separadas, diferentes, e mais ainda, opostas: alegria e tormento, carrasco e
vítima, vida contente aqui, e ali lamentável. Dizes sim a um, especialmente
por tua própria conta, e repudias ao outro, sobretudo no que te diz respeito. A
vontade, que é tua origem e tua essência, faz-te aspirar à felicidade, às alegrias
e aos prazeres da vida; estendes para ela as mãos, apertaas com força contra
teu peito; e esquece-te de que, admitindo assim a vontade, admites também to-
dos os tormentos do mundo e os apertas contra ti. 0 que, ao mesmo tempo, tu
fazes de mau, o mal que cometes, tua revolta contra a injustiça da vida, e
também a inveja, a aspiração e o desejo, a tua cobiça do mundo, tudo isso
provém da ilusão da multiplicidade, deste erro, que tu não és o mundo e o
mundo não é tu. Sim, tudo isso vem desta diferença entre "eu" e "tu", que não
é mais que uma ilusão, a ilusão de Maia.Vem daí igualmente teu medo da,
morte. A morte não é mais que a supressão dum erro, dum descaminho,
porque cada individuação é um descaminho. Não é mais que o
desaparecimento duma parede imaginária que separa o resto do mundo o eu,
em que tu te achas encerrado. Crês que, à. tua morte, este resto do mundo
continuará a existir, ao passo que tu - horrível pensamento! - não existirás
mais. Ora, eu te digo: .êste mundo, que é tua representação, não será mais:
mas tu (mais exatamente: aquilo que, em ti, teme a morte, que não a quer,
porque é a vontade de viver), tu permanecerás, viverás, porque a vontade, que
é a tua substância, poderá sempre encontrar o caminho da vida. Não te
pertence toda a eternidade? E com a vida, que para esta não é mais que um
tempo, quando, na verdade, ela é contínua presença, de novo o tempo te será
dado em partilha. À tua vontade está assegurada a vida, com todas as suas
alegrias e todos os seus tormentos, durante o tempo que ela a quiser. Melhor
seria para ti que ela não a quisesse. Esperando, vives tal qual és. Vês e amas,
olhas e desejas, cobiças a imagem que te é estranha, tão estranha, tão outra,