Ainda carecente da ígnea força
Que à pátria deu Leandro, Inês, Medeia,
O Antro dos zelos, de Areneu e Argira
A história, que o sabor colheu de Ovídio,
Na dicção narrativa experta, idónea,
E o mais, às Musas grato, e grato a Lísia.
Da estância, onde nem sempre habita o crime,
Epístola sem sal por ti guisada,
Em tais louvores incluiu meu nome:
Versos escuta, que negar não podes;
Estilo é teu, monotonia é tua;
O que neles se envolve, escuta, em prémio
Da empresa, que tomei, de os pôr na mente:
"Do centro desta gruta triste, e muda,
Fecundo Elmano, pelas Musas dado,
O prisioneiro Elmiro te saúda,
De teus áureos talentos encantado;
De ti só fala, só por ti suspira,
Em teu divino canto arrebatado...
Quem "fértil" nomeaste, e quem "divino"
Hoje é servil, monótono, infecundo,
De texto opimo intérprete engoiado?
Coa idade e estudo o géílio em todos cresce,
E em mim desfaleceu coa idade, e estudo?
Responde ao teu juiz, ao são critério,
Réu de lesa-razão! Trazer à pátria
Nova fertilidade em plantas novas,
Manter-lhe as flores, conservar lhe os frutos,
Quais eram no sabor, na tez, na forma,
Sendo o tronco, a raiz, a copa os mesmos,
Sem que os estranhe, os desconheça o dono,
É fadiga vulgar? Não tem mais preço
Do que esse, que os carretos galardoa
Do galego boçal nos férreos ombros?
Verter com melodia, ardor, pureza
O metro peregrino em luso metro,
Dos idiotismos aplanando o estorvo,
De um, doutro idioma discernindo os génios,
O carácter do texto expor na glosa,
Próprio tornando, e natural o alheio,
É ser bugio, ou papagaio, Elmiro?
Confronta originais, e as cópias deles;
Verás se a Musa, que de rastos pintas,
No voo altivo o Sulmonense atinge,
Castel transcende, e com Delille ombreia.
Citas um verso mau, mil bons não citas?
Citas um verso mau, que não transforma
Em matos os jardins? É natureza
Estarem par a par espinhos, flores.
E não sabes, malévolo, que a regra
Une a ténues objectos simples frases?
Se imparcial, se crítico escrevesses,
Centenas de áureos versos apontaras,
Sem de um só deduzir sentença iníqua.
De Ausónia o quadro, ou venerando, ou belo,
Com justa, sábia mão presentarias;