... E dizia que era... não tinha assim até eu não tinha aquela noção que era
a soma, a soma não tem! Eu não sabia disso!” (Entrevistada H)
A referida “mudança” é conseqüência, segundo os professores da formação
acadêmica, dos cursos de capacitação e do diálogo com colegas. Todavia, essa modificação,
para Leontiev (1978b), é apenas o alargamento de conhecimento, mas não caracteriza a
descoberta da sua plena significação ou de uma nova significação. Ele não se tornou outro
ponto de vista do seu sentido pessoal por considerar as articulações essenciais entre as ações e
operações da atividade de aprendizagem na qual se insere o tema em estudo.
O lugar que a tabuada ocupa na estrutura do ensino não se modificou. Ela, ainda,
é tratada como ação. Sua “lógica” é abordada antes do conceito de multiplicação. Quando o
conceito é exposto, a priori, consiste somente em uma preparação para a tabuada. Conforme
expressam as falas:
“Quando eu comecei no início do ano eu já cobrava a tabuada, junto com a adição e
a subtração. Até pra eles terem uma noção, pra quando chegar na multiplicação eles
já estarem sabendo, né!” (Entrevistado C);
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