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decorrência da contribuição de muitas disciplinas e ramos da ciência, uma
grande "revolução" se deu no conceito de deficiência. Tal alteração teve por
base uma mudança de perspectiva, na qual não mais se focaliza a deficiência
"do indivíduo e no indivíduo" e sim, os condicionantes socioculturais que
contribuem, ou não, para o seu desenvolvimento e aprendizagem.
Situam-se nesse cenário as contribuições da psicologia e da epistemologia
genética de Jean Piaget, que alteraram de forma definitiva, as teorias vigentes
sobre a mente humana, rompendo com barreiras conceituais e metodológicas
que impediam a compreensão sobre as reais condições de aprendizagem desses
alunos. Nessa perspectiva, as pessoas com deficiência mental passam pelos
mesmos estágios de desenvolvimento cognitivo (sensório-motor, pré-operatório,
operatório concreto, operatório formal), pelos quais as demais pessoas passam,
realizando processos similares de construção e objetivação do conhecimento.
Vygotsky (1989) afirma que uma criança com deficiência mental não é
simplesmente menos desenvolvida que outra da sua idade, mas é uma criança
que se desenvolve de outro modo. Para ele, as funções psicológicas superiores,
que são características do ser humano, estão ancoradas, por um lado, nas
características biológicas da espécie humana e, por outro, são desenvolvidas
ao longo de sua história social. Assim, não existe uma única forma de aprender
e tampouco uma única forma de ensinar, mas o "bom aprendizado" é, para
Vygotsky, aquele que envolve sempre a interação com outros indivíduos e a
interferência direta ou indireta deles, e, fundamentalmente, o respeito ao
modo peculiar de cada um aprender.
Assim, tanto as pesquisas de inspiração interacionista
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quanto a constatação
empírica, confirmam que as pessoas com deficiência mental se diferenciam das
pessoas sem deficiência muito mais pelo ritmo de construção das estruturas do
conhecimento do que pela forma como conseguem evoluir intelectualmente.
Conforme Mantoan (1997), não existe uma diferença estrutural no
desenvolvimento cognitivo de pessoas deficientes e, embora existam lentidões
significativas no desenvolvimento intelectual, a inteligência de pessoas deficientes,
tanto quanto a inteligência de qualquer pessoa, possui plasticidade, o que faz
com que sejam capazes de "evoluir, manter estáveis suas aquisições intelectuais,
assim como generalizá-las para uma gama considerável de atividades", (p. 57).
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A concepção interacionista se apóia na idéia de interação entre organismo e meio e vê a aquisição
do conhecimento como um processo construído pela pessoa durante toda a sua vida, não estando
pronto ao nascer nem sendo adquirido passivamente pelo meio (DAVIS & OLIVEIRA, 1990).