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Desta maneira, tendo como pano de fundo as críticas levantadas por Emmanuel
Levinas à filosofia, considerada como um processo de redução do outro ao mesmo no
decorrer da história
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, nosso intuito é problematizar a questão da busca da verdade pela
filosofia – busca esta que anima, também, as ciências - entendida como um processo
em que o eu – liberdade sem limites – dá sentido às coisas, ou seja, princípio ativo,
legitimado por si mesmo em seu movimento de apropriação da diferença, identidade
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por excelência.
A crítica levinasiana estende-se, por conseguinte, à ontologia fundamental
proposta por Heidegger, "aquela que mais sucesso conhece em nossos dias"
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. Para
Levinas, o pensamento filosófico ocidental, partindo da ontologia como filosofia
primeira, não efetivou a relação do eu com outrem e nem reconheceu no outro o lugar
que lhe era devido, subordinando a relação ética à relação com o ser. O resultado
desse procedimento foi a dominação de outrem pelo eu ou pela totalidade
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desde o
pensamento clássico até a fenomenologia existencial.
A filosofia parece-nos, diante disso, nos mostrar qual seu sentido. Todavia,
seguindo os passos da proposta de Levinas, esboçaremos que algo anterior se impõe e
tal "imposição" não é ato de violência. Para isto, teremos que explicitar os caminhos
que a filosofia toma na busca da verdade.
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LEVINAS, Emmanuel. Descobrindo a existência com Husserl e Heidegger. Trad. port. Fernanda
Oliveira. Lisboa: Instituto Piaget, 1949 – Coleção Pensamento e Filosofia. p. 202.
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Segundo Pivatto, "as afirmações relativas à autonomia ficam mais claras e contrastantes quando
referidas ao tema que Levinas combate, sintetizado na expressão eu fichteano". Nesse sentido, segundo
o autor, para Fichte "o eu é o princípio originário, porque se põe a si mesmo, não é posto por outro, é
autônomo. Assim, o princípio primeiro é condição incondicionada, constrói a si mesmo, é assim porque
assim se faz, é posição de si mesmo, em síntese, é auto criação." Cf. PIVATTO, Pergentino. A ética de
Levinas e o sentido do humano – Crítica à ética ocidental e seus pressupostos. Porto Alegre, Veritas, v.
37, nº 147, p. 325-363, set. 1992. p. 332.
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LEVINAS, Emmanuel. Descobrindo a existência com Husserl e Heidegger. Trad. port. Fernanda
Oliveira. Lisboa: Instituto Piaget, 1949 – Coleção Pensamento e Filosofia. p. 206.
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Mas, o que seria essa totalidade? “A Totalidade é o resultado da totalização, obra da Razão e do
Mesmo que envolvem e se apropriam de toda exterioridade, de todo transcendente, mesmo a Metafísica,
segundo uma ordem, em um sistema, em uma unidade; esta obra de apropriação progressiva porém
inelutável da Ontologia é a obra mesma da imanência. A totalidade é a imanência acabada: todos no
tudo, tudo no UNO, a multiplicidade na unidade original ou final”. Cf. SOUZA, Ricardo Timm de. Levinas e
a razão ética. In: Razões plurais: itinerários da racionalidade no século XX: Adorno, Bergson, Derrida,
Levinas, Rosenzweig. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004 – Coleção Filosofia: 169. p. 169.