84
ou para algo
284
. Assim as terminologias “autêntico, verdadeiro, convincente são
adjetivos que os diversos leitores poderão usar”.
285
A obra revelada pode revelar algo da “estrutura do ser” ao narrar algo de uma
estrutura da história movida por Deus. Por exemplo:
quando conta a vida da igreja nascente, o segundo livro – ou segunda parte – de
Lucas está revelando a estrutura da Igreja como instituição histórica, cuja existência
é temporal. Sem ser um tratado de eclesiologia, com técnica proposicional, ele
representa a luz para se compreender o ser dinâmico da Igreja.
286
Deste modo, como diz Clodovis Boff, há uma teologia na Bíblia, que, de forma
mais ou menos explícita, revela algo do mistério de Deus.
287
A Bíblia apresenta a
verdade sob a forma de testemunho com uma força performativa, que move o leitor-
ouvinte existencialmente
288
. Para o cristão, Cristo é a verdade e seu testemunho
deve ter a força de operar uma decisão na fé. Segundo Schökel, esse tipo de
verdade “com seu elemento jurídico e o seu empenho existencial, é constitutivo da
vocação profética e apostólica”.
289
A verdade literária da Bíblia tem que ser
encontrada no contexto da caminhada eclesial. Se a Bíblia gera a comunidade e a
comunidade também gera a Bíblia, o contexto interpretativo privilegiado é o contexto
da ambiência cristã.
284
“Ora, sabe-se que a Bíblia não contém simplesmente os textos proféticos. É toda a Bíblia que é a
Palavra de Deus para nós, mesmo quando ela não toma esta forma literária do discurso profético.
Portanto é preciso honrar o texto bíblico na medida em que ele comporta também gêneros
literários como a narração, como é do domínio do sapiencial, do prescritivo, do legislativo, e
também do que depende do hínico e do poético. Aliás, é preciso mostrar como os próprios
conteúdos da fé de Israel estão sempre estreitamente ligados às formas ou aos gêneros literários
próprios deste ou daquele texto. Entre as formas do discurso e a compreensão de si próprio do
leitor mantém-se o desdobramento do mundo do texto”. (GEFRÉ, Claude. Crer e interpretar: a
virada hermenêutica da Teologia, p. 46).
285
SCHÖKEL, L. Alonso. A palavra inspirada, p. 208.
286
Ibid., p. 210.
287
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico, p. 561.
288
“O assunto da Bíblia não é só doutrina sobre Deus. Lá dentro tem de tudo: doutrina, histórias, provérbios,
profecias, cânticos, salmos, lamentações, cartas, sermões, meditações, orações, filosofia, romances,
cantos de amor, biografias, genealogias, poesias, parábolas, comparações, tratados, contratos, leis para
organizar o povo, leis para o bom funcionamento do culto; coisas alegres e coisas tristes, fatos concretos
e narrações simbólicas, coisas do passado, coisas do presente, coisas do futuro. Enfim, tudo que dá para
rir e para chorar. (MESTERS, Carlos. Bíblia: livro feito em mutirão, p. 14-15).
289
SCHÖKEL, op. cit., p. 210.