Observando-se a quarta coluna sobre os dados pluviométricos da série histórica
de Curitiba, nota-se no Quadro 3, no item 3, que em 1983 a precipitação pluviomé-
trica foi de 97,9mm, deixando 8.240 pessoas desabrigadas e 2.065 casas inundadas,
atingindo os bairros de Curitiba: Boqueirão, Uberaba, Cajuru, Tarumã, Bairro Alto,
Santa Cândida, Barreirinha, Pilarzinho, São João, Vista Alegre, Cascatinha e cavas
do rio Iguaçu (Bolsão Audi). Segundo o Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR),
nesse ano ocorreu o fenômeno El Niño, que são alterações climáticas, afetando os
regimes de chuvas em regiões tropicais.
Nesse período, a experiência acumulada indica uma variedade muito similar de
distúrbios emocionais como, por exemplo, medo crônico, depressão, ansiedade,
sentimento de culpa, e outros, envolvendo não somente as "vítimas primárias", mas
também as "vítimas indiretas", o que pode dificultar a reconstrução de suas vidas.
Coforme já visto, a insegurança e a destruição de crenças constituem
características marcantes do mundo em que se vive (MATTEDI, 2007a).
A dificuldade de atuar sobre os desastres está nas formas de caracterização e
interpretação do fenômeno, e também na priorização nas agendas políticas, econômicas
e sociais de cada comunidade.
As medidas urbanísticas adotadas na enchente de 1983 basearam-se apenas
nas emergenciais, ou seja, relocações de algumas moradias, elevação de casas,
retificação e dragagem de rios, tratamento de taludes, limpeza e desobstrução de
valetas e tubulações. Porém, essas medidas não eliminaram de vez a probabilidade
de o fenômeno acontecer novamente. Conforme Marandola e Hogan (2005), na
reconstrução de um desastre deve-se levar em conta as variáveis ambientais, plane-
jamento, gestão e o homem. Neste caso não foram consideradas as medidas estruturais
de planejamento e gestão para evitar novas ocorrências deste tipo de desastre.
De fato, analisando-se novamente o Quadro 3, item 9, nota-se que em 1995 o
fenômeno do El Niño se fez presente novamente, conforme o mapa da Figura 17.
A precipitação pluviométrica foi de 121mm, atingindo 16.655 pessoas e inundando
3.999 casas. Diante da dimensão do impacto, na época foi decretado Estado de
Calamidade Pública pelo Prefeito de Curitiba e o Governo do Estado decretou Estado
de Emergência na Região Metropolitana de Curitiba. Além das medidas emergenciais
de socorro às vitimas, tomou-se como medida urbanística estrutural a construção de
um Canal Extravasor ao longo do rio Iguaçu (será objeto de análise a seguir). No