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ANGIOTENSINA II INTRA-RENAL MODULA A
EXPRESSÃO DA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE NEURONAL
NA HIPERTENSÃO RENOVASCULAR 2R1C
Thiago de Melo Costa Pereira
Dissertação de Mestrado em Ciências Fisiológicas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas
Centro Biomédico
Universidade Federal do Espírito Santo
Vitória – ES, Dezembro de 2005
THIAGO DE MELO COSTA PEREIRA
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ANGIOTENSINA II INTRA-RENAL MODULA A
EXPRESSÃO DA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE NEURONAL
NA HIPERTENSÃO RENOVASCULAR 2R1C
Thiago de Melo Costa Pereira
Dissertação de Mestrado em Ciências Fisiológicas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas
Centro Biomédico
Universidade Federal do Espírito Santo
Vitória – ES, Dezembro de 2005
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THIAGO DE MELO COSTA PEREIRA
ANGIOTENSINA II INTRA-RENAL MODULA A
EXPRESSÃO DA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE NEURONAL
NA HIPERTENSÃO RENOVASCULAR 2R1C
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Fisiológicas do Centro Biomédico da
Universidade Federal do Espírito Santo,
como requisito para obtenção do Grau de
Mestre em Ciências Fisiológicas.
Orientador: Prof
a
Dr
a
Silvana dos Santos
Meyrelles
Co-orientador: Prof. Dr. Ian Victor Silva
Vitória
2005
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
Pereira, Thiago de Melo Costa, 1980-
P436a Angiotensina II intra-renal modula a expressão da óxido nítrico
sintase neuronal na hipertensão renovascular 2R1C / Thiago de Melo
Costa Pereira. – 2005.
118. : il.
Orientadora: Silvana dos Santos Meyrelles.
Co-Orientador: Ian Victor Silva.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito Santo,
Centro Biomédico.
1. Óxido nítrico. 2. Angiotensina. 3. Hipertensão renovascular. I.
Meyrelles, Silvana dos Santos. II. Silva, Ian Victor. III. Universidade
Federal do Espírito Santo. Centro Biomédico. IV. Título.
CDU: 612
THIAGO DE MELO COSTA PEREIRA
ANGIOTENSINA II INTRA-RENAL MODULA A
EXPRESSÃO DA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE NEURONAL
NA HIPERTENSÃO RENOVASCULAR 2R1C
COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________________
Prof. Dra. Sônia Alves Gouvêa
FAESA - Membro externo
____________________________________________
Prof. Dr. Antônio de Melo Cabral
Universidade Federal do Espírito Santo - Membro interno
_____________________________________________
Prof. Dr. Ian Victor Silva
Universidade Federal do Espírito Santo – Co-Orientador
____________________________________________
Prof
a
Dr
a
Silvana dos Santos Meyrelles-
Universidade Federal do Espírito Santo - Orientadora
_________________________________________________
Prof
a
Dr
a
Ester Miyoki Nakamura Palacios
Coordenador, PPG-CF, Centro Biomédico, UFES
Universidade Federal do Espírito Santo
Vitória, dezembro de 2005.
DEDICO
A Deus, autor e consumador da minha fé;
À minha amada esposa Letícia, com todo
amor e carinho;
Aos meus pais, Gerval e Jane, minhas irmãs
Thais e Thássia, indispensáveis nesta minha
caminhada.
Essa vitória também pertence a todos vocês!
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
A Deus, que sonda o meu coração a todo instante, guiando-me
continuamente, agradeço pelo dom da vida! Que todo o louvor, a honra e a
glória sejam oferecidos somente a Ti!
À professora Silvana e ao professor Vasquez, pela confiança, zelo e
atenção dispensados, por onde eu procurava não desperdiçar nenhum dos
momentos juntos, buscando sempre absorver mais uma “gota” deste “mar” de
conhecimento. Exemplos de cidadãos e pesquisadores a serem seguidos, a
começar pelo entusiasmo, dedicação e seriedade para com a ciência. Pessoas
que dificilmente possibilitarão comparações.
Ao professor Cabral, pelo grande aprendizado como professor,
pesquisador e colega, pela confiança dispensada.
Ao professor Ian, pelas dicas, paciência e dedicação, frutos de um bom
orientador;
À professora Cicilini, que não media esforços para me ajudar. Obrigado
pelo suporte técnico-científico que tanto auxiliou na viabilidade desse trabalho.
À amiga Cleci, que me “socorreu” em todas as vezes que solicitei.
Obrigado pela humildade, companheirismo e simpatia. Luis, obrigado pelo gelo!
Aos amigos do LTCC: Verônica, pelas experiências compartilhadas;
Robéria, pelo incentivo e coração enorme que tens; Ágata, pela alegria
incondicional e conhecimentos compartilhados; Breno, pela grande amizade
constituída, mais chegado até que um irmão; Michele e Débora, pela força de
vontade contagiante; Maíne, exemplo de humildade; Lídia, pelo dom de servir.
A Camile, pela sua sabedoria, paciência e vontade de aprender. Que isso
persevere por toda sua caminhada científica. Obrigado pela sua dedicação
inquestionável.
Ao LEMC (prof. Dalton) e ao laboratório da professora Valéria Fagundes,
que me proporcionou estender um pouco mais nosso laboratório com as salas
de bioquímica e revelação;
Aos amigos conquistados nestes últimos anos: Roger, Evandro, Enildo,
Jones, Juliana, Rita, Élio, Alessandra, Andreza, Eduardo, Ivy, João Vicente,
Raquel, Rodrigo, Robson, Ana Raquel, Raner...que Deus os abençoe!
Agradecimentos
À Letícia, a qual sem ela seria tudo muito mais difícil. Além de bela e
excelente esposa, uma grande amiga em todos os momentos da minha vida.
Obrigado por acreditar na realização desta conquista. Te amo!
Aos meus pais, que tanto desde os meus primeiros dias de vida torcem
pelo meu sucesso. Não tenho palavras para agradecer todo o incentivo, cuidado
e confiança dispensada ao longo desses 25 anos. Amo vocês!
Às minhas irmãs, Thais e Thássia, pela amizade e união firmadas pelo
nosso Deus;
Aos meus sogros José Marques e Fátima e meus cunhados “irmãos”
Oscar e Gustavo, pela agradável convivência nesses últimos anos;
Aos meus familiares: vô Amauri, vó Júlia, tio Mauro, Valesca,
Washington, Tio Remígio, Tia Regina , Ângelo e Lory, obrigado pela existência
de vocês na minha vida!
À minha grande família da Igreja Batista da Praia da Costa, pelo auxílio e
orações dispensadas. Amo vocês!
A todos aqueles que, mesmo na humildade do anonimato, contribuíram
para essa vitória.
Meu eterno louvor
“Como agradecer, a Jesus, o que fez por mim...
Bênçãos, sem medida, vem provar o seu amor sem fim,
Nem anjos podem expressar a minha eterna gratidão,
Tudo o que sou e o que vier a ser,
Eu ofereço a Deus
A Deus demos glória, a Deus demos glória!
A Deus demos glória, pelas bênçãos sem fim
Com seu sangue salvou-me
Seu poder, transformou-me
A Deus demos glória! Pelas bênçãos sem fim!”
(Extraído)
“...Não tenho palavras para agradecer tua bondade,
Dia após dia, me cercas com Tua fidelidade...
Nunca me deixes esquecer, que tudo o que tenho, tudo o que sou
e o que eu vier a ser, vem de Ti, Senhor!... “
(Extraído)
“Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer com que sua alma
goze do bem do seu trabalho. Também vi que isto vem da mão de Deus.”
Eclesiastes 2:24
SUMÁRIO
Lista de tabelas.................................................................................................10
Lista de figuras..................................................................................................11
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................22
1.1 Hipertensão arterial.......................................................................................22
1.2 Rim: um órgão fundamental para o controle da pressão arterial..................23
1.3 Hipertensão renovascular.............................................................................27
1.4 Sistema Renina Angiotensina.......................................................................28
1.5 Hipertensão de Goldblatt dois rins, um clipe (2R1C)...................................33
1.6 Sistema Óxido Nítrico (NO)...........................................................................36
1.7 NO e rim .......................................................................................................38
1.8 NO renal e estresse oxidativo.......................................................................40
1.9 Interações entre o Sistema Renina Angiotensina e o Sistema Óxido
Nítrico..................................................................................................................41
1.10 Biologia Molecular (Western blotting): uma importante ferramenta para
estudos fisiológicos.............................................................................................44
2. OBJETIVOS..................................................................................................46
2.1 Gerais............................................................................................................46
2.2.Específicos....................................................................................................46
3. MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................48
3.1 Animais experimentais..................................................................................48
3.2 Grupos Experimentais...................................................................................48
3.3 Protocolo Experimental.................................................................................48
3.4 Obtenção da Hipertensão renovascular (2R1C)...........................................49
3.5 Medida de Pressão Arterial Média e Freqüência Cardíaca (FC)........ .........50
3.6 Western blotting ............................................................................................51
3.6.1 Extração dos órgãos...................................................................................53
3.6.2 Preparação das amostras e medidas de proteína......................................53
3.6.3 Eletroforese e transferência para membrana.............................................54
3.6.4 Incubação com os anticorpos e detecção da isoforma nNOS....................56
3.6.5 Quantificação das bandas..........................................................................57
3.7 Dosagem de GMPc (enzima imunoensaio-EIA)............................................58
3.8 Análise dos dados..........................................................................................59
4. RESULTADOS................................................................................................61
4.1 Efeito da hipertensão renovascular sobre a pressão arterial média (PAM) e
freqüência cardíaca (FC).....................................................................................61
4.2 Efeito da hipertensão renovascular sobre o peso
renal....................................................................................................................63
4.3 Expressão da nNOS em tecidos renais nos animais
2R1C....................................................................................................................64
4.3.1 Medula renal..............................................................................................64
4.3.2 Córtex renal................................................................................................66
4.3.2 a) Córtex renal 2R1C..................................................................................66
4.3.2 b) Córtex renal 2R1C + losartan.................................................................67
4.3.2 c) Córtex renal 2R1C + tempol...................................................................69
4.4 Dosagem de GMPc .......................................................................................70
5. DISCUSSÃO....................................................................................................73
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................98
LISTA DE TABELAS
Tabela 01
Peptídeos do sistema renina-angiotensina (SRA), seus principais receptores e
efeitos fisiológicos................................................................................................31
Tabela 02
Cronograma geral do protocolo experimental......................................................49
Tabela 03
Relação entre pesos renais de animais SHAM, 2R1C, 2R1C + losartan, 2R1C +
tempol após 28 dias de tratamento .....................................................................63
LISTA DE FIGURAS
Figura 01
O néfron e suas principais estruturas.........................................................................26
Figura 02
Sistema de autoregulação renal: comportamento do fluxo sanguíneo renal e
filtração glomerular .............................................................................................................27
Figura 03
Representação esquemática dos mecanismos enzimáticos envolvidos na
geração dos principais peptídeos do SRA.......................................... .................32
Figura 04
Níveis dos componentes do SRA e efeitos dependentes de angiotensina II
ativados pela estenose unilateral renal................... ...............................................36
Figura 05
Representação esquemática de um dos principais mecanismos geradores de
ânions superóxido e sua interação com o NO para a formação metabólitos
inativos ....................................................................................................................41
Figura 06
Esquema representando as fases da técnica de western blotting ......................51
Figura 07..............................................................................................................52
A: rins de ratos SHAM após perfusão,
B: rins de ratos 2R1C após perfusão
C: homogeneização de tecidos
D: centrifugação
E: espectrofotômetro para dosagem protéica
F e G: aplicação das amostras no gel
H e I: equipamentos necessários para eletroforese
J: retirada do gel após eletroforese
L: transferência de proteínas para a membrana de nitrocelulose (“blot”)
M: confirmação da transferência com marcador de peso molecular
N: confirmação de transferência por ausência de bandas no gel e presença
destas na membrana
O: incubação com anticorpos
P: exposição do filme à membrana para revelação.
Figura 08
Representação esquemática da transferência de proteínas do gel para a
membrana de nitrocelulose. ...........................................................................56
Figura 09
Valores basais de pressão arterial média (PAM) nos grupos Sham, 2R1C, 2R1C
+ losartan, 2R1C + tempol .............................................................................61
Figura 10
Valores basais de freqüência cardíaca (FC) nos grupos Sham, 2R1C, 2R1C +
losartan, 2R1C + tempol ..............................................................................62
Figura 11
Gráfico representando a expressão de nNOS renal (medula direita e esquerda)
de ratos SHAM (n=5), 2R1C (n=5) após 28 dias de colocação do
clipe..................................................................................................................65
Figura 12
Gráfico representando a expressão de nNOS renal (córtex direito e esquerdo) de
ratos SHAM (n=9), 2R1C (n=9) após 28 dias de colocação do
clipe......................................................................................................................67
Figura 13
Gráfico representando a expressão de nNOS renal (córtex direito e esquerdo) de
ratos SHAM (n=4), 2R1C + Losartan (n=4) após 28 dias de colocação do clipe
.............................................................................................................................68
Figura 14
Gráfico representando a expressão de nNOS renal (córtex direito e esquerdo) de
ratos SHAM (n=6), 2R1C + Tempol (n=6) após 28 dias de colocação do clipe
...........................................................................................................................69
Figura 15
Sumário da expressão das nNOS nos rins contralateral e clipado dos diferentes
grupos estudados................................................................................................70
Figura 16
Quantificação de GMPc nos rins contralateral e clipado dos diferentes grupos
estudados ...........................................................................................................71
LISTA DE ABREVIAÇÕES
- 1R1C: Um rim, um clipe
- 2R1C: Dois rins, um clipe
- 7-NI: 7 nitro-imidazol
- Ang I: Angiotensina I
- Ang II: Angiotensina II
- AT1: Receptor de angiotensina II
- ANOVA: Análise de variância
- ANP: fator natriurético atrial
- bpm: Batimentos por minuto
- BH
4
: tetrahidrobiopterina
- COX-1: Cicloxigenase tipo 1
- COX-2: Cicloxigenase tipo 2
- CVLM: bulbo caudal-ventrolateral
- DAF-2 DA: 4,5 diaminofluoresceína diacetato
- DAF-FM: 4-amino-5 methylamino-2’ 7’- difluorescein diacetate
- ECA: Enzima conversora de angiotensina
- ECL: Enhanced Chemiluminescent
- EDTA: Ácido tetracético etilenodiamina
- eNOS: Óxido nítrico sintase endotelial
- EPM: Erro padrão da média
- ET-1: endotelina
- FAD: Flavina adenina dinucleotídeo
- FC: Freqüência cardíaca
- FMN: Flavina mononucleotídeo
- g: Grama
- GFR: Taxa de filtração glomerular
- GMPc: Guanosina monofosfato cíclica
- HIF-1: fator induzível de hipóxia alfa 1
- HRP: Peroxidase “horseradish”
- HT: Hipertensos
- IBMX: 3-isobutil- 1- metilxantina
- i.m.: Intramuscular
- iNOS Óxido nítrico sintase induzível
- i.p.: Intraperitonial
- i.v.: Intravenosa
- kDa: Kilo-dalton
- Kg: Quilograma
- L-arg: L-Arginina
- L-NAME: Nitro-L-arginina metil éster
- L-NNA: Nitro-L-arginina
- mA: Mili ampère
- MAP Kinase: proteína kinase mitógena-ativada
- mmHg: Milímetros de mercúrio
- NADPH: Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato
- NO: óxido nítrico
- NOS: Óxido nítrico sintase
- nNOS: Óxido nítrico sintase neuronal
- NTS: núcleo do trato solitário
- OONO
-
ou NO
3
-
: peroxinitrito
- PAM: Pressão arterial média
- PBS: Salina tampão fosfato
- PGI
2
: Prostaciclina
- PMSF: Fenilmetisulfonil fluorídrica
- pH: -log [íon hidrogênio]
- PKG: proteína quinase G
- RBF: fluxo sanguíneo renal
- RVLM: bulbo rostral-ventrolateral
- SDS: Duodecil sulfato de sódio
- SDS-PAGE: Gel de eletroforese com poliacrilamida e duodecil sulfato de
sódio
- SOD: superóxido dismutase
- SRA: Sistema Renina-Angiotensina
- TGF: Feedback Túbulo-glomerular
- u.d.o.: Unidade de densidade óptica
- V: Volts
- μg: Micrograma
- μl: Microlitro
-
0
C: Grau Celsius
Uma adequada perfusão tecidual é uma condição indispensável para a
homeostase do meio interno. Para isso, a pressão arterial precisa ser mantida em
níveis adequados, autoregulada por vários mecanismos cardiovasculares, dentre
os quais o rim participa ativamente. Para melhor entendimento dos complexos
mecanismos humorais regulatórios envolvidos, os estudos em fisiologia na
atualidade têm utilizado a biologia molecular como uma importante ferramenta.
Inicialmente, apenas os modelos in vitro eram disponíveis para elucidação dos
mecanismos citosólicos pertinentes à fisiopatologia do sistema cardiovascular.
Com o avanço da pesquisa e a necessidade de uma melhor compreensão da
expressão gênica no controle cardiovascular, surgiram os estudos in vivo. Esta
intersecção da fisiologia com a biologia molecular é uma área recentemente
explorada, a qual oferece um novo rumo para o esclarecimento de complexos
questionamentos até então difíceis de serem respondidos.
1.1 Hipertensão arterial
A hipertensão arterial (HA) consiste numa entidade clínica multifatorial,
poligênica, de prevalência elevada, até então estimada em cerca 30% da
população mundial adulta (Mielnik et al., 2004). Ainda que as formas de detecção
precoce e tratamento medicamentoso alcance uma considerável parcela da
população mundial, paradoxalmente seu alto custo social é responsável por cerca
de 40% dos casos de aposentadoria precoce e de absenteísmo no trabalho na
sociedade atual (Marinho et al., 2002). A HA envolve diversos mecanismos
fisiopatológicos e múltiplos fatores etiológicos que se caracterizam por elevação
Resumo
Em condições fisiológicas, o óxido nítrico (NO) produzido principalmente
pela óxido nítrico sintase neuronal (nNOS) exerce uma influência modulatória
no fluxo sanguíneo renal. Ainda que alguns estudos demonstrem que a
expressão de RNAm da nNOS renal está alterada durante a hipertensão arterial
(HA), ainda não é bem conhecido como a expressão protéica da nNOS pode
ser modulada mediante baixos níveis de renina e simultaneamente, altos níveis
intra-renais de angiotensina II (Ang II), um potente peptídeo vasoconstritor e
inibidor da biodisponibilidade de NO.
Com a técnica da western blotting avaliamos a influência da HA e da Ang
II intra-renal sobre a expressão da enzima nNOS em rins de ratos submetidos à
hipertensão renovascular dois rins-1 clipe (2R1C). Mais especificamente, foi
investigada a participação de receptores AT
1
e do stress oxidativo na modulação
da expressão da nNOS bem como a biodisponibilidade de NO por dosagem de
GMPc, através do ensaio imunoenzimático.
Para tanto, os animais foram divididos em 4 grupos: 2R1C (n=9), 2R1C +
dose subpressora de losartan (10 mg/Kg/dia, água de beber; n=4), 2R1C + dose
subpressora de tempol (0,2 mmol/Kg/dia, água de beber n=6) e Sham (n=16),
apresentando valores de PAM 179 ± 5 mmHg, 140 ± 7 mmHg, 181 ± 10 mmHg e
99 ± 3 mmHg, respectivamente. A expressão da nNOS foi aumentada em rins
contralaterais e clipados de animais 2R1C quando comparados ao grupo SHAM
(0,43±0,03 vs. 0,14 ± 0,02 u.d.o. e 0,27±0,03 vs. 0,16±0,03 u.d.o.
respectivamente), normalizada em ambos rins no grupo 2R1C tratado com
losartan quando comparados ao grupo SHAM (0,24 ± 0,01 vs 0,27 ± 0,01 u.d.o
e 0,21 ± 0,03 vs.0,29 ± 0,02 u.d.o., respectivamente). No grupo 2R1C tratado
com tempol, a expressão da nNOS foi diminuída no rim contralateral (0,27 ± 0,06
vs. 0,19 ± 0,06 u.d.o., respectivamente) mas ainda aumentada no rim clipado
quando comparado ao grupo SHAM (0,35 ± 0,08 vs. 0,17 ± 0,03 u.d.o.,
respectivamente).
Nossos resultados indicam que:
1) no modelo de hipertensão renovascular 2R1C, os receptores AT
1
e o stress
oxidativo parecem ser estímulos primários para o aumento da expressão da
nNOS e não a HA propriamente dita;
2) O aumento da expressão da nNOS não reflete diretamente em uma maior
biodisponibilidade de NO, seja no rim clipado ou no contralateral;
3) O aumento da expressão da enzima nNOS reflete um dos possíveis
mecanismos compensatórios gerados pelo rim a fim de preservar sua
homeostase neste modelo de hipertensão.
Abstract
In physiological conditions, nitric oxide (NO) exerts a modulatory influence
on renal blood flow mainly due the neuronal nitric oxide synthase (nNOS)
enzyme isoform. Although some studies have demonstrated that the renal nNOS
mRNA expression is modified in arterial hypertension (HÁ), it has not yet been
shown how nNOS protein expression is modulated by endogenous angiotensin II
(Ang II), a vasoconstrictor and a NO function inhibitor.
Through the western blotting technique have been evaluate the relative
role of HA and Ang II on the nNOS protein expression in the kidneys of
renovascular hypertensive rats two-kidneys one clip (2K1C). The specific aim
was to investigate the role of AT
1
receptors and oxidative stress in modulating
nNOS expression and the NO bioavaiability by GMPc quantification for
enzymeimmunoassay.
Then, the animals were divided in 4 groups: 2K1C (n=9), 2K1C+sub-
pressor dose of losartan (10 mg/Kg/day in drinking water; n=4), 2K1C+sub-
pressor dose of tempol (0.2 mmol/Kg/day in drinking water; n=6), and Sham
(n=16), presenting values of MAP 179 ± 5 mmHg, 140 ± 7 mmHg, 181 ± 10
mmHg and 99 ± 3 mmHg, respectively. The nNOS expression was increased in
the contralateral and clipped kidneys of the animals 2R1C when compared to
SHAM group (0,43±0,03 vs. 0,14 ± 0,02 u.d.o. e 0,27±0,03 vs. 0,16±0,03 u.d.o.
respectively), normalized in both kidneys in 2R1C + losartan when compared to
SHAM group (0,24 ± 0,01 vs 0,27 ± 0,01 u.d.o e 0,21 ± 0,03 vs.0,29 ± 0,02
u.d.o., respectively). In 2R1C + tempol group, the nNOS expression was
decreased in the contralateral kidney (0,27 ± 0,06 vs. 0,19 ± 0,06 u.d.o.,
respectively) but still increased in the clipped kidney when compared to SHAM
group (0,35 ± 0,08 vs. 0,17 ± 0,03 u.d.o., respectively).
The present results demonstrate that:
1) In the 2K1C renovascular hypertension model, the AT
1
receptors and
oxidative stress seem to be primary stimuli for increasing nNOS expression
but not the HA per se;
2) The increase in nNOS expression does not reflects directly on the more NO
bioavaiability in both kidneys (contralaetral or clipped);
3) The increase in nNOS expression induces a compensatory mechanism in
order to maintain the renal homeostasis in this model of hypertension.
Uma adequada perfusão tecidual é uma condição indispensável para a
homeostase do meio interno. Para isso, a pressão arterial precisa ser mantida
em níveis adequados, autoregulada por vários mecanismos cardiovasculares,
dentre os quais o rim participa ativamente. Para melhor entendimento dos
complexos mecanismos humorais regulatórios envolvidos, os estudos em
fisiologia na atualidade têm utilizado a biologia molecular como uma importante
ferramenta. Inicialmente, apenas os modelos in vitro eram disponíveis para
elucidação dos mecanismos citosólicos pertinentes à fisiopatologia do sistema
cardiovascular. Com o avanço da pesquisa e a necessidade de uma melhor
compreensão da expressão gênica no controle cardiovascular, surgiram os
estudos in vivo. Esta intersecção da fisiologia com a biologia molecular é uma
área recentemente explorada, a qual oferece um novo rumo para o
esclarecimento de complexos questionamentos até então difíceis de serem
respondidos.
1.1 Hipertensão arterial
A hipertensão arterial (HA) consiste numa entidade clínica multifatorial,
poligênica, de prevalência elevada, até então estimada em cerca 30% da
população mundial adulta (Mielnik et al., 2004). Ainda que as formas de
detecção precoce e tratamento medicamentoso alcance uma considerável
parcela da população mundial, paradoxalmente seu alto custo social é
responsável por cerca de 40% dos casos de aposentadoria precoce e de
absenteísmo no trabalho na sociedade atual (Marinho et al., 2002). A HA
envolve diversos mecanismos fisiopatológicos e múltiplos fatores etiológicos que
se caracterizam por elevação da pressão sangüínea diastólica e sistólica, ou
apenas a pressão sistólica (hipertensão sistólica isolada), comumente
encontrada nos pacientes com mais de 50 anos de idade (De Burt et al., 1995).
Sua evolução é progressiva e, no momento de sua detecção, pode estar
associada a lesões de órgãos alvo, tais como rim, coração e endotélio vascular
levando à falência dos mesmos ou até ao óbito (Ribeiro, 1995; Suematsu et al.,
2002), sendo responsável por um terço do total de mortes no Brasil. As
constantes descobertas de mecanismos fisiopatológicos da hipertensão têm
aumentado o mosaico de componentes e teorias sugeridas que esclareçam a
etiopatogenia da HA. Classicamente, as vias propostas englobam mecanismos
ambientais, adaptativos, anatômicos, genéticos, neurais, cardíacos, renais,
endócrinos e moleculares (Page, 1967,1982; Ribeiro, 1995).
1.2 Rim: um órgão fundamental para o controle da pressão arterial
O rim e o controle da pressão arterial interagem de maneira íntima e
complexa. A discussão se a hipertensão é causa ou conseqüência da doença
renal não tem apenas importância acadêmica ou teórica, uma vez que as
etiologias diferentes podem ser clínica e laboratorialmente superponíveis
(Pascoal, 1998).
Ainda que atualmente as terapias farmacológicas anti-hipertensivas sejam
tão eficazes no retardamento e até na prevenção de patologias renais, a via pela
qual a hipertensão lesa o rim ainda não é completamente elucidada (Pascoal,
1998). Entretanto, sabe-se que o aumento da pressão intraglomerular pode
comprometer glomérulos (glomeruloesclerose) e que também o próprio
remodelamento arterial (levando à diminuição do lúmen) pode induzir a isquemia
associada à glomeruloesclerose, comprometendo assim a homeostase renal.
Quanto à importância do rim na gênese da hipertensão, Cusi e colaboradores
(1991) em experimentos de transplantação cruzada mostraram que rins
transplantados de animais hipertensos induziram hipertensão em animais
previamente normotensos, enquanto rins de doadores normotensos
normalizaram a pressão arterial em receptores hipertensos. Tal evidência pode
ser fundamentada por Guyton et al. (1974) os quais sugeriram que a hipertensão
primária é caracterizada por anormalidades da natriurese pressórica. Esse
fenômeno baseia-se em um aumento compensatório da pressão arterial a fim de
manter a excreção de sódio e água diante de uma sobrecarga hidroeletrolítica.
Como “efeito adverso”, a elevação da pressão arterial sistêmica aumentaria o
fluxo sangüíneo para todos os tecidos do corpo. Em resposta, existe um
mecanismo de auto-regulação renal que aumentaria a resistência vascular
periférica, restaurando assim a normalidade da perfusão nesse órgão.
Conseqüentemente, o preço biológico para esta readaptação é denominado
"hipertensão arterial". Uma vez estabelecida a HA, outros fatores tais como
aumento da resistência vascular periférica e alterações estruturais na
microvasculatura renal e extra-renal, tendem a perpetuar o processo, tornando
assim a HA mantida (Pascoal & Mion, 1998).
Diante do mecanismo exposto, nota-se que a auto-regulação renal é
fundamental para a manutenção da pressão arterial. Sob condições basais, a
filtração glomerular e o fluxo sanguíneo renal podem ser mantidos de forma
estável através de uma regulação precisa, concertada, independente de uma
regulação neural. Didaticamente, a auto-regulação renal pode ser subdividida
em 2 mecanismos (Vander, 1995; Persson, 2002): 1) mecanismo miogênico e 2)
feedback tubuloglomerular (TGF). O primeiro, mais rápido, ocorre
semelhantemente aos leitos vasculares não-renais: o músculo liso vascular
contrai em resposta ao aumento do estiramento, ocasionado por um aumento da
pressão intra-arteriolar, mantendo o fluxo sangüíneo renal (RBF) constante, sem
o envolvimento de moléculas intermediárias. Já o TGF trata-se de um
mecanismo mais complexo, o qual regula primeiramente a taxa de filtração
glomerular (GFR) que, por conseguinte, irá modular o fluxo sanguíneo renal
(RBF). Em elevados níveis de pressão arterial, a pressão glomérulo-capilar e o
RBF aumentam. Como conseqüência, haverá um incremento da GFR, que
repercutirá diretamente no fluxo tubular proximal e na alça de Henle. Na porção
mais espessa e distal dessa alça, existe a mácula densa (MD), a qual é a
principal responsável pelo TGF. A MD é formada por células sensíveis ao fluxo -
via sódio e principalmente cloreto (Uchida e Sasaki, 2005) - que ao “detectar” o
excesso do fluxo tubular estimula a vasoconstricção da arteríola aferente pelas
células justaglomerulares através de renina, adenosina e até ATP (Nishiyama et
al., 2001a e 2005; Persson, 2002b; ) diminuindo assim a GFR. Esse mecanismo
normalmente é ativado após 30 segundos de oscilação na pressão arterial. A
unidade morfo-funcional do rim bem como suas principais estruturas estão
representadas na figura 01.
1- Glomérulo
2- Cápsula de Bowman
3- Arteríola aferente
4- Arteríola eferente
5- Túbulo Proximal
6- Alça de Henle
7- Células da Mácula densa
8- Túbulo distal
9- Duto coletor
Adaptado de Ollerstam, 2002
Figura 01. Esquema mostrando a unidade morfofuncional do rim (néfron). O
aparelho justaglomerular é a principal estrutura responsável pela autoregulação
renal. É composto por arteríola aferente, arteríola eferente, glomérulo, células da
mácula densa e células mesangiais (macrófagos diferenciados que se localizam
contíguo ao glomérulo, não mostrado na figura)
Dessa forma, esses 2 mecanismos agem sinergicamente, mantendo o
RBF relativamente constante dentro de uma estreita faixa de variação de PAM,
encontrada entre 80 e 160 mmHg (Forster e Maes, 1947; Baer e Navar 1973;
Arendhorst et al., 1975) conforme representação na figura 02.
Fluxo
sanguíneo
renal (L/min)
Taxa de
filtração
glomerular
(mL/min)
Adaptado de Ollerstam, 2002
Figura 02. Mesmo sob alterações de pressão arterial entre 80 a 160 mmHg, a
taxa de filtração glomerular (linha pontilhada) e o fluxo sanguíneo renal (linha
contínua) são mantidos constantes, através do mecanismo de auto-regulação
renal.
1.3 Hipertensão renovascular
Em cerca de 95% dos pacientes hipertensos não é identificada uma única
causa reversível da pressão arterial elevada, caracterizando-se então
hipertensão essencial ou primária. Entretanto, na outra pequena parcela
de pacientes, a gênese da elevação da pressão arterial pode ser definida,
sendo então conhecida como hipertensão secundária. A hipertensão
renovascular é um dos tipos mais freqüentes dessa última, decorrente de
uma diminuição de fluxo sangüíneo para os rins, induzida raramente por
uma displasia fibromuscular ou, na maioria dos casos, pela formação de
uma lesão aterosclerótica na artéria renal. Curiosamente, a bifurcação da
artéria aorta com a artéria renal em animais APOE knockout (KO) ou até
em humanos ateroscleróticos é um dos locais mais freqüentes de
acúmulo de ateromas (Hartley et al., 2000). Com a estenose estabelecida,
há uma diminuição da pressão de perfusão renal, estímulo que gera a
liberação de renina induzindo assim a formação de angiotensina II (Ang
II), como descrito a seguir.
1.4 Sistema Renina Angiotensina
O sistema renina-angiotensina (SRA) é o principal mecanismo humoral
envolvido na modulação das funções cardiovascular e renal, participando na
homeostase da pressão arterial e no balanço eletrolítico. Muitos estudos têm
confirmado significativa importância desse sistema na fisiopatologia da
hipertensão (Navar e Rosival, 1984; Mitchell e Navar 1995; Navar et al.,
1998), justificando assim o alvo desse estudo.
O SRA é composto por uma cascata de reações enzimáticas que
culminam com a formação da Ang II, peptídeo de maior importância para o
desenvolvimento da hipeertensão.
A cascata se inicia com a produção de angiotensinogênio principalmente
por via hepática e renal, apesar de ser encontrada também em células adiposas,
células da glia, ovário, glândula adrenal, coração, pulmão, intestino e estômago
(Phillips et al., 1993). Esse peptídeo não possui atividade intrínseca. Para tal,
necessita sofrer duas modificações em sua estrutura: a primeira, é a perda de
dois aminoácidos, transformando-se num decapeptídeo, a angiotensina I (Ang I),
através da ação da enzima proteolítica renina. Produzida pelas células
justaglomerulares e armazenada em grânulos de secreção, a renina é liberada
quando ocorre:
a) Diminuição da pressão de perfusão renal;
b) Diminuição do aporte de sódio para as células da mácula densa;
c) Estimulação dos receptores β
1-
adrenérgicos renais.
A angiotensina I é um decapeptídeo de pouca ação biológica e através da ação da enzima endopeptidase
neutra e prolil-endopeptidase, pode se originar a angiotensina 1-7 (Angio1-7). Descoberta recentemente,
a Angio1-7 é encontrada nas mesmas concentrações plasmáticas que a Ang II e exerce sua ação através
da ligação com o seu alvo específico: o receptor Mas. Muitos estudos têm sido realizados e diversos
efeitos para Angio1-7 já foram elucidados, como vasodilatação (podendo ser potencializada por
bradicinina), efeito antiarritmogênico, melhora da função contrátil pós-infarto e inibição da proliferação
celular (Santos et al., 2005). Além da Angio1-7, observações recentes indicam que importantes ações
periféricas e centrais do SRA podem ser mediadas por outras seqüências menores de peptídeos
angiotensinérgicos como a angiotensina III (Angio 2-8), Angiotensina (2-10) e angiotensina IV (Angio
3-8). Esses estudos têm ampliado o conceito do SRA, podendo-se então considerar que tanto a Ang I
como a Ang II podem sofrer um processo de biotransformação, gerando uma “família” de peptídeos
biologicamente ativos (Santos et al., 2005).
Mesmo que outros peptídeos do SRA sejam alvos de muitas pesquisas
na atualidade, repletos de dados relevantes (tabela 01), o peptídeo de maior
importância cardiovascular derivado da angiotensina I é a Ang II. Esse peptídeo
é formado através da ação da enzima conversora de angiotensina (ECA)
produzida pelo endotélio pulmonar e demais tecidos (Millatt et al.1999),
podendo-se então entender que a Ang II participa tanto de mecanismos
endócrinos quanto autócrino-parácrinos em diversos órgãos, como coração,
endotélio, cérebro e rim. Este sistema tecidual parece participar de forma
significativa em diversas fisiopatologias cardiovasculares, como na insuficiência
renal e hipertensão arterial (Navar et al.,1984; Navar et al., 2002; Navar, 2004).
Além disso, pode ser produzido por outras vias como catepsinas e quimases
(Tonnesen et al., 1982; Weir et al., 1999). A Ang II é um octapeptídeo e pode
atuar através de dois receptores: AT
1
e AT
2
(Clauser et al., 1996).
No organismo, o receptor AT
1
é amplamente distribuído, podendo ser
encontrado no coração, rins, glândulas adrenais, cérebro e músculo liso.
Quando ativado pela ligação da Ang II, diversas ações biológicas são geradas,
como aumento da resposta simpática, vasoconstricção, aumento da reabsorção
de sódio, secreção de aldosterona e vasopressina, sede, remodelamento
cardíaco e vascular, efeito pró-inflamatório, aumento da produção de radicais
livres, entre outros (Millatt et al., 1999). Compensatoriamente, a ligação da Ang II
com o receptor AT
2
gera efeitos antagônicos aos da ligação da Ang II com o
receptor AT
1
. Os receptores AT
2
encontram-se em menor densidade que os
receptores AT
1
no indivíduo adulto, porém estão maior número no feto e recém
nascido (Millatt et al, 1999; Volpe et al., 2003).
Nos rins, os receptores AT
1
estão localizados mais na medula que na
região cortical: em células glomerulares, no túbulo proximal, em células
intersticiais, do epitélio tubular ascendente e distal, células do duto coletor e da
mácula densa. Já os receptores AT
2
são encontrados em menor quantidade no
túbulo proximal, duto coletor e em alguma vasculatura (Eduards e Aiyar, 1993).
Convém salientar que recentemente outros peptídeos do SRA têm sido
identificados. Apesar de mais conhecida, atualmente percebe-se que a
complexidade desta via é ainda maior, podendo ser comparada às vias das
encefalinas e interleucinas. Para tanto, segue abaixo a tabela 01 que
resumidamente mostra os efeitos biológicos dos peptídeos mais conhecidos e
recentemente explorados (Santos et al., 2005):
Angiotensina Recepto
r
Ações
AT
1
Vasoconstrição
Inotropismo e cronotropismo positivo
Efeito arritmogênico
Pró-remodelamento
Estimula proliferação celular
Trombogênico
Pró inflamatório
Ang II
AT
2
Inibição da proliferação celular
Apoptose
Adaptado de Santos, 2005
Tabela 01: Efeitos biológicos
da ligação da angiotensina II e
angiotensina 1-7 com os seus
respectivos receptores. A
angiotensina II também pode
originar angiotensina 1-7
através da ação das enzimas
prolil-endopeptidase e prolil-
carboxipeptidase.
Vasodilatação (?)
Ang III
AT
1
e
AT
2
Ação central
Ang 1-7
AT
1-
7(Mas)
Vasodilatação
Potencialização da BK-vasodilatação
Efeito antiarritmogênico
Melhora da contratilidade pós isquemia
Inibição da proliferação celular
Ang 3-8 (Ang
IV)
AT
4
/?
Vasodilatação
Inibição da proliferação celular
Des-Asp-AngI
AT
1
/?
Inibição da proliferação celular induzida por Ang II
Diante do exposto, pode-se entender que o SRA é constituído de
peptídeos preponderantemente pressores, possuindo também antagonistas
fisiológicos que atenuam ou modulam tal efeito. Os efeitos agonistas mediados
pelo receptor AT
1
são antagonizados não somente por receptores AT
2
, mas
também os receptores Mas. Pela figura 03, podemos resumir a cascata do SRA
da seguinte maneira:
Adaptado de Santos, 2005
Catepsina G
ECA
Quimase
Catepsina A
Renina
ECA2
ECA2 , PEP
EC
A
EC
A
AMP
ECA
Angiotensinogênio
(inativo)
1.5 Hipertensão de Goldblatt dois rins, um clipe (2R1C)
Embora a hipertensão seja freqüentemente considerada como causa de
doenças renais e falência renal crônica, também sabe-se que a hipertensão
pode ser uma conseqüência promovida por defeitos na microcirculação renal e
nas funções de transporte, comprometendo a capacidade normal dos rins de
manter o balanço de sódio e água (Cowley, 1992; Guyton, 1991; Navar, 2004)
Aumentos dos níveis de Ang II circulantes e teciduais (principalmente em
tecido renal) ocorrem numa variedade de modelos experimentais de
hipertensão, alterando assim o balanço de sódio e água (Guan et al., 1992; Von
Thun et al., 1994; Zou et al., 1996). Um dos modelos usados para o estudo da
hipertensão dependente de Ang II é o dois rins, um clipe (2R1C) de Goldblatt
(1937), primeiramente desenvolvido em cães. Somente em 1970, Miksche et al.
estabeleceram os modelos um rim 1 clipe (1R1C) e 2R1C em ratos. Através de
uma constrição em uma das artérias renais sustenta-se uma hipertensão mesmo
na presença de um rim normal, não manipulado (Ploth, 1983; Navar et al., 1998).
Curiosamente, diversos estudos mostram que esse rim não-clipado não protege
o desenvolvimento da hipertensão porque também desenvolve, de forma
inapropriada, grandes quantidades de Ang II, induzindo assim alterações na
microvasculatura renal e na função tubular (Ploth et al., 1981; Ploth, 1983; Guan
et al.,1992; Braam et al., 1995; Navar et al., 1998).
Neste modelo, ao promover uma padronizada estenose na artéria renal
do animal, induz-se a liberação de renina pelo rim clipado e conseqüentemente,
formação de Ang II circulante que, por sua vez, eleva a resistência vascular
periférica, aumentando assim os níveis pressóricos de forma aguda (Navar,
1995). Além disso, altos níveis desse octapeptídeo influencia diretamente na
hemodinâmica renal ao exercer um papel vasoconstritor. O fluxo plasmático
renal é reduzido, diminuindo assim a taxa de filtração glomerular e ,
inversamente, a reabsorção de sódio pelo túbulo proximal é aumentada.
Adicionalmente, a Ang II estimula a secreção de aldosterona pela supra-renal
elevando assim a reabsorção tubular distal de sódio (Pickering, 1995).
Devido ao aumento dos níveis pressóricos, o fluxo sangüíneo para o rim
clipado é restaurado, e após 28 dias, os níveis de renina e Ang II plasmáticos
retornam a valores próximos dos normais (Guan et al.,1992; Navar et al., 1998).
Mesmo assim, este rim ainda sofre atrofia devido à diminuição de fluxo para o
mesmo.
Já o rim contralateral (não-clipado), sujeito à progressiva elevação da
pressão arterial, torna-se depletado de renina e excreta elevadas quantidades
de sódio, fenômeno conhecido como natriurese pressórica (Diekmann et al.,
2000). Este efeito pode ser atenuado posteriormente pela ação da Ang II
intrarenal aumentada, mesmo sob baixos níveis de renina, como explicitado
acima. Em conseqüência desta sobrecarga de trabalho, este rim desenvolve
uma hipertrofia compensatória. Portanto, pode–se perceber que nesta segunda
fase, a manutenção da hipertensão renovascular 2R1C caracteriza-se pelo
aumento inapropriado de Ang II, contribuindo assim para uma excessiva
retenção de sódio e água (mantendo a hipertensão) além de, à longo prazo,
induzir efeitos proliferativos que destinarão à injúria renal alterando assim
parâmetros hemodinâmicos (Schiffrin, 1999; Navar & Nishiyama, 2004).
Navar e colaboradores (2004) têm mostrado que as concentrações de
Ang II intrarenais são responsáveis pela regulação da hemodinâmica renal e
transporte tubular. Na hipertensão, o acúmulo desse peptídeo é mediado por
receptores AT
1
que internaliza e acumula-se intracelularmente em endossomas.
Entretanto, a Ang II não perderá sua função: ela pode exercer funções
citosólicas ou ser reciclada e por fim, secretada para exercer suas ações
hipertensoras, ligando-se novamente em receptores AT
1
na membrana celular
(Navar, 2004). Alternativamente, recentes estudos de Navar & Nishiyama (2004)
sugerem que uma substancial fração intersticial de Ang II seja também formada
por grandes concentrações do substrato angiotensinogênio em células tubulares
proximais. O aumento desse substrato é paradoxalmente estimulado por Ang II.
Essa retroalimentação positiva pode ser um importante contribuinte para a
manutenção de altos níveis intrarenais de Ang II na fase crônica, mesmo com
baixos níveis de renina (Schunkert et al.,1992; Kobori et al., 2001; Ingelfinger JR
et al., 1999).
A figura 04 resume os níveis dos componentes do SRA e os efeitos após a
colocação do clipe:
Figura 04: Níveis dos componentes do SRA e efeitos dependentes de
angiotensina II ativados pela estenose unilateral renal. Ang II: angiotensina II;
ECA: enzima conversora de angiotensina; Reabs.: reabsorção; Exc.: excreção.
1.6 Sistema do Óxido Nítrico
Considerada a molécula do ano em 1992 por Koshland, o óxido nítrico
(NO) é um radical livre gasoso que medeia múltiplas funções em nosso
organismo. Agindo autocrina ou paracrinamente, o NO está envolvido no
relaxamento do músculo liso vascular, diminuição da agregação plaquetária
(Kuo et al., 1995; Loscalzo et al., 2001), sinalização celular, aprendizado, além
de respostas imunológicas citotóxicas (Nathan e Xie, 1994). Na área
cardiovascular, a deficiência de sua produção está envolvida na formação e
Renina
Ang II
Pressão
Intrarenal
Reabs. Na
+
Exc. Na
+
Rim sem estenose
Rim com estenose
Renina
Ang II
ECA
Reabs. Na
+
Exc. Na
+
Renina
Angiotensina II
Aldosterona
Resistência Vascular Periférica
Tônus Simpático
Pressão Arterial
Renina
Ang II
Pressão
Intrarenal
Reabs. Na
+
Exc. Na
+
Rim sem estenose
Rim com estenose
Renina
Ang II
ECA
Reabs. Na
+
Exc. Na
+
Renina
Angiotensina II
Aldosterona
Resistência Vascular Periférica
Tônus Simpático
Pressão Arterial
ADAPTADO
manutenção de diversos estados patológicos como aterosclerose, diabetes
mellitus e hipertensão.
Como o NO é produzido? À partir do aminoácido básico L-arginina (L-arg), o NO
pode ser sintetizado simultaneamente com a L-citrulina. Para isso, é
indispensável a ação da enzima óxido nítrico sintase (NOS), a qual é
representada por 3 isoformas: NOS neuronal (nNOS ou tipo I) descrita
inicialmente em tecidos neuronais, NOS induzível (iNOS ou tipo II) encontrada
em macrófagos e NOS endotelial (eNOS ou tipo III) identificada em células
endoteliais. É importante lembrar que a atividade enzimática requer também a
participação de cofatores como calmodulina, tetrahidrobiopterina (BH
4
), FAD,
FMN e NADPH, fundamentais para uma correta síntese de NO (Michel et al.,
1997). As enzimas nNOS e eNOS são expressas constitutivamente e são
dependentes de Ca
+2
- calmodulina (Lowenstein e Snyder, 1992; Kiechele et al.,
1993; Wong et al., 1996). Apenas a iNOS é expressa de forma induzível e não é
dependente de Ca
+2
- calmodulina (Marletta, 1993).
O mecanismo de ação intracelular do NO é comum para as três
isoformas: inicialmente, ocorre a ativação da enzima guanilato ciclase solúvel,
aumentando assim a conversão da guanosina monofosfato (GTP) em
Guanosina 3’,5’-monofosfato cíclica (GMPc). Após a formação desse 2º
mensageiro, a proteína quinase G (PKG) é ativada acarretando uma diminuição
citosólica de Ca
+2
em células do músculo liso vascular, induzindo assim a uma
resposta celular do NO, induzindo finalmente a uma ação vasodilatadora
(Moncada e Higgs, 1993).
O desenvolvimento de hipertensão está bem documentado em animais
com bloqueio crônico da síntese de NO ou animais knockout para o gene NOS,
enquanto que a reversão dessa também é verificada em camundongos que
superexpressam o gene NOS (Gava et al., 2005). Portanto, a participação do
NO na regulação vascular é muito importante. Convém salientar que existem
outros mecanismos contribuindo para a hipertensão e injúria de órgãos em
quadros de deficiência de NO. Neste caso, sugere-se que tanto a Ang II quanto
endotelina (ET-1) também contribuem para manutenção da hipertensão e em
lesões cardio-renais (Schiffrin et al., 1999; Kashiwagi et al., 2000; Pollock et al.,
1993).
1.7 NO e rim
Desde 1936 inúmeros estudos foram realizados para avaliar o mecanismo
pelo qual a remoção de ambos os rins causa hipertensão sistêmica (hipertensão
renopriva). Alguns dados sugeriram que este efeito se devia a ausência da ação
vasodilatadora normal de várias substâncias sintetizadas pelo rim (Grollman et
al., 1949), enquanto outros indicavam que a pressão arterial aumentava devido a
inevitável retenção de volume. Várias possibilidades existem, mas a única com
embasamento experimental suficiente é a da produção de substâncias
vasodilatadoras pelo rim normal, na ausência das quais a pressão arterial se
eleva. Prostaglandinas, o sistema cinina-calicreina e, mais recentemente, os
fatores relaxantes derivados do endotelio (EDRFs) ou NO, agindo isolada ou
combinadamente, são, atualmente, os melhores candidatos para essa função.
No tecido renal, o NO é a mais importante molécula vasodilatadora (Majid
e Navar, 2001). Além disso, possui uma grande ação regulatória parácrina,
justificando assim, mesmo em condições basais, a presença das três isoformas
de NOS distribuídas em vários tipos de células renais: a nNOS é expressa na
mácula densa (Welch et al., 2002; Bachmann et al.,1994), arteríolas aferentes e
eferentes, nervos renais (Welch et al., 2002; Patzac et al., 2004), glomérulo, duto
coletor, alça descendente e em toda microvasculatura renal (Star, 1991; Kone e
Baylis, 1997; Kone 1997) . Inclusive, Bachmann e colaboradores (1994)
afirmam ser a isoforma mais abundante no tecido renal (Baylis et al., 1996).
Quanto a iNOS, esta isoforma no rim também é constitutivamente expressa por
células mesangiais (Ahn et al., 1994). A eNOS é encontrada no leito vascular
renal e também é expressa no epitélio tubular (Welch et al., 2002).
O NO é uma molécula com função ampla no tecido renal. Historicamente,
foi descrita como fator regulatório de diurese e natiurese. Seus efeitos
fisiológicos podem ser mediados por alterações na hemodinâmica renal e/ou na
reabsorção de sódio e água no néfron, aguda ou cronicamente (Stauss et al.,
2000; Persson et al., 2002). O NO promove vasodilatação na arteríola aferente,
aumentando a taxa de filtração glomerular (Juncos et al., 1995; Gabbai et al.,
1999), inibe a reabsorção de sódio ao longo do néfron (Ortiz et al., 2002, 2003;
Sasaki et al., 2004) . Além disso, a presença da nNOS na mácula densa sugere
que o NO possa modular a secreção de renina pelo aparato justaglomerular e
pelo feedback tubuloglomerular (TGF) (Schnackenberg et al., 1997; Millatt et al.,
1999) apesar de existirem trabalhos evidenciando o estímulo ou a inibição de
sua secreção (Kurtz e Wagner, 1998). A ação do NO sobre a secreção do SRA
tem óbvias implicações terapêuticas, porém os achados ainda são discrepantes
(Flora Filho e Zilberstein, 2000). Adicionalmente, o NO regula o transporte
iônico em vários segmentos do néfron (Ortiz e Garvin, 2002).
1.8 NO renal e estresse oxidativo
Em condições fisiológicas, o metabolismo celular do oxigênio gera
potencialmente espécies reativas do oxigênio. Normalmente, a quantidade e a
magnitude de formação de espécies oxidantes é balanceada pela sua taxa de
metabolização ou eliminação. Entretanto, quando as células chegam a um limite
da capacidade antioxidante, pode haver um desequilíbrio entre pró-oxidantes e
anitoxidantes, ocorrendo o fenômeno conhecido como estresse oxidativo (Touyz,
2004).
Uma das moléculas mais pró-oxidante que se conhece é o ânion
superóxido (O
2
-
). As maiores fontes de liberação de O
2
-
são as enzimas NADH
oxidase e NADPH oxidase (Stamler et al., 1996; Münzel et al., 1995), as quais
são ricamente expressas no rim, distribuídas em todo o tecido e
microvasculatura (Touyz, 2004). Inclusive, possuem suas atividades
aumentadas na presença de Ang II (Griendling et al., 1994; Agarwal et al., 2004)
que pode contribuir diretamente para a disfunção renal e dano vascular (Touyz,
2004).
Nos tecidos, o NO possui um tempo de meia vida limitado a poucos
segundos devido à rápida e irreversível interação com O
2
-
levando à formação
de peroxinitrito (OONO
-
) conforme representado na figura 05. Este pode ser
posteriormente metabolizado e aparecer nos fluidos extracelulares e urina como
NO
2
+ NO
3
, servindo inclusive como indicativos indiretos de produção de NO. Os
peroxinitritos também podem ligar-se a resíduos de tirosina em proteínas
formando a nitrotirosina. Esse produto auxilia nos estudos imunohistoquímicos,
evidenciando por exemplo, em rim clipados de ratos 2R1C a participação do NO
por todo aparelho justaglomerular (Bosse e Bachmann, 1997; Wilcox, 2000).
O
2
O
2
-
+ H
+
H
2
O
2
+ O
2
Oxidases
SOD
(ou TEMPOL)
Figura 05. Representação esquemática de um dos principais mecanismos
geradores de ânions superóxido e sua interação com o NO para a formação de
um metabólito inativo, o peroxinitrito.
1.9 Interações entre o Sistema Renina Angiotensina e o Sistema Óxido
Nítrico
O desequilíbrio entre Ang II – NO talvez não explique toda fisiopatologia
vascular da hipertensão, mas certamente é um importante componente (Raij,
2001), devido à aplicação direta sobre as três características principais da
ONOO
-
NOS
Substrato
Produto
Efeito
Pereira, TMC
hipertensão: tônus vascular anormal, anormalidades em natriurese além de
remodelamento vascular. Ademais, a interação entre esses dois sistemas é
iminente, uma vez que as isoformas da óxido nítrico sintase estão distribuídas
em proximidade aos sítios dos componentes do SRA (Millatt et al., 1999).
No rim, a Ang II é um vasoconstritor potente, com propriedades tróficas. É
mais pronunciado nas arteríolas eferentes que na aferentes, elevando a
GFR. Sua função predominantemente cortical confere modulação do
processo de autoregulação renal, aumentando a vasoconstricção. Já o
NO, com propriedades vasodilatadoras, antitrombóticas e anti-
crescimento, mantém a integridade e prevenção de danos em órgãos-
alvo, como no rim (Raij, 2001). O efeito vasodilatador é predominante na
arteríola aferente, mas também exerce efeito na eferente (Kone, 1997;
Patzac et al., 2004). Madrid e colaboradores (1997) sugerem que NO
pode ser um modulador mediado por Ang II mais efetivo na região cortical
que medular (1997). Portanto, o antagonismo fisiológico entre esses dois
sistemas permite a regulação do TGF. Braam e Koomans (1995)
evidenciaram que o TGF pode ser potencializado após inibição das óxido
nitrico sintases, principalmente pela nNOS (Wilcox et al., 1992; Ollerstam
e Persson, 2002).
A inabilidade do rim na excreção de sódio é um importante componente
patogênico da hipertensão. O NO participa desse controle de excreção,
diminuindo a reabsorção tubular de sódio através de uma modulação medular
(Majid e Navar, 1997). Já a Ang II, possui papel antinatriurético, por ações
diretas (elevando reabsorção tubular pelo transportador Na
+
/H
+
) ou indiretas
(diminuindo filtração glomerular, aumentando liberação de aldosterona).
Um outro mecanismo envolvido entre NO e Ang II é quanto a ativação das
NADH/NADPH oxidases que induzem a produção de O
2
-
. A produção deste
radical livre é estimulada por Ang II e, no rim, tem sido encontrado em células do
músculo liso vascular (Griendling et al., 1996) e células mesangiais (Jaimes et
al.,1998). Extracelularmente, o O
2
-
inativa o NO, enquanto que intracelularmente,
ativa MAP quinases induzindo à hipertrofia celular.
Diante do exposto, pode-se afirmar que a gênese da injúria em órgãos-
alvo na hipertensão é afetada pela queda da biodisponibilidade de NO e
aumento dos níveis de Ang II. Curiosamente, a vasoconstrição mediada pelo
bloqueio agudo de NO não requer a participação de Ang II. Entretanto, quando
os níveis de Ang II são suficientemente altos para afetar o tônus renovascular, o
NO é importante na manutenção da perfusão renal (Raij et al., 1995; Beierwaltes
et al., 1996). A inibição intrarenal de NO causa um aumento da resistência
arteriolar aferente e uma queda da GFR. Portanto, conclui-se que em parte, o
NO participa em oposição às ações da Ang II (Ohishi et al., 1992; Sigmon et al.,
1992).
Diante disso, pode-se afirmar que estratégias terapêuticas capazes de
restaurar o equilíbrio desses agentes vasoativos poderiam ser protetores
eficazes dos órgãos-alvo (Raij, 2001).
1.10 Biologia Molecular (Western blotting): uma importante ferramenta para
estudos fisiológicos
Em estudos fisiológicos, uma das ferramentas mais comumente utilizadas
são fármacos, os quais com perfis agonistas ou antagonistas, em seus
respectivos receptores, permitem que muitas perguntas sejam respondidas, à
partir de protocolos bem elaborados.
No intuito de complementar os estudos na fisiologia cardiovascular que
dificilmente poderiam ser respondidos apenas por perfis farmacodinâmicos,
surge a oportunidade de investigar as regulações ao nível celular, observando
características pós transcricionais, ou mais especificamente, pós traducionais,
quando mensura-se a expressão protéica proporcionado pela técnica de western
blotting.
2.1. Objetivo Geral
¾ Avaliar a influência da angiotensina II intrarenal sobre a expressão da óxido
nítrico sintase neuronal (nNOS) em córtex renais de ratos com hipertensão
renovascular 2R1C.
2.2. Objetivos Específicos
Padronizar e otimizar a técnica de Western blotting para a expressão da nNOS
em diferentes tecidos como cérebro, hipófise (controle positivo) e rim (tecido
estudado);
Propor possíveis mecanismos de ação para estímulo de expressão da nNOS,
na região cortical renal de ratos, determinando:
- Através do tratamento farmacológico com losartan, a participação de
receptores AT
1
na modulação da expressão da nNOS;
- Através do tratamento farmacológico com tempol, a influência do estresse
oxidativo na expressão da nNOS;
Avaliar se as variações de expressão da enzima refletem diretamente na
biodisponibilidade de NO.
A
valiar os efeitos da hipertensão 2R1C (com ou sem tratamento farmacológico)
sobre:
-Pressão arterial média (PAM) e freqüência cardíaca (FC)
- Peso corporal
-Peso úmido renal
3.1 Animais Experimentais
Foram utilizados ratos Wistar, machos, com peso corporal variando entre
150-180g, provenientes do Biotério do Centro Biomédico da Universidade Federal
do Espírito Santo. Os animais foram mantidos em temperatura controlada (20-
25ºC) e iluminação artificial de acordo com as diretrizes recomendadas para
biotérios de pesquisa (FINEP).
3.2 Grupos Experimentais
Os animais foram divididos em 4 grupos experimentais, sendo:
1) Normotensos SHAM;
2) Hipertensos 2R1C;
3) Hipertensos 2R1C tratados com losartan (10mg/Kg/dia)
4) Hipertensos 2R1C tratados com tempol (0,2 mmol/Kg/dia)
3.3 Protocolo Experimental
Para melhor entendimento, o protocolo experimental será resumido na tabela 02,
cujos itens serão explicitados a seguir.
4.1 Efeito da hipertensão renovascular sobre a pressão arterial média (PAM)
e freqüência cardíaca (FC)
Na figura 09, estão demonstrados os valores basais da pressão arterial
média (PAM). Conforme esperado, os animais submetidos à estenose da artéria
renal apresentaram aumentos significantes dos níveis pressóricos (SHAM 99 ± 3
mmHg; 2R1C 179 ± 5 mmHg) até mesmo quando submetidos ao tratamento com
losartan e tempol em doses subpressoras quando comparados ao grupo controle
(2R1C + Losartan 140 ± 7 mmHg; 2R1C + Tempol: 181 ± 10 mmHg ). Convém
salientar que a metade dos animais submetidos ao tratamento com losartan
ficaram normotensos (97 ± 4 mmHg) , os quais foram excluídos do grupo, a fim de
fidelizar a interpretação dos dados.
Figura 09: Pressão arterial média (PAM) de ratos SHAM (n=6), 2R1C (n=9), 2R1C
+ losartan 10mg/Kg/dia (n=5) e 2R1C + tempol 0,2mmol/Kg/dia (n=7) após 28 dias
50
100
150
200
250
Pressão Arterial Média Basal (mmHg)
* *
#
**
*
SHAM
(n=6)
2R1C
+ Tempol
(n=7)
2R1C
(n=9)
2R1C
+ Losartan
(n=5)
Em nossos experimentos, colocamos na artéria renal esquerda clipes
estenóticos de 0,20 mm mantendo o rim direito intacto. Após quatro semanas, os
ratos foram submetidos à medida da pressão arterial média, os quais
apresentaram valores de 179 ± 5 mm Hg (Figura 09), evidenciando que indução
da hipertensão foi eficaz. Além dos valores pressóricos, foi analisado o peso renal
dos animais. Indispensavelmente, o rim contralateral deveria apresentar uma
hipertrofia quando comparado ao rim clipado (não isquêmico), numa diferença
compreendida, no mínimo, maior que 35%. Analisando a tabela 03, observamos
que o rim contralateral dos animais 2R1C apresentou hipertrofia quando
comparado ao rim clipado do mesmo grupo. Esse fenômeno ocorre através de
uma compensação imposta pelo rim clipado, na tentativa de restabelecer uma
excreção hidroeletrolítica eficiente, evitando assim uma expansão de volume,
proporcionado à partir de um reflexo reno-renal (Zanchetti e Stella, 1984).
Complementando a primeira evidência, outra hipótese é discutida por Bursztyn e
t
al. (2001), que justifica a participação de fator de crescimento insulina-like (IGF-1)
na hipertrofia do rim contralateral. Esse fator está aumentado nesse rim (não
estenótico) e diminuído no rim clipado. Isso também pode explicar por que rins de
animais submetidos à hipertensão renovascular 1R1C não exibem atrofia: os
níveis de IGF-1 também estão elevados.
O grupo 2R1C tratado com losartan apresentou uma hipertrofia
significativamente maior em relação aos outros grupos. Logo, pode-se sugerir que
a hipertrofia não é influenciada apenas com o incremento pressórico, mas também
Referências Bibliográficas
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