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ANEXO 14
Revolução Francesa
A Revolução Inglesa do século XVII marca o início da Era das Revoluções Burguesas, na medida em que cria condições para
o desenvolvimento acelerado do capitalismo. A Revolução Francesa, cabe definir o perfil ideológico desses movimentos, por seu caráter
liberal e democrático. Para muitos historiadores, a Revolução Francesa faz parte de um movimento revolucionário global, atlântico ou
ocidental, que começa nos Estados Unidos em 1776, atinge Inglaterra, Irlanda, Holanda, Bélgica, Itália, Alemanha, Suíça e, em 1789,
culmina na França com violência maior. O movimento passa a repercutir em outros países europeus e volta à França em 1830 e 1848. Há
traços comuns em todos esses movimentos, mas a Revolução Francesa tem identidade própria, manifestada na tomada do poder pela
burguesia, na participação de camponeses e artesãos, na superação das instituições feudais do Antigo Regime e na preparação da França
para caminhar rumo ao capitalismo industrial.
A França era ainda um país agrário em fins do século XVIII. Novas técnicas de cultivo e novos produtos melhoraram a
alimentação, e a população aumentou. O início de industrialização j á permitia a redução de preços de alguns produtos, estimulando o
consumo. A burguesia se fortaleceu e passou a pretender o poder político e a discutir os privilégios da nobreza. Os camponeses
possuidores de terras queriam libertar-se das obrigações feudais devidas aos senhores. Dos 25 milhões de franceses, 20 milhões viviam
no campo. A população formava uma sociedade de estamentos (formas de estar), resquício da Idade Média. Mas j á se percebia uma
divisão de classes. O clero, com 120 000 religiosos, dividia-se em alto clero (bispos e abades com nível de nobreza) e baixo clero (padres
e vigários de baixa condição); era o primeiro estado. A nobreza constituía o segundo estado, com 350 000 membros; os palacianos viviam
de pensões reais e usufruíam de cargos públicos; os provinciais viviam no campo, na penúria. A nobreza de toga, constituída de gente
oriunda da burguesia, comprava seus cargos. O terceiro estado compreendia 98% da população: alta burguesia, composta por banqueiros,
financistas e grandes empresários; média burguesia, formada pelos profissionais liberais, os médicos, dentistas, professores, advogados e
outros; pequena burguesia, os artesãos, lojistas; e o povo, camada social heterogênea de artesãos, aprendizes e proletários. As classes
populares rurais completavam o terceiro estado; destacavam-se os servos ainda em condição feudal (uns 4 milhões); mas havia
camponeses livres e semilivres.
O terceiro estado arcava com o peso de impostos e contribuições para o rei, o clero e a nobreza. Os privilegiados tinham
isenção tributária. A principal reivindicação do terceiro estado era a abolição dos privilégios e a instauração da igualdade civil. No plano
político, a revolução resultou do absolutismo monárquico e suas injustiças. O rei monopolizava a administração; concedia privilégios;
esbanjava luxo; controlava tribunais; e condenava à prisão na odiada fortaleza da Bastilha, sem julgamento. Incapaz de bem dirigir a
economia, era um entrave ao desenvolvimento do capitalismo.
O Estado não tinha uma máquina capaz dê captar os impostos, cobrados por arrecadadores particulares, quê espoliavam o
terceiro estado. O déficit do orçamento sê avolumava. Na época da revolução, a dívida externa chegava a 5 bilhões de libras, enquanto o
meio circulante não passava da metade. Os filósofos iluministas denunciaram a situação. Formavam-se clubes para ler seus livros. A
burguesia tomava pé dos problemas ê buscava conscientizar a massa, para obter-lhe o apoio.
As condições estavam postas; faltava uma conjuntura favorável para precipitar a revolução.
A indústria sofreu séria crise a partir dê 1786. Um tratado permitiu quê produtos agrícolas franceses tivessem plena liberdade
na Inglaterra em troca da penetração dê produtos ingleses na França. A principiante indústria francesa não agüentou a concorrência. A
seca de 1788 diminuiu a produção de alimentos. Os preços subiram ê os camponeses passavam fome. Havia miséria nas cidades. A
situação do tesouro piorou depois quê a França apoiou a Independência dos Estados Unidos, aventura quê lhe custou 2 bilhões dê libras.
O descontentamento era geral. Urgiam medidas para sanear o caos. Luís XVI encarregou o ministro Turgot dê realizar reformas
tributárias, mas os nobres reagiram ê ele sê demitiu. O rei então indicou Calonne, quê convocou a Assembléia dos Notáveis, dê nobres ê
clérigos (1787). O ministro propôs quê esses dois estados abdicassem dos privilégios tributários ê pagassem impostos, para tirar o Estado
da falência. Os nobres não só recusaram como provocaram revoltas nas províncias onde eram mais fortes.
O novo ministro, Necker, convenceu o rei a convocar a Assembléia dos Estados Gerais, quê não sê reunia desde 1614. As
eleições dos candidatos para a Assembléia realizaram-se em abril dê 1789 ê coincidiram com revoltas geradas pela péssima colheita desse
ano. Em Paris, os panfletos dos candidatos atacavam os erros do Antigo Regime ê agitavam os sans-culottes, isto é, os sem-calções, em
alusão à peça de roupa dos nobres, que os homens do povo não usavam. Os nobres eram cerca de 200 000 numa Paris com 600 000
habitantes. Em maio de 1789, os Estados Gerais se reuniram no Palácio de Versalhes pela primeira vez. O terceiro estado foi informado
de que os projetos seriam votados em separado, por estado. Isto daria vitória à nobreza e ao clero, sempre por 2 a 1. O terceiro estado
rejeitou a condição. Queria votação individual, pois contava com 578 deputados, contra 270 da nobreza e 291 do clero, ou seja a, tinha
maioria absoluta. E ainda contava com os votos de 90 deputados da nobreza esclarecida e 200 do baixo clero.
Texto retirado do site:
http://www.culturabrasil.org/revolucaofrancesa.htm