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tinturaria local, da padaria do seu vizinho... Porque, por exemplo, o anunciante Brahma
ou Coca Cola não pode... Então isso tudo tem que ser visto e repensado. Mas como no
Brasil tem tanta coisa para repensar, tanta coisa para decidir... Há 40 anos eu ouço falar
em reforma agrária. Tinha o primeiro projeto de reforma agrária parado no congresso
anos e anos. Depois os militares fizeram o INCRA. Inventaram soluções, abriram a
Transamazônica para botar gente lá, e nada... Chove vira um lamaçal. Tudo isso
fantasia. E como o Brasil está cheio de fantasias... Evidentemente que o governo e os
políticos resolveram o caso deles. Cada um tem a sua concessão, tem a sua rádio. Na
época de eleição o candidato fala mais no ar, aparece mais e lembra aos eleitores que
está ali. Com isso conquista votos. Por outro lado, apoia o governo federal em troca de...
como foi no caso do Sarney, que deu mil emissoras, mil concessões de FM. O Fernando
Henrique, depois, deu rádios culturais. Deu rádios universitárias, culturais, para
entidades de amigos, testas de ferro, políticos, parentes... emissoras que deveriam ser
rádios culturais, que deveriam ser rádios educativas e não vão ser. Porque na hora de
botar no ar, o cara não vai saber fazer, não vai pagar para alguém que saiba ir lá e fazer.
Eles não querem isso. Querem um rádio econômico, pautado em certo modelo, certo
parâmetro, competitivo até certo ponto. Ou você faz música brasileira ou você vai para
o rock. O modelo de rádio jovem também já se perdeu, esta estrutura. O Brasil hoje já
não é tão jovem, já é de uma faixa de idosos, uma faixa mais velha. Então isso tudo está
mudando também. Aquele modelo da Rádio Cidade, que foi imitado em todo Brasil, já
não é suficiente. Já não resolve tudo. Você tem que buscar outros modelos.
Principalmente no rádio participativo, de educação, de conversa com o público. E não é
isso que aparece. Por quê? Porque custa dinheiro, tem que haver um investimento, tem
que fazer pesquisa, tem que amadurecer uma equipe para fazer isso direito. Então fica
tudo assim com medo de se mexer, baseado em certos modelos que deram certo, até
certo ponto. "Foram aceitos, então vamos convivendo." Enquanto estiver dando lucro,
muito bem. No momento que passar a dar prejuízo... No ano passado, por exemplo, eu
fiz o levantamento e entre as FMs, das vinte, nove tinham mudado de nome. De nome e
de donos, provavelmente. E de feição. Quer dizer: você mudar tanto assim, é porque
está tudo mal. Se estivesse bem não ia mudar, não é? Bom, então eu continuo achando
que quando o governo não considerar o rádio uma coisa séria, como Getúlio considerou,
não vai adiantar. Vai ser sempre esta fantasia.