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ria alastrou-se numa grande epidemia. Muitas pessoas morreram (770
óbitos registrados em 1910), outras fugiram, abandonando casas e terras.
Daí em diante, o município foi enfraquecendo-se cada vez mais, num
processo de decadência econômica e política. Finalmente, em 1938, o
governo estadual decretaria a sua anexação ao município vizinho de Rio
Claro, o que, sem dúvida, contribuiria ainda mais para a sua destruição
definitiva.
Ainda no início da década de 1930 a empresa começava a incen-
tivar a discussão de projetos mais efetivos de expansão da represa , que se
encontrava nos limites da cidade, o que culminaria, inevitavelmente, com
a sua destruição. Os argumentos que a Light, as autoridades governamen-
tais e alguns jornais do Rio de Janeiro utilizavam para justificar a neces-
sidade de destruição completa da cidade eram: a) a necessidade urgente
de ampliar o abastecimento de água para a cidade do Rio de Janeiro, en-
tão Capital Federal, que se abastecia com pequenos mananciais que já não
atendiam mais às necessidades do consumo; b) ampliar a capacidade de
geração de energia elétrica no estado, motor fundamental da industriali-
zação, então engatinhante.
Em 1939, uma reportagem de O Globo informava que a Light
havia comprado 78 fazendas e a maior parte das casas da cidade, preten-
dendo adquirir toda a área ocupada pelo que era São João Marcos
4
. Essa
questão obteve ainda maior repercussão na imprensa fluminense quando,
em 1939, o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
SPHAN, tombou a cidade na tentativa de preservá-la da destruição. A
situação de polarizava: de um lado os governos federal, estadual e a Light
defendiam a necessidade do desaparecimento da cidade; de outro lado, o
departamento cultural do Estado, representado por Rodrigo Mello Franco
de Andrade, lutava de todas as formas possíveis para preservar a cidade,
considerada monumento histórico nacional.
Apesar dessa cisão no aparelho decisório do Estado, ganhou a
facção com maior poder. A Light, empresa de grande porte, que acumu-
lava, além da geração e distribuição de energia elétrica, os serviços de
bondes, ônibus, telefones e gás do Rio de Janeiro, ameaçava boicotar o
setor elétrico, reduzindo ainda mais a geração de energia, caso seus pla-
nos quanto ao aumento da barragem e conseqüente desaparecimento da
cidade não fossem atendidos. Até 1930 o Estado pouco interveio no setor
elétrico. A partir desse ano, porém, com a vitória da Revolução de 30, o
4
. O Globo, 19/05/39, s.p.