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são sem fronteiras. "Tudo o que é sólido desmancha no ar" diria o velho
Marx, em seu Manifesto Comunista
1
. O conhecimento científico também
acompanha os arautos de "tempos modernos chaplinianos", onde a insta-
bilidade, as incertezas e o caos partilham o cenário como atores centrais,
sem no entanto deixar de abrir horizontes de melhoria visível da compe-
tência humana solidária.
Nestes novos espaços contemporâneos se matizam a formação de
novas ciências e novas perspectivas para este campo do conhecimento
humano, salientando assim um meio cultural e tecnológico cujos compo-
nentes se amalgamam e já não são configurações isoladas e na velha mo-
delagem de compartimentalização estante. A partir deste contexto, é pos-
sível ressaltar ainda evidências de dois elementos fundamentais: a idéia
de cibercultura - desde apropriação e uso em larga escala das Novas Tec-
nologias da Informação e da Comunicação até a formação de redes de
aprendizagem colaborativas - e a retomada dos ideais do Iluminismo
(liberdade, igualdade e fraternidade), cujos valores pautam-se no inter-
câmbio de informações e conhecimentos.
A ciência, nesse sentido, trouxe para as fronteiras de um novo
tempo o vislumbre de realização desses “valores” através de dispositivos
técnicos presenciais e virtuais. Afinal, “a igualdade se concretiza na pos-
sibilidade de cada um transmitir a todos, a liberdade toma forma nos
softwares de codificação e no acesso a múltiplas comunidades virtuais,
(…), enquanto a fraternidade, finalmente, se traduz em interconexão
mundial”. No entanto, apesar do otimismo gerado pelas networks e pela
estrutura ciber-telemática, ainda estamos longe de resolver os principais
problemas da vida em sociedade. Ademais, estes fatores indicam uma
etapa de grande desestabilização e acabam destruindo os antigos poderes
e estruturas. “A relação com o saber, o trabalho, o emprego, o dinheiro, a
democracia ou com o Estado, terá que ser reinventada”
2
.
A partir desta dinâmica caótica vista no campo do conhecimento
de finais de século e milênio, a intenção neste texto é trazer a abordagem
do sociólogo francês Bruno Latour
3
, como ponto de reflexão sobre o
1
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Cartas Filosóficas e O Manifesto Comunista de
1848. São Paulo, Ed. Moraes, 1987.
2
LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: O futuro do pensamento na era da
informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.
3
Bruno Latour é sociólogo e pesquisador francês, autor de A Vida de Laboratório
(Relume-Dumará), Jamais Fomos Modernos (Ed. 34) e Paris - Ville Invisible, em parceria
com Emille Hermant (Paris - Cidade Invisível, La Découverte), além de ser convidado da
Folha de São Paulo.