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relação que o público mantinha com esses espaços era muito distante, até porque não havia
qualquer motivação das administrações de ampliar essa relação.
A ida ao shopping era esporádica, rápida e motivada pela compra. No caso dos
subúrbios americanos, por exemplo, talvez as visitas fossem mais freqüentes desde o início,
pela própria falta de outras alternativas próximas, mas o tempo de permanência e a relação
com o público permaneciam em um nível bem diminuto. No caso brasileiro, ir ao shopping
tornou-se um grande programa para as elites, já que os primeiros shoppings se localizavam
em bairros nobres
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, esbanjando o glamour de uma idéia “importada”, e que, portanto,
possui aqui um caráter de riqueza, especificamente projetado para pessoas de “alto nível”.
Principalmente nos países subdesenvolvidos
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, o shopping acabaria se tornando um
componente importante da auto-segregação, uma nova opção para a efetivação do
“escapismo”
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das elites urbanas.
Esta primeira inserção do shopping na cidade, caracterizando-se como um local de
passagem para compras, extremamente homogêneo, objetivo e pouco comunicativo,
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Podemos comprovar a idéia de que os primeiros shoppings foram instalados em áreas nobres de cidades
brasileiras com quatro “antigos” shoppings do país. O primeiro shopping, reconhecido como tal, surge no
Brasil em 1966. O Iguatemi São Paulo está localizado em uma das áreas mais nobres da maior metrópole
brasileira, na Av.Brigadeiro Faria Lima 2232, Jardim Paulistano. Ainda na cidade de São Paulo, o Shopping
Ibirapuera, localizado na Zona Sul da cidade atende a uma clientela de bom poder aquisitivo. Em 1971 o
Shopping Conjunto Nacional foi inaugurado em Brasília-DF, no Setor de Diversões Norte, em frente ao
Teatro Nacional. O primeiro shopping de Belo Horizonte, o BH Shopping, inaugurado em 1979, localiza-se
no luxuoso bairro Belvedere.
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Durante suas pesquisas sobre os centros comerciais de Buenos Aires, CAPRON (1998) entrevistando uma
senhora do luxuoso bairro Palermo ilustra a idéia do escapismo das elites urbanas, especialmente em países
subdesenvolvidos: “Les propos d’une dame du quartier chic de Palermo sont significatifs: ‘Si tu vas sur une
place publique et tu veux rester sur la pelouse, on te vole ton sac, ou il y a a quelqu’um qui te dérange (...)
Dans um centre commercial, c’est moins dangereux et tu regardes plus tranquillement” (CAPRON 1998,
pg.62).
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“O escapismo das elites não se restringe aos condomínios exclusivos: os shopping centers, que, sobretudo a
partir da década de 80 se incorporam à paisagem das metrópoles e de outras grandes cidades brasileiras,
compõem, juntamente com os condomínios exclusivos, o quadro típico desse escapismo. É bem verdade que
os shoppings não são tão fechados quanto os condomínios...” (SOUZA, 1999, pg. 201).