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NA CONTRAMÃO DA UTOPIA:
A memória da destruição da cidade de São João Marcos
DILMA ANDRADE DE PAULA
*
RESUMO
A temática desse trabalho é a recuperação e análise da memória da co-
munidade expropriada da cidade fluminense de São João Marcos, destruída em
1941 por uma empresa canadense do setor elétrico, a The Rio de Janeiro Tram-
way, Light and Power Co. Ltd., visando a implementação de um projeto de a-
proveitamento hidrelétrico. O objetivo central é apresentar a história oral como
recurso técnico fundamental para o resgate da memória dessa comunidade, iden-
tificada com aquele espaço social e territorial que deixa de existir.
Palavras chave: memória, cidade, modernização, energia elétrica.
Podem arrasar as casas, mudar o curso
das ruas; as pedras mudam de lugar,
mas como destruir os vínculos com que
os homens se ligavam a elas? (...)
À resistência muda das coisas, à teimosia
das pedras une-se a rebeldia da memória
que as repõe em seu lugar antigo
1
As utopias têm lugar na vida das pessoas quando estas projetam
seus sonhos para algum lugar no futuro. Em alguns casos, porém, o sonho
de um outro lugar e/ou de uma outra vida deixa de existir na medida em
que a perspectiva do futuro é negada. Foi o que aconteceu com a comuni-
*
Doutoranda em História pelo Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade
Federal Fluminense e Mestra em História Social (1994), pelo Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a dissertação intitulada:
A Cidade Submersa: o processo de destruição de São João Marcos (1930-1945).
1
. BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembrança de Velhos. São Paulo: T. A. Quei-
roz/UnB, 1987, p. 371.
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dade da cidade fluminense de São João Marcos, destruída de 1941 a 1945
pela empresa The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power, Co. Ltd.,
para dar lugar a um projeto hidrelétrico. Os habitantes da cidade foram
forçados a deixar suas casas e mudarem-se para outros locais, perdendo
suas casas e afastando-se de parentes e amigos. A saída da cidade foi,
para grande parte das pessoas, a negativa de seus sonhos plantados
naquele espaço social. Devido a esses fatores esse processo aconteceu,
para a comunidade de São João Marcos, na contramão da utopia. A
idealização da vida deixava de ser o futuro e se transferia para o passado.
O objetivo central desse trabalho é o de resgatar a visão de alguns
ex-moradores de São João Marcos sobre a sua antiga comunidade e tam-
bém sobre a sua destruição, percorrendo os caminhos da memória e da
história. Na concepção dos antigos moradores, o mais difícil é, além de
não terem mais o seu referencial material, o seu “lugar de memória”,
também terem os laços de amizade partidos. Várias promessas foram
feitas, muitos decretos foram assinados com o objetivo de garantir a re-
construção da cidade em outro local o mais próximo possível do antigo
território. A questão, no entanto, nunca foi resolvida. Julgamos funda-
mental, neste caso, trabalhar com depoimentos orais para termos uma
dimensão do impacto da decisão do Estado sobre a vida daquela cidade.
Quando milhares de seres vivos e imensas extensões de terra continuam
sendo sacrificados em nome de um progresso duvidoso, é fundamental
lembrar e repensar acontecimentos dessa natureza. Rememorando, pode-
mos evitar a repetição de tragédias. No dizer de Ecléa Bosi, rememorar é
uma função social, não é sonho
2
. A busca da memória e das lembranças
faz parte do sentido da história presente.
Uma das muitas possibilidades da história oral é a de recuperar a
narrativa e a tradição oral. O registro da oralidade é uma prática, por ex-
celência, para se conhecer a memória de uma comunidade e também para
divulgá-la para um público mais vasto. Por outro lado, a narrativa oral é
uma forma de resgatar o papel do indivíduo enquanto agente social na
história.
Destruída a cidade e não concretizada a prometida reconstrução
em outro local, os laços afetivos e materiais daquela população se parti-
ram, causando um desenraizamento. Segundo Paul Thompson, a história
oral é propiciadora de uma dialética entre informação e interpretação,
entre classes e gerações. Sendo construída em torno de pessoas, lança a
2
. Idem, p. 39-40.
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43
vida para dentro da própria história, alargando o seu campo de ação. A-
lém do que “traz a história para dentro da comunidade e extrai a história
de dentro da comunidade”
3
.
As pessoas que viveram em São João Marcos têm a sua versão
dos acontecimentos que modificaram substancialmente suas vidas. Desse
modo, na recuperação da história da destruição dessa cidade tornou-se
imprescindível trabalhar com os relatos orais, paralelamente à consulta a
fontes escritas. Para que os depoimentos não pareçam deslocados no tem-
po e no espaço, faremos um breve histórico do município e do contexto
da sua destruição.
A história de uma morte anunciada
A fundação de São João Marcos tem origem no processo de ex-
pansão territorial do século XVIII, através da busca de novos caminhos
terrestres que ligassem as capitanias de São Paulo e Minas Gerais com o
Rio de Janeiro. O município tornou-se grande produtor de café no século
XIX, com a expansão do cultivo desse produto no Vale do Paraíba. No
final do século XIX, a cidade contava com 14 mil habitantes, duas esco-
las públicas, uma agência de correios, dez ruas, três largos, um teatro e
duas igrejas. O município era constituído pelas paróquias de São João
Marcos e Nossa Senhora da Conceição do Passa Três. Da época do café
a cidade herdou a arquitetura colonial, estampada nos seus casarios e nas
igrejas. Passado o “boom” cafeeiro, a região entrou em processo de deca-
dência econômica, sobrevivendo através de pequenas produções para
consumo interno e para exportação regional, além da pecuária extensiva.
Em 1905, a empresa The Rio de Janeiro Tramway, Light and
Power Co. Ltd., empresa de origem canadense com capitais ingleses e
norte-americanos, começou a construção da Usina de Fontes, sua primei-
ra grande hidrelétrica, no município fluminense de Piraí. Para alimentar
essa usina, a empresa represou e desviou o curso de vários rios, formando
a represa do Ribeirão das Lages.
Aos poucos as águas dessa represa foram se aproximando do ter-
ritório do município de São João Marcos, vizinho ao de Piraí. Agriculto-
res perdiam suas terras, inundadas pelo lago. A cidade foi ficando sitiada,
cada vez mais ameaçada com a expansão das águas. Em 1908 a Light
terminava a primeira fase da construção de Fontes. Em 1909, com o au-
mento de alagadiços e com a conservação insuficiente da represa, a malá-
3
. THOMPSON, Paul. A Voz do Passado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 44.
44
ria alastrou-se numa grande epidemia. Muitas pessoas morreram (770
óbitos registrados em 1910), outras fugiram, abandonando casas e terras.
Daí em diante, o município foi enfraquecendo-se cada vez mais, num
processo de decadência econômica e política. Finalmente, em 1938, o
governo estadual decretaria a sua anexação ao município vizinho de Rio
Claro, o que, sem dúvida, contribuiria ainda mais para a sua destruição
definitiva.
Ainda no início da década de 1930 a empresa começava a incen-
tivar a discussão de projetos mais efetivos de expansão da represa , que se
encontrava nos limites da cidade, o que culminaria, inevitavelmente, com
a sua destruição. Os argumentos que a Light, as autoridades governamen-
tais e alguns jornais do Rio de Janeiro utilizavam para justificar a neces-
sidade de destruição completa da cidade eram: a) a necessidade urgente
de ampliar o abastecimento de água para a cidade do Rio de Janeiro, en-
tão Capital Federal, que se abastecia com pequenos mananciais que já não
atendiam mais às necessidades do consumo; b) ampliar a capacidade de
geração de energia elétrica no estado, motor fundamental da industriali-
zação, então engatinhante.
Em 1939, uma reportagem de O Globo informava que a Light
havia comprado 78 fazendas e a maior parte das casas da cidade, preten-
dendo adquirir toda a área ocupada pelo que era São João Marcos
4
. Essa
questão obteve ainda maior repercussão na imprensa fluminense quando,
em 1939, o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
SPHAN, tombou a cidade na tentativa de preservá-la da destruição. A
situação de polarizava: de um lado os governos federal, estadual e a Light
defendiam a necessidade do desaparecimento da cidade; de outro lado, o
departamento cultural do Estado, representado por Rodrigo Mello Franco
de Andrade, lutava de todas as formas possíveis para preservar a cidade,
considerada monumento histórico nacional.
Apesar dessa cisão no aparelho decisório do Estado, ganhou a
facção com maior poder. A Light, empresa de grande porte, que acumu-
lava, além da geração e distribuição de energia elétrica, os serviços de
bondes, ônibus, telefones e gás do Rio de Janeiro, ameaçava boicotar o
setor elétrico, reduzindo ainda mais a geração de energia, caso seus pla-
nos quanto ao aumento da barragem e conseqüente desaparecimento da
cidade não fossem atendidos. Até 1930 o Estado pouco interveio no setor
elétrico. A partir desse ano, porém, com a vitória da Revolução de 30, o
4
. O Globo, 19/05/39, s.p.
45
Estado intervém progressivamente no setor, na tentativa de controlar a
área de geração e distribuição de energia elétrica, principalmente através
do Código de Águas, promulgado em 1934.
Em represália a essas medidas do Estado, as grandes empresas
deixam de atender à demanda energética, não ampliando suficientemente
seu parque gerador e causando um déficit na economia do país. Em fun-
ção dessa pressão, o governo acabou cedendo e rompendo alguns princí-
pios básicos do Código de Águas. A destruição de São João Marcos é um
episódio sintomático de todo esse processo; sob o argumento da necessi-
dade de aumentar a capacidade energética do país e fornecer água para a
Capital Federal, São João Marcos deveria desaparecer. Em 1939, já sob o
Estado Novo, Getúlio Vargas resolveu “destombar’ a cidade, desconside-
rando a decisão do SPHAN e as reivindicações da população marcossen-
se. O decreto-lei nº 2.269, de 03/06/39, autorizava a desapropriação de
terrenos, prédios e quaisquer benfeitorias que viessem a ser inundadas
pelos remansos da Light.
A população da cidade, no entanto, não aceitou passivamente a
sua destruição. Em sua luta teve como líder principal Luís Ascendino
Dantas, funcionário público estadual aposentado, chefe político local
desde a década de 20 mas já afastado da vida pública. À época residindo
em Niterói, sede do governo estadual e vizinha da Capital Federal, Dantas
escreveu livros e artigos diversos sobre a importância histórica da cidade,
clamando contra a sua destruição. Liderou vários abaixo-assinados, inclu-
sive aquele que havia solicitado o tombamento da cidade, atendido por
Mello Franco.
Numa época autoritária, especialmente no contexto do Estado
Novo, decisões do porte do Decreto-lei nº 2.269 tinham um peso decisivo
na vida do país e representavam a impossibilidade de retrocesso. A popu-
lação, vencida, não teve outra saída senão a de se submeter às decisões
federais executadas pela Light. Hoje, os moradores relembram, sob a
ótica de suas versões particulares, rememorando tragédias pessoais e fa-
miliares. Sabem que, de fato, a cidade não precisaria ter sido destruída,
devido à prova irrefutável da ausência, até hoje, de águas na maior parte
do território da cidade, fora inundada uma única vez e nunca mais. Arti-
culam suas lembranças de acordo com a importância que a cidade tivera
em seu passado, contrapondo ao discurso técnico e oficial, a referência e
a reverência às suas memórias.
No trato com os depoimentos dos marcossenses, tentamos fazer
com que, ao mesmo tempo que preservassem a peculiaridade de sua vi-
46
vência, versassem também sobre abordagens comuns a todos. O principal
critério para a escolha dos depoentes foi o de colher depoimentos de mar-
cossenses atualmente residentes na cidade de Rio Claro. Esse município
fluminense é, desde 1938, a sede do território que São João Marcos ocu-
pava. Outro critério foi o da vivência em São João Marcos. Algumas pes-
soas moravam em áreas mais afastadas e não tinham um contato freqüen-
te com a cidade e com os efeitos do processo desencadeado nos seus úl-
timos dias. Os depoentes escolhidos foram aqueles que efetivamente mo-
ravam na cidade e/ou tinham um contato permanente com seu centro ur-
bano.
Os depoimentos foram organizados em duas partes distintas e
complementares: a primeira, sobre a vida na cidade, as festas, os laços de
amizade e o espaço da convivência, que intitulamos “idade do ouro”
5
; a
segunda, que acompanha o processo de destruição da cidade, as impres-
sões e interpretações pessoais, a forma pela qual a Light conduziu a de-
molição das casas e a desocupação do espaço urbano.
A Idade do Ouro - tempo de lembrar
A prosperidade do século XIX deixou profundas marcas na cida-
de de São João Marcos e na memória de seus habitantes. A decadência
trazida pela crise da economia cafeeira e pela abolição da escravidão não
impediu a idealização do passado, quando a fartura era geral e a cidade
abrigava a felicidade e a prosperidade. O período de decadência passou a
ser identificado com a chegada da Light e com os transtornos desencade-
ados pelo represamento dos rios. Na memória local, a Light representou
todos os males, sendo responsável, afinal, pela destruição da cidade.
Ainda hoje a cidade é referenciada como portadora de uma gran-
deza inata, por suas riquezas agrícolas, pelo seu clima anterior à chegada
da Light, pelos moradores e suas amizades e por uma idealizada tendên-
cia ao desenvolvimento. A memória da destruição e da separação é de tal
forma sentida que todo o passado é construído como ideal. Toda a perda,
seja de casas e terras, da comunidade de amizades e da referência natal,
5
. Segundo Jacques Le Goff: “para dominar o tempo e a história e satisfazer as próprias
aspirações de felicidade e justiça ou os temores face ao desenvolvimento ilusório ou
inquietante dos acontecimentos, as sociedades humanas imaginaram a existência no pas-
sado e no futuro, de épocas excepcionalmente felizes ou catastróficas, por vezes, inseri-
ram essas épocas originais ou derradeiras numa série de idades, segundo uma certa or-
dem”. Para o autor, a chamada “Idade do Ouro” não desapareceu, com as novas crenças e
ideologias ela vive uma renovação nas mentalidades e na teoria dos historiadores. Cf. LE
GOFF, Jacques. Memória. In: Enciclopédia Einaudi, v. 1, Memória-História. Lisboa:
Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984, p. 283 e 320.
47
faz com que, para os ex-habitantes da cidade, a vivência anterior seja
sentida como a melhor de suas vidas. A infância e a adolescência de pes-
soas, hoje aposentadas, vivendo na difícil condição de velhos, em locais
diferentes dos daqueles períodos “áureos”, representa a memória de um
tempo glorioso. O presente não é o ideal, do futuro pouco se espera, o
que mais marca a memória são os tempos passados.
O espaço da convivência é lembrado com reverência. D. Iracildes
Coelho Pena, conhecida como Cidinha Pena, nascida em 1925, em Bom
Jardim de Minas, Minas Gerais, mudou-se com a família para São João
Marcos em 1938. Filha do comerciante Josino Pena e Antonia Lacerda,
lembra-se do armazém e da casa, localizada na Rua da Palha:
Saía do armazém e entrava na sala de vistas, né? Tinha quatro quartos,
sala de jantar, cozinha, banheiro, um quintal bom. O quintal era todo
calçado de pedra bruta, assim. Era uma beleza a casa (...). Lá em casa
sempre teve muita visita (...)
6
D. Ângela, filha de José da Rocha Azevedo, funcionário da Li-
ght, e Maria de Azevedo Loyola, confessa não se lembrar de muita coisa,
pois era muito nova quando viveu na cidade. Nasceu nas proximidades da
cidade, mas a família mudou-se para a área urbana quando ela completou
dez anos. O espaço da casa em São João Marcos ficou marcado:
A casa eu me lembro bem (...). Minha casa ficava atrás da igreja matriz
(...) era antiga, boa (...), tinha uns quatro quartos, duas salas grandes.
Era uma casa muito grande. (...) à noite, como a noite era bonita, a gen-
te brincava de roda... juntava as colega, a turma daquela rua ali, a gente
brincava
7
.
A festa mais lembrada da cidade é o carnaval. Todos os depoen-
tes se lembram dos clubes, das disputas entre eles, da banda de música
local e de como a cidade ficava movimentada nessa época. Para D. Ânge-
la:
Lembro bem do carnaval que era bom. Muito bom. (...) Era um bloco só
e tinha a banda da cidade, o maestro era meu tio, Joaquim Loyola. De-
6
. Depoimento de Iracildes Coelho Pena da Rocha, em fevereiro de 1993, no distrito de
Passa Três, Rio Claro, RJ, local atual de residência. D. Cidinha nasceu em Bom Jardim de
Minas, em 06/11/25.
7
. Depoimento de Ângela Medeiros de Souza, em fevereiro de 1993, em Rio Claro, RJ. D.
Ângela nasceu em São João Marcos, em 01/01/28.
48
pois da escola de samba, o bloco, ia para o clube... tinha fantasia. Tinha
carros bonitos, enfeitados
8
.
D. Cidinha lembra-se dos carros enfeitados:
O carnaval de lá era muito bom. Naquele tempo, imagine... São João
Marcos tinha carro alegórico. Você nem acredita nisto, não é?
9
Sr. Antônio, mineiro, nascido em Rio das Flores e criado em São
João Marcos, foi funcionário da Light, como vários outros moradores do
município. Embora morasse na área rural, a convivência com a cidade era
constante, principalmente nos dias de festas:
Nós tínhamos, por exemplo, o clube, que era de dois andares. De frente
para a igreja uns cento e poucos metros (...) era muito organizado (...) a
pessoa para freqüentar tinha que ser sócio (...) as bandas se reuniam to-
da semana...
10
A lembrança do carnaval, dos bailes e das festas periódicas, como
a do padroeiro, São João Marcos, é o que mais une os depoentes à cidade.
É a lembrança de um tempo perdido que não volta mais, nem a cidade
existe mais. O único recurso possível de recordação é o acesso à memó-
ria, não só a individual, mas com alguma freqüência, a do grupo:
O pessoal de São João Marcos era um pessoal muito bom. até hoje, os
que eu encontro, (...) quase a mesma festa assim: ô Cidinha... tem um
até que chora ... quando a gente se encontra, chora ainda, viu? (...) de-
pois de tanto tempo é bem emocionante quando encontra um marcos-
sense; é bem emocionante mesmo
11
.
Como reação à separação e à desagregação tem-se o recurso à
memória, único possível. A idade do ouro nada mais é do que a recorda-
ção de um período de participação ativa, de descobertas, de paixões, de
convivência num mundo de vivências partilhadas.
8
. Idem.
9
. Depoimento de D. Cidinha Pena.
10
. Depoimento de Antônio Pedro de Souza, em janeiro de 1993, em Rio Claro, RJ. Sr.
Antônio nasceu em Rio das Flores, MG, em 1925 e morreu em dezembro de 1993.
11
. Depoimento de d. Cidinha Pena.
49
A destruição - o fim da utopia
Segundo Sr. Antônio,
A destruição da cidade, ela foi aos poucos. Por que a Light foi com-
prando, foi indenizando o povo. Geralmente alguns ficavam mais difí-
ceis, foram ficando para o final ...
12
O movimento de saída da cidade começou no início do século,
com a chegada da Light, e acelerou-se no decorrer da década de 30,
quando começaram a chegar as notícias da verdadeira intenção da empre-
sa. Muitas pessoas resistiram e só saíram quando já não havia mais como
permanecer na cidade. Com a desapropriação decretada, os moradores
tentavam salvar suas propriedades e perder o mínimo possível. Baseados
nas relações que a Light mantinha com a população da região, os morado-
res intuíam que não haveria nenhuma intenção de indenizar as proprieda-
des pelo valor de mercado.
A reação à imposição de que as pessoas deveriam abandonar a
cidade se deu de várias formas, seja pelos manifestos liderados por Luís
Ascendino Dantas, nos protestos na cidade ou até mesmo pela recusa de
alguns moradores em sair, indo morar nas proximidades da cidade que ia
sendo destruída aos poucos.
Em 1939, visando comemorar o bicentenário da cidade, junta-
mente com o decreto que a tornava Patrimônio Histórico Nacional, os
moradores organizaram uma grande festa. Essa festa, no entanto, não
ficou muito registrada na memória, sendo freqüentemente confundida
com os festejos anteriores, do padroeiro. Talvez pela proximidade destas
comemorações com o fim da cidade, a memória tenha produzido seu es-
quecimento. Quando os depoentes foram provocadas a lembrar da festa
de 1939, as recordações que conseguimos registrar foram, em geral,
nebulosas. Para Sr. Antônio, a festa foi um colosso. D. Ângela não se
lembra. A única lembrança mais efetiva é a de D. Cidinha. Nos momentos
de recordação da festa foi quando mais ouvimos seus silêncios. A
narrativa ficou entrecortada por observações rápidas e por longas pausas,
permitindo-nos perceber o quanto esse episódio marcou a vida daquelas
pessoas. O ponto alto da festa, além dos festejos musicais e pirotécnicos,
foi, segundo D. Cidinha, a inauguração do marco comemorativo do
bicentenário ao lado da matriz. Esse marco foi destruído recentemente,
12
. Depoimento de Sr. Antônio Pedro de Souza.
50
rio ao lado da matriz. Esse marco foi destruído recentemente, em conse-
qüência de um boato sobre a existência de ouro na sua base...
A demolição das casas ia sendo feita à medida que as pessoas as
abandonavam. Assim, conta Benedito de Souza, funcionário da Light na
época, que participou das demolições:
Eu derrubei a cadeia, derrubei a ... Prefeitura, a casa da Câmara, o clu-
be. e tive ordem da igreja do Rosário
13
.
Sr. Benedito conta que os prédios que estavam próximos da re-
presa eram demolidos com a ajuda do rebocador que ele dirigia:
Amarravam um cabo de aço em volta dos prédios e eu puxava com o
rebocador...
14
.
As demolições começaram numa Quinta-Feira Santa. A popula-
ção se organizou numa passeata de protesto, saindo pelas ruas carregando
cartazes. Um deles dizia: “somos quatro mil e seiscentos brasileiros e não
queremos desaparecer”
15
. A maioria das casas era demolida com a ajuda
de marretas. Assim que as famílias saíam vinha uma turma de trabalhado-
res para destruir a casa. As pessoas só podiam levar os móveis da casa e
nada mais. Depois da demolição, os operários incendiavam o material dos
prédios.
O caso de demolição mais traumático foi o da igreja matriz. Sua
construção havia sido iniciada em 1796 e terminada em 1801. Sua arqui-
tetura trazia influência maneirista, típica daquela empregada pelos jesuí-
tas, e barroca. A fachada principal era caracteristicamente maneirista,
com as torres já evoluindo para o barroco, decoradas com quatro pinácu-
los e azulejos portugueses. Seu interior era todo decorado em ouro. Sua
construção era tão sólida que os recursos “normais” utilizados para as
outras demolições não foram suficientes. A Light contratou um especia-
lista, morador de Rio Claro, para dinamitá-la, pois os operários se recusa-
ram a fazer o serviço. Sobre essa pessoa, conhecida por todos como Sr.
Dudu, pairaram boatos quanto a seu destino: por ter sido culpado pela
13
. Depoimento de Benedito Cornélio de Araújo, em janeiro de 1993, em Rio Claro, RJ.
Sr. Benedito nasceu em São João Marcos, em 13/02/24.
14
. Idem.
15
. Citado por BARBOSA, Francisco de Assis. São João Marcos antes do dilúvio. In:
Testamento de Mário de Andrade e outras Reportagens. Rio de Janeiro: Departamento
de Imprensa Nacional/Serviço de documentação/MEC, 1954, p. 82.
51
demolição da matriz, os moradores previram para ele toda sorte de casti-
gos do Céu. Segundo um dos depoentes, tais castigos de fato se cumpri-
ram. Sr. Wilson Coelho, filho do Tabelião de Notas e Escrivão da Justiça
em São João Marcos, Elias Gomes Coelho, diz que o Sr. Dudu nunca
mais acertou o passo na vida, atraiu um “mau astral” que lhe teria causa-
do uma deformidade:
Ficou corcunda a vida toda. Anos depois... acabou, dizem que acabou
em Valença no colégio de freiras lá...Ele cuidava do jardim do colégio,
curvado...
16
.
A destruição da igreja ficou marcada como um sacrilégio, uma
profanação. A construção de uma igreja em outro local, com característi-
cas semelhantes à original foi prometida pelo governo estadual, mas nun-
ca se realizou.
O cenário da destruição é rememorado como muito triste. As ca-
sas iam desaparecendo, as pessoas se espalhando, “indo para seu desti-
no”, como disse D. Ângela:
Ah, era triste, né? Muito triste... As pessoas saíam, né? A Light dava o
caminhão. Um caminhão encostava, dois ou três caminhão. Cada um ia
pra seu destino, onde ia morar...
17
Quanto à indenização:
A Light indenizou, recebeu, aí tinha que sair imediatamente... saía para
Mangaratiba e não dava para comprar nem um rancho, né? As pessoas
mais pobres que não, que não conseguiram sobreviver morreram, né?
E..., quando não morreram de fome, de coisa, morreram até de paixão.
E... foram embora, né?
18
Considerando a decadência econômica da cidade aliada à questão
da situação de área em extinção, completamente desvalorizada, podemos
supor, concordando com D. Cidinha, que a indenização seria ínfima para
adquirir um imóvel em qualquer outro local. Tudo isso reforça a idealiza-
ção da cidade, já que o recomeço da vida em outro local não deve de ter
16
. Depoimento de Wilson Itamar de Oliveira Coelho, em abril de 1993, no Rio de Janei-
ro. Nasceu na Fazenda Água Fria, em São João Marcos, no dia 04/10/19. Atualmente
reside em Rio Claro, RJ.
17
. Depoimento de D. Ângela Medeiros de Souza.
18
. Depoimento de D. Cidinha Pena.
52
sido fácil. As demolições eram feitas e todo o material incinerado, segun-
do Sr. Benedito:
Eles pegavam o madeirame, tudo madeira de lei, cedro, madeira impor-
tante mesmo, sabe? Aí eles tiravam aquela madeira e botava, fazia
aquele monte, botava fogo, queimava tudo. Se fosse hoje...
(...) olha, a Light hoje é uma coisa, agora é brasileira, mas no tempo que
ela era estrangeira, ela preferia queimar tudo e não dava, não dava um
pau uma tauba pra ninguém. Nem dava, nem vendia, tá entendendo?
19
A empresa agia com total arbitrariedade, respaldada por um go-
verno também autoritário. A opinião e o interesse dos moradores foram
totalmente desconsiderados. Hoje, restam poucas ruínas no local da cida-
de. Virou local de pastagem. Mas, ainda podemos ver, em meio ao mata-
gal, alguns calçamentos, o antigo cemitério, as ruínas das igrejas.
Segundo Ecléa Bosi, “mudança e morte se eqüivalem para o ido-
so”
20
. O desenraizamento, a perda da convivência com os amigos e paren-
tes, equivale à própria morte. Em outra obra, a autora afirma:
O desenraizamento é uma condição desagregadora da memória: sua
causa é o predomínio das relações do dinheiro sobre outros vínculos so-
ciais. Ter um passado, eis outro direito da pessoa que deriva do seu en-
raizamento. Entre as famílias mais pobres e mobilidade extrema impede
a sedimentação do passado, perde-se a crônica da família e do indivíduo
em seu percurso. Eis um dos mais cruéis exercícios da opressão econô-
mica sobre o sujeito: a espoliação das lembranças.
21
Todos os depoimentos ressaltam o clima de revolta de todos os
habitantes. Até os funcionários da Light eram contra a demolição. As
vozes e as ordens a favor pareciam vir de muito longe, de um poder que
ninguém alcançava. Na avaliação atual, porém, alguns depoentes, como o
Sr. Wilson, entendem que havia a necessidade de abastecer o Rio de Ja-
neiro:
Pra dizer a verdade, eu me transporto para aquela época, né? Evidente-
mente que eu não posso comparar a situação daquela época com os dias
19
. Depoimento do Sr. Benedito Cornélio de Araújo.
20
. BOSI, Ecléa. Memórias da Cidade: Lembranças Paulistanas. In: São Paulo (Cidade).
Secretaria Municipal de Cultura. Departamento de Patrimônio Histórico. O Direito à
Memória. Patrimônio Histórico e Cidadania. São Paulo: DPH, 1992, p. 148.
21
. BOSI, op. cit., 1987, p. 362.
53
que vivemos, né? Para aquela época, a solução seria aquela, infelizmen-
te, apesar de eu ser marcossense
22
.
Lamentando o acontecido, mas também entendendo as razões da
época, Sr. Antônio afirmava:
... não é por causa de uma pequena cidade que a capital ia ficar sem a-
bastecimento de água e de luz
23
.
Tanto o Sr. Antônio quanto o Sr. Wilson não somente entende-
ram como justificaram a decisão da Light e do governo federal. D. Cidi-
nha, ao contrário, munida de uma grande admiração por Ascendino Dan-
tas, defende-o até hoje:
(...) a luta era dele... os que puderam ajudar não ajudaram. Todas as es-
peranças do povo, inclusive até minha, nossa, lá de casa, era o Seu Luís
Dantas
24
.
A explicação oficial para a destruição, a doutrinação ideológica,
para utilizarmos a terminologia de Michael Pollack, não conseguiu apa-
gar as lembranças da comunidade, expressa, hoje, em vozes individuais,
destacadas. A idéia de que São João Marcos deveria desaparecer para
viabilizar a vida da Capital Federal, se foi, até certo ponto, aceita por
algumas pessoas, de outro lado gerou um inconformismo muito grande. O
poder e o carisma do Estado Novo não foram suficientes para convencer
aquelas pessoas de que suas vidas valiam menos do que a de outras pes-
soas. Não sendo resolvida a questão da reconstrução da cidade (houve
diversos projetos e sugestões para a reconstrução em outro local), ficando
somente na promessa, o trauma se acentuou, fazendo desta uma memória
rancorosa, sentida. Segundo Pollack, “o longo silêncio sobre o passado,
longe de conduzir ao esquecimento, é a resistência que uma sociedade
civil impotente opõe ao excesso de discursos oficiais”
25
.
Os sentidos de herança (a memória é herdada, não se refere ape-
nas à vida física do indivíduo), construção (a memória é um fenômeno
22
. Depoimento de Wilson Itamar de Oliveira Coelho.
23
. Depoimento de Antônio Pedro de Souza.
24
. Depoimento de D. Cidinha Pena.
25
. De acordo com Pollack, a história oral, ao privilegiar a análise dos excluídos, das
minorias, ressaltou a importância das memórias subterrâneas, que criam o seu processo de
subversão no silêncio, acabam aflorando em momentos de crise. POLLACK, Michael.
Memória, Silêncio, Esquecimento. Estudos Históricos, 2(3):4-5,1989.
54
construído, consciente ou inconscientemente) e de identidade (o sentido
que o indivíduo constrói de sua própria imagem, de si, para si e para os
outros) apontados por Pollack indicam que a memória é permeada do
sentido não só do que ocorreu no passado, mas do tempo presente e de
seus conflitos. A memória se auto-constrói, mas também é imposta, en-
quadrada, quando interesses conflitantes estão em jogo. Daí é possível
entender as diferentes concepções e aceitações da destruição de São João
Marcos na voz de seus antigos moradores. A memória oficial fez a sua
própria clivagem, legitimando a atuação dos interesses dominantes no
episódio. Seus pressupostos foram absorvidos como verdade por uma
parcela da população, mas ela não foi capaz de convencer a todos, propi-
ciando a latência da memória. A memória política se reveste de caracte-
rísticas especiais, para Ecléa Bosi:
A memória política parece ser, assim, um jogo sinuoso, aparentemente sem vi-
tória certa, no qual ora a ideologia dominante no grupo assimila as conquistas
da observação direta, ora esta contradiz aquela mudando-a por dentro e deixan-
do à mostra sua parcialidade
26
.
A memória como linguagem é construída na sua relação com o
esquecimento:
É possível sair do registro moral da história que pretende chegar a um conheci-
mento verdadeiro e essencial dos acontecimentos e passar a escutar a história a
partir dos jogos entre esquecimento e memória, que são também jogos de pro-
dução/construção de verdades
27
.
Através de depoimentos pessoais podemos ampliar a compreen-
são dos episódios, dos momentos de conflitos e permanências. Da busca
do sentido do jogo entre memória/esquecimento emerge o sentido da
história. Os depoimentos dos ex-moradores de São João Marcos revelam,
dentre outras coisas, a impotência diante de uma situação irreversível e de
um poder contra o qual não tinham armas para lutar. Ao discurso oficial,
algumas vezes assimilado, essas pessoas, consciente ou inconscientemen-
te, acrescentam a sua visão de mundo, a lembrança do espaço e dos laços
vividos, fatores pouco considerados em situações-limites, quando o que
está em jogo são interesses econômicos e políticos. Neste sentido, a me-
mória é reação.
26
. BOSI, 1987, op. cit., p. 380.
27
. CARDOSO, Irene. A dimensão trágica de 68. Teoria & Debate, (22):60, 3
0
trimestre
de 1993.
55
ABSTRACT
In 1941, the village of São João Marcos, at the boundaries of Rio de Ja-
neiro state, was destroyed by tecnicians of the Canadian The Rio de Janeiro
Tramway, Light and Power Co. Ltd. to give place to a hydroelectric dam. The
main goal of this article is to recuperate and analize the expropriated memory of
the village of São João Marcos’ community, making use of the oral history re-
sources as a fundamental technics to rescue from the memory of its members
their identification whith that social and territorial room disapeared forever.
Key words: memory, city, modernization, eletric power.
BIBLIOGRAFIA
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Reportagens. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional/Serviço de
documentação/MEC, 1954.
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UNB, 1987.
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trimestre de 1993.
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8. N
ÃO será mais arrasada a cidade histórica.São João Marcos considerada monumen-
to histórico nacional. O G
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P
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João Marcos (1930-1945). Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro:
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13
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VON SIMSON, Olga de Moraes (org.). Experimentos com História de Vida
(Itália - Brasil). São Paulo: Vértice, 1988.
RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS
1.
Ângela Medeiros de Souza, em fevereiro de 1993, em Rio Claro, RJ. D. Ângela
nasceu em São João Marcos, em 01/01/28.
2.
Antônio Pedro de Souza, em janeiro de 1993, em Rio Claro, RJ. Sr. Antônio nas-
ceu em Rio das Flores, MG, em 1925 e morreu em dezembro de 1993.
3.
Benedito Cornélio de Araújo, em janeiro de 1993, em Rio Claro, RJ. Sr. Benedito
nasceu em São João Marcos, em 13/02/24.
4.
Iracildes Coelho Pena da Rocha, em fevereiro de 1993, no distrito de Passa Três,
Rio Claro, RJ, local atual de residência. D. Cidinha nasceu em Bom Jardim de
Minas, em 06/11/25.
5.
Wilson Itamar de Oliveira Coelho, em abril de 1993, no Rio de Janeiro. Nasceu
na Fazenda Água Fria, em São João Marcos, no dia 04/10/19. Atualmente resi-
de em Rio Claro, RJ.
REVISTA DE HISTÓRIA REGIONAL 1(1):41-56, 1996.
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