Quando recebi a notícia de que aconteceria esta homenagem, minha
imediata reação foi de pânico, partida da impossibilidade de ser centro
principalmente porque, no balanço de meus possíveis “feitos”, humanos
e intelectuais, nada encontro além de uma vida vivida normalmente,
generosa, para mim, na distribuição das coisas boas que me deu;
educativa, porque me ensinou e não me sentir injustiçada, nas inevitáveis
tristezas, comuns a todos nós. Então, coloquei esta festa de agora na
faixa dos acontecimentos, de carinho, de amor. E, aí, capitulei.
Restava-me identificar os autores desta surpreendente — Carlos Mônaco
já indiciado, por seus antecedentes. Pensei em Hugo Tavares, patrimônio
intransferível da cultura fluminense que, roubado do Rio de Janeiro, dá a
Niterói o “status” de guardar um dos mais autorizados críticos
contemporâneos, homem de largas leituras, inteligência que os fados, em
hora de bons sentimentos, acharam por bem deixar cair perto de nós.
Pensei em Luís Antônio Pimentel, ovelha lírica, pastor do rebanho das
estrelas, sempre atento às claridades do Céu, coração aberto a todas as
belezas da Vida. Pensei, com a certeza que tenho de sua participação
fraterna no estímulo aos trabalhadores intelectuais, no apoio do poeta,
contista, historiador, jornalista, professor Alaor Scizínio. E logo me veio
a notícia comovedora de que Isaac Bardavid fora convidado para saudar-
me — e me falaria com seu coração de amigo e sua voz maravilhosa de
grande ator que é recém-nascido que contemplei em seu berço teatral,
juntamente com a aprovação de tantas pessoas que ano e admiro. Aí, já
citados os promotores e saudando os que concordaram, teria sido muito
grato citar todos os nomes, aos quais devo muito apoio, em minhas
andanças teatrais por Niterói: Lou, a amiga de qualquer momento, a
incansável profissional, cujo nome já é símbolo do que todos podem
fazer, em favor da integração intelectual e fraterna, de nossos
conterrâneos; Ângelo Longo, em Sete Dias; Donadel que tomou
emprestado, a Elizeth o título de que é detentora perpétua e que é uma
honra receber, mesmo de empréstimo, somado à alegria maior de ter
vindo de Donadel; Tetê, com sua jovem e inteligente irreverência, de
jornalista independente, e, já remanescente de outras guerras, Elzita
Bittencourt do Vale que fez de “Persona” o órgão oficial do Teatro
Estável de Niterói, de que foi arauta e merecia ser sagrada cavaleiro, com
bênçãos, espada e tudo; Marco Lucchesi, na culminância de seu talento
— e esse herói do jornalismo fluminense, Alberto Torres, bondade e
inteligência em permanente oferenda às gentes de sua terra. Como vêm,
tarefa difícil de ser cumprida, sem omissões, sem a aparente ingratidão
dos que se perdem diante do amor em mutirão. Que esmaga.
Gostaria de deixar aqui palavras que expressassem meus sinceros
agradecimentos. Que são realmente sinceros, sobretudo pelo que sinto de
carinho e fraternidade, em vocês. Minha fuga a aparecer, contraditória
em quem dedicou toda a vida ao Teatro, que nos projeta em cena aberta
(aqui, cabe informar, que nunca apareci em palco, nem mesmo para
agradecer a aplausos — assim me compreenderão melhor), não é fuga à
comunicação humana — e a isso o Teatro, como forma mais alta da
expressão do escritor e do intérprete. Gosto de dialogar, de conversar,
gosto de gente.
Mas sou, fundamentalmente, um ser da lareira, que ilumina e aquece,
quando amigos se reúnem e falam em voz baixa, como se protegessem
um segredo; quando o silêncio, em torno deixa soar alto o silêncio das
almas escondidas e libera a confissão comovida do que portamos, em
todas as nuances do amor. Da suavidade dos sentimentos mais