É mister pensar a educação, os professores como atores
importantes desse cenário, os alunos, os conteúdos programáticos dentro de uma
visão dinâmica, sistêmica, complexa, em movimento, num efetivo processo de
tornar-se, transformar-se, de vir-a-ser.
O que se defende aqui é a necessidade de um professor
musicoterapeuta que, no cuidado de si, no sentido proposto por Michel Foucault,
possa também cuidar do outro. Ser uma pessoa extremamente reflexiva, não só no
sentido de suas atitudes pedagógicas, sua didática, seu fazer educacional, mas,
principalmente, que seja uma pessoa conectada consigo mesma, com seus
sentimentos, suas emoções, sua musicalidade, sua racionalidade e sua
espiritualidade, para que, ciente de si, possa colocar-se disponível para o outro,
neste caso, o aluno do curso de Musicoterapia.
Ser acolhedor para com o aluno será entendê-lo como uma pessoa
bio-psico-social-cultural-espiritual, ou seja, dentro de uma visão holística, total,
enxergando-o como um ser humano que é mente, corpo, emoção e espírito. Um
indivíduo que busca conhecimentos, saberes, formação profissional, mas busca
também ressonâncias da própria existência. Essas ressonâncias, muitas vezes, são
de caráter humano, quer dizer, de pessoa a pessoa, do ser humano na relação com
outro ser humano.
O musicoterapeuta é um profissional que tem fundamentalmente seu
trabalho estabelecido numa relação entre pessoas, musicoterapeuta/paciente(s)
numa relação em que o primeiro está para o segundo na condição de ajudá-lo de
alguma maneira. Tudo isso em questões de autoconhecimento, na reabilitação, no
desenvolvimento pessoal global ou específico, nas suas dores, angústias,
sofrimentos, ensejando melhorar sua vida e a si mesmo como pessoa.
Que lugar e momento mais adequados para exercitar relações de
acolhida, troca, solidariedade, coletividade, sensibilização, reflexão do que o período
de formação acadêmica, antes mesmo de se tornar profissional, junto com seus
mestres e colegas?
A proposta é ousada, mas não impossível. Cuidadosa e
conscientemente, sem transgredir seu papel de professor, misturando-o com o de
terapeuta, o professor musicoterapeuta olha, escuta, entende, compartilha,
solidariza-se, instiga, incentiva, exige de seus alunos. Ajuda-os a construir um SER
profissional.