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O respeito e a valorização do processo de desenvolvimento dos alunos também faziam
parte e marcavam o “Estilo Lane”:
A gente falava assim: isso é bobagem, tudo o que eu falei é uma bobagem -
"Bobagem, não! É o momento no teu processo de pensamento, e você sabe que só
mudou hoje se olhar para trás, fala que é uma bobagem porque você passou por ali,
então, não desvalorize o seu processo, considere-se assim, que você fez esse
percurso, e mudou dessa idéia para essa". Só para você ter uma idéia do pensamento
dela [...] A idéia que, no estágio, a prática deveria ser o eixo de uma experiência de
discussão teórica, então elas criaram a idéia de núcleo, que é estágio acompanhado
de disciplinas teóricas, a única faculdade de psicologia que funciona assim é a PUC
de São Paulo. (BOCK, 2006, depoimento).
As idéias da gente iam crescendo na proporção que as dela cresciam, nessa troca
muito generosa de conhecimento (SAWAIA, 2007, depoimento).
Como comentado anteriormente, Sílvia Lane sempre se interessou pela pesquisa; foi, no
entanto, no papel de orientadora que ela teve a oportunidade de desenvolver e acompanhar
várias pesquisas, em diversas áreas; para tornar isso possível, sua postura era não delimitar o
tema para aceitar os orientandos, usando como critério apenas o da seriedade da pesquisa, com a
finalidade de contribuir com o desenvolvimento de uma psicologia comprometida socialmente.
[...] a aproximação dela com os professores aqui da PUC se fez, principalmente, em
função dessa inserção como pesquisadora. Como pesquisadora, ela se refere a um
artigo da Doutora Aniela, de 1976 talvez. É um artigo sobre linguagem; ela disse
que esse artigo a aproximou da Doutora Aniela, com um tema que ela sempre
matutou, que era: ‘por que será que certas palavras têm conotações tão diferentes
para outras pessoas?’, a mesma palavra, e tinha a ver com as emoções. A emoção faz
parte da linguagem. Nas pesquisas empíricas, ela vai descobrindo cada vez mais
certos conceitos, certos mediadores, como ela vai chamar mais tarde, a partir das
pesquisas que os próprios alunos vão fazendo nas teses (GUEDES, 2006,
depoimento).
Percebe-se, pelos depoimentos obtidos, que Sílvia Lane estabeleceu com seus
orientandos uma comunidade de pesquisa, em que a produção coletiva de conhecimento
pautava-se na seriedade do trabalho que realizavam.
[...] Ela disse: você vai escrever um texto, transforma essa pesquisa em um texto que
nós vamos publicar. Eu recebi um pedido de uma revista inglesa, de um artigo,
vamos escrever juntas. Isso é muito importante para um orientando [...] Escrever
junto não era, assim, você escrever e ela assinar, ela escrevia junto mesmo, te
corrigia..., mas te dando a chance de assinar (SAWAIA, 2007, depoimento).
Como orientadora, a experiência com ela foi extremamente rica, para além da
questão das disciplinas formais, mas o contato que ela propiciou, sempre reunindo
em grupo, sempre estudando, sempre discutindo os nossos projetos. A vitalidade
dela, nesse processo, era muito grande, no sentido de propor, de se dispor a estar
avançando em muitas coisas que a gente mal imaginava [...] Era um momento muito
rico, no sentido de que ela lia o material e dava retorno, tinha idéias do que ler, do
que aprofundar. Questionava: baseada em que você estava falando isso? Sempre
uma preocupação de que a gente fosse buscar; se a gente não tivesse recursos, se não
tiver como fazer isso, vai falar com fulano, que pode te ajudar. A experiência foi
muito positiva, eu voltei a ser orientanda dela no doutorado. Ela topou orientar uma