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Segundo Choppin, o livro didático exerce quatro funções fundamentais
que podem ter variação de acordo com o ambiente sociocultural, a época, as
disciplinas, os níveis de ensino, os métodos e suas formas de utilização. São elas:
1. Função referencial, também chamada de curricular ou
programática, desde que existam programas de ensino: o livro
didático é então apenas a fiel tradução do programa ou, quando
se exerce o livre jogo da concorrência, uma de suas possíveis
interpretações. Mas, em todo o caso, ele constitui o suporte
privilegiado dos conteúdos educativos, o depositário dos
conhecimentos, técnicas ou habilidades que um grupo social
acredita que seja necessário transmitir às novas gerações.
2. Função instrumental: o livro didático põe em prática
métodos de aprendizagem, propõe exercícios ou atividades que,
segundo o contexto, visam a facilitar a memorização dos
conhecimentos, favorecer a aquisição de competências
disciplinares ou transversais, a apropriação de habilidades, de
métodos de análise ou de resolução de problemas, etc.
3. Função ideológica e cultural: é a função mais antiga. A
partir do século XIX, com a constituição dos estados nacionais e
com o desenvolvimento, nesse contexto, dos principais sistemas
educativos, o livro didático se afirmou como um dos vetores
essenciais da língua, da cultura e dos valores das classes
dirigentes. Instrumento privilegiado de construção de identidade,
geralmente ele é reconhecido, assim como a moeda e a bandeira,
como um símbolo da soberania nacional e, nesse sentido, assume
um importante papel político. Essa função, que tende a aculturar -
e, em certos casos, a doutrinar - as jovens gerações, pode se
exercer de maneira explícita, até mesmo sistemática e ostensiva,
ou, ainda, de maneira dissimulada, sub-reptícia, implícita, mas não
menos eficaz.
4. Função documental: acredita-se que o livro didático pode
fornecer, sem que sua leitura seja dirigida, um conjunto de
documentos, textuais ou icônicos, cuja observação ou
confrontação podem vir a desenvolver o espírito crítico do aluno.
Essa função surgiu muito recentemente na literatura escolar e não
é universal: só é encontrada — afirmação que pode ser feita com
muitas reservas — em ambientes pedagógicos que privilegiam a
iniciativa pessoal da criança e visam a favorecer sua autonomia;
supõe, também, um nível de formação elevado dos professores.
(CHOPPIN, 2001, p. 553)