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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
SOLO DO RIO GRANDE DO SUL
E SUA RELAÇÃO COM O CLIMA
TESE DE DOUTORADO
Elsbeth Léia Spode Becker
Santa Maria, RS, Brasil
2008
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16
SOLO DO RIO GRANDE DO SUL E SUA RELAÇÃO COM O
CLIMA
por
Elsbeth Léia Spode Becker
Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação
em Agronomia, Área de concentração em Produção Vegetal, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS) como requisito parcial
para a obtenção do grau de
Doutora em Agronomia
Orientador: Prof. Nereu Augusto Streck
Santa Maria, RS, Brasil
2008
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17
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Rurais
Programa de Pós-Graduação em Agronomia
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Tese de Doutorado
SOLO DO RIO GRANDE DO SUL E SUA RELAÇÃO COM O
CLIMA
elaborada por
Elsbeth Leia Spode Becker
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Doutora em Agronomia
COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________________
Nereu Augusto Streck, Ph.D. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
__________________________________________
Afranio Almir Righes, Ph.D. (UNIFRA)
__________________________________________
Galileo Adeli Buriol, Dr. (UNIFRA)
__________________________________________
Mauro Kumpfer Werlang, Dr. (UFSM)
__________________________________________
Cleber Maus Alberto, Dr. (UFSM)
Santa Maria, 19 de dezembro de 2008.
18
A GUAIPECA VAVIS
Peço perdão às pessoas por dedicar esta tese a um cachorro.
Tenho uma desculpa séria: esse cachorro é um grande amigo que
possuo no mundo. Tenho outra desculpa: esse cachorro é capaz
de compreender todas as coisas, até mesmo uma tese de
doutorado. Tenho ainda uma terceira desculpa: esse cachorro
oferece sua vida, de forma incondicional, a mim, às minhas
queridas filhas, Kalinca e Dahianne e à minha família. Se todas
essas desculpas não bastam, eu dedico esta tese a todas as
pessoas que destinam suas vidas à paz na família e tratam os
animais com respeito. Corrijo, portanto, a dedicatória:
A GUAIPECA VAVIS
e a todas àqueles que revelam generosidade.
19
AGRADECIMENTOS
Gostaria de expressar minha gratidão às várias pessoas que me deram sua ajuda e seu
apoio durante o tempo em que cursei o programa de pós-graduação e trabalhei nesta tese.
Seria impossível mencionar a todas. Entretanto, estou especialmente grata a(o):
Prof. Dr. PhD. Nereu Augusto Streck, por ter participado durante todo o processo de
minha formação no curso e de elaboração da tese, pelas conversas objetivas, enriquecedoras e
estimulantes e por desafiar meu pensamento científico.
Prof. Dr. Galileo Adeli Buriol, por sua criatividade e inspiração científica, minha fonte
mais rica de conhecimento e discussões, por compartilhar generosamente comigo suas idéias e
sua excelência na pesquisa.
Sara Ceron Hentges, acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental - UNIFRA, por
sua eficiência e dedicação em contribuir na digitalização dos dados e na elaboração dos
gráficos.
Leosane Boscoli, pela espontaneidade e disponibilidade na troca de informações,
materiais, discussões e conversas informais sobre as relações entre a agronomia e a geografia.
Todos meus alunos, grandes e pequenos, pequenos e grandes, sem ordem de
preferência, de todas as cores, caras e idades, amigos de muitas horas e de toda uma vida.
Com o tempo não compartilhamos mais do mesmo espaço, mas o tempo sim, em tudo somos
contemporâneos. Não consigo imaginar uma melhor vida que não seja a minha. Obrigada!
20
A mutação
“Ao término de um período de decadência
sobrevêm o ponto de mutação. A luz poderosa
que fora banida ressurge. Há movimento, mas
este não é gerado pela força... O movimento é
natural, surge espontaneamente. Por esta
razão, a transformação do antigo torna-se
fácil. O velho é descartado, e o novo é
introduzido. Ambas as medidas se harmonizam
com o tempo, não resultando daí, portanto,
nenhum dano”.
I Ching (+- 3000 anos)
Poeminha do contra
“Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho,
eles passarão.
Eu passarinho!”
Mário Quintana
(1906-1994)
21
RESUMO
Tese de Doutorado
Programa de Pós-Graduação em Agronomia
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil
SOLO DO RIO GRANDE DO SUL E SUA RELAÇÃO COM O CLIMA
AUTORA: ELSBETH LÉIA SPODE BECKER
ORIENTADOR: NEREU AUGUSTO STRECK
Local de data da Defesa: Santa Maria, 19 de dezembro
de 2008.
A formação do solo decorre do intemperismo das rochas. Os elementos climáticos,
precipitação pluvial e temperatura, determinam a natureza e a velocidade das reações
químicas nas rochas e definem a pedogênese. A relação entre solo e clima têm sido, ao longo
do tempo, a base do mapeamento dos solos e da vegetação em escala global. Essa relação
pode ser estudada por meio de modelos edafoclimáticos e de intemperismo. Assim, os
objetivos nesta tese foram: (i) determinar a influência das disponibilidades climáticas no tipo
de intemperismo e na formação dos solos do Rio Grande do Sul; (ii) determinar a relação
entre solo e clima no Estado do Rio Grande do Sul por meio da utilização de modelos
edafoclimáticos; e (iii) relacionar as condições climáticas atuais do Rio Grande do Sul com os
grupos de solos. Para atingir os objetivos, foram utilizados três modelos matemáticos a fim de
determinar as características do intemperismo. No cálculo, e representação gráfica dos
modelos, utilizaram-se as médias anuais de temperatura e de precipitação pluvial de 41
estações meteorológicas pertencentes ao Distrito de Meteorologia (8º DISME), período
1931-1960. Constatou-se que os solos do Estado são submetidos a condições de zonas
temperadas quentes, que favorecem o intemperismo químico e as condições de alteração e de
lixiviação típicas da zona de monossialitização. A relação dos solos do Rio Grande do Sul
com as disponibilidades climáticas regionais foram estudadas por meio de modelos
edafoclimáticos. De acordo com esses modelos, o Estado do Rio Grande do Sul é uma região
com características de solos com perfis profundos e bem desenvolvidos que podem
condicionar uma vegetação natural do tipo bosque. Assim, apenas uma parte da área do Rio
Grande do Sul é explicada em função das disponibilidades climáticas vigentes, especialmente
aquelas que são mapeadas como sendo de Latossolos, Chernossolos, Argissolos e de
Nitossolos e Argissolos, predominantemente localizados no Planalto Norte-rio-grandense e na
Depressão Central, respectivamente. As condições climáticas atuais do Rio Grande do Sul
determinam o tipo de intemperismo e os grupos de solos zonais em Lateríticos e
Pedalférricos, porém a relação entre o clima e a diversidade dos tipos de solos existentes no
Estado não pode ser explicada unicamente por meio das disponibilidades climáticas.
Palavras-chave: intemperismo; precipitação pluvial; temperatura; modelos
edafoclimáticos; solos zonais.
22
ABSTRACT
Doctoral Thesis
Graduate Program in Agronomy
Federal University of Santa Maria, RS, Brazil
SOIL OF RIO GRANDE DO SUL AND ITS RELATIONSHIP WITH THE CLIMATE
AUTHOR: ELSBETH LÉIA SPODE BECKER
ADVISOR: NEREU AUGUSTO STRECK
Location and data of defense: Santa Maria, December 19
th
, 2008.
Soil formation occurs through the weathering of rocks. Rainfall and temperature are
major climate factors that determine the nature and rate of chemical reactions in the rocks and
define the pedogenesis. The relationship among soil and climate has been the basis for
mapping soils and vegetation on a global scale. This relationship can be studied through
edaphoclimatological models and weathering. Thus, the objectives of this thesis were: (i) to
determine the influence of climatic availability on the type of weathering and on the
formation of soils of the Rio Grande do Sul State, (ii) to determine the relationship between
soil and climate in Rio Grande do Sul State through the use of edaphoclimatological models,
and (iii) to compare the current climate of Rio Grande do Sul with the groups of soils. To
achieve the first objective, three mathematical models were used to determine the
characteristics of weathering. In the calculation and graphic representation of models, the
average annual temperature and rainfall of 41 meteorological stations of belonging to the 8th
District of Meteorology, 1931-1960 period, were used. Results showed that the soils of the
State are exposed to conditions of warm temperate zones, which favor chemical weathering
and conditions of change and leaching of typical monossialitization zone of the area. The soil
of Rio Grande do Sul with the existing regional climate was studied by edaphoclimatological
models. According to these models, Rio Grande do Sul State is a region with characteristics
of soil with deep and well developed profiles that can support a natural woody-type
vegetation. Thus, only a part of the soil area of Rio Grande do Sul State is explained
according to the current climatic availability, particularlyespecially those which are mapped
as being of Oxisols, Chernosol, Argisols and Nitossols and Argisols, predominantly located
in the North-Riograndense Plateau and Central-Depression, respectively. Current climate
conditions in Rio Grande do Sul State determine the type of intemperism and soil groups as
Laterites and Pedalfers, but a relationship between climate and the existing diversity of soil
types in the State can not be explained only by climate availability.
Key words: weathering, rainfall, temperature; edaphoclimatological models; zone soils.
23
LISTA DE QUADROS
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
QUADRO 1 – Sistema de classificiação de solos de Marbut .............................................
33
QUADRO 2 Sistema de classificação de solos de Marbut (1935), de Baldwin (1938) e
modificado de Thorp e Smith (1949)...................................................................................
34
QUADRO 3 Correlação entre as classes de solos SiBCS (BRASIL, 1973, EMBRAPA,
1999, SiBCS (EMBRAPA, 2006) e Soil Taxonomy, em alto nível categórico..................
35
CAPÍTULO I
QUADRO 1 Coordenadas geográficas e médias anuais da temperatura do ar (T) e
médias dos totais anuais de precipitação pluvial (P) das estações meteorológicas do
Estado do Rio Grande do Sul pertencentes ao DISME utilizadas no estudo, período
1931-1960............................................................................................................................
42
CAPÍTULO II
QUADRO 1 - Coordenadas geográficas das estações meteorológicas do Estado do Rio
Grande do Sul, pertencentes ao 8° DISME utilizadas no estudo.........................................
55
QUADRO 2 – Coordenadas geográficas das estações meteorológicas pertencentes à
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO) cujos dados de radiação solar
global foram utilizados nos cálculos do modelo fitoclimático de Budyco
(1963)....................................................................................................................................
56
CAPÍTULO III
QUADRO 1 - Médias anuais da temperatura do ar (T) e médias dos totais anuais de
precipitação pluvial (P) das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul
pertencentes ao 8° DISME utilizadas no estudo, período 1931-1960..................................
71
QUADRO 2 Evapotranspiração potencial das estações meteorológicas do Estado do
Rio Grande do Sul pertencentes ao DISME utilizadas no estudo, período 1941-1970
(pelo diagrama de CAMARGO, 1966)................................................................................
72
24
LISTA DE FIGURAS
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
FIGURA 1 – Esquema de evolução dos solos em função dos fatores de formação............ 25
FIGURA 2 – Esquema da influência das condições climáticas na formação da paisagem
natural...................................................................................................................................
28
CAPÍTULO I
FIGURA 1 - Enquadramento das médias anuais de temperatura do ar e das médias dos
totais anuais de precipitação pluvial das 41 estações meteorológicas do Estado,
utilizadas no modelo de intemperismo apresentado em Teixeira et al., (2003) (a) e sua
representação geográfica (b). .............................................................................................
44
FIGURA 2 - Distribuição geográfica das médias dos totais anuais de precipitação
pluvial (a) e das médias anuais de temperatura do ar (b), entre 1931 e 1960, com base
nos valores do quadro 1.......................................................................................................
45
FIGURA 3 - Enquadramento das médias anuais de temperatura do ar e das médias dos
totais anuais de precipitação pluvial das 41 estações meteorológicas do Estado,
utilizadas no modelo de intemperismo apresentado em Suguio (2003) (a) e em Teixeira
et al., (2003) (b). .................................................................................................................
46
FIGURA 4 - Enquadramento das médias anuais de temperatura do ar e das médias dos
totais anuais de precipitação pluvial das 41 estações meteorológicas do Estado,
utilizadas no modelo edafoclimático de Géze (1959)..........................................................
47
CAPÍTULO II
FIGURA 1 Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do
Sul, no modelo edafoclimático de Lang (1915) (a) e no modelo de Prescott (1931). Os
valores médios do índice P/DS, das 41 estações meteorológicas do quadro 1, localizam-
se em condições de formação de solos podzólicos (b).........................................................
57
FIGURA 2 - Figura 2 Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio
Grande do Sul no modelo edafoclimático de Thornthwaite (1931) (a) e representação
das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul no modelo edafoclimático
de Aubert e Henin (1945) (b)...............................................................................................
59
25
FIGURA 3 Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do
Sul, no modelo edafoclimático de Thornthwaite e Hare (1955) (a) e a representação das
estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul no modelo edafoclimático de
Budyko (1956) (b)................................................................................................................
61
FIGURA 4 - Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do
Sul, no modelo edafoclimático de Kohnke at. al. (1968). P/T significa, respectivamente,
precipitação pluvial mensal (mm) e temperatura média anual (°C).....................................
62
CAPÍTULO III
FIGURA 1 Distribuição geográfica do intemperismo químico forte e químico
moderado nas unidades geomorfológicas do Rio Grande do Sul (a) e o zoneamento dos
grupos de solos pedalférricos e lateríticos (b)......................................................................
73
FIGURA 2 – Distribuição geográfica das médias dos totais anuais de precipitação
pluvial (a) e das médias anuais de temperatura do ar (b), entre 1931 e 1960. Fonte:
Becker et al. (2008a)………………………………………………………………............
75
FIGURA 3 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de
EMATER/DIT UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Neossolo com substrato de
basalto e paisagem de encosta (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e climograma
relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial, médias dos totais
anuais da estação meteorológica de Santa Rosa (adaptado de Camargo, 1966) (c
)..............
76
FIGURA 4– Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de
EMATER/DIT UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Chernossolo com substrato de
basalto e paisagem fortemente ondulada a plana (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial, médias dos
totais anuais da estação meteorológica de Iraí (adaptado de Camargo, 1966) (c)...............
77
FIGURA 5 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de
EMATER/DIT – UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Latossolo com substrato de
basalto e paisagem fortemente ondulada a plana (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial, médias dos
totais anuais da estação meteorológica de Santo Ângelo (adaptado de Camargo, 1966)
(c).........................................................................................................................................
78
FIGURA 6 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de
EMATER/DIT UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Neossolo com substrato de
26
granito e paisagem ondulada da Serra de Sudeste (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial, médias dos
totais anuais da estação meteorológica de Encruzilhada do Sul (adaptado de Camargo,
1966) (c)...............................................................................................................................
79
FIGURA 7 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de
EMATER/DIT UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Cambissolo com substrato de
granito e paisagem ondulada da Serra de Sudeste (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial, médias dos
totais anuais da estação meteorológica de Piratini (adaptado de Camargo, 1966)
(c).........................................................................................................................................
80
FIGURA 8 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de
EMATER/DIT – UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Argissolo com substrato de
granito e paisagem suave ondulada da Serra de Sudeste (adaptado de Streck et al, 2008)
(b) e climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial,
médias dos totais anuais da estação meteorológica de Piratini (adaptado de Camargo,
1966) (c)...............................................................................................................................
81
27
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO GERAL.............................................................................................. 15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................... 17
2.1 Rocha...................................................................................................................... 17
2.2 Solo..........................................................................................................................
22
2.3 Clima....................................................................................................................... 25
2.4 Intemperismo.......................................................................................................... 28
2.5 Modelos...................................................................................................................
30
2.6 Correlação das classificações de solos.................................................................... 32
CAPÍTULO I - CLIMA E INTEMPERISMO NA FORMAÇÃO DOS SOLOS DO RIO
GRANDE DO SUL, BRASIL......................................................................................
37
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 37
MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................. 40
RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................... 43
CONCLUSÕES.................................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 49
CAPÍTULO II - RELAÇÃO ENTRE SOLO E CLIMA NO RIO GRANDE DO SUL
SEGUNDO DIFERENTES MODELOS EDAFOCLIMÁTICOS.......................................
51
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 51
MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................. 53
RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................... 57
CONCLUSÕES..................................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 64
CAPÍTULO III - CLIMA E SUA INFLUÊNCIA NA DISTRIBUIÇÃO DOS SOLOS
LATERÍTICOS E PEDALFÉRRICOS NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.................
67
28
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................
67
MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................................
70
RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................... 72
CONCLUSÕES..................................................................................................................... 82
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 83
3 CONCLUSÕES GERAIS.............................................................................................. 85
4 RECOMENDAÇÕES PARA FUTURAS PESQUISAS............................................... 87
5 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 89
29
INTRODUÇÃO GERAL
O solo é um componente fundamental do ecossistema terrestre. É o principal substrato
utilizado pelas plantas para o seu crescimento e disseminação, fornecendo água, ar e
nutrientes. Exerce influência na morfologia da paisagem, na distribuição dos biomas e regula,
em parte, a distribuição da população humana sobre o planeta.
A gênese dos solos está ligada ao intemperismo condicionado, essencialmente, pelo
clima. Os dois elementos climáticos mais importantes no intemperismo, precipitação pluvial e
temperatura, determinam a natureza e a velocidade das reações químicas nas rochas e definem
a formação dos solos.
O clima, além de interferir diretamente na temperatura e no fornecimento de água para
as reações de alteração da rocha, influencia, ainda, no desenvolvimento dos organismos vivos
que, também, afetam a formação do solo. A compreensão do processo de formação do solo é
importante, pois é uma sucessão de fenômenos desde o início do intemperismo sobre a rocha
até a classe em que o solo se encaixa atualmente. Essa compreensão permite um
detalhamento do comportamento do solo em relação à vegetação natural e a determinados
manejos.
Assim, o clima e os solos agem simultaneamente na distribuição da vegetação natural
sobre a superfície terrestre: o clima determina a formação vegetal e os solos as suas variações
locais.
Essas relações entre solos e climas têm sido, ao longo do tempo, a base do
mapeamento dos solos e da vegetação em escala mundial. O condicionamento climático e os
solos, também, foram determinantes na Divisão Internacional do Trabalho (DIT) e na
regionalização da produção de alimentos destinados à espécie humana.
Ainda existe, contudo, pouco conhecimento sobre a relação solo e clima. Em parte,
isso decorre do entendimento que a “formação do solo é resultante de cinco fatores: clima,
relevo, seres vivos, material de origem e tempo” (JENNY, 1941). O entendimento sobre o
efeito integrado dos fatores de formação do solo é fundamental para estudos locais e de
pequenas áreas. É importante, no entanto, para estudos preliminares, relacionar clima e solo,
considerando que, entre os fatores de formação do solo, o clima é aquele que, isoladamente,
mais influencia no intemperismo da rocha.
30
Por isso, é essencial o conhecimento da relação solo e clima no Rio Grande do Sul.
Neste estudo, o objetivo foi verificar-se a relação entre solo e clima, no Rio Grande do Sul,
com vistas a entender a atuação do clima na formação do solo.
Para encaminhar essa questão, o presente estudo foi estruturado em três capítulos,
além da introdução, da revisão bibliográfica e das conclusões.
No primeiro capítulo, “clima e intemperismo na formação dos solos do Rio Grande do
Sul”, buscou-se determinar a influência das disponibilidades climáticas na variação do tipo de
intemperismo e na formação dos solos do Rio Grande do Sul. Foram utilizados três modelos
matemáticos para determinar as características do intemperismo e um para evidenciar as
características edafoclimáticas e sua distribuição geográfica.
No segundo capítulo, “relação entre solo e clima no Rio Grande do Sul, segundo
diferentes modelos edafoclimáticos”, estudou-se a relação dos solos do Rio Grande do Sul
com as disponibilidades climáticas regionais por meio de modelos edafoclimáticos. Foram
utilizadas as médias anuais de radiação solar global, a temperatura dia e a média das
máximas e mínimas anuais do ar, além da média dos totais anuais de precipitações pluviais.
Com esses dados, calcularam-se os índices para sete modelos edafoclimáticos.
No terceiro capítulo, “clima e sua influência na distribuição dos solos Lateríticos e
Pedalférricos no Rio Grande do Sul”, correlacionaram-se os tipos de solos do Rio Grande do
Sul com os dois principais grupos de solo, considerando as condições climáticas atuais e sua
distribuição geográfica. Foram selecionados, também, perfis de solos, originados a partir de
uma mesma rocha matriz, foram elaborados climogramas e perfis esquemáticos desses solos,
considerando a vegetação e sua localização geográfica no Estado.
31
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Rocha
A rocha é um conjunto de minerais ou apenas um mineral consolidado que, submetida
ao processo de intemperismo, origina os solos. As rochas classificam-se, quanto à sua origem,
em três grupos: ígneas, metamórficas e sedimentares (GUERRA, 1989).
As rochas ígneas (ou magmáticas) são formadas a partir da consolidação do magma
proveniente do interior da Terra. Sua formação ocorreu em altas temperaturas, a partir da
matéria mineral fundida em grandes profundidades e que, muitas vezes, extravasa à superfície
do planeta através de vulcões. Por isso, as rochas ígneas são divididas em plutônicas e
vulcânicas (CARROLL, 1970).
As rochas plutônicas são cristalizadas em profundidade e submetidas a condições de
alta pressão e temperatura (entre 700 a 1.200°C), por isso, seu resfriamento é lento e,
geralmente, em conseqüência disso, a textura dos minerais que a compõem é grossa e as
rochas são ácidas. São classificadas como rochas ácidas as que apresentam mais que 65% de
SiO
2
em sua composição. Nos granitóides, existe o predomínio de minerais como os
feldspatos, as hornblendas, a muscovita, a biotita, o granito, o graniodiorito, o sienito, o gabro
e outros (MENDES, 1984).
No Brasil, a ocorrência de rochas plutônicas, por exemplo, o granito, está relacionada
aos escudos cristalinos nos compartimentos de relevo dos embasamentos e faixas de
dobramentos. A presença de gnaisses, geralmente, está associada ao metamorfismo do
granito. As rochas cristalinas ácidas são constituídas, principalmente, por feldspatos sódicos e
potássicos, além de quartzo (KRAUSKOFT, 1972).
As rochas vulcânicas originam-se da consolidação das lavas que representam o
material rochoso em estado de fusão que extravasa na superfície da Terra. A lava, em contato
com a superfície terrestre, alcança um resfriamento mais rápido e, geralmente, em
conseqüência disso, a granulometria dos minerais que a compõem é mais fina.
As lavas basálticas constituem o tipo mais comum nos derrames vulcânicos,
caracterizando-se pela cor preta e temperatura de erupção entre 1.000 e 1.200°C. As
propriedades físicas e químicas das lavas basálticas, tais como a baixa viscosidade, menor
retenção de gases dissolvidos e alta temperatura fazem com que o fluxo seja menos espesso e
32
atinja áreas distantes em relação à erupção. Derrames enormes ocorreram em diversos
continentes e ilhas, alguns deles originados durante eventos geológicos gigantescos como é o
caso dos derrames da Bacia do Paraná (América do Sul), que originaram a Formação Serra
Geral (MENDES, 1984).
Segundo Müller Filho (1970), esses derrames estendem-se por mais de 1 milhão de
quilômetros quadrados desde o sul de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de abrangerem terras do Paraguai,
Argentina e Uruguai, e também uma contraparte na África, hoje separados pelo Oceano
Atlântico.
Os derrames foram gerados entre 133 e 129 milhões de anos atrás (na Era Mesozóica),
sendo constituídos, especialmente, por lavas basálticas que se sobrepuseram aos paleorelevos
sedimentares paleozóicos e mesozóicos da Bacia do Paraná, formando o compartimento
geomorfológico denominado Planalto Meridional (PEREL’MANN, 1970). A origem do
vulcanismo Serra Geral, ainda é debatida, porém Müller Filho (1970) denomina-o vulcanismo
de fissura, que, intermitentemente, lançou camadas de lavas em extensas áreas que se
acomodaram às estruturas já existentes. Esse vulcanismo, por sua vez, associou-se à
fragmentação do supercontinente Gondwana, que culminou com formação do assoalho do
oceano Atlântico, em processo até os dias atuais.
As rochas sedimentares e metamórficas derivam da decomposição, deposição e
transformação das rochas ígneas. Essas rochas podem ser constituídas por uma associação de
minerais argilosos e não argilosos. Aquelas com maior conteúdo de argila podem alterar-se e
desagregar-se mais rapidamente do que aquelas com menor teor. As argilas não agregam
fortemente os minerais, de sorte, que esses se podem expandir e contrair-se, conforme o
conteúdo de umidade (água no solo) (WILLIAMS et al., 1970).
Entre as rochas metamórficas mais comuns, estão os gnaisses, os granulitos e os
xistos, além dos quatzitos e mármores, entre outros. Os xistos pela presença de minerais
filitosos orientados (xistosidade) tornam-se mais susceptíveis à infiltração dos agentes da
alteração. Os granulitos de composição quartzo feldspática e textura granular são mais
resistentes e intemperizam-se de forma similar aos granitos (WILLIAMS et al., 1970).
A estrutura geológica-geomorfológica do Estado do Rio Grande do Sul apresenta-se
significativamente diferenciada, dividindo-se em quatro compartimentos com condições
rochosas e geomorfológicas diferentes: Escudo Sul-rio-grandense, Planalto Norte-rio-
grandense, Depressão Central e Planície Litorânea.
33
O Escudo Sul-rio-grandense é o mais antigo, situado no sul-sudeste, ocupa cerca de
pouco menos de 1/3 da área do Estado, na qual se situam municípios como Porto Alegre,
Camaquã, Piratini, entre outros.
A constituição litológica é representada por rochas metamórficas e ígneas, ambas de
ampla variação composicional e rochas sedimentares muito antigas, dobradas ou não,
representadas, predominantemente, por arenitos, conglomerados, subordinadamente, lutitos
(MEDEIROS, et al., 1995).
Nesse compartimento, a variedade litológica, quer seja de rochas ígneas quer seja de
rochas metamórficas, é muito significativa. Contudo, alguns tipos são de ocorrência
superficial mais abundante. Assim, sobressaem-se as rochas do antigo grupo Cambaí,
representado por migmatitos
1
, granulitos, gnaisses e cataclasitos
2
. Essas rochas têm uma
grande expressão superficial mais a sudeste do Escudo, abrangendo municípios como
Pinheiro Machado, Piratini, Canguçu, Camaquã, entre outros, bem como a porção sudeste, em
municípios como Bagé (ao Norte), sul de Lavras e leste de Dom Pedrito. Os granitos são
expressivos em várias áreas como São Sepé, Caçapava do Sul, Lavras do Sul, Dom Feliciano,
Encruzilhada do Sul (DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL 1984;
MEDEIROS, 1995).
As rochas metamórficas pertencentes ao grupo Porongos, representado por sericita-
muscovita-xistos; talco-clorita-xistos, mármores e quartzitos tem, da mesma forma, expressão
superficial significativa, alongando-se no sentido SW-NE (DEPARTAMENTO NACIONAL
DA PRODUÇÃO MINERAL 1984; MEDEIROS, 1995).
Neste compartimento do relevo, as rochas sedimentares também são muito antigas
(aproximadamente 400 milhões de anos), representadas, em especial, pelos conglomerados da
Formação Guaritas e pelos arenitos arcoseanos e siltitos da Formação Santa Bárbara. Essas
rochas são muito expressivas, em área, na parte central do Escudo, também alongando-se no
sentido SW-NE (DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL 1984;
MEDEIROS, 1995).
Mendes (1984) salienta que a participação de processos tectônicos, na Região do
Escudo, são importantes no estabelecimento de grabens, ou seja, vales cuja presença de solos
é reconhecidamente relevante, como o são os vales do Camaquã, do Seival, dos Lanceiros.
1
Migmatitos: rochas formadas nos níveis mais profundos da crosta terrestre, na qual os fenômenos
ígneos e metamórficos fundem-se imperceptivelmente. São compostos de um material hospedeiro metamórfico
com faixas e veios de granito. Ocorrem em escala regional em áreas metamórficas de alto grau.
2
Cataclasitos: rochas que se deformam por fragmentação, sem restituição química. Incluem os
milonitos.
34
A Região de Escudo, em função das características de relevo e, fundamentalmente, da
litologia, em geral, geram de solos bem drenados a pouco drenados, com baixa CTC. Os que
apresentam perfil mais desenvolvido, salvo a área dos vales, situam-se mais nas bordas do
Escudo, especialmente, sobre os gnaisses (plagioclásio sódico, feldspato, quartzo, biotita e
outros) (MEDEIROS, 1995). Na área de sedimentos antigos, a presença de um perfil
desenvolvido é bastante incomum (AZEVEDO et al., 2006).
O Planalto Norte-rio-grandense ou Meridional Brasileiro, ocupa quase a metade da
área do Estado e situa-se do centro para o norte, onde se localizam municípios como Passo
Fundo, Santo Ângelo, Vacaria, Irai, entre outros. É constituído por rochas vulcânicas desde
básicas (maior área) até ácidas, do tipo riodacito (granófiro ácido), sendo essas significativas
na região nordeste do Estado, conhecida como Campos de Cima da Serra. No conjunto,
constituem a Formação Serra Geral, que é o final da Bacia do Paraná. Nas proximidades de
Júlio de Castilhos/Tupanciretã e de Cruz Alta/Santa Bárbara, ocorre um sedimento arenoso
friável denominado Formação Tupanciretã, sobrejacente às vulcânicas da Serra Geral
(MENDES, 1984; MEDEIROS, 1995).
Nesse compartimento, a sucessão e o número de derrames (corridas de lavas distintas
no tempo e, também, na composição) varia de local para local. Assim, por exemplo, na parte
nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, na Serra do Pinto (estrada denominada “Rota do
Sol” Estrela Caxias do Sul Torres), existem cerca de 23 derrames, com uma espessura
total de cerca de 1.000 metros (MENDES, 1984). Os derrames mais superiores são
características riodacíticas, com predominância de feldspatos alcalinos, quartzo e alguma
biotita. Já na região de Santa Maria Itaara, os derrames são em número de quatro, com uma
espessura total de, aproximadamente, 200 a 250 metros. O derrame superior é espesso e é de
características riodacíticas (MENDES, 1984; MEDEIROS, 1995).
O desenvolvimento de solos, nesse compartimento, é distinto, especialmente, entre os
da fronteira oeste, para os Campos de Cima da Serra (nordeste do Rio Grande do Sul) e para a
maior parte do Planalto Médio do Estado. Os solos mais espessos e mais desenvolvidos estão
sobrepostos aos basaltos do Planalto Norte-rio-grandense (STRECK, et al., 2008).
A faixa central do Estado, numa largura de, aproximadamente, 50 Km no sentido
norte-sul, estende-se a Depressão Central ou Periférica, que tem, ao norte e a oeste, as rochas
vulcânicas da Formação Serra Geral e ao sul e, a sudeste, as rochas cristalinas do Escudo Sul-
rio-grandense. Nas imediações de Manoel Viana, inflete para o sul, circundando o Escudo até
o município de Candiota (MEDEIROS, 1995).
35
Litologicamente, é constituída por sedimentos da Bacia do Paraná e de sedimentos
mais modernos. No sentido N-S, correspondente a sua largura, no terço mais próximo ao
Escudo, toda a Depressão, nessa área representada por sedimentos marinhos e lagunares,
mostra um comportamento litológico-geomorfológico muito similar. Por outro lado, nos 2/3
mais próximos ao Planalto, a Depressão mostra, a oeste de Santa Maria, um comportamento
litológico bem distinto do que a leste. No oeste, predomina uma cobertura arenítica muito
friável
, na qual são acentuados os processos de arenização (MEDEIROS, 1995).
Na parte mais próxima ao Escudo, afloram sedimentos da base da Bacia do Paraná,
representados, da parte baixa para a de cima, pelos arenitos, contendo camadas de carvão, da
Formação Rio Bonito e pelos sedimentos finos (lutitos) das formações Palermo, Irati e
Estrada Nova. Os arenitos da Formação Rio Bonito são basicamente quartzosos, com cimento
ferruginoso, às vezes, silicoso. São comuns, além das camadas de carvão, camadas pouco
espessas (aproximadamente um metro) de argila refratária (1:1) (MEDEIROS, 1995).
O relevo, embora esteja próximo ao Escudo, é formado de coxilhas não muito
convexas, o que determina amplitude moderada entre os interflúvios e os talvegues (<50
metros), facilitando a formação e permanência de solo (STRECK et al., 2008).
Nesse compartimento, os sedimentos finos das formações Palermo, Irati e Estrada
Nova são marinhos, em geral, do tipo folhelho síltico-argiloso com concreções calcárias (Irati
e Estrada Nova) (MEDEIROS, 1995). O relevo é suave, formando coxilhas amplas, pouco
convexas. Em função das características de relevo e do substrato rochoso, tendem a formar e
preservar solos não muito profundos, em geral, o horizonte superficial chernozênico,
especialmente, ebânico carbonático (STRECK et al., 2008).
Por outro lado, nos 2/3 mais próximos à escarpa da Serra Geral, predominam
sedimentos continentais arenosos, finos, quartzosos, micáceos (muscovita, localmente,
biotita), ferruginosos da Formação Rosário do Sul. Topograficamente, essa Formação também
não mostra um relevo acidentado, salvo quando processos tectônicos se fazem presentes. As
características de relevo e o substrato rochoso não contribuíram para o desenvolvimento de
bons perfis de solo, a não ser junto às drenagens (Jaguari, Cacequi, Ibicuí) (MEDEIROS,
1995).
Medeiros (1995) ainda salienta que a presença significativa de sedimentos arenosos,
pouco litificados, mais a oeste, na Depressão Periférica. Tais sedimentos estendem-se, às
vezes, de maneira descontínua, desde Santa Maria (oeste), passando por São Pedro, São
Vicente do Sul, Cacequi, São Francisco de Assis, Manuel Viana, Alegrete, Maçambará,
ocupando área significativa no Estado. São sedimentos areno- quatzosos, pouco consolidados,
36
com espessura variável (podem atingir > 20 metros), cimento ferruginoso (apresenta níveis
concrecionários), friável e extremamente susceptível a processos erosivos (vossorocamento).
Por suas características mais acentuadas de relevo e pelo substrato rochoso, os solos estão
ausentes (somente o horizonte O) ou são muito pouco desenvolvidos.
A Planície Costeira ou Litorânea está situada a sudeste do Estado, numa faixa litorânea
que se alonga no sentido N-S. É constituída pelos sedimentos, predominantemente, marinhos
e faz parte da Bacia de Pelotas.
O relevo, nessa área litorânea, é bastante plano, recebendo até hoje, por erosão e
transporte, sedimentos (matéria mineral alterada) das partes altas (Escudo e Planalto) que a
cercam pelo lado oeste. Os sedimentos que ocupam essa área são os pertencentes ao Grupo
Patos, em que se salientam as formações Graxaim, Chuí, Guaíba e Itapoá.
A Formação Graxaim pouco aparece em superfície (nas proximidades de São
Lourenço) e é constituída por areia, oriunda de rochas graníticas e unidas, mecanicamente,
numa massa pouco consolidada. A Formação Chuí tem expressão em superfície como
afloramentos esparsos, nas proximidades de Rio Grande, Chuí, Mostardas, Cidreira e Lagoa
dos Barros. São areias quatzosas, amarelo-avermelhadas, semiconsolidadas, pleistocênicas. A
Formação Guaíba e constituída por depósitos marinhos, finos (siltico-argiloso), ocorre junto
ao Estuário do Guaíba. A Formação Itapoá, com expressão na península de Itapoá, no
município de Viamão, que separa a Laguna dos Patos do Rio Guaíba, de Idade Quaternária, é
constituída por areia quartzosa, fina a média, com espessura média > 50 metros. Apresenta
um grau de laterização muito significativo (MEDEIROS, 1995).
Todos os compartimentos mostram solos distintos entre si e, também são distintos
dentro de um mesmo compartimento, o que demonstra, entre outras coisas, a heterogeneidade
do substrato rochoso e, algumas vezes, a sua pouca maturidade. Diante dessa evidência, é
importante estudar os solos e sua relação com o clima do Rio Grande do Sul.
2.2 Solo
O solo é um recurso lentamente renovável, encontrado na superfície terrestre que
resulta da alteração de rochas e sedimentos pela ação das variações climáticas (intensidade de
chuvas, variação de temperatura) e dos organismos vivos (fauna e flora), relevo (inclinação
das vertentes), ao longo do tempo (STRECK et al. 2008).
37
As rochas são uma ocorrência natural de minerais agregados que têm suas propriedades
geológicas formadas no processo de origem. Quando expostas à superfície, ficam sujeitas às
condições ambientais muito diferentes daquelas em que se encontravam no interior da Terra.
Devido a essas condições, as rochas sofrem uma série de transformações por processos
físicos, químicos e biológicos e passam a representar um corpo diferenciado e denominado de
solo.
A alteração das rochas decorre especialmente das mudanças de ambiente que se
manifestam na interface da atmosfera com a litosfera. Esse ambiente condiciona,
especialmente, a rocha e origem à pedogênese. A formação do solo, portanto, decorre do
intemperismo das rochas na superfície terrestre, provocado pela ação integrada de fatores
como clima, material de origem, organismos e tempo (JENNY, 1941).
A diferença primordial entre rocha (mesmo no estado avançado de decomposição) e
solos é que a rocha não possui vida microbiana. Os solos possuem vida. Essa vida nasce,
geralmente, com a alteração das rochas associada ao surgimento de vegetação. A pedogênese,
propriamente dita, só inicia com o aparecimento da vida dos microorganismos.
A idéia de solo como corpo natural organizado, ocupando um lugar independente na
superfície terrestre, porém dependente de fatores ambientais, deve-se, primeiramente, ao
geólogo russo Dokuchaev (1846-1903). Para Dukuchaev, solo é “um produto de origem
específica, distinto do material originário”. Esse cientista ampliou seus estudos e publicou
novo conceito, em 1883, definindo solo como “um produto de interações complexas entre
clima, plantas e animais, rochas, relevo e idade das paisagens”. Glinka (1867-1929) enfatizou
o conceito de solos como “uma crosta intemperizada que exibe feições zonais
correspondentes a zonas climáticas”. Marbut aliou trabalhos de campo a esses conceitos e
produziu um sistema pedológico de classificação de solos, em 1927. Desde então, esses
conceitos e o sistema pedológico foram adotados, ampliados e aplicados na caracterização,
classificação e mapeamento de solo até chegar ao conceito de solo proposto por Jenny (1941)
e ao de Simonsen (1959) que reconheceu a diferenciação dos horizontes do solo como o
resultado de vários processos (Fanning e Fanning, 1989).
O Soil Taxonomy (1975) define solo como uma coleção de corpos naturais na
superfície terrestre, localmente modificado ou mesmo construído pelo homem a partir de
materiais terrestres, contendo matéria viva e suportando ou sendo capaz de suportar plantas ao
ar livre (Fanning e Fanning, 1989).
O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos SiBCS (EMBRAPA, 2006) define
solo como uma coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas,
38
tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e orgânicos, que ocupam a maior
parte do manto superficial das extensões continentais do nosso planeta, contém matéria viva e
podem ser vegetados na natureza, onde ocorrem. Ocasionalmente podem ter sido modificados
por atividades antrópicas.
Azevedo e Dalmolin (2006) consideram solo como um sistema e o definem como
qualquer entidade que pode ser decomposta em partes menores, e que para existir e funcionar,
depende da organização harmônica destas partes.
Drew (1986) comenta que os solos vivem em equilíbrio dinâmico com os fatores que
determinam as suas características: o clima, os materiais de origem, a topografia, a biota e o
tempo.
A formação dos solos de uma região ou local, portanto, depende da combinação de
fatores endógenos que originam a rocha e de um conjunto de fatores exógenos desencadeados
pelo clima, relevo e pelos organismos vivos. Esses processos pedogenéticos, no decorrer do
tempo, determinam as feições do solo como cor, espessura de horizontes, quantidade de areia,
silte, argila e matéria orgânica.
O Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos - SiBCS (EMBRAPA, 2006) salienta
que é de suma importância a compreensão do processo de formação do solo, pois considera
que existe uma sucessão de fenômenos desde o início do intemperismo sobre a rocha até a
classe em que o solo se encaixa atualmente.
Bueno (1984) comenta que o clima determina o intemperismo e influencia de maneira
rigorosa a pedogênese que, em escala mundial, o mapa das zonas climáticas coincide,
aproximadamente, com o mapa de solos do mundo.
Silva et. al. (2004) mostraram que a ação do clima, na gênese dos solos, pode ser
constatada em ambientes simplicados como serras quartzíticas, sem aporte de materiais de
outras litologias, constituindo, assim, ambientes especiais para a constatação de eventos
cíclicos relacionados à dinâmica do clima.
Segundo Vieira (1975), o clima atua na pedogênese de duas formas: diretamente,
proporcionando água e calor para a realização de reações químicas nas rochas; e
indiretamente determinando a flora e a fauna local que, por sua vez, agem efetivamente no
processo evolutivo do solo. A partir disso, o clima e, conseqüentemente por influência deste,
os organismos (flora e fauna) podem ser considerados como fatores ativos, ou seja, aqueles
que fornecem energia e que promovem mudanças através dos processos. A estrutura
geológica que fornece “a massa” é o fator passivo ou fator de estado inicial. O relevo e o
tempo, que fornecem condições, podem também ser considerados como passivos. Dessa
39
forma, a litologia recebe implicações da ação integrada do clima, relevo, organismos e tempo.
O clima é condicionante dessa ação integrada e todos os demais fatores são condicionados,
conforme ilustrado na figura 1.
Figura 1 - Esquema de evolução dos solos em função dos fatores de formação.
O clima é o fator que, isoladamente, mais influencia no intemperismo (Teixeira et al.,
2003). O intemperismo físico predomina nas áreas, onde a temperatura e a precipitação
pluvial é baixa. Ao contrário, as zonas, em que predominam temperatura e precipitação
pluvial altas, favorecem o intemperismo químico (TEIXEIRA et al., 2006).
A vegetação é o reflexo zonal do clima e dos solos. Segundo Rambo (1956), o clima e
os solos agem simultaneamente na distribuição da vegetação natural sobre a superfície
terrestre: o clima determina a formação vegetal e os solos, as suas variações locais.
Existe uma intrínseca relação entre solo e clima e as condições de temperatura e de
precipitação pluvial determinam o intemperismo que, por sua vez, tem grande influência na
formação dos solos. A combinação de solo e clima origina uma grande variedade de paisagens
que contribuem para os diferentes padrões de ocupação e uso das terras (AYOADE, 1991).
Portanto, fica evidente que tanto os seres vivos, animais e vegetais quanto os elementos
naturais, como o solo e rochas, possuem uma estreita relação com as disponibilidades
climáticas da região ou local de origem.
2.3 Clima
O clima de uma região e/ou lugar pode ser definido como o conjunto dos fenômenos
meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera que predomina. É
geralmente definido como “tempo meteorológico médio” ou como a descrição estatística das
CLIMA
ORGANISMOS
MATERIAL
RELEVO
SOLO
JOVEM
SOLO
MADURO
SOLO
VELHO
TEMPO
TEMPO
TEMPO
40
condições e mudanças do tempo meteorológico num período de tempo, que vai de meses a
milhões de anos. O período de tempo clássico é de 30 anos, definido pela Organização
Mundial de Meteorologia (OMM).
Julius Hann (1908) elaborou o conceito clássico de clima, considerando-o “o conjunto
dos fenômenos meteorológicos que caracterizam a condição média da atmosfera sobre cada
lugar da Terra” (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Posteriormente, Max Sorre
(1955:13) formulou outra definição e concebe o clima como “a série dos estados atmosféricos
acima de um lugar em sua sucessão habitual”. Ayoade (1991) caracteriza-o como a síntese
do tempo num determinado lugar durante um período de 30-35 anos”.
As classificações climáticas, para a identificação e caracterização dos diferentes tipos
de climas da Terra, foram estruturadas nos elementos climáticos que constituem o clima, e
nos fatores geográficos do clima que condicionam os elementos climáticos. Os principais
elementos climáticos de uma região ou local são radiação solar, temperatura do ar, umidade
do ar, precipitação pluvial, vento, evaporação e evapotranspiração. Esses elementos, em suas
diferentes manifestações, são condicionados, espacial e temporalmente, em decorrência dos
fatores geográficos do clima como a latitude, a altitude, a maritimidade, a continentalidade, a
vegetação, os ventos dominantes, as massas de ar e as atividades humanas. No Brasil, as
classificações climáticas mais utilizadas são a de Köppen (1936) e a de Thornwhaite (1948).
Köppen (1936) e Köppen et al. (1953) considerou as médias mensais e anuais de
temperatura e a precipitação pluvial para definir os grupos e os subgrupos da classificação
climática. Relacionou os limites da classificação climática aos limites que coincidem,
aproximadamente, com os tipos de vegetação mais importantes (STRAHLER e STRAHLER,
2005). As plantas são sensíveis ao clima e se adaptam às condições de temperatura e de
precipitação pluvial. Philipps (1953) reconheceu que as diferentes classes de solos maduros,
considerados em escala global, estão fortemente controlados pelos elementos que constituem
o clima. Considerou que as plantas refletem as condições climáticas dominantes e influenciam
nas propriedades dos solos dos quais dependem e evidenciam uma forte relação com o clima e
com o solo perceptível na paisagem.
A configuração climática do Brasil, conhecida como tropical, expressa-se
especialmente na considerável luminosidade e nas elevadas temperaturas. A distribuição
espacial do território brasileiro encontra-se quase completamente dentro da faixa intertropical
da Terra, área de mais intensa radiação solar do globo, aliada a altos valores de precipitação
41
pluvial. Essas condições caracterizam o Brasil como um território em que predominam os
climas quentes e úmidos.
O sul do Brasil situa-se na faixa extratropical, na transição do clima tropical para o
temperado. Conforme a classificação climática de Köppen et al. (1953), o Rio Grande do Sul
se enquadra na zona temperada ou “C” e no tipo “Cf” ou temperado úmido. No Estado, esse
tipo "Cf" se subdivide em duas variedades específicas, ou seja, "Cfa" e “Cfb” (MORENO,
1961). A variedade "b" se restringe ao Planalto Norte-rio-grandense e ao escudo Sul-rio-
grandense, enquanto que as demais áreas pertencem à variedade "a".
Entre as regiões geográficas da Terra, bem regadas por precipitação pluvial, o sul do
Brasil é, segundo Nimer (1990), a que apresenta distribuição espacial mais uniforme. No
entanto, Moreno (1961) salienta que existe uma variação quantitativa de chuvas nas várias
regiões do Estado. A região com os menores índices de precipitação pluvial localiza-se no
litoral e no sul do Estado, na divisa com a República Oriental do Uruguai. Para Mota (1985),
as chuvas ocorrem bem distribuídas durante todos os meses do ano. A amplitude de variação
entre os meses de máxima e mínima não chega a ser significativa para caracterizar o clima
como tendo um período chuvoso e outro seco. Há, portanto, uma relativa uniformidade do
regime de precipitação pluvial do Estado que reside, principalmente, na forma pela qual as
chuvas se distribuem ao longo do ano.
A temperatura, no sul do Brasil, apesar de apresentar variações durante o ano, mantém
uma relativa semelhança que não permite a determinação de áreas intra-regionais muito
distintas como se verifica em outras regiões geográficas do Brasil. É comum associar as
regiões temperadas da Terra como aquelas que não têm calor, no entanto, na Região Sul do
Brasil, a inclinação dos raios solares, em dezembro e janeiro, é muito pequena, com
inclinação semelhante ao do Equador, decorrendo daí, ser comum a ocorrência de forte calor
durante o verão (NIMER, 1990).
A precipitação pluvial e a temperatura do ar são elementos meteorológicos que mais
afetam a evolução do perfil do solo (TEIXEIRA et al., 2003) e, também, a paisagem natural,
formada pelo relevo e vegetação (Figura 2).
42
Condições climáticas degradação
processos de gradação
Vegetação e fauna agradação
Estrutura geológica natureza das rochas
arquitetura das rochas (controle estrutural e tectônico)
Figura 2 Esquema da influência das condições climáticas na formação da paisagem
natural.
As condições climáticas influem sobre a meteorização e erosão, modificando as rochas
por reações complexas e a paisagem por construção e abrasão. O clima, também, condiciona a
cobertura vegetal e a fauna (o bioma) e, esses são importantes fatores sobre a intensidade da
meteorização e da erosão.
A estrutura geológica (natureza das rochas e arquitetura das rochas) regula a
velocidade do escoamento superficial das águas pluviais (que também depende da cobertura
vegetal) e, portanto, “controla” a quantidade de água que se infiltra.
Na desagregação da rocha, a precipitação pluvial, além de sua contribuição
preponderante no intemperismo químico, atua, também, no intemperismo físico num trabalho
mecânico de destruição das rochas. A temperatura é outro fator climático de elevada
importância na formação dos solos. Atua comumente com a água na velocidade e intensidade
das reações químicas e na vida microbiana nos solos. Assim, a quantidade de água disponível
no perfil de alteração, fornecida pela precipitação pluvial, bem como a temperatura agem para
acelerar ou retardar as reações do intemperismo.
Portanto, é importante verificar o tipo e a eficácia do intemperismo em função das
disponibilidades climáticas e sua influência na formação dos solos.
2.4 Intemperismo
Entende-se por intemperismo o conjunto de processos químicos, físicos e biológicos
que provocam a alteração in situ das rochas (GUERRA, 1989). Os materiais originados a
43
partir do intemperismo das rochas são variáveis e o processo de alteração inicia-se na
superfície em direção ao interior da litosfera. Conseqüentemente, num mesmo local, existem
materiais em níveis de alteração bem distintos, o que confere ao conjunto, tanto do perfil
quanto da área, um aspecto diferenciado em diferentes estágios de alteração. Na superfície, há
um material em estado avançado de desagregação e decomposição, diferentemente do
material mais profundo no perfil, onde se encontra uma mistura de material não alterado com
material alterado.
O conjunto do material alterado, independentemente de seu estado, é denominado de
regolito ou manto de decomposição. O material superficial do perfil, geralmente, em estado
mais avançado de alteração e lixiviação, associado à matéria orgânica, é chamado de solo
(CHRISTOFOLETTI, 1974; GUERRA, 1989).
Press et al. (2006) consideram que o intemperismo é dependente do clima. Tanto o
regolito quanto o solo serão, continuamente, produto da interação do clima com as rochas.
Uma mesma rocha, em climas diferentes, produzirá solos distintos.
O ambiente em que a maioria das rochas se originam é muito diferente do ambiente na
superfície da crosta terrestre. As rochas são, geralmente, formadas em ambientes com
temperatura e pressão elevadas e constantes, em ausência de luz, organismos, ventos e água
(TEIXEIRA et al., 2006). Essas rochas, quando expostas na superfície da crosta terrestre,
encontram condições bem diferentes: temperaturas menores e com variação ao longo do dia e
noite e das estações do ano, presença de organismos e, especialmente, presença de umidade.
Essas condições induzem à desagregação e desestruturação das rochas, é o denominado
intemperismo, que pode ser: químico, físico e biológico (PRESS et al., 2006). Na prática, essa
divisão é problemática, porque os três ocorrem juntos, apesar de, muitas vezes, tanto o
químico como o físico predominarem um sobre o outro, dependendo do clima (das condições
de temperatura e de precipitação pluvial) (BIGARELA, 1994).
O intemperismo físico é composto pelos processos que levam à fragmentação da
rocha, sem modificação significativa em sua estrutura química ou mineralógica. Essas
alterações ocorrem em conseqüência de vários processos como: variação de temperatura,
existência de raízes, congelamento da água, precipitação de sais (PRIMAVESI, 2002).
Com a variação de temperatura, as rochas, compostas por diversos minerais, dilatam-
se e se contraem de maneira diferente, pois os diversos minerais que compõem a rocha
também se dilatam se contraem em direções e com intensidades diferentes. Esse fenômeno
cria tensões no corpo da rocha, levando à fadiga do material e seu fraturamento (LEINZ et al.,
44
1985). Nas rochas máficas (de coloração escura, como o basalto), esse processo é ainda mais
intenso devido à maior absorção de calor (VIEIRA, 1975).
A existência de raízes e o seu crescimento e desenvolvimento pode exercer grandes
pressões nas rochas, desencadear fendas e fissuras e, portanto, aumentar a superfície exposta
ao ar e à água, facilitando o intemperismo químico (TEIXEIRA et al., 2006).
O congelamento da água, apesar de não ser comum no clima atual do Brasil, a
formação de gelo na água acumulada em fendas, nas rochas, aumentam de volume e exercem
pressão nas paredes, causando esforços que terminam por aumentar a rede de fraturas e
fragmentar a rocha (BIGARELA, 1994; TEIXEIRA et al., 2006).
A precipitação de sais é conseqüência do acúmulo de porções de água ricas em sais
que se acondicionam em frestas e fendas na rocha e podem ocasionar o fraturamento, quando
a água evapora e os sais iniciam o processo de cristalização. O intemperismo químico é
o conjunto de reações que levam à modificação da estrutura dos minerais que compõem a
rocha. Na natureza, é praticamente impossível separar o intemperismo físico do intemperismo
químico, uma vez que ocorrem simultaneamente (BIGARELA, 1994). O intemperismo
químico, entretanto, torna-se mais acelerado, à medida que o intemperismo físico avança,
devido ao aumento de Área Superficial Específica (ASE) dos minerais. O aumento de ASE é
a maior contribuição do intemperismo físico para o avanço do intemperismo químico e a
pedogênese. Portanto, a fragmentação da rocha é acompanhada por um aumento significativo
da superfície exposta à ação dos agentes intempéricos químicos: hidratação, dissolução,
hidrólise e oxidação.
Em vista do exposto, fica evidenciado que o intemperismo desencadeado,
especialmente, pela precipitação pluvial e pela temperatura, é responsável pela reação que
ocorre na rocha e inicia o processo de desintegração da mesma. Conhecer o tipo e a
intensidade do intemperismo de uma área ou região, em função dos índices de precipitação
pluvial e da temperatura, é importante para determinar os solos que podem ser formados a
partir da influência do clima. Modelos de intemperismo podem ser utilizados em conjunto
com outros modelos, como por exemplo, modelos edafoclimáticos.
2.5 Modelos
Modelos são representações de um sistema em determinada forma de linguagem, não
necessariamente a linguagem matemática. A escolha da forma de descrição mais fidedigna à
45
representação pretendida no sistema está relacionada, diretamente, aos objetivos envolvidos
no estudo (Pessoa, at. al. 1997).
O sistema é estudado sob determinado objetivo e tudo o que não afeta esse objetivo é
eliminado. As simplificações que decorrem dessa interdependência estrutural foram
denominadas de modelos. Assim, modelo é uma estruturação simplificada da realidade. Os
modelos, porém, são apenas esquemas representativos da realidade e aproximações altamente
subjetivas. Por isso, são analogias e não a realidade em si (CHORLEY E HAGGET, 1974).
Nesse sentido, Chorley e Hagget (1975) apresentam uma definição bastante adequada,
assinalando que modelo é uma estruturação simplificada da realidade que supostamente
apresenta, de forma generalizada, características ou relações importantes.
Berry (1995) considera que o modelo é uma representação da realidade sob uma forma
material (representação tangível) ou forma simbólica (representação abstrata). Contempla,
ainda, que a modelagem, no campo dos sistemas de informação geográfica, envolve
representação simbólica das propriedades locacionais (onde), assim como dos atributos
temáticos (o que) e temporais (quando), descrevendo condições do espaço e tempo.
Os modelos alcançaram importância em todos os campos científicos por constituírem
mediação entre a técnica, a observação e a teoria. Preocupam-se com os princípios da
redução, da conexão, da experimentação, da globalização, da explicação e da correlação
(CHRISTOFOLETTI, 1974).
A modelagem e a simulação têm valor heurístico, ajudando o pesquisador a formular
hipóteses sobre processos e interações relevantes, a quantificar a influência de variáveis
simples sobre o desempenho do sistema e sugerir novas necessidades de experimentação
(WULLSCHLEGER at. al, 1994).
Os modelos que integram diferentes variáveis desenvolveram-se em função da
necessidade de se manter a coerência avaliativa das condições climáticas nas relações entre os
aspectos sociais, políticos e econômicos e entre os aspectos físicos e biológicos (Rotmans at.
al (1994) citado por CHRISTOFOLETTI, 1999).
A construção dos modelos integrados de avaliação depende dos objetivos do estudo.
Podem ser escalonadas poucas equações, representando respostas simples para a relação
existente entre solo e clima. Ou podem ser considerados conjuntos muito complexos de
equações, procurando captar todos os processos (humanos e físicos) relacionados ao clima.
No primeiro caso, o input do modelo pode ser a temperatura média anual, acompanhando a
espacialização dos tipos de solos.
46
Burgos (1969, 1970) realizou diversos estudos por meio da utilização de modelos
integrados. Nesses estudos, contemplou, também, uma análise para a relação entre os tipos de
solos existentes na Província de Buenos Aires e Região Nordeste da Argentina e as condições
climáticas. Utilizou os modelos edafoclimáticos de Lang (1915), Prescott (1931),
Thornthwaite (1948), Aubert & Henin (1945), Thornthwaite & Hare (1955) e Budyko (1956).
Os resultados obtidos foram contraditórios, mas o autor recomendou que o uso desses
modelos auxiliariam a interpretar a evolução e a dinâmica dos tipos de solos aí existentes.
Teixeira et al. (2003) utilizaram modelos de intemperismo para evidenciar os tipos de
intemperismo existentes em diversas regiões da América. Concluiu que o papel do clima é
preponderante na determinação do tipo e eficácia do intemperismo.
Suguio (2003) mostrou o efeito combinado da precipitação pluvial, temperatura e
vegetação sobre o desenvolvimento do perfil de alteração.
Disso conclui-se que riqueza de proposições a partir do uso de modelos, pois as
proposições, de modo prático, se orientam para objetivos específicos, temáticos ou de uso de
técnicas, e empregam critérios satisfatórios à solução da hipótese enunciada. Por essa razão, é
importante testar a aplicabilidade de modelos de intemperismo e edafoclimáticos em função
do solo e do clima do Rio Grande do Sul. No Estado, a formação dos solos e sua relação com
as condições climáticas ainda é pouco estudada por meio da aplicação de modelos.
2.6 Correlação das classificações de solos
Os modelos edafoclimáticos, mundialmente utilizados, como de Lang (1915), de
Budyko (1956), Thornthwaite (1931), Thornthwaite & Hare (1955), Aubert y Henin (1945),
Prescott (1931) e Kohnke at. al. (1968) são embasados nos grandes grupos de solos do
mundo, definidos por Marbut (1935) (Quadro 1), de Baldwin (1938) e modificado por Thorp
& Smith (1949) (Quadro 2). Contudo, pelas constantes atualizações que permitem sempre o
aperfeiçoamento das classificações de solos, é necessário fazer uma correlação entre o
Sistema de Classificação de Marbut (1935), de Baldwin (1938) e modificado por Thorp &
Smith (1949), da Soil Taxonomy, e do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos SiBCS
(EMBRAPA, 1999; EMBRAPA, 2006).
47
Ordem Zonal Grandes grupos de solos
Solos claros podzolizados
de regiões com bosques
Podzólicos
Podzólicos pardos
Podzólicos cinza-pardo
Podzólico vermelho-amarelo
Solos lateríticos de regiões cálidas,
subtropicais úmidas, tropicais e
equatoriais
Latossolos:
Lateríticos marrom-vermelho
Tropicais negros e cinza-escuros
Solos de bosques e praderas de transição
Solos escuros de praderas semiáridas,
subúmidas e úmidas
Chernozem degradado
Pradera (Bruniziem)
Vermelhos de pradera
Chernozem
Castanhos
Castanhos vermelhos e pardo-vermelho
Solos de regiões áridas Pardos
Desérticos cinza (sierozem)
Desérticos vermelhos
Tundra
Bosques árticos pardos
Ordem Intrazonal Grandes grupos de solos
Solos hidromórficos, pântanos, altiplanos
Solos halomorfos de regiões áridas, pouca
drenagem, depósitos costeiros
Solos calcimorfos
Pantanosos
Prados
Prados alpinos
Planossolos
Salinos (solonchak)
Alcalinos (solonetz)
Rendzinas
Ordem Azonal Grandes grupos de solos
Litossolos
Regossolos
Aluviais
Areias
Fonte: Strahler e Strahler, 2005.
Quadro 1 – Sistema de Classificação de Solos de Marbut (1935).
48
Ordem Subordem Grandes grupos Subordem Grandes grupos
Solos zonais
1. Solos da zona fria
2. Solos claros de
regiões áridas
3. Solos escuros de
campos úmidos, sub-
úmidos e semiárido
Solos de tundra
Solos desérticos
Solos desérticos
vermelhos
Sierozem
Solos brunos
Solos bruno-
avermelhados
Chestrut
Chestrut
avermelhado
Chernozem
Prairie
Prairie
avermelhado
4. Solos de transição
campo floresta
5. Solos podzolizados
6. Solos lateríticos de
florestas temperadas e
regiões tropicais
Chernozem
degradado
Podzol
Podzólico bruno
Podzólico bruno-
acinzentado
Podzólico vermelho-
amarelo
Laterítico bruno-
avermelhado
Laterítico bruno-
amarelado
Lateríticos
Solos
intrazonais
1.
Solos halomórficos de
regiões áridas e
litorâneas
2. Solos calcimórficos
Solonchak
Solonetz
Soloth
Solos bruno de
florestas
Rendzina
3. Solos hidromórficos Glei húmico
Glei pouco húmico
Planossolo
Podzol hidromórfico
Laterita
Hidromórfica
Solos “bog” e “Half-
bog”
Solos alpinos
Solos azonais Litossolos
Regossolos
Solos aluviais
Fonte: SMITH, 1983.
Quadro 2 – Sistema de Classificação de Solos de Marbut (1935), de Baldwin (1938) e
modificado por Thorp & Smith (1949).
A atual classificação pedológica do Brasil consiste na evolução do antigo sistema
americano, formulado por Baldwin et al. (1938), modificada por Thorp e Smith (1949). Os
conceitos e as denominações centrais deste antigo sistema americano evoluíram e originaram
a Soil Taxonomy e formam a base da atual classificação brasileira, cuja esquematização atual
deriva de modificações de critérios, alteração de conceitos, criação de novas classes,
desmembramento de algumas classes originais e formalização de reconhecimento de
subclasses, conforme Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos - SiBCS (EMBRAPA,
2006) (Quadro 3).
49
SIBCS (BRASIL, 1973), EMBRAPA, (1999)
SIBCS
(EMBRAPA, 2006)
Soil Taxonomy
Podzólico Vermelho-Amarelo, Podzólico Amarelo,
Podzólico Vermelho-Escuro, Terras Roxas e Brunas
Estruturadas.
Argissolos
Ultisols, Oxisols
Cambissolos e solos aluviais. Cambissolos Inceptisols
Brunizém Avermelhado e Rendzinas. Chernossolos Molisols
Podzol e Podzol Hidromórfico. Espodossolos Spodosols
Glei e Solonchak Gleissolos Entisols
Latossolos Latossolos Oxisols
Podzólico Vermelho-Amarelo, Podzólico
Vermelho-Escuro, Solos Brunos Não Cálcicos e
Podzólicos Bruno-Acinzentados.
Luvissolos Alfisols, Aridisols
Litólicos, Regossolos, Aluviais e Areias Quartzosas. Neossolos Entisols
Terra Roxa, Terra Bruna e Podzólico Vermelho-
Escuro.
Nitossolos Ultisols, Oxisols,
Alfisols
Orgânico, Semiorgânico e Litólicos Turfosos. Organossolos Histosols
Planossolos, Solonetz Solodizados e
Hirdromórficos.
Planossolos Alfisols
Plintossolos, Lateritas Hidromórficas. Plintossolos Oxisols, Ultisols,
Alfisols, Entisols,
Inceptosols
Vertissolos e Vertissolos Hidromórficos. Vertissolos Vertisols
Fonte: STRAHLER, 2005; EMBRAPA, 2006 (adaptado).
Quadro 3 Correlação entre as classes de solos SiBCS (BRASIL, 1973 EMBRAPA, 1999),
SiBCS (EMBRAPA, 2006) E Soil Taxonnomy, em Alto Nível
As principais classes de solos identificadas no Rio Grande do Sul levam em
consideração os perfis de solos descritos, especialmente, no Levantamento de
Reconhecimento dos Solos do Estado do Rio Grande do Sul (BRASIL, 1973) e no Sistema
Brasileiro de Classificação dos Solos (EMBRAPA, 1999; EMBRAPA, 2006).
Streck et al. (2008) definem doze classes de solos para o Rio Grande do Sul:
Argissolo, Cambissolo, Chernossolo, Espodossolo, Gleissolo, Latossolo, Luvissolo, Neossolo,
Nitossolo, Organossolo, Planossolo, Plintossolo e Vertissolo.
O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos SiBCS é um sistema dinâmico que
permite seu constante aperfeiçoamento e atualização que provêm de estudos com informações
detalhadas da distribuição dos diferentes solos. Streck et al. (2008) comenta que os
inventários detalhados de solos ainda são raros na maior parte do Rio Grande do Sul.
Existe, também, falta de estudos sobre a relação do solo e clima. Nesse sentido, a
utilização de modelos que relacionam os solos com as disponibilidades climáticas são
ferramentas úteis e apropriadas, em primeira instância, para avaliar o intemperimo e a
influência do clima na formação do solo. Assim, esta tese está dividida em três capítulos,
cujos objetivos foram:
50
- determinar a influência das disponibilidades climáticas na variação do tipo de intemperismo
no Rio Grande do Sul;
- estudar a relação dos solos do Rio Grande do Sul com as disponibilidades climáticas
regionais por meio de modelos edafoclimáticos;
- relacionar os tipos de solos do Rio Grande do Sul com principais grupos de solo,
Pedalférrico e Laterítico, considerando as disponibilidades climáticas atuais.
51
CAPÍTULO I
CLIMA E INTEMPERISMO NA FORMAÇÃO DOS SOLOS
DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
INTRODUÇÃO
A formação dos diferentes tipos de solos está diretamente relacionada ao
intemperismo das rochas da superfície terrestre, provocado pela ação integrada de fatores,
como clima, material de origem, relevo, organismos e tempo (Jenny, 1941). Dentre esses, o
clima é aquele que, isoladamente, mais influencia no intemperismo (Teixeira et al., 2003).
Os dois elementos climáticos mais importantes no intemperismo, precipitação pluvial
e temperatura, determinam a natureza e a velocidade das reações químicas nas rochas e
definem a formação dos solos. No processo de pedogênese, a desagregação das rochas é
função, basicamente, da temperatura e a sua decomposição (ou alteração) é decorrente,
principalmente, do conteúdo de água e, portanto, da precipitação pluvial. Ao mesmo tempo, o
desenvolvimento de microorganismos e da vegetação, importantes para a evolução dos solos,
está diretamente relacionado a esses elementos climáticos (Jenny, 1941).
A ação dos elementos climáticos no ambiente natural pode física, química e biológica.
O processo físico predomina nas áreas onde a precipitação pluvial é baixa e as temperaturas
podendo ser altas ou baixas ou, ainda, com elevadas amplitudes térmicas. A deficiência
hídrica e as temperaturas extremas provocam a abertura de fissuras no solo, facilitando a
desagregação. No processo químico, prevalece, igualmente, a ação da temperatura e da
umidade no solo. Nas regiões mais úmidas, a água que se infiltra leva para as camadas
inferiores elementos químicos solúveis, provocando a lixiviação da superfície e a acumulação
desses em profundidade. O processo biológico é facilitado pela atuação da precipitação
pluvial e da temperatura que auxiliam na decomposição da matéria orgânica e no
desenvolvimento de microorganismos (Burgos, 1969, 1970; Murck et al., 1996). Nesse
52
contexto, a gênese dos diferentes tipos de solos na superfície terrestre é influenciada,
principalmente, pelas disponibilidades climáticas (temperatura e precipitação pluvial).
Nos processos de alteração da superfície terrestre, em função dos fatores climáticos,
distinguem-se, basicamente, dois grandes domínios edafoclimáticos: regiões sem e com
alteração química. As regiões sem alteração química (deve-se considerar que sempre
alguma alteração, porém, é mínima), que correspondem a, aproximadamente, 14% da
superfície continental, são aquelas caracterizadas por uma acentuada carência de água no
estado líquido. Aquelas com alteração química, que abrangem o resto do globo. Distinguem-
se, ao mesmo tempo, por uma freqüência de água no solo e pela existência de cobertura
vegetal mais ou menos desenvolvida. Este último caso constitui-se um domínio
edafoclimático heterogêneo, subdividido em quatro zonas latitudinais de distribuição, em
função das características climáticas: zona de acidólise, zona de alitização, zona de
monossialitização e zona de bissialitização (Skinner & Porter, 1995).
A zona de acidólise corresponde, aproximadamente, a 16% da superfície continental
da Terra e localiza-se na região circumpolar do hemisfério norte. Esse tipo de intemperismo é
mais comum em regiões de clima frio onde a decomposição da matéria orgânica não é
completa, levando à formação de ácidos orgânicos e turfas. Os solos resultantes são
Argissolos (antigos podzólicos), ricos em quartzo e em matéria orgânica (Skinner & Porter,
1995). No Brasil, a acidólise não é um fenômeno comum na formação de solo, porém no Rio
Grande do Sul os Argissolos ocorrem, predominantemente, na Depressão Central e, de forma
esparsa, em outras regiões.
A zona de alitização ou ferralitização abrange em torno de 13% da superfície
continental do planeta e corresponde às regiões de domínio tropical, próximas ao Equador,
caracterizadas por precipitação pluvial elevada e vegetação densa (Skinner & Porter, 1995).
Nesses ambientes, a dessilicação e lixiviação são intensas, ou atuaram durante um longo
tempo sem que houvesse um rejuvenescimento do solo pelo aporte de material. Predomina o
intemperismo químico através de hidrólise total e formação de óxidos e hidróxidos de
alumínio., especialmente, os argilominerais como a Gibbsita (óxido de Alumínio) e Hematita
e Goethita (óxidos de Ferro) (Loughnan, 1969). É típico no Brasil Central, originando
Latossolos gibbsíticos (Thomas, 1994; Bigarella, 1994).
A zona de monossialitização compreende 18% da superfície continental da Terra e
está contida no domínio tropical típico, em áreas de latitudes médias do Hemisfério Sul e
Norte (Skinner & Porter, 1995). A monossialitização ocorre no caso de hidrólise parcial em
que são originados argilominerais do tipo caulinita, em que a relação de átomos Si:Al é 1:1
53
(um átomo de silício para um de alumínio na molécula). Nessas condições, predominam os
solos das zonas temperadas quentes com tendência à formação de perfis de solos profundos
como os Latossolos, Nitossolos e os Chernossolos (Loughnan, 1969; Bigarella, 1994). É a
que ocorre em grande parte do Rio Grande do Sul e influencia, preferencialmente, na
formação dos solos do Estado com aptidão para agricultura.
A zona de bissialitização corresponde a, aproximadamente, 39% da superfície
continental do globo e localiza-se nas zonas temperadas e áridas (Skinner & Porter, 1995).
Nesses ambientes, pode ocorrer a hidrólise parcial, em que são formados argilominerais do
tipo esmectita, em que a relação Si:Al é 2:1 (dois átomos de silício para um de alumínio na
molécula). Típica de ambientes com drenagem lenta, impedida e freqüente em regiões semi-
áridas (Skinner & Porter, 1995). Nesses ambientes, formam-se os solos das zonas temperadas
médias (Bigarella, 1994). No Rio Grande do Sul, ocorre na Região da Campanha Gaúcha,
originando os Vertissolos, em relevo de coxilhas suavemente onduladas (Streck et al., 2008).
Uma das maneiras de sintetizar a influência e a interdependência entre os solos e os
elementos do clima m sido a utilização de modelos de intemperismo e modelos
edafoclimáticos. Na determinação do tipo e eficácia do intemperismo, os modelos
apresentados por Suguio (2003) e Teixeira et al. (2003). Entre os modelos edafoclimáticos,
mundialmente utilizados, está o de Géze (1959). Possivelmente, esse modelo, é o que possui
características geográficas apropriadas para demonstrar a relação existente entre a formação
dos solos e as faixas climáticas, dispostas pela influência da precipitação pluvial e da
temperatura do ar.
Strahler & Strahler (2005) apresentam um esquema (modelo teórico) das classes de
solo de vel categórico (ordens) e as principais subordens da Soil Taxonnomy (United
States Deparment of Agriculture, 1998), distribuídas em um continente (teórico), segundo as
zonas climáticas. Cada subordem indica uma relação entre clima e latitude, acentuando a
interdependência entre clima e a formação do solo.
Bueno (1984) enfatiza que o clima influencia de tal modo à evolução dos solos que,
em escala mundial, a carta das zonas climáticas coincide, aproximadamente, com a da
repartição dos solos. Em nível de detalhe, entretanto, são encontradas modificações locais,
conseqüência da maior ou menor continentalidade, da topografia e da cobertura vegetal. Ao
utilizar o modelo de Géze (1959), concluiu que nos climas caracterizados por fraca
precipitação pluvial, a formação e a evolução dos solos são semelhantes às de regiões
desérticas e/ou subdesérticas, independentemente da temperatura.
54
No Rio Grande do Sul, as chuvas são freqüentes e bem distribuídas e a amplitude
térmica anual favorece o intemperismo químico e a formação de solos com maior proporção
de minerais secundários (fração argila). Nessas condições, originam-se argilominerais do tipo
caulinita, em que a relação de átomos Si:Al é 1:1 (um átomo de silício para um de alumínio na
molécula). No entanto, há, no Estado do Rio Grande do Sul, doze classes de solos
identificadas e mapeadas, distribuídos de forma bastante heterogênea e com alternância,
incluindo também solos rasos e pouco desenvolvidos (Brasil, 1973; Embrapa, 2006; Streck
et al., 2008).
Essas evidências levam a induzir que as condições climáticas atuais no Estado têm
grande influência na formação dos solos, apesar de, por si só, não explicarem a variedade e a
alternância dos tipos de solos existentes. Dessa forma, é relevante relacioná-los às
disponibilidades climáticas, tanto por meio de modelos de intemperismo como também de
edafoclimáticos. Possivelmente, os únicos trabalhos realizados para a parte meridional da
América do Sul, relacionando solos às disponibilidades climáticas, são aqueles de Burgos
(1969, 1970). A representação cartográfica também é um instrumento bastante útil para
relacionar os diferentes tipos de solos às zonas climáticas. Por exemplo, os solos de altas
latitudes são jovens, formados por material fracamente intemperizado. Para o continente
americano, foi essencial a cartografia do solo traçada com base na classificação da Soil
Taxonomy, pois permitiu estabelecer correlação entre solos e clima de outras regiões do
globo. Nesse mapa, em escala pequena, fica evidente que a distribuição dos solos é zonal em
função da latitude, sendo relacionada, portanto, às condições climáticas.
O objetivo neste estudo foi determinar a influência das disponibilidades climáticas na
variação do tipo de intemperismo que atua na formação dos solos no Rio Grande do Sul-
Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
A relação das disponibilidades climáticas e tipo de intemperismo existentes na
formação dos solos no Rio Grande do Sul foi realizada por meio dos modelos de
intemperismo contidos em Teixeira et al. (2003) e Suguio (2003) e do modelo edafoclimático
de Géze (1959). Este último foi escolhido dentre os diferentes modelos edafoclimáticos por
55
levar em conta características geográficas ao relacionar a formação dos solos às faixas
climáticas dispostas pela influência da precipitação pluvial e a temperatura.
No modelo apresentado em Teixeira et al. (2003), são expressas, graficamente, a
temperatura média anual no eixo das ordenadas e a precipitação pluvial média anual no eixo
das abscissas. O gráfico é dividido em zonas de intemperismo físico (forte, moderado e leve),
químico (forte, moderado e moderado com ação do congelamento) e físico e químico muito
leves.
No modelo apresentado em Suguio (2003), considera-se que a intensidade do
intemperismo pode relacionar-se à temperatura, precipitação pluvial e vegetação. Os valores
de precipitação pluvial e de temperatura são expressos, graficamente, segundo as coordenadas
geográficas.
No modelo de Géze (1959), a variável temperatura média anual condiciona a
repartição dos tipos de solos, segundo a latitude, dos Pólos ao Equador; e a variável,
precipitação pluvial média anual, está disposta em faixas concêntricas, em torno das regiões
desérticas. As regiões desérticas foram determinadas pelo índice de aridez de Martonne
(1926): I
M
= P/T + 10, em que I
M
é o Índice de aridez de Martonne, P é a precipitação
pluvial média anual e T a temperatura média anual.
Foram utilizadas as médias anuais de temperatura do ar e as médias dos totais anuais
de precipitação pluvial de 41 estações meteorológicas pertencentes ao Distrito de
Meteorologia (8º DISME), período 1931-1960, relacionadas no quadro 1.
56
MUNICÍPIOS ALTITUDE (m) LATITUDE SUL LONGITUDE OESTE
T (°C) P (mm)
Alegrete 116 29º46’47 55º47’15” 18.6 1574
Bagé 216 31°20’13” 54°06’21 17.9 1264
Bento Gonçalves 619 29º10’00 51º25’00” 16.8 1599
Bom Jesus 1047 28°40'10'' 50°26'25'' 14.4 1545
Caçapava do Sul 450 30º30’32 53º29’22” 16.8 1588
Cachoeira do Sul 68 30°02’45 52°53’39 18.8 1438
Caxias do Sul 740 29º10’25” 51º12’21” 15.9 1663
Cruz Alta 473 28º38’21 53º36’34” 18.4 1729
Dom Pedrito 140 30º58’57 54º39’56” 18.2 1359
Encruzilhada do Sul 420 30º32’35” 52º31’20” 16.5 1504
Guaporé 450 28º55’44 51º54’45” 16.9 1686
Iraí 227 27º11’45 53º14’01” 18.8 1787
Itaqui 53 29º07’10” 56º32’52 20.0 1453
Jaguarão 11 32º33’32” 53º23’20” 17.2 1337
Julio de Castilhos 516 29º13’26 53º40’45” 18.0 1575
Lagoa Vermelha 805 28º25’35 51º35’51” 16.7 1735
Marcelino Ramos 383 27º27’40 51º54’22” 18.8 1652
Palmeira das Missões 634 27º53’55 53º26’45” 18.1 1919
Passo Fundo 678 28º15’39 52º24’33” 17.5 1664
Pelotas 7 31º45’00” 52º21’00” 17.5 1405
Piratini 345 31º26’54 53º06’09” 16.2 1426
Porto Alegre 10 30º01’53” 51º01’53” 19.5 1309
Rio Grande 8 32º01’44” 52º05’40” 18.1 1162
Santa Cruz do Sul 56 29º43’05” 52º25’45” 19.3 1547
Santa Maria 138 29º41’25 53º48’42” 19.2 1708
Santana do Livramento 210 30º53’18 55º31’56” 17.8 1388
Santa Rosa 360 27º51’50 54º25’59” 19.6 1663
Santa Vitória do Palmar 6 33º31’14” 53º21’47” 16.6 1235
Santiago 426 29º11’00” 54º53’10” 17.9 1534
Santo Ângelo 289 28º18’14 54º15’52” 19.6 1713
São Borja 96 28º39’44” 56º00’15” 20.1 1523
São Francisco de Paula 912 29º20’00 50º31’21” 14.4 2162
São Gabriel 124 30º20’27 54º19’01” 18.5 1355
Soledade 720 29º03’14 52º26’00” 16.9 1986
São Luiz Gonzaga 254 28º23’53” 54º58’18” 19.7 1662
Tapes 5 30º50’00” 51º35’00” 18.8 1213
Taquara 29 29º45’00” 50º45’00” 19.4 1459
Taquari 76 29º48’15” 51º49’30” 19.1 1424
Torres 43 29º20’34” 49º43’39” 18.3 1409
Uruguaiana 69 29º45’23” 57º05’12” 19.7 1346
Vacaria 955 28º33’00 50º42’21” 15.2 1412
Fonte: Instituto de Pesquisas Agronômicas (1989).
Quadro 1 Coordenadas geográficas e médias anuais da temperatura do ar (T) e médias dos
totais anuais de precipitação pluvial (P) das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande
do Sul, pertencentes ao 8° DISME, utilizadas no estudo, período 1931-1960.
57
Os dados foram digitados e organizados nas planilhas do programa Microsoft
Windows Excel 2003 e exportados para o programa Corel Draw 13, para representação e
adaptação, em escala equivalente, nos modelos de intemperismo (Suguio, 2003; Teixeira et
al., 2003). As 41 estações meteorológicas foram, ainda, georreferenciadas e representadas no
mapa do Rio Grande do Sul, adaptado de Moreira (2003), com a utilização do Sistema de
Processamento de Informações Georreferenciadas do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais - INPE (2007). A distribuição geográfica das médias dos totais anuais de
precipitação pluvial e das médias anuais de temperatura do ar, entre 1931 e 1960, foram
representadas com base nos valores do quadro 1, no programa Spring versão 4.2.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na figura 1 estão plotados os dados climáticos das 41 estações meteorológicas (quadro 1) no
modelo gráfico contido em Teixeira et al. (2003). Observa-se que, no Estado, as condições
climáticas são de intemperismo químico forte e moderado. Os dados de 22 estações
meteorológicas (Alegrete, Bento Gonçalves, Bom Jesus, Caçapava do Sul, Caxias do Sul,
Cruz Alta, Guaporé, Irai, Júlio de Castilhos, Lagoa Vermelha, Marcelino Ramos, Palmeira
das Missões, Passo Fundo, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, Santiago, Santo
Ângelo, São Borja, São Francisco de Paula, São Luiz Gonzaga e Soledade) enquadram-se no
modelo, nas condições de intemperismo químico forte e 19 estações meteorológicas (Bagé,
Cachoeira do Sul, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Itaqui, Jaguarão, Pelotas, Piratini, Porto
Alegre, Santana do Livramento, Santa Vitória do Palmar, São Gabriel, Tapes, Taquara,
Taquari, Torres, Uruguaiana e Vacaria), enquadram-se no intemperismo químico moderado.
58
a) b)
Figura 1 Enquadramento das médias anuais de temperatura do ar e das médias dos totais
anuais de precipitação pluvial das 41 estações meteorológicas do Estado, utilizadas
no modelo de intemperismo apresentado em Teixeira et al., (2003) (a) e sua
representação geográfica (b).
As maiores variações entre as diferentes estações meteorológicas ocorrem com as
médias dos totais anuais de precipitação pluvial. Dessa forma, esse elemento climático é
aquele que mais influencia na intensidade do intemperismo no Estado, conforme pode ser
observado na distribuição geográfica das médias dos totais mensais de precipitação pluvial
(figura 1b). As 22 estações meteorológicas que atestam intemperismo forte estão localizadas
ao norte do Estado, onde ocorrem os valores mais elevados de precipitação pluvial. Isso está
de acordo com Skinner & Porter (1995) quando afirmam que a intensidade do intemperismo
químico está associada aos valores e freqüência da precipitação pluvial: quanto maior a
disponibilidade hídrica (média dos totais) e mais freqüente for sua renovação (distribuição dos
totais), mais intensas serão as reações químicas do intemperismo.
A maior influência da precipitação pluvial no intemperismo na formação dos solos no
Estado pode ser observado, confrontando-se os dados da distribuição geográfica das médias
dos totais anuais de precipitação pluvial (figura 2a), com aqueles das médias anuais da
temperatura do ar (figura 2b). Em estações meteorológicas com elevados valores de
precipitação pluvial, o intemperismo na formação dos solos é forte, independentemente dos
valores das temperaturas. Isso pode ser comprovado no caso do intemperismo forte pelos
dados das estações meteorológicas de São Francisco de Paula e Palmeira das Missões. No
primeiro local, valores elevados de precipitação e baixa temperatura e, no segundo, os
59
valores tanto de temperatura como de precipitação pluvial são elevados. No caso de
intemperismo químico moderado, podem-se comparar os locais de Uruguaiana e Rio Grande,
onde, respectivamente, valores baixos de precipitação pluvial, elevados de temperatura e
valores baixos tanto de precipitação pluvial quanto de temperatura.
a) b)
Figura 2 Distribuição geográfica das médias dos totais anuais de precipitação pluvial (a) e
das médias anuais de temperatura do ar (b), entre 1931 e 1960, com base nos
valores do quadro 1.
Com exceção de Caçapava do Sul, as estações meteorológicas enquadradas no modelo
como de intemperismo forte localizam-se na metade norte do Estado, que é onde mais chove
no Rio Grande do Sul. Em Caçapava do Sul, a única estação meteorológica da metade sul do
Estado em que se observa a ocorrência de intemperismo químico forte, pois a precipitação
pluvial é mais elevada do que nas outras estações meteorológicas da mesma região, em função
da altitude.
Outra exceção é em Vacaria no nordeste do Estado onde constatou-se menor
precipitação pluvial do que nas demais estações meteorológicas localizadas no Planalto Norte-
rio-grandenese. Portanto, tanto na metade norte como na metade sul do Estado ocorrem
exceções: no nordeste do Planalto Norte-rio-grandense, na estação meteorológica de Vacaria,
a média dos totais anuais de precipitação pluvial é de 1412 mm e, na Serra do Sudeste, na
estação de Caçapava do Sul, de 1588 mm, respectivamente abaixo e acima de 1500 mm,
limite entre condições de intemperismo forte e moderado. No caso de Vacaria e região, a
menor precipitação pluvial, em relação às estações meteorológicas próximas, deve-se a uma
conjugação entre fatores orográficos e direção dos ventos locais. Nessa região do Planalto,
diminui o efeito convectivo do rebordo da Serra Geral nas massas de ar originárias do sul do
a)
60
continente americano. Os ventos, em sua trajetória, alcançam o topo do Planalto com menor
temperatura e umidade e, portanto, propiciam precipitações pluviais menos intensas e mais
esparsas. No caso de Caçapava do Sul, a maior precipitação pluvial é em função do efeito da
altitude, especialmente, nas áreas mais elevadas da Serra do Sudeste (figura 2b).
Pelo modelo de Suguio (2003) (figura 3a), os resultados confirmam àqueles da figura
1a, indicando que o tipo e a intensidade do intemperismo, relacionado à temperatura e
precipitação pluvial, favorecem as condições de alteração e de lixiviação típicas da zona de
monossialitização e confirma-se que o intemperismo é função, principalmente, da
precipitação pluvial. Essas condições favorecem a formação de um solo com maior proporção
de minerais secundários, especialmente a caulinita e os oxi-hidróxidos (figura 3b).
Figura 3 Enquadramento das médias anuais de temperatura do ar e das médias dos totais
anuais de precipitação pluvial das 41 estações meteorológicas do Estado,
utilizadas no modelo de intemperismo apresentado em Suguio (2003) (a) e em
Teixeira et al., (2003) (b).
Os dados (figura 3b) confirmam que a quantidade e a natureza dos produtos do
intemperismo estão correlacionadas, principalmente, com a precipitação pluvial. A cada faixa
de valor de precipitação pluvial corresponde uma composição predominante de minerais
secundários: esmectita para valores de precipitação pluvial não muito elevada
(bissialitização), caulinita para valores médios (monossialitização) e oxi-hidróxidos para
valores mais elevados (alitização e ferralitização). Os valores de precipitação pluvial das 41
estações do Estado do Rio Grande do Sul (figura 1), favorecem a formação de minerais
secundários, especialmente, a caulinita.
Na figura 4, está a localização dos dados das 41 estações meteorológicas utilizadas no
modelo edafoclimático de Géze (1959). Com exceção de quatro estações meteorológicas,
todas se enquadram nas condições climáticas para solos das zonas temperadas quentes:
temperaturas médias anuais de 15°C até 20°C e precipitações pluviométricas médias anuais
(b) (a)
61
acima de 800mm. As exceções, São Francisco de Paula e Bom Jesus, localizadas nas áreas de
maior altitude, acima de 900 metros, com as temperaturas médias anuais mais baixas do
Estado, 14,4°C, enquadram-se em solos de zonas temperadas médias (Ferreira et al., 1971).
Excetuam, ainda, São Borja e Itaqui, com temperaturas médias anuais de 20,1°C e 20,0°C,
respectivamente que se encontram na faixa de transição para condições de solos das zonas
quentes.
Figura 4 Enquadramento das médias anuais de temperatura do ar e das médias dos totais
anuais de precipitação pluvial das 41 estações meteorológicas do Estado,
utilizadas no modelo edafoclimático de Géze (1959).
Com relação às médias dos totais anuais de precipitação pluvial, observa-se um ajuste
nos dados registrados nas diferentes estações meteorológicas no modelo edafoclimático, pois
todos os valores médios são superiores a 880mm, limite considerado pelo Índice de aridez de
Martonne (I
M
). Destacam-se, com valores significativos de precipitação pluvial, as estações
meteorológicas de São Francisco de Paula, Palmeira das Missões e Soledade, com 2162mm,
1919mm e 1986mm, respectivamente.
Constata-se que os solos do Estado enquadram-se nas zonas temperadas quentes. E é
nessas condições que ocorre a zona de monossialitização. Conforme Skinner & Porter (1995),
essa zona contida no domínio tropical subúmido, com precipitação pluviométrica superior a
500mm e temperatura média anual superior a 15°C, beneficia a formação dos argilominerais,
especialmente, a caulinita e os oxi-hidróxidos de ferro, resultantes da decomposição do
feldspato encontrado em rochas metamórficas, ígneas e sedimentares. O feldspato, quando
62
submetido a condições de precipitação pluvial e de temperatura, condiciona solos profundos e
homogêneos, altamente intemperizados.
A água é o agente fundamental da intemperização química. Em regiões com
disponibilidades pluviométricas bem distribuídas durante o ano, a temperatura condiciona e
potencializa a ação da água: ao mesmo tempo em que acelera as reações químicas, aumenta a
evaporação, diminuindo a quantidade de água disponível para a lixiviação dos produtos
solúveis. A cada 10°C de aumento de temperatura, a velocidade das reações químicas
aumenta de duas a três vezes (Suguio, 2003).
Pelos resultados obtidos com os modelos de intemperismo apresentados em Teixeira et
al. (2003) e Suguio (2003), em todas as estações meteorológicas utilizadas, obteve-se
condições de intemperismo químico. Dessa forma, todos os locais estudados se caracterizam
como de condições à esfoliação esferoidal da rocha. Levando-se em conta, ainda, as
condições climáticas vigentes no Rio Grande do Sul pelos resultados obtidos no modelo de
Géze (1959), conclui-se que as disponibilidades hídricas e térmicas favorecem a formação de
solos das zonas temperadas quentes que favorecem as condições de alteração e de lixiviação
típicas da zona de monossialitização.
CONCLUSÕES
As condições climáticas do Rio Grande do Sul, temperatura e precipitação pluvial,
favorecem o intemperismo químico. O principal agente desse intemperismo químico é a água
da precipitação pluvial.
O intemperismo químico forte predomina na metade norte do Estado, enquanto que na
metade sul, onde chove menos que na metade norte, domina o intemperismo químico
moderado.
As disponibilidades pluviais favorecem a formação de minerais secundários,
especialmente a caulinita, preponderante na zona de monossialitização.
63
REFERÊNCIAS
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Geografia e ensino. Ano 2, nº 6, p. 3-11, 1984.
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natural y el suelo. In CABRERA, A. L. Flora de la Província de Buenos Aires. Buenos
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1959. 73 p.
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www.dpi.inpe.br/spring/. Acesso em 22 de setembro de 2007.
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64
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STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2008. 222 p.
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SUGUIO, K. Geologia sedimentar. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2003. 400 p.
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Washington D.C., 1998. 328 p.
65
CAPÍTULO II
RELAÇÃO ENTRE SOLO E CLIMA NO RIO GRANDE DO SUL,
SEGUNDO DIFERENTES MODELOS EDAFOCLIMÁTICOS
INTRODUÇÃO
O clima determina o intemperismo, condicionando as características do solo formado
da rocha matriz de distintas composições mineralógicas. Um mesmo tipo de rocha, quando
submetida a condições climáticas diferentes, geralmente, se transforma em tipos de solos
distintos. Por outro lado, rochas diferentes, quando sujeitas às mesmas condições climáticas,
por um logo período de tempo, dão origem, normalmente, a solos semelhantes ou quase
idênticos. Os solos zonais, que recobrem vastas áreas da superfície terrestre, refletem esse
condicionamento dominante (CHRISTOFOLETTI, 1974). No entanto, o esquema, válido na
escala do planeta Terra, pode ser bastante modificado por condições locais, dando origem aos
solos intrazonais, que têm sua formação influenciada, principalmente, por fatores locais como
relevo, litologia, organismos e vegetação (TEIXEIRA et al., 2003). Assim, a gênese dos
diferentes tipos de solos está diretamente relacionada ao intemperismo das rochas da
superfície terrestre, provocado pela ação integrada de fatores como material de origem, clima,
relevo, vegetação, animais e/ou organismos e tempo (JENNY, 1941). O clima, principalmente
pela ação da precipitação pluvial, temperatura, radiação solar, umidade do ar, evaporação e
vento, é o fator que atua com maior intensidade no condicionamento dos diferentes tipos de
solos (TEIXEIRA et al., 2003).
A idéia de relacionar os solos ao clima é antiga. Nas primeiras tentativas de
classificação dos solos, em escala mundial, a repartição dos solos coincide, aproximadamente,
com as diferentes zonas climáticas traçadas na carta da superfície terrestre (BUENO, 1984).
Atualmente, a relação existente entre solos e clima continua sendo utilizada, pois,
resume as bases para uma ampla apreciação da distribuição geográfica dos solos do mundo e
66
sua relação com os diferentes tipos climáticos no globo, bem como com os grandes biomas de
vegetação natural e com o tipo de agricultura (STRAHLER & STRAHLER, 2005).
Segundo Drew (2002), apesar do caráter genérico, a relação entre solo e clima
representa um guia global para as amplas variações existentes nos tipos de solos. Considera
que os tipos, enumerados como solos zonais, foram divididos em aproximações em que solo,
vegetação e clima estão interligados, sendo o clima a causa e os solos e a vegetação os efeitos.
No Rio Grande do Sul, a relação entre solos e clima é pouco estudada. O clima do
Estado, segundo a classificação climática de Köppen (1948), é do tipo Cfa (úmido em todas as
estações, verão quente) e Cfb, (úmido em todas as estações, verão moderadamente quente)
com chuvas bem distribuídas ao longo dos doze meses do ano (MORENO, 1961;
KUINCHTNER et al., 2001). Nesse caso, a precipitação pluvial, a temperatura do ar e a
amplitude térmica favorecem a formação de solos profundos. No entanto, doze classes de
solos identificadas e mapeadas (STRECK et al., 2008), distribuídas, geograficamente, de
forma bastante heterogênea e com alternância, incluindo, também, solos rasos e pouco
desenvolvidos. Para a explicação dessa variedade e alternância de diferentes tipos de solos no
Estado, provavelmente, necessitar-se-á de estudos relacionados aos fatores, além do clima,
que influenciaram a sua formação. Inicialmente, porém, é importante determinar a relação
entre solos zonais e as disponibilidades climáticas no Estado.
A síntese da relação, entre solos zonais e as disponibilidades climáticas, pode ser
realizada com a utilização de modelos edafoclimáticos. Esses modelos servem para verificar
a relação e/ou a aproximação existente entre a variação espacial, principalmente, da
temperatura e da precipitação pluvial com a distribuição dos solos. Com esse intuito, vários
modelos foram utilizados. Por exemplo, Burgos (1969, 1970) estudou a relação entre os
tipos de solos existentes na Província de Buenos Aires e Região Nordeste da Argentina com
as condições climáticas, utilizando alguns desses modelos edafoclimáticos mundialmente
conhecidos.
Neste trabalho, o objetivo é determinar-se a relação entre solo e clima, no Estado do
Rio Grande do Sul, por meio da utilização de modelos edafoclimáticos.
67
MATERIAL E MÉTODOS
A relação dos solos com as disponibilidades climáticas foi realizada por meio dos
modelos edafoclimáticos de Lang (1915), Prescott (1931), Thornthwaite (1931), Aubert e
Henin (1945), Thornthwaite e Hare (1955), Budyko (1956) e Kohnke et al. (1968).
No modelo de Lang (1915), foi utilizada a seguinte equação: I
L
= P/T, sendo I
L
o índice
de Lang (1915),
P é a precipitação pluvial média dos totais anuais (mm) e T, a temperatura
média anual (ºC).
No modelo de Prescott (1931), utilizou-se o índice de Meyer (1926) que relaciona a
precipitação pluvial ao déficit de saturação do ar. Meyer (1926) propôs a seguinte relação:
P/DS, sendo P a precipitação pluvial anual em mm e DS é o déficit de saturação do ar em mm
de Hg. O déficit de saturação (DS) do vapor de água na atmosfera foi calculado pela diferença
e
s -
e
a
, em que e
s
e e
a
são, respectivamente, a pressão de saturação e a pressão atual do vapor de
água na atmosfera (mb). O valor de e
s
, para cada estação meteorológica, foi obtido por meio
da equação de Tetens (WEISS,1977): e
s =
6,178 exp[17,2693882T/(T+237,3)], sendo T a
temperatura média anual (°C) e aquele de e
a,
pela equação e
a
= UR . e
s
/100, sendo UR a
umidade relativa média anual. A anotação exp{x} indica x
e
, em que e = 2,71828. Para o
cálculo do índice de Meyer, os valores de DS foram convertidos em mm de Hg.
No modelo de Thornthwaite (1931), o índice de “eficácia da precipitação” (P-E) e de
“eficácia térmica” (T-E) foram calculados, respectivamente, pelos coeficientes: 11,5 P/(T-
10)
9/10
e (T-32)/4) em que P é a precipitação pluvial média mensal e T é a temperatura média
mensal (°F). Os valores de P-E e T-E foram, respectivamente, a soma dos coeficientes dos 12
meses do ano.
Haubert e Henin (1945) aplicaram a função da drenagem e as temperaturas médias
anuais para estabelecer o seu modelo edafoclimático. Estabeleceram que D = . P
3
/ 1+.
P e E = P/1+. P
2
, sendo D a drenagem (mm); E, a evaporação do solo (mm); P é a
precipitação pluvial anual (mm) e é o coeficiente que varia entre valores inferiores a 5 e
superiores a zero.
No modelo de Thornthwaite e Hare (1955), foram utilizados o índice de umidade (I
m
) e
o índice de eficiência térmica (ET), obtidos do balanço hídrico, calculado, segundo a
metodologia proposta por Thornthwaite e Mather (1955), considerando o armazenamento da
água disponível no solo igual a 100mm. A evapotranspiração potencial (ETP) foi estimada,
utilizando a metodologia, segundo Thornthwaite (1945. O I
m
foi calculado por meio da
68
equação:
I
m
= I
h
0,6 Ia, sendo I
h
= 100 (Exc/ETP) e I
a
= 100 (Def/ETP), em que I
h,
I
a,
ETP,
Exc e Def são, respectivamente, o índice hídrico, índice de aridez, evapotranspiração
potencial anual e excesso e déficit hídrico anual, em mm.
O modelo de Budyko (1956) está fundamentado em dois índices: um drico e outro
térmico. O índice hídrico foi determinado pela relação entre o saldo anual de radiação (Rn), a
energia consumida na evaporação da precipitação pluvial média anual (Lr) e o índice térmico,
pelo saldo anual de radiação do local (Rn). Esse é calculado pela equação Rn=-18,81 + 0,69
Rs, em que Rs é a radiação solar global, em cal.cm
-2
.ono
-1
(BERGAMASCHI et al., 2003).
Kohnke et al. (1968) propuseram um modelo baseado no biofator (o quociente entre a
precipitação pluvial anual e a temperatura média anual).
Os diferentes tipos de solos utilizados nos modelos edafoclimáticos foram aqueles
indicados nos modelos originais. Optou-se em manter os tipos de solos, conforme constam
nos modelos edafoclimáticos originais e atualizá-los na discussão dos resultados, segundo a
classificação mais difundida no mundo: Soil Taxonomy(UNITED STATES DEPARTMENT
OF AGRICULTURE, 1998). Strahler & Strahler (2005) consideram que a classificação norte-
americana representa um guia global e permite estabelecer correlações entre solos de outras
regiões do globo. Classifica 12 ordens de solos: Alfissolo, Ardissolo, Entissolo, Histossolo,
Inceptissolo, Molissolo, Oxissolo, Espodossolo, Ultissolo, Vertissolo, solos de áreas
montanhosas e regiões geladas.
A classificação pedológica dos solos do Brasil consiste numa evolução do sistema
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, 1988), mapeados
em Brasil (1973) e adaptados à nova classificação brasileira de solos realizada pela
EMBRAPA (1999, 2006): Argissolos, Cambissolos, Chernossolos, Espodossolos, Gleissolos,
Latossolos, Luvissolos, Neossolos, Nitossolos, Organossolos, Planossolos, Plintossolos e
Vertissolos. Com exceção do Espodossolo, todos os outros ocorrem no Estado do Rio Grande
do Sul (STRECK et at. 2002; STRECK et at. 2008).
Utilizou-se a temperatura média das médias, média das máximas e nimas mensais e
anuais do ar, a média dos totais mensais e anuais das precipitações pluviais e as médias
mensais e anuais da umidade relativa do ar de 41 estações meteorológicas, pertencentes ao
Distrito de Meteorologia (8ºDISME), período 1931-1960, quadro 1 e as médias anuais de
radiação solar global de 25 estações meteorológicas, período 1950-1984, pertencentes à
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO), quadro 2.
69
Fonte: Instituto de Pesquisas Agronômicas (1989).
Quadro 1 Estações meteorológicas pertencentes ao DISME, utilizadas no estudo, sua
respectiva altitude e coordenadas geográficas.
ESTAÇÃO
METEOROLÓGICA
ALTITUDE (m) LATITUDE SUL LONGITUDE OESTE
Alegrete 116 29º46’47 55º47’15”
Bagé 216 31°20’13” 54°06’21
Bento Gonçalves 619 29º10’00 51º25’00”
Bom Jesus 1047 28°40'10'' 50°26'25''
Caçapava do Sul 450 30º30’32 53º29’22”
Cachoeira do Sul 68 30°02’45 52°53’39
Caxias do Sul 740 29º10’25” 51º12’21”
Cruz Alta 473 28º38’21 53º36’34”
Dom Pedrito 140 30º58’57 54º39’56”
Encruzilhada do Sul 420 30º32’35” 52º31’20”
Guaporé 450 28º55’44 51º54’45”
Iraí 227 27º11’45 53º14’01”
Itaqui 53 29º07’10” 56º32’52
Jaguarão 11 32º33’32” 53º23’20”
Julio de Castilhos 516 29º13’26 53º40’45”
Lagoa Vermelha 805 28º25’35 51º35’51”
Marcelino Ramos 383 27º27’40 51º54’22”
Palmeira das Missões 634 27º53’55 53º26’45”
Passo Fundo 678 28º15’39 52º24’33”
Pelotas 7 31º45’00” 52º21’00”
Piratini 345 31º26’54 53º06’09”
Porto Alegre 10 30º01’53” 51º01’53”
Rio Grande 8 32º01’44” 52º05’40”
Santa Cruz do Sul 56 29º43’05” 52º25’45”
Santa Maria 138 29º41’25 53º48’42”
Santana do Livramento 210 30º53’18 55º31’56”
Santa Rosa 360 27º51’50 54º25’59”
Santa Vitória do Palmar 6 33º31’14” 53º21’47”
Santiago 426 29º11’00” 54º53’10”
Santo Ângelo 289 28º18’14 54º15’52”
São Borja 96 28º39’44” 56º00’15”
São Francisco de Paula 912 29º20’00 50º31’21”
São Gabriel 124 30º20’27 54º19’01”
Soledade 720 29º03’14 52º26’00”
São Luiz Gonzaga 254 28º23’53” 54º58’18”
Tapes 5 30º50’00” 51º35’00”
Taquara 29 29º45’00” 50º45’00”
Taquari 76 29º48’15” 51º49’30”
Torres 43 29º20’34” 49º43’39”
Uruguaiana 69 29º45’23” 57º05’12”
Vacaria 955 28º33’00 50º42’21”
70
ESTAÇÃO
METEOROLÓGICA
LATITUDE SUL LONGITUDE OESTE
ALTITUDE
m
Erexim 27º37’45” 52º16’33” 760
Santo Augusto 27º54’16” 53º45’14” 380
Passo Fundo 28º15’41” 52º24’45” 709
Ijuí 28º23’17” 53º54’50” 448
Vacaria 28º30’09” 50º56’12” 955
São Borja 28º39’44” 56º00’44” 99
Júlio de Castilhos 29º13’26” 53º40’45” 514
Cruz Alta 28º38’21” 53º36’34” 473
Veranópolis 28º56’14” 51º33’11” 705
Farroupilha 29º14’30” 51º26’20” 702
Osório 29º40’49” 50º13’56” 32
Santa Maria 29º41’24” 53º48’42” 153
Uruguaiana 29º45’23” 57º05’37” 74
Alegrete 29°46’47” 55°47’15” 116
Taquari 29º48’15” 51º49’30” 76
Tramandaí 29º56’22” 50º30’12” 3
Cachoeira do Sul 30°02’45” 52°53’39” 68
Guaíba 30º05’52” 51º39’08” 46
São Gabriel 30º20’27” 54º19’01” 109
Quaraí 30º23’17” 56º26’53” 100
Encruzilhada do Sul 30º32’35” 52º31’20” 420
Santana do Livramento 30º53’18” 55º31’56” 210
Bagé 31º20’14” 54º05’59” 214
Rio Grande 32º01’02” 52º09’32” 16
Jaguarão 32º33’32” 53º23’20” 11
Fonte: Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (1989).
Quadro 2 Coordenadas geográficas das estações meteorológicas pertencentes à Fundação
Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO) cujos dados de radiação solar
global foram utilizados nos cálculos do modelo fitoclimático de Budyco (1963).
71
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No modelo de Lang (1915), figura 1a, todas as estações se enquadram nas condições
climáticas de solos pardos, com exceção da estação meteorológica de São Francisco de Paula,
local de maior precipitação pluvial do Estado, que se ajusta às condições climáticas de solos
negros.
No modelo de Prescott (1931), figura 1b, os valores médios do índice P/DS, das 41
estações meteorológicas do quadro 1, localizam-se em condições de formação de solos
podzólicos.
a) b)
Figura 1 Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul, no
modelo edafoclimático de Lang (1915) (a) e no modelo de Prescott (1931). Os
valores médios do índice P/DS, das 41 estações meteorológicas do quadro 1,
localizam-se em condições de formação de solos podzólicos (b).
Os solos pardos são descritos também como solos castanhos e apresentam um perfil
semelhante ao solo chernozem. Ocorrem entre zonas climáticas semi-áridas e subúmidas, em
latitudes médias, que correspondem àquelas zonas com verões muito quentes e invernos frios.
Possuem, no perfil, uma acumulação de carbonato cálcico muito endurecida, de forma que os
bosques não encontram facilidades para se desenvolverem. Em geral, a vegetação natural
associada aos solos pardos são do tipo pradarias e campestre. Pelo sistema de classificação
dos solos, Soil Taxonomy, os solos pardos correspondem aos Mollisols e são definidos como
aqueles que se formam em condições climáticas bastante variáveis, especialmente em
latitudes médias, associados a regimes com moderado a pronunciado déficit hídrico
estacional, do tipo semi-árido e subúmido. Alguns, porém, se formam em climas úmidos. Se
comparada a distribuição desses solos com a distribuição dos climas, observa-se uma estreita
relação com climas semi-áridos de latitudes médias. Sua ocorrência é indicada para várias
72
regiões do mundo e para a América do Sul: as regiões do Pampa Argentino e do Uruguai. São
descritos, detalhadamente, em sete subordens, e acentuam a característica da ocorrência de
uma acumulação de carbonato cálcico no perfil. A subordem dos Ustolls são Mollisols de
regime hídrico ústico, possuem um horizonte de acumulação de carbonato de cálcio que se
desenvolve na profundidade entre 50 e 100 cm. Os Mollisols estão associados, geralmente, à
vegetação de pradarias. A existência de uma zona de excesso de carbonato cálcico no perfil
impede a existência de uma vegetação natural de grande porte (Sthraler & Sthraler, 2005).
No Rio Grande do Sul, pelo Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos SiBCS
(EMBRAPA, 2006), os solos pardos mantêm semelhanças com os Chernossolos. Conforme
Streck et al. (2008), ocorrem de forma esparsa em todo o território do Estado e, em áreas mais
extensas, na Depressão Central. Caracterizam-se por conter razoáveis teores de material
orgânico, boa fertilidade química e alta capacidade de troca catiônica (CTC) em todo o perfil.
A presença de carbonatos de cálcio identifica a subordem dos Chernossolos ebánicos
carbonáticos que se situam em relevos planos e suavemente ondulados. Nesses solos, a
presença de argilas expansivas (esmectitas) torna-os duros, mas secos e pegajosos, quando
úmidos.
O território do Rio Grande do Sul apresenta indícios que preservam testemunhos
palinológicos de paleoclimas, entre eles, o clima árido e a paisagem de deserto. O clima
quente e seco, devido ao aquecimento verificado na Terra, no Período Jurássico até o início do
Cretáceo, da Era Mesozóica, pode ter contribuído para a formação da zona de excesso de
carbonato cálcico.
De acordo com BIGARELLA (1964), no período Quaternário, o Brasil meridional foi
marcado por mudanças climáticas profundas e extremas, correlacionadas à flutuação do nível
dos oceanos, nas quais se alternaram fases semi-áridas prolongadas (períodos glaciais) com
fases úmidas (períodos interglaciais. Essas condições climáticas podem ter contribuído para a
formação da excessiva dureza dos solos pardos, quando secos e à acumulação de carbonato
cálcico no perfil.
No modelo de Prescott (1931), figura 2a, os valores médios do índice P/DS, das 41
estações meteorológicas do quadro 1, localizam-se em condições de formação de solos
podzólicos e no modelo de Thornthwaite (1931), figura 2b, os valores dos índices de “eficácia
da precipitação” (P-E) e de “eficácia térmica” (T-E) de todas as estações meteorológicas
utilizadas se situam na zona de solos podzólicos, vermelhos e amarelos, indicando condições
de solo para vegetação natural de bosques.
73
a) b)
Figura 2 Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul no
modelo edafoclimático de Thornthwaite (1931) (a) e representação das estações
meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul no modelo edafoclimático de
Aubert e Henin (1945) (b).
Os solos podzólicos são característicos de climas úmidos e associados à vegetação
natural de bosques, especialmente, boreais. Sua coloração varia desde acinzentada, brunada,
amarelada e avermelhada. A coloração vermelha e amarela é devido à oxidação do ferro. A
oxidação do alumínio também é intensa nesses solos. As cores vermelha e amarela, portanto,
devem-se aos óxidos de ferro e de alumínio e indicam condições de umidade associada à boa
drenagem da água das precipitações pluviais. Em geral, os perfis são de profundidade variável
e neles ocorre o processo de podzolização (transporte de argila por iluviação do horizonte A
para o horizonte B).
No sistema de classificação dos solos Soil Taxonomy (1992), os podzólicos
correspondem aos Oxisols e Ultisols. Solos com horizontes bem desenvolvidos e com
minerais bastante alterados em decorrência da longa e contínua adaptação aos regimes
térmicos e hídricos. Os Oxisols, normalmente, desenvolvem-se nas regiões equatoriais
submetidas à climas úmidos desde o Pleistoceno ou períodos mais antigos. Ocorrem, também,
em algumas regiões tropicais e subtropicais condicionadas ao regime de alternância de
períodos secos e muito úmidos, durante um longo período geológico. Os Ultisols apresentam
uma ampla zona de domínio em várias regiões do mundo de latitudes médias, entre elas, o
sudeste dos Estados Unidos, sul da China, nordeste da Austrália, Bolívia e sul do Brasil.
Tomando-se como referência o mapa de climas do mundo, observa-se que o clima
dessas áreas oscila entre subtropical úmido, subtropical, tropical seco e úmido, monçônico e
tropical litorâneo. Esses climas possuem um elevado excedente hídrico na estação chuvosa e
amplitude térmica em relação à estação seca. A superfície dessas regiões é submetida à
74
meteorização e erosão de forma que a rocha altera-se, também, em profundidade, permitindo
a lixiviação. A vegetação florestal natural é arbórea, esparsa e de pequeno porte.
No Rio Grande do Sul, pelo Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos SiBCS
(EMBRAPA, 2002), esses solos mantêm semelhanças com os Argissolos, Luvissolos e
Nitossolos. Conforme Streck et al. (2008), ocorrem em relevo suave ondulado até o
fortemente ondulado, ocupando, em termos percentuais, a maior parte da área territorial do
Rio Grande do Sul. Apresentam baixa fertilidade natural, devido à acidez e alta saturação por
alumínio e necessitam do manejo com corretivos e fertilizantes para neles se desenvolverem
campo nativo ou lavoura. A vegetação natural é esparsa e de pequeno porte.
No modelo de Thornthwaite (1931), figura 2b, os valores dos índices de eficácia da
precipitação” (P-E) e de “eficácia térmica” (T-E) de todas as estações meteorológicas
utilizadas se situam na zona de solos podzólicos vermelhos e amarelos, indicando condições
de solo para vegetação natural de bosques.
Segundo BRASIL (1973), os solos denominados podzólico vermelho-amarelo
predominam em relevos altos, especialmente, formados por coxilhas e morros e são
originados em condições de boa drenagem, não-hidromórficos. Pelo Sistema Brasileiro de
Classificação dos Solos SiBCS (EMBRAPA, 2006), esses solos são classificados como
Argissolos. Conforme Streck et al. (2008), são solos geralmente profundos a muito
profundos, bem drenados e oriundos dos mais diversos tipos de rochas, como basaltos,
granitos, arenitos e outros sedimentos. Diversos autores, entre eles, Christofoletti (1974),
assinalam que rochas diferentes, quando sujeitas às mesmas condições climáticas por um
longo período de tempo, dão origem, normalmente, a solos semelhantes ou quase idênticos.
No Rio Grande do Sul, esses solos foram classificados em Argissolos vermelhos e
Argissolos vermelho-amarelo, de acordo com a cor que predomina no horizonte B textural.
Estes últimos foram identificados a partir de três substratos: do basalto, do arenito e do
granito (STRECK et al., 2008). Solos que apresentam tipicamente um perfil com um
gradiente textural, em que o horizonte B sempre é mais argiloso em comparação aos
horizontes A ou E, atestando boas condições de drenagem, de lixiviação e de percolação da
água no perfil. Esses ambientes, no perfil, são condicionados, especialmente, pelo clima
úmido, com as precipitações pluviais bem distribuídas durante o ano. A água que percola no
perfil, promove a hidratação de constituintes e favorece a translocação dos minerais,
acelerando as transformações de constituintes e, conseqüentemente, o processo evolutivo do
solo.
75
No modelo de Aubert e Henin (1945), figura 2b, igualmente, os dados de todas as
estações meteorológicas do Estado indicam condições climáticas para a formação de solos dos
tipos podzólicos.
O modelo de Thornthwaite e Hare (1955), figura 3a, e o modelo de Budyko (1956),
figura 3b, também enquadram os dados de todas as estações meteorológicas do Estado em
condições climáticas, característica de solos podzólico vermelho-amarelo e vegetação natural
de bosques.
a) b)
Figura 3 Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul, no
modelo edafoclimático de Thornthwaite e Hare (1955) (a) e a representação das
estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul no modelo edafoclimático
de Budyko (1956) (b).
Os modelos edafoclimáticos de Prescott (1931), Thornthwaite (1931), Aubert e Henin
(1945), Thornthwaite e Hare (1955) e Budyko (1956) demonstram resultados semelhantes
entre si. Indicam que as condições climáticas do Estado, de temperatura e precipitação
pluvial, favorecem a formação de solos podzólicos, com exceção do modelo de Lang (1915)
que identifica solos pardos.
Na figura 4, observa-se a distribuição das estações meteorológicas do Rio Grande do
Sul no modelo edafoclimático de Kohnke et al. (1968). A maior parte das estações
meteorológicas localizam-se na zona de formação de Latossolos, de podzólicos vermelho-
amarelo, podzólico vermelho escuro e solos brunizems.
76
Figura 4 - Representação das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul, no
modelo edafoclimático de Kohnke at. al. (1968). P/T significa, respectivamente,
precipitação pluvial mensal (mm) e temperatura média anual (°C).
Os Latossolos, segundo Streck et al. (2008), são solos bem drenados, normalmente
profundos a muito profundos, altamente intemperizados, em condições de relevo suave
ondulado. Correspondem aos Oxisols e ocorrem, em regiões equatoriais e tropicais com altos
índices hídricos. No Rio Grande do Sul, podem ocorrer, de forma esparsa, em todo o Estado,
porém as maiores áreas estão localizadas no Planalto Norte-rio-grandense. Nessas áreas, são
constituídos pelo material de origem basalto, profundamente intemperizados, têm predomínio
de caulinita e óxidos de ferro, o que lhes confere uma baixa CTC, acentuada acidez, pouca
reserva de nutrientes e toxidez por alumínio para as plantas. Os valores de precipitação pluvial
das 41 estações meteorológicas do Estado, representadas no quadro 1, favorecem o
intemperismo e a formação de caulinita e de óxidos de ferro, características encontradas,
especialmente, no Latossolo. Pelos resultados obtidos nos modelos edafoclimáticos
utilizados, tanto os baseados em índices que relacionam à precipitação pluvial com a
temperatura do ar, como aqueles de Lang (1915), Prescott (1931) e Kohnke (1968), figuras 1a
e b e 4, respectivamente ou naqueles fundamentados na relação entre as condições hídricas do
solo e térmicas do ar, como os de Thornthwaite (1931), Haubert e Henin (1945), Thornthwaite
e Hare (1955), figuras 2a e b e 3a, respectivamente ou, ainda, aquele baseado na relação entre
o saldo anual de radiação e a energia consumida na evaporação da precipitação pluvial média
anual, como no modelo de Budyko (1956), figura 3b, constata-se que eles não expressam a
realidade das condições de distribuição geográfica dos atuais tipos de solos do Estado, em que
existem várias regiões com solos rasos, pouco desenvolvidos e encontrados nas mais diversas
condições de relevo e drenagem e, geograficamente, dispostas de forma muita heterogênea no
Estado.
77
No Estado do Rio Grande do Sul, há a diversidade de doze tipos de solos (Streck et al.,
2008) e a presença de solos jovens ou com perfis pouco desenvolvidos e rasos, a exemplo dos
Gleissolos, Luvissolos, Neossolos, Organossolos, Planossolos, Plintossolos, Vertissolos.
Outros caracterizam-se como medianamente rasos a profundos como Cambissolos e
Chernossolos. Os Argissolos, Latossolos e Nitossolos apresentam perfis profundos a muito
profundos e são aqueles que correspondem aos tipos de solos indicados nos modelos
edafoclimáticos, considerando as condições de temperatura e precipitação pluvial, com
exceção para o modelo de Lang (1915) que indica Chernossolos.
Assim, os resultados obtidos nos modelos edafoclimáticos aqui utilizados
caracterizam condições climáticas para a formação de solos de climas úmidos. Nessas
condições, os solos apresentam condições de meteorização e lixiviação em profundidade,
favorecendo a formação de perfis homogêneos, bem desenvolvidos e profundos, o que condiz
com as regiões do Estado abrangidas pelos Argissolos, Latossolos e Nitossolos.
Considerando que, no Estado, os Latossolos são formados a partir de diferentes litologias,
pode-se afirmar que o clima é o fator determinante no intemperismo e tem grande influência
na formação desses solos.
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos por meio dos modelos edafoclimáticos evidenciam que, no
Estado do Rio Grande do Sul, podem ocorrer solos profundos e bem desenvolvidos em função
das condições climáticas atuais (de temperatura e de precipitação pluvial).
Apenas uma parte da área do Rio Grande do Sul é explicada em função das
disponibilidades climáticas vigentes, especialmente aquelas que são mapeadas como sendo de
Latossolos, Chernossolos, Argissolos e de Nitossolos e Argissolos, predominantemente
localizados no Planalto Norte-rio-grandense e na Depressão Central, respectivamente.
Naqueles solos que apresentam acumulação de carbonato de cálcio em profundidade e
vegetação de pradarias, como os Chernossolos, isso pode estar associado ao condicionamento
pretérito de um regime hídrico ústico, oriundo, provavelmente, de um paleoclima mais seco.
78
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81
CAPÍTULO III
CLIMA E SUA INFLUÊNCIA NA DISTRIBUIÇÃO DOS SOLOS
LATERÍTICOS E PEDALFÉRRICOS NO RIO GRANDE DO SUL-
BRASIL
INTRODUÇÃO
A espessura do perfil de solo depende do clima, do tempo de formação do solo e da
composição da rocha-matriz (PRESS et al., 2006). O perfil é estruturado verticalmente, a
partir da rocha matriz, na base, sobre a qual forma-se o saprólito e o solum, que constituem
juntos, o manto de alteração ou regolito (AZEVEDO & DALMOLIN, 2006). Os materiais do
perfil vão se tornando tanto mais diferenciados com relação à rocha matriz em termos de
composição, textura e estrutura, quanto mais afastados se encontram dela. Sendo dependente,
especialmente, do clima, o intemperismo e a pedogênese ocorrem de maneira distinta nas
diferentes zonas climáticas do globo, levando à formação de perfis de alteração compostos de
horizontes de diferente espessura e composição. A energia de desintegração e decomposição
das rochas, segundo Zakarovi citado por VIEIRA (1975), aumenta gradualmente das regiões
frias para as quentes.
Nos climas mais frios, a alteração afeta, normalmente, apenas os minerais primários
menos resistentes. Os minerais primários mais resistentes permanecem inalterados durante um
tempo geológico muito maior. Tanto o intemperismo intenso como um longo período de
exposição à meteorização diminuem a influência da rocha-matriz. Solos muito antigos e de
regiões úmidas tendem a ser homogêneos e apresentam perfis bem desenvolvidos.
Climas quentes e úmidos promovem rapidamente a alteração dos minerais da rocha
matriz, pois a percolação constante da água permite a evolução permanente da decomposição
dos minerais. Enquanto que numa região de clima seco, os minerais permanecem
praticamente insolúveis ou, quando ocorre a decomposição, esta é muito lenta. Os climas
quentes também tem grande influência na vegetação e sobre a matéria orgânica produzida a
partir da decomposição. Os ácidos orgânicos reagem com os elementos da rocha matriz nos
82
climas temperados úmidos, enquanto que a matéria orgânica é rapidamente destruída por
oxidação em climas quentes úmidos (SUGUIO, 2003). O clima, portanto, é um dos fatores de
maior intensidade no condicionamento no intemperismo em função, principalmente, da
precipitação pluvial e da temperatura.
Bigarella (1994) considera que pode-se estabelecer uma correlação entre os tipos e
intensidade de intemperismo e as diferentes regiões climáticas da Terra. Para este autor, a
máxima lixiviação processa-se nas áreas tropicais (aproximadamente 10 graus de latitudes
norte e sul), caracterizadas por altos volumes de precipitação pluvial e altas temperaturas,
sendo ocupadas, especialmente, pelas florestas pluviais. Nas faixas de latitudes periféricas às
florestas pluviais, ocorrem regiões tropicais caracterizadas pela sazonalidade da precipitação
pluvial. A fase úmida sazonal favorece o intemperismo químico profundo, mas o período seco
favorece a oxidação do alumínio e do ferro. Nas latitudes médias ocorre a podsolização nas
zonas de climas úmidos e com vegetação natural de bosques. Nas zonas de tundras e zonas
desérticas e semidesérticas, o intemperismo químico é desprezível pela baixa temperatura e
escassez de água, respectivamente, estabelecendo-se faixas latitudinais de intemperismo
químico e biológico mínimos.
De forma similar, a formação dos diferentes tipos de solos está diretamente
relacionada ao intemperismo das rochas da superfície terrestre provocado pela ação integrada
de fatores como o material de origem, clima, relevo, organismos, vegetação e tempo (JENNY,
1941).
Press et al. (2006) distinguem três grupos principais de solos em função do clima:
Pedalférricos, Lateriticos e Pedocalcários.
Strahler e Strahler (2005) descrevem solos Pedalférricos como solos de climas úmidos,
com pronunciada lixiviação e mantidas os valores médios anuais de precipitação pluvial
acima de 600mm.
O clima tem grande influência, também, na formação dos solos Lateríticos.
Normalmente são necessárias condições de alta precipitação pluvial e temperatura para que a
alteração da rocha adquira condições para a laterização (TEIXEIRA et al, 2006). O
intemperismo é intenso em climas quentes e úmidos, os solos espessos e a vegetação de
grande porte. Estes condicionantes aceleram a lixiviação dos minerais solúveis e facilmente
alteráveis, como a sílica e o carbonato de cálcio, da camada superior do solo desencadeando a
laterização e a formação do laterito.
83
Os solos Pedocalcários são formados, especialmente, em regiões com escassez de água
por longos períodos de tempo, qualidade de climas semiáridos e áridos. Apresentam perfis
pouco evoluídos em que predominam as características herdadas do material parental.
Um primeiro nível de divisão de grupos de solos determinados por suas características
climáticas foi estabelecido por Marbut (1938). As condições climáticas de latitudes médias
condicionam solos dos grupos Pedalférricos e Pedocalcários, excetuando-se, apenas, o sudeste
dos Estados Unidos, o sul do Brasil e uma pequena parte do nordeste da Argentina. Apesar da
localização geográfica do Rio Grande do Sul, estar em latitudes médias, as condições
climáticas, de precipitação pluvial bem distribuída durante o ano, indica possibilidade de
formação de solos dos grupos Pedalférricos e Lateríticos.
Becker et. al (2008a) utilizaram as médias dos totais anuais de precipitação pluvial e
as médias anuais de temperatura do ar de 41 estações meteorológicas do Estado do Rio
Grande do Sul, período entre 1931 e 1960, e concluíram que o território do Estado enquadra-
se nas condições de intemperismo químico forte e químico moderado.
Becker et al. (2008b) também obtiveram resultados por meio dos modelos
edafoclimáticos e evidenciaram que, no Estado do Rio Grande do Sul, podem ocorrer solos
profundos e bem desenvolvidos em função das condições climáticas atuais (de temperatura e
de precipitação pluvial). Porém, apenas uma parte dos solos ocorrentes no Rio Grande do Sul
é explicada em função das disponibilidades climáticas vigentes, especialmente aqueles que
são mapeados como sendo de Latossolos, Chernossolos, Argissolos e de Nitossolos e
Argissolos, predominantemente localizados no Planalto Norte-rio-grandense e na Depressão
Central, respectivamente.
Streck et al., (2002; 2008) descreveram as diferentes classes de solos do Rio Grande
do Sul. Foram uma variedade de tipos distribuídos de forma heterogênea na paisagem.
Comentaram que a razão dessa variedade de solos é dada pelo entendimento dos fatores que
afetam a sua formação e reforçaram a idéia de que a gênese natural do solo é um processo
muito lento. Ainda segundo Streck et al. (2002; 2008), entre os fatores ambientais que mais
influenciam na diferenciação dos solos identificados no Rio Grande do Sul destacam-se o
material de origem, o relevo e o clima. Destes fatores, o conhecimento das condições
climáticas atuais no Rio Grande do Sul certamente contribui para evidenciar o zoneamento
dos grupos de solos e para um melhor entendimento da ocorrência dos diferentes tipos de
solos.
84
Nesse estudo objetivou-se relacionar os grupos de solos, segundo as disponibilidades
hídricas e térmicas atuais, cartografar sua distribuição no espaço geográfico do Rio Grande do
Sul e evidenciar perfis de tipos de solos correspondentes.
MATERIAL E MÉTODOS
A espacialização das disponibilidades climáticas para o desenvolvimento de solos
Lateríticos e Pedalférricos no Estado do Rio Grande do Sul foi realizada utilizando-se as
médias anuais as médias dos totais anuais de precipitação pluvial e das médias anuais de
temperatura do ar, entre 1931 e 1960, de 41 estações meteorológicas do DISME ,
relacionadas no quadro 1. Foram representadas com base nos valores do quadro 1, no
programa Spring versão 4.2 e adaptados nos mapas por meio do programa Corel Draw 13.
Considerou-se zona preferencial para a formação de solos do grupo Pedalférricos a área
geográfica com valores médios anuais de precipitação pluvial acima de 600mm (STRAHLER
& STRAHLER, 2005) e para os solos do grupo Lateríticos a área geográfica com
precipitação pluvial acima de 1500mm anuais (Pres set al., 2006).
Na caracterização de diferentes tipos de solos ocorrentes nas áreas geográficas dos
grupos de solos Pedalférricos e Lateríticos foram avaliadas as condições climáticas e a base
geológica. Foram calculadas as médias mensais de evapotranspiração potencial para os
valores de 6 estações meteorológicas pertencentes ao 8° DISME, período 1931 a 1960,
localizadas em diferentes regiões geomorfológicas do Estado do Rio Grande do Sul: Irai e
Santo Ângelo (Planalto Norte-rio-grandense), Encruzilhada do Sul e Piratini (Escudo Sul-rio-
grandense), de forma a contemplar as diferentes situações climáticas, geológicas e
geomorfológicas do Estado.
A evapotranspiração potencial foi calculada pelo modelo de Thornthwaite (1948) e
apresentada no diagrama de Camargo (1960). Os dados de temperatura média mensal
utilizada no cálculo da evapotranspiração potencial foram obtidas do Instituto de Pesquisas
Agronômicas (1989), período 1941-1970, relacionadas no quadro 2.
85
ESTAÇÕES
METEOROLÓGICAS
ALTITUDE (m) T (°C) P (mm)
Alegrete 116 18.6 1574
Bagé 216 17.9 1264
Bento Gonçalves 619 16.8 1599
Bom Jesus 1047 14.4 1545
Caçapava do Sul 450 16.8 1588
Cachoeira do Sul 68 18.8 1438
Caxias do Sul 740 15.9 1663
Cruz Alta 473 18.4 1729
Dom Pedrito 140 18.2 1359
Encruzilhada do Sul 420 16.5 1504
Guaporé 450 16.9 1686
Iraí 227 18.8 1787
Itaqui 53 20.0 1453
Jaguarão 11 17.2 1337
Julio de Castilhos 516 18.0 1575
Lagoa Vermelha 805 16.7 1735
Marcelino Ramos 383 18.8 1652
Palmeira das Missões 634 18.1 1919
Passo Fundo 678 17.5 1664
Pelotas 7 17.5 1405
Piratini 345 16.2 1426
Porto Alegre 10 19.5 1309
Rio Grande 8 18.1 1162
Santa Cruz do Sul 56 19.3 1547
Santa Maria 138 19.2 1708
Santana do Livramento 210 17.8 1388
Santa Rosa 360 19.6 1663
Santa Vitória do Palmar 6 16.6 1235
Santiago 426 17.9 1534
Santo Ângelo 289 19.6 1713
São Borja 96 20.1 1523
São Francisco de Paula 912 14.4 2162
São Gabriel 124 18.5 1355
Soledade 720 16.9 1986
São Luiz Gonzaga 254 19.7 1662
Tapes 5 18.8 1213
Taquara 29 19.4 1459
Taquari 76 19.1 1424
Torres 43 18.3 1409
Uruguaiana 69 19.7 1346
Vacaria 955 15.2 1412
Fonte: Instituto de Pesquisas Agronômicas (1989).
Quadro 1 Médias anuais da temperatura do ar (T) e médias dos totais anuais de precipitação
pluvial (P) das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul, pertencentes ao
DISME, utilizadas no estudo, período 1931-1960.
86
ESTAÇÕES
METEOROLÓGICAS
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez ano
Iraí 131 110 98 68 48 37 36 46 59 80 101 129 943
Santo Ângelo 136 113 101 68 46 32 33 44 54 77 98 130 932
Encruzilhada do Sul 115 99 89 65 44 33 30 37 48 64 86 109 819
Piratiní 116 99 89 62 44 28 28 35 45 60 79 110 795
Fonte: Fonte: Instituto de Pesquisas Agronômicas (1989).
Quadro 2- Evapotranspiração potencial das estações meteorológicas do Estado do Rio Grande
do Sul pertencentes ao DISME utilizadas no estudo, período 1941-1970 (pelo
diagrama de CAMARGO, 1966).
No diagrama de Camargo (1960) utilizou-se a evapotranspiração potencial ETp
mm/mês pela fórmula ETp = 16 (10Tn/I)
a
, sendo Tn a temperatura média do mês, I o índice
que expressa o nível de calor disponível na região e n representa o mês do ano.
Os perfis de solos do Rio Grande do Sul utilizados estão descritos em Streck et al.
(2002; 2008) e em Azevedo e Dalmolin (2006). Foram selecionados considerando as
diferenças entre solos originados da mesma rocha, basalto ou granito, a distribuição
geográfica do intemperismo, segundo as condições climáticas e os grupos de solos para as
latitudes médias estabelecidas por Marbut (1938) e descritos em Strahler e Strahler (2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No quadro 1 têm-se as médias dos totais anuais de precipitação pluvial e as médias
anuais de temperatura do ar de 41 estações meteorológicas do Rio Grande do Sul. As médias
dos totais anuais de precipitação pluvial, no Estado, são bem distribuídas ao longo dos doze
meses do ano e varia de, aproximadamente, 1.162mm (em Rio Grande, estação localizada a
sudeste) a 2.162mm (em São Francisco de Paula, estação localizada a nordeste). Buriol et al.,
(2008) constataram apenas uma pequena diminuição na distribuição da precipitação pluvial no
final da primavera e no verão. Tomando-se como referência a latitude de 30ºS, na parte norte
do Estado, em todos os meses do ano a precipitação pluvial é mais elevada do que na parte
sul. Isto é função, principalmente, da maior altitude nessa parte do Estado. Mas, tanto ao norte
como ao sul da latitude de 30°S é nas partes de maior altitude onde ocorrem as médias mais
elevadas dos totais mensais de precipitação pluvial. Assim, ao norte da latitude de 30ºS, é na
87
região de São Francisco de Paula (2162mm), localizada na parte mais alta da Serra do
Nordeste, e em Soledade (1986mm) e Palmeira das Missões (1919mm), localizadas nas partes
de maiores altitudes do Planalto e Missões onde ocorrem os valores totais médios anuais mais
elevados. Na metade sul do Estado, a partir de 30°S, é na Serra do Sudeste, em Caçapava do
Sul (1588mm).
A temperatura, no Rio Grande do Sul, apesar de apresentar variações durante o ano,
apresenta as médias anuais entre 14°C e 21°C. As menores médias anuais de temperatura do
Estado são registradas em Bom Jesus (14,4°C), localizada na Região da Serra do Nordeste e
as maiores, em São Borja (20,1°C), no Vale do Uruguai.
Considerando as médias dos totais anuais de precipitação pluvial e as médias anuais de
temperatura do ar na variação do tipo de intemperismo, o território do Rio Grande do Sul
enquadra-se nas condições de intemperismo químico forte e químico moderado. O
intemperismo químico forte predomina no Planalto Norte-rio-grandense e o químico
moderado predomina no Escudo sul-rio-grandense, na Depressão Central e na Planície
Costeira (figura 1a).
As disponibilidades hídricas e térmicas atuais do Rio Grande do Sul e a variação do
tipo de intemperismo favorecem a formação de solos das zonas temperadas quentes
(Pedalférricos) e de zonas quentes e úmidas (Lateríticos) conforme a divisão em grupos
zonais estabelecidas por Marbut (UNITED STATES DEPARMENT OF AGRICULTURE,
1938) e citada em Sthraler e Sthraler (2005) e em Press et al. (2006) (figura 1b).
a) b)
Figura 1 Distribuição geográfica do intemperismo químico forte e químico moderado nas
unidades geomorfológicas do Rio Grande do Sul (a) e o zoneamento dos grupos de
solos Pedalférricos e Lateríticos (b).
88
Os solos do grupo Pedalférrico ocorrem, preferencialmente, em regiões de clima
temperado e são descritos como solos com pronunciada lixiviação. Segundo Strhlaer e
Strhaler (2005), os valores médios anuais de precipitação pluvial acima de 600mm são
considerados condicionantes essenciais para ocorrência deste grupo. O intemperismo é
fundamental na desagregação e decomposição das rochas e as variações das condições
decorrem da precipitação pluvial anual e da temperatura média anual. Os solos do grupo
Pedalférrico formam-se em condições de intemperismo químico com índices de precipitação
pluvial anual até 1500mm (TEIXEIRA et al, 2003). No Rio Grande do Sul as condições
climáticas ideais para a formação desses solos são registradas nas estações meteorológicas
localizadas na Depressão Central (com exceção das estações de Santa Maria e Santa Cruz do
Sul), no Escudo Sul-Riograndense (com exceção de Caçapava do Sul), na Planície Costeira e
no Planalto Norte-rio-grandense apenas a região de Vacaria (figura 1b).
Os solos do grupo Laterítico, de climas quentes e úmidos, o intemperismo é rápido e
intenso e os solos tornam-se mais profundos. Nesses ambientes, com valores abundantes de
precipitação pluvial (acima de 1500mm anuais) e temperaturas altas, o intemperismo químico,
a decomposição das rochas e a vegetação de grande porte desenvolvem-se com facilidade
(PRESS et al., 2006). O Rio Grande do Sul, apesar de não localizar-se em latitudes de climas
quentes e úmidos, apresenta condições climáticas para o intemperismo das rochas e a
formação de solos Lateríticos. As condições climáticas das estações meteorológicas
localizadas no Planalto Norte-rio-grandense enquadram-se nas possibilidades de
desenvolvimento de solos zonais Lateríticos, com exceção de Vacaria, na Serra do Nordeste e
de Itaquí e de Uruguaiana na região do Vale do Uruguai (figura 1b).
Pelas médias dos totais anuais de precipitação pluvial (figura 2a), e pelas médias
anuais de temperatura (figura 2b) infere-se que, apesar dos meses de inverno serem
considerados frios, o Rio Grande do Sul apresenta condições favoráveis ao acúmulo de água
nos perfis e ao desenvolvimento de solos profundos, que podem ser formados a partir de
qualquer rocha matriz. Confirma-se que a precipitação pluvial (médias dos totais anuais e sua
distribuição ao longo dos doze meses do ano) desempenha papel preponderante na formação
dos solos Lateríticos (figura 1b e 1a).
89
a) b)
Figura 2 Distribuição geográfica das médias dos totais anuais de precipitação pluvial (a) e
das médias anuais de temperatura do ar (b), entre 1931 e 1960.
Fonte: Becker et. al (2008a).
Becker et al. (2008) ao relacionar os solos e as condições climáticas do Rio Grande do
Sul, por meio de modelos edafoclimáticos, concluíram que apenas uma parte da área do Rio
Grande do Sul é formada por solos zonais, especialmente aquelas mapeadas como sendo de
solos Latossolos, Chernossolos, Argissolos e Nitossolos e Argissolos (predominantemente
localizados no Planalto Norte-rio-grandense e na Depressão Central, respectivamente) é
explicada em função das disponibilidades climáticas atuais.
Portanto, as disponibilidades climáticas do Rio Grande do Sul, em escala global e na
classificação dos solos zonais, relacionam os solos do Estado com os grupos Pedalférricos e
Lateríticos (figura 1b).
No entanto, o território do Rio Grande do Sul, apesar de ser abrangido por condições
climáticas que determinam certa homogeneidade, se considerada as médias anuais de
precipitação pluvial e temperatura, apresenta, em escala regional, na maior parte do seu
território, grande diversidade de tipos de solos. Essa evidência poderia destacar a relação com
a grande variedade litológica do espaço geográfico do Estado. No entanto, uma mesma rocha
matriz pode gerar diferentes tipos de solos. De forma contrária, rochas diferentes, quando
submetidas à condições climáticas semelhantes, por um longo período de tempo, formam um
mesmo tipo de solo (TEIXEIRA, et al., 2003).
Nesse sentido, foram selecionados áreas do Estado que apresentam um mesmo
substrato rochoso para diferentes tipos de solos. Na região do Planalto Norte-rio-grandense,
90
em escala local, áreas mapeadas como sendo de uma mesma rocha-matriz e que
apresentam solos completamente diferentes entre si. Esses solos, a exemplo do Neossolo,
Chernossolo e Latossolo são gerados a partir de um mesmo substrato rochoso (basalto) e
submetidos a condições climáticas (precipitação pluvial e temperatura) semelhantes.
As áreas compreendidas como sendo de solos do tipo Neossolo, considerados solos
rasos com perfis pouco desenvolvidos ocorrem, especialmente, nas regiões da Encosta
Inferior do Nordeste e no Vale do Uruguai (figura 3a). Ocupam as áreas de declive com
relevo fortemente ondulado (3b). É considerado relevo forte ondulado a superfície de
topografia movimentada, formada por outeiros e/ou morros (elevações de 50 a 100m e de 100
a 200m de altitudes relativas, respectivamente), com declividade de 20 a 45% (SiBCS, 2006).
As disponibilidades climáticas da estação meteorológica de Santo Ângelo (evapotranspiração
potencial e precipitação pluvial) indicam condições de zonas de clima Úmido, Super-úmido e
Híper-úmido (3c). A litologia dominante é de rochas vulcânicas, remanescentes dos
sucessivos derrames de lava, e sedimentos derivados das mesmas. Segundo Medeiros (1995) a
maior área é de rochas básicas, porém os últimos derrames (superiores a 400m) possuem
composição ácida, classificados como riolitos e riodacitos.
a) b)
c)
Figura 3 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de EMATER/DIT
UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Neossolo com substrato de basalto e
paisagem de encosta (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e climograma
relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial, médias dos totais
anuais da estação meteorológica de Santo Ângelo (adaptado de Camargo, 1966)
(c
).
91
As áreas mapeadas como sendo de solos do tipo Chernossolo (figura 4a) também
ocorrem nas encostas do Vale do Uruguai, em relevos fortemente ondulados, nas porções
mais dissecadas pelas calhas dos afluentes do rio Uruguai (figura 4b). São solos rasos a
profundos e sua ocorrência está associada aos Neossolos. As disponibilidades climáticas da
estação meteorológica de Iraí (evapotranspiração potencial e precipitação pluvial) indicam
condições de zonas de clima Úmido, Super-úmido e Híper-úmido (4c). No contexto geológico
dominam rochas vulcânicas desde básicas (maior área) até ácidas que conferem aos
Chernossolos originados do basalto grau de fertilidade variado, influenciado pela percentagem
de argila e quantidade de água que percola no perfil.
a) b)
c)
Figura 4– Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de EMATER/DIT
UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Chernossolo com substrato de basalto e
paisagem fortemente ondulada a plana (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial,
médias dos totais anuais da estação meteorológica de Iraí (adaptado de Camargo,
1966) (c).
As áreas abrangidas pelos Latossolos são constituídas por relevos suavemente
onduladas e longas extensões planas (figura 5a), no topo do Planalto Norte-rio-grandense. É
considerado relevo suave ondulado a superfície de topografia pouco movimentada, constituída
por conjunto de colinas e/ou outeiros (elevações de altitudes relativas até 50m e de 50 a 100m,
respectivamente), apresentando declives suaves de 3 a 8% (SiBCS, 2006). Os Latossolos são
solos bem drenados, com perfis profundos a muito profundos e altamente intemperizados
(figura 5b). As disponibilidades climáticas da estação meteorológica de Santo Ângelo
(evapotranspiração potencial e precipitação pluvial) indicam condições de zonas de clima
Úmido, Super-úmido e Híper-úmido (5c). No contexto geológico onde dominam derrames
vulcânicos básicos (basalto) em relevos de coxilhas suave ondulado, submetidos a clima
92
úmido (precipitação pluvial bem distribuída ao longo do ano) os Latossolos são mais
argilosos e com presença abundante de limalha de ferro (magnetita de coloração preta) nos
valos de drenagem.
a) b)
c)
Figura 5 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de EMATER/DIT
UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Latossolo com substrato de basalto e
paisagem fortemente ondulada a plana (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial,
médias dos totais anuais da estação meteorológica de Santo Ângelo (adaptado de
Camargo, 1966) (c).
As condições climáticas (precipitação pluvial e temperatura) da metade norte do
Estado do Rio Grande do Sul e o substrato rochoso de basalto (predominante nessa região)
favorecem a formação de solos zonais do grupo Laterítico, profundos e altamente
intemperizados. As exceções ocorrentes estão associadas às regiões de maior declive do
relevo, onde o escorrimento superficial da água é maior e mais rápido e a infiltração é menor
e isso, provavelmente, desfavorece a ação do intemperismo químico desencadeado,
especialmente, pela disponibilidade de água no perfil.
A metade sul do Estado do Rio Grande do Sul e a região no entorno de Vacaria (na
metade norte), pelas condições climáticas (precipitação pluvial e temperatura) e de
intemperismo (figura 1a) caracteriza solos do grupo Pedalférrico (figura 1b).
Na metade sul do Estado, especialmente, na região do Escudo Sul-rio-grandense têm-
se grande diversidade geológica e de formação bastante antiga (Era Paleozóica), com
ocorrência de solos distintos entre si. As condições climáticas, se consideradas as médias dos
totais anuais de precipitação pluvial e as médias de temperatura do ar, apresentam certa
homogeneidade no período considerado.
93
Segundo o Departamento Nacional da Produção Mineral (1984) ocorrência
expressiva de granitos em várias áreas como São Sepé, Caçapava do Sul, Lavras do Sul, Dom
Feliciano, Encruzilhada do Sul. No contexto geológico de rochas graníticas têm-se solos
diferentes entre si e submetidos a condições climáticas (precipitação pluvial e temperatura)
semelhante, a exemplo do Neossolo, Cambissolo e Argissolo.
As áreas mapeadas do tipo Neossolo (figura 6a), abrangem uma área considerável do
Escudo Sul-rio-grandense (figura 6a) e ocorrem, especialmente, no relevo ondulado a forte
ondulado da Serra do Sudeste (figura 6b). As disponibilidades climáticas da estação
meteorológica de Encruzilhada do Sul (evapotranspiração potencial e precipitação pluvial)
indicam condições de zonas de clima Úmido, Super-úmido e Híper-úmido (6c).
Os Neossolos originados a partir do granito ocorrente no Escudo Sul-rio-grandense, de
litologia muito antiga, são solos de formação muito recente e apresentam perfis rasos e pouco
profundos e, geralmente, estão associados à afloramentos de rochas.
a) b)
c)
Figura 6 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de EMATER/DIT
UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Neossolo com substrato de granito e
paisagem ondulada da Serra de Sudeste (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial,
médias dos totais anuais da estação meteorológica de Encruzilhada do Sul
(adaptado de Camargo, 1966) (c).
As áreas de solos do tipo Cambissolo (figura 7a) originados do granito, também
ocorrem na Serra de Sudeste em relevos fortemente ondulados (figura 7b). São solos rasos a
profundos e sua ocorrência está associada à acumulação de matéria orgânica. As
disponibilidades climáticas da estação meteorológica de Piratini (evapotranspiração potencial
94
e precipitação pluvial) indicam condições de zonas de clima Úmido, Super-úmido e Híper-
úmido (7c).
É comum a presença de fragmento de rocha no perfil do Cambissolo, atestando pouca
intemperização do material de origem. Segundo Streck et al. (2008) a presença de material
orgânico no topo do perfil está associada às condições climáticas (menores temperaturas e
ocorrência de geadas). No Rio Grande do Sul a ocorrência dos Cambissolos corresponde às
regiões de maior altitude (Campos de Cima da Serra, Encosta Superior do Nordeste em que
predominam rochas básicas do tipo riolito e Serra do Sudeste em que predominam granitos).
Nessas regiões de maior altitude, as temperaturas mais baixas favorecem a acumulação da
matéria orgânica e a maior precipitação pluvial condiciona o intemperismo.
Segundo Streck et al. (2008) os Cambissolos são solos em processo de transformação e
por isso ainda apresentam poucas características para serem enquadrados em outras classes de
solos mais desenvolvidas.
Na região ao sul da Encosta do Sudeste e Serra do Sudeste, no entorno de Piratini, os
Cambissolos ocorrem associados aos Luvissolos e aos Argissolos também originados do
granito.
a) b)
c)
Figura 7 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de EMATER/DIT
UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Cambissolo com substrato de granito e
paisagem ondulada da Serra de Sudeste (adaptado de Streck et al, 2008) (b) e
climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial,
médias dos totais anuais da estação meteorológica de Piratini (adaptado de
Camargo, 1966) (c).
As áreas abrangidas pelos Argissolos são constituídas por relevos desde suave
ondulado até forte ondulado (figura 8b). Ocorrem em longas extensões planas da Depressão
Central e, de forma esparsa em todo o território do Rio Grande do Sul, a partir de diferentes
95
tipos de rochas (figura 8a). Na Serra do Sudeste têm-se Argissolos formados do granito
(figura 8b). Os Argissolos são solos geralmente profundos a muito profundos. As
disponibilidades climáticas da estação meteorológica de Piratini (evapotranspiração potencial
e precipitação pluvial) indicam condições de zonas de clima Úmido, Super-úmido e Híper-
úmido (8c).
a) b)
c)
Figura 8 Mapa de solos do Estado do Rio Grande do Sul (modificado de EMATER/DIT
UFRGS/DEP. SOLOS) (a), perfil de Argissolo com substrato de granito e
paisagem suave ondulada da Serra de Sudeste (adaptado de Streck et al, 2008) (b)
e climograma relacionando evapotranspiração potencial e precipitação pluvial,
médias dos totais anuais da estação meteorológica de Piratini (adaptado de
Camargo, 1966) (c).
Pelos resultados obtidos nos climogramas (evapotranspiração e precipitação pluvial),
nas estações meteorológicas utilizadas teve-se condições de clima Úmido, Super-úmido e
Híper-úmido.
Nas áreas com ocorrência de substrato rochoso de basalto e com condições climáticas
semelhantes (evapotranspiração e precipitação pluvial) têm-se diferentes tipos de solos
(Neossolo, Chernossolo e Latossolo). Da mesma forma, nas áreas com ocorrência de substrato
rochoso de granito e com condições climáticas semelhantes (evapotranspiração e precipitação
pluvial) têm-se tipos de solos distintos (Neossolo, Cambissolo e Argissolo).
96
CONCLUSÕES
Constatou-se que os solos do Rio Grande do Sul compreendem solos zonais,
determinados pelas características climáticas e dividem-se em dois grupos, os Lateríticos e os
Pedalférricos.
Os Lateríticos, solos de climas muito úmidos, no Rio Grande do Sul são representados,
predominantemente, pelos Latossolos e se encontram na metade norte do Estado, com médias
anuais de precipitação pluvial acima de 1500mm. Os pedalférricos, solos de climas úmido e
sub-úmido, no Rio Grande do Sul são descritos, especialmente, como Argissolos e se
encontram na metade sul do Estado.
As condições climáticas atuais do Rio Grande do Sul determinam o tipo de
intemperismo e os grupos de solos zonais, porém a relação entre o clima e a diversidade dos
tipos de solos existentes no Estado não pode ser explicada unicamente por meio das
disponibilidades climáticas.
97
REFERÊNCIAS
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publicação em 10.04.2008.
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Terra. São Paulo: Oficina de textos. 2003, 558 p.
VIERA, L. S. Manual da ciência do solo. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1975, 464 p.
99
3 CONCLUSÕES GERAIS
No Planalto Norte-rio-grandense predomina o intemperismo químico forte, enquanto
que na Depressão Central, no Escudo Sul-rio-grandense e na Planície Litorânea predomina o
intemperismo químico moderado.
Em estações meteorológicas com elevados valores de precipitação pluvial o
intemperismo químico na formação dos solos é forte, independente dos valores das
tenmeraturas. O principal agente do intemperismo químico, no Estado, é a água da
precipitação pluvial.
O modelo edafoclimático contido em Suguio (2003) confirma que o tipo e a
intensidade do intemperismo, no Estado, são determinados pela precipitação pluvial e pela
temperatura. O modelo indica que as condições climáticas favorecem a desagregação e
alteração da rocha, formação de solo e de lixiviação típicas da zona de monossialitização.
Foi possível verificar por meio do modelo apresentado em Teixeira et al. (2003) que
os valores da precipitação pluvial e da temperatura do ar de 41 estações meteorológicas do
Estado favorecem a formação de um solo com maior proporção de minerais secundários,
especialmente a caulinita e os oxi-hidróxidos.
O modelo edafoclimático de Géze (1959) enquadra as médias anuais de temperatura
do ar e as médias dos totais anuais de precipitação pluvial vigentes em 41 estações
meteorológicas do Rio Grande do Sul nas condições climáticas que favorecem solos das zonas
temperadas quentes.
Os resultados obtidos por meio dos modelos edafoclimáticos evidenciam que, no
Estado do Rio Grande do Sul, podem ocorrer solos profundos e bem desenvolvidos em função
das condições climáticas atuais (de temperatura e de precipitação pluvial).
O modelo edafoclimático de Lang (1915) enquadra todas as estações nas condições
climáticas para formação de Chernossolos.
Os modelos edafoclimáticos de Prescott (1931), Thornthwaite (1931), Aubert e Henin (1945),
Thornwaite e Hare (1955) e Budyko (1956) demonstram resultados semelhantes entre si e
indicam que as condições climáticas do Estado, de temperatura e precipitação pluvial,
favorecem a formação de Argissolos.
No modelo edafoclimático de Kohnke (1968) a maior parte das estações
meteorológicas localizam-se na zona de formação de Latossolos.
100
Os resultados obtidos nos modelos edafoclimáticos caracterizam condições climáticas
para a formação de solos de climas úmidos. Nestas condições, os solos apresentam condições
de meteorização e lixiviação em profundidade, favorecendo a formação de perfis
homogêneos, bem desenvolvidos e profundos. Isto condiz com as regiões do Estado
abrangidas pelos Argissolos, Latossolos e Nitossolos.
Desta forma, segundo os modelos edafoclimáticos aqui utilizados, apenas uma parte
dos solos ocorrentes no Rio Grande do Sul é explicada em função das disponibilidades
climáticas vigentes, especialmente aquelas que são mapeadas como sendo de Latossolos,
Chernossolos, Argissolos e de Nitossolos e Argissolos, predominantemente localizados no
Planalto Norte-rio-grandense e na Depressão Central, respectivamente.
No zoneamneto dos grupos de solos zonais, as condições climáticas do Rio Grande do
Sul indicam dois grupos: Lateríticos e Pedalférricos. Os Lateríticos, no Rio Grande do Sul são
representados, predominantemente, pelos Latossolos e se encontram na metade norte do
Estado, com médias anuais de precipitação pluvial acima de 1500mm. Os Pedalférricos, no
Rio Grande do Sul são descritos, especialmente, como Argissolos e se encontram na metade
sul do Estado.
As condições climáticas atuais do Rio Grande do Sul determinam o tipo de
intemperismo e os grupos de solos zonais, porém a relação entre o clima e a diversidade dos
tipos de solos existentes no Estado não pode ser explicada unicamente por meio das
disponibilidades climáticas.
Na região do Planalto Norte-rio-grandense, a partir do basalto e em condições
climáticas semelhantes (de precipitação pluvial e temperatura) ocorrem Neossolos,
Chenossolos e Latossolos.
Na região do Escudo Sul-rio-grandense, a partir do granito e em condições climáticas
semelhantes (precipitação pluvial e temperatura) ocorrem Neossolo, Cambissolo e Argissolo.
101
4 RECOMENDAÇÕES PARA FUTURAS PESQUISAS
A realização deste trabalho certamente encontrou algumas dificuldades e muitas
indagações que podem ser utilizadas como recomendações para futuras pesquisas e
proposições. O processo evolutivo da biosfera decorre da própria natureza do universo, que
está em constante mudança. Na interpretação dos fatores que regem a formação dos solos são
enunciados cinco condicionantes que agem de forma integrada: o clima que atua diretamente
sobre a rocha, o relevo e os organismos ao longo do tempo.
Focalizar e estudar apenas um destes fatores, o clima, e sua relação com o solo de uma
determinada área pode parecer uma visão determinística. Nesta linha, as críticas são
recorrentes ao afirmarem que a estrutura geológica, o relevo, os organismos e o tempo devem
ser considerados numa relação dialética nas interpretações dos fatores de formação do solo.
Não há dúvidas de que o mundo orgânico é um todo relacionado. No entanto, no exame desse
conceito deve-se ter em conta que os processos naturais apresentam causalidade e estão
sujeitos às leis físico-quìmicas do seu ambiente. No ambiente específico aqui estudado, o
solo, a ação do clima apresenta uma causalidade dupla: diretamente proporciona água e calor
para a realização de reações químicas nas rochas e indiretamente determina a flora e a fauna
local que, por sua vez, agem efetivamente no processo evolutivo do solo.
Para um melhor entendimento do processo que desencadera o intemperismo e, por
conseqüência, a pedogênese, é importante focalizar e estudar o clima e sua relação com o
solo. Para que isto ocorra, são necessários estudos primários, quantitativos e cartográficos,
que evidenciam esta relação em escalas regionais. Assim, será possível, gradativamente,
aproximar e estudar de forma integrada os cinco fatores formadores do solo.
Entretanto, as relações entre o intemperismo e o clima nem sempre são muito fáceis de
ser estabelecidas, porque praticamente todas as áreas da Terra estiveram submetidas no
passado a climas diferentes dos atuais. Da mesma forma, comumente é difícil definir se
determinados processos e relevos são compatíveis ou não com os regimes climáticos vigentes.
A diversidade dos tipos de solos nem sempre o mensuráveis por meio de modelos
edafoclimáticos. A maioria dos trabalhos com modelos edafoclimáticos restringe-se a
pequenas áreas ou direciona-se, especificamente, para o zoneamento edafoclimático de
determinadas plantas para agricultura.
102
Essas evidências abrem um horizonte de investigação interessante para o estudo das
relações entre solo e clima, a criação de novos modelos que contemplem essas relações em
escalas regionais.
103
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