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professora, e o pai, aposentado, são os responsáveis pela manutenção
econômica da família. Silvia caracteriza o relacionamento familiar de
maneira positiva: é muito bom, nós somos muito unidos, uma ajuda a outra,
assim, é muito bom. (...) a gente vive numa boa. Diz que o relacionamento
com os vizinhos também é “muito bom”, são pessoas conhecidas há muito
tempo, uma vez que Silvia reside com sua família na mesma rua desde seus
nove anos de idade: meus vizinhos são os mesmos, é uma família ali na rua.
Além da Cooperativa Silvia não participa de nenhum outro grupo e nos
momentos de lazer se dedica a trabalhos manuais comumente realizados na
Cooperativa: nos momentos de lazer? Eu gosto de fazer assim trabalho
manual, caixa, essas coisas, tá entendendo? É, eu gosto de fazer isso.
[Então, na verdade, o que você faz aqui na Cooperativa como trabalho
em casa você toma como lazer.] É, eu cubro caixinha, cubro enfeites, eu
dou o maior valor fazer esse tipo de coisa. Gosto demais mesmo. [Além
disso, tem mais alguma coisa que você costuma fazer como lazer?]
Passear, levo meus meninos, às vezes a praia com meus amigos, meus
irmãos. Nega internação em hospital psiquiátrico e afirma jamais ter
realizado qualquer tratamento em saúde mental antes de se vincular ao
CAPS. Freqüenta este serviço há quase um ano quando foi encaminhada por
um profissional que a atendeu em um posto de saúde. Diz que procurou o
CAPS após tomar conhecimento de que seu filho mais novo tem diabetes,
fato que a abalou (e ainda a abala) muito emocionalmente. Sofre ao ver o
sofrimento do filho em internações hospitalares, aplicações freqüentes de
insulina e com restrições alimentares: eu fico nervosa demais por causa
disso, foi um choque. É, eu sou nervosa. Eu não tomo nenhum remédio
controlado, eu não tomo nada não. Acrescenta que não sofre preconceito
pelo fato de participar de atividades no CAPS ou por sentir o que ela
denomina “nervosismo” e salienta que não tem “nada na cabeça”: porque o
nervosismo que eu sinto é só o medo que eu sinto dele [refere-se ao filho
mais novo] sentir alguma reação, de ir pra o médico de novo, dele se
internar de novo, tá entendendo? Fico tensa. Eu não tenho nada na cabeça
que eu seja anormal. Nunca tive esse problema nem na minha família
nunca teve. Mas é assim, foi um choque porque eu nunca esperei. Na minha
família não tem ninguém diabético, nem pressão alta, colesterol. Aí, dá
glicemia alta, ele [refere-se novamente ao filho mais novo] fica enjoado,
fica agressivo, fica tudo, aí vai pro médico e eu já fico tensa porque ele já
passou muito tempo internado aí no hospital Walter Cantídio [localizado
em rente ao CAPS], já se internou no Albert Sabin [hospital infantil
localizado em Fortaleza], aí fico vendo a hora o menino sentir alguma
coisa, ter que se internar. Já bem na rua depois da minha tem uma senhora
que a filha dela morreu agora faz pouco tempo, diabetes também, a menina
tinha 13 ano, aí começou com uma dor de cabeça e ela não ligava, dor de
cabeça, dor de cabeça, aí a menina foi e perdeu uma visão, aí internou,
internou e aí morreu porque a diabetes tava lá em cima. Aí, quer dizer, fico
com aquele medo. Meu menino toma insulina duas vez ao dia. Não é que eu
tenha nada na minha cabeça. Silvia afirma que, embora tenha marcado sua
consulta inicial, jamais foi atendida por um médico ou psicólogo no CAPS.
Inicialmente foi acompanhada pela terapia ocupacional e posteriormente
engajada na Cooperativa, sua única atividade no CAPS atualmente. Sobre o
que representa o trabalho na Cooperativa destaca: não sei nem dizer [nesse
momento parou e pensou um pouco] pra mim acho que é como se fosse
um refúgio, quando eu tô aqui eu esqueço meus problemas, tá entendendo?
Enquanto eu tô fazendo aquilo eu tô distraindo, eu acho assim excelente. O
CAPS pra mim foi o melhor remédio que apareceu, tá entendendo? Eu
nunca tinha ouvido falar de CAPS, antes de eu ter problema com o meu