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No caso dos bestiários, que tratavam de esclarecer e organizar o simbolismo dos
animais, encontramos considerável produção literária por toda a Idade Média. Entre os autores
conhecidos deste gênero, no período medieval, estão Solino, Hugo
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e Ricardo de São Vitor.
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No caso dos Sermões, apesar do autor se utilizar de algumas citações de Hugo para
referir-se às bestas, como o elafante, o basilísco e animais marinhos, Solino lhe foi fundamental.
No sermão do domingo na oitava da Páscoa, frei Antônio descreve assim a característica do
elefante:
Procedem como os elefantes, dos quais escreve Solino: As fêmeas não
conhecem o amor antes dos dez anos, os machos antes dos cinco; coabitam
durante dois anos, apenas cinco dias no ano, e não voltam à manada antes de se
lavarem em águas correntes.
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DOIMI, Samuel. Le Scienze Naturali in Sant'Antonio. In: S. ANTÔNIO DOTTORE DE LA CHIESA. 1947, Roma e
Pádua. Atas... Cidade do Vaticano: Tipografia Poliglota Vaticana, 1947, p. 452.
37 Hugo de São Vítor compôs a obra bestiis et aliis rebus libri quatuor, na qual, em seu primeiros três capítulos, trata dos
pássaros e dos animais terrestres e selvagens. Segundo o site accio.com.br, Hugo de S. Vítor nasceu no ano de 1096 na
Alemanha, que na época chamava-se Sacro Império Romano Germânico. Ainda jovem, sentindo-se chamado para a vida
religiosa, foi aconselhado por seu tio que era bispo a mudar-se para Paris e ingressar no Mosteiro de São Vitor, pertencente
à congregação recentemente fundada dos Cônegos Regulares de São Vitor, que hoje não existe mais. Junto ao mosteiro de
São Vítor havia uma escola de Teologia. Com o tempo, Hugo de S. Vítor tornou-se professor nesta escola e mais tarde
também o seu diretor e principal organizador. Ali veio a falecer no ano de 1141. Em suas obras Hugo de S. Vitor mostrou
como o estudo da ciência sagrada pode ser utilizado como instrumento para o desenvolvimento das virtudes e da vida
espiritual. Deixou uma obra conhecida como Os Mistérios da Fé Cristã que foi o primeiro texto da Igreja Latina em que se
tentou fazer uma síntese abrangente de toda a doutrina cristã; Os Mistérios da Fé Cristã foi, de fato, a primeira de todas as
Summas Teológicas que começaram a aparecer em seguida, desta maneira preparando o caminho para o surgimento da
importantíssima Summa Teologica de Santo Tomás de Aquino duzentos anos mais tarde. Hugo de São Vítor tinha um amor
imenso pelo estudo das Sagradas Escrituras, tendo deixado de alguns dos livros da Bíblia comentários de raríssima beleza.
Em um opúsculo intitulado Sobre o modo de Aprender e de Meditar Hugo de S. Vitor deixou definições notáveis sobre a
contemplação, as quais desenvolveu, estendendo as concepções fundamentais do Tratado sobre a Santíssima Trindade de
Santo Agostinho, no Sétimo Livro do Didascalicon, também conhecido como o Tratado dos Três Dias, do qual existe uma
tradução portuguesa. A obra de Hugo de S. Vitor é bastante extensa, o que torna impossível comentá-la toda no pequeno
espaço destas páginas. Disponível em: http://www.accio.com.br/Nazare/1946/teol-imp.htm. Consultado em: 13/07/07.
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Ricardo de São Vítor nasceu na Escócia e, atraído pela fama do Mosteiro de São Vitor, em que na época ensinava Hugo,
ainda jovem mudou-se para Paris onde foi admitido entre os vitorinos. Foi, assim, aluno de Hugo de S. Vitor, a quem
admirava profundamente. Anos mais tarde, quando Hugo faleceu, Ricardo continuou sua obra com tanta fidelidade que o
conjunto de ambas, a de Hugo e a de Ricardo, constituem na verdade como que uma só obra. Na Divina Comédia, quando
descreve o Céu, Dante Alighieri cita Ricardo de S. Vitor e diz que, quando falou sobre a contemplação, Ricardo de S. Vitor
foi "mais do que humano, verdadeiramente sobre humano". A obra de Ricardo de São Vítor é, em extensão,
aproximadamente um terço da de Hugo, mas é tão notável em perfeição quanto a do mestre. Entre seus livros cita-se um
tratado de uma beleza indescritível Sobre a Santíssima Trindade, que é, de certa forma, um aprofundamento do Tratado
dos Três Dias de Hugo. Ricardo escreveu também um livro, conhecido como Benjamim Menor, em que faz um comentário
alegórico à vida dos filhos de Jacó tal como é narrada pelas Sagradas Escrituras no livro de Gênesis, no qual descreve o
crescimento das virtudes como preparação à vida contemplativa, e sua continuação, o Benjamim Maior, outro comentário
alegórico à descrição contida no livro de Êxodo sobre o modo como deveria ser construída a Arca da Aliança, em que nos
mostra seis estágios no desenvolvimento da vida contemplativa. Ricardo de S. Vitor deixou também aquele que talvez seja
o mais belo comentário ao Apocalipse escrito pela tradição cristã. Disponível em:
http://www.accio.com.br/Nazare/1946/teol-imp.htm. Consultado em: 13/07/07.