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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA
CIRLANE SILVA FERREIRA
Análise bioquímica e equilíbrio ácido-base em Biomphalaria glabrata
(Say, 1818), hospedeiro intermediário do Schistosoma mansoni
(Sambon, 1907), sob a exposição ao Stryphnodendron polyphyllum
(Martius, 1837), planta moluscicida do Cerrado brasileiro.
Orientador:
Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra.
Dissertação de Mestrado
Goiânia-Goiás, 2006.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL
CIRLANE SILVA FERREIRA
Análise bioquímica e equilíbrio ácido-base em Biomphalaria glabrata
(Say, 1818), hospedeiro intermediário do Schistosoma mansoni
(Sambon, 1907), sob a exposição ao Stryphnodendron polyphyllum
(Martius, 1837), planta moluscicida do Cerrado brasileiro.
Orientador:
Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra.
Dissertação de Mestrado submetida ao PPGMT/IPTSP/UFG como
requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre na área de Concentração
de Parasitologia.
Goiânia-Goiás, 2006.
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ii
DEDICATÓRIA
Ao meu querido marido, Carlos Roberto Ferreira, pela
dedicação, incentivo e pelo apoio nos momentos difíceis durante a realização
deste trabalho.
Ao meu filho Renato Silva Ferreira, razão de minha existência,
dedico este trabalho.
Cirlane Silva Ferreira
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus por me proporcionar inteligência e sabedoria nesta longa
caminhada de aprendizado e vitórias.
Ao Professor Dr. José Clecildo Barreto Bezerra, professor adjunto do
departamento de parasitologia, IPTSP/UFG, minha gratidão pela
oportunidade, confiança, incentivo e orientação deste trabalho.
Ao meu marido, Carlos Roberto Ferreira, pelo companheirismo, pela
atenção, compreensão e principalmente pelo amor demonstrado durante
toda esta trajetória.
Ao meu filho, Renato Silva Ferreira, pelas demonstrações de carinho
nas horas difíceis.
Aos meus pais, Gaspar Silva e Aida Maria da Silva pela oportunidade
de estudo e apoio dispensado neste sentido.
Ao meu sogro Oscar Cardoso Ferreira e minha sogra Dolores Moreira
Ferreira, pela disposição em ajudar sempre.
Aos queridos amigos Francisco Gilson Montenegro, Laís Rocha
Montenegro, Ricardo Wagner de Oliveira e Rosana Evangelista Pinto de
Oliveira, a minha eterna gratidão por ajudar-me a dar os primeiros passos
nesta caminhada.
À Darcy Arruda Villela, chefe do setor de Análises Clínicas do Hospital
de Urgências de Goiânia, pela contribuição inestimável e por tanta
compreensão durante a realização desta titulação.
Às amigas Marina Clare Vinaud e Josireny Mariano Mendes que
contribuíram para o fortalecimento e engrandecimento deste trabalho.
Cirlane Silva Ferreira
iv
Aos amigos, colegas do mestrado, técnicos e funcionários do
IPTSP/UFG pela colaboração na realização deste trabalho.
E a todos que mesmo não citados aqui contribuíram, diretamente ou
indiretamente, possibilitando a realização deste trabalho, os meus sinceros
agradecimentos.
Cirlane Silva Ferreira
v
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................. - vii-
ABSTRACT .............................................................................. - ix-
LISTA DE FIGURAS ................................................................. - xi -
LISTA DE TABELAS................................................................. - xiii -
LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................... - xiv -
INTRODUÇÃO ......................................................................... -1-
1. A Esquistossomose e o molusco Biomphalaria glabrata . -1-
2. Controle da esquistossomose ........................................ -7-
3. Controle com produtos naturais. .................................. -11-
4. Metabolismo de B. glabrata.................................................
4.1) Equilíbrio ácido-basico e do pH.................................
4.2) Metabolismo da Glicose..............................................
4.3) Metabolismo de Aminoácidos......................................
4.4) Metabolismo do Cálcio.................................................
-14-
-16-
-18-
-20-
-22-
JUSTIFICATIVA ....................................................................... -24-
OBJETIVOS............................................................................. -26-
ARTIGO 1. Análise do Equilíbrio Ácido-Base em Biomphalaria
glabrata (Say, 1818), sob exposição a Stryphnodendron
polyphyllum
(
Martius, 1837
)
, planta moluscicida do Cerrado
brasileiro....................................................................................... -27-
ARTIGO 2 - Análise do metabolismo de proteínas, da via glicolítica
e da fosforilação oxidativa de Biomphalaria glabrata
(
Say, 1818
)
sob ação do extrato da planta do Cerrado brasileiro
Cirlane Silva Ferreira
vi
Stryphnodendron polyphyllum (Martius, 1837)............................. -43-
CONCLUSÕES FINAIS ............................................................. -68-
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... -70-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................ -72-
ANEXOS.................................................................................. -87-
Cirlane Silva Ferreira
vii
RESUMO
O Estado de Goiás representa uma área de alto risco ao
estabelecimento da esquistossomose. A presença do hospedeiro
intermediário, Biomphalaria sp, somada à elevada migração de pessoas
oriundas de regiões endêmicas do país são fatores que favorecem a
instalação do ciclo desta doença. Há, no Estado de Goiás, relatos de casos
com alta intensidade parasitária, e até mesmo um caso com paraplegia
associada a esquistossomose. O Stryphnodendron polyphyllum (Martius,
1837) conhecido como “Barbatimão de Folha Pequena” é relatado como
planta moluscicida. Neste trabalho, avaliou-se a atividade de extratos brutos
da casca do caule de S. polyphyllum sobre o metabolismo e o equilíbrio
ácido-base do B. glabrata. Os moluscos foram expostos ao extrato por 24
horas, nas concentrações de 25 e 50 mg/L, e comparados com um grupo
controle. Foram avaliadas as concentrações de glicose, cálcio, uréia,
proteínas e atividade das enzimas lactato desidrogenase e aminotransferases
pelo método de espectrofotometria. Os ácidos orgânicos citrato, propionato,
α-cetoglutarato, succinato, acetato, malato, fumarato, piruvato e lactato
foram dosados pelo método da cromatografia líquida. Dos ácidos orgânicos
encontrados na hemolinfa apenas o citrato e o propionato tiveram uma
alteração significativa. O equilíbrio ácido-base foi verificado pela medida das
concentrações de pH, oxigênio, gás carbônico, íons carbonatos e saturação
de oxigênio através de equipamento Radiomiter.
Cirlane Silva Ferreira
viii
O extrato de S. polyphyllum testado demonstrou ação efetiva,
observada pelo estabelecimento de toxicidade celular sobre B. glabrata. (Say,
1818). As alterações apresentadas nas dosagens bioquímicas refletem os
distúrbios metabólicos ocorridos na hemolinfa deste molusco. A interferência
deste extrato fez com que os níveis de glicose, uréia, cálcio, aspartato,
alanina aminotransferases e pressão de gás carbônico se elevassem,
enquanto que os níveis de lactato desidrogenase, pH, pressão de oxigênio,
íons carbonato e saturação de oxigênio diminuíram.
Este trabalho confirma a bioatividade do extrato aquoso de S.
polyphyllum sobre o B. glabrata. Uma das principais contribuições desse
estudo desenvolvido é a observação pós-contato direto com o extrato que
demonstrou uma bioatividade sobre o metabolismo do molusco. A análise de
extrato aquoso obtido do caule do barbatimão pode subsidiar nova
alternativa de menor toxicidade e menor custo financeiro no controle da
esquistossomose no Brasil, onde o Cerrado é vasto e a carência de recursos é
freqüente no setor da saúde.
Palavras Chaves: Biomphalaria glabrata, Cerrado, CLAE, controle,
equilíbrio ácido-base, metabolismo, Schistosoma mansoni, Stryphnodendron
polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
ix
ABSTRACT
The state of Goiás represents a high risk to schistosomiasis stablishment
area. The presence of the intermediate host, Biomphalaria sp, added to high
migration levels of people from endemic regions of the country; are evidences
that favour the installation of this disease life cycle. In this state of Goiás,
there are reports of high parasitary intensity and even cases of paraplegia
associated with schistosomiasis. The Stryphnodendron polyphyllum (Martius,
1837) known locally as “Barbatimão de folha pequena”, is reported as a
molluscicide plant. This paper assesses the activity of gross bark extracts
from S. polyphyllum on the metabolism and on the acid-alkaline balance of
B. glabrata. The mollusks were exposed to the extract at 25 and 50 mg/L
concentrations for 24 hours and compared to a control group. The
concentrations of glucose, calcium, urea, proteins and the activity of the
following enzymes: dehydrogenases lactate and aminotransferases were
estimated using the spectrophotometry method. The organic acids citrate,
propionate, α- cetoglutarate, succinate, acetate, malate, fumarate, pyruvate
and lactate were detected and quantified using the liquid chromatography
method. Of all the organic acids found in the hemolymph, only citrate and
propionate presented a significant alteration. The acid-alkaline balance was
verified by measuring the concentrations found in the pH, oxygen, carbonic
gas, carbonate ions and oxygen saturation using Radiomiter equipment.
The S. polyphyllum extract tested proved effective due to celular toxicity
on B. glabrata.(Say 1818). Alterations verified in the biochemical dosages
reflect the metabolic disturbances in the hemolymph of the mollusk. The
Cirlane Silva Ferreira
x
extract interference caused an increase in the levels of glucose, urea,
calcium, aspartate, alanine aminotransferases and carbonic gas pressure,
simultaneously causing a decrease in the levels of lactate dehydrogenase,
pH, oxygen pressure, carbonate ions and oxygen saturation.
This study confirms the bioactivity of the S. polyphyllum aqueous extract
on B.glabrata. One of the main contributions of the methodology used is that
it enabled observation after direct contact with the extract that proved
bioactivity on the metabolism of the mollusk. The analysis of the aqueous
extract taken from the bark of the “barbatimão” may be the basis for new
and less toxic, as well as less costly alternative for the control of
schistosomiasis in Brazil, where the savannah is vast and financial
resources are often scarce in the health sector.
Key words: acid-alkaline balance, Biomphalaria glabrata, control,
HPLC, metabolism, savannah, Schistosoma mansoni, Stryphnodendron
polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Figura 1. Ciclo biológico de Schistosoma mansoni .......
- 5 -
Figura 2 - Metabolismo da via glicolítica e dos aminoácidos ........
-22-
Figura 3 – a
)
Taxas de pH, b
)
concentrações de íons carbonatos, c
)
pressão parcial de gás oxigênio e gás carbônico,d
saturação de
oxigênio na hemolinfa de Biomphalaria glabrata
expostos ao
extrato de caule de Stryphnodendron polyphyllum, nas
concentrações de 25 e 50 mg/L..............................................
- 37 -
Figura 4 – Efeitos do extrato de Stryphnodendron polyphyllum no
equilíbrio ácido-base do Biomphalaria glabrata............................
- 38 -
Figura 5 – Representa o dióxido de carbono produzido pelo
metabolismo, a sua pequena dissociação em íons e o equilíbrio
sob a forma de CO
2
dissolvido e água..........................................
- 39 -
Figura 6 - Representa o pH na acidose e na alcalose. Demonstra
também os limites de tolerância do organismo aos desvios de pH.
- 41 -
Figura 7 – Taxas de glicose e cálcio na hemolinfa de Biomphalaria
glabrata exposto ao extrato do caule de Str
y
phnodendron
polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50
mg/L............................................................................................
- 54 -
Figura 8- Taxas de uréia e proteínas na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata exposto ao extrato do caule de
Stryphnodendron polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50
Cirlane Silva Ferreira
xii
mg/L............................................................................................
- 55 -
Figura 9 – Taxas da atividade enzimática na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata exposto ao extrato do caule de
Stryphnodendron polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50
mg/L..................................................................................................
- 57-
Figura 10. Esquema resumido da produção de ácidos orgânicos
- 65 -
.
Cirlane Silva Ferreira
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Análise do equilíbrio ácido-base na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata expostos ao extrato do caule de
Stryphnodendron polyphyllum, nas concentrações de 25 e
50mg/L valor em média±desvio padrão ou mediana (mínimo -
máximo)..................................................................................
- 36 -
Tabela 2. Análise bioquímica da hemolinfa de Biomphalaria
glabrata expostos ao extrato do caule de Str
y
phnodendron
polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50mg/L valor em
média±desvio padrão ou mediana (mínimo -
máximo).....................................................................................
- 53 -
Tabela 3. Média e Mediana da concentração
(
mmol/L
)
de ácidos
orgânicos presentes na hemolinfa de Biomphalaria glabrata,
grupo controle e o grupo teste exposto a 25 e 50 mg/L do extrato
de Stryphnodendron polyphyllum ................................................
- 59 -
Cirlane Silva Ferreira
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS
ADP – Adenosina di-fosfato
ALT – Alanina aminotransferase
AST – Aspartato aminotransferase
ATP – Adenosina tri-fosfato
BH – Belo Horizonte
cAMP – Adenosina-5`-monofosfato cíclico
CFX – Clesosulfontaleina
CLAE – Cromatografia líquida de alta performance
IFCC – Federação Internacional de Química Clínica
IPTSP – Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
LDH – Lactato desidrogenase
mmol/L – milimol por litro
NAD – Nicotinamida adenina dinucleotídeo
PFK – Fosfofrutoquinase
pH – Potencial hidrogeniônico
mg/L – Partes por milhão
SUCAM - Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
SFBC – Sociedade Francesa de Biologia Clínica
UFG – Universidade Federal de Goiás
U/L – Unidades internacionais por litro
UVAA – Ultravioleta para analisador automático
Cirlane Silva Ferreira
xv
Cirlane Silva Ferreira
1
INTRODUÇÃO
1) A Esquistossomose e o molusco Biomphalaria glabrata
Exames em múmias do antigo Egito revelaram lesões produzidas pela
doença esquistossomose conhecida desde a antiguidade. Em 1852, o médico
alemão, Theodor Bilharz descobriu o verme causador desta doença, o
trematódeo do gênero Schistosoma. Atualmente registra-se a existência de
cinco espécies dentro deste gênero, que causam a doença ao homem:
Schistosoma mansoni, S. haematobium, S. japonicum, S. intercalatum e S.
mekongi. No Brasil, a transmissão da doença teve início com a chegada dos
escravos africanos. Em 1951, Pirajá da Silva relata os primeiros casos.
(SUCEN 2001).
O agente causador da esquistossomose, no Brasil, é o trematódeo
digenético S. mansoni. Os vermes adultos vivem dentro de pequenas veias do
intestino posterior e do fígado do homem doente; alcançam até 12 mm de
comprimento por 0,44 mm de diâmetro. A manutenção do ciclo de vida deste
parasito é pela presença de espécies do molusco aquático do gênero
Biomphalaria, hospedeiro intermediário. Das várias espécies de moluscos
existentes no Brasil, três mostraram-se capazes de infectar-se com o S.
mansoni, Biomphalaria tenagophila, B. glabrata e B. straminea (Rey 1991).
Em vista da prevalência, morbidade e mortalidade, essa doença é um
sério problema de saúde pública no Brasil, ocorrendo do norte ao centro sul
do país (Mendes et al. 1999; Katz, Peixoto 2000).
O Estado de Goiás representa uma área de alto risco ao
estabelecimento da esquistossomose. A presença do hospedeiro
Cirlane Silva Ferreira
2
intermediário, Biomphalaria sp, somada à elevada imigração de pessoas
oriundas de regiões endêmicas do país são fatores que favorecem a
instalação do ciclo desta doença. A transmissão da esquistossomose é
limitada ao município de Padre Bernardo. A prevalência em 2002 foi de
1,86%. A média anual de internação por esquistossomose, no período de
1999 a 2003, foi de sete e taxa de 0,19/10 mil internações. O número médio
de óbitos, no período de 1998 a 2002 foi de três com taxa de mortalidade de
0,06/100 mil habitantes. As internações e óbitos são de pacientes de outros
estados (Ministério da Saúde 2005).Há, no Estado, relatos de casos com alta
intensidade parasitária, e até mesmo um caso com paraplegia associada a
esquistossomose. (Bezerra et al. 1996).
Vale ressaltar que é indispensável o tratamento dos pacientes com
infecção. Na atualidade conta-se com dois medicamentos, apenas, para o
tratamento corrente da esquistossomose mansônica: oxamniquine e
praziquantel. Os medicamentos são geralmente inativos contra as formas
larvárias (esquistossômulos), de modo que, em pacientes reinfectados pouco
antes do tratamento existe a possibilidade de tais formas juvenis escaparem
ao efeito terapêutico e transformarem-se, depois, em vermes adultos,
reiniciando a eliminação de ovos nas fezes (Rey 1991).
No entanto, no período de tratamento, o ciclo infeccioso não se
interrompe totalmente e, conseqüentemente, a resistência do parasito aos
agentes quimioterápicos pode agravar o problema. O tratamento pela
oxamniquine pode selecionar linhagens de S. mansoni resistentes a essa
droga. A resistência dos helmintos comporta-se como um caráter mendeliano
recessivo e parece depender da falta de produção de uma enzima que
Cirlane Silva Ferreira
3
converta a oxamniquine em um metabólito ativo. Assim, em pacientes que
tendo recebido a medicação correta não se curaram, é conveniente refazer o
tratamento com outra droga (Rey 1991). Desse modo, são necessárias ações
que possam contribuir para interromper o ciclo de vida de S. mansoni e,
assim, controlar a esquistossomose.
Além do tratamento das pessoas infectadas, uma das maneiras mais
eficientes e rápidas de redução da transmissão da esquistossomose é a
interrupção do ciclo de vida do parasito por meio do combate aos moluscos
com o uso de moluscicidas, prevenindo dessa maneira a infecção humana
(Souza et al. 1997).
O S. mansoni desenvolve sua fase adulta como parasito na luz dos
vasos sanguíneos do homem e de outros mamíferos, habitando
preferencialmente as vênulas do plexo hemorroidárias superior e as
ramificações mais finas das veias mesentéricas, particularmente da
mesentérica inferior, onde põe seus ovos. Depois de atravessarem a parede
intestinal, os ovos, que apresentam um espinho lateral, são eliminados com
as fezes. Quando chegam às águas superficiais, liberam seus miracídios, que
nadam durante horas até encontrarem os moluscos do gênero Biomphalaria.
Penetrando nos tecidos do molusco, os miracídios transformam-se em
esporocistos que, por poliembrionia, geram esporocistos filhos e depois
cercárias. Várias gerações de esporocistos podem suceder-se, todas,
produzindo, por algum tempo, cercárias. Estas abandonam o hospedeiro
intermediário e nadam ativamente, quase sempre em direção à superfície,
até encontrarem o hospedeiro definitivo, o homem ou outro mamífero
susceptível. Penetram na sua pele, onde logo se transformam em
Cirlane Silva Ferreira
4
esquistossômulos. Os parasitos que não são destruídos na pele ganham a
circulação sanguínea e chegam no coração, depois nos pulmões (onde
também podem ser retidos e destruídos) e, em seguida, no fígado. Quando
chegam no sistema porta hepático, os esquistossômulos desenvolvem-se e
alcançam a fase adulta (Fig.1). Os vermes adultos acasalam-se e migram
para as vênulas da parede intestinal, migrando contra a corrente sanguínea
pela veia porta e veias mesentéricas (Rey 1991).
Cirlane Silva Ferreira
5
.
Miracídio
Adultos
OVO
Cercária
Figura 1. Ciclo biológico de Schistosoma mansoni (Bezerra et al 1997).
Na maioria das vezes, a infecção humana por S. mansoni costuma ser
assintomática ou oligossintomática; mas ela pode produzir alterações
anatomotológicas cujo caráter e gravidade cobre extensa gama de situações,
o que imprime a essa doença grande polimorfismo e, em muitos casos,
prognóstico incerto (Rey 1991). Aquelas com sintomas podem apresentar
uma fase aguda e outra crônica.
A fase aguda geralmente só é percebida em pessoas de área não
endêmica e depende do número de cercárias infectantes. Inicialmente, surge
uma coceira e vermelhidão no local de penetração da cercária, a dermatite
cecariana. Pode aparecer febre, suores frios, dor de cabeça, dores
musculares, cansaço, perda de apetite, emagrecimento, tosse, dores
Cirlane Silva Ferreira
6
abdominais. Algumas pessoas relatam enjôos e vômitos. O fígado fica um
pouco aumentado e doloroso à palpação.
A fase crônica pode se manifestar de três formas: intestinal, hepato-
intestinal e hepato-esplênica. Na primeira forma, a diarréia é o sintoma mais
comum. Pode acontecer perda de apetite, cansaço e abdome doloroso à
palpação. Na forma hepato-intestinal os sintomas são os mesmos, porém,
mais acentuados, hepatoesplenomegalia. A forma hepato-esplênica tem este
nome devido a lesões no fígado e baço na qual o indivíduo queixa-se de
tumor no abdome, já que o fígado e baço estão muito aumentados de
volume. A lesão no fígado leva ao aparecimento de varizes no esôfago, e como
sintomas vômitos e sangue nas fezes. Pode ocorrer aumento do tamanho do
abdome, com presença de líquido (ascite). Esta forma aparece nas áreas de
maior incidência como Nordeste e Minas Gerais (SUCEN 2001).
O B. glabrata, está comumente associado à vasta distribuição e à alta
morbidade da esquistossomose mansônica no Brasil, advindo, desse fato,
sua grande importância em saúde pública (Rey 1993). O molusco,
hospedeiro intermediário, tem papel crucial no desenvolvimento desta
parasitose, pois é um elemento obrigatório no ciclo. Ou seja, podemos dizer
que se num local encontramos exemplares do molusco e a presença de
somente um paciente liberando ovos viáveis, associados às condições
inadequadas de saneamento básico, ali poderá se estabelecer um novo foco
de doença, tal é sua importância (Moyou-Somo et al. 2003).
O homem parece constituir, em geral, o único reservatório importante
do S. mansoni. Nesse particular difere do S. japonicum que admite grande
número de mamíferos como hospedeiros vertebrados ou que, na variedade
Cirlane Silva Ferreira
7
existente em Taiwan (China), só se desenvolve em hospedeiros não
humanos, principalmente o cão (Rey 1991).
O S. mansoni tem comportamento intermediário entre os de S.
haematobium e de S. japonicum. Em condições naturais infecta marsupiais,
desdentados, roedores, artiodátilos, canídeos, primatas e bovinos. Dos
roedores, destaca-se pelas taxas elevadas de infecção o rato-lava-pés
(Nectomys squamipes), o rato-de-cana (Holochilus sciureus) e o rato-porco
(Oxymycterus angulares), que apresentam ampla distribuição geográfica no
Brasil, e vivem próximo das coleções líquidas, nos vales, canaviais e
capinzais(Rey 1991)
2) Controle da esquistossomose
O S. mansoni tem no homem seu principal hospedeiro definitivo e as
modificações ambientais produzidas pela atividade humana favorecem a
proliferação dos caramujos transmissores. O Programa de Controle de
Esquistossomose Mansônica, no Ministério da Saúde, tem como linhas
mestras o diagnóstico e o tratamento quimioterápico com busca de novos
casos. A vigilância epidemiológica é fundamentada na busca passiva de
casos por meio de sensos coproscópicos direcionados à população de risco. É
uma doença tipicamente condicionada pelo padrão sócio-econômico precário
que atinge a maioria da população brasileira. É importante salientar que
cada foco de transmissão tem suas peculiaridades e que a estratégia de
controle deve levar em consideração estas características. Assim, em
pequenos focos, restritos às vezes a uma única coleção aquática, o
aterramento ou canalização deste criadouro pode resultar na extinção do
foco (Amaral, Porto 1994).
Cirlane Silva Ferreira
8
Além disso, devem ser tomadas medidas profiláticas para que novos
casos não apareçam na região. Entre elas podemos citar: tratamento dos
doentes, saneamento básico, combate dos caramujos transmissores e
educação sanitária da população (Amaral, Porto 1994).
Tem sido feito um grande esforço para evitar o contato do homem com
águas contaminadas, porém este é feito, por motivos de necessidades
trabalhistas, envolvendo lavadeiras, pescadores, trabalhadores em
plantações de arroz, e de lazer como crianças que se banham em lagos e rios
contaminados. Em tais situações deve-se fazer um trabalho de educação da
população, conscientizando-a do problema, além de melhorar as condições
sanitárias locais, afastando os indivíduos das águas que contém caramujos.
A construção de banheiros adequados nas habitações, tanques públicos
para a lavagem das roupas, piscinas públicas destinadas ao lazer das
crianças, rede de abastecimento de água e esgoto são algumas das medidas
indicadas (Schall 1995, Moza et al. 1998).
Para o controle da esquistossomose, devem ser considerados fatores
epidemiológicos, tratamento de casos positivos, combate ao hospedeiro
intermediário, educação sanitária e saneamento básico. Para obter-se um
moluscicida ideal, esse deve ser letal para qualquer estágio de vida do
molusco, ser de fácil estocagem, apresentar baixo custo, ser seguro para o
aplicador, ser efetivo em baixas concentrações. Poucos produtos sintéticos
usados atualmente apresentam estes requisitos, e o mais recomendado para
aplicação em grande escala, pela Organização Mundial de Saúde no controle
da esquistossomose é a niclosamida (Bayluscide
®
) (Who 1993, Souza et al.
1997).Esta droga destaca-se por sua alta toxicidade para os moluscos, tem
Cirlane Silva Ferreira
9
atividade letal de 100% na concentração 1 mg/litro. Os inconvenientes da
droga são seu custo elevado e toxicidade para peixes e pequenos animais.
Nas últimas décadas tem-se constatado o envolvimento de muitos
pesquisadores na busca de novos compostos de plantas que possuam estas
propriedades (Mendes et al. 1999).
Recomenda-se que o controle dessa endemia seja baseado em medidas
integradas entre o progresso tecnológico e a agricultura moderna. O combate
aos hospedeiros intermediários é considerado imprescindível, destacando-se,
para esse fim, o uso de medidas ambientais, tais como abastecimento de
água tratada, as instalações sanitárias e o tratamento dos esgotos
sanitários, ou seu destino adequado, sendo estas as mais importantes em
saúde pública (WHO 1998). Entretanto, a eficácia do controle depende dos
conhecimentos sobre a ecologia desses moluscos, a composição do habitat,
condições gerais e sobre seu papel na situação epidemiológica local (Madsen
1992).
Dentre as atividades de controle de esquistossomose, destaca-se a
quimioterapia com oxamniquina, em pacientes com a doença, administrado
por via oral, é absorvido prontamente e age sobre as formas adultas do
parasito, realizada pelas Unidades de Saúde e eventualmente pela SUCAM. A
aplicação de moluscicidas em coleções hídrica com planorbídeos infectados
mata os moluscos adultos e destroem as desovas e as formas larvais do
Schistosoma. As ações educativas têm assumido papel complementar no
programa (SUCEN 1989). As drogas administradas aos pacientes até o
presente momento reduzem a morbidade, mas não controlam a transmissão
Cirlane Silva Ferreira
10
da doença, pois não imunizam o paciente, além de provocarem na maioria
das vezes, reações colaterais desagradáveis (Mendonça 2003).
Em busca de novas drogas no controle dos moluscos hospedeiros
intermediários da esquistossomose, as plantas são sempre lembradas como
fontes alternativas. Apesar do aumento de estudo nessa área, os dados
disponíveis revelam que apenas 15 a 17% das plantas brasileiras foram
estudadas quanto ao seu potencial medicinal (Soeyarto 1996).
O controle da população dos moluscos hospedeiros intermediários B.
glabrata tem sido feito com moluscicidas sintéticos que trazem danos ao
ecossistema por não terem especificidade de seu alvo, atingindo não só o
molusco, mas também o plâncton, e animais que dependem, dele, criando,
muitas vezes, desequilíbrio na cadeia trófica (Mendonça 2003).
Nos últimos anos tem-se verificado um grande avanço científico,
envolvendo os estudos químicos e farmacológicos de plantas medicinais que
visam obter novos compostos com propriedades terapêuticas (Filho,Yunes
1998) e embora as drogas sintéticas constituam maioria nas farmácias
caseiras, os medicamentos à base de plantas, vêm ganhando um espaço
cada vez maior no combate e tratamento de diversas doenças, entre elas a
esquistossomose(Wink 1990). Planta de uso medicinal de família
Euphorbiacae, a Euphorbia milii, foi amplamente testada contra miracídios e
cecárias de S. mansoni apresentando atividade na concentração de 100
mg/L (Carvalho et al. 1998).
3) Controle com produtos naturais
Cirlane Silva Ferreira
11
Moluscicidas extraídos de plantas vêm sendo pesquisados no combate
aos moluscos dos gêneros Biomphalaria, Bulinus e Oncomelania, diretamente
implicados na transmissão do S. mansoni, S. haematobium e S. japonicum,
respectivamente (Marston, Hostettmann 1985, Whitfield 1996).
Fatores econômicos e ecológicos estimulam a descoberta de
moluscicidas vegetais com ação seletiva, biodegradável, de baixo custo e de
fácil aplicação nos criadouros naturais (Who 1983). Moluscicidas sintéticos
são onerosos e ainda podem levar a problemas de toxicidade para
organismos não-alvos. A niclosamida (Bayluscide
®
) tem sido por quatro
décadas, o moluscicida sintético recomendado pela Organização Mundial de
Saúde, para a aplicação em grande escala no controle desta parasitose,
porém não apresenta os requisitos desejados, entre eles baixo custo, baixa
toxicidade para peixes e pequenos animais, ser seguro para o aplicador,
entre outros, como os citados para aqueles provenientes de produtos
naturais (WHO 1993).
Extratos brutos obtidos de diversas partes de plantas de espécies da
família Clusiaceae, como Calophyllum verticillatum, C. inophyllum e C.
recedens apresentam atividade moluscicida com 20% de mortalidade dos
moluscos B. glabrata na concentração de 100 mg/L para a primeira espécie
e 10 mg/L para as outras duas (Ravelonjato et al. 1987).
Plantas do gênero Kielmeyera, conhecidas como rosa do campo,
pertencentes à família das Clusiaceae e encontrada no cerrado brasileiro,
têm sido usadas pela população para o tratamento de diversas doenças,
como esquistossomose, leishmaniose, malária, infecção por bactérias e
fungos, entre outras (Alves et al.2000). A osajaxantona isolada da espécie
Cirlane Silva Ferreira
12
Kielmeyera coriacea exibe proteção contra a infecção das cercárias do S.
mansoni, quando aplicada na pele de animais (Lopes et al. 1976).
A utilização de substâncias moluscicidas é um fator crucial para o
controle da esquistossomose. Em países do Terceiro Mundo o uso de
moluscicidas sintéticos tem causado problemas de toxicidade, contaminação
do meio ambiente e a resistência dos caramujos (B. glabrata) transmissores
da esquistossomose. Em contraste, o uso de plantas com atividade
moluscicida pode representar uma alternativa barata (Marston, Hostettmann
1985).
O mecanismo de ação dos moluscicidas contendo polifenois vegetais,
ainda é pouco conhecido. O que se tem estabelecido, geralmente, é a
bioatividade e o índice de mortalidade que estes produtos podem determinar,
existindo dessa forma uma escassez de informações com respeito aos
princípios ativos e mecanismos de ação dos moluscicidas naturais. Apesar
dos taninos serem a classe individual de fenóis vegetais mais estudadas em
ecologia química, o esclarecimento do modo de ação sobre os moluscos,
hospedeiro intermediário de S. mansoni ainda é objetivo de estudos (Alcanfor
2001).
O reconhecimento da bioatividade de extratos de plantas que
preencham estes requisitos necessários à ação moluscicida poderá tornar o
seu uso uma alternativa aos compostos sintéticos usados no controle de
moluscos. Muitas são as espécies de plantas relatadas na literatura
buscando-se este propósito. Plantas existentes no Brasil têm demonstrado
grande eficiência, como por exemplo, Euphorbia (“Coroa-de-Cristo”) em que
frações fitoquímicas são 100 vezes mais ativas contra B. glabrata que o
Cirlane Silva Ferreira
13
produto sintético Niclosamida ( Baptista et al. 1992, Coelho et al. 1999).
Vários pesquisadores, trabalhando com diferentes espécies vegetais,
confirmaram a eficiência dos extratos como moluscicidas (Kuo 1987, Jurberg
et al. 1989, Batista et al. 1992).
O Cerrado brasileiro é dotado de grande biodiversidade de plantas, por
isso nos últimos anos tem se avaliado o potencial medicinal e aplicativo de
suas espécies o que deverá contribuir também para a preservação e
utilização consciente deste importante ecossistema.
O Stryphnodendron polyphyllum (Martius,1837) conhecido como
Barbatimão de Folha Pequena é pouco relatada, mas tem revelado diversas
ações de bioatividade em estudos preliminares em vários organismos (Audi
et al. 1999, Alves et al. 2000).
O S. polyphyllum é uma planta considerada tanífera por apresentar
altos teores de taninos em suas estruturas (Schaufelberger Hostettmann
1983). Essa substância contribui na defesa das plantas contra consumo de
herbívoros, além de limitar o crescimento de microorganismos patogênicos.
O ácido tânico, presente no extrato da casca é considerado o princípio ativo
de moluscicidas sintetizados a partir de plantas taníferas (Alcanfor et al.
2001, Santos et al. 2002).
O barbatimão é uma Mimosoideae arbórea bastante comum nas
regiões do Cerrado (Ferri 1980), cuja casca contém substâncias tânicas. Os
taninos são produtos do metabolismo secundário dos vegetais e estão
presentes em diversos grupos destes, constituindo-se em compostos
altamente polimerizados e hidroxilados, com peso molecular variável,
podendo ultrapassar 3.000 Da (Bravo 1998). Tais características permitem
Cirlane Silva Ferreira
14
que esses compostos formem complexos insolúveis com carboidratos e
proteínas. O conhecimento da absorção de compostos polifenólicos no trato
digestivo animal ainda é escasso e muitas vezes controverso. Resultados de
estudos in vivo e in vitro, utilizando compostos polifenólicos de estruturas
químicas diferentes, têm demonstrado sua variável susceptibilidade à
digestão e à absorção, sendo, o peso molecular e características que
apresentam quanto à extração por diferentes solventes, fatores
determinantes (Bravo 1998).
As atividades moluscicidas dos extratos aquosos metanólicos de uma
série de plantas têm sido relacionadas, principalmente, à presença de
taninos. Por exemplo, os efeitos moluscicidas da planta Acácia nilótica têm
sido atribuídos à sua constituição rica em taninos. Um spray seco
desenvolvido a partir delas, contendo 56% de taninos condensados e
hidrolisáveis foi efetivo contra moluscos B. pfeifferi, na concentração de 55
mg/L. Porém, os constituintes ativos ainda não foram bem identificados e
pouco se sabe sobre a forma de atuação de moluscicidas a base de taninos
puros, apesar de o ácido tânico comercial a 50 mg/L ser ativo contra B.
glabrata. Fontes típicas de taninos tais como Krameria triandra,
Hammamelis virginiana e Quercus sp, produzem extratos que são ativos a 50,
100 e 200 mg/L respectivamente (Marston, Hostettmann 1985).
4) Metabolismo de B. glabrata
No caso de B.glabrata, estudos do metabolismo têm sido direcionados
com o objetivo de avaliar as regras metabólicas sob algumas condições
fisiológicas distintas (Patience et al. 1983, Bezerra et al 1999). Invertebrados
Cirlane Silva Ferreira
15
que apresentam metabolismo aeróbio, entre estes B. glabrata, podem acionar
ou redirecionar seu fluxo metabólico em sentido anaeróbio sob determinadas
condições ecofisiológicas em que se encontrem. A alteração mais notável na
passagem aeróbia para anaeróbia é a inversão no sentido do ciclo de Krebs
(Bezerra 1994). Caminhos anaeróbios dão continuidade à produção de
energia e apresentam como produto final substâncias facilmente excretadas
sem causar, inicialmente, grandes danos à célula (Schöttler 1986).
O metabolismo do molusco pode-se modificar quando este está sob
influência causadas através de limitações ou modificações dos fatores
ecológicos como o clima, alimentação (jejum e estivação) ou infecção
(Wolmarans 1987, Bezerra et al 1999).Os estudos do metabolismo do
molusco B. glabrata são importantes na compreensão de sua fisiologia, além
de gerar subsídios para a elucidação de suas vias metabólicas.
Diferenças no metabolismo, como as reações metabólicas ou
mecanismos de regulação vital para a sobrevivência de B. glabrata, sob
condições fisiológicas adversas, podem contribuir muito para o
conhecimento da relação hospedeiro-parasito, podendo ser de grande
importância para o controle de parasitoses específicas, servindo de base para
o entendimento e o desenvolvimento do parasito em seu hospedeiro.Sob esta
avaliação, pode-se afirmar que muitos invertebrados (parasitos e vetores)
apresentam metabolismo diferenciado dos vertebrados, seus hospedeiros
definitivos. Já foram descritos para diversos parasitos e seus hospedeiros
vias metabólicas distintas, que serviram como ponto de controle específico,
inclusive com aplicação de novas drogas naturais com especificidade a
determinada via metabólica essencial aos moluscos e parasitos, que podem
Cirlane Silva Ferreira
16
ser utilizadas no controle de parasitoses. As enzimas vitais no metabolismo
energético têm sido alvo lógico na ação de quimioterápicos. Diferenças
metabólicas abrem novas possibilidades ao desenvolvimento de
quimioterápicos mais específicos (Metzger 1970, Saz 1990, Kita 1992, Nabih
e El-Ansary 1992, Bryant 1993, Tielens 1994).
4.1) Equilíbrio ácido-básico e do pH
O termo pH provém da expressão francesa “puissance” do hidrogênio,
que se refere à força ou poder do hidrogênio. O pH é definido como o
logaritmo negativo da concentração de íons hidrogênio. Na escala de pH uma
mudança de 1,0 unidade de pH significa uma modificação de 10 vezes na
concentração de íons hidrogênio. O teor de íons hidrogênio é regulado por
uma série de tampões, destacando-se as hemoglobinas, as proteínas, os
fosfatos e o sistema de bicarbonato. Este sistema é o tampão mais
importante, pois se encontra presente em grandes quantidades
(Marzzoco,Torres 1999).
O dióxido de carbono (CO
2
), em soluções aquosas, existe em equilíbrio
potencial com o ácido carbônico (CO
2
+ H
2
O H
2
CO
3
H
+
+ HCO
3
-
). A
enzima anidrase carbônica catalisa esta reação em direção a um ponto de
equilíbrio: o CO
2
é produzido através do metabolismo celular e liberado na
hemolinfa; o ácido carbônico produzido dissocia-se rapidamente em íons
hidrogênio (H
+
) e íons bicarbonato (HCO
3
-
). Esta situação pode ser mais bem
visualizada por meio da equação de Henderson-Hasselbach. Esta equação
especifica que:
HCO
3
-
+ H
+
Cirlane Silva Ferreira
17
pH = pK + log base
ácido H
2
CO
3
onde pK é a constante de dissociação (capacidade de liberar íons
hidrogênio) do ácido H
2
CO
3
. Se houver aumento de HCO
-
3
sem qualquer
elevação correspondente do H
2
CO
3
, a relação está aumentada, e o pH sofrerá
uma elevação. Por outro lado, se algum fator produzir aumento do H
2
CO
3,
o,
o denominador irá aumentar, a relação estará diminuída, o pH sofrerá uma
queda (Marzzoco, Torres 1999).
A pO
2
representa o conteúdo de oxigênio dissolvido na hemolinfa. A
saturação de oxigênio representa a quantidade de oxigênio ligada à
hemoglobina. Quando a pressão parcial do oxigênio é diferente em duas
partes de um sistema, estabelece-se um gradiente de difusão, ou seja, o gás
se difunde do local em que a pressão parcial é maior para aquele em que ela
é menor. Caso o sistema permaneça sem perturbações, a pressão parcial de
um gás se torna a mesma em todas as suas partes. A ligação do complexo
"heme" da hemoglobina com o oxigênio é fraca e instável, dependendo de
uma série de fatores, como pH, temperatura e da pressão parcial dos gases
dissolvidos no sangue. Portanto, o equilíbrio ácido-base é um dos fatores
fundamentais para que o processo de transporte do oxigênio seja efetuado de
maneira satisfatória (Marzzoco, Torres, 1999).
O dióxido de carbono produzido nos tecidos se difunde através das
membranas celulares e dissolve-se na hemolinfa de B. glabrata. A pCO
2
refere-se à pressão parcial do gás CO
2
na hemolinfa expressa em mmHg. Os
ácidos gerados durante o metabolismo e o íon hidrogênio gerado pela fixação
do CO
2
são tamponados por tampões intracelulares, especialmente proteínas
Cirlane Silva Ferreira
18
e fosfatos. Contudo, o bicarbonato é o principal tampão que neutraliza os
ácidos provenientes do metabolismo. O tampão bicarbonato minimiza as
modificações na concentração de íons hidrogênio pela dissociação de um
ácido ou associação de uma base no plasma. Quando o ácido é adicionado, o
bicarbonato reage com o H
+
e o H
2
CO
3
é liberado. O ácido carbônico é uma
estrutura muito instável e logo se dissocia em dióxido de carbono e água. O
excesso de CO
2
é então eliminado pelo tegumento. É importante ressaltar
que a solução tampão tem um determinado limite de ação. Ultrapassado
esse limite, a variação de pH ocorre como se não existisse mais um sistema
tampão (Marzzoco, Torres 1999). Nestes casos, ocorrem perdas de atividades
vitais podendo levar o molusco à morte.
4.2)Metabolismo da Glicose
A glicose é o monossacarídeo mais abundante na hemolinfa de B.
glabrata, organismo que apresenta uma organização citofisiológica de
mitocôndrias, ciclo de Krebs funcional e metabolismo aeróbio (Cheng, Lee
1971). Esse caramujo apresenta como principal reserva energética o
glicogênio. Acredita-se que a regulação da glicólise e dos estoques de
glicogênio ocorram por intermédio de um controle cascata de glicogênio
fosforilase. Em moluscos, este efeito cascata de proteínas para regular a
formação ou quebra de glicogênio é, portanto, funcional e a
fosfofrutoquinase (PFK), regulada conforme a taxa de ATP/ADP catalisa a
primeira reação unidirecional no caminho da glicólise. (Becker, Lüth 1977).
Em caso de infecção por S. mansoni, a hipoglicemia em B. glabrata é
um resultado comum, pois S. mansoni é capaz de utilizar a glicose do
Cirlane Silva Ferreira
19
caramujo diminuindo também os níveis de glicogênio (Christie et al. 1974 b,
Rupprecht et al. 1989).
Os mecanismos envolvidos na regulação dos níveis de glicemia são
complexos e, em muitos casos, apenas parcialmente esclarecidos. A
formação da glicose a partir de precursores diferentes das hexoses é
chamada de gliconeogênese (“formação de açúcar novo”). A gliconeogênese é
uma via universal, encontrada em todos os animais, vegetais, fungos e
microrganismos, e as reações que dela fazem parte são as mesmas em todos
os casos. Os precursores importantes da glicose nos animais são o lactato, o
piruvato, o glicerol e a maioria dos aminoácidos. Esta via aumenta a reserva
de carboidratos disponível para elevar os níveis de glicemia. Embora as
reações da gliconeogênese sejam as mesmas em todos os organismos vivos, o
contexto metabólico e a regulação da via diferem de organismo para
organismo e de tecido para tecido (Lehninger et al 1995).
Em condições de oxigenação tecidual adequada ou quase adequada, a
glicose é metabolizada para a produção de energia através da via metabólica
aeróbica, que converte os produtos metabólitos da glicolise em piruvato que,
por sua vez, é metabolizado no ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs). Em
condições de hipóxia tecidual grave, o metabolismo aeróbico é incapaz de
funcionar adequadamente, de modo que os produtos metabólicos da glicolise
na etapa de produção de piruvato são convertidos em lactato (ácido láctico)
através do metabolismo anaeróbico (Marzzoco, Torres 1999). Por
conseguinte, o aumento de lactato na hemolinfa, indica uma redução
significativa da oxigenação tecidual (Fig. 2). O piruvato tem vários destinos
possíveis: ser usado como precursor na síntese de carboidratos
Cirlane Silva Ferreira
20
(gliconeogênese), aminoácidos (transaminação) e ácidos graxos (via acetil-
CoA) ou ser totalmente oxidado a dióxido de carbono CO
2
(via acetil CoA e
ciclo de Krebs) (Fig.2.) (Marzzoco, Torres 1999).
4.3) Metabolismo de Aminoácidos
Os aminoácidos, derivados principalmente das proteínas da
alimentação ou da degradação das proteínas intracelulares, são a última
classe de biomoléculas, cuja oxidação faz uma contribuição significativa
para a geração de energia metabólica. O valor da fração de energia
metabólica derivada dos aminoácidos varia muito com o tipo de organismo
considerado e com a situação metabólica em que ele se encontra. As vias de
degradação dos aminoácidos são muito similares na maioria dos
organismos. Os esqueletos carbônicos dos aminoácidos, em geral,
encaminham-se para o ciclo do ácido cítrico e, de lá, são oxidados para
produzirem energia química ou, então, encaminhados para a gliconeogênese(
Lehninger et al 1995).
Sob condições ecofisiológicas adversas, muitos moluscos morrem
apesar de existirem boas reservas de proteínas e lipídios (Gress, Cheng
1973, Michelson, Dubois 1975; Becker, Lüth 1977). A degradação de
produtos nitrogenados, amônia e aminoácidos são geralmente transportados
com a hemolinfa para lugares onde eles possam ser excretados ou
futuramente processados (Little 1968).
A quantidade de produtos nitrogenados degradados é indicativa da
atividade do metabolismo de proteínas e ácidos nucléicos de um animal,
exposto a qualquer situação de estresse, onde deve aparecer uma produção
Cirlane Silva Ferreira
21
aumentando as concentrações de uréia, amônia e ácido úrico. Tal estresse
pode ser causado por fases de uma intensa atividade reprodutiva ou por
invasão de parasitas. Um aspecto deve ser considerado, especialmente no
caso do B. glabrata, em estágio larval do S. mansoni que desenvolve dentro
deste molusco e mostra uma rápida taxa de reprodução (Becker 1968).
A uréia é um produto de degradação contendo nitrogênio, proveniente
do metabolismo das proteínas (Fig. 2).Estudos mostram que a função
fisiológica do ciclo da uréia consiste na desintoxicação da amônia, ocorrendo
um aumento na excreção e um acúmulo de uréia quando B. glabrata está
sob situações ecofisiológicas adversas, como estivação ou a exposição ao
extrato de S. polyphyllum (Cheng, Lee 1971, Schmale, Becker 1977).
Existem poucos dados na literatura sobre a concentração de uréia na
hemolinfa e valores de aproximadamente 0,26 mmol/L normalmente são
encontrados em B. glabrata (Becker, Schmale 1975).
Em B. glabrata, a ativação enzimática do ciclo da uréia pode surgir
pelo aumento de nova síntese ou por degradação das enzimas envolvidas,
sendo que este mecanismo provavelmente está sujeito à influência de
substratos ou outros ativadores e inibidores (Becker, Schmale 1975).
Cirlane Silva Ferreira
22
Dismutação do malato-
Gliconeogênese-
Aeróbio-
Figura 2. Metabolismo da via glicolítica e dos aminoácidos (Bezerra et
al 1997. Mem.Inst.Osvaldo).
4.4) Metabolismo de Cálcio
Com referência à avaliação do metabolismo do cálcio, as alterações em
moluscos podem ser provocadas descalcificando a concha. Em situações
adversas e que causam alteração de pH na hemolinfa do molusco, como a
produção e acúmulo de succinato ou lactato, o carbonato de cálcio
proveniente da concha é excretado para a hemolinfa para neutralizar ou
tamponar estes ácidos, acumulados, se o molusco estiver sob anoxia
(Wolmarans 1987, Bielefeld et al. 1992, Marxen, Becker 2000).
Cirlane Silva Ferreira
23
O cálcio sérico total é constituído de cerca de 50% (faixa de 35-55%) de
cálcio ligado e de cerca de 50% (faixa de 35-65%) de cálcio não ligado.
Tradicionalmente, o cálcio não-ligado foi denominado cálcio “ionizado”,
sendo também conhecido como cálcio “livre ou dealisável”. O cálcio ligado é
subdividido em cálcio ligado a proteínas e cálcio complexado com compostos
não protéicos. Cerca de 45% do cálcio total (30-50%) estão ligados às
proteínas. A parte restante do cálcio total, que corresponde a 5% (5-15%), é
complexada como citrato, fosfato, sulfato e bicarbonato, que não fazem parte
das proteínas séricas (Marzzoco,Torres 1999).
Os íons Ca
+2
liberados em resposta a um estímulo nervoso, além de
desencadearem a contração muscular, estimulam a degradação de glicogênio
e inibem a sua síntese. Estes íons ligam-se à subunidade da fosforilase
quinase, idêntica a calmodulina. A fosforilase quinase torna-se ativa,
desencadeando a glicogenólise, também induzida por adrenalina no músculo
em repouso. Menos de 5% do glicogênio fosforilase são funcionais, mas, 0,7
segundos após o início da contração, o percentual da enzima ativa já atinge
50%. O resultado final consiste em um aumento da oferta de substrato para
a glicólise e da produção de ATP para sustentar a contração muscular
(Marzzoco,Torres 1999).
Cirlane Silva Ferreira
justificativa
24
JUSTIFICATIVA
O Biomphalaria. glabrata, hospedeiro intermediário de S. mansoni,
possui um papel obrigatório e decisivo para a permanência da
esquistossomose em uma determinada região. Enfatiza-se a busca de
conhecimento a respeito de sua fisiologia e metabolismo frente a alterações
realizadas, experimentalmente, em laboratório. Diante dos inúmeros extratos
de plantas testados como moluscicidas, propõe-se o estudo da relação
parasito-hospedeiro como potencial sítio de ação de produtos naturais no
controle integrado da esquistossomose.
A adaptação do hospedeiro intermediário, B. glabrata, a períodos de
estiagem mais longos, o aumento de construções de represas e introdução de
esquemas de irrigação, vêm inadvertidamente propiciando criadouros ideais
para o B. glabrata. Assim, torna-se imprescindível a melhoria das condições
de vida, educação sanitária e a pesquisa de alternativas terapêuticas que
possam auxiliar no combate a esquistossomose.
O Cerrado brasileiro é um importante bioma com grande potencial
para esta aplicação. Esta bioatividade foi analisada em S. polyphyllum,
conhecido como Barbatimão de Folha Pequena, a qual é pouco relatada na
literatura, mas tem revelado bioatividade em estudos preliminares de vários
organismos (Audi et al. 1999; Alves et al. 2000). A espécie S. polyphyllum da
flora do Cerrado foi escolhida devido a sua ampla distribuição, já que o
Cerrado forma o 2º bioma mais extenso do Brasil, cobrindo mais de dois
milhões de Km
2
, o que representa cerca de 22% do território nacional. O
Cirlane Silva Ferreira
justificativa
25
Cerrado é considerado atualmente como a savana de maior biodiversidade
do mundo, tendo um potencial enorme ainda pouco explorado.
Sendo assim, o uso de extratos de plantas no controle de moluscos e
da inibição do desenvolvimento larvar dentro deste (esporocistos e cercárias)
vem de encontro a essa necessidade, buscando a bioatividade com eficiência
em baixas doses, baixo impacto ambiental e baixo custo de produção. Como
efeito, esta avaliação também contribuirá para o conhecimento das
propriedades da flora do Cerrado, sua conservação e utilização racional.
Para tanto, é necessário estudar a bioquímica da relação parasito-
hospedeiro com o intuito de se conseguir determinar os pontos de ação
suscetíveis a novas drogas, avaliando as alterações metabólicas sofridas pelo
hospedeiro intermediário.
Nosso grupo de pesquisa em bioquímica da relação parasita-
hospedeiro vem estudando as plantas do Cerrado goiano, com ênfase ao
Stryphnodendron spp, que se mostrou com grande potencial moluscicida.
Esta planta merece maiores estudos de sua toxicidade sobre o metabolismo
e o equilíbrio ácido-base do molusco B. glabrata.
Cirlane Silva Ferreira
Objetivos
26
OBJETIVOS
a) Estabelecer estudo interdisciplinar da ação de extrato de S.
polyphyllum, sobre B. glabrata, avaliando o efeito metabólico desta
interação nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
b) Estudar e avaliar as alterações no equilíbrio ácido-base de B.
glabrata, em condições de estresse, provocadas pela presença do extrato
de S. polyphyllum.
c) Verificar a eficiência do sistema tampão do molusco diante de
uma situação de estresse provocada pela presença do extrato de S.
polyphyllum.
d) Analisar o metabolismo de proteínas, a via glicolítica e a
fosforilação oxidativa de B. glabrata sob ação do extrato da planta do
Cerrado S. polyphyllum.
e) Avaliar a atividade das enzimas aminotransferases e lactato
desidrogenase após a exposição ao extrato de S. polyphyllum, observando
as mudanças assimiladas para a sobrevivência do molusco.
f) Avaliar, por meio do método de cromatografia líquida, as
concentrações dos ácidos orgânicos após a exposição de B. glabrata ao
extrato de S. polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
27
1º Artigo
Análise do Equilíbrio Ácido-Base em Biomphalaria glabrata (Say,
1818), sob exposição a Stryphnodendron polyphyllum (Martius, 1837),
planta moluscicida do Cerrado brasileiro.
Cirlane Silva Ferreira
28
RESUMO
Os moluscos do gênero Biomphalaria possuem sistema circulatório
aberto onde circula a hemolinfa. Esta distribui, entre os órgãos, os
metabólitos necessários; além disso, irá refletir distúrbios celulares, cujos
produtos serão excretados através da hemolinfa. Estes produtos podem ser
ainda eliminados ao meio exterior ou armazenados e, posteriormente
reabsorvidos da hemolinfa pela célula. O objetivo deste trabalho foi estudar e
avaliar as alterações no equilíbrio ácido-base de B. glabrata em condições
não adequadas provocadas pela presença do extrato de Stryphnodendron
polyphyllum, planta tanífera de comprovada ação moluscicida.
Os moluscos B. glabrata, cepa BH, foram mantidos no biotério do
IPTSP/UFG, tratados por 24 horas com os extratos de caule de S.
polyphyllum nas concentrações de 25 e 50mg/L (solução aquosa). No grupo
controle os moluscos foram mantidos em água desclorada. A análise do
equilíbrio ácido-base das amostras foi realizada com pool de hemolinfa de 3
moluscos e a leitura das concentrações feitas no gasômetro Radiometer
modelo ABL-5.
A grande maioria dos processos bioquímicos é extremamente sensível
à variação do pH. A manutenção do pH é conseguida pelos seres vivos graças
à existência dos sistemas-tampão, porém o extrato de S. polyphyllum
impediu que este sistema funcionasse de forma efetiva. Nesse sentido as
plantas moluscicidas são de grande importância no controle dos focos da
infecção, complementando outras medidas de prevenção da
esquistossomose.
Cirlane Silva Ferreira
29
Palavras chaves: Biomphalaria glabrata, equilíbrio ácido-base,
Schistosoma mansoni, Stryphnodendron polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
30
ABSTRACT
Biomphalaria mollusks have an open circulation system where the
hemolymph circulates distributing the necessary metabolites to the organs,
as well as reflecting cellular disturbances and transporting excreted
material, which may be eliminated into the environment or stored and later
reabsorbed from the hemolymph into the cell. The aim of this work was to
study and estimate the alterations in the acid-alkaline balance of B. glabrata
under inadequate conditions caused by the presence of the extract of S.
polyphyllum, a tanniferous plant with recognized molluscicide effect.
The B. glabrata mollusks, BH strain, were kept in the IPTSP/UFG
vivarium and treated for 24 hours with bark extracts from Stryphnodendron
polyphyllum at 25 and 50 mg/L concentrations (aqueous solution). The
control group was performed with mollusks in dechlorinated water. The
analysis of the acid-alkaline balance of the samples was performed by
pooling the hemolymph from 3 mollusks and the concentrations read on the
Radiometer gasometer, model ABL-5.
Most biochemical processes are extremely sensitive to any variation in
pH. The pH is maintained in living beings due to acid-alkaline balance but
the S. polyphyllum extract did not allow this system to function effectively. It
is in this sense that molluscicide plants are important in the control of
infection foci, complementing other schistossomiasis prevention measures.
Key words: acid-alkaline balance, Biomphalaria glabrata, Schistosoma
mansoni, Stryphnodendron polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
31
INTRODUÇÃO
No Brasil existem, segundo dados do 8º Simpósio Internacional de
Esquistossomose, cerca de 8 a 10 milhões de pessoas infectadas, de 25 a 30
milhões de pessoas expostas ao risco de infecção (Coutinho 2002). O ciclo de
vida do S. mansoni já foi extensamente estudado e seu mapa genético foi
recentemente concluído, além de várias pesquisas direcionadas ao
desenvolvimento de vacinas contra o S.mansoni (Colley 2000).
O hospedeiro intermediário desta doença é um molusco de água doce,
conhecido popularmente por caramujo. Esse molusco tem uma concha em
espiral, com as voltas ou giros no mesmo plano, recebendo por isso a
denominação de planorbídeo. Os caramujos, ou planorbídeos criam-se e
vivem na água doce de córregos, riachos, valas, alagados, brejos, açudes,
represas ou outros locais onde haja pouca correnteza. Os caramujos jovens
alimentam-se de vegetais em decomposição e folhas verdes. Os caramujos
põem ovos, dos quais, depois de alguns dias, nascem novos caramujos que
crescem e tornam-se adultos (SUCEN 2001).
O tratamento dessas coleções de água através de moluscicidas
naturais obtidos de partes de plantas renováveis poderá constituir em forma
mais econômica e de baixa toxicidade ao meio ambiente, para o combate ao
molusco transmissor (Branco 1986, Perret, Whitfield 1996, Juberg et al.
1997, Alves et al. 2000). Com esta finalidade, plantas da flora do Cerrado
brasileiro têm tido sua bioatividade estudada, avaliando-se alterações
histopatológicas, promovidas pela incubação de Biomphalaria glabrata em
diferentes extratos. Atribuem-se, inicialmente, estas alterações à
Cirlane Silva Ferreira
32
bioatividade dos taninos, que constitui uma classe de fenóis, presentes
nestas espécies vegetais, existindo, porém, pouco conhecimento de seu modo
de ação, principalmente em moluscos (Marston, Hostettmann 1985, Ozawa
et al. 1987, Haslam 1996).
Os moluscos do gênero Biomphalaria possuem sistema circulatório
aberto onde circula a hemolinfa, que veicula moléculas de baixo peso
molecular como íons, aminoácidos, carboidratos, vitaminas, uréia, dentre
outras e uma alta concentração de proteínas (Arndt, Santoro 2001). A
hemolinfa distribui entre os órgãos os metabólitos necessários; além disso,
irá refletir distúrbios celulares, cujos produtos serão excretados através
desta. Estes produtos podem ser ainda eliminados ao meio exterior ou
armazenados na hemolinfa e, posteriormente reabsorvidos da hemolinfa pela
célula (Wijsman et al. 1985). O objetivo deste trabalho foi estudar e avaliar
as alterações no equilíbrio ácido-base de B. glabrata, na presença do extrato
de Stryphnodendron polyphyllum nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
MATERIAL E MÉTODOS
Os moluscos B. glabrata, cepa BH, foram mantidos no biotério do
IPTSP/UFG em aquários com água desclorada e aerada, na temperatura de
25-28º C. A lavagem das caixas foi realizada semanalmente. Os moluscos
foram alimentados com Lactuca sativa L. (alface) e ração apropriada “ad
libitum” (Vinaud et al. 2001).
As cascas do S. polyphyllum usadas no trabalho foram colhidas,
lavadas, secadas em estufas a 40 ºC com ventilação forçada e
posteriormente moídas. A farinha obtida com a trituração é denominada de
Cirlane Silva Ferreira
33
extrato bruto. O extrato bruto foi diluído em água isenta de cloro formando
soluções nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
A coleta e obtenção de extratos brutos do caule de S. polyphyllum
foram realizadas pelo departamento de Botânica, de acordo com Santos et al.
(2002) pelo Instituto de Química da UFG.
Os moluscos, com diâmetro de concha de 14 +/- 2 mm e idade
aproximada de três meses, foram divididos em 20 grupos com 3 (três)
moluscos/ aquário e tratados, por 24 horas, em contato permanente com a
solução aquosa do extrato. As soluções aquosas do extrato bruto da casca do
caule de S. polyphyllum usado nos bioensaios, nas concentrações de 25 e 50
mg/L (dose sub-letal), foram preparadas a partir de 12,5 e 25 mg do extrato
e 500 ml de água de torneira desclorada. Durante o período de exposição os
moluscos não foram alimentados. No grupo controle, 10 grupos de 3
moluscos, foram mantidos em água desclorada, garantindo assim as
condições normais de sobrevivência.
Para a extração da hemolinfa os moluscos tiveram primeiro suas
conchas limpas com álcool 70% e depois com água destilada e,
posteriormente, seca com papel absorvente. Sob microscópio estereoscópio,
usando bisturi cirúrgico, foi feito um orifício na região pericárdica de onde
fluiu a hemolinfa, preenchendo a abertura central da concha, seguido de
aumento de fluxo de hemolinfa à medida que o molusco se retraía na
concha. A hemolinfa foi imediatamente pipetada e colocada num “ependorff”
conservado em gelo (Bezerra et al. 1997). Todos os moluscos foram
utilizados, pois não houve mortalidade. Em seguida a hemolinfa foi aspirada
Cirlane Silva Ferreira
34
com uma seringa, e retiradas todas as bolhas de ar, conservadas em banho
de gelo até a leitura das amostras.
A análise do equilíbrio ácido-base das amostras foi realizada com pool
de hemolinfa de 3 moluscos e a leitura das concentrações feita no gasômetro
Radiometer modelo ABL-5.
Os resultados dos testes foram analisados em média e mediana de
acordo com o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov. Na análise
estatística, utilizou-se o teste de χ
2
para a relação do molusco em condição
padrão comparando aos grupos expostos ao extrato da planta em estudo, e o
teste one way ANOVA e Tukey para comparação entre as diferentes
condições que os moluscos foram submetidos. Considerou-se
estatisticamente significativo o valor de p<0,05.
A tabela 1 refere-se aos resultados oriundos da análise do equilíbrio
ácido-base realizado no gasômetro Radiometer modelo ABL-5.
RESULTADOS
O pH da hemolinfa de B. glabrata reflete a atividade iônica de
numerosas substâncias e é ligeiramente maior que o pH da água. O pH da
hemolinfa dos caramujos mantidos sob condições padrão foi 7,64 ± 0,07,
sendo, portanto levemente alcalino em relação ao pH da água de
condicionamento ( água desclorada). Quando se adiciona o extrato de S.
polyphyllum na água, mesmo em pequenas concentrações, o pH da
hemolinfa sofreu uma acidose, variando de 7,59 ± 0,16 para os moluscos
submetidos à exposição de 25 mg/L e 6,87 ± 0,20 para os moluscos expostos
a 50 mg/L do extrato (Fig.3, tabela 1). A análise estatística dos valores
Cirlane Silva Ferreira
35
obtidos mostrou que houve distribuições normais, ocorrendo assim uma
diferença estatística entre o grupo controle e de 50 mg/L e entre os testes de
25 e 50 mg/L. Não houve diferença entre o controle e o teste de 25 mg/L
(p<0,001).
A pressão parcial de gás carbônico na hemolinfa de B. glabrata no
grupo controle apresentou mediana de 13,50 mmHg, com valores referentes
a 25% igual a 11,00 mmHg e referentes a 75% igual a 17,00 mmHg. Quando
estes moluscos foram submetidos ao extrato na concentração de 25 mg/L a
mediana foi 14,00 mmHg (12 a 15mmHg), não sendo estatisticamente
diferente do grupo controle. Quando a concentração elevou-se para 50mg/L
ocorreu um aumento significativo na pressão parcial de gás carbônico, a
mediana elevou-se para 38,00 mmHg (37 a 44mmHg ) ao ser comparada com
o grupo controle (p<0,001), (Fig.3, tabela 1).
A pressão parcial de gás oxigênio na hemolinfa dos caramujos do
grupo controle foi de 134,50 ± 19,50 mmHg e quando estes moluscos foram
submetidos a exposição de 25mg/L do extrato da planta esta concentração
passou a ser 133,90 ± 55,82 mmHg, não mostrando assim uma diferença
significativa. Porém quando estes foram submetidos à concentração de 50
mg/L a concentração parcial do gás oxigênio diminuiu para 66,70 ± 29,62
mmHg, permitindo concluir que houve uma diferença significativa entre o
controle e o teste de 50 mg/L (p<0,001) (Fig.3, tabela 1).
A dosagem dos íons bicarbonatos presentes na hemolinfa do grupo
controle apresentaram valores de 15,00 ± 1,41 mmol/L, não tendo diferença
estatística com o grupo exposto a 25mg/L do extrato que apresentou média
de 13,50 ± 2,70 mmol/L. Quando estes moluscos foram submetidos à
Cirlane Silva Ferreira
36
concentração de 50 mg/L os íons bicarbonatos diminuíram sua média para
7,50 ± 4,00 mmol/L (Fig.3, tabela 1). Isso permite concluir que houve uma
diferença significativa entre o grupo controle e o teste de 50 mg/L (p<0,001).
A saturação de oxigênio do grupo controle e do grupo exposto a 25
mg/L não sofreu variação significativa. A mediana destes dois grupos foi
99%. Já quando a concentração do extrato passou para 50 mg/L a
saturação de oxigênio caiu significativamente para 80% (75 a 90%),
(p<0,001), (Fig.3, tabela 1).
Tabela 1. Análise do equilíbrio ácido-base na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata expostos ao extrato do caule de Stryphnodendron
polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50mg/L valor em média±desvio
padrão ou mediana (mínimo - máximo).
Controle S. polyphyllum
25mg/L
S. polyphyllum
50mg/L
pH 7,64±0,07 7,59±0,16 6,87±0,20
pCO
2
(mmHg)
13,50 (11,00 –
17,00)
14,00 (12,00 -15,00)
38,00 (37,00 –
44,00)
pO
2
(mmHg) 134,50±19,50 133,90±55,82 66,70±29,62
HCO
3
-
(mmol/L)
15,00±1,41 13,50±2,70 7,50±4,00
s O
2
% 99,00 (99,00 –
99,00)
99,00 (99,00 –
99,00)
80,00 (75,00 –
90,00)
Cirlane Silva Ferreira
37
6,4
6,6
6,8
7
7,2
7,4
7,6
7,8
pH
controle 25 ppm 50 ppm
média
0
5
10
15
íon
carbonato
Mmol/L
controle 25 ppm 50 ppm
dia
0
20
40
60
80
100
120
140
mmHg
controle 25 ppm 50 ppm
pCO2
pO2
0
20
40
60
80
100
satura çã o
de
oxigênio
%
controle 25 ppm 50 ppm
mediana
a)
b)
c)
d)
Figura 3 – a)Taxas de pH, b) concentrações de íons carbonatos, c)
pressão parcial de gás oxigênio e gás carbônico,d) saturação de oxigênio na
hemolinfa de Biomphalaria glabrata expostos ao extrato de caule de
Stryphnodendron polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
Cirlane Silva Ferreira
38
DISCUSSÃO
Invertebrados que apresentam metabolismo aeróbio, entre estes B.
glabrata, podem acionar ou redirecionar seu fluxo metabólico em sentido
anaeróbio sob determinadas condições ecofisiológicas em que se
encontrem. A possibilidade de um metabolismo anaeróbio facultativo, em
invertebrados, como os moluscos, permite sua sobrevivência ou adaptação
às adversidades. Estes caminhos anaeróbios dão continuidade à produção
de energia e apresentam como produto final substâncias facilmente
excretadas sem causar inicialmente grandes danos à célula (Schöttler
1986).
Figura 4 – Efeitos do extrato de Stryphnodendron polyphyllum no equilíbrio
ácido-base em Biomphalaria glabrata.
Extrato de S. pol
y
ph
y
llu
m
Mudança de
comportamento
Diminui
atividade
Diminui pH
Perda de O
2
Aumento de CO
2
Diminui consumo
de alimento
Diminui HCO
3
-
Aumenta pCO
2
Diminui pO
2
Desequilíbrio ácido-base
Queda de desempenho Morte
Cirlane Silva Ferreira
39
O B glabrata, sob condições padrão apresenta metabolismo aeróbico
como mostra o resultado da saturação de oxigênio no grupo controle de
99,00% e uma pressão parcial do gás oxigênio de 134,50 mmHg.
Possibilitando uma completa oxidação de carboidratos em CO
2
e H
2
0.
Entretanto, quando estão sob condições desfavoráveis, impostas pela
presença do extrato de S. polyphyllum a 50 mg/L, a saturação de oxigênio
saiu de 99% para até 75 % e a pressão parcial do gás oxigênio abaixou de
134,5 para 66,70 mmHg (Fig. 3) , obrigando o molusco a redirecionar suas
vias metabólicas, buscando meios para sobreviver de acordo com idéias já
propostas por Bacila (1970), Becker (1980), Patience et al. (1983),
Wolmarans (1987) e Shaw, Erasmus (1987).
H
+
+ HCO
3
-
<--> H
2
CO
3
<--> CO
2
+ H
2
O
Figura 5. Representa o dióxido de carbono produzido pelo
metabolismo, a sua pequena dissociação em íons e o equilíbrio sob a forma
de CO
2
dissolvido e água.
Em situações adversas e que causam alteração de pH na hemolinfa de
moluscos, como a produção e acúmulo de succinato ou lactato, o carbonato
Cirlane Silva Ferreira
40
de cálcio proveniente da concha é excretado para a hemolinfa, com a
finalidade de neutralizar ou tamponar estes ácidos, acumulados se o
molusco estiver sob anoxia (Wolmarans 1987, Bielefeld et al. 1992, Zelck et
al. 1995, Marxen, Becker 2000). A concentração do bicarbonato, a pCO2 e o
pH da hemolinfa são interdependentes. Portanto, a alteração de um dos
parâmetros leva ao movimento compensatório dos demais, na busca do
equilíbrio (Fig. 5). A hemolinfa destes moluscos apresentou o pH igual a 7,64
para o grupo controle e este pH tornou-se após a exposição ao extrato na
concentração de 50 mg/L atingindo o valor de 6,87. Na tentativa de
neutralizar o pH ácido, os íons carbonato foram consumidos, passando de
15,00 mmol/L no grupo controle para 7,50 mmol/L quando expostos a 50
mg/L do extrato de S. polyphyllum. A pressão parcial de gás carbônico
(pCO
2
) acompanhou também a alteração do pH, inicialmente a pCO
2
foi de
13,50 mmHg no grupo controle e 38,00 mmHg na hemolinfa dos moluscos
expostos a 50 mg/L do extrato da planta.Com isso percebemos que o extrato
realmente interfere no equilíbrio ácido-base do molusco (Fig. 6).
Cirlane Silva Ferreira
41
MORTE CELULAR
?
6,67
7,56 7,71
ACIDOSE ALCALOSE
DESVIOS DO pH
Figura 6. Representa o pH na acidose e na alcalose. Demonstra
também os limites de tolerância do organismo aos desvios do pH.
Patience et al. (1983), Wolmarans (1987), Bezerra et al. (1999) e Silva
(2002) também mostraram que os moluscos em condições não padrões à sua
sobrevivência acionam seu metabolismo anaeróbio.
No estudo do equilíbrio ácido-base verificou-se na hemolinfa uma
diminuição significativa no pH, na pressão de gás oxigênio, íons carbonatos
e na saturação de gás oxigênio. Por outro lado, houve um aumento na
pressão de gás carbônico, quando estes foram submetidos ao extrato na
concentração de 50 mg/L.
A grande maioria dos processos bioquímicos é extremamente sensível
à variação do pH. A manutenção do pH é conseguida pelos seres vivos graças
à existência dos sistemas-tampão. O teor de íons hidrogênio é regulado por
uma série de tampões, e dentre as substâncias que atuam como tampões,
destacam-se as hemoglobinas, as proteínas, os fosfatos e o sistema de
bicarbonato, sendo este o mais importante, pois se encontra presente em
Cirlane Silva Ferreira
42
grandes quantidades, porém o extrato de S. polyphyllum parece que impediu
que este sistema funcionasse de forma efetiva.
O ajuste do metabolismo às diferentes condições fisiológicas é obtido
graças a processos que, em conjunto são chamados de regulação metabólica.
Os eventos de regulação não são isolados; cada um deles atua como um
gerador primário de sinais, captados por geradores secundários, capazes de
retransmiti-los até atingir toda a rede metabólica e repercutir a distância, em
todo o organismo. A complexidade dos processos é enorme, mas justifica-se
por permitir um ajuste sensibilíssimo do metabolismo a diferentes situações,
propiciando uma resposta pronta e logicamente organizada (Marzzoco,
Torres 1999).
Cirlane Silva Ferreira
43
Artigo 2
Análise do metabolismo de proteínas, da via glicolítica e da
fosforilação oxidativa de Biomphalaria glabrata (Say, 1818) sob ação
do extrato da planta do Cerrado brasileiro Stryphnodendron
polyphyllum (Martius, 1837).
Cirlane Silva Ferreira
44
RESUMO
A esquistossomose permanece como uma das infecções parasitárias
mais prevalentes, constituindo-se na segunda parasitose mais importante,
depois da malária, em termos de índice de mortalidade global, apresentando
conseqüências econômicas e de saúde pública muito significativas. No
presente trabalho, o potencial de Stryphnodendron polyphyllum, uma planta
do cerrado brasileiro, foi testado como fonte alternativa de produtos naturais
com atividade moluscicida. Os moluscos foram submetidos a bioensaios,
com extrato de S. polyphyllum nas concentrações de 25 e 50 mg/L, por 24
horas, e comparados com um grupo controle mantido sob condições padrão.
O extrato interferiu no metabolismo destes moluscos de forma mais efetiva
na concentração de 50 mg/L. Aparentemente o molusco fez um ajuste do
metabolismo, frente às diferentes condições ecofisiológicas impostas pelo
extrato, através de uma regulação de toda a rede metabólica, que foi
adaptada a esta situação, repercutindo em todo o organismo do molusco. O
extrato aquoso obtido do caule do barbatimão pode, após análise mais
profunda, constituir uma alternativa de menor toxicidade e menor custo
financeiro no controle da esquistossomose no Brasil.
Palavras chaves: Biomphalaria glabrata, controle, esquistossomose,
metabolismo, molusco, Stryphnodendron polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
45
ABSTRACT
Schistossomiasis remains one of the most prevailing parasite
infections, second only to malaria in terms of global mortality index, causing
highly significant economic and public health consequences.
This study tested the potential of Stryphnodendron polyphyllum, a
plant from the Brazilian savannah as an alternative source of natural
molluscicide products. The mollusks were submitted to biotests at 25 and 50
mg/L concentrations for 24 hours and compared with a control group kept
under standard conditions. The extract affected more strongly the
metabolism of the mollusks in the 50 mg/L concentration. As a result, the
mollusk made a metabolic adjustment to the different eco-physiological
conditions determined by the extract, by means of a metabolic regulation.
These regulatory events did not occur alone, all the metabolic network was
adapted to the new situation which reflected on the mollusk organism as a
whole.
The aqueous extract taken from the bark of the “barbatimão” may,
after further analysis, constitute a less toxic as well as less costly alternative
for the schistosomiasis control in Brazil.
Key words: Biomphalaria glabrata, control, metabolism, mollusk,
schistossomiasis , Stryphnodendron polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
46
INTRODUÇÃO
A esquistossomose permanece como uma das doenças tropicais mais
prevalentes, constituindo-se na segunda parasitose mais importante, depois
da malária, em termos de índice de mortalidade global (Rug, Ruppel 2000),
apresentando conseqüências econômicas e de saúde pública muito
significativas. Embora a distribuição da esquistossomose tenha sido alterada
nos últimos 50 anos, através da implantação de programas de controle, o
número de pessoas infectadas ou com risco de infecção, não tem sido
reduzido (Mendes et al. 1999, Chitsulo et al. 2000). O controle desta doença
depende de um conjunto de “multifacetas desejáveis” (Whitfield 1996, Ed
Khoby et al. 1998), incluindo o controle do molusco hospedeiro
intermediário.
As atividades moluscicidas dos extratos aquosos e metanólicos de uma
série de plantas têm sido relatada, principalmente devido à presença de
taninos na sua constituição. Por exemplo, os efeitos moluscucidas da planta
Acácia nilótica têm sido atribuídos à sua constituição rica em taninos
(Marton, Hostettmann 1985)
Os moluscicidas vegetais com ações seletivas, biodegradáveis, de baixo
custo, localmente viáveis e de fácil aplicação nos criadouros naturais visam
atender às exigências econômicas e ecológicas (WHO 1983), pois os
moluscicidas sintéticos são onerosos e ainda podem acarretar problemas de
toxicidade para organismos não-alvos.
Convém assinalar que a niclosamida tem sido por quatro décadas, o
moluscicida sintético mais usado. Atualmente, a niclosamida ainda é
Cirlane Silva Ferreira
47
recomendada pela Organização Mundial de Saúde para aplicação em larga
escala (WHO 1993). Porém, esse produto provoca alta mortalidade de peixes
e possui um custo elevado (Perrett, Whitfield 1996), e áreas endêmicas para
esquistossomose, geralmente não possuem recursos econômicos, e assim,
mecanismos alternativos para controle dessa doença precisam ser buscado.
Nos últimos anos, o metabolismo de Biomphalaria glabrata, hospedeiro
intermediário de Schistosoma mansoni, vem sendo amplamente estudado por
meio da análise da concentração de glicose, uréia, proteínas, cálcio e ácidos
orgânicos em sua hemolinfa (Wolmarans 1987, Rupprecht et al. 1989).
Extratos de plantas estão sendo pesquisados no combate aos
moluscos do gênero Biomphalaria, que estão diretamente implicados na
transmissão de S. mansoni (Whitfield 1996), Uma vez que o uso de plantas
com propriedades moluscicidas pode ser uma medida econômica para se
promover o combate ao molusco transmissor da esquistossomose.
Nesse sentido, pesquisadores não têm dispensado esforços para
encontrar plantas que sejam ao mesmo tempo, altamente ativas, baratas,
seguras, de fácil aplicação e localmente viáveis (Mott 1987). Também foram
estudados vários mecanismos de interrupção do ciclo biológico utilizando-se
moluscicidas no controle do hospedeiro intermediário ou larvicidas para
combater as formas infectantes – cercárias e miracídios (Carvalho et al.
1998, Bezerra et al. 2002). Mas as plantas têm inúmeros compostos
químicos, só que como produtos naturais à degradação é mais rápida. O
objetivo deste trabalho foi delinear o perfil bioquímico da hemolinfa de B.
glabrata exposto a extratos do caule da planta do cerrado Stryphnodendron
polyphyllum.
Cirlane Silva Ferreira
48
MATERIAL E MÉTODOS
Os moluscos B. glabrata, cepa BH, foram mantidos no biotério do
IPTSP/UFG em aquários com água desclorada e aerada, na temperatura de
25-28º C. A lavagem das caixas foi realizada semanalmente. Os moluscos
foram alimentados com Lactuca sativa L. (alface) e ração apropriada “ad
libitum” (Vinaud et al. 2001).
As cascas do S. polyphyllum usadas no trabalho foram colhidas,
lavadas, secadas em estufas a 40 ºC com ventilação forçada e
posteriormente moídas. A farinha obtida com a trituração é denominada de
extrato bruto. O extrato bruto foi diluído em água isenta de cloro formando
soluções nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
A coleta e obtenção de extratos brutos do caule de S. polyphyllum
foram realizadas pelo departamento de Botânica, de acordo com Santos et al.
(2002) pelo Instituto de Química da UFG.
Os moluscos, com diâmetro de concha de 14 +/- 2 mm e idade
aproximada de três meses, foram divididos em 20 grupos com 3 (três)
moluscos/ aquário e tratados, por 24 horas, em contato permanente com a
solução aquosa do extrato. As soluções aquosas do extrato bruto da casca do
caule de S. polyphyllum usado nos bioensaios, nas concentrações de 25 e 50
mg/L (dose sub-letal), foram preparadas a partir de 12,5 e 25 mg do extrato
e 500 ml de água de torneira desclorada. Durante o período de exposição os
moluscos não foram alimentados. No grupo controle, 10 grupos de 3
moluscos foram mantidos em água desclorada, garantindo assim as
condições normais de sobrevivência.
Cirlane Silva Ferreira
49
Para a extração da hemolinfa os moluscos tiveram primeiro suas
conchas limpas com álcool 70% e depois com água destilada e,
posteriormente, seca com papel absorvente. Sob microscópio estereoscópio,
usando bisturi cirúrgico, foi feito um orifício na região pericárdica de onde
fluiu a hemolinfa, preenchendo a abertura central da concha, seguido de
aumento de fluxo de hemolinfa à medida que o molusco se retraía na
concha. A hemolinfa foi imediatamente pipetada e colocada num “ependorff”
conservado em gelo (Bezerra et al. 1997), posteriormente a hemolinfa foi
centrifugada ficando assim livre de células. Todos os moluscos foram
utilizados, pois não houve mortalidade.
A análise espectrofotométrica das amostras foi realizada com a
utilização dos seguintes kits comerciais marca Wiener®. A metodologia
empregada em cada análise foi a seguinte:
a. Glicose – Método enzimático para a determinação de glicose no sangue e
outros líquidos biológicos (Trinder 1969)
Glicose + O
2
+ H
2
O ácido glucônico + H
2
O
2
2H
2
O
2
+ 4-AF + 4-hidroxibenzoato coloração vermelha
b. Protéinas – Método do Biureto, método colorimétrico para a determinação
de proteínas totais ( Giese, Annino 1978).
As ligações de peptídeos das proteínas totais reagem com o íon
cúprico, em meio alcalino, para se obter um complexo de cor lilás com
máximo de absorbância a 540 nm, cuja intensidade é proporcional à
concentração de proteínas totais na amostra.
c. Uréia – Método cinético UV linear para a determinação de uréia ( Talke,
Schubert 1965).
urease
GOD
POD
Cirlane Silva Ferreira
50
Uréia + H
2
O 2NH
3
+ CO
2
NH
3
+ NADH + H
+
+ 2-oxaglutarato L-glutamato + NAD
+
+ H
2
O
d. Cálcio – Método CFX Arsenazo, método colorimétrico direto para a
determinação de cálcio (Martinek 1971).
O cálcio reage com arsenazio III produzindo um complexo de cor azul
que se medi em fotocolorímetro a 650 nm.
e. Lactato Desidrogenase – Método UV otimizado para a determinação de
lactato desidrogenase (SFBC 1982).
Piruvato + NADH + H
+
L-lactato + NAD
+
f. Aminotransferase – Método UV otimizado para a determinação de alanina e
aspartato (IFCC1980).
L- alanina + 2-oxaglutarato Piruvato + L-glutamato
Piruvato + NADH + H
+
L-lactato + NAD
+
L-aspartato + 2-oxoglutarato oxalacetato + L-glutamato
Oxalacetato + NADH + H
+
L-malato + NAD
+
GIDH
GP
T
LDH
GOT
MDH
LDH
Os testes foram realizados em analizador automático para Química
Clínica BT T.A.R.G.A. 3000 PLUS, produzido pela Biotécnica Instruments
S.p.A Roma, Itália, com pool de hemolinfa de 3 moluscos, as amostras foram
analisadas através de dosagens espectrofotométricas.
Os ácidos orgânicos citrato, propionato, α-cetoglutarato, succinato,
acetato, malato, fumarato, piruvato e lactato presentes na hemolinfa
centrifugada foram extraídos a partir de colunas de Bond-Elut® (SAX-anion
Exchange-quartenary amine, Analytichem Internacional, Habor City, USA)
como descrito por Bezerra et al. (1997, 1999).
Cirlane Silva Ferreira
51
Foram obtidas 14 colunas, sendo 6 no grupo controle, 4 a 25 mg/L e 4
a 50 mg/L, estas foram ativadas em uma caixa de vácuo, consecutivamente
com 1,0 ml de ácido clorídrico 0,5 mol/L; 1,0 ml de metanol e 2,0 ml de
água ultra filtrada (tipo miliq). Neste ponto, com a coluna já ativada e ainda
sob vácuo, adicionaram-se 200µL de hemolinfa seguidos de 2,0 ml de água
ultra filtrada. As colunas foram retiradas do vácuo, e com a finalidade de
eluir os ácidos orgânicos retidos na coluna, aplicaram-se em cada uma
250µL de ácido sulfúrico 0,5 mol/L, em seguida centrifugou-se as amostras,
ainda dentro das colunas de extração, a 500 g por 5 min e a 2 ºC.
A mistura resultante da centrifugação foi submetida a uma
cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE–Varian ProSTAR) com uma
coluna de exclusão molecular BIORAD-Aminex HPX – 87H ( 300 X 7,8 mm),
protegida por uma coluna de proteção BIORAD-Aminex HPX – 85 acoplado a
um detector UV em comprimento de onda de 210 nm. Cada amostra injetada
correspondia a um volume de 80 µL. O eluente utilizado na fase móvel foi o
ácido sulfúrico (8 mmol/L) à temperatura de 30 ºC, com vazão de 0,8
mL/min
Todos os resultados encontrados no grupo controle e nos grupos
submetidos à exposição do extrato de S. polyphyllum a 25 e 50 mg/L
durante os experimentos foram agrupados em duas tabelas para facilitar a
compreensão e análise dos dados obtidos. A tabela 1 refere-se às análises
bioquímicas e a tabela 2 dispõe os resultados encontrados pela técnica da
Cromatografia Líquida.
Os resultados foram analisados em média ou mediana de acordo com
o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov. Na análise estatística,
Cirlane Silva Ferreira
52
utilizou-se o teste de χ
2
para a relação do molusco em condição padrão com
aqueles frente ao extrato da planta em estudo, e o teste one way ANOVA e
Tukey para comparação entre as diferentes condições que os moluscos
foram submetidos. Considerou-se estatisticamente significativo o valor de
p<0,05.
RESULTADOS
Foram observadas, durante os experimentos, algumas mudanças
fisiológicas conforme os resultados obtidos na dosagem espectrofotométrica e
cromatografia líquida, nos moluscos sob a exposição ao extrato de S.
polyphyllum a 25 e 50 mg/L.
Cirlane Silva Ferreira
53
Dosagens espectrofotométricas:
Tabela 2. Análise bioquímica da hemolinfa de Biomphalaria glabrata
expostos ao extrato do caule de Stryphnodendron polyphyllum, nas
concentrações de 25 e 50mg/L.Valores em média±desvios padrão ou
mediana (mínimo - máximo).
Controle S. polyphyllum
25mg/L
S. polyphyllum
50mg/L
Glicose
(mmol/L)
2,86±0,77 4,05±0,90 8,22±1,88
Uréia
(mmol/L)
2,40±1,06 1,98±0,56 3,48±1,54
Proteína
(g/dL)
4,11±0,48 4,33±0,61 3,94±0,51
Cálcio
(mmol/L)
4,12±0,54 6,10±0,80 13,25±1,25
DHL
(U/L)
197,00 (137,00-
282,00)
28 (21,75 – 35,75) 30 (12,00 – 58,00)
ALT
(
U/L
)
198,50 (163,00–
268,00)
225 (208,50 –
283,75)
1290,00 (687,00 –
1539,00)
AST
(U/L)
330,00(277,00-
423,00)
338,00 (362,25-
459,75)
2072,00 (1545,75-
2978,25)
DHL-Lactato Desidrogenase, ALT – Alanina Aminotransferase, AST –
Aspartato Aminotransferase.
Glicose e Cálcio
A concentração de glicose encontrada na hemolinfa de B. glabrata
para o grupo controle foi de 2,86±0,768 mmol/L . Nos moluscos expostos
a 25 e 50 mg/L do extrato as concentrações foram de:
4,04±0,898mmol/L, e de 8,22±1,878 mmol/L, respectivamente.
A análise estatística permite verificar uma alteração significativa
entre a concentração de glicose do grupo mantido sob condições padrão e
os grupos expostos a 25 e 50 mg/L do extrato (p<0,001), (Fig.7, tabela 2).
Cirlane Silva Ferreira
54
A concentração de cálcio na hemolinfa dos moluscos do grupo
controle foi de 4,12±0,54mmol/L. Já as dosagens de cálcio na hemolinfa
do grupo exposto a 25 mg/L foi de 6,101±0,803mmol/L, mostrando uma
diferença significativa com relação ao grupo controle e o grupo exposto a
50 mg/L que apresentou uma concentração de 13,250±1,250mmol/L
(p<0,001), (Fig.7, tabela 2); ocorrendo assim uma variação significativa
entre todos os grupos estudados.
0
2
4
6
8
10
12
14
Mmol/L
controle 25 p
glicose
lcio
pm 50 ppm
mg/L mg/L
Figura 7 – Taxas de concentração de glicose e cálcio na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata exposto ao extrato do caule de Stryphnodendron
polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
Uréia e proteínas
O molusco sob condição padrão apresentou a seguinte
concentração de uréia: 2,397±1,056mmol/L. A taxa de uréia do grupo
exposto a 25 mg/L foi de 1,981±0,557mmol/L, enquanto que o grupo
exposto a 50 mg/L apresentou a taxa de 3,480±1,536mmol/L. A análise
Cirlane Silva Ferreira
55
estatística mostra que não há diferença entre o grupo controle e o exposto
a 25 mg/L (p>0,05) e somente a concentração de uréia na hemolinfa do
grupo exposto a 50mg/L foi estatisticamente diferente da concentração de
uréia na hemolinfa do grupo a 25mg/L (p=0,017), (Fig.8, tabela 2).
Os achados dos experimentos não mostram diferenças (p>0,05)
entre os níveis de proteínas no grupo controle e nos grupos submetidos à
exposição ao extrato do S. polyphyllum. A média do grupo controle foi de
4,11 ± 0,48 g/dL , nos teste expostos a 25 e 50mg/L as médias foram de
4,33 ± 0,61 g/dL e 3,94 ± 0,51 g/dL, respectivamente ( fig.8, tabela 2),
não ocorrendo assim diferença significativa entre os grupos de estudos.
0
1
2
3
4
5
Mmol/L
controle 25 ppm 50 p
Uréia
Protna
pm
mg/L
mg/L
Figura 8 – Taxas de concentração de uréia e proteínas na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata exposto ao extrato do caule de Stryphnodendron
polyphyllum, nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
Atividade Enzimática em B.glabrata
O resultado da atividade da enzima Lactato Desidrogenase no grupo
controle apresentou a mediana de 197,5 U/L, com o valor mínimo de 137
Cirlane Silva Ferreira
56
U/L e valor máximo de 282 U/L. Os moluscos expostos a 25 mg/L
apresentaram mediana de 28 U/L, com valores variando entre 21,75 e
35,75 U/L. Enquanto os moluscos expostos a 50 mg/L apresentaram
mediana de 30 U/L, com valores variando entre 12 e 58 U/L. Verifica-se
através da análise estatística, uma distribuição não normal, com
diferença significativa entre o controle e os testes a 25 e 50 mg/L, embora
não haja diferença entre os testes nas concentrações de 25 e 50 mg/L
(p<0,001), (Fig.9, tabela 2).
As transaminases são enzimas que catalisam a transferência de
grupamento amina de alfa-aminoácidos para alfa-acetoácidos. Os
resultados, em mediana, da atividade enzimática da ALT no grupo
controle foi de 198,5 U/L (163 a 268 U/L), não apresentando diferença
significativa com o grupo exposto a 25 mg/L que apresentou mediana 225
U/L (208,5 a 283,75 U/L). No grupo submetido a 50mg/L verificou-se a
mediana com o valor de 1290 U/L (687 a 1539 U/L), mostrando assim
uma variação estatística significativa (p<0,001).
Os resultados, em mediana, da atividade enzimática da AST do
grupo controle foi de 330 U/L (277 a 423 U/L), para o grupo exposto a 25
mg/L o resultado foi de 388 U/L (362,25 a 459,75 U/L) e para o grupo
exposto a 50 mg/L a atividade enzimática foi de 2072 U/L (1545,75 a
2978,25 U/L) (Fig.9, tabela 2).
Com isso, verifica-se que apenas o grupo exposto ao extrato na
concentração de 50 mg/L apresentou uma diferença estatística
importante com relação aos demais grupos (p<0,001).
Cirlane Silva Ferreira
57
0
500
1000
1500
2000
2500
U/L
ALT AST DHL
controle
25 ppm
50 ppm
Figura 9 – Taxas da atividade enzimática na hemolinfa de Biomphalaria
glabrata exposto ao extrato do caule de Stryphnodendron polyphyllum,
nas concentrações de 25 e 50 mg/L.
Dosagens pela Cromatografia Líquida
Os valores obtidos dos ácidos orgânicos: citrato, propionato, α-
cetoglutarato, succinato, acetato, malato, fumarato, piruvato e lactato a
partir da hemolinfa de B. glabrata em condição padrão referem-se ao
grupo controle. A exposição dos moluscos às concentrações de 25 e 50
mg/L do extrato de S. polyphyllum. A comparação entre estes valores
permitiu sugerir algumas modificações sobre o metabolismo dos
moluscos.
A exposição do molusco ao extrato da planta originou resultados de
distribuição não normal na maioria dos testes analisados na hemolinfa de
B. glabrata. Apenas o citrato e o propionato apresentaram diferenças
estatísticas significantes (p0,001). Para o grupo controle o citrato
apresentou a concentração mediana de 0,46 mmol/L, com valores
Cirlane Silva Ferreira
58
variando de 0,25 a 0,62 mmol/L, porém este não foi detectado na
hemolinfa dos moluscos expostos a 25 e 50 mg/L do extrato em estudo. O
propionato foi detectado nos três grupos e, para os dados obtidos, estes
resultados foram estatisticamente diferentes com relação ao grupo
controle e os testes expostos a 25 e 50 mg/L (p0,007). No grupo
controle, a concentração de propionato foi de 8,12 mmol/L (7,10 a 11,53);
a 25 mg/L o valor encontrado foi de 9,58 mmol/L ( 4,28 a 189,28) e a 50
mg/L sua concentração se elevou para 488,24 mmol/L (94,34 a 906,61).
O propionato apresentou uma diferença significativa quando o grupo
controle foi comparado com o teste exposto a 50 mg/L (p0,026), (tabela
3).
Os outros ácidos orgânicos como α-cetoglutarato, succinato,
acetato, malato fumarato, piruvato e lactato também foram detectados,
porém não apresentaram diferença estatística significante (p<0,05),
conforme tabela 3.
Cirlane Silva Ferreira
59
Tabela 3. Média e Mediana da concentração (mmol/L) de ácidos
orgânicos presentes na hemolinfa de Biomphalaria glabrata, grupo controle o
grupo teste exposto a 25 e 50 mg/L do extrato de Stryphnodendron
polyphyllum.
Ácidos
Orgânicos
Controle 25mg/L 50mg/L
Citrato* 0,46 (0,25-0,62) n.d. n.d.
Propionato
*
8,12 (7,10-
11,53)
9,58 (4,28-189,28) 488,24 (94,34-
906,61)
cetoglutarato n.d. 3,90 (0,0-9,04) 9,67 (4,10-13,08)
Succinato 3,13 (1,82-4,99) 4,05 (2,66-7,80) 45,84 (18,64-78,78)
Acetato 3,70 (0,74-5,39) 58,72 (4,03-
119,12)
118,43 (40,17-166,87
)
Malato 3,69 (2,09-7,25) 2,51 (0,73-6,55) 40,16 (19,74- 46,50)
Fumarato 0,12 (0,03-0,16) 0,12 (0,03-0,45) 0,13 (0,07-0,16)
Piruvato 0,19 (0,07-0,24) 0,13 (0,0-0,37) n.d.
Lactato 0,55 ±0,28 0,22 ±0,19 0,61 ±0,21
*valores com diferença estatisticamente significativa.
n.d. não detectado
DISCUSSÃO
O uso de plantas com propriedades moluscicidas vem sendo
considerado desde que se descobriu na Etiópia, que os frutos da Phytolacca
dodecandra, possuíam a propriedade de interferir no metabolismo dos
moluscos transmissores da esquistossomose. Esta doença, endêmica em
várias regiões do Brasil, tem uma ampla distribuição geográfica dos
moluscos hospedeiros intermediários do S. mansoni (Schaufelberger,
Hostettmann 1983; Souza et al. 1992).
Em estudos preliminares realizados por nossa equipe, os extratos da
casca e folha de S. polyphyllum foram utilizados em testes de mortalidade de
Cirlane Silva Ferreira
60
moluscos B. glabrata, expostos por 24 horas às soluções testes com
resultados de 70% de eficácia moluscicida a 50 mg/L a partir do 3º dia de
observação (Bezerra et al. 2002).
Uma maneira de se atingir o objetivo de compreensão metabólica pode
ser através de bioensaios com produtos naturais, muitas vezes de uso
medicinal, encontrados na flora do Cerrado. Muitas dessas plantas são
consideradas taníferas, por apresentarem altos teores de taninos em suas
estruturas (Alcanfor et al. 2001).
Os taninos possuem a capacidade de complexar com proteínas,
polissacarídeos, alcalóides, íons metálicos como ferro, vanádio, cobre,
alumínio, cálcio e outros, além de atividade antioxidante e seqüestradora de
radicais livres. Testes in vitro demonstraram que fenóis e polifenóis inibem a
peroxidação de lipídios e lipogenases, assim como possuem a habilidade de
seqüestrarem radicais livres como: hidroxil, superperóxido e peroxil (Bezerra
et al. 1997, 1999, Gomes et al 1998, Foster et al. 1989, Herzog- Soares et al.
1999, Lima et al. 1998).
A glicose é o monossacarídeo mais comum na hemolinfa de
gastrópodes (Livingstone, de Zwaan 1983). Na classe Pulmonata de
moluscos diferentes estratégias podem ser desenvolvidas para o uso da
energia armazenada durante condições nutricionais adversas (Streit 1978).
No presente estudo, a concentração de glicose elevou-se de forma
significativa quando os moluscos foram expostos ao extrato de S.
polyphyllum, semelhante ao descrito por Wijsman et al. (1988), que relatam
hiperglicemia devido à anoxia química (sulfato de cobre) e anestesia
(Nembutal + MS 222) em Lymnaea stagnalis. Os autores concluíram que o
Cirlane Silva Ferreira
61
sulfato de cobre e anestesia induziam ao estresse (sem hiperlactatemia), mas
que a anóxia induzia a hiperglicemia para contrabalançar o uso inefetivo
anaeróbio de energia (hiperlactatemia drástica). Hiperglicemia, como uma
“reação de emergência” para o estresse, geralmente achada no reino animal e
no mecanismo intracelular (aumento de cAMP, análise do glicogênio) parece
ser onipresente (Marks 1979). A ausência de um efeito significante de
hipoglicemia em situação fisiológica de jejum, apresentado aqui, coincide
com os resultados de Liebsch e Becker (1990).
Com relação à avaliação do metabolismo do cálcio os resultados
mostraram um aumento nas concentrações deste, na hemolinfa dos
moluscos quando expostos por 24 horas ao extrato da casca de S.
polyphyllum. Alterações de cálcio em moluscos podem ser provocadas por
descalcificação da concha. O cálcio tem uma função muito importante na
biologia dos moluscos. Em B. glabrata o cálcio pode estar relacionado com a
produção e desenvolvimento de ovos e embriões (Shaw, Erasmus 1987).
Estes resultados estão de acordo com os obtidos por Alcanfor (2001), porém
não estão de acordo com os resultados encontrados por Silva (2002) que fez
esta mesma análise sob condição de jejum e não se observou uma alteração
expressiva.
A biomineralização da concha de moluscos é um problema ainda não
resolvido pela ciência. A concha dos moluscos é constituída por carbonato de
cálcio e uma larga variedade de estruturas de cristais. É aceito pela maioria,
que a parte orgânica da concha é envolvida por uma determinada
quantidade de cristais modificados (Belcker et al. 1996). A matrix orgânica
consiste de proteínas e carboidratos (Marxen, Becker 1997) e o fornecimento
Cirlane Silva Ferreira
62
de ácidos ligados por todos os lados é determinante para a acumulação de
cálcio (Weiner, Addadi 1991).
Com referência ao metabolismo das proteínas, através da análise
estatística, foi verificado que as concentrações na hemolinfa dos moluscos
sob exposição ao extrato de S. polyphyllum e o grupo mantido sob condições
padrão não revelaram diferenças. Então as condições ecofisiológicas
adversas provocadas pelo extrato levam à morte dos moluscos, apesar de
existirem boas reservas de proteínas e lipídeos (Gress, Cheng 1973,
Michelson, DuBois 1975, Becker, Lüth 1977). Estes achados não estão de
acordo com os dados de Alcanfor (2001), que também expôs os moluscos ao
extrato de S. polyphyllum e Silva (2002) que encontrou uma redução nos
níveis de proteínas totais, quando submeteu os moluscos ao jejum e a
estivação.
Estudos mostram que a função fisiológica do ciclo da uréia consiste na
desintoxicação da amônia, ocorrendo um aumento na excreção e um
acúmulo de uréia quando B.glabrata está sob situações ecofisiológicas
adversas (Cheng, Lee 1971, Schmale, Becker 1977). Becker (1975) encontrou
valores de aproximadamente 0,26 mmol/L, neste trabalho o grupo controle
teve a concentração média de 2,4 mmol/L e quando o molusco foi exposto a
50 mg/L do extrato ocorreu uma maior excreção da uréia elevando sua
concentração para 3,48 mmol/L. Em B. glabrata a ativação enzimática do
ciclo da uréia pode surgir pelo aumento de nova síntese ou por restrição da
degradação das enzimas envolvidas, sendo que este mecanismo
provavelmente está sujeito à influência de substratos ou outros ativadores e
inibidores (Becker, Schmale 1975).
Cirlane Silva Ferreira
63
Observa-se que B. glabrata apresenta uma série de possibilidades
metabólicas que lhe permitem sobreviver temporariamente em condições
adversas. Obviamente, diferentes condições fisiológicas podem levar a
alteração na atividade de diferentes enzimas. O estudo da atividade de
algumas enzimas chave como um mecanismo de regulação fisiológica do
molusco pode representar alvo de estudo. Então se dosou a concentração
das enzimas transaminases-alanina aminotransferase (ALT), aspartato
aminotransferase (AST) - e a desidrogenase lática (LDH).
Testes farmacológicos e biológicos realizados com extratos ricos em
taninos têm identificado diversas atividades fisiológicas desta classe de
substância, como ação bactericida e fungicida, antiviral, moluscicida,
inibição de enzimas como glucosiltransferases de Streptococcus mutans e S.
sobrinus (Carmona 1994, Haslan 1998).
As aminotransferases representam uma ligação importante entre as
vias metabólicas de carboidratos e aminoácidos. Considerando as alterações
na concentração de carboidratos (Wright 1966) e aminoácidos (Gilbertson et
al. 1967, Feng et al. 1970) em moluscos infectados, onde é comum encontrar
uma redução nos níveis de glicose e proteínas. Neste trabalho a atividade
das aminotransferases aumentaram de forma significativa após a exposição
ao extrato de S. polyphyllum na concentração de 50mg/L. Manohar et al
(1972) encontraram as mesmas mudanças nas aminotransferases em
Lymnaea luteola infectada com Prosthogonimus sp.
Douglas e Haskim (1972) encontraram um aumento de aspartato
aminotransferase na hemolinfa de ostras (Crassostrea virginica) expostas a
Cirlane Silva Ferreira
64
Minchinia nelsoni (pequenos endoparasitas de invertebrados marinhos, filo
dos protozoários no ramo alvelado).
Christie et al (1974a) analisaram estas aminotransferases em B.
glabrata, infectado com S. mansoni, e verificaram que existe uma
significativa diminuição na concentração de AST e ALT, que pode ser
causada pelo declíneo na concentração de proteínas. Pode haver também
uma diminuição na atividade específica de ALT no tecido do molusco com
progresso da infecção. As atividades específicas de transaminases no tecido
do molusco são mais baixas que o normal durante a infecção.
Esta oxidação de aminoácidos pode ocasionar acidose metabólica
(Patience 1983), conforme visto na dosagem de pH no artigo anterior.
Goldberg e Cather (1963 a, b) descreveram múltiplas formas de lactato
desidrogenase em um molusco e malato desidrogenaase em duas espécies de
moluscos, o que leva a crer que múltiplas formas de desidrogenases são
provavelmente comuns em moluscos. Neste trabalho a enzima, DHL, sofreu
uma redução significativa quando o B.glabrata foi exposto ao extrato de S.
polyphyllum. Mas Coles (1969) relatou que estas enzimas podem ser restritas
a uma população local de moluscos e em outras populações da mesma
espécie os resultados podem ser diferentes.
As análises realizadas pela técnica de cromatografia líquida tinham
como propósito o estudo da bioatividade da planta S. polyphyllum sobre a
hemolinfa de B. glabrata. Ácidos orgânicos são importantes componentes do
metabolismo intermediário e participam em ambas as vias: catabólica (ex.
glicólise) e anabólica (ex. gliconeogênese). O Piruvato é indicador de
processos glicolíticos sob condições aeróbias, o lactato é indicador de
Cirlane Silva Ferreira
65
processos sob condições anaeróbias, enquanto fumarato, succinato e malato
são indicadores do ciclo de Krebs ou produtos de metabolismo anaeróbio em
invertebrados (Bezerra, Becker 1993). A presença de corpos cetônicos, tal
como ß-hidroxibutirato e acetoacetato, assim como ácidos graxos, tal como
acetato e propionato, são indicativos para metabolismo de lipídios (Meyer et
al 1986, Bezerra, Becker 1993) (fig.10).
Produção de Ácidos Orgânicos
Glicólise
Piruvato
Lactato
Ciclo de Krebs
Succinato
Funarato
Malato
Ácidos Graxos
Acetato
Propionato
Corpos Cetônicos
Acetoacetato
Hidroxibutirato
Figura 10 – Esquema resumido da produção de ácidos orgânicos
(Bezerra et al 1997. Mem.Inst.Osvaldo).
Os resultados obtidos por Bezerra (1994) em B. glabrata com estudos
da concentração dos ácidos orgânicos succinato, malato e fumarato, sob
condições hipóxicas, evidenciou uma indicação para inversão parcial no ciclo
Cirlane Silva Ferreira
66
de Krebs como adaptação à nova circunstância metabólica, promovendo
desta forma a sobrevivência do mesmo. Esta adaptação estará originando
produtos finais do metabolismo anaeróbio em moluscos (Patiennce et al
1983). No presente trabalho não se evidenciou esta inversão do ciclo de
Krebs. Bezerra et al (1999) analisaram a hemolinfa de B.glabrata após 7 e 14
dias de estivação e verificaram que a concentração de acetato e piruvato
aumentou significativamente. Neste trabalho a situação de estresse foi
induzida pela presença do extrato de S. polyphyllum e as concentrações dos
ácidos orgânicos foram influenciadas de forma significativa para o citrato e o
propionato.
O trabalho desenvolvido enfatiza vários problemas críticos associados
com a investigação dos ácidos orgânicos de moluscos, porque existe uma
grande variação inerente na concentração destes ácidos na hemolinfa destes
moluscos, um grande número de amostras é necessário para se obter
diferenças estatísticas.
Seres vivos dependem de uma série de condições mínimas para que
suas funções sejam equilibradas e distribuídas propriamente pelo corpo,
afim de que os metabolismos possam ser exercidos de acordo com as
necessidades de vida do organismo. No meio aquático, a dependência de
vários fatores físicos, químicos e biológicos encontrados na água é de
importância vital aos que nela habitam. Esses fatores são naturalmente
mudados ou substituídos de forma constante, agindo de maneira altamente
influente nos organismos, necessitando de alguns ajustes para que tais
mudanças sejam assimiladas e corretamente direcionadas ao destino de
suas funções.
Cirlane Silva Ferreira
67
Obviamente, alterações fisiológicas podem levar a patologias. O
desenvolvimento de medicamentos ou de uma quimioterapia só será possível
se conhecermos características fisiológicas deste organismo e sua relação,
por isso, faz-se necessário que conheçamos a concentração de substâncias
intermediárias ou finais do metabolismo.
O estudo do metabolismo bioquímico do molusco, pode deduzir
algumas vias metabólicas alteradas, que irão proporcionar sua manutenção
por longos períodos e com isto interpretar e sugerir alternativas integradas
contra o molusco, evitando as estratégias metabólicas que permitam sua
sobrevivência (Bezerra e Becker 1993).
Cirlane Silva Ferreira
Conclusões Finais68
CONCLUSÕES FINAIS
1. A interação dos estudos em B. glabrata sob condições
ecofisiológicas adversas provocadas pela ação do extrato de S.
polyphyllum, produto natural extraído do caule da planta do Cerrado,
permite verificar uma influência na obtenção dos resultados analisados
na hemolinfa do molusco.
2. O extrato de S. polyphyllum, na concentração de 50 mg/L,
causou uma hiperglicemia na hemolinfa do molusco. As concentrações
de proteínas totais em B. glabrata após a exposição ao extrato da casca
do caule de S. polyphyllum não sofreram alterações. Ocorreu um
aumento na excreção da uréia. O extrato testado interferiu no
metabolismo de cálcio, aumentando sua concentração.
3. A atividade enzimática também sofreu influência do extrato
estudado, as concentrações das enzimas alanina e aspartato
aminotransferases elevaram-se de forma significante e a concentração de
lactato desidrogenase sofreu uma redução importante na concentração
de 50 mg/L apenas.
4. A avaliação das concentrações dos ácidos orgânicos sob a ação
do extrato de S. polyphyllum permitiu verificar a presença dos ácidos
citrato, propionato, cetoglutarato, succinato, acetato, malato, fumarato,
piruvato e lactato com uma alteração significativa sobre o citrato e o
propionato, indicando assim que os testes expostos à dose sub letal de
Cirlane Silva Ferreira
Conclusões Finais69
50 mg/L influenciaram no metabolismo do ciclo de Krebs e ácidos
graxos.
5. No estudo do equilíbrio ácido-base verificou-se na hemolinfa
uma diminuição significativa no pH, na pressão de gás oxigênio, íons
carbonatos e na saturação de gás oxigênio. Por outro lado, houve um
aumento na pressão de gás carbônico, quando estes foram submetidos
ao extrato na concentração de 50 mg/L.
6. A grande maioria dos processos bioquímicos é extremamente
sensível à variação do pH. A manutenção do pH é conseguida pelos seres
vivos graças à existência dos sistemas-tampão. O teor de íons hidrogênio
é regulado por uma série de tampões, e dentre as substâncias que atuam
como tampões, destacam-se as hemoglobinas, as proteínas, os fosfatos e
o sistema de bicarbonato, sendo este o mais importante, pois se encontra
presente em grandes quantidades, porém o extrato de S. polyphyllum
parece que impediu que este sistema funcionasse de forma efetiva.
7. Os resultados encontrados mostram perspectivas promissoras
para o controle da esquistossomose, visam não só ao combate do
hospedeiro intermediário, mas também a preservação deste rico bioma,
como potencial fonte de alternativas de produtos naturais para usos
diversos, que está sofrendo acelerado processo de destruição.
Cirlane Silva Ferreira
Considerações Finais70
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta investigação confirma a bioatividade do extrato aquoso de S.
polyphyllum sobre o B.glabrata, hospedeiro intermediário do S. mansoni.
Uma das principais contribuições da presente metodologia empregada é a
observação pós-contato direto com o extrato, que demonstrou uma
bioatividade sobre o metabolismo do molusco.
A análise de extrato aquoso obtido do caule do barbatimão pode
subsidiar novas alternativas de menor custo financeiro no controle da
esquistossomose no Brasil, onde o Cerrado é vasto e a carência de recursos é
freqüente no setor da saúde.
O estudo do metabolismo bioquímico do molusco nos permite deduzir
algumas vias metabólicas alteradas, que irão proporcionar sua manutenção
por longos períodos, além de interpretar e sugerir alternativas integradas
contra o molusco, evitando as estratégias metabólicas que permitam a sua
sobrevivência (Bezerra, Becker 1993).
Os mecanismos de ação dos taninos ainda não foram bem
esclarecidos. Entretanto, se for constatado que os taninos são menos tóxicos
para organismos não alvos do que outros compostos com ação moluscicida,
eles constituirão uma classe poderosa de produtos naturais (Marston,
Hostetmann 1985).
Um programa integrado envolvendo melhoria nas condições sanitárias,
juntamente com a quimioterapia de pacientes e a aplicação de moluscicidas
adequados, educação e saúde em zonas endêmicas da esquistossomose,
poderá reduzir a ocorrência da doença em grandes áreas endêmicas. Nesse
Cirlane Silva Ferreira
Considerações Finais71
sentido as plantas moluscicidas são de grande importância no controle dos
focos da infecção, complementando outras medidas de prevenção da
esquistossomose.
O Brasil é um país de contrastes, onde as desigualdades sócio-
econômicas perduram em pleno ano 2006. A ausência de programas sólidos
em saúde pública e na educação é uma das grandes causas das diferenças
nas camadas sociais. Poucos são aqueles que possuem acesso às melhorias
de vida, obtidas ao longo da evolução lenta de nossos governantes.
Enfrentamos em nosso cotidiano, ao longo do ano, o surgimento de doenças
outrora já controladas pela simples falta de educação e saneamento básico,
ou continuidade de investimentos.
Além das notórias deficiências dos serviços de saúde, principalmente
nas áreas periféricas da maioria dos países em desenvolvimento, constata-se
grande falta de pessoal qualificado, em todos os níveis, reduzida circulação
das informações científicas, nesses meios. Essa situação se agrava na
medida em que nos afastamos dos centros culturais e onde velhos
preconceitos prevalecem, ou subsiste uma cultura folclórica com noções e
práticas atrasadas de séculos ou milênios.
Afinal, tudo se passa como se não existissem, já, os conhecimentos
para solucionar os problemas e para implantar as medidas de controle da
esquistossomose se fazem necessárias.
Cirlane Silva Ferreira
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Cirlane Silva Ferreira
Cirlane Silva Ferreira
86
ANEXOS
Cirlane Silva Ferreira
87
e
ANEXOS
Anexo 1 Tabela das dosagens bioquímicas e dosagens do equilíbrio ácido-base do grupo controle.
Contr ol
1 2
3
4
5
6
7
8
9
10
glicose 2,44 3,05
2,05
1,94
2,11
4,00
2,88
3,05
2,94
4,16
ureia 1,83 2,33
2,50
3,00
2,66
2,66
1,83
4,66
0,50
2,00
proteina 4,20 4,80
3,40
3,30
4,40
4,60
4,10
3,90
4,40
4,00
calcio 4,35 4,42
3,52
3,60
4,82
4,35
4,55
3,52
4,62
3,42
DHL 210,00 130,00
210,00
168,00
185,00
289,00
66,00
282,00
137,00
284,00
ALT 163 186
69
188
102
251
298
278
209
268
AST 277 284
151
324
232
553
423
336
420
567
pH 7,75 7,74
7,68
7,62
7,66
7,59
7,54
7,65
7,64
7,55
pCO2 11,00 11,00
11,00
17,00
13,00
14,00
17,00
14,00
12,00
17,00
pO2 145,00 123,00
110,00
136,00
139,00
125,00
156,00
168,00
105,00
138,00
HCO3- 16,00 16,00
14,00
18,00
15,00
14,00
14,00
15,00
13,00
15,00
SO2 99,00 99,00
99,00
99,00
99,00
99,00
99,00
100,00
99,00
99,00
Tabela das dosagens bioquímicas e dosagens do equilíbrio ácido-base do grupo exposto a 25 mg/L/24h.
25mg/L
1 2
3
4
5
6 7
8
9
10
glicose 3,11 4,94
3,00
3,66
3,50
4,05 3,83
3,55
5,39
5,44
ureia 2,66 1,33
1,33
2,00
1,50
1,50 2,50
1,83
2,50
2,66
proteina 3,10 5,10
4,70
4,20
3,60
4,70 4,10
4,30
4,80
4,70
calcio 7,20 5,35
5,35
7,00
6,45
7,02 5,07
5,82
6,35
5,40
DHL 28,00 15,00
43,00
41,00
34,00 32,00
7,00
24,00
ALT 423 225
269
189
209 207
209
328
227
AST 751 338
458
367
396 388
368
465
348
pH 7,20 7,70
7,76
7,57
7,74
7,61 7,62
7,58
7,55
7,60
pCO2 18,00 12,00
11,00
14,00
12,00
15,00 13,00
14,00
17,00
15,00
pO2 97,00 14,00
173,00
139,00
146,00
154,00 150,00
86,00
216,00
164,00
HCO3- 7,00 15,00
16,00
12,00
16,00
15,00 14,00
13,00
15,00
15,00
SO2 96,00 99,00
100,00
99,00
99,00
99,00 99,00
98,00
100,00
99,00
Cirlane Silva Ferreira
88
Tabela das dosagens bioquímicas e dosagens do equilíbrio ácido-base do grupo exposto a 50mg/L/24h.
50
mg/L
1
2
3
4
5 6
7
8
9
10
glicose 5,50
10,33
8,55
8,83
7,94 8,72
5,28
11,16
7,05
8,88
ureia 6,00
3,50
5,66
2,50
2,33 1,50
2,66
3,83
4,66
2,16
proteina 3,30
4,40
3,50
3,50
4,50 3,80
3,60
4,70
3,70
4,40
calcio 11,85
13,85
11,87
14,17
14,07 13,55
14,65
12,07
11,65
14,77
DHL 47,00
12,00
8,00
21,00
39,00
58,00
19,00
10,00
ALT 1875,00
1175,00
1405,00
672,00
687,00 1539,00
487,00
1618,00
1490,00
944,00
AST 3528
2040
2795
1284 2072
997
2313
3627
1633
pH 6,68
6,84
6,48
7,03
6,90 6,93
7,12
6,83
6,76
7,13
pCO2 27,00
38,00
58,00
37,00
38,00 44,00
47,00
26,00
37,00
39,00
pO2 19,00
84,00
41,00
70,00
91,00 123,00
44,00
66,00
78,00
51,00
HCO3- 3,00
6,00
4,00
9,00
7,00 9,00
15,00
4,00
5,00
13,00
SO2 99,00
86,00
20,00
86,00
90,00 96,00
64,00
75,00
80,00
75,00
Tabela das dosagens dos ácidos orgânicos do grupo controle.
oxalat
o
citrat
o
propionat
o
succinat
o
cetoglutara
to
acetato malat
o
fumarat
o
pituvat
o
Lactat
o
control
e 1
Nd 0,566
8
7,0987
Nd
Nd
0,7394
7,252
5
0,1762
0,2783
Nd
control
e 2
Nd 0,616
1
7,5771
Nd
Nd
10,3177
2,175
8
0,1161
0,1637
Nd
control
e 3
Nd 0,348
2
21,6616
Nd
Nd
2,0831
2,088
5
0,1208
0,2378
Nd
control
e 4
2,91 0,245
5
6,802
Nd
Nd
5,3864
7,441
0,0263
0,0704
Nd
control
e 5
Nd 0,658
1
11,5255
0,945
Nd
Nd
5,211
9
0,1639
0,214
0,082
5
control Nd 0,235 8,6573
Nd
Nd
5,3186
1,002 0,0168
0,0255
Nd
Cirlane Silva Ferreira
89
e 6 9
1
Cirlane Silva Ferreira
90
Tabela das dosagens dos ácidos orgânicos do grupo exposto a 25 mg/L
oxalat
o
citrat
o
propionat
o
succinat
o
cetoglutarat
o
acetato malat
o
fumarat
o
piruvat
o
lactat
o
spc 25
1
Nd Nd
8,5629
3,5961
10,2659
109,371
1
0,859
3
0,1789
Nd
Nd
spc 25
2
Nd Nd
10,5988
11,0952
Nd
Nd
8,942
1
0,7226
0,2611
Nd
spc 25
3
Nd Nd
367,9618
4,5101
Nd
128,871
3
4,158
2
Nd
0,482
Nd
spc 25
4
Nd Nd
Nd
1,7297
7,8056
8,0705
0,598
8
0,0664
Nd
Nd
Tabela das dosagens dos ácidos orgânicos do grupo exposto a 50 mg/L
oxalat
o
citrat
o
propionat
o
succinat
o
cetoglutarat
o
acetato malato
fumarat
o
piruvat
o
lactat
o
spc 50
1
Nd
Nd
Nd
Nd
15,0231 80,3498
39,473
7
Nd
Nd
0,508
8
spc 50
2
Nd
Nd
30,7454
Nd
11,1455 Nd
Nd
0,1837
Nd
Nd
spc 50
3
Nd
Nd
818,545
Nd
Nd 177,230
2
52,154
4
0,1321
Nd
Nd
spc 50
4
Nd
Nd
157,9257
37,28
8,2048 156,519
8
40,850
9
0,1346
Nd
0,686
6
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