e “há de ter, se já não tem, sua própria política”. Tristão de Athayde é quem encara a discussão
de outro ângulo, posicionando-se de forma diferente, entendendo a questão Norte-Sul como um
fator próprio do Brasil, em termos de características artísticas próprias, tal como se dá, desde
longa data, na música, no folclore, na literatura, nos costumes, pois
o fundo de verdade é que a unidade brasileira, milagre e nervo da nossa
história, inclusive literária, não é, nem nunca foi, uma unidade mecânica. É,
como já dissemos, uma unidade vital, isto é, uma unidade orgânica que só se
entende dentro da variedade. Assim o foi e continua a sê-lo por motivos
geográficos, políticos, econômicos, psicológicos, motivos de toda ordem. O
clima, a configuração da terra, a paisagem, tudo o que forma o ambiente
físico no qual se desenrola o drama histórico do homem e da nacionalidade,
não é uniforme no Brasil inteiro. (1980: 489)
Veríssimo, amigo do escritor, disse dele: “o bairrismo, o irredutível provincianismo do
meu saudoso Távora, e a sua concepção romântica do que é brasileiro, empanaram-lhe a
visão” (1977: 78). Forçoso é observar que o embate Norte-Sul existia não apenas no discurso
dos literatos, mas igualmente no dos críticos – sinal evidente do quanto a questão da
nacionalidade, alicerce ideológico do embate, era uma inquietação conflituosa. O próprio
Veríssimo chega a dizer que “Geograficamente, Norte e Sul são distintos, e talvez, ao contrário
do sentimento bairrista de Franklin Távora, sob o aspecto da beleza e do pitoresco, com
vantagem do Sul.” (idem: 75, grifo nosso). Em sua História da literatura brasileira, Veríssimo
incorre em impropriedade maior, afirmando que Távora, assim como outros escritores da época,
ficavam “indiscretamente revoltados contra a legítima e natural preponderância mental do Rio
de Janeiro.” (1963: 238, grifo nosso). Silvio Romero, que partilhava das tendências tavoreanas
(mais que isso, tendências de época, embora algumas estivessem condicionadas à situação
geográfica ou à ideologia), atribui o afastamento imputado ao autor de O casamento no
arrabalde à sua insubordinação, pois o “escritor nortista apareceu no meio deles sem lhes
abaixar a cabeça, e, ao demais, tendo a coragem de falar em Literatura do Norte...” (1943: 98).
As apreciações, em geral, condenam as críticas feitas a Alencar, e os próprios ataques de
Távora hoje servem como mediadores na avaliação de seus romances. Tais ataques têm como
principal referência o estilo de Alencar, concorrendo para o prejuízo de Távora. Não obstante,
estas investidas não devem ser reduzidas apenas a uma discórdia pessoal e geográfica. Existe
por parte da crítica uma indisposição que leva a uma comparação com Alencar. Além disso, a
tese Norte-Sul está prenhe de outros fatores mais profundos, de ecos permanentes, como é
possível verificar no discurso de Gilberto Freyre, anos depois do manifesto regionalista presente