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Este livro ganha importância especial pela aten-
ção que passou a ser dirigida pelo Mercado Co-
mum do Sul (Mercosul) e pelo Fundo para o Meio
Ambiente Mundial (Global Environment Facility -
GEF) para uma das maiores reservas mundiais de
água subterrânea compartilhada, o Aqüífero Gigan-
te do Mercosul, conhecido como Aqüífero Guarani
em homenagem aos povos indígenas que ocupa-
vam a região.
O trabalho segue a tendência atual de levanta-
mento de parâmetros básicos para a compreensão
de processos relacionados com a mobilização de
radionuclídeos no ambiente, sendo enfocado espe-
cificamente o comportamento geoquímico do urâ-
nio (
238
U) e de alguns de seus descendentes sob
condições controladas no laboratório e em diferen-
tes sistemas naturais caracterizados por distintas
condições climáticas e hidrogeológicas.
Os resultados, emborao sejam oriundos de
áreas ou amostras diretamente relacionadas com a
problemática da disposição de rejeitos radioativos,
segundo o autor, podem servir de subsídio para um
melhor conhecimento dos mecanismos de transpor-
te de urânio mesmo naquelas situações, pois o ele-
mento é um importante constituinte do resíduo de
transurânicos.
Entre outros tópicos, a obra estuda a evolução
hidroquímica regional no Aqüífero Guarani e as
potencialidades e limitações do uso hidrogeoquími-
co dos isótopos de urânio nas águas subterrâneas
da Bacia Sedimentar do Paraná e do Maciço Alcali-
no de Poços de Caldas.
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RADIOATIVIDADE
NAS ÁGUAS
FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP
Presidente do Conselho Curador
José Carlos Souza Trindade
Diretor-Presidente
José Castilho Marques Neto
Editor Executivo
Jézio Hernani Bomfim Gutierre
Assessor Editorial
João Luis C. T. Ceccantini
Conselho Editorial Acadêmico
Alberto Ikeda
Alfredo Pereira Junior
Antonio Carlos Carrera de Souza
Elizabeth Berwerth Stucchi
Kester Carrara
Lourdes A. M. dos Santos Pinto
Maria Heloísa Martins Dias
Paulo José Brando Santilli
Ruben Aldrovandi
Tania Regina de Luca
Editora Assistente
Denise Katchuian Dognini
DANIEL MARCOS BONOTTO
RADIOATIVIDADE
NAS ÁGUAS
DA INGLATERRA AO GUARANI
© 2003 Editora UNESP
Direitos de publicação reservados à:
Fundação Editora da UNESP (FEU)
Praça da, 108
01001-900-São Paulo-SP
Tel.:(0xx11)3242-7171
Fax:(0xx11)3242-7172
www.editoraunesp.com.br
CIP-Brasil. Catalogação na fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
B712r
Bonotto, Daniel Marcos, 1957-
Radioatividade nas águas : da Inglaterra ao Guarani / Daniel Marcos
Bonotto. -o Paulo: Editora UNESP, 2004
Apêndice
Inclui bibliografia
ISBN 85-7139-539-X
1, Águas subterrâneas - Substâncias radioativas. 2. Radioisótopos
em hidrologia. 3. Aqüíferos - Paraná. 4. Aqüíferos - Minas Gerais.
I. Título.
04-1790. CDD 556.3
CDU 556.49
Este livro é publicado pelo projeto Edição de Textos de Docentes e
Pós-Graduados da UNESP- Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
da UNESP (PROPP) / Fundação Editora da UNESP (FEU)
Editora afiliada:
Á Dalva (Vinha) que, durante mais
de vinte anos, vem percorrendo
comigo o mesmo caminho.
"Vossa ciência já fala de vida dos elementos químicos e
define a duração destes períodos de vida. A radioatividade,
emborao a possais apreciar materialmente senão nos corpos
que a apresentam acentuadamente, é, todavia, uma proprie-
dade universal da matéria."
(Pietro Ubaldi, A grande síntese - 1932-193S)
SUMÁRIO
Apresentação 11
Introdução 15
1 A presença de
238
U,
234
U e
222
Rn na natureza 23
2 Transferência de
238
U,
234
U e
222
Rn de rochas e solos
sob condições controladas de laboratório 35
3 Mecanismos de enriquecimento de
234
U
em águas subterrâneas de aqüífero cárstico 67
4 Dissolução de urânio em granitos e solos e
mecanismos de transferência de
222
Rn para as águas 91
5 Radônio e isótopos de urânio nas águas subterrâneas
da bacia sedimentar do Paraná e no maciço
alcalino de Poços de Caldas 115
6 Evolução hidroquímica regional no aqüífero Guarani 149
7 Potencialidades e limitações do uso hidrogeoquímico
dos isótopos de urânio na bacia sedimentar
do Paraná e no maciço alcalino de Poços de Caldas 167
Conclusões 203
Referências bibliográficas 211
Apêndice 227
APRESENTAÇÃO
A descoberta do urânio ocorreu em 1789, quando o químico
analítico M. H. Klaproth estudava pechblenda, tendo o novo ele-
mento sido inicialmente designado como uranit em homenagem ao
planeta Urano e depois uranium. Contudo, foi somente após 1896,
com a descoberta da radioatividade por Becquerel, que se tornou
possível averiguar que esse elemento é progenitor de outros igual-
mente radioativos, como o uranium II identificado por McCoy e
Ross em 1907, ou a emanation, sob a forma gasosa, bastante utili-
zada por Rutherford em seus experimentos. Hoje se sabe que aque-
las designações correspondem ao
238
U,
234
U e
222
Rn e que, quando
Agrícola em 1556 considerou que a morte de muitos mineiros na
Europa estava relacionada com o fato de que o "ar pernicioso que
eles respiram algumas vezes apodrece os seus pulmões",o é pos-
sível ignorar a responsabilidade da contribuição dos
222
Rn
naquele episódio. Neste início de século XXI, a questão da radioati-
vidade e suas implicações assumiu outras proporções ante a pro-
blemática introduzida pela necessidade de disposição segura de
resíduos radioativos, de maneira que todo conhecimento básico
gerado para melhor compreender a mobilização dos radioelemen-
tos no ambiente é de importância atual, inserindo-se nesse con-
texto o presente trabalho envolvendo a radioatividade nas águas
devido aos nuclídeos
238
U,
234
U e
222
Rn.
Este trabalho deve-se basicamente à tese de Livre-Docência em
Geoquímica Comportamento hidrogeoquímico do
222
Rn e isótopos de
urânio
238
U e
234
U sob condições controladas de laboratório e em siste-
mas naturais, apresentada em 1997 no Instituto de Geociências e
Ciências Exatas da UNESP, Campus de Rio Claro. Uma parte da
tese foi elaborada graças a um programa de pós-doutorado rea-
lizado na Universidade de Bath, Inglaterra, durante 1987, ocasião
em que tive a grata oportunidade de conviver com o Dr. John N.
Andrews, falecido em dezembro de 1994, cujos exemplos de respeito
humano, humildade, perseverança, honestidade e competência cien-
tífica constituem um excelente marco de referência no qual cada
uma de nossas ações diárias deveria se basear. Ao longo desse tra-
balho, reuni todas as informações levantadas por intermédio dos
inúmeros experimentos sistemáticos lá realizados, em que foi pos-
sível constatar que a experiência prévia adquirida no Brasil, sob a
orientação dos Profs. Drs. Otaviano Augusto Marcondes Helene
(Iniciação Científica) e Kenkichi Fujimori (In Memoriam, Mes-
trado e Doutorado) da Universidade deo Paulo, permitiu a reali-
zação sem grandes dificuldades de todas as atividades laboratoriais
inerentes à sua execução.
Os resultados de várias investigações conduzidas no aqüífero
Guarani (Botucatu/Pirambóia) na bacia sedimentar do Paraná por
parte do grupo de pesquisa do Prof. Dr. Aldo da Cunha Rebouças
do Instituto de Geociências da Universidade deo Paulo também
constituíram importante fonte de inspiração para a realização deste
estudo.
O trabalho assume importância atual ante a especial atenção que
passou a ser dirigida pelo Mercado Comum do Sul (Mercosul) e
pelo Fundo para o Meio Ambiente Mundial (Global Environment
Facility - GEF) para uma das maiores reservas mundiais de água
subterrânea compartilhada, isto é, o Aqüífero Gigante do Merco-
sul, ou Aqüífero Guarani, segundo denominação atribuída em
1994 por um geólogo uruguaio, em homenagem aos povos indíge-
nas que, no passado, ocupavam a região.
Este trabalhoo poderia ter sido conduzido sem o apoio de
agências financiadoras de pesquisa, como o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado deo Paulo (Fapesp) e a Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA), sediada em Viena, Áus-
tria. Um considerável número de pessoas participou de sua realiza-
ção desde as etapas de campo até a digitação do texto e confecção
das ilustrações, consistindo em familiares, colegas de trabalho e
bolsistas. A todos, indistintamente, expresso os mais sinceros agra-
decimentos pela boa vontade sempre manifestada.
INTRODUÇÃO
Durante toda a história da vida na Terra, os organismosm
sido expostos a fontes naturais de radioatividade, estando, por isso,
geralmente aptos a tolerar certos níveis de atividade, sem conseqüên-
cias prejudiciais. Citam-se, por exemplo, os raios cósmicos, tam-
m conhecidos como radiação galáctica, de origem extraterrestre
(Sol e Via Láctea) e consistindo principalmente de prótons de alta
energia (cerca de 85%), partículas alfa (cerca de 14%) e núcleos atô-
micos mais pesados (cerca de 1%); quando a interação com a Terra
é pequenao designados de primários, caso contrário, de secundá-
rios, consistindo, nesta situação, de partículas subatômicas como
píons, múons, elétrons etc, resultantes da interação com a atmos-
fera. Dessa interação, muitos radionuclídeoso gerados na estra-
tosfera ou troposfera como o
3
H e o
14
C, ambos extensivamente
utilizados em hidrologia, sobretudo para a datação de águas sub-
terrâneas, dos quais o primeiro (meia-vida de 12,26 anos) é utili-
zado para estabelecer se a origem é recente, e o segundo (meia-vida
de 5.730 anos) numa escala de tempo de até 40 mil anos atrás.
Além dos radionuclídeos cosmogênicos, contribuem como fonte
natural de radioatividade elementos que estão presentes na Terra
desde a sua formação há cerca de 4.500 milhões de anos, inserindo-
se nesse contexto apenas aqueles que possuem isótopos radioativos
cuja meia-vida é suficientemente longa para permitir que a ativi-
dade permaneça existindo mesmo nos dias de hoje. Os mais impor-
tantes desses elementos primordiaiso o urânio, tório e potássio,
queo litófilos e se concentram preferencialmente nas rochas
ígneas ácidas eo nas básicas e ultrabásicas. A abundância crustal
média do urânio corresponde a 2,5 g/g, possuindo esse elemento
dois isótopos primários, o
238
U e o
235
U, os quais ocorrem atual-
mente na proporção de 99,3% de
238
U para 0,7% de
235
U. Embora o
235
U seja o isótopo físsil que forma a base de produção de energia
nuclear, e, por isso, extremamente importante do ponto de vista
tecnológico, verifica-se que a sua contribuição como fonte natural
de radioatividade é pequena, pois a atividade específica do
238
U é
cerca de 20 vezes maior que a do
235
U. O
238
U e o
235
Uo geradores
de séries de decaimento radioativo, possuindo o
238
U um número
maior de produtos de decaimento, muitos dos quais de longa meia-
vida, conforme pode-se notar na Figura 1. O tório possui apenas
um isótopo primordial, o
232
Th, contudo ele é aproximadamente
quatro vezes mais abundante que o urânio nas rochas crustais; esse
nuclídeo também gera uma série de decaimento radioativo, a qual é
relativamente simples quando comparada com a do
238
U, conforme
também se pode notar na Figura 1. O nível médio de potássio nas
rochas crustais corresponde a cerca de 2,5%, porém, dos três isóto-
pos de ocorrência natural, isto é,
39
K,
40
K e
41
K, apenas o
40
K é radioa-
tivo. As respectivas abundâncias isotópicaso 93,08, 0,012 e
6,9%, decaindo o
40
K por emissão para
40
Ca e por captura eletrô-
nica para
40
Ar.
A maioria dos nuclídeos emissores alfa pode ser agrupada em
quatro séries de decaimento geneticamente independentes. Como
a massa atômica modifica-se aproximadamente de 4 unidades no
decaimento a, permanecendo praticamente inalterada por ocasião
do decaimento , os vários números de massa encontrados nos
membros das séries diferem por múltiplos de 4. Assim, as fórmulas
gerais das sérieso expressas por 4n (série do tório), 4n+l (série
do neptúnio), 4n+2 (série do urânio) e 4n+3 (série do actínio),
onde n é um inteiro que varia de 52 a 58 na série 4n, de 52 a 59 na
série 4n+l, de 51 a 59 na série 4n+2 e de 51 a 58 na série 4n+3.
Na Figura 1 estão representados os membros das séries de decai-
mento 4n, 4n+2 e 4n+3, onde a série do urânio constitui a mais
longa conhecida, na qual é gerado o
206
Pb, o mais leve dos isótopos
radiogênicos de chumbo. A série do neptúnio é gerada pelo
237
Np,
que possui meia-vida de 2,2xl0
6
anos, cerca de três vezes menor
que a idade do universo, e, por isso, mesmo quantidades traços
desse nuclídeoo dificilmente detectadas. Foi com a descoberta
dos elementos transurânicos (Z>92) que se tornou possível a produ-
ção artificial de toda a série 4n+l (Lederer & Shirley, 1978). Além
de ter sido sintetizado em laboratório, quantidades extremamente
pequenas de
237
Np também foram identificadas em minérios de urâ-
nio, o qual teria sido originado a partir da reação
238
U (n, 2n)
237
U
seguida por decaimento (
237
U>
237
Np + + ), onde os nêu-
trons requeridos provêm dos raios cósmicos, fissão espontânea de
núcleos ou outros mecanismos (Shirokov & Yudin, 1982).
O advento da tecnologia nuclear trouxe benefícios sobretudo
para sociedades que a empregam para suprir suas necessidades
energéticas, porém, assim como outras atividades relacionadas
com a industrialização, introduziu novos problemas, como a expo-
sição dos organismos a fontes artificiais de radiação, além das natu-
rais, o que tem suscitado atenção cada vez mais crescente nas
iniciativas de proteção radiológica. Afinal aumentou a possibili-
dade de ocorrência dos danos relacionados com a suscetibilidade à
radiação como doença, morte ou mutação genética. Relacionada
com esse aspecto, cita-se a preocupação dos países que empregam a
tecnologia nuclear com a disposição segura dos rejeitos radioativos,
potencialmente perigosos, provenientes do ciclo do combustível
nuclear e dos sistemas de processamento. As meias-vidas relativa-
mente longas de alguns radionuclídeos presentes nesse material,
bem como a alta atividade e toxicidade química, fazem que a ques-
o assuma uma importância crucial tanto para a atual quanto para
as futuras gerações.
Os locais de disposição dos rejeitos radioativos devem ser esco-
lhidos de maneira a propiciar segurança durante períodos de cerca
de 10 mil anos, sendo desejável que ocorra a recuperação dos resí-
duos nos primeiros 50 anos após a sua estocagem (Klement, 1982).
Inicialmente se realizou a queima dos rejeitos, o queo se mos-
trou viável poro ocorrer a destruição dos radionuclídeos e por
gerar uma poeira radioativa capaz de contaminar grandes áreas.
Efetuou-se também a disposição no mar, porém a prática encon-
trou muita oposição pela possibilidade de ruptura do sistema de
armazenagem do resíduo e subseqüente lixiviação pela água do
mar; com isso, a atividade biológica é capaz de reconcentrar os
radionuclídeos, que, como qualquer material disposto na biosfera,
provavelmente podem retornar ao homem. Emborao se conheça
precisamente até que profundidade a biosfera pode atuar, uma vez
que variações devem ocorrer de acordo com as formações e estrutu-
ras geológicas presentes, a tendência atual consiste em enterrar os
rejeitos a profundidades maiores que 2.000 m, até ondem sido
encontradas atividades de bactérias (Alexandra, 1961). Nesse con-
texto, passa a assumir importância no enfoque da questão o pro-
cesso de migração da água subterrânea, pois o mecanismo pelo qual
os radionuclídeos num repositório com fendas poderiam retornar à
superfície da Terra constitui justamente o sistema de circulação das
águas subterrâneas.
Dessa forma, verifica-se que, além dos aspectos hidrológicos da
possível área de disposição de rejeitos radioativos, é necessário
conhecer como as litologias características do local podem absorver/
adsorver os radionuclídeos transportados, estabelecer a sua compo-
sição mineralógica e química, uma vez que o próprio ambiente geo-
lógico pode atuar como uma barreira química. Ainda, como a
maioria das rochas permite a passagem de água durante longos
períodos de tempo, a barreira química que elas possam apresentar
torna-se mais importante que qualquer barreira física que venham
a oferecer numa escala de tempo de curta duração. Assim, um novo
enfoque passou a ser exigido da hidrogeologia, a qual, em vez de
dirigir o interesse sobretudo para os aqüíferos, isto é, rochas com
alta porosidade e permeabilidade que as tornam potencialmente
adequadas como armazenadoras de água, foi impelida a realizar
pesquisas sistemáticas com os aqüicludes, ou seja, as rochas com
permeabilidade muito baixa, capazes de confinar os aqüíferos; por-
tanto, como a barreira física circundando qualquer repositório
necessita possuir uma alta integridade, os aqüíferos precisam ser
evitados, devendo as áreas de disposição se localizar nos aqüiclu-
des. Nesse sentido, as mais variadas alternativas litológicasm
sido sugeridas ou testadas, como granitos, folhelhos, depósitos e
domos salinos, espessos pacotes argilosos, seqüências vulcânicas
(basaltos e rochas piroclásticas como tufos), gnaisses e xistos. Porém,
o consenso é que possivelmente nenhuma delas constitua uma bar-
reira física perfeita para isolar o repositório do seu ambiente circun-
dante, considerando-se, em vez disso, que um tipo é mais apropriado
do que outro, dependendo do contexto em que está inserido (histó-
ria tectônica da área etc.) (Durrance, 1986).
Visando determinar parâmetros básicos relacionados com as lito-
logias selecionadas, como barreiras física e química para a migração
de radionuclídeos, inúmeras investigaçõesm sido realizadas sob
condições controladas no laboratório, envolvendo estudos experi-
mentais de absorção/adsorção de várias espécies por rochas de
diferente mineralogia. Como uma limitação dos estudos no labora-
tório constitui a escala de tempo envolvida, diante da incerteza de
que os resultados obtidos nas medidas de curto intervalo de tempo
possam ser extrapolados para os períodos de 10
4
a 10
5
anos, pesqui-
sas também foram direcionadas na avaliação de sistemas naturais
constituindo análogos da situação ao redor de um repositório even-
tualmente fraturado. Um análogo bastante conhecido é o reator
natural de fissão localizado na mina Oklo, na África, que atuou de
maneira a enriquecer o
235
U até 3,2%, valor similar ao encontrado
no urânio utilizado nos reatores artificiais; cerca de 850 toneladas
de urânio estiveram envolvidas em reações que resultaram na for-
mação de 10 toneladas de produtos de fissão idênticos àqueles que
caracterizam os reatores artificiais (ibidem). Outro caso bastante
famoso de investigação sistemática sobre análogos naturais para a
mobilização de radionuclídeos é o do Projeto de Poços de Caldas,
realizado na mina de urânio Osamu Utsumi e no depósito de tório
e terras raras do Morro do Ferro, os dois locais situados no planalto
de Poços de Caldas, Brasil, o qual envolveu 27 laboratórios e insti-
tutos de pesquisa de quatro continentes e cujos resultados princi-
pais encontram-se sumarizados em Chapman et al. (1991).
O presente trabalho segue a tendência atual de levantamento de
parâmetros básicos para a compreensão de processos relacionados
com a mobilização de radionuclídeos no ambiente, enfocando-se
especificamente o comportamento geoquímico do urânio (
238
U) e
de alguns de seus descendentes, sob condições controladas no labo-
ratório e em diferentes sistemas naturais caracterizados por distin-
tas condições climáticas e hidrogeológicas. Embora o estudoo
tenha sido conduzido em área de disposição de rejeitos radioativos
ou com amostras diretamente relacionadas com essa problemática,
os seus resultados servem de subsídio para um melhor conheci-
mento dos mecanismos de transporte de urânio mesmo nessas situa-
ções, pois, esse elemento também é um importante constituinte do
resíduo de transurânicos (segundo Brookins (1984), a atividade
típica de
238
U no resíduo é de 2,8x10
5
Bq/1). O trabalho também se
reveste de importância do ponto de vista de qualidade das águas,
uma vez que a radioatividade é um parâmetro queo pode ser
descartado quando se busca uma apropriada gestão dos recursos
hídricos. Os descendentes da série de decaimento do urânio que
serão investigados no decorrer deste estudoo o
234
U e o
222
Rn, os
quais, apesar de possuírem meias-vidas muito diferentes (Figura
1), constituem ferramentas extremamente importantes em hidro-
logia isotópica.
1
A PRESENÇA DE
238
U,
234
U
E
222
RN NA NATUREZA
A literatura especializada em radionuclídeos naturais é vasta,
tanto a nacional como a publicada no exterior. Neste capítulo cons-
tam alguns aspectos relacionados com a presença de
238
U,
234
U e
222
Rn na natureza, considerados importantes para entender o com-
portamento verificado nas diferentes situações avaliadas na Ingla-
terra e no Brasil.
Distribuição de urânio em
minerais, rochas, solos e águas
O urânio é constituinte essencial em quase cem minerais, ocor-
rendo principalmente em uraninita, UO
2
, e sua variedadeo crista-
lina pechblenda, cofinita [U(SiO
4
)
1
_
x
(OH)
4X
], uranotorita [(Th,U)
SiO
4
] e uranotorianita [(Th,U)O
4
].
O urânio possui vários estados de valência, 2+, 3+, 4+, 5+ e
64+, sendo mais freqüentes na natureza as formas 4+ e 6+. Em
minerais ígneos primários, está presente no estado 4+, constituindo
o íon uranoso (U
4+
) com potencial iônico 4 e raio iônico 1,05 A,
próximo ao do cálcio e das terras raras trivalentes (Goldschmidt,
1954). A relação oxigênio/urânio pode se alterar no dióxido (UO
2
),
modificando a composição para U
3
O
8
(Krauskopf & Bird, 1995).
O U (IV) forma soluções sólidas com elementos tetravalentes como
Ce, Zr e Th, por exemplo, nos minerais acessórios cerianita, zircão
e uranotorianita, os quaiso altamente resistentes ao intempe-
rismo e, por isso,o se encontram alterados nos sedimentos e
depósitos aluviais. Contudo, alguns silicatos e fosfatos contendo
terras raras ou Zr juntamente com U e Th, como torita, monazita e
zircão, perdem sua cristalinidade em decorrência da radiação interna,
tornando-se metamictizados; com isso, o mineral vítreo formado
passa a ser quimicamente reativo e se altera ou hidrata.
Nos minerais mais solúveis de urânio como uraninita ou pech-
blenda e cofinita, sob condições de intemperismo, o urânio se
oxida para o estado de valência 6+, constituindo o íon uranila
(UO
2
2+
), com raio iônico de 0,80 A e potencial iônico 7 (Rõsler &
Lange, 1972). A transição de U
4+
para U
6+
ocorre de acordo com a
reação:
U
4+
+ 2 H
2
O <> UO
2
2+
+ 4H
+
+ 2e
-
cujo potencial de óxido-redução E° corresponde a 0,273 volts
(Fuger & Oetting, 1976). O íon uranila ocorre em minerais secun-
dários como autunita [Ca(UO
2
)
2
(PO
4
)
2
.12H
2
O] e carnotita
[K
2
(UO
2
)
2
(VO
4
)
2
.nH
2
O], formados principalmente nos climas
áridos onde a evapotranspiração concentra o urânio e precipita
ligantes como vanadatos e fosfatos, entre outros.
O urânio nas rochas ígneas ocorre principalmente em minerais
acessórios, embora sua presença seja verificada também nos con-
tornos dos grãos e defeitos nos retículos cristalinos. Nos sedi-
mentos arenosos, os níveis de Uo geralmente menores que 1
graças à facilidade com que é lixiviado dos interstícios ou
da pechblenda e cofinita em ambiente oxidante. Porém, quando
tais sedimentoso derivados de rochas ígneas contendo resistatos
enriquecidos em U e Th, concentrações anormais desses elementos
podem ser encontradas. Nos casos extremos em que alguma forma
de segregação ocorre, altos valores de U e Th podem ser gerados,
constituindo acumulação de importância econômica; segundo Craw-
ley (1983), as jazidas de urânioo caracterizadas por teores de
U
3
O
8
que excedem em cerca de 50 vezes a concentração média das
rochas crustais, ou seja, 100
O urânio lixiviado de qualquer rocha sob condições oxidantes
sofre precipitação num ambiente redutor, conforme se verifica, por
exemplo, em arenitos ricos em matéria orgânica ou em sulfetos de
Fe; os teores de U nesses depósitos geralmente variam entre 0,05%
e 0,2% (Bowie & Plant, 1983). Em sedimentos de granulação mais
fina, como folhelhos formados em bacias anóxicas, o U concentra-
se geralmente na matéria orgânica, atingindo níveis de 30 a 60;
Os folhelhos do Cambriano Superior no sul da Suécia, depositados
sob condições altamente redutoras num mar epicontinental pouco
profundo, também apresentam altos teores de U, isto é, 350
(ibidem).
Folhelhos contendo fosfatos derivaram seu urânio da água do
mar, em razão da tendência que leva o U a formar complexos do
tipo (UO
2
HPO
4
)
2
2-
em água a pH relativamente alto; a maioria
dos depósitos de fosforitos contém de 10 a 60 de U, embora
alguns apresentem teores de 2.500 ou mais. Lignitas forma-
das sob condições redutoraso também enriquecidas em U,
porém, os teoreso mais variáveis que os encontrados nos folhe-
lhos e fosforitos, situando-se entre alguns e 1%; valores dessa
ordem ocorrem geralmente apenas em veios de urânio, os quais
comumente variam entre 0,07% e 2%, e em pegmatitos, cuja abun-
dância é pequena.
Os solos autóctones usualmente refletem o conteúdo de urânio
da rocha de origem, contudo, também podem ser empobrecidos ou
enriquecidos em U, dependendo das condições de óxido-redução e
pH das águas circulantes. Os teores típicos de U nos solos variam
de 1 a 5 Em algumas circunstâncias, nas quais a matéria
orgânica húmica se acumula e a migração de água através do meio
se mantém, o U pode ser enriquecido por um fator de 10 mil a par-
tir da água contendo valoreso elevados desse elemento (ibidem).
Nas águas superficiais e subterrâneas oxidantes, ocorre o trans-
porte de urânio como íons uranila, sob a forma de vários complexos
solúveis com os ânions comumente dissolvidos. Em condições áci-
das, os principais complexos de uranilao formados com o fosfato
e em condições alcalinaso formados com o carbonato (Lang-
muir, 1978). Os teores de urânio nas águas subterrâneas variam
bastante, dependendo da litologia e/ou proximidade a jazidas
desse elemento, considerando-se muitas vezes como anômalos os
valores acima de 4 (Bowie & Plant, 1983). Em condições con-
tinentais áridas, teores acima de várias centenas de de Um
sido registrados, chegando a atingir 2.000 mg/l ou mais nas proxi-
midades de jazidas de urânio (ibidem).
Desequilíbrios na razão isotópica
234
U/
238
U
Juntamente com o
238
U e o
235
U, o
234
U constitui o outro isótopo
natural de urânio, cujo comportamento foi sistematicamente inves-
tigado no decorrer deste trabalho. Esse nuclídeo tem abundância
média na crosta de 2 a 3x10
-8
%, é radiogênico, sendo gerado pelo
238
U após o decaimento de dois nuclídeos de meia-vida insignifi-
cante na escala de tempo geológico, isto é, o
234
Th e o
234
Pa, con-
forme se pode notar na Figura 1. Numa mistura contendo esses
isótopos, as proporções relativas de
238
U,
235
U e
234
U geralmente
correspondem a 99,28%, 0,72% e 0,0054%, respectivamente.
Da mesma forma que o
238
U, o
234
U é um constituinte no resí-
duo de transurânicos, correspondendo tipicamente sua atividade a
300 Bq/1 (Brookins, 1984). Embora os elementos leves hidrogênio,
carbono, nitrogênio, oxigênio e enxofre tenham se prestado à
grande maioria dos estudos isotópicos centralizados na temática
ambiental, constata-se crescente interesse na utilização do
234
U
como uma ferramenta adicional para esse propósito, segundo suge-
rem Fritz & Fontes (1980). Isso tem sido efetuado a partir da razão
isotópica
234
U/
238
U, que corresponde à unidade quando a taxa de
decaimento do progenitor se iguala à taxa de decaimento do des-
cendente, situação equivalente à do equilíbrio radioativo secular.
A formulação matemática do estado de equilíbrio radioativo
numa série de decaimento baseia-se na solução de um sistema de
equações diferenciais representando o acúmulo dos produtos de
decaimento na série, onde se determina o número de nuclídeos pro-
duzidos a partir do decaimento de um progenitor e se considera a
premissa de que a meia-vida do descendente é muito menor que a
do progenitor. Nessa situação, o tempo t para que o descendente
atinja o equilíbrio com o progenitor pode ser aproximadamente
estimado a partir da equação onde a constante de
decaimento do descendente. A principal implicação desse estado
reside no fato de que o número de átomos que decaem por unidade
de tempo torna-se igual ao número de átomos formados no mesmo
intervalo de tempo, sendo, portanto, unitária a razão entre a ativi-
dade do descendente e a do progenitor. Quando se considera o
234
U
e o
238
U, verifica-se queo válidas as premissas apresentadas para
a determinação do tempo de estabelecimento do equilíbrio, encon-
trando-se, então, um valor de cerca de 1 milhão de anos para a ati-
vidade do
234
U se igualar à do
238
U.
Embora sistemas fechados com idade mínima de 1 milhão de
anos apresentem razões isotópicas
234
U/
238
U unitárias, constata-se
que a maioria dos sistemas naturais envolvendo minerais, solos,
rochas e águas apresenta valores diferentes de 1, refletindo os efei-
tos ao longo do tempo dos processos geoquímicos e hidrogeológi-
cos. Os primeiros resultados de desequilíbrio entre
234
U e
238
U
foram publicados por Cherdyntsev et al. (1955) que o caracteriza-
ram em minerais neoformados. Thurber (1962) confirmou a exis-
tência de desequilíbrio nas águas oceânicas e em carbonates
marinhos e propôs a utilização da variação da razão
234
U/
238
U em
função do tempo como método de geocronologia; uma vez que a
razão
234
U/
238
U nas águas dos oceanos Pacífico e Atlântico perma-
necia constante (
234
U/
238
U = 1,15±0,02), o autor sugeriu a adoção
desse valor como inicial para a razão
234
U/
238
U nos carbonatos
marinhos.
Desde então, desenvolveram-se inúmeras pesquisas descre-
vendo aplicações geocronológicas para os dados da razão
234
U/
238
U.
tendo alguns autores também utilizado a razão
230
Th/
234
U em seus
trabalhos. Os materiais que se prestaram às análises consistiram de
sedimentos pelágicos, carbonatos de diferentes origens, como corais,
carapaças de moluscos, travertinos e estalagmites, provenientes das
mais diversas localidades. Uma interessante revisão dos artigos
publicados e premissas inerentes à aplicação dos métodos é forne-
cida por Ku (1976) e Ivanovich & Harmon (1982), que se referiram
também a trabalhos que analisaram sedimentos, rochas ígneas,
sedimentares e metamórficas, em estado intemperizado eo alte-
rado, e nódulos de manganês, com o propósito de caracterização de
processos de sedimentação continental, taxas de acreção e intempe-
rismo e mecanismos de mobilização, retenção e redistribuição de
urânio e actinídeos.
Na maioria das análises procedidas em águas provenientes dos
diferentes oceanos e de várias profundidades, caracterizou-se um
excesso de 15% da atividade de
234
U em relação à de
238
U, conforme
determinado inicialmente por Thurber (1962), porém valores sen-
sivelmente superiores foram encontrados em águas oceânicas pró-
ximas ao Japão, a noroeste do Oceano Pacífico, no Oceano
Antártico e em água intersticial do Oceano Pacífico, respectiva-
mente, por Umemoto (1965), Miyake et al. (1966), Veeh (1968) e
Somayajulu & Church (1973). Nos rios, as razões
234
U/
238
U mos-
traram-se mais variáveis que nos oceanos, tendo Moore (1967) e
Moreira-Nordemann (1980, 1984) determinado valores entre 1,0 e
1,62 para amostras dos rios Amazonas,o Francisco, Preto
(Bahia), Salgado e Mississippi. Osmond & Cowart (1976) repre-
sentaram os resultados obtidos por inúmeros pesquisadores na
análise de amostras de águas superficiais e subterrâneas em diagra-
mas de concentração de urânio versus razão isotópica
234
U/
238
U,
definindo uma variabilidade de 0,001 a 100 para o teor de U
dissolvido, de 1 a 2 para a razão de atividade
234
U/
238
U nas águas
superficiais e de 1 a 12 para a razão isotópica
234
U/
238
U nas águas sub-
terrâneas. Essa variabilidade permitiu que os parâmetros pudessem
ser utilizados em investigações hidrogeológicas e hidrogeoquími-
cas, possibilitando que se prestassem à avaliação do padrão geral de
circulação de águas subterrâneas, da área de recarga de águas sub-
terrâneas, do tempo de residência da água subterrânea no aqüífero,
de processos de mistura de águas subterrâneas e de prováveis
ocorrências de jazidas de urânio (Kaufman et al, 1969; Kronfeld
& Adams, 1974; Kronfeld et al., 1979; Osmond & Cowart, 1981;
Cowart & Osmond, 1977, 1980; Osmond et al., 1983; Andrews
et al., 1982; Andrews & Kay, 1982; Rosenthal & Kronfeld, 1982).
Mecanismos do fracionamento
isotópico entre
234
U e
238
U
Situações de desequilíbrio entre o
234
U e o
238
U foram constata-
das neste estudo, requerendo, em alguns casos, o auxílio dos meca-
nismos interpretativos apresentados por vários autores. Cherdyntsev
et al. (1961), Stariket al. (1958), Chalov(1959), Rosholtetal. (1965),
Dooley et al. (1966), entre outros pesquisadores, discutiram o
mecanismo do desequilíbrio de
234
U em relação a
238
U, com base na
natureza físico-química do recuo nos retículos cristalinos dos
minerais. Considerando uma rocha que contém os isótopos de urâ-
nio sob a forma tetravalente, a energia de recuo no momento da
emissão a do
238
U é de 70 mil e V, muito maior que a necessária para
ionizar o urânio (4 e V) ou para romper sua ligação química (10 e V).
O efeito do recuo decorrente da emissão e as afinidades químicas
diferentes do urânio e de seus descendentes
234
Th e
234
Pa facilita-
riam o rompimento das ligações químicas do núcleo recuado, que
permaneceria momentaneamente em estado químico descombinado,
como uma partícula carregada no retículo cristalino do mineral.
Então, o núcleo liberaria elétrons, e, exceto em ambientes altamente
redutores, a recombinação química do
234
U favoreceria o estado
oxidado na forma
234
UO
2
2+
, antes que os átomos de
234
U retornassem
ao estado original U
4+
. Por ocasião da dupla emissão beta, seria
pouco provável a ocorrência de recuo decorrente da pequena ener-
gia, massa e carga das partículas . Tendo em vista esses fatores e
mais a reação de óxido-redução envolvendo a mudança de U(IV)
para U(VI), ao percolar a fase sólida, a água transportaria preferen-
cialmente o
234
U em estado oxidado em vez do
238
U.
Contudo, experimentos de lixiviação de rochas ígneaso alte-
radas conduzidos no laboratório por Chalov & Merkulova (1969)
o forneceram valores nas soluções maiores que 1,3 para a razão
isotópica
234
U/
238
U, permitindo que Kigoshi (1971) sugerisse a
existência de outros mecanismos além da dissolução seletiva de
234
U para interpretar um estado de desequilíbrio entre
234
U e
238
U
com valores observados como 3 ou 4. Esse autor observou o acrés-
cimo de
234
Th na fase líquida de um sistema consistindo de 50 g de
zircão finamente pulverizado (U = 360 ppm e Th =131 ppm) e
solução de ácido nítrico diluído ou carbonato de sódio. A quanti-
dade de urânio lixiviado dependeu da natureza da solução e do
tempo de acumulação, ao passo que as razões
234
U/
238
U e
230
Th/
234
U permaneceram praticamente constantes (1,2 e 0,8, respectiva-
mente). O excesso do
234
Th dissolvido em solução dependeu da
densidade do silicato, do seu teor de urânio e do tempo de perma-
nência da fase líquida em contato com a superfície do silicato, inde-
pendendo da natureza da solução. Esse excessoo foi atribuído
aos efeitos físico-químicos e sim à expulsão de núcleos de
234
Th
mediante a interface sólido-líquido, devida ao recuo a; os decai-
mentos posteriores do
234
Th enriqueceriam em
234
U as soluções em
contato com os minerais de urânio, independentemente de qual-
quer processo de lixiviação.
Evidência adicional à proposição de Kigoshi (1971) foi forne-
cida por Fleischer & Raabe (1978) ao empregarem detector de
quartzo de alta pureza, mantido no vácuo, e microesferas de PuO
2
de diferentes atividades distanciadas de 0,45 mm. O sistema detec-
tava núcleos de
235
U ejetados a partir do decaimento a do
239
Pu. Os
resultados mostraram que os núcleos que recuamo ejetados para
o vácuo, e, nos sistemas naturais, se os cristais nas rochas estão em
contato com líquido, o núcleo recuado se dirige para esse meio. A
analogia com os sistemas naturais é possível, pois o
239
Pu possui
parâmetros físicos semelhantes aos do
238
U, e seu filho, o
235
U, tem
o mesmo comportamento químico do
238
U e do
234
U.
Fleischer (1980) apresentou evidências para outro modelo
interpretativo do fracionamento entre
234
U e
238
U. Empregando
película de PuO
2
, implantou núcleos de
235
U em alguns minerais,
isto é, quartzo, ortoclásio, muscovita e obsidiana. As amostras com
os núcleos implantados foram separadamente expostas a diferentes
soluções que podiam liberá-los, e tanto o mineral como o resíduo
seco da solução foram expostos a nêutrons térmicos para fissão dos
núcleos de
235
U e determinação dos traços induzidos. Os resultados
indicaram que ocorreu a liberação de altas taxas de átomos de
235
U
recuados, independendo da natureza da solução. Em condições
naturais, núcleos de
234
Th ejetados penetrariam nos grãos adjacen-
tes, produzindo traços de recuo a e decaindo para
234
U. A passagem
de soluções naturais intergranulares causaria a remoção química do
núcleo recuado de onde se posicionou. O modelo seria válido nas
situações em que estivesse seco o espaço intergranular durante o
decaimento do
238
U. Fleischer (1982) completou os estudos desse
modelo, analisando cinco diferentes sólidos: um cristal isolante,
um cristal semicondutor, um metal, um vidro e um plástico. Nas
soluções que lixiviaram esses materiais, também notou a presença
de átomos de
235
U implantados nos sólidos por recuo a.
O
222
Rn nas águas
Conforme pode-se notar na Figura 1, nas três séries de decai-
mento radioativo aparecem isótopos de radônio, isto é, o
222
Rn na
série do
238
U, o
219
Rn na série
235
U e o
220
Rn na série do
232
Th. Ape-
sar de serem produzidos continuamente nas rochas e minerais pelo
decaimento de
226
Ra,
224
Ra e
223
Ra, uma vez queo gases nobres
inertes, esses nuclídeoso formam compostos químicos, podendo
ser detectados pelas propriedades radioativas que possuem, tanto
por seu decaimento com emissão de partículas de energia bem
definida quanto pelos seus produtos de decaimento de curta meia-
vida. Uma fração dos produzido escapa das rochas e minerais,
sendo interceptada pela fase fluida circundante, por exemplo, ar ou
água subterrânea. Por serem gerados por emissão alfa, os nuclídeos
de radônio estão sujeitos ao processo de recuo no instante de seu
"nascimento", de maneira que a parcela que escapa das rochas e
minerais por esse mecanismo relativamente à que é produzida
depende de inúmeros fatores, como área superficial total dos sóli-
dos, concentração e distribuição dos progenitores na fase sólida etc.
(Flügge & Zimens, 1939).
Entre os isótopos de radônio conhecidos, o
222
Rn é o que apre-
senta meia-vida mais longa (3,8 dias), que lhe permite migrar maio-
res distâncias a partir de sua origem, sendo, por isso, o mais
estudado em relação aos demais quando se considera a radioativi-
dade nas águas. Esse constitui, também, um dos principais moti-
vos pelos quais seu comportamento foi avaliado no decorrer deste
trabalho.
A migração de
222
Rn ocorre principalmente por difusão através
dos poros das rochas e dos solos, falhas e fissuras, bem como por
dissolução nas águas subterrâneas e superficiais, verificando-se sua
incorporação na fase líquida quando ela percola a fase sólida porta-
dora de
226
Ra, com ou sem a presença de
238
U, e também quando a
fase líquida localiza-se numa distância correspondente à do alcance
de difusão dos emanado. Em algumas fontes termais associadas
com falhas profundas, o radônio dissolvido é liberado para a atmos-
fera, concomitantemente com a depressurização. È o que ocorre,
por exemplo, no balneário Badgastein na Áustria, onde as fontes
realizam a descarga de cerca de 200 mCi de
222
Rn por dia (Bowie &
Plant, 1983). Águas com elevada salinidade, que ocorrem tipica-
mente em bacias produtoras de óleo e gás,o portadoras de quan-
tidades consideráveis de rádio e radônio, em virtude da facilidade
de complexação do rádio com o ânion cloreto. Os teores de radônio
dissolvido estão geralmente relacionados com os de rádio dissol-
vido, correspondendo, usualmente, a alguns pCi/1. Porém, as águas
subterrâneas provenientes de poços tubulares e fontes freqüente-
mente contêm alguns milhares de pCi/1 de
222
Rn dissolvido, cor-
respondendo o maior valor registrado por Bowie & Plant (1983) a
152.000 pCi/1.
O
222
Rn atinge o equilíbrio radioativo com o seu progenitor, o
226
Ra, após cerca de 25 dias. Emborao constitua um componente
importante dos resíduos dos transurânicos, do ponto de vista radio-
lógico, muita atenção tem sido dirigida também à presença de
222
Rn
nas águas, especialmente depois que Allen-Price (1960) sugeriu
que a distribuição de câncer na população do oeste de Devon, na
Inglaterra, estava relacionada com a radioatividade da água de con-
sumo na área, atribuída, sobretudo, à atividade de
222
Rn. Uma preo-
cupação dosimétrica adicional envolvendo esses constitui aquela
relacionada com o fato de que, além de ser ingerido, ele é inalado
através da respiração de ar enriquecido em radônio, de maneira que
pode ocorrer nos pulmões um acúmulo dos seus descendentes
emissores alfa, aumentando, portanto, a intensidade de dose
interna de radiação. A proposição de que o radônio poderia ser res-
ponsável por câncer pulmonar surgiu na década de 1930 para
explicar 75% dos casos de mortes ocorridos de 1877 a 1899 entre os
operários que trabalharam no interior de minas sem ventilação em
Schneeberg, Alemanha, e de 50% daqueles verificados de 1929 a
1938 entre os mineiros de Jachymov, atual República Tcheca. A
problemática se acentuou mais recentemente com a descoberta de
altos níveis de
222
Rn no interior de residências, que estariam relacio-
nados com teores elevados determinados em águas subterrâneas
utilizadas para consumo (Prichard, 1987; Nazaroff et al., 1988; Hess
et al., 1990; Lawrence et al., 1992).
Além de ser preocupante para a saúde humana, o
222
Rn consti-
tui um traçador natural de investigações hidrológicas, possibili-
tando, por exemplo, que se efetue o balanço dinâmico de grandes
volumes de águas subterrâneas e a determinação do seu tempo de
residência nos aqüíferos (Hoehn et al., 1991), aspectos que servi-
ram de motivação para que se efetuasse também a abordagem
desse nuclídeo nos processos de interação água-rocha/solo investi-
gados no decorrer deste estudo.
2
TRANSFERÊNCIA DE
238
U,
234
U E
222
RN
DE ROCHAS E SOLOS SOB
CONDIÇÕES CONTROLADAS
DE LABORATÓRIO
Neste capítulo estão descritas as principais características das
áreas de Mendip Hills e do granito Cammenellis, na Inglaterra,
bem como as etapas de amostragem e análise laboratorial realizadas
para promover os experimentos de lixiviação de urânio e transfe-
rência de radônio de rochas e solos daquelas áreas para diferentes
meios líquidos, com o propósito de identificar possíveis mecanis-
mos relacionados com a mobilização desses radioelementos em
situações nas quais inúmeros parâmetros tambémo conhecidos.
Aspectos geológicos e hidrogeológicos
da área de Mendip Hills, Inglaterra
O planalto de Mendip Hills possui uma altitude média de 250 m
acima do nível do mar, estendendo-se desde Brean Down na costa
oeste da Inglaterra até Frome no leste (Figura 2), onde estão expos-
tas rochas representando desde o Paleozóico Superior até o Quater-
nário, abrangendo duas fases continentais de deposição e duas
marinhas, com uma época glacial mais recente (Findlay, 1965). As
exposições de lava do Siluriano (piroxênio-andesito de cor púrpura e
granulação fina)o localizadas e acompanhadas de tufos e argilitos.
As rochas expostas do Devonianoo arenitos de fácies Upper Old
Red, que ocorrem nos núcleos desnudados de quatro dobras peri-
clinais no planalto de Mendip. Os arenitoso de cor cinza ou ver-
melho-escuro/púrpura graças à inclusão de hematita; seu caráter
geral é continental, ocorrendo um quartzo-conglomerado na base
sobreposto por uma seqüência de arenitos quartzíticos.
Os calcários do Carbonífera formam uma série dividida em
quatro grupos principais que refletem mudanças na fauna e fácies
sedimentar, consistindo a unidade inferior de leitos argilosos depo-
sitados sobre as rochas do Devoniano e indicativos de transição
para condições marinhas. Os principais tipos litológicoso repre-
sentados por calcários e dolomitos maciços, de origem marinha, os
quais ocupam cerca de um quarto da área total do distrito de Men-
dip, isto é, a área de afloramento é de 120 km
2
e a espessura média
da série de 1 km (Green & Welch, 1965). Boas exposições da série
ocorrem em gargantas profundas (Figura 3), e, embora a textura e o
conteúdo/tipo de fósseis dos calcários sejam variáveis, os resíduos
o cálcicos raramente excedem 5% em massa, consistindo de areia
fina e silte compostos predominantemente de quartzo, uma pequena
porcentagem de feldspatos e minerais pesados (densidade maior
que 2,9 g/cm
3
); argila dominada por mica, com menores quantida-
des de caolinita e vermiculita. Nos séculos passados, os calcários de
Mendip prestaram-se ao desenvolvimento de atividades de mine-
ração de chumbo; contudo, nas últimas décadas,m sido extensi-
vamente utilizados para outros propósitos - por exemplo,
construção civil - pois as pedreiras chegam a extrair anualmente
cerca de 1 milhão de toneladas (Findlay, 1965).
As rochas do Triássico ocupam aproximadamente dois terços
do distrito de Mendip Hills, sendo representadas por fácies consis-
tindo de: fragmentos de calcário cimentados numa matriz arenosa
de argilito calcífero ou numa matriz calcífera de granulação fina;
argila siltosa uniformemente avermelhada; arenitos calcíferos
encontrados como um leito basal de cor vermelho-brilhante; folhe-
lho de cor cinza ou preta; argilito calcífero de cor amarelo-claro; cal-
cários pouco espessos.
Figura 2 - Localização e mapa geológico simplificado da área cárstica de Mendip Hills,
na Inglaterra (adaptado de Green & Welch, 1965).
Figura 3 - Esboço morfológico da área de Mendip Hills, na Inglaterra (adaptado de
Findlay, 1965).
O Jurássico na área é representado por estratos conglomeráti-
cos, em que a unidade inferior consiste principalmente de calcários
de coloração clara com camadas de argila como um constituinte
menor, e as unidades intermediária e superioro agrupadas juntas
de acordo com sua natureza predominantemente siltosa e arenosa,
acima das quais ocorrem calcários oolíticos. Alguns depósitos recen-
teso consolidados e de pouca espessura também se acumularam
na área desde o Pleistoceno, consistindo de areias de origem mari-
nha depositadas quando o nível do mar estava acima do atual e de
um grupo misto de seixos e materiais argilosos formados principal-
mente em condições periglaciais.
Os solos do planalto de Mendipo em sua maioria brunos
(Figura 4), bem drenados, e geralmente dois tipos predominantes
podem ser distinguidos: nos cumes, aqueles derivados de arenito
Old Red e, nas vertentes e nos vales, aqueles derivados de calcário,
comumente pouco profundos (Findlay, 1965). Os solos derivados
do arenitoo geralmente ácidos, como é o caso da Série Maesbury,
cujos perfis típicos compreendem os horizontes A e B (B/C e C
algumas vezes), os quais atingem profundidades de cerca de 70 cm.
Análises da distribuição do tamanho das partículas mostraram a
predominância de silte em todos os horizontes da Série Maesbury
(cerca de 40%), seguido de argila (cerca de 20%); na fração argila,
mica é o mineral dominante em todos os horizontes (mais que 50%),
seguida de vermiculita (26% a 50%), a qual se sugeriu resultar da alte-
ração de mica (ibidem). Os solos derivados de calcário, como a Série
Lulsgate, também apresentam os horizontes A e B em seus perfis
típicos, atingindo em geralo mais que 40 cm de profundidade, e
caracterizam-se por apresentarem valores elevados de saturação de
base nos dois horizontes (cerca de 80%). A Série Lulsgate é uma
das mais extensas do planalto de Mendip, cobrindo uma área apro-
ximada de 53 km
2
; silte também é a fração predominante nos hori-
zontes dessa série (cerca de 40%), porém, nesse caso, a proporção
de areia fina é relativamente similar à de argila (cerca de 20%). As
proporções de mica e de vermiculita na fração argila dos horizontes
A e B dessa sérieo exibem tendência consistente, talvez em razão
da composição da rocha matriz, pois abundâncias similares (de 26%
a 50%)o verificadas para mica e vermiculita no horizonte A, ao
passo que no horizonte B observa-se uma maior abundância de
vermiculita (de 26% a 50%), seguida de proporções semelhantes de
mica e caolinita (de 11% a 25%) (ibidem).
Quanto ao clima, a área de Mendip Hills apresenta inverno
mais quente e verão mais frio que a região central e sudeste da Ingla-
terra, e na costa oeste a temperatura média no inverno é de 5,5°C e
no verão, de 16,3°C. No inverno, tem-se disponível apenas cerca
de 1,9 hora por dia de luz solar, ao passo que no verão o valor
aumenta para 6,4 horas/dia. A precipitação anual é de 1.270 mm
nas partes mais altas do planalto de Mendip, diminuindo à medida
que se caminha em direção à costa oeste; as médias mensais de pre-
cipitação mostram que o período de fevereiro a junho é relativa-
mente mais seco, pois menos que um terço do total da precipitação
anual ocorre nesses cinco meses.
Os afloramentos de calcário do Carbonífera formam a área de
recarga para o mais importante aqüífero no distrito de Mendip
Hills, graças à combinação do relativamente alto índice pluviomé-
trico observado na região com a permeabilidade do calcário, que
permite que a água meteórica seja absorvida no terreno sem gran-
des perdas como água de escoamento superficial. Apesar de a poro-
sidade primária do calcário ser de apenas 0,18%- 0,92% (Drew, 1968;
Atkinson, 1977), ele possui boa porosidade secundária devida ao
intemperismo cárstico. Na maior parte do planalto de Mendip, o
nível d'água no calcário situa-se entre 100 m e 200 m abaixo da
superfície, conforme demonstrado pelas atividades envolvendo a
exploração de cavernas (Smith & Drew, 1975).
Os arenitos subjacentes do Devoniano afloram nos núcleos de
estruturas anticlinais, de maneira que a água de escoamento super-
ficial nesses afloramentos penetra nas juntas, fissuras e fendas de
folhelhos impermeáveis do Carbonífero, atravessando esses tipos
litológicos antes de infiltrar no calcário, onde se desenvolve uma
série de dolinas ao longo da linha de contato com os folhelhos. Por-
tanto, a recarga do aqüífero na área de Mendip é efetuada tanto pelas
precipitações nos afloramentos de calcário quanto pelos riachos
superficiais que drenam os afloramentos de arenito e folhelho, os
quais desaparecem em sumidouros quando atingem o calcário
(Green & Welch, 1965) (Figura 5).
Figura 5 - Modelo conceituai da circulação de águas subterrâneas na área cárstica de
Mendip Hills, na Inglaterra, segundo Andrews & Wood (1972). A - caverna arejada, B
- caverna submersa, CC - nível d'água, D - sumidouro, E - zona de percolação, Ee -
parte saturada da zona de percolação.
Dessa forma, a hidrologia do aquífero cárstico de Mendip Hills
mostra que a água meteórica percola (e é armazenada em) um sis-
tema complexo de fissuras, juntas e cavernas no calcário, ocorrendo
sua descarga através de fontes com grande vazão surgentes no con-
tato entre o calcário e o discordante (e confinante) argilito calcífero
do Triássico, conforme verificado em Rickford e em Langford, por
exemplo, na extremidade setentrional do periclínio. Essas águas e
as de outras nascentes, como em Cheddar (vazão de 660 l/s) ou
Chewton Mendip (vazão de 140 l/s),o utilizadas pelo sistema
público de abastecimento de água, uma vez que os poços perfurados
no calcário interceptam apenas em alguns casos fissuras armazena -
doras de volume substancial de água. Um sistema de cavernas digno
de registro verifica-se em Wookey Hole, onde as 25 câmaras iden-
tificadas propiciam um fluxo diário médio de 87 milhões de litros de
água, valor suficientemente alto para manter o fluxo do Rio Axe, ori-
ginado no interior de uma grande câmara (Green & Welch, 1965).
Aspectos geológicos e hidrogeológicos
do granito Carnmenellis, Cornuália, Inglaterra
O granito Carnmenellis na Cornuália, sudoeste da Inglaterra,
juntamente com outros quatro grandes stocks constituem um bató-
lito cujo afloramento ocorre desde Land's End até Dortmoor (Figura
6). Sua intrusão ocorreu nos sedimentos argilosos do Devoniano
durante a orogenia Herciniana (Carbonífero/Permiano), conforme
denotam as idades radiométricas de 290 milhões de anos registradas
por vários autores (Edmonds et al., 1969; Jackson et al., 1982). O gra-
nito Carnmenellis é predominantemente adamelítico, destacando-se
a presença de quartzo, plagioclásio (usualmente oligoclásio), orto-
clásio (geralmente pertítico), biotita e/ou muscovita (Exley & Stone,
1964); apresenta-se enriquecido em boro, flúor, lítio e cloro, graças
à freqüente ocorrência dos acessórios turmalina, apatita e zircão.
Localmente, o metassomatismo de boro e flúor resultou em turma-
linização e greisenização, e o granito produziu uma auréola térmica
de baixo grau com cordierita e andaluzita. Verifica-se acentuada
mineralização hidrotermal consistindo predominantemente de óxi-
dos e sulfetos de Sn, Cu, Pb e Zn; para a caolinização, tem sido pos-
tulada uma origem hidrotermal ou de menor temperatura (Edmunds
et al., 1984).
Os principais veios metalíferos dispõem-se ao longo das dire-
ções ENE-WSW e E-W no cinturão mineralizado ao norte de Carn-
menellis (Figura 6), os quais propiciaram o desenvolvimento das
atividades de mineração na Cornuália, sobretudo de estanho. Várias
minaso ainda ativas como South Crofty e Pendarves, situadas no
granito, e Wheal Jane e Mount Wellington, posicionadas em sua
auréola. A mina South Crofty situa-se na borda setentrional mine-
ralizada do granito Carnmenellis, possuindo um gradiente térmico
de 38°C/km, superior ao valor médio de 29,8°C/km avaliado para
todo o granito (ibidem). Tais gradientes propiciam estimativas de
129 e 120 mW/m
2
para o fluxo de calor na área, substancialmente
superior ao valor médio de 60 mW/m
2
para toda a Grã-Bretanha
(Wheildon et al., 1977). Tais aspectos favoreceram a escolha do
granito Carnmenellis para a realização do primeiro experimento
europeu de hot dry rock, patrocinado pela Comunidade Econômica
Européia e pelo Departamento de Energia da Grã-Bretanha, o qual
envolveu a extração do calor de rochas a grandes profundidades,
através da circulação de água por um sistema de fraturas criado
artificialmente entre dois furos de sondagem; foi com esse propó-
sito que se perfuraram dois poços de 2.000 m de profundidade na
Pedreira Rosemanowes, em Penryn, Cornuália (Andrews et al.,
1986) (Figura 6).
A ocorrência de águas subterrâneas termais (temperaturas de
até 52°C) é comum no granito Carnmenellis, presentes como fon-
tes profundas (entre 200 m e 700 m) nas minas de estanho e usual-
mente salinas conforme denotam os teores de sólidos totais
dissolvidos de até 19.310 mg/l nos níveis mais profundos da mina
South Crofty; correlações entre profundidade, salinidade e tempe-
ratura mostram, em geral, que as águas mais quentes nesse granito
o também as mais salinas (Edmunds et al., 1984). O fluxo de
água para as minas ocorre através de juntas ou fraturas no granito,
sendo essas águas derivadas das águas meteóricas quando intera-
gem com as biotitas e feldspatos do granito (Burgess et al., 1982)
(Figura 7); verifica-se, ainda, que elas constituem mistura de no
mínimo dois componentes, dos quais o mais significativo (cerca de
65%) é de origem recente e o termal chega a possuir tempos de resi-
dência de 5xl0
4
a 10
6
anos (Edmunds et al., 1984).
Figura 6 - Localização e mapa geológico simplificado do granito Carnmenellis na Cor-
nuália, Inglaterra (adaptado de Edmunds et al., 1984).
Figura 7 - Modelo conceituai da circulação de águas subterrâneas no granito Carnme-
nellis, na Inglaterra (segundo Edmunds et al., 1984).
Amostragem de rochas, solos
e águas subterrâneas
Para proceder aos estudos experimentais das interações água-
rocha/solo, visando obter informações no laboratório sobre a trans-
ferência para a fase líquida do
222
Rn e dos isótopos de urânio,
238
U e
234
U, realizaram-se coletas de amostras de calcário, dolomita, gra-
nito e solos nas áreas da Inglaterra anteriormente descritas. O
Quadro 1 exibe a descrição das rochas coletadas, em que se verifica
que a amostragem da maioria ocorreu em pedreiras, tendo consis-
tido principalmente de fragmentos provenientes de grandes blocos
recém-triturados. O Quadro 2 traz uma descrição dos solos coleta-
dos, cuja localização foi selecionada pela facilidade de acesso; utili-
zou-se uma escavadeira manual para a amostragem, a qual foi
facilmente realizada em razão da pequena profundidade com que
se atingiu a rocha matriz.
Quadro 1 - Descrição das amostras de rochas coletadas
em Mendip Hills e Cornuália, na Inglaterra
Quadro 2 - Descrição das amostras de solos coletadas
em Mendip Hills, na Inglaterra
A Figura 2 ilustra os locais de coleta das amostras de águas sub-
terrâneas no distrito de Mendip Hills, realizada para determinar o
teor de
222
Rn dissolvido, teor de urânio dissolvido, razão isotópica
234
U/
238
U e outros parâmetros físicos, químicos e físico-químicos,
com o propósito de averiguar até que ponto os dados obtidos em
situações reais podem ser interpretados no contexto dos experi-
mentos conduzidos em laboratório, sob condições controladas.
Durante o desenvolvimento deste trabalho,o se procedeu a
amostragem de águas subterrâneas na área do granito Carnmene-
llis, na Cornuália, pois estudos prévios envolvendo a determinação
dos parâmetros de interesse já haviam sido efetuados por Andrews
(1983) e Edmunds et al. (1984).
Distribuição do tamanho de partículas
A área superficial de contato durante as interações água-rocha/
solo promovidas no laboratório constitui um parâmetro impor-
tante no estudo da mobilização de urânio e radônio para a fase
líquida. Para os experimentos de lixiviação das amostras de rocha,
utilizaram-se fragmentos irregulares, de diferentes tamanhos e for-
mas, os quais foram submetidos a uma análise estatística para a sua
determinação. Essa análise constou da avaliação da distribuição de
massa dos fragmentos, a partir de uma fração do total de material
triturado disponível, e consistiu na pesagem individual de cerca de
1.000 partículas para as amostras IV e V de calcário. A Tabela 1
representa as classes de massa dos fragmentos, as quais estão dispos-
tas em progressão geométrica, assim como a massa média no inter-
valo de classe considerado e a freqüência de ocorrência.
Para estimar a área superficial da distribuição de fragmentos,
supôs-se inicialmente uma geometria esférica média, para a qual a
área superficial, S, é dada pela equação:
onde: é a densidade da rocha (g/cm
3
), r é o raio do fragmento
(cm) e S é dado em cm
2
g
-1
. A densidade de cada amostra foi determi-
nada no laboratório, constando no Quadro 3(a) os valores obtidos.
Para um fragmento de massa m, o raio pode ser calculado a par-
tir da expressão:
A área superficial específica é obtida pela substituição dessa
equação na anterior, isto é:
A área superficial específica das amostras IV e V de calcário cor-
respondeu à soma da área superficial do grupo inserida nas últimas
colunas da Tabela 1 dividida pela massa total dos fragmentos utili-
zados para a elaboração da distribuição de classes de massa. Os
valores obtidos também estão inseridos na Tabela 1.
Um aspecto interessante relacionado com a análise estatística
efetuada diz respeito ao fato de que tanto para a amostra IV quanto
para a V de calcário ocorre um ajuste da massa dos fragmentos a uma
distribuição log-normal, conforme pode ser observado na Figura 8.
Com isso, é possível obter valores de 0,1 g e 0,14 g, respectiva-
mente, para a moda e a mediana dos fragmentos correspondentes à
amostra IV de calcário, bem como valores de 0,33 g e 0,46 g, res-
pectivamente, para a moda e a mediana dos fragmentos correspon-
dentes à amostra V de calcário.
Um procedimento relativamente menos tedioso para avaliar a
área superficial da distribuição de fragmentos consistiu na conta-
gem de um grande número de partículas (no mínimo 600 coletadas
ao acaso) e pesagem individual de cada fragmento. Então, após a
determinação da massa média dos fragmentos, utilizaram-se as
equações anteriores para cálculo do raio médio da partícula e área
superficial específica. Essa técnica foi empregada para todas as
amostras de rochas utilizadas nos experimentos de lixiviação, veri-
ficando-se que, pelo primeiro método, os valores encontrados para
as amostras IV e V de calcário foram cerca de 7% a 20% (média de
13%) menores que aqueles determinados pelo uso do segundo
método. Os dados representando a área superficial específica no
Quadro 3(a) referem-se aos valores encontrados a partir do emprego
da segunda técnica.
Tabela 1 - Avaliação da área superficial específica S de amostras
de calcário utilizadas nos experimentos de lixiviação
Figura 8 - Relação massa média dos fragmentos versus porcentagem cumulativa para
(a) amostra IV e (b) amostra V de calcário de Mendip Hills, na Inglaterra.
Para estimar a área superficial dos solos utilizados nos experi-
mentos de lixiviação, efetuou-se a passagem das amostras através de
um conjunto de peneiras de diferentes aberturas (2,36 a 0,02 mm),
determinando-se, então, a massa que ficou retida em cada peneira.
Cada diâmetro relacionado com a fração granulométrica retida foi
utilizado na avaliação da área superficial S a partir da equação
onde r representa o raio (os grãos foram supostos esféri-
cos) e p a densidade real do material, especificada no Quadro 4(a).
A área superficial específica de cada amostra foi encontrada a par-
tir do cômputo de média ponderada envolvendo a massa total da
amostra, a área superficial específica e a massa de cada fração gra-
nulométrica retida na série de peneiras. Todos os valores obtidos
no presente trabalho estão representados na Tabela 2 e na Figura 9,
e nota-se que o maior foi determinado para a amostra do horizonte
A da Série Maesbury.
Tabela 2 - Avaliação da área superficial específica S de amostras
de solo utilizadas nos experimentos de lixiviação
Diâmetro
da
partícula
(mm)
2,360
0.850
0,600
0,425
0,300
0.212
0,150
0,106
0,075
0,053
0,020
Total
Horizonte
Série
A
Massa (g) S (cm
2/
g)
37,493
226,230
57,240
55,200
40.849
35.920
21,191
9,313
3,160
1.477
2,366
490.439
9,82
27.25
38,61
54,51
77.22
109,27
154,44
218,55
308,88
437,09
1158,30
58,12*
Lulsgate
Horizonte B
Massa (g) S(cm
2
/g)
38,909
139.363
38,545
36,194
20,986
18,128
8,561
4,448
2,186
0,990
0,965
309,275
9,70
26,94
38,17
53,88
76,34
108,02
152,67
216,04
305,34
432,09
1145,04
50.38*
Horizonte
Série
A
Massa (g) S(cm
2
/g)
102.321
121.902
24,424
19,464
12,854
13,089
11,285
10,133
7.057
4,925
2.980
330,434
9,74
27,04
38,31
54,09
76,63
108,44
153,26
216,87
306,51
433,74
1149,42
61,55*
Maesbury
Horizonte
Massa (g)
102,929
123,832
25,396
19,970
13,165
12,134
9,183
7.203
4,817
2,975
2,389
323,993
B
3(cm
2
/g)
9,56
26,54
37.59
53,07
75.19
106,40
150,38
212,80
300,75
425,59
1127,82
52.12*
* Média ponderada envolvendo a massa total da amostra, a área superficial específica c a massa de
cada grupo de partículas possuindo determinado diâmetro.
Caracterização física
e química de rochas e solos
Os valores de densidade das amostras de rocha utilizadas nos
experimentos de lixiviação estão inseridos no Quadro 3(a), no qual
também constam a massa de amostra empregada em cada experi-
mento, o raio médio representativo dos fragmentos referentes à
amostra e a área superficial específica determinada de acordo cora a
técnica descrita anteriormente. O produto da massa pela área super-
ficial específica fornece a área total de contato entre as fases líquida
e sólida, conforme também representado no Quadro 3(a). Ressalta-se
que alguns experimentos de lixiviaçãoo foram de fácil execução,
por terem sido conduzidos empregando-se uma grande quantidade
de material (15 kg de amostra); a maior área de contato entre as
fases líquida e sólida foi de cerca de 8 m
2
e a menor correspondeu a
um valor dez vezes inferior. Para as amostras III, IV e V de granito,
o estão especificados alguns parâmetros físicos, pois os resulta-
dos dos experimentos de lixiviação já haviam sido obtidos por
Andrews et al. (1987).
Figura 9 - Relação diâmetro da partícula versus porcentagem cumulativa para (a) hori-
zonte A da Série Lulsgate (moda = 381,8 ), (b) horizonte B da Série Lulsgate
(moda = 406,4 ), (c) horizonte A da Série Maesbury (moda = 213,6 )e (d) hori-
zonte B da Série Maesbury (moda = 240,6
Quadro 3 - Parâmetros envolvendo as rochas utilizadas
nos experimentos de lixiviação
(a) Parâmetros físicos
Dolomito
Granito
II
III
IV
V
VI
-
I
II
III
IV
V
2,8
2,8
2,8
2,8
2,8
2,8
2,5
2,5
2,5
2.5
2,5
12,20
11,80
15,00
15,00
15,00
12,00
2,80
1,75
-
-
-
0,50
0,70
0,21
0,36
0,55
0,90
0,41
0,25
0,16
0,32
0.50
Área superficial
específica (cm
2
/g)
6,14
2,13
1.53
5,16
2,96
1,95
1,19
2,94
4,64
-
-
-
Área superficial
total (m
2
)
2,15
2,60
1,80
7,74
4,44
2,92
1.43
0,82
0,81
-
-
-
* Desvio padrão das medidas disponíveis.
Todas as amostras de calcário e de dolomita utilizadas nos expe-
rimentos de lixiviação foram analisadas quanto a teores de urânio,
cálcio e magnésio e razão de atividade
234
U/
238
U, conforme especifi-
cado no Quadro 3(b). As análises referem-se, sobretudo, à fração
solúvel em HC1 6M, embora, em alguns casos, tenham sido realiza-
das também determinações na fração insolúvel em HC1 6M. A men-
suração de cálcio e de magnésio foi realizada por espectrofotometria
de absorção atômica, ao passo que a quantificação do teor de urânio e
a razão de atividade
234
U/
238
U foram efetuadas de acordo com a
metodologia descrita no Apêndice. Para todas as amostras, verifi-
cou-se que o teor de cálcio na fração solúvel em HC1 6M excedeu
bastante o de magnésio, embora no caso do dolomito tenhamos
obtido apenas o dobro de cálcio em relação a magnésio. O menor
teor de urânio foi obtido para a amostra de dolomito (0,23 ), e a
razão de atividade
234
U/
238
U correspondeu à unidade em quase
todos os casos. Com exceção de amostra cuja porcentagem de resí-
duo insolúvel em HC1 6M foi relativamente elevada (11%), consta-
tou-se que no mínimo 70% do urânio estava presente na fração
solúvel em HC1 6M.
Para a amostra IV de calcário procedeu-se à determinação do
equivalente-urânio (eU) para avaliar o estado do equilíbrio radioa-
tivo na série do urânio, 4n+2. Para isso, uma fração pulverizada da
amostra foi passada em peneira de 32-60 mesh (0,25-0,50 mm),
tendo sido separada uma quantidade de 200 g, a qual foi introdu-
zida em recipiente de alumínio de volume igual a 85 cm
3
. O recipi-
ente permaneceu vedado durante 20 dias, após o que foi submetido
à espectrometria gama com detector de Ge (Li) para determinar a
atividade do fotopico de
214
Bi de 609 KeV de energia. A atividade
específica de
238
U (0,3331 pCi/ ) foi utilizada na avaliação de eU,
de acordo com a equação:
onde corresponde à atividade de
214
Bi em pCi/g. O valor
obtido foi 1,28 ± 0,10 , o qual é bastante razoável quando
comparado com 1,34 ± 0,02 para o teor total de urânio na
rocha determinado por espectrometria alfa (Quadro 3(b)). Por-
tanto, desde que a razão eU/U corresponde a 0,96 ± 0,08 (pode ser
considerado 1 dentro dos erros experimentais), considera-se que
foi estabelecido equilíbrio radioativo entre
238
U,
226
Ra,
222
Rn e
214
Bi
na série de decaimento do urânio para o calcário investigado.
Os dados das análises químicas das amostras de granito foram
obtidos por Andrews et al. (1987), sendo possível observar que o
teor de urânio é cerca de 15 vezes superior ao determinado nas
amostras de calcário. Por sua vez, a razão de atividade
234
U/
238
U
também correspondeu à unidade, conforme constatado pratica-
mente para todas as amostras de calcário.
Os parâmetros físicos determinados para as amostras de solo
utilizadas nos experimentos de lixiviação encontram-se represen-
tados no Quadro 4(a), onde se nota que a umidade é relativamente
elevada em todos os casos. A porosidade total foi calculada pela
relação 1-Da/Dr, na qual Da é a densidade aparente e Dr é a den-
sidade real. A área superficial específica foi avaliada pela metodo-
logia descrita anteriormente, a qual, quando multiplicada pela
massa de amostra utilizada no experimento de lixiviação de urânio,
forneceu a área superficial total de contato entre as fases líquida e
sólida. Conforme se observa, nesses casos a área excedeu bastante o
maior valor determinado para as amostras de rocha utilizadas nos
experimentos de lixiviação (Quadro 4(a)).
A maioria dos parâmetros químicos das amostras de solo foi
determinada por Findlay (1965), o queo ocorreu com o teor de
urânio e a razão de atividade
234
U/
238
U, cuja quantificação foi efe-
tuada de acordo com a metodologia descrita no Apêndice. Os
dados representados no Quadro 4(b) mostram que os solos deriva-
dos do arenito Old Redo mais ácidos que os gerados a partir do
calcário do Carbonífera, que as razões de atividade
234
U/
238
U nos
diferentes horizonteso menores que a unidade e que o teor de
urânio nos materiais de origem, calcário e arenito, é inferior ao
determinado nos horizontes A e B.
Descrição das soluções lixiviadoras
A lixiviação de urânio das amostras de rochas e solos foi condu-
zida à temperatura ambiente no laboratório (20°C), empregando-
se as quatro diferentes soluções lixiviadoras descritas no Quadro 5.
O pH e o potencial redox Eh das soluções foram mensurados com
os mesmos equipamentos utilizados no campo para a aquisição de
dados, baseando-se na metodologia apresentada no Apêndice. De
acordo com esses parâmetros, constata-se que todas as soluçõeso
redutoras ácidas, sendo os mais agressivos a água destilada borbu-
lhada coms carbônico e o ácido clorídrico 0,01 M; a pressão
parcial de CO
2
na água destilada equilibrada com a atmosfera cor-
responde a 10
-3,5
atm (Stumm & Morgan, 1970), porém, quando a
solução torna-se saturada de CO
2
numa pressão parcial de 1 atm,
seu pH diminui de 4,9 para 3,5, ficando, então, mais agressiva.
Quadro 4 - Parâmetros envolvendo os solos utilizados
nos experimentos de lixiviação
Nos experimentos envolvendo as amostras de rochas, proce-
deu-se à lavagem dos fragmentos com água destilada, para a remo-
ção de partículas finas eventualmente aderidas à superfície, porém
com as amostras de soloso se realizou essa etapa. Após secagem,
o material selecionado foi inserido em frascos de vidro pyrex de 5
ou 20 litros, dependendo da quantidade utilizada, aos quais se adi-
cionaram as soluções lixiviadoras. Cada solução foi circulada diaria-
mente através dos fragmentos de rocha ou amostras de solo por
intermédio de uma bomba elétrica Whale Supersub 88, polarizada
por bateria de 12 volts, com o propósito de assegurar que a lixivia-
ção ocorresse numa taxa uniforme e constante. As soluções lixivia-
doras foram periodicamente removidas para análise e substituídas
por outras recém-preparadas, para que o processo pudesse ter
seqüência. A duração dos experimentos foi variável, correspon-
dendo o maior tempo a cerca de 200 dias. Uma vez removidas, as
soluções foram filtradas através de membrana Millipore de 0,45
quando necessário, uma alíquota de 20 ml foi reservada para a
determinação de cálcio e magnésio por espectrofotometria de absor-
ção atômica, tendo o restante sido utilizado para a quantificação do
teor de urânio e razão de atividade
234
U/
238
U por intermédio da
metodologia descrita no Apêndice.
Nos experimentos de liberação de radônio das rochas e dos solos,
empregou-se apenas água destilada à temperatura ambiente como
fase líquida, e o material selecionado foi inserido em frascos de
vidro de borossilicato de 1.000 ml, que se mostrou mais apropriado
que os de plástico para evitar perdas de
222
Rn em razão do tempo de
armazenagem (Zereshki, 1983). Cada frasco foi vedado com tampa
contendo dois tubos de náilon acoplados a mangueiras de neo-
prene, mantidas seladas com pinças de Hoffmann; os tubos foram
usados para fazer conexão com o sistema de desgaseificação des-
crito no Apêndice. Periodicamente, entre 1 e 28 dias após vedação,
efetuava-se a extração do
222
Rn acumulado na água destilada.
Resultados dos experimentos de lixiviação
Os dados referentes à lixiviação das amostras de calcário e dolo-
mita estão representados nos Quadros 6 a 12, sendo possível notar
que as soluções lixiviadoras mais agressivas (menores valores de
pH) promoveram dissolução mais acentuada de cálcio, magnésio e
urânio. No Quadro 9, além dos parâmetros especificados nas
demais tabelas, está representada a espessura da camada lixiviada
(em nm), calculada pela expressão M/Sfp, onde M representa a
massa de cálcio dissolvida, S corresponde à área superficial especí-
fica da amostra, f é a fração de cálcio na rocha e p é a densidade da
rocha. Conforme esperado, nota-se que as soluções mais agressivas
geraram maiores profundidades de lixiviação na superfície da
rocha. Um outro parâmetro representado no Quadro 9 é a prefe-
rência P de um elemento em relação a outro no processo de disso-
lução, a qual é definida como a razão molar de dois elementos i e j
na solução e na fração da rocha solúvel em HC1 6M. Estes parâme-
tros adicionais foram avaliados nos experimentos conduzidos com
a amostra IV de calcário, considerada adequada por apresentar uma
alta área de contato entre as fases sólida e líquida (7,7 m
2
), bem
como uma proporção relativamente elevada de urânio (70%) na fra-
ção da rocha solúvel em HC1 6M.
Os resultados para as amostras de granito submetidas aos pro-
cessos de lixiviação durante o desenvolvimento deste trabalho estão
representados nos Quadros 13 e 14. Conforme se observa, também
constam nesses quadros dados para sódio e potássio, além de cálcio
e magnésio, os quais foram igualmente obtidos por espectrofoto-
metria de absorção atômica, após filtragem da solução lixiviadora
através de membrana Millipore de 0,45 um. Os resultados dos
experimentos realizados com granito por Andrews et al. (1987)
estão representados no Quadro 15, onde constam valores para o
teor de silício dissolvido, além dos demais parâmetros expressos
nos Quadros 13 e 14.
O Quadro 16 exibe os teores de urânio e as razões de atividade
234
U/
238
U determinados nos experimentos de lixiviação conduzi-
dos com as amostras de solos. Do ponto de vista operacional, esses
experimentos foram de difícil execução, principalmente a etapa de
separação e filtragem da fase líquida.
Quadro 6 - Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra I de calcário
Finalmente, no Quadro 17, estão representados os resultados
da transferência de radônio das rochas e dos solos para a água; a
maioria dos parâmetros expressos nas suas colunas foi definida no
Apêndice. A área superficial de contato entre a fase líquida e a
amostra IV de calcário foi estimada com base na área superficial
específica de 4,14 cm
2
/g, calculada conforme descrito na Tabela 1;
para a amostra VI de calcário, estimou-se reduzindo em cerca de
13% o valor da área superficial específica representado no Quadro
3. No Quadro 17(a), a atividade Ae corresponde à atividade do
Rn no equilíbrio, isto é, quando transcorreram cinco meias-
vidas do
222
Rn, sendo determinada a partir da atividade Ap, de
acordo com a equação:
onde é a constante de decaimento do
222
Rn (0,18 dias
-1
) e p é o
período de acumulação (em dias). O fluxo de
222
Rn das amostras IV
e VI de calcário foi estimado a partir do valor médio de , da área
total de contato entre as fases líquida e sólida e do fator de conver-
o envolvendo pCi e dps. No caso das amostras de solo,o se
determinou a atividade pois os períodos de acumulação sem-
pre excederam o tempo para o
222
Rn atingir o equilíbrio radioativo;
a área total de contato entre as fases líquida e sólida foi estimada a
partir da área superficial específica determinada na Tabela 2.
Quadro 8 - Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra III de calcário
Quadro 9 Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra IV de calcário
Quadro 10- Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra V de calcário
Quadro 12 - Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra de dolomito
Quadro 11 - Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra VI de calcário
Quadro 13 - Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra I de granito
Quadro 14- Resultados dos experimentos de lixiviação
da amostra II de granito
Quadro 15- Resultados dos experimentos de lixiviação realizados
por Andrews et al. (1987) para as amostras III a V de granito
Quadro 16- Resultados dos experimentos de lixiviação
das amostras de solo
3
MECANISMOS DE ENRIQUECIMENTO
DE
234
U EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DE AQÜÍFERO CÁRSTICO
Os processos de dissolução na interface água-rocha freqüente-
mente resultam em razões de atividade
234
U/
238
U maiores que a
unidade para o urânio dissolvido. No presente capítulo, os efeitos
nesse parâmetro da lixiviação química sob diferentes condições
controladas em laboratório foram avaliados para rochas matrizes
consistindo de calcário e dolomito. Os resultados obtidos foram,
então, utilizados para interpretar a radioatividade devida aos isóto-
pos
234
U e
238
U nas águas subterrâneas do aqüífero cárstico de Men-
dip Hills, Inglaterra.
Dissolução de cálcio, magnésio e urânio
nos experimentos de curta duração
Nas Figuras 10 a 13, estão representados os dados cumulativos
da lixiviação de cálcio, magnésio e urânio em função do tempo,
para as diferentes amostras de calcário e dolomita, quando se empre-
garam as quatro distintas soluções lixiviadoras. Os experimentos
realizados com as amostras de dolomito e de calcário I e II foram con-
duzidos numa escala de tempo de pequena amplitude (no máximo
36 dias), porém, mesmo assim, algumas características podem ser
notadas. Por exemplo, conforme se observa na Figura 11, para a
amostra I de calcário, quando se encerraram as lixiviações, obteve-
se uma quantidade de cálcio dez vezes superior na solução lixivia-
dora mais agressiva (água destilada mantida à pressão parcial de
CO
2
de 1 atm), condizendo com o esperado.
Figura 10- Relação cálcio versus tempo (valores cumulativos) para a amostra IV de cal-
cário de Mendip Hills, Inglaterra.
Figura 11 - Relação cálcio versus tempo (valores cumulativos) para as amostras de cal-
cário e dolomito de Mendip Hills, Inglaterra.
As espécies iônicas presentes em água pura após dissolução de
CaCO
3
o Ca
2+
, H
2
CO
3
, HCO
3
-, CO
3
2
, H
+
e OH
-
. Schindler
(1967) e Stumm & Morgan (1970) discutiram extensivamente as
relações de equilíbrio entre essas espécies em soluções isoladas da
atmosfera, bem como os equilíbrios resultantes da dissolução de
CO
2
. O produto de solubilidade para a calcita, {Ca
2+
} {CO
3
2-
}, é
10
-8,,35
, a 25°C de temperatura e 1 atm de pressão total; para a dolo-
mita, nas mesmas condições, o produto de solubilidade {Mg
2+
}
{Ca
2+
} {CO
3
2-
}
2
é de 10
-16,7
. Esses valores correspondem a solubi-
lidades teóricas de 6,69 e 0,40 mg/l, respectivamente, para a calcita
e a dolomita em água pura a 25°C, isolada da atmosfera. Um valor
experimental de 14,3 mg/l para a solubilidade de calcita na água
pura foi determinado por Pobeguin (1954). Quando a pressão par-
cial de CO
2
aumenta do valor típico de 3x10
-4
atm no ar para 3x10
-3
atm no solo, a concentração de Ca
2+
numa solução saturada de cal-
cita a 25°C aumenta de 20 mg/l para 45 mg/l (Faure, 1991).
Figura 12 - Relação magnésio versus tempo (valores cumulativos) para as amostras de
calcário e dolomita de Mendip Hills, Inglaterra.
Figura 13- Relação urânio versus tempo (valores cumulativos) para as amostras de cal-
cário e dolomita de Mendip Hills, Inglaterra.
Assim, nos experimentos realizados, a menor área superficial
de contato entre o dolomita e a solução lixiviadora (b) em relação
àquela determinada entre as amostras de calcário I e II e as soluções
lixiviadoras (a) e (b), bem como o menor teor de cálcio no dolomito
em relação ao verificado nas amostras de calcário I e II e, ainda, a
menor solubilidade da dolomita em relação à calcita, contradizem as
curvas ilustradas na Figura 11, que mostram que o teor de cálcio lixi-
viado das amostras de calcário I e II pelas soluções menos agressivas
(a e b) foi quase cinco vezes menor que aquele obtido na lixiviação do
dolomito pela solução (b). Entretanto, a contradição desaparece
quando se leva em conta o experimento realizado com a solução
lixiviadora (c), mais agressiva, conforme ilustra a Figura 11. Uma
possível explicação para isso poderia ser que, por estarem expostas
ao intemperismo durante a coleta, as amostras I e II de calcário já
haviam sofrido alguma lixiviação de cálcio antes do início dos
experimentos no laboratório, de maneira que, quando se promoveu
uma dissolução acentuada desse elemento pelo uso de alta pressão
parcial de CO
2
, tornou-se desprezível aquela quantidade removida
previamente, o queo ocorreu quando se empregaram as soluções
lixiviadoras menos agressivas. Reforçando a importância do intem-
perismo na interpretação dos resultados dos experimentos de lixi-
viação com as soluções pouco agressivas, é possível notar que a
amostra III de calcário, apesar de possuir menor área superficial,
menor teor de cálcio e menor fração solúvel em HC1 6M que as
amostras de calcário I e II, exibiu maior teor de cálcio dissolvido
(Figura 11), provavelmente por tratar-se de rochao intemperi-
zada no início do experimento.
Quanto ao magnésio, ainda na escala de tempo de 36 dias, veri-
ficou-se também que o teor lixiviado das amostras de calcário I e II
pelas soluções menos agressivas (a) e (b) foi no mínimo cinco vezes
menor que aquele obtido na lixiviação de dolomito pela solução
(b) (Figura 12). Contudo, diferentemente do que ocorreu com o
cálcio, a lixiviação com a solução mais agressiva (c) forneceu teo-
res muito mais elevados de magnésio no dolomito do que no calcá-
rio I (Figura 12). Embora alguma perda de magnésio pelas amostras
de calcário I e II possa ter ocorrido em virtude do intemperismo,
acredita-se que o principal motivo relacionado com o comporta-
mento verificado reside no elevado teor de magnésio (11%) caracte-
rístico do dolomito. Reforçando essas hipóteses, observa-se na
Figura 12 que o teor de magnésio lixiviado da amostra III de calcá-
rio é superior ao lixiviado das amostras I e II de calcário, pois o cal-
cário III, além deo ser intemperizado, possui muito mais
magnésio que os calcários I e II (Quadro 3).
No final dos experimentos de curta duração realizados com as
soluções menos agressivas (a) e (b), observou-se que teores relati-
vamente similares de urânio foram lixiviados das amostras I e III de
calcário e de dolomito, ao passo que uma maior quantidade foi dis-
solvida a partir da amostra II de calcário (Figura 13). Uma vez que
os teores de urânio nos calcários I e IIo diferem muito, acredita-se
que a maior área superficial e a maior percentagem da fração solúvel
em HC1 6M do calcário II tenham contribuído para a lixiviação
mais acentuada de urânio dessa amostra. Já nos experimentos con-
duzidos com a solução saturada em CO
2
,o se verificou uma
diferença muito grande entre os teores de urânio lixiviados das
amostras de calcário I e dolomita (Figura 13), apesar de a concentra-
ção de urânio do dolomita ser cinco vezes menor que a do calcário I.
Dissolução de cálcio, magnésio e urânio
nos experimentos de longa duração
Nas Figuras 10 a 13, também estão representados os dados cumu-
lativos da lixiviação de cálcio, magnésio e urânio de diferentes
amostras de calcário submetidas a distintas soluções lixiviadoras,
na escala de tempo de até 200 dias.
Na Figura 10, observa-se que mais cálcio foi dissolvido da
amostra IV de calcário no final do experimento, quando se utilizou
a solução (b), de menor pH, em vez da solução (a). Comparando-se
os teores dissolvidos de cálcio e magnésio das amostras IV, V e VI
de calcário quando se empregou a solução (b), observa-se que os
valores diminuem consistentemente com a diminuição de área
superficial de contato entre as fases líquida e sólida (Quadro 3).
Porém, istoo se verifica para o urânio lixiviado das amostras IV e
V de calcário, denotando que, nesse caso, o teor superior de U na
fração solúvel em HC1 6M da rocha V em relação ao da rocha IV
parece ser mais importante do que a área superficial, quando se
promove um longo tempo de contato entre as fases líquida e sólida.
Diferençaso acentuadas ocorreram na dissolução de cálcio e
magnésio das amostras III e IV de calcário quando lixiviadas com
água destilada saturada com CO
2
, embora os valores da área super-
ficial e porcentagem da rocha solúvel em HC1 6M dessas amostras
sejam bastante distintos. Nota-se também que, embora o HC1
0,01M seja mais agressivo que a água destilada saturada com CO
2
,
a maior dissolução de cálcio e urânio da amostra IV de calcário
ocorreu no segundo caso; contudo, para o magnésio, a maior disso-
lução se verificou com o HCl 0,01M, de acordo com a agressi-
vidade da solução. A Figura 13 também ilustra que a menor
porcentagem da fração solúvel em HC1 6M, o menor teor de urânio
nessa fração e a menor área superficial da amostra III de calcário
em relação à amostra IV indicaram o fato de que menos urânio foi
dissolvido de III pela solução lixiviadora (c).
Em que pesem todas essas particularidades relacionadas com os
resultados obtidos nos experimentos conduzidos, ressalta-se que as
tendências observadas nas curvas de dissolução de cálcio, magné-
sio e urânio para as situações envolvendo curta duração foram con-
firmadas quando a escala de tempo se tornou ampliada. No geral,
cada curva tende a ser parabólica e/ou linear. No primeiro caso,
caracteriza-se uma reação de primeira ordem, na qual a taxa de dis-
solução diminui com o tempo, e, no segundo, descreve-se uma rea-
ção de ordem zero, na qual a taxa de lixiviação permanece constante
com o tempo. Em quase todas as situações de longa duração dos
experimentos, verificou-se uma alta taxa inicial de dissolução de cál-
cio, magnésio e urânio, a qual gradualmente sofreu uma diminuição
com o tempo, de maneira que a progressão do processo de lixivia-
ção caracterizou-se basicamente por uma mudança de uma reação
de primeira ordem para uma reação de ordem zero. Nos experi-
mentos com a amostra IV de calcário, por exemplo, o resultado ten-
deu a uma taxa constante de dissolução de cálcio de cerca de 1,9 mg/
dia, quando se utilizaram as soluções lixiviadoras menos agressivas
(a) e (b), ao passo que se aproximou de uma taxa de 25 mg/dia,
quando se empregaram as soluções mais agressivas (c) e (d).
Durante a evolução da lixiviação, a mudança gradual de uma
reação cuja taxa diminui com o tempo para uma interação que se
processa a taxa constante tornou-se esperada no experimento con-
duzido em laboratório, na medida em que partículas finas aderidas
nos fragmentos de rocha foram inicialmente dissolvidas, propici-
ando que a lixiviação uniforme da superfície passasse a ser o pro-
cesso dominante a partir da diminuição do número de pequenas
partículas de calcita. Imagens obtidas por microscopia eletrônica de
varredura revelaram que no início dos experimentos existia um
grande número de partículas menores que 5 aderentes à super-
fície do calcário IV recentemente exposta após fragmentação (Figura
14(a)), mesmo depois que se efetuou a lavagem inicial da amostra;
uma vez realizados os experimentos de lixiviação de longa duração,
constatou-se uma redução significativa do número destas partícu-
las (Figura 14(b)), de modo que a taxa de lixiviação da superfície
tornou-se controlada por um processo de ordem zero.
Dissolução de urânio relativa
à de cálcio e de magnésio
O urânio nos minerais primários formadores de rochas ocorre
no estado de oxidação 4+, sendo geralmente oxidado para o estado
de valência 6+ no ambiente supérgeno. Essa oxidação pode ser
representada pela equação:
O íon uranila mantém-se complexado em solução por íons
bicarbonato e carbonato em circunstâncias que dependem das con-
dições de intensidade iônica e pH. Na típica pressão parcial de CO
2
nas águas subterrâneas correspondente a cerca de 10
-2
atm a 25°C
para pH>5, verifica-se que os complexos de carbonato de uranila
constituem as principais espécies em solução (Langmuir, 1978).
Nas Figuras 15 a 18, estão representadas as relações entre os
valores cumulativos dos teores de urânio e os de cálcio e magnésio
nas várias soluções lixiviadoras de calcário e dolomito. Conforme
se observa, a quantidade de urânio dissolvida correlaciona-se for-
temente com as de cálcio e magnésio dissolvidas, tornando-se linear-
mente relacionadas naqueles processos verdadeiramente dominados
por reação de ordem zero. No caso da amostra IV de calcário, as
correlações lineareso equivalentes a uma razão molar U/Ca pró-
xima a 5 x 10
-6
nas soluções menos agressivas (Figura 15), a qual é
cerca de 11,5 vezes maior que a razão observada de 0,46 x 10
-6
para
a fração da rocha solúvel em HC1 6M (Quadro 3); já para as solu-
ções mais agressivas (Figura 15), a razão molar U/Ca varia de 1,3 a
1,6 x 10
-6
, valor que é mais próximo daquele encontrado para a fra-
ção da rocha solúvel em ácido, implicando uma significativa dimi-
nuição da lixiviação preferencial de urânio. Para um processo de
lixiviação superficial de ordem zero, todas as espécies químicas
presentes devem ser liberadas na mesma razão em que ocorrem na
matriz sólida, na medida em que tem seqüência a erosão da superfí-
cie. Os dados obtidos para a amostra IV de calcário mostram que
essa situação é aproximada nas intensas lixiviações promovidas com
água destilada saturada com CO
2
e com HC1 0,01M. No caso dos
processos mais brandos de lixiviação conduzidos com água destilada
saturada de N
2
ou equilibrada com a atmosfera, verifica-se uma
significativa dissolução preferencial de urânio relativa a cálcio.
Figura 14- Imagens de superfícies da amostra IV de calcário do Carbonífero de Men-
dip Hills, Inglaterra, obtidas por microscópio eletrônico de varredura: (a) superfície
recentemente fragmentada submetida a lavagem inicial com água destilada; (b)
mesma superfície após ter sido submetida a prolongada lixiviação (nota-se que mui-
tas partículas finas foram removidas). A escala da barra corresponde a 10
Ainda considerando os experimentos realizados com a amostra
IV de calcário, nota-se que a razão molar U/Mg nas soluções
menos agressivas e HC1 0.01M é cerca de 17 x 10
-6
(Figura 17),
mesmo a taxa de lixiviação com HC1 tendo sido significativamente
maior que as das outras soluções. Esse valor é próximo de 14,3x10
-6
,
correspondente à razão observada na fração da rocha solúvel em
ácido (Quadro 3). Porém, uma razão U/Mg maior que essa (27 x
10
-6
) foi encontrada na água destilada saturada com CO
2
, refle-
tindo a possibilidade de complexação de urânio como espécies de
carbonato de uranila.
Figura 15 - Relação urânio versus cálcio (valores cumulativos) nas soluções lixiviadoras
da amostra IV de calcário de Mendip Hills, Inglaterra.
Figura 16- Relação urânio versus cálcio (valores cumulativos) nas soluções lixiviadoras
das amostras de calcário e dolomito de Mendip Hills, Inglaterra.
A razão molar Mg/Ca nas soluções lixiviadoras (a) e (b) da
amostra IV de calcário (Quadro 5) é também cerca de 11,5 vezes
maior que a razão na fração de calcita da rocha, implicando o fato
de que tanto o urânio quanto o magnésioo preferencialmente dis-
solvidos em relação ao cálcio. O teor de Mg
2+
na calcita, determinado
por difratometria de raios X, correspondeu a menos que 1 mol per-
centual. O urânio pode estar acomodado no retículo da calcita, pró-
ximo a distorções causadas na calcita magnesiana pelos menores
íons Mg
2+
, embora tanto o urânio quanto o magnésio possam ser
derivados da fração micácea da rocha,o carbonática. Esta última
possibilidade constitui a mais provável explicação do mecanismo
pelo qual o urânio e o magnésio podem ser preferencialmente lixi-
viados da superfície da calcita durante um processo de ordem zero.
O Quadro 9 apresenta a definição da preferência P de dissolu-
ção de um elemento em relação a outro, bem como os valores obti-
dos para o urânio em relação a cálcio, urânio em relação a magnésio
e magnésio em relação a cálcio, referentes à amostra IV de calcário.
Conforme se verifica, as mais altas razões de preferência de urânio
e magnésio em relação a cálcio foram calculadas para a lixiviação
com água destilada saturada com N
2
ou equilibrada com a atmos-
fera; a dissolução preferencial de urânio e magnésio em relação a
cálcio diminui bastante quando se consideram as soluções lixivia-
doras mais agressivas (c) e (d) (Quadro 5). Contudo, a preferência
de urânio relativa a cálcio é geralmente similar à preferência de
magnésio relativa a cálcio, sugerindo uma acentuada correlação
entre a dissolução de urânio e de magnésio, especialmente para as
soluções lixiviadoras mais brandas.
Figura 17 - Relação urânio versus magnésio (valores cumulativos) nas soluções lixivia-
doras da amostra IV de calcário de Mendip Hills, Inglaterra.
Figura 18- Relação urânio versus magnésio (valores cumulativos) nas soluções lixivia-
doras das amostras de calcário e dolomito de Mendip Hills, Inglaterra.
Comportamento da razão isotópica
234
U/
238
U em relação à dissolução de cálcio
A razão de atividade
234
U/
238
U do urânio dissolvido nas solu-
ções lixiviadoras da amostra IV de calcário aumenta na medida em
que progride o processo de dissolução, conforme ilustra a Figura 19.
Nessa figura, para cada solução lixiviadora estão representados os
resultados de quatro sucessivas reações de dissolução, juntamente
com os valores calculados para a quantidade cumulativa de Ca
2+
dis-
solvido e correspondente espessura da camada lixiviada.
Figura 20 - Relação entre a razão de atividade
234
U/
238
U e o cálcio (valores cumulativos
nos círculos vazios) nas diferentes soluções lixiviadoras das amostras de calcário e
dolomito de Mendip Hills, Inglaterra.
A razão de atividade
234
U/
238
U para o urânio numa rocha matriz
mais antiga que 1,25 milhão de anos corresponde ao valor do equi-
líbrio radioativo, isto é, a unidade. Conforme se verifica, a razão de
atividade
234
U/
238
U no processo cumulativo de lixiviação se apro-
xima de um valor de cerca de 1,3, na medida em que o teor de Ca
2+
ou a espessura da camada lixiviada aumentam (Figura 19). Nos
processos seqüenciais de lixiviação, nota-se que a razão de ativi-
dade
234
U/
238
U de cada solução aumenta de acordo com cada suces-
siva etapa de dissolução. Esse acréscimo pode ser interpretado
como uma conseqüência da dissolução gradual das finas partículas
aderidas às superfícies expostas após fragmentação, na medida em
que o processo progride para a lixiviação de superfícies de calcita já
bastante erodidas (Figura 14b). A dissolução total de partículas
finas de calcita, as quais contêm urânio com uma razão de ativi-
dade
234
U/
238
U correspondente à unidade (valor do equilíbrio radi-
oativo), ocasiona uma diminuição no valor esperado maior que 1
para a razão isotópica
234
U/
238
U (em virtude da lixiviação preferen-
cial de
234
U da superfície de calcita).
A razão de atividade
234
U/
238
U observada na primeira lixiviação
correspondeu a cerca de 1,1 para a água destilada saturada com N
2
ou equilibrada com a atmosfera, sendo um pouco maior quando se
utilizaram as soluções mais agressivas. Na quarta lixiviação suces-
siva, foram gerados valores de razão isotópica
234
U/
238
U de cerca
de 1,4. O valor limitante aproximado pelo processo cumulativo de
dissolução provavelmente depende da facilidade com que os cristais
de calcita podem se tornar livres da superfície da rocha (e subse-
qüentemente totalmente dissolvidos) e também da disponibilidade
de amplas superfícies de calcita; esse valor praticamente se mos-
trou independente da natureza da solução lixiviadora da amostra
IV de calcário.
Variação da razão de atividade
234
U/
238
U com a rocha matriz
Embora as razões cumulativas de atividade
234
U/
238
U nas solu-
ções lixiviadoras da amostra IV de calcário tendam a um valor de
cerca de 1,3 na escala de tempo dos experimentos realizados, valo-
res distintos compreendidos entre 0,85 e 1,85 foram determinados
nos ensaios conduzidos com as demais amostras, conforme ilustra
a Figura 20. Para as amostras V e VI, aproximaram-se, respectiva-
mente, de razões isotópicas de cerca de 1,15 e 1,45 no final dos
experimentos, as quais, ao serem comparadas com as da amostra IV
de calcário, denotaramo se relacionar com a área superficial de
contato entre as fases líquida e sólida ou com a espessura da camada
lixiviada pela água destilada equilibrada com a atmosfera, que pra-
ticamente foi a mesma para as três amostras (variou entre 84 e 118
nm). Esses dados também sugerem que características distintas das
superfícies lixiviadas contribuem para a obtenção de diferentes
razões de atividade
234
U/
238
U.
Quando se considera a escala de tempo de curta duração dos
experimentos com o dolomita e o calcário II, verifica-se que as
razões de atividade
234
U/
238
U situam-se no intervalo daquelas obti-
das para as amostras IV, V e VI de calcário. Razões isotópicaso
usuais, menores que 1, foram obtidas nas soluções que lixiviaram o
calcário I, o qual havia sido submetido ao intemperismo antes do
início dos experimentos no laboratório. Uma interpretação plausí-
vel para esses valores é que as finas partículas de calcita aderidas
nas superfícies expostas após fragmentaçãoo possuíam urânio
com uma razão de atividade
234
U/
238
U correspondente à do equilí-
brio, porém menor que a unidade, pois, em decorrência do intem-
perismo, o
234
U já teria sofrido lixiviação preferencial em relação ao
238
U; no laboratório, a dissolução total das partículas de calcita
empobrecidas em
234
U teria resultado nos valores menores que a uni-
dade obtidos nas três soluções lixiviadoras para as razões
234
U/
238
U
(Figura 20).
Os maiores valores encontrados para a razão de atividade
234
U/
238
U correspondem aos das soluções que lixiviaram a amostra III de
calcário (Figura 20), a qual possui uma proporção significativa de
material insolúvel em HC1 6M (11%), consistindo de areia fina e
silte compostos predominantemente de quartzo, uma pequena por-
centagem de feldspatos e minerais pesados, e, também, de argila
dominada por mica, com menores quantidades de caolinita e ver-
miculita. Conforme já sugerido, esse material poderia ter dificul-
tado ainda mais a liberação das finas partículas de calcita contendo
urânio com razão de atividade
234
U/
238
U unitária, cuja dissolução
implicaria diminuição do valor maior que 1 esperado para a razão
isotópica
234
U/
238
U; nas demais amostras, as dificuldades pode-
riam ter sido menores, propiciando a geração de menores razões de
atividade
234
U/
238
U na fase líquida.
Razões de atividade
234
U/
238
U nas
águas subterrâneas de Mendip Hills
Os resultados das análises de amostras de águas subterrâneas
coletadas na área cárstica de Mendip Hills, Inglaterra, (Figura 2)
estão representados no Quadro 18, em que as técnicas descritas no
Apêndice foram utilizadas para a determinação no campo de tem-
peratura, pH, Eh e teor de oxigênio dissolvido. A mensuração da
condutividade também foi efetuada no campo por intermédio de
equipamento portátil, enquanto os demais parâmetros foram avalia-
dos por técnicas convencionais, por exemplo, espectrofotometria
de absorção atômica (Na, K, Ca e Mg), titulometria (HCO3) e
secagem + pesagem (resíduo seco a 105°C). O teor de urânio dis-
solvido e a razão de atividade
234
U/
238
U foram determinados por
espectrometria alfa, conforme descrito no Apêndice.
Todas as águas subterrâneas da área cárstica de Mendip Hills
o sistemas de baixa temperatura, onde o valor típico medido no
verão é de 10°C Os dados de pH e Eh obtidos no campo para
algumas amostras indicaram que as águaso redutoras em caráter,
da mesma forma que as soluções lixiviadoras empregadas nos
experimentos conduzidos em laboratório. A boa aeração obtida
para a amostra coletada em Wookey Hole pode ser atribuída ao fato
de que uma grande proporção do volume desse sistema de cavernas
está preenchida com ar. O resíduo seco a 105°C variou de 300 a
597 mg/l, concordando com dados prévios de Green & Welch
(1965); as medidas de condutividade correlacionaram-se bem com
esse parâmetro, desde que o menor valor de resíduo seco corres-
pondeu ao menor valor de condutividade. Cálculos envolvendo o
balanço de carga para os resultados das análises químicas dessas
águas indicaram um máximo de apenas 26% como a contribuição
dos outros ânionso analisados; assim, certamente essas águas
o bicarbonatadas cálcicas. Portanto, apesar de a maioria das nas-
centes na área cárstica de Mendip Hills surgirem em rochas do Triás-
sico ou mesmo mais jovens, as exposições relativamente limitadas
dessas rochas e a composição química das águas mostram que elas
o derivadas do calcário do Carbonífera.
Valores maiores que a unidade foram encontrados para as razões
de atividade
234
U/
238
U nas águas subterrâneas da área cárstica de
Mendip Hills (Quadro 18). Uma proporção significativa do total de
urânio na rocha matrizo é solúvel em HC1 6M (Quadro 3); junta-
mente com a correlação entre a dissolução de U e Mg, isto sugere
que os minerais ferromagnesianos (que dominam os resíduos inso-
lúveis) podem estar constituindo a principal fonte de U e Mg.
A lixiviação da fase dominante, calcita, liberaria gradualmente
partículas discretas de minerais micáceos, as quais estariam sujei-
tas à dissolução por um processo de primeira ordem pela solução
presente; a lixiviação preferencial de
234
U deixaria os particulados
micáceos empobrecidos em
234
U. Contudo, durante a lixiviação de
calcário pela água subterrânea, poderiam ocorrer o transporte e a
eventual sedimentação das pequenas partículas, em razão de sua alta
densidade em relação à da água (a biotita e a clorita possuem densi-
dades entre 2,6 e 3,3 g/cm
3
). Porém, mesmo que os filossilicatos
o fossem removidos do contato com a água subterrânea, ocorre-
ria neles a lixiviação preferencial de
234
U, pois toda a produção
desse nuclídeo se deveu ao decaimento do
238
U, desde a formação
diagenética dos minerais. A subseqüente lixiviação da superfície de
calcário liberaria uma quantidade adicional de minerais micáceos,
com uma razão de atividade
234
U/
238
U unitária, cuja dissolução
seria capaz de manter uma enriquecida razão de atividade
234
U/
238
U na água subterrânea. Esse mecanismo em dois estágios, lixivia-
ção seguida por dissolução de U e Mg dos minerais ferromagne-
sianos liberados, pode explicar como é possível manter uma razão
de atividade
234
U/
238
U enriquecida em solução quando a água sub-
terrânea interage com a rocha matriz, na qual o
238
U e o
234
U estão
em equilíbrio radioativo.
As razões de atividade
234
U/
238
U encontradas nas águas subter-
râneas de Mendip Hills variaram de 1,02 a 2,05 (Quadro 18). O
monitoramento temporal de uma fonte (Quadro 18(a)) mostra que
a razão isotópica
234
U/
238
U é sempre constante,o exibindo varia-
ção sazonal. As razões de atividade
234
U/
238
U determinadas nas
demais localidades possivelmente dependem da quantidade de
resíduo insolúvel presente localmente no calcário ou da quantidade
de sedimentos depositados ao longo da trajetória de fluxo da água
subterrânea. O valor médio da razão de atividade
234
U/
238
U para o
urânio dissolvido nas águas subterrâneas de Mendip Hills é de 1,52
± 0,28, o qual praticamente corresponde ao valor médio de 1,46
obtido no final dos experimentos de lixiviação de calcário e dolo-
mito conduzidos em laboratório (esse valor médio foi estimado sem
levar em conta os resultados obtidos com a amostra I de calcário).
As águas subterrâneas de Mendip Hills possuem curtos tempos
de residência, conforme evidenciam os altos teores de
3
H (30-52
Unidades de Trítio, segundo Burgess et al., 1980) e os testes de
tempo de trânsito realizados com traçadores artificiais (vários dias,
segundo Atkinson, 1977). Esses resultados, conjuntamente com
aqueles obtidos nos experimentos de lixiviação conduzidos em
laboratório durante o desenvolvimento do presente trabalho, per-
mitem afirmar que o processo de recuo alfao pode contribuir
para a geração de razões de atividade
234
U/
238
U enriquecidas na
água subterrânea, pois este processo atua quando os tempos de
residênciao longos, de centenas a milhares de anos. Além disso,
o processo de recuo alfa também requer grandes concentrações de
urânio na interface água-rocha, porémo existem evidências de
acumulações significativas de urânio no calcário, nem de que esteja
ocorrendo deposição de urânio num contexto redox, a qual poderia
propiciar um acréscimo na razão de atividade
234
U/
238
U do urânio
dissolvido, numa escala de tempo de curta duração (de alguns anos
a algumas dezenas de anos).
Portanto, as razões de atividade
234
U/
238
U maiores que a uni-
dade nas águas subterrâneas estudadaso explicadas por um pro-
cesso químico de lixiviação de estado estacionário, o qual pode
manter a constância observada através do tempo na razão isotópica
234
U/
238
U Essa
constância
o pode provir da lixiviação superficial
contínua de uma rocha matriz com composição uniforme, pois tal
situação faria a razão isotópica
234
U/
238
U aproximar-se da unidade
numa situação de lixiviação intensa, bem como causaria um empo-
brecimento de
234
U na superfície em virtude da lixiviação preferen-
cial de
234
U, de maneira que seria impossível manter ao longo do
tempo uma razão de atividade
234
U/
238
U enriquecida.
Quadro 18 - Parâmetros físicos e químicos das águas subterrâneas
da área cárstica de Mendip Hills, na Inglaterra
4
DISSOLUÇÃO DE URÂNIO EM
GRANITOS E SOLOS E MECANISMOS
DE TRANSFERÊNCIA DE
222
RN
PARA AS ÁGUAS
A razão de atividade
234
U/
238
U difere de acordo com o tipo de
matriz sólida com a qual a fase líquida interage, sobretudo quando
se trata de rochas ou solos. Os processos relacionados com a mobili-
zação dos isótopos
234
U e
238
U em decorrência da interação da água
com o granito Carnmenellis da Cornuália e com solos da área de
Mendip Hills na Inglaterrao discutidos neste capítulo. Também
o apresentados modelos teóricos de previsão da atividade de
222
Rn
na fase líquida a partir de uma rocha matriz produtora desse gás, os
quais foram utilizados na avaliação da radioatividade nas águas sub-
terrâneas do aqüífero cárstico em Mendip Hills, Inglaterra.
Curvas de dissolução do urânio
e outros elementos do granito Carnmenellis
As curvas de dissolução em função do tempo para os elementos
lixiviados do granito Carnmenellis por água destilada equilibrada
com a atmosferao ilustradas nas Figuras 21 e 22, onde, além dos
dados obtidos durante o desenvolvimento deste trabalho nos expe-
rimentos de longa duração, estão representados aqueles adquiridos
por Andrews et al. (1987) nos ensaios realizados em menor escala
de tempo. Conforme se observa, as curvas apresentam o mesmo
aspecto que várias das ilustradas no Capítulo 3, consistindo, em
geral, de uma porção parabólica e outra linear, mesmo quando se
referem a elementos distintos como silício, sódio e potássio. Apesar
de essas rochas matrizes serem mineralogicamente bastante dife-
rentes em relação às anteriores, novamente parece que o processo
de dissolução é caracterizado por reações de primeira ordem e de
ordem zero.
No que concerne a reações de primeira ordem, Faure (1991)
avaliou matematicamente a taxa de mudança de concentração numa
reação química, determinando, por exemplo, expressão represen-
tativa do acréscimo numa solução de qualquer produto de reação.
A equação gerada mostrou-se similar à do crescimento de um
nuclídeo filho estável radiogênico, onde, em vez de aparecer a cons-
tante de decaimento X no termo exponencial, apresentou a constante
específica de taxa de reação, K, cuja unidade é s
-1
quando o tempo
de reação é dado em s e a concentração da solução é expressa em
mol/l. Dessa forma, esta modelagem tende a ser adequada para
representar as porções das curvas obtidas nas Figuras 21 e 22,
caracterizadas por diminuição da taxa de reação com o tempo (rea-
ção de primeira ordem), evidentemente desde que diferentes valo-
res da constante K sejam atribuídos a cada situação específica
definida pelo elemento que está sendo lixiviado e pelo tempo de
lixiviação utilizado no experimento.
Outros pesquisadores também obtiveram curvas de dissolução
de aspecto similar ao encontrado neste trabalho. Por exemplo,
Wollast (1967) realizou experimentos na temperatura ambiente
com amostras pulverizadas de ortoclásio contendo 5% de quartzo
como impureza, tendo apresentado várias curvas de dissolução de
sílica em soluções de pH entre 4 e 10, compostas de ftalato ácido de
potássio 0,1M, hidróxido de sódio 0,1M e ácido bórico 0,1M; as
curvas indicaram que as reaçõeso também de primeira ordem (a
taxa de lixiviação diminui com o tempo) e de ordem zero (a taxa de
lixiviação permanece constante com o tempo). Da mesma forma,
Luce et al. (1972) avaliaram a dissolução na temperatura ambiente
dos silicatos magnesianos serpentina, forsterita e enstatita, utili-
zando amostras pulverizadas entre 100 e 200 mesh e soluções lixi-
viadoras consistindo de água destilada com baixa condutividade
cujo pH foi ajustado na faixa de 1,6 a 9,6 com HNO
3
ou KOH. Curvas de dissolução de primeira ordem e de ordem zero
foram obtidas por Luce et al. (1972) para o silício e o magnésio, e
muitos resultados foram representados em diagramas nos quais a
ordenada corresponde a 10
8
moles extraídos por cm
2
e a abscissa
corresponde à raiz quadrada do tempo de lixiviação, parâmetro que
modificou o aspecto visual das curvas relativamente àquele apre-
sentado neste trabalho. Eyal & Olander (1990) conduziram expe-
rimentos de lixiviação de amostras pulverizadas de monazita
(diâmetro médio das partículas correspondente a cerca de 1 )
empregando NaHCO
3
0,1M e Na
2
CO
3
0,1M na temperatura
ambiente (pH=9,5) como soluções lixiviadoras dos isótopos naturais
de urânio e tório (
234
U,
238
U,
228
Th
232
Th), uma vez que os comple-
xos estáveis de carbonato acelerariam a dissolução desses radioele-
mentos; com exceção do
232
Th, os dados obtidos mostraram que as
taxas de lixiviação decrescem com o tempo (reação de primeira
ordem), ao passo que para o
232
Th tenderam à linearidade (reação
de ordem zero), apesar de terem sido representados em diagramas
nos quais a ordenada correspondeu à fração cumulativa lixiviada.
As curvas de dissolução ilustradas na Figura 21 para os experi-
mentos de longa duração mostram que o sódio é lixiviado mais
rapidamente que os demais elementos; porém, à medida que
aumenta o tempo de contato entre a água destilada equilibrada com
a atmosfera e a rocha matriz, observa-se que a quantidade de cálcio
dissolvida torna-se maior que a de sódio. Para o urânio, as curvas
de dissolução ilustradas na Figura 22 mostram nitidamente que as
reações se processam em duas etapas, sendo de primeira ordem e
ordem zero. As áreas superficiais de contato, similares entre a fase
líquida e as amostras I e II de granito,o justificam a quantidade
significativamente maior de sódio, cálcio e urânio dissolvida da
amostra II; por ser o granito uma rocha matriz mineralogicamente
bastante complexa, as superfícies irregulares dos fragmentos de
rocha expostos à água diferiram muito da amostra I para a II, de
maneira que isso certamente interferiu na acessibilidade desses ele-
mentos à solução lixiviadora nos experimentos realizados. Infeliz-
mente, a falta de dados para o silício nos ensaios de longa duração
o permite avaliar melhor o seu comportamento, contudo os pou-
cos resultados disponíveis para as amostras III e IV de granito suge-
rem que a sua dissolução é comparável à do sódio e de cálcio.
Um aspecto interessante refere-se ao fato de o teor de potássio
nos granitos estudados ser bastante superior em relação ao de sódio
e cálcio (Quadro 3), porém a Figura 21 mostra que a dissolução de
potássio é menos acentuada que a destes cátions, excedendo ape-
nas a do magnésio, cujo teor na rocha é menor que o de Na, K e
Ca. Estes resultados condizem com algumas das observações de
Goldich (1938) sobre a suscetibilidade de minerais ao intempe-
rismo, determinada a partir das abundâncias de minerais primários
em saprólitos derivados de gnaisse granítico do sul de Minnesota,
Estados Unidos. Segundo o autor, a suscetibilidade ao intempe-
rismo dos silicatos formadores de rochas relaciona-se com a série
de reações de Bowen envolvendo a temperatura de cristalização
dos silicatos, ou seja, num magma, os minerais que primeiro se
cristalizam a altas temperaturaso mais suscetíveis ao intempe-
rismo do que aqueles que se cristalizam a menores temperaturas,
no final da seqüência de cristalização. Assim, de acordo com o
proposto por Goldich (1938), a olivina e o plagioclásio cálcicoo
os minerais mais suscetíveis ao intemperismo, seguidos de piroxê-
nio, hornblenda, biotita e plagioclásio sódico; o feldspato potás-
sico é mais resistente ao intemperismo que os minerais precedentes
na seqüência de cristalização, apenas alterando-se mais facilmente
que a muscovita e o quartzo. O que serviu de base para a propo-
sição de Goldich (1938) foram as observações de que os processos
intempéricos provocam rápidas perdas dos óxidos de Na e Ca, ao
passo que as concentrações dos óxidos de K e Mg declinam mais
lentamente com o tempo eo compatíveis com os dados obti-
dos nas soluções que lixiviaram as amostras I e II de granito
(Figura 21).
Dissolução do urânio em relação aos outros
elementos no granito Carnmenellis
O urânio nas rochas ígneas apresenta-se distribuído de acordo
com seis modos principais de ocorrência, segundo Neuerburg
(1956): em minerais uraníferos, em posições cristalográficas ou
defeitos estruturais dos minerais acessórios e principais minerais
formadores de rochas, em posições de troca de cátions, adsorvido
nas superfícies cristalinas e descontinuidades cristalográficas, dis-
solvido em inclusões fluidas contidas nos minerais das rochas e
dissolvido em fluidos intergranulares. Esse autor utilizou a expres-
o "urânio móvel" para designar a fração do teor de urânio na
rocha que é facilmente dissolvida, qualquer que seja seu modo de
ocorrência na rocha. A maior parte do urânio nas rochas graníticas
está presente nos minerais refratários (por exemplo, apatita, zircão
e esfênio), os quaiso resistentes ao intemperismo e raramente dis-
poníveis aos processos de mineralização secundária (Gabelman,
1977). Investigações de Tiet (1975), por exemplo, indicaram que
entre os vários minerais de granitos, isto é, quartzo, plagioclásio,
ortoclásio, biotita, anfibólio e resistatos, constituem a biotita e os
resistatos aqueles que retêm de 70% a 80% do teor total de urânio da
rocha. Uma outra estimativa de Adams et al. (1959) mostrou que
os resistatos contêm de 60% a 85% do urânio disponível nas rochas
ígneas. Dessa forma, o urânio presente nos principais minerais for-
madores de rochas constitui o que é mais suscetível à lixiviação,
principalmente quando a rocha desagrega durante o intemperismo.
As curvas representando a dissolução do urânio e demais ele-
mentos considerados neste trabalho estão ilustradas na Figura 23,
onde se nota pelos dados referentes à amostra II que o urânio conti-
nuou sendo mobilizado significativamente para a fase líquida mesmo
quando a lixiviação de sódio, potássio e magnésio praticamente
deixou de ocorrer no final do experimento. Uma confirmação disso
está no parâmetro representando a preferência de dissolução de urâ-
nio em relação a esses elementos, o qual correspondeu a 0,3, 5,5 e
1,2, respectivamente, para sódio, potássio e magnésio no início dos
experimentos, aumentando, então, para 2,3, 25,7 e 2,7 no seu final;
no caso do sódio, a dissolução diminuiu a tal ponto que permitiu ao
urânio tornar-se preferencialmente lixiviado. Para a amostra I, ten-
dência similar ocorreu apenas com o sódio, cuja razão de preferên-
cia U/Na variou de 0,5 no início do experimento para 1,2 ao seu
final; o urânio manteve-se sempre preferencialmente dissolvido
em relação ao potássio (razão de preferência U/K aproximada-
mente constante correspondente a 4,5), porém, contrariamente ao
que ocorreu com a amostra I, o magnésio manteve-se preferencial-
mente dissolvido em relação ao urânio (razão de preferência U/
Mg constante, correspondente a 0,3). O cálcio, por sua vez, sem-
pre se manteve preferencialmente lixiviado em relação ao urânio,
conforme indica a razão de preferência U/Ca correspondente a
cerca de 0,4 para as amostras I e II, tanto no início quanto ao final
dos experimentos. Os dados para silício dissolvido das amostras III
e V (Figura 23) indicam que, apesar do alto teor desse elemento na
rocha matriz (Quadro 3),o ocorreu sua dissolução preferencial-
mente à do urânio (a razão de preferência U/Si corresponde a 24
para a amostra III e 14 para a amostra V).
A composição modal para os principais minerais das amostras
de granito utilizadas nos experimentos de lixiviação corresponde a
quartzo (31%-36%), feldspato potássico (28%-33%), plagioclásio
(24%), biotita (3%-6%) e muscovita (5%-7%) (Edmunds et al., 1984).
Os íons Na
+
e Ca
2+
nas soluções em contato com este granito deri-
vam principalmente dos feldspatos, a partir de reação de hidrólise
do oligoclásio, a qual pode ser escrita como:
As reações ocorrendo com biotita possivelmente constituem a
principal fonte para o potássio dissolvido, ao passo que a menor
proporção de magnésio dissolvido em relação ao cálcio deve-se ao
fato de que o Mg
2+
permanece retido nos silicatos durante a altera-
ção, concomitantemente com a liberação de Na
+
e Ca
2+
, conforme
constatado por Goldich (1938). Embora uraninita secundária tenha
sido identificada em South Crofty e pechblenda formada a baixa
temperatura tenha sido encontrada em veios na auréola do granito
Carnmenellis (Edmunds et al., 1984), esses minerais uraníferoso
foram identificados nas rochas utilizadas nos experimentos labora-
toriais, de maneira que os demais modos de ocorrência de urânio
apontados por Neuerburg (1956) poderiam justificar a sua pre-
sença nas amostras empregadas.
Figura 23 - Relação entre o urânio e os principais elementos dissolvidos (valores cumu-
lativos) das amostras do granito Carnmenellis, Cornuália, Inglaterra, empregando-se
a solução lixiviadora (b).
Razão de atividade
234
U/
238
U nas águas
em contato com o granito Carnmenellis
Na Figura 24 estão representadas as razões de atividade
234
U/
238
U determinadas na lixiviação das amostras do granito Carnme-
nellis com água destilada equilibrada com a atmosfera, tanto nos
experimentos de longa duração conduzidos neste trabalho quanto
naqueles de curta duração realizados por Andrews et al. (1987).
Para as amostras II e V de granito, as razões isotópicas
234
U/
238
U
tenderam a se manter constantes durante a escala de tempo dos
experimentos, apresentando as curvas o mesmo aspecto daquelas
obtidas a partir dos ensaios realizados com as amostras de calcário,
em que os valores maiores que a unidade caracterizam a lixiviação
preferencial de
234
U em relação a
238
U. Contudo, as curvas geradas
para as amostras I, III e IV denotaram que a razão de atividade
234
U/
238
U
diminui
com o tempo de lixiviação, tendendo para um
valor constante ao final do experimento, situação queo havia
sido constatada em nenhum caso estudado anteriormente. Uma
possível interpretação da tendência observada reside no fato de que,
com a progressão do processo intempérico, superfícieso altera-
das tornaram-se expostas para a lixiviação em decorrência da frag-
mentação dos pedaços de rocha, fazendo-se acompanhar de finas
partículas caracterizadas por razão de atividade
234
U/
238
U unitária,
cuja dissolução total teria resultado em diminuição do valor espe-
rado na solução lixiviadora. A abundância de microfraturas des-
contínuas no granito Carnmenellis com aberturas de cerca de 10 um
foi constatada por Andrews et al. (1986), e, dependendo de sua
quantidade, a amostra submetida ao experimento de lixiviação
seria mais ou menos suscetível de fragmentação; no primeiro caso,
propiciaria a produção de um grande número de partículas finas
responsáveis pela diminuição da razão isotópica
234
U/
238
U na solu-
ção lixiviadora, conforme observado para as amostras I, III e IV de
granito. A não-observância desta tendência com o calcário do Car-
bonífera de Mendip Hills deveu-se ao fato de que essa rocha matriz
Figura 24 - Relação entre a razão de atividade
234
U/
238
U e o tempo (valores cumulati-
vos) na solução lixiviadora (b) das amostras do granito Carnmenelllis, Cornuália,
Inglaterra.
é mineralogicamente homogênea em relação ao granito Carnmenellis,
sendo também muito maciça e menos suscetível de fragmentação em
relação ao granito.
Os experimentos de lixiviação de granito conduzidos em labo-
ratório com água destilada equilibrada com a atmosfera fornece-
ram valores entre 1,2 e 2,2 para a razão de atividade
234
U/
238
U do
urânio dissolvido, os quais praticamente correspondem àqueles
determinados por Andrews (1983) nas águas subterrâneas do gra-
nito Carnmenellis. Nas águas subterrâneas pouco profundas (menos
que 57 m), cujas temperaturas variaram entre 5,5 e 12,4°C, o teor
médio de urânio dissolvido correspondeu a 1,4 mantendo-
se as razões de atividade
234
U/
238
U próximas da unidade. Para as
águas subterrâneas ocorrendo como fontes profundas nas minas de
estanho (profundidade entre 210 e 690 m), a temperatura variou de
16,4 a 43°C, o teor médio de urânio para a maioria das amostras
correspondeu a 0,5 e as razões de atividade
234
U/
238
U exce-
deram significativamente o valor unitário (variaram entre 1,26 e
2,79). Essas águas diferiram das pouco profundas pela mudança
verificada na geoquímica do urânio, em que os potenciais redox
nas mais profundas excederam +30 mV e o pH variou de 5,5 a 7,2,
condições que favorecem a mobilidade de urânio (Langmuir, 1978;
Andrews & Kay, 1983); os menores teores de urânio nessas águas
foram atribuídos por Andrews (1983) à deposição do urânio pre-
sente nas águas pouco profundas, à medida que migram para maio-
res profundidades. A maior razão de atividade
234
U/
238
U (2,79) foi
encontrada para a amostra de 250 m de profundidade, sendo consi-
derada uma conseqüência do acréscimo de
234
Th por recuo alfa a
partir do urânio depositado nas superfícies das fraturas no granito.
Nas zonas mais profundas que aquela dominada pelo recuo alfa do
234
Th, as águas subterrâneas apresentam menores razões de ativi-
dade
234
U/
238
U, decréscimo que foi associado por Andrews (1983)
à troca de urânio na solução por urânio em equilíbrio na superfície
da rocha ou, então, à mistura com águas subterrâneas mais antigas,
caracterizadas por razão de atividade
234
U/
238
U próxima do equilí-
brio (valor unitário). Contudo, os resultados obtidos nos experi-
mentos de lixiviação sugerem que o decréscimo na razão de atividade
234
U/
238
U
poderia
estar relacionado com a dissolução de finas partí-
culas portadoras de razões isotópicas
234
U/
238
U unitárias, uma vez
que a temperatura aumenta de 21 para 43°C com o aumento da
profundidade, o que certamente favorece os processos de intempe-
rismo e dissolução.
Interação água-solos de Mendip Hills
e implicações na mobilização de
234
U e
238
U
Os teores de urânio obtidos no Quadro 4 para as amostras de
solos de Mendip Hills indicaram que uma proporção significativa
desse elemento foi removida durante os processos de intemperismo
químico, acumulando-se nos horizontes superficiais A e B produ-
zidos; na Série Lulsgate, o fator de enriquecimento de urânio nos
horizontes A e B em relação à matriz calcária correspondeu a cerca
de dez vezes, ao passo que na Série Maesbury foi menor, quase o
dobro nos horizontes A e B, relativamente à matriz arenítica. Estes
dadoso compatíveis com o comportamento do urânio na zona
oxidada próxima da superfície: ela passa da valência 4+ para 6+,
que é mais estável, e forma íons complexos solúveis de uranila
(UO
2
2+
); no caso da Série Lulsgate, a rocha matriz calcária favorece
bastante a complexação do íon uranila em solução com íons carbo-
nato, motivo pelo qual se obteve o alto fator de enriquecimento de
urânio nos horizontes A e B.
Durante a infiltração das águas meteóricas, ocorrem interações
entre a fase líquida e os horizontes superficiais de solo, as quais fre-
qüentemente resultam em razões de atividade
234
U/
238
U para o urâ-
nio dissolvido maiores que a unidade, em decorrência da lixiviação
preferencial de
234
U em relação a
238
U; conseqüentemente, a fase
sólida torna-se empobrecida em
234
U, resultando em razões isotópi-
cas
234
U/
238
U menores que a unidade. Os resultados apresentados
no Quadro 4 comprovam a eficácia destes processos, pois, enquanto
as rochas matrizes das Séries Lulsgate e Maesbury apresentam valo-
res correspondentes ao equilíbrio para a razão de atividade
234
U/
238
U, os horizontes A e Bo empobrecidos em
234
U relativamente
ao
238
U. Além disso, os resultados dos experimentos de lixiviação
dessas amostras representados no Quadro 16 reforçam essas pro-
posições, pois, em praticamente todos os casos, foi possível obter
razão isotópica
234
U/
238
U maior que a unidade na fase líquida.
Um parâmetro útil para avaliar a solubilidade do urânio nos
experimentos realizados constitui o "coeficiente de mobilidade"
definido como a razão entre a concentração de urânio na solução e o
seu teor na fase sólida, o qual enfoca principalmente a fase líquida
em vez da sólida. Esse parâmetro corresponde ao inverso daquele
definido previamente como fator de enriquecimento geoquímico
(Szalay, 1964), fator de enriquecimento (Langmuir, 1978), coefi-
ciente de distribuição (Borovec, 1981) e coeficiente de adsorção
(AAEC, 1983). Alguns valores típicos de coeficiente de adsorção
para materiais naturais relativamente ao íon uranila UO
2
2+
são:
1,1-2,7xl0
6
para oxi-hidróxidos amorfos de Fe (III), 10
4
-10
6
para
turfa, 4x10
3
para goethita de granulação fina, 10
3
para montmorilo-
nita e 50 para caolinita.
Para os solos mais ácidos da Série Maesbury, esse coeficiente
permanece praticamente constante (varia entre 1,4 e 2,7xl0
-4
g/cm
3
tanto para o horizonte A quanto para o horizonte B, independente-
mente da solução lixiviadora utilizada. Os solos da Série Lulsgate
o quase neutros porque possuem uma maior proporção de íons
Ca
2+
trocáveis, verificando-se um valor quase constante do coefi-
ciente (0,6-lxl0
-4
g/cm
3
) nos experimentos conduzidos com água
destilada equilibrada com a atmosfera, tanto no horizonte A quanto
no horizonte B, o qual aumentou de três a dez vezes nos ensaios
realizados com a água destilada saturada em CO
2
. Esses resultados
sugerem que a solubilidade do urânio aumenta nos solos derivados
do calcário, mais suscetíveis à formação dos íons complexos de
carbonato de uranila quando ocorre elevação na pressão parcial
de CO
2
.
Emanação e difusão de
222
Rn
Os resultados expressos no Quadro 17(a) para o
222
Rn liberado
na fase líquida em contato com os fragmentos de calcário corres-
pondentes às amostras IV e VI (atividade Ap)o ilustrados na
Figura 25 em função do fator de crescimento é a cons-
tante de decaimento do
222
Rn e p é o período de acumulação). Con-
forme se observa, a equação relacionando a atividade do
222
Rn num
determinado instante com a atividade do
222
Rn esperada no
equilíbrio radioativo isto é, obedecida
para as duas amostras de calcário utilizadas nos experimentos.
Pode-se notar também que a atividade no equilíbrio correspon-
dente à da amostra de maior área superficial é superior à da amos-
tra de menor área superficial. A correlação, contudo,o é perfeita,
pois, enquanto a área superficial cresceu 2,4 vezes, a atividade no
equilíbrio aumentou quatro vezes.
Os mecanismos que podem causar a liberação de
222
Rn dos
fragmentos de rocha e, conseqüentemente, contribuir para o teor
de radônio observado nas águas subterrâneas são:
(1) recuo do
222
Rn após o decaimento alfa dos átomos de
226
Ra
próximos da superfície da rocha, sendo a distância de recuo do
222
Rn correspondente a 0,036 um;
(2) difusão do Rn através do retículo cristalino, a partir dos
locais de produçãoo localizados na superfície da rocha;
(3) difusão do
222
Rn ao longo de defeitos cristalinos, contornos de
grãos ou microfraturas, a partir de posições distantes da super-
fície da rocha.
O gradiente de concentração resultante da difusão de
222
Rn
num meio isotrópico infinito pode ser avaliado a partir da equação:
onde C
x
e C
0
o as concentrações de
222
Rn numa distância x a par-
tir de uma referência 0 na direção considerada e L é o alcance de
difusão para o
222
Rn (expresso em cm), definido pela expressão:
onde D é o coeficiente de difusão do
222
Rn (expresso em cm
2
/s) e
é a constante de decaimento do
222
Rn. Portanto, a concentração de
222
Rn sofre uma redução de um fator de 0,37 numa distância igual à
unidade para o alcance de difusão, e apenas 5% do
222
Rn pode atin-
gir por processos difusivos uma distância de 5L a partir do local de
sua origem. Os valores típicos para D e L envolvendo o
222
Rn na
água são, respectivamente, 10
-5
cm
2
s
-1
e 2,18 cm (Tanner, 1964).
O mecanismo de difusão no retículoo pode contribuir signi-
ficativamente para a liberação de
222
Rn das rochas matrizes, pois a
constante difusão no retículo cristalino é extremamente pequena,
ou seja, 10
-20
cm
2
s
-1
, segundo Jost (1960); além disso, o alcance de
difusão é 7x10
-8
cm, valor também pequeno, menor que a distância
de recuo de
222
Rn nos silicatos. Somente o processo de recuoo
justifica o teor de
222
Rn na água em contato com calcário do Carbo-
nífero, uma vez que um valor de 10
-7
cm
2
/s para o coeficiente de
difusão do
222
Rn foi experimentalmente determinado por Zereshki
(1983) para a mesma rocha, fornecendo um valor de 0,22 cm para o
alcance de difusão, atribuído principalmente à difusão intergranu-
lar que ocorre nessa rocha.
Figura 25 Atividade de
222
Rn na fase líquida versus fator de crescimento para os frag-
mentos de calcário de Mendip Hills, Inglaterra, correspondentes a (a) amostra IV (área
superficial total de 2.070 cm
2
) e (b) amostra VI (área superficial total de 845 cm
2
).
O valor médio do fluxo de
222
Rn desde a superfície dos frag-
mentos de calcário até a fase líquida corresponde a 7x10
-4
átomos/
cm
2
s, estimado a partir dos valores expressos no Quadro 17(a).
Esse valor corresponde a 20% daquele encontrado por Andrews et al.
(1986) para superfícies planas do granito Carnmenellis, possuido-
ras de praticamente a mesma área superficial e também circundadas
por água destilada. Entre os fatores responsáveis pela diferença,
citam-se o maior teor de urânio na matriz granítica e as microfraturas
abundantes na rocha cristalina, causadas por mudanças termais e
isostáticas associadas com o processo de cristalização, resfriamento
e erosão.
Modelos de geração de
222
Rn nas rochas
e transferência para a água subterrânea
Ao rever os modelos na literatura para a geração de radônio nas
rochas e a transferência para a água subterrânea, é conveniente
seguir a aproximação mais macroscópica utilizada por Wanty et al.
(1992) para avaliar sistemas mais representativos das condições natu-
rais. Dessa forma, embora vários modelos possibilitem razoáveis
ajustes aos dados experimentais, eles incluem muitos parâmetros
de difícil avaliação prática, que envolvem propriedades microscó-
picas como rugosidade superficial ou distribuiçãoo homogênea
de
226
Ra no sólido.
Considerando essas premissas, apresentam-se no Quadro 19
algumas equações selecionadas, concebidas supondo que os radio-
nuclídeos na série do
238
U estão em equilíbrio radioativo no sistema
água-rocha. Assim, o passo inicial na derivação das equações
assume que a atividade do radônio na água é igual à atividade do
urânio na rocha matriz. Portanto,
onde X' e X representam, respectivamente, a constante de decai-
mento radioativo do
238
U e do
222
Rn, e N' e N representam, respec-
tivamente, o número de átomos de
238
U e
222
Rn presentes no
sistema água-rocha.
O fator E (= A = F) descreve a eficiência de emanação da rocha
relativamente à liberação de radônio para a água subterrânea, tendo
sido explicitamente definido por Wanty et al. (1992) como:
Esse parâmetroo foi incluído na equação (2) do Quadro 19
em decorrência de uma falha de revisão por parte dos autores, o
mesmo ocorrendo com o parâmetro V
t
impropriamente inserido
na equação (4) do Quadro 19. Portanto, as equações (2) e (3)o
exatamente as mesmas, diferindo da equação (1) nas unidades uti-
lizadas e no termo exponencial o qual se aproxima da uni-
dade quando o tempo de residência é maior que 25 dias. A equação
(4) difere da equação (1) em razão das unidades utilizadas e do
termo o qual se aproxima da unidade quando a porosidade é
pequena. Assim, todas as equações (adequadamente corrigidas)
apresentadas no Quadro 19o equivalentes para prever a ativi-
dade de radônio nas águas subterrâneas.
Quadro 19 - Equações de previsão do teor de
222
Rn nas águas
a partir do teor de urânio nas rochas
Utilização na área cárstica de Mendip Hills
dos modelos de geração de
222
Rn nas águas
Corn o propósito de produção de dados de
222
Rn nas águas com
base nas equações apresentadas no Quadro 19, considera-se que:
(1) A água de percolação é a principal responsável pelo fluxo pro-
veniente das fontes no calcário de Mendip Hills, variando de
0,7 a 3 km a distância entre as áreas de recarga e de descarga
(Drew, 1967). A velocidade de fluxo através da zona de perco-
lação varia de 0,009 a 1,4 m/dia, correspondendo o maior
valor a situações observadas após períodos de elevados índices
pluviométricos (Andrews & Wood, 1972). Portanto, o menor
tempo de residência esperado para a água de percolação cor-
responde a 500 dias, o qual permite aproximar para a unidade
o termo exponencial da equação (1) no Quadro 19.
(2) A porosidade primária do calcário do Carbonífero é de apenas
0,18%, mas a porosidade secundária, incluindo interstícios
entre planos de fratura e vazios, relacionada à dissolução cor-
responde a 1,5% (Andrews & Wood, 1972), valor considera-
velmente maior utilizado nas equações.
(3) Uma vez que a composição química das águas estudadas deve-
se principalmente ao calcário de Mendip Hills e como a maioria
do urânio na rocha matriz está presente na fração solúvel, valo-
res de 0,99 e 1,12 representam o parâmetro [U] nas equa-
ções, respectivamente, para as amostras IV e VI de calcário.
(4) As medidas no laboratório do
222
Rn liberado das superfícies de
calcário correspondentes a 50,61 e 12,7 pCi, respectivamente,
para as amostras IV e VI permitem avaliar o parâmetro A = F
= E presente nas equações do Quadro 19. Para isso, converte-
se [U] para um valor representativo da quantidade de urânio
presente na massa de rocha empregada no experimento de
emanação (500 g). Os valores obtidoso 167,2 e 189,2 pCi,
respectivamente, para as amostras IV e VI, os quais equivalem
à atividade do radônio presente na rocha matriz, pois a condi-
ção de equilíbrio radioativo foi confirmada na série do
238
U
para o calcário de Mendip Hills. Dessa forma, o uso da equa-
ção definida para E permite estimar valores de 0,23 e 0,06,
respectivamente, para as amostras IV e VI, os quaiso bas-
tante razoáveis quando comparados com aqueles referidos por
Wanty et al. (1992), que consideraram que E quase sempre é
menor que 0,5, usualmente menor que 0,3.
Com relação aos experimentos de transferência de radônio para
a água a partir das amostras de solo, obteve-se um valor médio cor-
respondente a 80 pCi, estimado daqueles resultados de Ap apre-
sentados no Quadro 17(b). Quando se leva em conta que o teor de
urânio, a porosidade e a área superficial total das amostras de solo
o superiores aos das amostras de calcário e quando se comparam
as diferenças verificadas na atividade do radônio na água em con-
tato com o solo e o calcário, nota-se que valores muito maiores
seriam esperados para o
222
Rn transferido dos solos. Uma possível
explicação para os valores inferiores encontrados reside no fato de
que uma proporção significativa do
222
Rn dos solos deve ter sido
liberada para a água intersticial, a qualo se conseguiu remover
pela técnica de extração utilizada, descrita no Apêndice. Contudo,
mesmo assim, os valores estimados para o parâmetro E situam-se
na faixa daqueles referidos por Wanty et al. (1992), pois correspon-
dem a 0,20 e 0,13, respectivamente, para as amostras do horizonte
A e B da Série Lulsgate, sendo 0,10 e 0,12, respectivamente, para
as amostras do horizonte A e B da Série Maesbury. Do ponto de
vista de contribuição do
222
Rn dos solos para a radioatividade das
águas subterrâneas da área cárstica de Mendip Hills, verifica-se
que a transferência deve ser eficaz durante a recarga, quando, por
ocasião da infiltração das águas meteóricas, ocorre a sua interação
com as camadas de solo pertencentes ao manto de intemperismo.
Contudo, como o tempo mínimo de percolação da água até a sur-
gência é de 500 dias, todo o
222
Rn liberado pelos solos já teria desa-
parecido, restando apenas aquele derivado das interações com o
calcário - a composição química das águas do aqüífero cárstico de
Mendip Hills reflete a ocorrência de interações com o calcário.
Assim, levando em conta estas considerações e lembrando que a
densidade do calcário de Mendip Hills é 2,8 g/cm
3
, quando os
dados relativos às amostras IV e VIo inseridos nas equações do
Quadro 19, consegue-se gerar valores para o
222
Rn na água corres-
pondentes a 14.426 e 4.167 pCi/1, respectivamente.
O
222
Rn nas águas subterrâneas
de Mendip Hills e sua relação com
os dados gerados pelos modelos
Os resultados das análises de radônio dissolvido nas águas sub-
terrâneas da área de Mendip Hills estão apresentados no Quadro
20 e foram obtidos pelo emprego da metodologia descrita no Apên-
dice. Os valores para as amostras coletadas em Gurney Slade,
Shepton Mallet e Mells devem ser considerados como mínimos
porque nesses locais provavelmente ocorreram perdas de
222
Rn
antes da amostragem, conforme sugerido por Burgess et al. (1980).
A amostra de água de Wookey Hole possui um teor de
222
Rn menor
que os demais, possivelmente porque cerca de 39% do volume
desse sistema de cavernas contém ar, o que reduz a transferência de
222
Rn a partir das superfícies de calcário. Portanto, o intervalo de
variação típico para o
222
Rn dissolvido nas águas subterrâneas da
área pode ser considerado como de 125 a 495 pCi/1, correspon-
dendo sua média ao valor de 283 pCi/1.
Quadro 20 - Resultados obtidos na determinação do teor
de Rn dissolvido em águas subterrâneas da área
de Mendip, Inglaterra
*Dados de Burgess et al. (1980).
Conforme se pode observar, os valores obtidos para o teor de
222
Rn
nas amostras de águas subterrâneas de Mendip Hillso muito
menores que os gerados pelos modelos considerados. Os dados
relativos às amostras IV e VI de calcário forneceram, respectiva-
mente, valores 51 e 15 vezes superiores, e a melhor aproximação
obtida para a amostra VI deve-se ao fato de que foi obtido um coe-
ficiente de emanação mais apropriado quando os experimentos
foram conduzidos em materiais possuindo menor área superficial
específica, no caso, 1,69 cm
2
/g. Esses resultados também estão rela-
cionados com os testes realizados por Thompkins (1982) em
pequenos fragmentos ou amostras pulverizadas de minério de urâ-
nio, os quais lhe serviram de base para sugerir que as medidas rea-
lizadas com amostras menos fragmentadaso mais apropriadas
para fornecer a melhor determinação do coeficiente de emanação.
Com o objetivo de propiciar aos modelos uma condição de pre-
visão das atividades de radônio nas águas subterrâneas de Mendip
Hills, é necessário inserir um outro parâmetro nas equações do
Quadro 19, referido como K, e definido como a razão entre a área
superficial de um bloco de rocha antes da britagem e a área superfi-
cial total obtida após britagem. Tal parâmetro é adimensional e seu
máximo valor é 1, e o mínimo ocorre quando a amostra é pulveri-
zada. O conveniente é que esse parâmetro envolva aspectos realís-
ticos observados no campo, por exemplo, a espessura de 1 km do
calcário na área de Mendip Hills e a sua área de afloramento de 120
km
2
. A mais simples forma geométrica relacionada com esses
dados é um prisma retangular de 24 km de comprimento por 5,4
km de largura e 1 km de altura. A área superficial e o volume desse
prisma podem ser expressos, respectivamente, como 10,9 w
2
e
0,822 w
3
, onde w é a largura.
Quando um grande bloco de rocha possuindo qualquer forma
geométrica é subdividido em pedaços menores, as novas superfí-
cies produzidas ocasionam um aumento na área superficial em
relação àquela do materialo dividido. Esse acréscimo na área
exposta é maior quando aumenta o número de partículas geradas,
de maneira que o aumento na área superficial de uma forma geo-
métrica original em decorrência de britagem implica uma diminuição
do valor de K. Contudo, comoo há maneira única de idealizar
uma forma geométrica que poderia originar uma distribuição de
tamanho de partículas, propõe-se como material original neste
estudo um prisma cujo tamanho é proporcional àquele representa-
tivo da área de Mendip Hills: comprimento = 4,444 vezes a largura
e altura = 0,185 vez a largura.
A massa de 500 g da amostra VI de calcário (área superficial
específica = 1,69 cm
2
/g) utilizada no experimento de transferência
de
222
Rn para a fase líquida forneceu uma área superficial total de
845 cm". Se esta distribuição de partículas é usada na modelagem,
então o volume, a largura e a área superficial do prisma original
são, respectivamente, 178,57 cm
3
, 6 cm e 393,9 cm
2
. Assim, um
valor de K igual a 0,47 é estimado, o qual fornece um teor menor
para o
222
Rn previsto na água (1.958 pCi/1), mas ainda incompatí-
vel com os dados medidos nas águas subterrâneas de Mendip Hills.
Porém, se o experimento com a mesma amostra tivesse sido reali-
zado utilizando uma massa de uma tonelada, um valor de K igual a
0,037 seria obtido, o qual permite gerar 154 pCi/1 como o teor de
222
Rn previsto na água, exatamente no contexto dos dados medidos
para as águas subterrâneas de Mendip Hills.
Esses cálculos mostram que o coeficiente de emanação E depende
da área superficial específica da distribuição dos fragmentos de cal-
cário utilizados nos experimentos de transferência de
222
Rn condu-
zidos no laboratório, em que o melhor valor de E foi obtido para a
menor área superficial. Também indicam que para um determi-
nado valor de área superficial específica, o parâmetro K torna-se
dependente da quantidade de material considerada na avaliação,
sendo os melhores valores de K obtidos para maiores massas.
Obviamente existem dificuldades práticas para a realização de
experimentos no laboratório com grande quantidade de rocha;
assim, a modelagem torna-se útil para auxiliar na escolha de tama-
nhos adequados de materiais. Por exemplo, é possível definir um
prisma retangular ideal de calcário tendo as características da
amostra VI (teor de urânio =1,12 ), cujos fragmentos possui-
riam uma área superficial específica de 1,69 cm
2
/g e cujo experi-
mento de transferência forneceria um valor de 283 pCi/1 para o
222
Rn na fase líquida, exatamente igual àquele encontrado nas
águas subterrâneas de Mendip Hills. Quando esses parâmetroso
introduzidos nas equações do Quadro 19, um valor de cerca de
0,068 é gerado para K, permitindo encontrar 41, 181 e 7,6 cm, res-
pectivamente, como a largura, o comprimento e a altura do prisma,
bem como 161 kg sua massa. E evidente que se desejar reduzir o
tamanho do prisma, o experimento deve ser planejado de maneira a
utilizar fragmentos de diferente área superficial.
5
RADÔNIO E ISÓTOPOS DE URÂNIO
NAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DA BACIA
SEDIMENTAR DO PARANÁ E NO MACIÇO
ALCALINO DE POÇOS DE CALDAS
Os experimentos realizados sob condições controladas em labo-
ratório serviram de subsídio para estudo dos mecanismos relacio-
nados com a mobilização dos isótopos de urânio
234
U e
238
U, em
decorrência dos processos de interação envolvendo águas subterrâ-
neas, solos e rochas pertencentes a diferentes áreas na Inglaterra,
caracterizadas por distintos contextos hidrogeológicos. Com o pro-
pósito de avaliar as implicações dos resultados obtidos em situações
climáticas e hidrogeológicas bastante diversas daquelas descritas
nos capítulos anteriores, conduziu-se um extenso programa de
amostragem de águas subterrâneas na bacia sedimentar do Paraná
e no maciço alcalino de Poços de Caldas, no Brasil, cujas etapas
envolvidas e resultados obtidoso apresentados neste capítulo.
Aspectos geológicos da bacia
sedimentar do Paraná e do maciço
alcalino de Poços de Caldas
A vasta bacia sedimentar do Paraná constitui uma unidade geo-
tectônica estabelecida sobre a Plataforma Sul-Americana a partir
do Devoniano Inferior ou mesmo do Siluriano (Almeida & Melo,
1981), localizando-se no centro-leste da América do Sul, onde
abrange uma área de 1.600.000 km
2
distribuída pelos territórios de
quatro países (Figura 26). A parte brasileira compreende cerca de
1.000.000 km
2
, estando situada entre os paralelos 16° e 32° de lati-
tude sul e os meridianos 47° e 56° de longitude oeste; a área restante
pertence à Argentina (400.000 km
2
), ao Paraguai (100.000 km
2
) e
ao Uruguai (100.000 km
2
). A persistente subsidência dessa bacia,
embora com caráter oscilatório, permitiu a acumulação de grande
espessura de sedimentos, lavas basálticas e sills de diabásio, e na
região mais profunda da bacia a espessura total desses depósitos
pode ultrapassar 5 mil metros (Figura 27).
Figura 26 - Localização da bacia sedimentar do Paraná no continente sul-americano.
Figura 27 Secção esquemática da bacia sedimentar do Paraná (adaptado de Gilboa et
al, 1976).
No Devoniano Inferior, a área onde se desenvolveria a bacia do
Paraná encontrava-se bastante erodida, tendo sido sobre essa
superfície que possivelmente ocorreu uma transgressão marinha,
provavelmente proveniente do domínio andino. Embora se desco-
nheça a extensão originalmente ocupada por essa transgressão,
tem-se assumido que os sedimentos do Grupo Paraná constituem
remanescentes da erosão que teria afetado as camadas devonianas
(Almeida & Melo, 1981). No Estado deo Paulo, esse grupo é
caracterizado principalmente por arenitos esbranquiçados de gra-
nulação média a muito grossa, pouco rolados e com matriz caoliní-
tica; localmente se intercalam camadas de material argiloso a síltico,
micáceo, ou de arenito fino. Na base ocorrem conglomerados com
até pouco mais de um metro de espessura, cujos seixos centimétri-
cos, de quartzo e quartzito,o mal rolados e dispersos em matriz
arenosa grossa. Verifica-se, também, a presença de generalizada
estratificação cruzada, em bancos com até poucos metros de espes-
sura, originada por fluxo aquoso que também formou marcas
onduladas, localmente observáveis.
O Grupo Tubarão na bacia do Paraná contém os testemunhos
da glaciação permocarbonífera, de ingressões marinhas, restos de
flora e camadas de carvão, tendo variado bastante tanto vertical
quanto horizontalmente os paleoambientes correspondentes a esses
depósitos, o que torna a subdivisão do grupo muito difícil, quando
se procura aplicá-la a áreas extensas. Almeida & Melo (1981) con-
sideram que no Estado deo Pauloo há elementos que justifi-
quem a subdivisão do Grupo Tubarão, senão nas Formações Itararé,
Aquidauana e Tatuí. Os sedimentos da Formação Itararé consti-
tuem-se, predominantemente, de arenitos finos a grosseiros, lamitos
e diamictitos de cores amarela, vermelha e cinza-claro nas partes
superiores e inferiores; a parte média é representada por arenitos
finos, siltitos e lamitos, de cores cinza-escuro e amarela. Os areni-
tos, freqüentemente fedspáticos ou mesmo arcosianos, formam
corpos psamíticos, exibindo estruturas sedimentares singenéticas
como marcas ondulares, marcas de sola, estratificações cruzadas e
gradacionais, e também estruturas associadas a deformações plásti-
cas penecontemporâneas à deposição (DAEE, 1981). A Formação
Aquidauana constitui-se principalmente de arenitos e siltitos de
tonalidades avermelhadas, ocorrendo também folhelhos vermelhos
ou esverdeados, conglomerados, diamictitos e ritmitos. Os arenitos
finos e siltitos constituem corpos tabulares ou alongados com inter -
calações de lentes de arenito grosso, feldspático, às vezes seixosos,
ou ainda de lentes de conglomerados com matriz arenosa e seixos
centimétricos de rochas de embasamento cristalino. Os arenitos,
quandoo maciços, mostram estratificação plano-paralela ou cru-
zada, acamadada ou tangencial. A Formação Tatuí é predominan-
temente constituída de siltitos, ocorrendo também camadas de
arenitos, calcários, folhelhos e sílex. No conjunto, representa sedi-
mentação uniforme que contrasta com a heterogeneidade caracterís-
tica da Formação Itararé (Almeida & Melo, 1981).
Os sedimentos do Grupo Passa-Dois foram depositados no
Permiano Superior, sendo representados, segundo Almeida & Melo
(1981), por: siltitos, argilitos e folhelhos sílticos de cor cinza-claro a
cinza-escuro, folhelhos pirobetuminosos, localmente em alternância
rítmica com calcários creme silicificados e restritos níveis conglome-
ráticos; depósitos essencialmente marinhos incluindo siltitos, folhe-
lhos e argilitos cinza-escuros a pretos, com laminação plano-paralela;
depósitos possivelmente marinhos compreendendo folhelhos e
argilitos cinza-escuros a esverdeados ou avermelhados finamente
laminados, em alternância com siltitos e arenitos muito finos, pre-
sença de lentes restritas de calcários oolíticos e sílex; depósitos de
planícies costeiras compreendendo arenitos muito finos a médios,
esverdeados a avermelhados e subordinadamente argilitos e siltitos
avermelhados; depósitos possivelmente marinhos de planícies de
maré, incluindo argilitos, folhelhos e siltitos cinza, arroxeados ou
avermelhados com intercalações de bancos carbonáticos e camadas
de arenitos finos.
A Formação Pirambóia é uma das unidades sedimentares de
maior ocorrência no centro-leste deo Paulo, sendo as feições
morfológicas mais características constituídas por encostas escalo-
nadas e extensos areais existentes sobre as colinas tabuliformes
(Soares, 1975). O membro inferior apresenta fácies mais argilosa,
onde predomina a estratificação plano-paralela e cruzada acana-
lada de pequeno porte; as camadas de argila, folhelhos arenosos e
sílticos tambémo freqüentes. O membro superior é caracteri-
zado pela disposição dos bancos de arenitos, pouco a muito argilo-
sos, com estratificação cruzada plano-tangencial de médio a
pequeno porte, sucedidos por bancos de arenitos muito argilosos,
com estratificação plano-paralela, lamitos e argilitos arenosos,
numa clara repetição cíclica. O teor em lama (silte + argila) é bas-
tante variável, com uma média em torno de 20%; a granulação é
homogênea, variando entre muito fina a média, dominando as areias
finas e uma seleção pobre. A espessura da Formação Pirambóia
tem seu máximo em torno de 300 m na bacia do Tietê; reduz-se
para sul e nordeste do Estado deo Paulo, atingindo 150 m em
Analândia e 60 m em Franca (ibidem). Considerando os fósseis dis-
poníveis com valor cronológico, Soares (1975) situou a época de
deposição da Formação Pirambóia entre o Triássico Inferior e o
Jurássico Superior.
A Formação Botucatu constitui-se quase inteiramente de areni-
tos de granulação fina a média, uniforme, com boa seleção de grãos
foscos com alta esfericidade;o avermelhados, apresentam estrati-
ficação cruzada de grande a médio porte,o muito friáveis ou sili-
ciflcados e exibem na parte basal corpos de arenitos conglomeráticos
e conglomerado. O pacote sedimentar dessa formação constitui
uma unidade genética depositada em ambiente desértico, sendo
caracterizada fundamentalmente por uma monótona sucessão de
corpos cuneiformes de arenitos com seleção regular a boa, com teor
de lama (silte + argila) em média inferior a 10%. A espessura da
Formação Botucatu é bastante variável, porémo ultrapassa 150
m em sua faixa de afloramentos no Estado deo Paulo; a espes-
sura média é em torno de 50-70 m. Seu conteúdo de fóssil no
Estado deo Paulo é muito reduzido, restringindo-se a alguns
crustáceos, pistas de vermes e pegadas de vertebrados (Almeida &
Melo, 1981). Soares (1975) considerou o limite Jurássico-Cretáceo
como o superior para a idade da Formação Botucatu e sugeriu que
o limite inferior deve estar situado no Jurássico.
A Formação Serra Geral constitui uma designação proposta por
White (1908) para o conjunto de basaltos formados por derrames
em extenso vulcanismo de fissura, estimado em 650.000 km
3
, aos
quais estão associados corpos intrusivos de mesma composição,
constituindo, sobretudo, diques e sills (Almeida & Melo, 1981);
uma área onde muitos diques de diabásio se apresentam situa-se no
nordeste do Estado deo Paulo, próximo à borda da bacia, em
sítio onde ocorrem numerosos sills. Os derrameso formados por
rochas de cor cinza-escuro a preto, afaníticas, com espessura indi-
vidual variável, no geral, de poucos metros a 50 ou 100 m; a extensão
horizontal pode ultrapassar 10 km. Nos derrames mais espessos, a
zona central é maciça, microcristalina, fraturada por juntas subver-
ticais de contração, dividindo a rocha em colunas. Na parte supe-
rior do derrame, aparecem vesículas e amígdalas, freqüentemente
alongadas horizontalmente, estando aí a maior porcentagem de
matéria vítrea na rocha; as amígdalaso parcial ou inteiramente
preenchidas por calcedônia, quartzo, calcita, zeólitas e nontronita,
mineral que lhes imprime cor verde. A zona basal dos derrames
apresenta aspectos semelhantes, porém em espessura e abundância
sensivelmente mais reduzidas. Tanto nas porções basais como no
topo dos grandes derrames, apresentam-se juntas horizontais, repre-
sentativas de escoamento laminar da lava no interior dos derrames
(Bagolini, 1971). Petrograficamente, os basaltos da Formação Serra
Geralo constituídos principalmente de labradorita zonada asso-
ciada a clinopiroxênios (augita e às vezes pigeonita), mostrando-se
acessoriamente titano-magnetita, apatita, quartzo e raramente oli-
vina e seus produtos de alteração. A inexistência de arenito Botu-
catu na Formação Serra Geral tem sido sugerida pela dificuldade
de se efetuar a distinção entre derrames e sills, porém Almeida &
Melo (1981) apontaram várias evidências de contemporaneidade
da sedimentação e do vulcanismo, sugerindo que a Formação
Botucatu representa os diversos subambientes de um grande
deserto climático de aridez crescente, cuja existência se prolongou
até a ocasião do vulcanismo basáltico. A fase principal da manifes-
tação magmática ocorreu entre 115 e 130 milhões de anos atrás,
conforme denotaram os resultados obtidos para amostras datadas
pelo método potássio-argônio, quase sempre em rocha total (Ama-
ral et al., 1966; Melfi, 1967). Estimativas recentes da idade do vulca-
nismo pelo método
40
Ar-
39
Ar efetuadas por Renne et al. (1992) e
Turner et al. (1994) forneceram valores entre 127 e 137 Ma,o
muito diferentes daqueles referidos anteriormente; Turner et al.
(1994) também sugeriram que a duração do vulcanismo foi de 10
milhões de anos, tendo ocorrido numa baixa taxa de 0,1 km
3
/ano.
Embora o volume total do material que resultou da atividade
ígnea alcalina seja muito inferior ao das rochas basálticas, o número
de centros de intrusões conhecidos na bacia do Paraná e regiões peri-
féricas chega a ultrapassar 60 (Almeida & Melo, 1981). De impor-
tância para o presente estudo, cita-se a suíte alcalina presente no
maciço de Poços de Caldas, que se situa geologicamente nos limites
da bacia do Paraná, quase inteiramente no Estado de Minas
Gerais, embora sua borda ocidental penetre emo Paulo, na
região vizinha a Águas da Prata. É uma suíte de rochas de natureza
agpaítica, com uma prolongada evolução que teria perdurado entre
80 e 63 milhões de anos (Bushee, 1971). O complexo é de forma
circular, com um diâmetro médio de 33 km, área de aproximada-
mente 800 km
2
, altitude entre 1.300 e 1.600 m e topografia caracte-
rizada por vales, montanhas e colinas revestidas por gramíneas
(Figura 28). O planalto é uma estrutura anelar que abrange uma
suíte de rochas alcalinas vulcânicas e plutônicas, principalmente
fonólitos e nefelina sienitos. A história evolutiva começa com um
vulcanismo principal envolvendo ankaratritos, lavas fonolíticas e
rochas vulcanoclásticas, seguido por uma subsidência da caldeira
e intrusão de nefelina sienitos formando diques anelares menores e
estruturas circulares e, finalmente, a intrusão de nefelina sienitos
portadores de eudialita (Ellert, 1959).
Cessados os derrames de lavas da Formação Serra Geral, obser-
vou-se uma tendência de soerguimento epirogênico na Plataforma
Sul-Americana em território brasileiro, onde a porção norte da
bacia do Paraná caracterizou-se por embaciamentos localizados em
relação à área da bacia como um todo, tendo o Grupo Bauru se acu-
mulado nessa área deprimida, no Cretáceo Superior (Almeida &
Melo, 1981). A sedimentação do Grupo Bauru caracterizou-se
principalmente por: arenitos finos a médios, com grãos bem arre-
dondados, coloração arroxeada, estratificações cruzadas de grande
a médio porte e ocorrência local de cimento e nódulos carbonáticos;
arenitos muito finos a médios, mal selecionados, de caráter arco-
siano, geralmente maciços, apresentando localmente cimento e
nódulos carbonáticos; arenitos finos e muito finos, podendo apre-
sentar cimentação e nódulos carbonáticos com lentes de siltitos
arenosos e argilitos ocorrendo em bancos maciços, estratificação
plano-paralela e cruzada de pequeno a médio porte; arenitos de
granulação fina a grossa, compreendendo bancos maciços com
tênues estratificações cruzadas de médio porte, presença comum
de nódulos carbonáticos; arenitos com cimento argiloso e lentes
alongadas de folhelhos; arenitos conglomeráticos limonitizados,
siltitos e conglomerados oligomíticos.
Aspectos fisiográficos, climáticos e
hidrogeológicos da bacia sedimentar do
Paraná e do maciço alcalino de Poços de Caldas
A bacia sedimentar do Paraná, pela sua grande extensão, apre-
senta diferentes tipos de clima, em virtude das variações de latitude
que abrange (cerca de 20°), das condições de relevo (altitudes de
100 até aproximadamente 1.800 m) e de fatores meteorológicos
diversos (Rebouças, 1980). O traço característico evidenciado pelo
quadro morfológico é seu delineamento em altiplanos escalonados,
pois, partindo-se de leste para oeste, transpõem-se sucessivas linhas
de escarpas representadas pelos seguintes altiplanos: Serra do Mar,
Planalto Central e Planalto Ocidental da Serra Geral.
Rebouças (1980) salienta que, em termos de hipsometria, podem
ser identificadas quatro superfícies principais: 0-200 m, 200-500 m,
500-800 m e 800-1.200 m. Esculpidas em terrenos sedimentares
sub-horizontais e de diversificada litologia, essas superfícies apre-
sentam feições típicas de seus substratos (plataformas estruturais,
perfis escalonados, testemunhos tabulares, mesas e formas afins),
permanecendo a característica de planaltos dissecados e termi-
nando em cuestas marcantes ou suavizadas. O domínio hipsomé-
trico de 500 a 800 m, na sua forma tabular elevada, condiciona a
formação da expressiva cuesta Serra Geral, correspondente aos
extensos derrames basálticos. Pertence também a essa superfície a
Depressão Periférica (Almeida, 1964), cujo relevo comporta mui-
tas variações de altitude e diversificada litologia, correspondendo à
zona de afloramento das diversas formações sedimentares que
constituem os sistemas aqüíferos confinados da bacia. No extremo
norte da área, destaca-se ainda o planalto arenítico (Grupo Bauru),
dissecado pela erosão regressiva dos rios.
No amplo domínio da bacia sedimentar do Paraná, há uma
grande variação da cobertura vegetal, que vai desde extensas áreas
de campos, intensamente utilizados para agricultura e pecuária, a
áreas cobertas por densas matas virgens ou zonas de cerrado (Rebou-
ças, 1980). Os solos da bacia são, em grande parte, férteis, bem
regados e drenados por sistema hidrológico favorável. Sob clima
predominantemente favorável, as atividades agrícolas e pastoris
atingem considerável extensão e intensidade. Com relação aos solos,
a uniformidade é marcante, pois predominam, na quase totalidade
da bacia, solos lateríticos.
A chuva constitui a forma principal das precipitações na bacia do
Paraná. Pode-se dizer que a neve, praticamente,o desempenha
papel importante na área. O granizo é observado com mais freqüên-
cia, mas é de importância local; é um fenômeno que se verifica em
pequenas partes da frente de aguaceiros, escapando, por isso, à obser-
vação nas estações meteorológicas e pluviométricas (ibidem).
Figura 28 - Mapa geológico simplificado do maciço alcalino de Poços de Caldas,
(adaptado de Schorscher & Shea, 1991).
O mapa de isoietas apresentado por Rebouças (1980) mostra
que a pluviometria média anual (1931-1960) varia de 2.400 mm a
1.000 mm. O intervalo 1.200-1.400 mm abrange, virtualmente,
todo o domínio intertropical da bacia sedimentar. Os valores supe-
riores a 1.400 mm formam figuras concêntricas, atingindo o máximo
de 2.400 mm no domínio montanhoso do Paraná e do norte de
Santa Catarina.
O sistema aqüífero mais importante da região, representando
cerca de 80% do potencial hidrogeológico da bacia do Paraná, é o
aqüífero Guarani (Botucatu-Pirambóia). Um sistema aqüífero é
definido como um conjunto formado por uma ou mais unidades
litoestratigráficas que apresentam continuidade hidráulica, carac-
terísticas hidrodinâmicas, condições de recarga, circulação e des-
carga, e de qualidade de águas relativamente semelhantes. Sob essa
ótica, Rebouças (1976) denominou de sistema aqüífero Botucatu
ao conjunto litoestratigráfico formado pelas Formações Pirambóia
e Botucatu, porém Rebouças (1994) opinou pela necessidade de
revisão do conceito, considerando-as como formando dois sistemas
aqüíferos distintos em razão de conhecimentos mais recentes sobre
os respectivos modelos deposicionais, características faciológicas,
de permeabilidade e, sobretudo, de qualidade das águas, em que se
destacam os teores de fluoreto associados aos fácies lacustres da
Formação Pirambóia (Fraga, 1992).
O Guarani é um aqüífero confinado na maior parte da sua exten-
são, sendo livre apenas nas bordas da bacia. Sua espessura aumenta
no sentido do centro da bacia, onde a superfície potenciométrica da
água apresenta características de artesianismo (os níveis d'águao
de 400 m ao norte, podendo atingir 1.000 m no sul, conforme salienta
Rebouças, 1988). As direções de fluxo das águas subterrâneas con-
vergem das bordas da bacia para o seu eixo central, por onde passa a
resultante geral do fluxo de direção sudoeste (Figura 29).
A influência do relevo é importante na caracterização das con-
dições de exploração dos aqüíferos da bacia do Paraná através de
poços. Efetivamente, os níveis d'água dos aqüíferos livres tornam-
se profundos a muito profundos no domínio dos altiplanos e serras,
enquanto podem chegar a ser subaflorantes nas zonas deprimidas
do relevo. Os aqüíferos confinados, principalmente o Guarani,
apresentam condições de artesianismo nos domínios hipsométricos
situados abaixo de 500 m, em média (Rebouças, 1976). De menor
importância, do ponto de vista de potencial de exploração, apare-
cem as zonas aqüíferas da Formação Serra Geral e Grupo Bauru
(Rebouças, 1980). Outros aqüíferos inseridos nos Grupos Paraná,
Tubarão e Passa-Dois encontram-se restritos principalmente a algu-
mas zonas no domínio dos afloramentos, tornando-se rapidamente
proibitivas as possibilidades de exploração em virtude das grandes
profundidades a queo projetadas, na medida em que se caminha
para o centro da bacia (ibidem).
Figura 29 - Representação do mapa da superfície potenciométrica do aqüífero Guarani
no Estado deo Paulo (segundo Silva 1983).
As características granulométricas dominantes da Formação
Botucatuo de arenitos bem selecionados e muito finos, o que
confere ao aqüífero Guarani propriedades hidrodinâmicas de poro-
sidade/permeabilidade intergranular, relativamente homogêneas e
isotrópicas. Os sedimentos da Formação Pirambóia, ao contrário,
foram formados em ambiente lacustre/fluvial, resultando numa
grande variedade granulométrica, predominando as misturas, em
proporções variadas, de siltitos, areias e argilas (Rebouças, 1994).
Os coeficientes de condutividade hidráulica do aqüífero Gua-
rani, determinados pelos testes de formação nos poços de prospec-
ção de petróleo,m valores que variam entre K = 10
-3
cm/s (0,864
m/dia) e 10
-4
cm/s (0,086 m/dia) e porosidade entre 16% e 24%
(Rebouças, 1976).
Uma meia centena de testes de bombeamento de poços para
água, interpretados pelo método de Theis/Jacob, indica valores de
condutividade hidráulica K = 10
-2
cm/s (8,64 m/dia) para a For-
mação Botucatu propriamente dita, e de K = 10
-3
cm/s (0,864 m/
dia) para os sedimentos fluviais da Formação Pirambóia e correla-
tas. Os coeficientes de porosidade efetiva variam entre Sy = 10 e
20% nos seus domínios em condições de aqüífero livre, enquanto
os coeficientes de armazenamento variam entre S = 10
-3
e 10
-6
, à
medida que cresce o nível de confinamento (Rebouças, 1994).
No planalto de Poços de Caldas, a temperatura média anual cor-
responde a 19°C, refletindo a altitude, cujo valor médio é de cerca
de 1.300 m acima do nível do mar. A temperatura máxima situa-se
em torno de 36°C e a mínima ao redor de 1 °C, indicando a possi-
bilidade de que teria ocorrido geada na região durante fases climá-
ticas mais frias no passado (Amaral et al., 1985).
A meteorologia da região é caracterizada pela ocorrência de
períodos de seca e de alto índice pluviométrico. Mais de 80% da
precipitação ocorre entre outubro e março, verificando-se a pluvio-
metria máxima nos meses de dezembro e janeiro, cada um acumu-
lando cerca de 30 cm de chuva, e, durante a estiagem, a pluviometria
atinge valores de até 3 cm nums (Lei, 1984). A precipitação
média no período de 30 anos é de 1.700 mm, embora variabilidades
anuais ocorram, como os 2.710 mm verificados no ano de 1983
(Bonotto, 1989). Amaral et al. (1985) apontaram a ocorrência de
mais de 120 dias de chuva por ano.
Em geral, os solos tendem a ser uniformes no planalto de Poços
de Caldas, graças ao intemperismo profundo; a superfície do terreno
tende a ser homogênea em caráter, sendo a vegetação típica o campo
cerrado, sobretudo, na porção sul do planalto. Também ocorrem
outras unidades de vegetação como mata, savana e agreste, porém a
prática anual de queimadas em algumas áreas deixa pouco húmus
no terreno. Os soloso predominantemente siltosos e argilosos; o
intenso intemperismo do clima tropical contribuiu para que os
solos superficiais tendam a ser uma mistura de fina textura de cao-
linita, gibbsita e limonita. A escavação do solo por insetos também
é uma atividade marcante na área, destacando-se as térmitas, cujas
colônias abandonadaso utilizadas por bioturbadores de maior
porte, que fazem uso de túneis com aproximadamente 15 cm de
diâmetro (Holmes et al., 1992).
Uma característica marcante do planalto de Poços de Caldas é a
presença de grandes falhamentos, com várias orientações, que cor-
tam indistintamente o embasamento cristalino, os sedimentos da
bacia do Paraná e o maciço alcalino. A presença de falhas e fraturas
profundas e abertas criou condições para a infiltração de águas meteó-
ricas e para a formação de águas termais em meio fissurado, cuja
composiçãoo está relacionada a nenhuma manifestação tardia de
processos vulcânicos ou magmáticos profundos, porém é determi-
nada exclusivamente por processos de lixiviação das rochas (Cruz &
Peixoto, 1989). Assim,o se verificam aqüíferos granulares super-
ficiais de importância, ocorrendo na área do planalto de Poços de
Caldas os aqüíferos em meio fraturado. As águas subterrâneas ocor-
rem em nascentes difusas e fontes pontuais frias ou termais, estas
últimas localizadas sobretudo na depressão da cidade de Poços de
Caldas, podendo ser identificadas: uma zona aqüífera rasa, de
pequena profundidade; uma zona aqüífera intermediária e uma
zona aqüífera de circulação profunda (ibidem). Às duas primeiras
zonas, está relacionada a maior parte das fontes e águas exploradas
em poços tubulares (até 200 m de profundidade), e à última zona
estão associadas as fontes termais.
A origem das águas termais está relacionada a um extenso e
profundo sistema de fraturas abertas, do qual foram identificadas
em fotos aéreas pelo menos três direções principais: N14°E,
N50°E e E-W (ibidem). As emergências das águas termais mais
conhecidas na cidade de Poços de Caldas localizaram-se no ponto
de cruzamento ou interconexão dessas três fraturas principais. A
profundidade aparente de circulação das águas termais, estimada
com base na condutividade térmica das rochas, geotemperatura da
sílica, densidade de fluxo térmico e temperatura média anual da
superfície, é da ordem de 1.800 a 2.700 m (ibidem).
Etchebehere (1990) apresentou um modelo de sistema geoter-
mal para o planalto de Poços de Caldas, cuja configuração básica
Figura 30 - Modelo conceituai de circulação de águas subterrâneas no planalto de
Poços de Caldas (segundo Etchebehere, 1990).
Locais de coleta das amostras
Para avaliar a transferência de radônio da fase sólida para a
líquida no aqüífero Guarani, foram realizados experimentos em
laboratório envolvendo seis amostras de rochas das Formações
Botucatu e Pirambóia, coletadas na bacia do Rio Corumbataí, no
Estado deo Paulo. Uma fração pulverizada de cada amostra foi
passada em peneira de 32-60 mesh (0,25-0,50 mm), tendo sido
separada uma quantidade de 500 g, a qual foi inserida em frasco de
vidro de borossilicato de 1.000 ml, posteriormente preenchido com
água destilada à temperatura e pressão ambientes. Cada frasco foi
vedado com tampa contendo dois tubos de náilon acoplados a man-
gueiras de neoprene, mantidas seladas com pinças de Hoffmann; os
tubos foram usados para fazer conexão com o sistema de desgasei-
ficação descrito no Apêndice. Os recipientes permaneceram veda-
dos durante cerca de 40 dias, após o que se efetuou a extração do
222
Rn acumulado na água destilada pelo emprego da metodologia
utilizada na Inglaterra para as amostras de rochas e solos, conforme
descrito no Apêndice.
Para investigar o comportamento dos isótopos de urânio
234
U e
238
U, visando discutir o seu uso como traçadores naturais em con-
dições climáticas e hidrogeológicas distintas daquelas existentes
nas situações estudadas na Inglaterra, foram selecionados, para
amostragem, aqüíferos situados na bacia sedimentar do Paraná e
no maciço alcalino de Poços de Caldas. Um extenso programa de
coleta de amostras de águas subterrâneas foi realizado durante
vários anos, envolvendo, sobretudo, o aqüífero Guarani na bacia
do Paraná e fontes termais e atermais na cidade de Poços de Cal-
das. Tendo em vista a grande extensão do aqüífero Guarani e a
escassez de recursos para conduzir uma investigação abrangendo
toda a bacia sedimentar do Paraná, sua amostragem restringiu-se,
principalmente, a poços tubulares profundos perfurados em muni-
cípios localizados no Estado deo Paulo; porém, apesar disso,
graças à sua distribuição espacial, ela é representativa da tendência
geral de convergência das direções de fluxo das águas subterrâneas
para o eixo central da bacia.
A seleção dos poços perfurados no aqüífero Guarani ocorreu
por meio de visitas periódicas aos escritórios do Departamento de
Águas e Energia Elétrica do Estado deo Paulo (DAEE), emo
Paulo e Araraquara, baseando-se, sobretudo, na disponibilidade
de dados de análises químicas das águas e de dados descritivos dos
poços como altitude, profundidade, cota do topo do aqüífero, cota
do nível potenciométrico e perfil litológico. Sob esse aspecto, res-
salta-se a importância do trabalho de Silva (1983), que contribuiu
de maneira decisiva para a escolha dos locais de amostragem,
suprindo também inúmeros dados de interesse. No Quadro 21
constam os parâmetros descritivos de 61 pontos de coleta de águas
subterrâneas do aqüífero Guarani (amostras 1 a 61), onde se nota
que alguns perfis litológicos indicam que as perfurações intercep-
taram apenas a Formação Pirambóia (amostras 9, 27 e 33) e que 22
descriçõeso diferenciaram as Formações Botucatu e Pirambóia.
Os perfis descritivos dos poços correspondentes às amostras 36, 37
e 38 foram obtidos no escritório regional do Departamento de
Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp), em Ribeirão Preto,
enquanto para as amostras 39 e 48 foram conseguidos perante o
Serviço de Abastecimento de Água e Esgotos, respectivamente,
da Prefeitura Municipal de Sertãozinho e da Prefeitura Munici-
pal de Descalvado. A descrição do perfil do poço correspondente
à amostra 5 foi elaborada a partir de parâmetros fornecidos pelo
Sr. Edson Jacomossi, presidente do Sistema Integrado Thermas,
e a partir da secção geológica esquemática inserida em DAEE
(1979). Uma outra secção geológica publicada pelo DAEE (1976)
serviu de base para a elaboração do perfil do poço do qual se cole-
tou a amostra 16, ao passo que o perfil litológico apresentado por
Fraga (1992) descreveu o ponto de coleta da amostra 3. Em alguns
casos, optou-se pelao discriminação de Formações descritas,
apresentando-se apenas o Grupo do qual fazem parte, com o pro-
pósito de tornar o Quadro 21 mais compreensível. Algumas perfu-
rações penetraram formações geológicas subjacentes ao aqüífero
Guarani, como é o caso daquelas referentes às amostras 4, 5, 6, 13,
18, 25, 26, 27, 50 e 60.
A maioria dos poços perfurados destina-se ao abastecimento
das populações urbanas dos municípios onde se localizam, sendo a
água utilizada principalmente para consumo doméstico e indus-
trial. Em alguns casos, as características termais apresentadas pelas
águas de poços profundos permitem o seu uso em balneários, para
finalidades de recreação. Antigos poços profundos perfurados pela
Petrobras para a prospecção de petróleoo agora utilizados no for-
necimento de água, como é o caso, por exemplo, daqueles situados
em Presidente Epitácio, Três Lagoas e Lins, dos quais se coleta-
ram, respectivamente, as amostras 5, 16 e 25.
Um parâmetro extremamente útil para este estudo é a pressão
geostática (litostática) exercida por uma coluna de terreno compre-
endida desde o topo do aqüífero até a superfície do solo, conforme
definida por Castany (1982). Essa pressão, representada por P,
pode ser calculada a partir da expressão:
onde Pa corresponde à pressão atmosférica, refere-se à densidade
média do terreno, g é a aceleração da gravidade e h representa a
profundidade do topo do aqüífero.
Para estimar esse parâmetro nos poços perfurados no aqüífero
Guarani, utilizou-se o valor típico de 2,7 g/cm
3
da densidade dos
basaltos da Formação Serra Geral como o valor da densidade média
do terreno, por ser o aqüífero Guarani subjacente à Formação Serra
Geral, e também pelo fato de a Formação Serra Geral quase sempre
apresentar espessura muito maior que a das demais formações
superpostas. Os principais problemas que poderiam ser identifica-
dos com o emprego dessa premissa referem-se àquelas situações
nas quais a Formação Serra Geralo está sobreposta ao aqüífero
Guarani, superpondo-se, em vez dela, o Grupo Bauru ou o manto
de intemperismo, conforme indicam, por exemplo, os perfis litoló-
gicos dos poços referentes às amostras 26, 27, 30, 34, 52 e 58. Con-
tudo, como a densidade real típica dos solos é próxima de 2,7 g/
cm
3
e uma vez que para arenitos um valor usual de densidade é 2,2
g/cm
3
(Carmichael, 1990), observa-seo ser significativa a utili-
zação nos cálculos de densidades diferentes daquela do basalto,
pois as correções pouco refletiriam nos objetivos do presente traba-
lho. Quando se utilizam unidades apropriadas, consegue-se expres-
sar o termo de pressão para o aqüífero Guarani como 0,2646h
(em bar.m
-1
); tendo em vista a diferença de altitude entre as locali-
dades onde se fez a amostragem, utilizou-se o critério descrito no
Apêndice para corrigir a pressão atmosférica Pa, a partir do seu
valor no nível do mar (1,013 bar). Assim, os valores obtidos para a
pressão geostática (em bar) nos 61 pontos de coleta de amostras de
águas subterrâneas no aqüífero Botucatu/Pirambóia estão também
representados no Quadro 21, em que se nota que a maior pressão,
correspondente a 430,4 bar, foi encontrada na perfuração da Petro-
bras em Presidente Epitácio para a prospecção de petróleo (local de
coleta da amostra 5), relacionando-se com a maior espessura da
Formação Serra Geral sobreposta (1.533 m).
Procedeu-se também à amostragem de águas subterrâneas de
poços que penetraram no Grupo Tubarão (amostras 62 a 65), três
deles localizados na cidade de Águas deo Pedro, conhecida
estância hidromineral cuja principal atividade econômica reside no
turismo relacionado com a utilização dessas águas pelo balneário
municipal. Conforme esclarecem Kimmelmann e Silva et al.
(1987), os poços denominados Gioconda, Juventude e Almeida
Salles há muito tempom sido erroneamente designados de "fon-
tes", quando, na realidade, trata-se de perfurações realizadas em
1936 pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)
num programa de prospecção de petróleo; o poço DNPM n° 55
("fonte" Juventude) é o único não-jorrante, apesar de ter ocorrido
no ano de perfuração o artesianismo de um aqüífero contido em
camada de arenito (entre 288,28 e 318,84 m de profundidade) (ibi-
dem). A amostra 65 diz respeito a um estudo sistemático de águas
utilizadas para finalidades de recreação, as quais foram coletadas
de poço tubular cujo perfil litológico está descrito no trabalho de
Bonotto & Mancini (1992).
O mapa de distribuição dos pontos de amostragem de águas
subterrâneas das Formações Botucatu/Pirambóia e Grupo Tuba-
o está ilustrado na Figura 31, na qual se nota que, com exceção de
Três Lagoas, no Estado do Mato Grosso do Sul, Cornélio Procópio
e Londrina, no Estado do Paraná, todas as demais localidades
situam-se no Estado deo Paulo.
No maciço alcalino de Poços de Caldas, a amostragem de águas
subterrâneas foi conduzida em fontes termais e atermais bastante
conhecidas no município de Poços de Caldas, que também possui
no turismo uma importante atividade econômica. Coletaram-se
amostras das fontes termais conhecidas como Pedro Botelho,
Macacos e Quisisana Sulfurosa e atermais chamadas de Frayha,
Sinhazinha e Quisisana Ferruginosa. Na realidade, Pedro Botelho
representa um grupo hidrológico consistindo de três surgências
que foram reunidas em uma única captação assentada em conglo-
merado, a cerca de 5 m abaixo do nível atual do terreno; suas águas
abastecem o balneário Termas Antônio Carlos, inaugurado em
1931 (Etchebehere, 1990). A Fonte Macacos foi captada a uma
profundidade de 6 m abaixo do nível do balneário, localizando
tanto a sua surgência quanto a de Pedro Botelho no ponto de cruza-
mento ou interconexão do sistema de fraturas com direções N14°E,
N50°E e E-W (Cruz & Peixoto, 1989). A Fonte Quisisana Sulfu-
rosa na realidade é classificada como hipotermal, contudo, como
sua temperatura é superior à das fontes atermais, para fins de sim-
plificação no tratamento, ela será referida apenas como termal. Na
Figura 32 está ilustrada a localização das fontes amostradas no
município de Poços de Caldas.
Figura 31 - Localização dos pontos de amostragem de águas subterrâneas do aqüífero
Guarani e do Grupo Tubarão (adaptado de Silva, 1983).
Resultados das análises
As amostras de águas subterrâneas do aqüífero Guarani, do
Grupo Tubarão e do maciço alcalino de Poços de Caldas foram
submetidas à metodologia descrita no Apêndice para a mensuração
da atividade de
222
Rn, teor de urânio dissolvido e razão de atividade
(RA)
234
U/
238
U, constando nos Quadros 22 e 23 os resultados obti-
dos. Além disso, determinaram-se no próprio local de coleta a tem-
peratura, o pH, o potencial redox e o teor de oxigênio dissolvido, de
acordo com os procedimentos apresentados no Apêndice, estando
representados nos mesmos quadros os valores medidos, bem como
os resultados das análises químicas envolvendo os principais cátions
e ânions dissolvidos. Conforme referido nos próprios quadros, a
maioria dos dados foi compilada de trabalhos ou relatórios, porém,
quandoo disponíveis, sua aquisição fez-se pelo emprego de téc-
nicas convencionais como potenciometria (condutividade), titula-
ção (bicarbonato, carbonato), espectrofotometria com reagentes
específicos (cálcio, magnésio, potássio, sulfato, nitrato, sílica),
potenciometria com eletrodo seletivo a íons (cloreto, fluoreto),
espectrofotometria de absorção atômica (sódio), secagem e pesa-
gem (resíduo seco a 105°C). O Quadro 24 exibe os resultados da
transferência de
222
Rn dos arenitos das Formações Pirambóia e
Botucatu para as águas.
Quadro 24 - Resultados da transferência de
222
Rn das amostras
pulverizadas de arenito das Formações Pirambóia e Botucatu
para a água destilada equilibrada com a atmosfera
6
EVOLUÇÃO HIDROQUÍMICA REGIONAL
NO AQÜÍFERO GUARANI
A vasta extensão do aqüífero Guarani na bacia sedimentar do
Paraná introduz variáveis que afetam a evolução hidroquímica ao
longo das direções do fluxo subterrâneo. Ocorrem inúmeros pro-
cessos que determinam um comportamento diferenciado para os
íons maiores, implicando, por isso, mudanças nos fácies hidrogeo-
químicos. Uma vez que tais modificações afetam os mecanismos
de mobilização do radônio e dos isótopos de urânio,
234
U e
238
U e suas aplicações, será realizada, neste capítulo, uma avaliação das
principais tendências identificadas.
Relação entre a temperatura, o teor
de oxigênio dissolvido e a pressão geostática
Estudos geotérmicos realizados no aqüífero Guarani no Estado
deo Paulo indicaram uma tendência de aumento da temperatura
da água com a profundidade de confinamento do aqüífero, em razão
do grau geotérmico natural (l°C/35m). Teissedre & Barner (1981)
propuseram uma relação linear entre a temperatura (T, em °C) e a
profundidade (P, em metros) do topo do aqüífero, expressa pela
equação T = 0,0282 P + 22, tendo Silva (1983) encontrado a
mesma tendência linear a partir dos dados referentes a quase todas
as amostras analisadas neste trabalho, conforme indica sua equação
T = 0,027 P + 22,77.
Os resultados obtidos neste trabalho para a temperatura (Qua-
dro 22) foram representados em função da pressão geostática defi-
nida no capítulo anterior, estando ilustrada na Figura 33 a curva
obtida. Segundo se observa, a mesma tendência linear é novamente
encontrada (coeficiente de correlação de Pearson r igual a 0,94),
uma vez que a pressão geostática está diretamente relacionada com
a profundidade do topo do aqüífero.
Figura 33 - Relação temperatura versus pressão geostática para as amostras de águas
subterrâneas do aqüífero Guarani.
A solubilidade do oxigênio nas águas naturais depende da tem-
peratura e da quantidade de sais dissolvidos. Por exemplo, quando
se toma por base o teor de cloreto, se uma amostra a 25°C está isenta
desse ânion, a solubilidade do O
2
diminui de 5,77 ml/l para 4,77 ml/l
quando a temperatura aumenta para 36°C (Wedepohl, 1969);
porém, se o teor de cloreto corresponde a 2 g/l, a solubilidade dimi-
nui de 5,65 ml/l a 25°C para 4,68 ml/l a 36°C (ibidem). Uma vez
que a temperatura está diretamente relacionada com a pressão
geostática no aqüífero Guarani, como a solubilidade do oxigênio
diminui à medida que a temperatura aumenta, seria de esperar uma
correlação inversa entre o teor de oxigênio dissolvido e a pressão
geostática, o que efetivamente se verificou para os dados obtidos
neste trabalho, conforme ilustra a Figura 34(b). Embora algumas
amostras possam ter sofrido aeração durante a coleta, no geral, a
tendência de correlação inversa foi observada, tendo sido a signifi-
cância do valor obtido para r avaliada a partir da aplicação do teste t
unicaudal, isto é,
com n-2 graus de liberdade,
onde n é o número de pares de valores. Nesse teste, rejeita-se a
hipótese nula de não-correlação quando o valor calculado para t é
igual ou maior que o valor encontrado na tabela de valores
críticos de Student ) de significância, fixado em 0,05),
situação verificada para r = -0,69, correspondente à relação entre o
teor de oxigênio dissolvido e a pressão geostática em escala logarít-
mica (Figura 34(b)).
Figura 34 - Relação (a) intensidade iônica versus pressão geostática e (b) oxigênio dissolvido
versus pressão geostática para as amostras de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Relação entre o pH, o potencial
redox Eh e a pressão geostática
A utilização de diagramas Eh-pH no estudo de problemas
geológicos tornou-se crescente a partir dos trabalhos de Garreis
(1959), Baas Becking et al. (1960) e Garreis & Christ (1965). Dados
termodinâmicos apropriados para muitas reações devem ser utili-
zados em condições diferentes da temperatura e pressão do estado
padrão (25°C e 1 bar), embora mudanças na pressãoo introdu-
zam erros significativos nos contornos de Eh-pH calculados para 1
bar (Brookins, 1988). Considerando os resultados das análises de
amostraso usuais de águas, Krauskopf (1979) sugeriu valores de
4 e 9, respectivamente, como limite inferior e superior para o pH
das águas naturais, lembrando que nesse intervalo do diagrama
ocorrem as mais importantes reações de interesse em geoquímica.
Alguns dados de pH obtidos para as amostras de águas subterrâ-
neas do aqüífero Guarani (amostras 1, 2, 3, 4, 7, 8, 12, 13, 18, 19,
20, 22 e 25) excederam o limite superior sugerido por Krauskopf
(1979), conforme ilustra a Figura 35, porém a grande maioria real-
mente situa-se no intervalo de 4 a 9.
Os parâmetros pH e Eh refletem, respectivamente, as ativida-
des de prótons e elétrons no ambiente, contudo, como os prótons
neutralizam os elétrons, e vice-versa, ocorre que a predominância
de um tipo de carga implicará deficiência do outro. Quatro tipos de
reações químicas ocorrem nos ambientes naturais, envolvendo o
processo de neutralização, ou seja, sem a participação de prótons
ou elétrons, apenas com a participação de prótons, apenas com a
participação de elétrons e com a participação de prótons e elétrons,
este último sendo o mais comum, e, por isso, afetando tanto o pH
quanto o Eh (Baas Becking et al., 1960). Assim, segundo salientam
esses autores, uma tendência observada é que dados que possuem
baixos valores de Eho os mais comuns em pH alto do que em pH
baixo, ao passo que altos valores de Eho obtidos principalmente
em pH baixo; as características mais acentuadas seriam, então, de
sistemas oxidantes ácidos e redutores básicos.
Figura 35 - Diagrama Eh-pH para as amostras de águas subterrâneas da bacia sedi-
mentar do Paraná e do maciço alcalino de Poços de Caldas analisadas neste trabalho.
para as águas subterrâneas, considerando-as próximas da saturação
relativamente a CaCO
3
, possuindo, por isso, um pH aproximado
de 8,4; já a condição redutora ácida foi considerada típica para
águas de pântano, o que é incompatível com as amostras analisadas
neste trabalho. A condição oxidante quase neutra tornou-se evi-
denciada em praticamente quatro casos, porém os dados dos perfis
litológicos e das análises químicas (Quadros 21 e 22)o subsi-
diam a sua interpretação; Brookins (1988) atribuiu essa caracterís-
tica a águas superficiais, contudo a hipótese de que o meio basáltico
fraturado poderia possibilitar a infiltração e mistura dessas águas
tambémo pode ser mais bem avaliada com os dados disponíveis.
Convém ressaltar que, em decorrência do grande intervalo de varia-
ção da temperatura das águas do aqüífero Guarani, todos os valores
do potencial redox Eh foram adequadamente corrigidos de acordo
com a metodologia descrita no Apêndice, possuindo, por isso, sig-
nificado a representação dos pontos na Figura 35.
Segundo sugeriu inicialmente Silva (1983) e posteriormente
outros investigadores, vários parâmetros das águas subterrâneas do
aqüífero Guarani sofrem modificações na medida em que aumen-
tam as condições de confinamento do aqüífero durante a evolução
regional do fluxo subterrâneo. É o que ocorre com o pH, por exem-
plo, que se torna cada vez mais alcalino, de acordo com o aumento
do confinamento do aqüífero, conforme indica a representação dos
dados obtidos em função da pressão geostática, na Figura 36(b). A
crescente alcalinidade, por sua vez, pode se justificar pelo progres-
sivo aumento na concentração de sódio nas águas, na medida em
que o fluxo se dirige para a região central da bacia, conforme tam-
m sugere a Figura 37, que ilustra os dados obtidos em função da
pressão geostática. Quanto ao potencial redox Eh, notam-se nova-
mente modificações de acordo com o grau de confinamento do
aqüífero, pois os valores da condição predominantemente redutora
tornam-se cada vez mais negativos na medida em que aumenta a
pressão geostática, isto é, existe uma correlação inversa significa-
tiva entre esses parâmetros, segundo indica a Figura 36(a). Nos três
casos, a pressão geostática foi representada em escala logarítmica.
Figura 36 - Relação (a) Eh versus pressão geostática e (b) pH versus pressão geostática
para as amostras de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Relação entre os teores dos ânions dissolvidos,
a intensidade iônica e a pressão geostática
As mesmas tendências encontradas para o pH e o sódio foram
observadas para a maioria dos ânions referidos no Quadro 22, isto
é, bicarbonato + carbonato, cloreto, sulfato e fluoreto, estando
representados nas Figuras 37 e 38 os dados obtidos, novamente em
função da pressão geostática. O comportamento verificado para o
fluoreto confirma as considerações de Hem (1959) de que teores
desse ânion superiores a 1 mg/l estão em geral associados a águas
sódicas. Embora utilizando diferentes correlações, Silva (1983)
também sugeriu que o enriquecimento em sódio das águas subter-
râneas estudadas faz-se acompanhar do aumento da concentração
dos referidos ânions.
Uma outra maneira de expressar as tendências identificadas
para os referidos íons consiste em utilizar a intensidade iônica, defi-
nida como onde m;o as concentrações expressas
em moles e z
i
o as cargas dos íons (Faure, 1991). Os valores obti-
dos para as amostras de águas subterrâneas do aqüífero Guarani
estão representados no Quadro 25 e ilustrados em escala logarít-
mica na Figura 34(a), em função da pressão geostática. O efeito de
alguns íons inseridos no Quadro 22o se correlacionarem com a
pressão geostática torna-se anulado pelas correlações significativas
ilustradas nas Figuras 37 e 38, resultando no valor estimado de 0,75
para o coeficiente r entre a intensidade iônica e a pressão geostática.
Figura 37 ~ Relação sódio versus pressão geostática, sulfato versus pressão geostática,
cloreto versus pressão geostática e fluoreto versus pressão geostática para as amostras
de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
A solubilidade da grande maioria dos minerais aumenta com a
temperatura, de maneira que as águas termais normalmente con-
m maiores concentrações de sólidos totais dissolvidos lixiviados
das rochas do que as águas atermais, conforme também observa-
ram Leonard & Wood (1988). Os resultados obtidos para resíduo
seco e condutividade expressos no Quadro 22 também indicam
essas tendências, uma vez que o logaritmo desses parâmetros foi
correlacionado com o logaritmo da pressão geostática, fornecendo
valores significativos de r = 0,74 e r = 0,78, respectivamente, para a
correlação com o resíduo seco e com a condutividade; diagramas
ilustrativos desses dadoso constam no presente estudo, uma vez
queo acrescentam mais informações do que aquele envolvendo a
intensidade iônica, representado na Figura 34(a).
Figura 38 - Relação bicarbonato + carbonato versus pressão geostática para as amostras
de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Uma interpretação plausível dos processos responsáveis pelo
aumento de salinização no aqüífero Guarani em decorrência do
aumento da profundidade de confinamento da seqüência pré-vul-
cânica, Mesozóica, reside no modelo da evolução dos mecanismos
de concentração de flúor no sistema água-rocha proposto por
Fraga (1992), o qual inclui uma etapa de formação de precipitados
químicos ("crostas salinizadas") gerados a partir do processo de res-
secamento intenso que sofreu a sedimentação predominantemente
arenosa que cobriu a bacia do Paraná no Mesozóico. Segundo o
autor, duas fases caracterizaram a ocorrência desses precipitados, a
primeira correlacionável à formação do fácies de transbordamento
de canal da Formação Pirambóia, que se intensifica gradualmente
com a sedimentação lacustre, e a segunda, correspondente ao período
de transição Pirambóia/Botucatu, onde o clímax da sedimentação
eólica interrompeu ou estagnou o fluxo superficial, propiciando a
formação de corpos isolados; a atuação da temperatura como uma
variável catalisadora no processo de dissolução dos precipitados
químicos teria favorecido a presença mais acentuada de sulfato,
cloreto, fluoreto e sódio nas águas mais confinadas, conforme sali-
entou Fraga (1992).
Quadro 25 - Intensidade iônica e pressão parcial de CO
2
nas águas subterrâneas do aqüífero Guarani
Amostra
N°
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
Intensidade
iônica
(x10
-3
)
5,37
4.72
7,43
9,02
10,99
5,16
5,37
3,31
0,20
0,21
5.12
6,46
0,49
0,56
7,89
4,33
4,17
4,75
4,85
3,90
5,03
2.40
5,08
7,23
1,44
1,44
3,11
1,16
0,25
0,27
Pressão parcial
de CO
2
(x10
-3
atm)
0,0376
0,0195
0,0566
0,8410
0,4990
0,0660
0,0763
0,1490
93,4000
198,000
0,0901
0,0393
69,8000
63,1000
0,2350
0,4650
0,1770
0,1310
0,1440
0,3460
0,1580
34,3000
0,5390
0,0250
0,1970
0.1190
16,2000
-
23,7000
9,0500
Amostra
N°
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
Intensidade
iônica
(x10
-3
)
0,60
0,58
0,89
0,81
0,34
0,37
0,44
0,47
2.47
2,22
2,38
3,88
0,44
1,20
0,42
0,69
0,37
3,14
4,39
3,45
2,60
1,21
2,76
2,34
1,11
1,90
0,32
1,82
2.42
1.89
Pressão parcial
de CO
2
(xl0-³ atm)
159,0000
145,0000
73,6000
6,2300
64.2000
36.7000
55,6000
0,6750
0,2880
3,5700
3,4600
21,6000
12,8000
21.9000
30,2000
7.3900
24,3000
66,7000
20,0000
35,7000
72,0000
0,3330
27,0000
24,9000
16,8000
2,0600
10,9000
79,9000
14,0000
20,8000
Uma versão atualizada para microcomputador do programa
WATEQ originalmente proposto por Truesdell et al. (1974) (WATEQ
4F) foi utilizada para calcular o equilíbrio químico das espécies
inorgânicas relacionadas com os elementos maiores e menores dis-
solvidos nas águas do aqüífero Guarani, baseando-se nos resul-
tados analíticos apresentados no Quadro 22. O programa permite
avaliar a química das interações água-rocha, através de reações
possíveis de ocorrer em virtude da composição da água, as quais
definem se a fase líquida é subsaturada ou supersaturada em rela-
ção à fase sólida ous numa determinada pressão. O parâmetro
fornecido para esse propósito é o índice de saturação mineral (SI),
definido como o logaritmo da razão entre o produto da atividade do
íon considerado, IAP (constante de solubilidade utilizando as con-
centrações analíticas), e a constante de solubilidade K da reação de
dissolução de determinado mineral portador daquele íon, isto é, SI
= log (IAP/K). Se SI > 0, a solução é supersaturada, podendo ocor-
rer a precipitação do mineral considerado; contrariamente, se
SI < 0, a solução é subsaturada, podendo dissolver a fase mineral
até que a saturação seja atingida. Das 60 amostras para as quais se
utilizou o programa WATEQ 4F, obteve SI < 0 em mais de 56
casos referentes aos minerais fluorita, halita e carbonatos magne-
sita, hidromagnesita, trona, nacolita, natron, termonatrita, artinita,
huntita e nesqueonita; para os sulfatos anidrita, gipso, thenardita,
mirabilita e epsomita obteve SI < 0 nas 40 amostras para as quais se
dispõe de análises químicas (Quadro 22). Os resultados sugerem
que esses minerais solúveis poderiam estar presentes na compo-
sição dos precipitados químicos ("crostas salinizadas") propos-
tos por Fraga (1992), cuja dissolução contribuiria para justificar
muitos fácies hidrogeoquímicos observados nas águas do aqüífero
Guarani.
Sob esse aspecto, quando os resultados das análises químicas
das águaso inseridos no diagrama de Piper (1944) modificado
de maneira a incluir a presença de fluoreto, conforme ilustra a
Figura 39, constatam-se dois fácies hidrogeoquímicos principais: o
de águas bicarbonatadas cálcicas e o de águas bicarbonatadas sódi-
cas. As variações nesses tipos predominantes se verificam em razão
de peculiaridades relacionadas com a proximidade do local de
coleta em relação à área de recarga, reações químicas ocorrendo
durante as interações água-rocha ao longo das direções de fluxo
subterrâneo etc. Assim, por exemplo, nota-se que para três amos-
tras na zona de maior confinamento do aqüífero, isto é, 6, 13 e 16, o
aumento no teor de cloreto e sulfato dissolvidos alterou o caráter de
predominantemente bicarbonatado para misto. Além disso, águas
com baixo resíduo seco e condutividade, refletindo principalmente
a composição da água de chuva por denotar pouca interação com a
fase sólida, apresentam caráter misto para os cátions e ânions dis-
solvidos (amostra 11), ou caráter misto para os cátions dissolvidos
(amostras 10, 32, 46 etc). De qualquer maneira, a predominância
de bicarbonato é notória em praticamente todas as amostras selecio-
nadas, mesmo naquelas provenientes da zona mais confinada do
aqüífero.
Figura 39 - Classificação das águas subterrâneas do aqüífero Guarani segundo o dia-
grama de Piper. Teores em percentagem de mEq/1.
A pressão parcial de CO
2
e a
solubilidade dos carbonatos de cálcio
Uma notável exceção ao comportamento da maioria dos mine-
rais relativamente ao aumento de temperatura constitui o carbo-
nato de cálcio, cuja solubilidade diminui quando a temperatura
aumenta. Uma diminuição brusca no teor de cálcio dissolvido nas
águas subterrâneas do aqüífero Guarani em virtude do aumento da
temperatura da água foi constatada por Silva (1983). Reforçando
suas observações, cita-se neste trabalho a inexistência de correlação
entre o teor de cálcio dissolvido e a pressão geostática, denotando
que esse elementoo está sujeito à dissolução crescente acompa-
nhando o aumento da temperatura, conforme verificado para o
sódio e demais ânions referidos anteriormente. Além disso, para 16
amostras, a maioria com temperatura superior a 41 °C, obteve SI >
0 para a calcita, indicando a possibilidade de ocorrência de sua pre-
cipitação, novamente reforçando as considerações prévias; para
outros carbonatos, como a aragonita e a dolomita, o número de
amostras para as quais se obteve SI > 0 foi um pouco menor, res-
pectivamente 13 e 11.
A mudança na solubilidade dos carbonatos devida ao aumento
da temperatura ocorre principalmente em razão de o CO
2
tornar-
se menos solúvel quando a temperatura da água aumenta; por
exemplo, na pressão de 1 atmosfera, a solubilidade desses na
água passa de 88 ml/100 ml H
2
O a 20°C para 36 ml/100 ml H
2
O
a 60°C, ou seja, ocorre uma redução de cerca de 60% do valor a
20°C quando a temperatura sofre um incremento de 40°C (Merck,
1960). A redução na solubilidade de CO
2
implica uma diminuição
da pressão parcial desse gás, fator que favorece a precipitação dos
carbonatos de cálcio. O programa WATEQ 4F também efetua o
cômputo desse parâmetro, estando representados no Quadro 25
os valores obtidos; a sua representação em função da pressão
geostática (ambos em escala logarítmica) é ilustrada na Figura 40,
onde se observa nitidamente a tendência de diminuição da pressão
parcial de CO
2
à medida que aumenta a pressão geostática (e, con-
seqüentemente, a temperatura), confirmando, assim, a possibili-
dade de precipitação dos carbonatos de cálcio. Um aspecto
importante decorrente desse processo é a mudança do caráter cál-
cico do fácies hidrogeoquímico observado na Figura 39, passando
para sódico, naquelas situações em que o aumento progressivo do
teor de sódio dissolvido em decorrência da elevação de temperatura
o é acompanhado por um correspondente acréscimo no teor de
cálcio dissolvido.
Convém ressaltar ainda que a estimativa do índice de saturação
mineral e de pressão parcial de CO
2
pelo programa WATEQ 4F
requer que os dados termodinâmicos tenham sido apropriadamente
selecionados, prevendo mudanças nas constantes de equilíbrio em
decorrência de variações na temperatura. No caso específico do
aqüífero Guarani, essa previsão é fundamental, em razão das gran-
des diferenças de temperatura constatadas. Silva (1983), por exem-
plo, utilizou uma equação para avaliar a pressão parcial de CO
2
cuja constante de equilíbrio envolvendo a dissolução de CO
2
na
água estava definida para 25°C, a qual, ao ser utilizada para amos-
tra a 45°C, forneceu um valor igual à metade daquele obtido pelo
programa WATEQ 4F; porém, para amostra a 25°C, os resultados
obtidos foram semelhantes, indicando que o programa WATEQ 4F
realmente prevê as condições de mudança de temperatura. Quanto
a mudanças de pressão, Truesdell et al. (1974) salientam que os
seus efeitos nas constantes de equilíbrio da maioria das reaçõeso
pequenos para valores de pressão menores que algumas centenas
de atmosferas, confirmando as sugestões de Helgeson et al. (1969)
de que abaixo de 300°C as constantes de equilíbrio das reações
sofrem poucas modificações devidas à pressão, quando o valoro
excede 500 bars. O Quadro 21 mostra que a maior pressão obtida
no aqüífero Guarani é inferior a essa, confirmando assim a aplica-
bilidade do programa WATEQ 4F para as amostras analisadas.
Radioatividade devida ao radônio dissolvido
Além dos resultados expressos no Quadro 22 para a atividade
de
222
Rn nas águas subterrâneas do aqüífero Guarani, mais três
amostras foram analisadas: uma proveniente de balneário situado
na cidade de Maringá (PR) (valor obtido = 3.303 pCi/1) e duas pro-
cedentes de poços tubulares profundos perfurados na cidade de
Lins (SP) (valores obtidos = 58 e 483 pCi/1). Assim, a atividade de
Rn nas amostras analisadas da porção estudada do aqüífero Gua-
rani situa-se entre 3 e 3.303 pCi/1. Na Tabela 3 consta a análise
estatística efetuada para os dados obtidos, onde se nota um ajuste
dos valores a uma distribuição log-normal, conforme pode ser
visualizado na Figura 41. Com isso, é possível obter valores de 330
pCi/1 e 1.315 pCi/1, respectivamente, para a mediana e a moda da
atividade de
222
Rn dissolvido. A CNEN (1988) estabeleceu, entre
outros parâmetros, os limites de ingestão anual para um grande
número de radionuclídeos, porém nenhum valor de referência foi
proposto para o
222
Rn, de maneira que essa legislaçãoo pode ser
empregada na avaliação da qualidade das águas analisadas. Se os
resultados obtidoso comparados com o limite de 300 pCi/1 pro-
posto pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
(Usepa, 1991) para águas destinadas ao consumo humano, é possí-
vel constatar que esse limite é ultrapassado para muitas amostras,
acarretando especial atenção quanto à utilização da água.
Os dados expressos nos Quadros 21 e 22 para as amostras de
águas subterrâneas do aqüífero Guarani foram correlacionados
com a atividade de radônio, e a significância do valor encontrado
para r foi avaliada a partir da aplicação do teste t unicaudal. A tem-
peratura está diretamente relacionada com a profundidade do topo
do aqüífero estudado, em virtude do grau geotérmico natural (1°C/
35 m), e, conseqüentemente, com a pressão geostática no aqüífero.
Uma vez que a solubilidade do oxigênio e dos carbônico diminui
à medida que a temperatura aumenta, seriam esperadas correlações
inversas entre os teores desses gases e a pressão geostática, o que
efetivamente foi constatado (Figuras 34(b) e 40). Por ser um gás, a
mesma tendência de correlação inversa envolvendo o radônio seria
esperada, o que, contudo,o sugeriu o coeficiente de correlação
obtido.
Figura 40 - Relação pressão parcial de CO
2
versus pressão geostática para as amostras
de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Tabela 3 - Avaliação estatística dos ciados obtidos para
a atividade de
222
Rn dissolvido nas amostras de águas
subterrâneas do aqüífero Guarani
Intervalo de variação
(pCi/1)
1,86-5,14
5.14-14.18
14.18-39,06
39,06-107,61
107,61-296,50
296,50-816,90
816,90-2.250,75
2.250,75-6.201,33
Atividade
média
(pCi/1)
2.74
7,55
20,80
57,31
157.90
435,05
1.198,65
3.302,56
Freqüência
1
-
-
4
10
16
25
5
Freqüência
percentual
(%)
1,64
-
-
6,56
16,39
26,23
40,98
8,20
Porcentagem
cumulativa
(%)
1,64
1,64
1,64
8,20
24,59
50.82
91,80
100,00
Uma interessante relação inversa entre o teor de radônio dissol-
vido e a transmissividade foi encontrada por Lawrence et al. (1991)
que verificaram que altas concentrações de radônioo estão pre-
sentes em zonas de alta transmissividade. Apesar dos poucos dados
disponíveis para a transmissividade em poços tubulares no aqüi-
fero Guarani, obteve-se um valoro significativo para o coefi-
ciente de correlação envolvendo esses parâmetros. Contudo, há
que se levar em conta nessa comparação o fato de que os fluxoso
diferentes nas duas áreas de investigação, ocorrendo em meio fra-
turado (rochas cristalinas) na área de Lawrence et al. (1991) e mos-
trando-se intergranular no aqüífero Guarani.
Coeficientes de correlação significativos ocorreram entre o teor
de radônio dissolvido e os seguintes parâmetros: sulfato, conduti-
vidade e resíduo seco. Embora vários parâmetros das águas subter-
râneas do aqüífero Guarani sofram modificações à medida que
aumentam as condições de confinamento do aqüífero durante a
evolução regional do fluxo subterrâneo, tal tendênciao foi veri-
ficada para o radônio, de maneira que as correlações significativas
encontradas podem estar refletindo uma dissolução de rádio na
interface água/rocha, posterior complexação com sulfato e conse-
qüente enriquecimento de radônio na fase líquida.
Figura 41 - Atividade média de
222
Rn dissolvido versus porcentagem cumulativa para
as amostras de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Com base nas equações apresentadas no Quadro 19 e assu-
mindo que os radionuclídeos na série do
238
U estão em equilíbrio
radioativo no sistema água-rocha, é possível escrever a seguinte
expressão para a produção de dados de
222
Rn nas águas:
onde: [Rn] = teor de Rn na água; [U] = teor de U na rocha
matriz; = densidade da rocha matriz; = porosidade da rocha
matriz; E = eficiência da liberação de
222
Rn.
Analogamente às estimativas efetuadas para os solos e rochas da
Inglaterra (área de Mendip Hills), é possível gerar dados de
222
Rn
nas águas do aqüífero Guarani a partir das seguintes premissas:
(1) porosidade da rocha igual a 15%, representando a média dos
valores entre 10% e 20% referidos por Rebouças (1976);
(2) densidade da rocha igual a 1,65 g/cm
3
, valor típico encon-
trado para amostras pouco consolidadas;
(3) [U] igual a 0,7 /g, representando a média dos valores
obtidos por Kimmelmann et al. (1995) para amostras das
Formações Botucatu e Pirambóia;
(4) as medidas em laboratório do
222
Rn liberado das rochas
variaram entre 66,6 e 598,5 pCi (Quadro 24), de maneira
que o uso da equação definida para E permite estimar valo-
res entre 0,36 e 0,84 (média de 0,63) para esse parâmetro.
Assim, quando esses dadoso levados em conta, consegue-se
gerar um valor para o
222
Rn na água correspondente a 1.390 pCi/1.
Conforme se pode notar, o valor modal obtido para o teor
222
Rn nas
amostras de águas subterrâneas analisadas corresponde a 1.315 pCi/
1, muito similar ao gerado a partir dos resultados obtidos nos expe-
rimentos de transferência conduzidos em laboratório. Com isso,
constata-se que o modelo utilizado para a previsão da atividade de
radônio nas águas a partir de parâmetros determinados em laborató-
rio é adequado para interpretar a transferência desses no sistema
água-rocha correspondente à porção estudada do aqüífero Guarani.
7
POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DO USO
HIDROGEOQUÍMICO DOS ISÓTOPOS
DE URÂNIO NA BACIA SEDIMENTAR
DO PARANÁ E NO MACIÇO ALCALINO
DE POÇOS DE CALDAS
O urânio no ambiente hidrológico tem sido identificado como
solúvel principalmente na forma de complexos entre o íon uranila e
os ânions comumente dissolvidos na maioria das águas oxidantes,
comportando-se de maneira relativamente insolúvel em condições
redutoras. Esse comportamento tem implicações quando se efetua
a avaliação da qualidade das águas, do ponto de vista radiológico,
bem como tem suscitado aplicações dirigidas à cronologia, à carac-
terização de proporções de águas que contribuem numa mistura,
ou à prospecção hidrogeoquímica de jazidas de urânio. Neste capí-
tulo, procede-se a uma abordagem relacionada com esses aspectos,
por meio dos resultados obtidos na análise das amostras de águas
subterrâneas da bacia sedimentar do Paraná e do maciço alcalino
de Poços de Caldas.
Mobilização de urânio nas águas
subterrâneas do aqüífero Guarani
A dissolução de urânio nas águas subterrâneas depende do
potencial redox Eh, além de outros parâmetros, sendo uma carac-
terística típica a sua mobilização pelas águas oxidantes, quando é
solúvel na valência 6+; mas, se prevalecem condições mais reduto-
ras, a solubilidade do
238
U torna-se menor, podendo esse nuclídeo
sofrer precipitação a partir da solução. Conforme se verifica na
Figura 36, as condições redutoraso dominantes no aqüífero
Guarani, aumentando progressivamente ao longo das direções de
fluxo subterrâneo, contudo, em vez de diminuir, o teor de urânio
dissolvido apresenta tendência de elevação segundo se nota na
Figura 42, a qual ilustra a correlação significativa obtida quando os
resultados do Quadro 22o representados em função da pressão
geostática.
Figura 42 - Relação urânio versus pressão geostática para as amostras de águas subter-
râneas do aqüífero Guarani.
Uma interpretação plausível para o comportamento "anômalo"
do urânio reside na extrema facilidade com que o íon uranila forma
complexos com o carbonato, conforme constatado nos experimen-
tos de lixiviação de calcário realizados neste trabalho. Os complexos
de carbonato de uranila, por sua vez, aumentam bastante a mobi-
lidade do urânio e a solubilidade da uraninita, pois, quando a pres-
o parcial do CO
2
aumenta do valor típico de 10
-3,5
atm na
atmosfera para 10
-2
atm nas águas subterrâneas, a solubilidade da
uraninita sofre um acréscimo de mais de mil vezes para potenciais
redox Eh acima de -0,05 volts (Langmuir, 1978); embora a pressão
parcial do CO
2
no aqüífero Guarani diminua à medida que
aumenta o seu grau de confinamento (Figura 40); opostamente a
essa tendência, constata-se uma dissolução acentuada do bicarbo-
nato e do carbonato, segundo ilustra a Figura 38. Assim, espera-se
uma correlação significativa entre o teor de urânio dissolvido e o
desses ânions, caso a complexação esteja sendo favorecida, o que
efetivamente se verifica na Figura 43, ilustrativa da representação
desses parâmetros em escala logarítmica.
Figura 43 - Relação bicarbonato + carbonato versus urânio para as amostras de águas
subterrâneas do aqüífero Guarani.
Uma questão que merece ser bem discutida refere-se à possibi-
lidade de formação de complexos de carbonato de uranila nas
altas temperaturas das águas subterrâneas do aqüífero Guarani,
uma vez que nas águas naturais contendo CO
2
as temperaturas
acima de 25°C diminuem a estabilidade dos complexos de carbo-
nato de uranila, favorecendo a precipitação de uraninita (ibidem).
Para averiguar isso, recorreu-se ao diagrama Eh-pH para o sis-
tema U-O
2
-CO
2
-H
2
O, muito utilizado no estudo do transporte e
deposição de urânio em bacias sedimentares. O campo de estabili-
dade da uraninita bem cristalizada [UO
2(c)
] e uraninita amorfa
[UO
2(am)
] para a temperatura de 25°C e pressão parcial de CO, de
10
-2
atm típica das águas subterrâneas (pressão total de cerca de 1
bar) está ilustrado no diagrama proposto por Langmuir (1978),
representado na Figura 44(a), o qual também mostra a importância
relativa dos complexos de carbonato de uranila no pH típico das
águas subterrâneas. No mesmo diagrama, estão representados os
dados de pH e Eh que constam no Quadro 22, notando-se que a
grande maioria insere-se nos contornos estabelecidos para os com-
plexos de carbonato, dicarbonato e tricarbonato de uranila, suge-
rindo o transporte de urânio predominantemente sob esta forma.
Os casos indicando a inserção no campo de estabilidade da urani-
nita bem cristalizadao devem estar refletindo a sua precipitação,
pois, além de se opor à tendência verificada de dissolução de urâ-
nio, espera-se que ocorra inicialmente a precipitação de U(IV)
como oxi-hidróxidos relativamente amorfos em vez de uraninita
bem cristalizada (ibidem); sob essa ótica,o se constatou a inser-
ção de nenhum ponto no campo de estabilidade da UO
2(am)
, e, com a
ampliação dos contornos referentes aos complexos de carbonato,
dicarbonato e tricarbonato de uranila, sugere-se que a mobilização
do urânio predominantemente sob esta forma poderia estar ocor-
rendo em praticamente todos os casos.
O efeito da variação de temperatura pode ser avaliado num caso
extremo, para o qual se dispõe de diagrama Eh-pH para o sistema
U-O
2
-CO
2
-H
2
O à temperatura de 100°C e pressão total de 1 bar,
conforme elaborado por Brookins (1984). O diagrama está ilus-
trado na Figura 44(b), em queo consta o campo de estabilidade
da uraninita amorfa, por se formar a menores temperaturas,
segundo salienta Langmuir (1978); também se observa que os con-
tornos do dicarbonato de uranila se alargam, eliminando o campo
do carbonato de uranila. A inserção dos dados de pH e Eh do Qua-
dro 22 na Figura 44(b) mostra, agora, que praticamente todos estão
presentes nos contornos estabelecidos para o dicarbonato de ura-
nila, denotando, então, que a variação de temperatura afetaria ape-
nas as proporções relativas do urânio transportado como carbonato,
dicarbonato ou tricarbonato de uranila. Quanto a variações de
pressão, poucos efeitos apresentam nos contornos dos diagramas
Eh-pH para valor até 500 bar (Helgeson et al., 1969),o afetando
as amostras de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Figura 44 - Inserção dos dados das amostras de águas subterrâneas do aqüífero Gua-
rani nos diagramas Eh-pH de Langmuir (1978) e Brookins (1984) para o sistema U-
O
2
-CO
2
-H
2
O (a) a 2C de temperatura e 1 bar de pressão total e (b) a 100°C de tem-
peratura e 1 bar de pressão total. UO
2(c)
representa uraninita bem cristalizada e
UO
2(am)
uraninita amorfa.
Modificações das razões isotópicas
234
U/
238
U
nas águas subterrâneas do aqüífero Guarani
A razão de atividade
234
U/
238
U nas águas subterrâneas do aqüí-
fero Guarani apresentou uma grande variabilidade, de 1 a 28, con-
forme se pode notar no Quadro 22. Correlações efetuadas entre
esse parâmetro e os demais resultados das análises químicas indica-
ram um valor significativo apenas no caso do cálcio, constando na
Figura 45 a representação dos dados obtidos. Um coeficiente de
correlação um pouco melhor seria obtido (r = 0,43) se, em vez de
utilizar todos os dados, o cálculo tivesse considerado apenas aque-
les queo indicaram a possibilidade de precipitação de carbona-
tes de cálcio (SI > 0). Assim, verifica-se uma tendência geral de
enriquecimento de
234
U nas águas à medida que aumenta a dissolu-
ção de cálcio, tendência que encontra suporte nos resultados dos
experimentos de lixiviação conduzidos em laboratório e discutidos
no Capítulo 3, embora, naquela situação, tenham sido menores os
valores obtidos para a razão isotópica
234
U/
238
U.
Figura 45 - Relação razão de atividade
234
U/
238
U versus cálcio para as amostras de
águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Contudo, a extensão da área investigada, a possibilidade de
ocorrência de reações químicas ao longo das direções de fluxo sub-
terrâneo e a grande suscetibilidade do urânio a variações das condi-
ções redoxo alguns fatores que introduzem dificuldades na
avaliação detalhada do comportamento da razão isotópica
234
U/
238
U, visando a seu emprego no aqüífero considerado. Para exem-
plificar isso, podem ser utilizados os dois perfis esquemáticos ela-
borados por Silva (1983) e ilustrados na Figura 46.
Constata-se, inicialmente, a tendência identificada de aumento
da razão de atividade
234
U/
238
U com o acréscimo no teor de cálcio
dissolvido para as seguintes situações:
1) Na Figura 46(a), a razão isotópica
234
U/
238
U muda de 1,2-
1,6 nas amostras 7 e 8 para 4,6 na amostra 16, acompa-
nhando a elevação do teor de cálcio de 0,9-1,3 mg/l para
4,5 mg/l, ao longo da direção do fluxo subterrâneo.
2 ) Na Figura 46(b), a razão isotópica
234
U/
238
U igual a 3 e o
teor de cálcio dissolvido igual a 1 mg/l na amostra 58o
menores que os valores encontrados na mesma localidade
para a amostra 59, respectivamente, 6,3 e 14,5 mg/l.
3) Na Figura 46(b), a razão isotópica
234
U/
238
U igual a 1,9 e o
teor de cálcio dissolvido igual a 5 mg/l na amostra 53o
menores que os valores encontrados para a amostra 57, res-
pectivamente, 2,2 e 19,8 mg/l, os quais, por sua vez,o
menores que aqueles obtidos para a amostra 54, respecti-
vamente, 5,3 e 26 mg/l; o aumento progressivo do teor de
cálcio e o enriquecimento de
234
Uo acompanham, nesse
caso, a direção do fluxo subterrâneo, afetada por falhamen-
tos,o se distanciando muito entre si os locais de coleta.
As características de potencial redox e de pH das amostras 5 e 6,
cujos locais de coleta estão ilustrados na Figura 46(b),o relativa-
mente similares. A razão isotópica
234
U/
238
U muda de 1,6 na amos-
tra 6 para 4,3 na amostra 5, sendo acompanhada por um pequeno
acréscimo no teor de cálcio dissolvido, passando de 4,4 a 4,9 mg/l
ao longo da direção do fluxo subterrâneo, o que se poderia justifi-
car pelo fato de que a amostra 5 deve estar apresentando uma preci-
pitação mais acentuada de carbonatos de cálcio, reduzindo assim a
presença de cálcio dissolvido (o índice de saturação SI para a cal-
cita, por exemplo, confirma isso, pois para a amostra 5 ele é +0,63,
mais positivo que o da amostra 6, igual a +0,53).
Figura 46 - Secção geológica de (a) Ribeirão Preto a Três Lagoas (AA') e (b) Avaré a
Presidente Epitácio (BB') mostrando as direções de fluxo d'água no aqüífero Guarani
(adaptado de Silva, 1983).
Uma outra situação que poderia ser explicada por meio de argu-
mentos similares refere-se às amostras 40 e 41, cujos locais de coleta
estão ilustrados na Figura 46(a). Conforme se constata, a razão iso-
tópica
234
U/
238
U aumenta de 1,2 na amostra 41 para 2,3 na amostra
40, porém o teor de cálcio dissolvido diminui de 19 mg/l na amos-
tra 41 para 16,8 mg/l na amostra 40, decréscimo que poderia ser
justificado pela ocorrência de precipitação de carbonatos de cálcio,
segundo sugerem os valores positivos de SI relativamente à calcita
e aragonita encontrados para a amostra 40 (para a amostra 41 o
valor de SI é negativo para esses carbonatos, indicando queo
está ocorrendo sua precipitação).
Para as amostras 21 e 4, cujos locais de coleta estão ilustrados,
respectivamente, nas Figuras 46(a) e 46(b),o se constatam as
tendências descritas anteriormente envolvendo a razão isotópica
234
U/
238
U e o teor de cálcio, verificando-se, em vez disso, um com-
portamento para o urânio dissolvido relacionado com sua susceti-
bilidade a variações no potencial redox. No primeiro caso, o teor de
urânio dissolvido diminui ao longo da direção de fluxo subterrâ-
neo, passando de 1,2 g/l na amostra 41 para 0,6 g/l na amostra
21, decréscimo que é acompanhado de redução no potencial redox,
passando de +149 mV para -51 mV, porém também seguido de
elevação no valor da razão isotópica
234
U/
238
U, a qual passa de 1,2
para 2,9. Na segunda circunstância, o teor de urânio dissolvido outra
vez diminui ao longo da direção de fluxo subterrâneo, mudando de
1,1 na amostra 53 para 0,4na amostra 4, decréscimo
novamente acompanhado de redução no potencial redox (passa de
+457 mV para -66 mV) e de aumento na razão de atividade
234
U/
238
U (muda de 1,9 para 2,7). Esse comportamento de diminuição do
teor do urânio dissolvido e aumento da razão de atividade
234
U/
238
U à medida que se atingem condições mais redutoras no aqüífero
tem sido muito destacado em literatura, ressaltando aplicações hidro-
geológicas para os isótopos de urânio,
234
U e
238
U, sobretudo em terre-
nos sedimentares (Cowart & Osmond, 1974, 1977; Kronfeld &
Adams, 1974; Osmond et al., 1983; Cowart, 1980).
Outra situação que exemplifica alterações no teor de urânio dis-
solvido decorrentes de variações no potencial redox constitui
aquela envolvendo as amostras 36, 37 e 38, procedentes da mesma
localidade, conforme ilustra a Figura 46(a). Os pontos de coleta
situam-se na área de recarga do aqüífero e a composição química
das amostras reflete principalmente a ocorrência de poucos proces-
sos de interação água-solo/rocha. Segundo se observa, o teor de
urânio dissolvido diminui de 0,60 na amostra 36, para 0,24
na amostra 38 e daí para 0,13 na amostra 37, decréscimo
que é também acompanhado de redução no potencial redox, o qual
passa, respectivamente, de +168 mV para +92 mV e para +31 mV,
bem como mais uma vez é seguido de elevação na razão isotópica
234
U/
238
U (aumenta de 1,7 para 2,7 e daí para 7,5). Neste caso, as
variações do potencial de óxido-redução possivelmente relacio-
nam-se com processos envolvendo o ânion nitrato, pois o seu teor
nas amostras 36 e 38 é bastante diferente quando comparado com o
da amostra 37.
Ao se considerarem as transformações envolvendo a migração de
nitrogênio no manto de intemperismo, verifica-se que, quando o
íon amônio atinge as águas subterrâneas, pode ocorrer o processo de
nitrificação se existir quantidade suficiente dos microrganismos
Nitrosomonas (para a oxidação de amônio para nitrito) e Nitrobacter
(para a oxidação de nitrito para nitrato) (Haan & Zwerman, 1976).
Ainda, segundo os autores, a temperatura ideal para a atuação
microbiológica é de 25 a 30°C, sendo o processo favorecido se existir
oxigênio livre disponível e condições ácidas (pH entre 5 e 5,5). Ape-
sar deo constarem no Quadro 22 valores para o teor de NH
4
+
dis-
solvido, análises realizadas pelo Departamento de Água e Esgotos
de Ribeirão Preto (Daerp) forneceram valores de 0,010, 0,027 e
0,019 mg/l, respectivamente, para as amostras 36, 37 e 38, coletadas
em março de 1995. Os menores teores obtidos para as amostras 36 e
38 sugerem que poderia estar ocorrendo nitrificação a partir do íon
amônio, pois, além de existirem as condições apropriadas, o processo
diminui o pH e o teor de oxigênio dissolvido, conforme verificado
para essas amostras relativamente à 37, aindao afetada significati-
vamente por ele; as reações de nitrificação identificadas por Szikszay
et al. (1990) foram em parte justificadas pelos argumentos apresen-
tados. Ainda, o diagrama Eh-pH para o sistema N-O-H (Brookins,
1988) mostra que os nitrogênio ocupa praticamente todo o campo
de estabilidade, ocorrendo o íon nitrato em condições oxidantes e
o íon amônio em condições redutoras. Assim, conforme também
salientam Edmunds et al. (1987), a formação de NH
4
+
a partir de
N
2(g)
somente pode ocorrer em condições altamente redutoras, isto
é, para Eh menor que -200 mV, e, uma vez queo foram constata-
dos valores dessa ordem para as amostras 36 e 38, descarta-se uma
possível proveniência de NH
4
+
a partir dos nitrogênio dissol-
vido, sendo sua fonte provavelmente antropogênica. Embora a
questão seja de interesse do ponto de vista da qualidade das águas,
para os propósitos desta investigação as reações de nitrificação
estariam afetando as condições redox das águas e, conseqüente-
mente, o teor de urânio dissolvido e a razão isotópica
234
U/
238
U.
Razão isotópica
234
U/
238
U e idade das
águas subterrâneas do aqüífero Guarani
A idade de uma massa de água subterrânea é um parâmetro
difícil de avaliar, pois a técnica analítica utilizada pode fornecer um
valor queo esteja relacionado com as mudanças geoquímicas
que ocorrem durante a sua evolução, sendo necessário, além disso,
que a amostra seja representativa da formação da qual foi coletada.
Assim, qualquer que seja a metodologia utilizada, premissas apro-
priadas devem ser obedecidas de maneira a fornecer uma interpre-
tação plausível ao valor obtido. O emprego das variações da razão
isotópica
234
U/
238
U do urânio dissolvido para a datação de águas
subterrâneas é complicado pelo fato de que o urânio em solução
o forma um sistema quimicamente fechado, pois a dissolução ou
deposição de urânio e o crescimento de
234
U em decorrência do
recuo alfa do
234
Th na interface água/rocha podem ocorrer à
medida que a água subterrânea migra no aqüífero.
Os inúmeros experimentos de lixiviação descritos neste estudo
mostraram que o
234
U é dissolvido preferencialmente em relação ao
238
U em rochas e solos, confirmando os resultados de outras inves-
tigações, de maneira que a taxa de dissolução do
234
U é diferente
daquela do
238
U. Kigoshi (1971) também sugeriu que o recuo alfa
do
234
Th da superfície da rocha para a fase líquida constitui outro
importante mecanismo que enriquece as águas em
234
U. Andrews
& Kay (1978) propuseram a seguinte equação para prever a geração
de uma razão de atividade
234
U/
238
U (RA) para o urânio dissolvido,
pela combinação dos processos de lixiviação e recuo, ocorrendo
desde t anos atrás:
onde R corresponde à distância de recuo do
234
Th na rocha matriz
(cerca de 3xl0"
6
cm), 0,235 é a fração de átomos de
234
Th nessa dis-
tância que pode deixar a superfície do mineral por recuo alfa e atin-
gir a solução, é a constante de decaimento do
234
U e K
4
e K
8
o as
constantes de taxa de lixiviação (cm a'
1
) para a dissolução de
234
U e
238
U, respectivamente.
A dissolução mais ativa de urânio ocorre em condições oxidan-
tes, as quais geralmente se verificam na zona de recarga do aqüí-
fero. Uma água subterrânea que dissolveu urânio próximo à recarga
pode sofrer mudança no teor desse elemento em razão de uma lixi-
viação adicional, ou, se o potencial de óxido-redução muda para
condições redutoras, em razão de deposição de urânio e posterior
enriquecimento em
234
U
por processos de recuo alfa do
234
Th.
Andrews et al. (1982) estabeleceram um modelo de evolução da
razão de atividade
234
U/
238
U, depois que a água subterrânea pene-
tra a zona redutora caracterizada pela dominância dos processos de
recuo alfa do
234
Th, definido a partir da equação:
onde RA
i
e RA
t
o as razões de atividade
234
U/
238
U da água sub-
terrânea, respectivamente, antes e depois de penetrar a zona redu-
tora; t é o tempo em anos transcorrido até a água atingir a zona
redutora (idade da água); p é a densidade da rocha (g/cm
3
); [U]
r
e
[U]
s
o os teores de urânio na rocha e na água subterrânea em
e respectivamente; S é a área superficial de rocha em contato
com determinado volume de água subterrânea (cm
2
/cm
3
) e os demais
parâmetroso os mesmos referidos anteriormente. O segundo
termo nessa equação representa o decaimento do excesso de
234
U
adquirido por lixiviação seletiva antes que a água subterrânea atin-
gisse as condições redutoras, ao passo que o terceiro termo avalia o
enriquecimento da razão de atividade
234
U/
238
U na água subterrâ-
nea devido ao recuo alfa, depois que atingiu a zona redutora. O
valor de S relaciona-se com a área superficial específica s (cm
2
/g) e
com porosidade total do aqüífero pela equação sendo
sua magnitude dependente da natureza da porosidade do aqüífero,
de maneira que os valores nos aqüíferos cujo fluxo é intergranular
o maiores que aqueles nos quais o fluxo se dá predominante-
mente através das grandes fraturas.
O modelo foi aplicado com sucesso na avaliação de aqüíferos
em terrenos sedimentares e cristalinos por Andrews et al. (1982) e
Andrews & Kay (1982, 1983). As condições envolvendo o poten-
cial redox, o teor de urânio dissolvido e a razão isotópica
234
U/
238
U
favorecem a sua utilização nos pontos de coleta correspondentes às
amostras 21 e 4 do aqüífero Guarani (Figura 46). Para tanto, consi-
dera-se:
(1) porosidade da rocha igual a 20%, representando valor refe-
rido por Rebouças (1976);
(2) diâmetro médio dos grãos no arenito igual a 0,164 mm,
referido por Azevedo et al. (1981), o qual possibilita estimar
a área superficial específica da rocha pela equação
onde r é o raio do grão e p é a densidade da rocha;
(3) densidade média da rocha igual a 2 g/cm
3
, representando a
média de amostras silicificadas e pouco
consolidadas
(4) S igual a 1.829 cm
-1
, estimado a partir dos parâmetros (1),
(2)e(3);
(5) do
234
U igual a 2,79xl0-
6
ano
-1
;
(6) [U]
r
igual a 1,58 representando a média de três valo-
res obtidos neste trabalho pela aplicação da metodologia
descrita no Apêndice e de um valor apresentado por Kim-
melmann et al. (1995);
(7) [U]
s
igual a 0,4 para a amostra 4 e 0,6 para a
amostra 21;
(8) RA
i
igual a 1,9 para a amostra 4 e 1,2 para a amostra 21;
(9) RA
t
igual a 2,7 para a amostra 4 e 2,9 para a amostra 21.
Quando todos esses valoreso substituídos na equação pre-
vista pelo modelo isotópico de urânio, verifica-se que idades de
32.276 anos e 106.750 anoso obtidas, respectivamente, para as
amostras 4 e 21. Estudos isotópicos conduzidos no aqüífero Gua-
rani por Silva (1983) e confirmados por Kimmelmann e Silva et al.
(1989) e Kimmelmann et al. (1995) indicaram que suas águaso
originárias principalmente das infiltrações pluviométricas que
ocorrem nas áreas de afloramento do aqüífero; os resultados das
análises de obtidos por Silva (1983) dispuseram-se ao
longo da reta meteórica regional traçada a
partir de dados obtidos para amostras coletadas no ano hidrológico
1981-1982 (a relação é muito próxima da reta de águas meteóricas
mundiais apresentada por Craig (1961)). Do ponto de vista de
idade, os mesmos autores apresentaram dados relativos ao C,
alguns deles superiores ao máximo de 30 mil a 40 mil anos previsto
pela técnica, porém sem definição de valor; sob esse aspecto, cons-
tata-se que o modelo isotópico de urânio possibilitou atingir para a
amostra 21 uma datação bem mais antiga que as previstas pelo
método do
14
C. Os valores obtidos por Silva (1983) para as amos-
tras 4 e 21 foram, respectivamente, 18.900 anos e 8.300 anos,
menores que os determinados pela razão isotópica
234
U/
238
U.
Uma análise comparativa das idades encontradas pelos dois
métodos é difícil quando se levam em conta as premissas relaciona-
das com cada um deles. Por exemplo, a datação de águas através de
14
C prevê a realização de correções para a dissolução de carbonatos
isentos de
14
C e troca de
I4
C entre o bicarbonato dissolvido e os car-
bonatos do aqüífero (Thilo & Munnich, 1970). Essas correções ou
outras sugeridas em literaturao foram realizadas por Silva
(1983), que considerou seus dados baseados na análise de
14
C como
idades "aparentes" no aqüífero Guarani. Já o método dos isótopos
de urânio é bastante sensível a processos de mistura mesmo em
aqüíferos onde o fluxo é predominantemente intergranular, podem
ocorrer entre a água intersticial e a procedente de sistemas cujo
fluxo se processa através de fissuras, situação queo se pode des-
cartar na área investigada.
Algumas idades elevadas foram observadas por Silva (1983) em
poços próximos à zona de afloramento do aqüífero, tendo sido atri-
buídas à compartimentação da área ou ao posicionamento nas pro-
ximidades de alinhamentos estruturais, fatores que restringiriam a
circulação das águas, tornando-a lenta. Embora idades mais anti-
gas que 0,1 M.a. tenham sido determinadas em águas subterrâneas
de formações sedimentares, somente pesquisas mais detalhadas
poderão esclarecer se o valor encontrado para a amostra 21 possui
algum significado. Os resultados obtidos pelo emprego da meto-
dologia de datação descrita expressam a primeira tentativa reali-
zada no Brasil de demonstrar a aplicabilidade da técnica, uma vez
que os dados obtidos por Gomes (1978) para idades de águas sub-
terrâneas a partir dos isótopos de urânio basearam-se na utilização
de premissas diferentes.
Mistura de águas subterrâneas
do aqüífero Guarani
A estimativa de proporções de águas subterrâneas de diferentes
procedências que contribuem numa mistura constitui uma outra
aplicação em hidrogeologia dos isótopos de urânio,
234
U e
238
U. A
modelagem foi elaborada por Osmond et al. (1968, 1974) que con-
sideraram as águas naturais como um sistema de diluição isotópica
no qual as variações da razão
234
U/
238
U ocorreriam apenas com a adi-
ção de urânio, pela lixiviação das rochas circundantes ou da mistura
com outras águas contendo urânio; estando o urânio em solução,
sua razão de atividadeo seria afetada por diluição ou precipita-
ção. Ao se misturar uma água 1 com uma água 2 para produzir uma
água T, cada uma com uma concentração C de urânio (em g/l) e
razão
234
U/
238
U, poderiam ser escritas as seguintes relações:
onde V é o volume de água (em litros), M é a quantidade de urânio
(em microgramas), S é o inverso da concentração de urânio e A é a
razão de atividade
234
U/
238
U.
O rearranjo dessas expressões possibilita calcular os volumes
relativos das duas águas na mistura, ou seja:
A água resultante T possui valores de razão de atividade
234
U/
238
U e inverso de concentração de urânio pertencentes à reta que
une os dados relativos às águas 1 e 2, conforme ilustra a Figura 47.
Quando sem águas de diferentes procedências, caracterizadas
por distintos valores de concentração de U e razão isotópica
234
U/
238
U, da sua mistura poderá resultar uma água cujos valores de A e
S inserem-se dentro de um triângulo formado pelos dados relativos
aos três componentes, o que também é ilustrado na Figura 47. Se
um sistema desse tipo é reconhecido, então existe uma solução
única para os volumes relativos das águas na mistura, por exemplo,
as proporções volumétricas entre a água 1 e a resultante da mistura
e entre a água 2 e a resultante da misturao equacionadas pelas
expressões:
Um sistema com dois componentes foi investigado por Bonotto
(1994) no Morro do Ferro, Poços de Caldas (MG), e, no contexto
dos resultados obtidos neste trabalho, o modelo é aplicado para
avaliar as mudanças ocorridas no teor de urânio dissolvido em
Ribeirão Preto, onde se coletaram as amostras 36, 37 e 38. Tais
mudanças estão associadas com variações no potencial redox, pos-
sivelmente decorrentes do processo de nitrificação. Os parâmetros
necessários para isto estão representados no Quadro 26 e foram
inseridos no diagrama da Figura 48, no qual a ordenada representa
a razão isotópica
234
U/
238
U e a abscissa o inverso da concentração
de urânio. Segundo se observa, a reta ajustada aos dados experi-
mentais possui um razoável coeficiente de correlação (r = 0,96),
permitindo considerar a água 38 como mistura das águas 36 e 37. A
proporção em volume da água 36 na mistura é de 23%, ao passo que
a da água 37 é de 77%, sugerindo que a águao afetada significati-
vamente pela nitrificação ainda é predominante no sistema de cap-
tação envolvendo os três poços.
Figura 47 - Diagrama da razão de atividade
234
U/
238
U em função do inverso da concen-
tração de urânio, mostrando como proporções de mistura de águas subterrâneas
podem ser deduzidas (Osmond et al., 1974).
Figura 48 - Razão isotópica
234
U/
238
U em função do inverso da concentração de urânio
para amostras de águas subterrâneas do aqüífero Guarani.
Mistura de águas subterrâneas
de aqüíferos de Poços de Caldas
A hidroquímica dos aqüíferos no maciço alcalino de Poços de
Caldas foi investigada por Cruz & Peixoto (1989) que, a partir dos
resultados representados no Quadro 23, consideraram que as águas
das fontes friaso ácidas, possuem valores de resíduo seco um
pouco maiores que os das águas superficiais, baixos teores de clo-
reto e sulfato, com predomínio de bicarbonato, e quantidades equi-
valentes de sódio e de potássio. Os autores diferenciaram as águas
procedentes dos poços tubulares com profundidades de 150 a 200 m
daquelas de circulação mais superficial, com base na elevação do
valor de resíduo seco, do pH, e dos teores de bicarbonato e sódio;
identificaram também que as águas termais, além da temperatura,
apresentaram valores ainda mais elevados de resíduo seco, pH, car-
bonatos, sódio, sulfato, sulfetos e fluoretos.
Para melhor avaliar a composição química das águas subterrâ-
neas na área, Cruz & Peixoto (1989) também realizaram experi-
mentos de lixiviação de rochas típicas do planalto de Poços de
Caldas, utilizando como soluções lixiviadoras água destilada à
temperatura ambiente, água destilada a 80°C e água carbonatada
alcalina (pH=9) a 40°C; entre as conclusões apresentadas, os auto-
res ressaltam que existe grande correspondência entre a composição
das águas subterrâneas e a das soluções utilizadas no laboratório.
Os resultados obtidos para sódio, bicarbonato, sulfato, cloreto e
fluoreto dissolvido foram representados em função do tempo de
lixiviação (em escala logarítmica), porém, se valores cumulativos
tivessem sido expressos relativamente ao tempo em escala linear,
provavelmente os aspectos das curvas seriam semelhantes aos
apresentados neste trabalho.
Os resultados das análises das águas das fontes termais e ater-
mais de Poços de Caldas representados no Quadro 23 indicam que
elaso redutoras; as amostras 1A e 3A tendem a ser redutoras áci-
das enquanto as demaiso redutoras básicas. Etchebehere (1990)
lançou os dados de pH e Eh das águas redutoras básicas obtidos
por Cruz (1987) num diagrama Eh-pH para o sistema S-O-H a
25°C de temperatura e 1 atm de pressão total, inserindo todos eles
no campo de estabilidade do SO
4
2-
, que é a espécie estável de enxo-
fre dominante nas águas superficiais sujeitas a boa aeração, embora
se constate a tendência de a amostra 2T enquadrar-se nos contor-
nos definidos para o HS
-
dissolvido, que se torna predominante em
condições bastante redutoras.
Os teores típicos de sulfeto e ferro dissolvidos nas águas termais
de Poços de Caldas variam, respectivamente, de 1,6 a 2,7 mg/l e de
0,07 a 0,1 mg/l (Cruz & Peixoto, 1989); mesmo assumindo que os
teores de Fe total correspondam a Fe
2+
, quando os valores obtidos
o inseridos nos diagramas de atividade elaborados por Helgeson
et al. (1969) envolvendo o equilíbrio químico entre o sistema FeS
H
2
S - H
2
SO
4
, e a água, a 1 atm de pressão e temperaturas de 25°C e
100°C, verifica-se que as variações de temperatura dessa ordem
o alteram significativamente o posicionamento dos dados, isto é,
eles se inserem no mesmo campo de estabilidade. Assim, é possível
também representar os dados de pH e Eh obtidos para as águas de
Poços de Caldas no diagrama Eh-pH a 25°C de temperatura e 1
atm de pressão, mesmo nos casos em que a temperatura atingiu
45°C, o que está ilustrado na Figura 49. Segundo se observa, a
pirita e a hematita coexistem com o sulfato dissolvido, e, como a
amostra 2T posicionou-se dentro do contorno definido para a
pirita, uma questão importante é a possibilidade de geração do sul-
fato a partir da oxidação de pirita, pela seguinte reação (Krauskopf
& Bird, 1995):
Figura 49 - Inserção dos dados das amostras de águas subterrâneas de Poços de Caldas
(MG) no diagrama Eh-pH de Faure (1991) para óxidos e sulfetos de Fe na presença
de água, a 25°C de temperatura e S = 0,1 M. As linhas tracejadas indicam as condi-
ções nas quais as diferentes espécies de S se tornam dominantes.
Uma vez que os maiores teores de sulfatoo encontrados jus-
tamente para as águas bastante alcalinas e que a reação de oxidação
de pirita caracteriza-se principalmente pela redução do pH nas
soluções em contato com o mineral, é pouco provável que seja esse
o mecanismo responsável pela produção desse ânion. Os índices de
saturação mineral SI avaliados para essas amostras por meio do
programa WATEQ 4F reforçam isso, pois, em todos os casos, obti-
veram-se valores negativos relativamente aos sulfatos anidrita, gipso,
thenardita, mirabilita e epsomita, que sugerem a possibilidade de sua
dissolução.
Os fácies hidrogeoquímicos das águas estudadasoo iguais,
conforme se pode notar na Figura 50: Quisisana Ferruginosa é clo-
retada sódica, Frayha é bicarbonatada cálcica e as demaiso bicar-
bonatadas sódicas. Em nenhum caso, porém, os teores dos cátions
e ânions enquadraram-se nos contornos estabelecidos para águas
mistas. Quando os resultados das análises químicas do Quadro 23
o representados em função do teor de urânio dissolvido, conforme
ilustram as Figuras 51 e 52, a seguinte tendência é verificada: as fon-
tes atermais Frayha e Quisisana Ferruginosa apresentam teores de
urânio, fluoreto, sódio, sulfato e bicarbonato + carbonato, bem
como valores de pH, potencial redox Eh, intensidade iônica (dados
no Quadro 25) e pressão parcial de CO
2
(dados no Quadro 25), que
permitem que sejam reunidas num grupo distinto em relação ao
das demais águas. Quando se considera a temperatura (Figura 52(b)),
verifica-se que a fonte Sinhazinha deveria ser enquadrada no grupo
das fontes atermais Frayha e Quisisana Ferruginosa, ao passo que
os demais parâmetros denotam o seu posicionamento no outro
grupo. Esse aspecto implica a possibilidade de essa água estar se
misturando com outras em seu trajeto até a surgência, o que tam-
m é sugerido pela razão isotópica
234
U/
238
U e pelo teor de urânio
dissolvido, conforme ilustra a Figura 52(b).
Dessa forma, novamente o modelo isotópico do urânio dissol-
vido pode ser utilizado na avaliação de um possível processo de
mistura envolvendo a fonte Sinhazinha. Para isso, os resultados
representados no Quadro 26 foram inseridos no diagrama ilustrado
na Figura 53, onde a ordenada representa a razão isotópica
234
U/
238
U e a abscissa o inverso da concentração de urânio. Segundo se
observa, como a concentração de urânio é praticamente a mesma
para as amostras 1A e 3A, estimou-se uma razão isotópica
234
U/
238
U de 1,4 para representá-las e um valor de 2,5 para representar a
razão isotópica
234
U/
238
U média das amostras 1T e 2T. Por estes
dois valores médios e também pelos dados correspondentes à
amostra 3T, traçou-se o triângulo ilustrado na Figura 53, onde se
nota que a fonte Sinhazinha insere-se no interior do triângulo. Assim,
é possível calcular em que proporções as outras águas estariam
contribuindo na mistura que forma a água dessa fonte. De acordo
com o modelo, a fonte Sinhazinha, que é atermal, estaria recebendo
as seguintes contribuições: 23% das águas das fontes frias, de cir-
culação mais superficial; 68% das águas hipertermais, de circulação
profunda, e 9% da água hipotermal (Quisisana Sulfurosa), pro-
vavelmente circulando a profundidades intermediárias. Portanto, a
modelagem é promissora para interpretar as principais característi-
cas observadas nas águas subterrâneas de Poços de Caldas analisa-
das neste trabalho.
Figura 50 - Resultados das análises químicas das amostras de águas subterrâneas de
Poços de Caldas (MG) inseridos em diagrama parcial de Piper.
Figura 51 Relação sódio, intensidade iônica, pressão parcial de CO
2
, bicarbonato +
carbonato, sulfato e fluoreto versus urânio para as amostras de águas subterrâneas de
Poços de Caldas (MG).
Figura 52 - Relação (a) pH e Eh versus urânio e (b) razão de atividade
234
U/
238
U e tem-
peratura versus urânio para as amostras de águas subterrâneas de Poços de Caldas
(MG).
Figura 53 - Razão isotópica
23,4
U/
238
U em função do inverso da concentração de urânio
para amostras de águas subterrâneas de Poços de Caldas (MG).
Enriquecimento de
234
U nas águas
subterrâneas do aqüífero Guarani
Um aspecto que chama a atenção relativamente às razões de ati-
vidade
234
U/
238
U determinadas nas águas subterrâneas do aqüífero
Guarani e representadas no Quadro 22 constitui o elevado valor de
27,9 encontrado para a amostra 50, o maior registrado até o
momento em estudos envolvendo aqüíferos do Brasil. Razões iso-
tópicas dessa magnitude haviam sido obtidas por Gilkeson &
Cowart (1982) ao investigarem sistema aqüífero cambriano/ordo-
viciano no nordeste de Illinois, Estados Unidos, porém Siegel
(1989) referiu-se a um valor extraordinariamente alto de 100 numa
amostra de água proveniente de um poço de 800 m de profundi-
dade perfurado no extremo leste de Iowa. O aqüífero interceptado
foi o arenito Mount Simon, que é conglomerático, apresenta origem
marinha e possui granulação fina a grossa; essa unidade geológica
repousa sobre um embasamento pré-cambriano complexo consis-
tindo de rochas ígneas cristalinas e metamórficas, dispondo-se
sobre ela a Formação Eau Claire, representada por folhelho, are-
nito dolomítico, siltito e dolomita, que atuam como uma unidade
confinante regional. Embora especificamente para essa amostra
Siegel (1989)o tenha apresentado dados de análises químicas, as
águas de outros poços perfurados no mesmo aqüífero e localizados
na sua proximidade apresentaram valores típicos para os ânions
predominantes correspondentes a 245 mg/l, 52 mg/l e 45 mg/l,
respectivamente, para bicarbonato, sulfato e cloreto, caracteri-
zando o fácies hidrogeoquímico HCO
3
-
Na
+
.
Visando encontrar razões isotópicas
234
U/
238
U maiores que a
determinada para a amostra 50, uma vez que essa água é essencial-
mente bicarbonatada cálcica, que os fácies hidrogeoquímicos
HCO
3
- Na
+
no aqüífero Guaranio apresentaram valoreso
elevados para a razão de atividade
234
U/
238
U quanto 27,9 e que nas
suas áreas de grande confinamento foram identificadas águas do
tipo Cl-SO
4
2-
-Na
+
, conforme referido por Fraga (1992), efetua-
ram-se análises de amostras de águas subterrâneas do Grupo
Tubarão no município de Águas deo Pedro (SP). Os estudos
prévios de Bonotto & Mancini (1992) para a amostra 65 nessa lito-
logia haviam estabelecido o fácies hidrogeoquímico HCO
3
" - Na
+
,
além de ela exibir teor de sódio dissolvido similar ao da água no
arenito Mount Simon, cuja razão isotópica
234
U/
238
U medida por
Siegel (1989) é 100; contudo, conforme mostra o Quadro 22, o
valor encontrado de 3,7 para essa razão é semelhante a outros
determinados no aqüífero Guarani, muito abaixo daquele corres-
pondente ao da amostra 50. Dessa forma, além da proximidade e
das facilidades existentes em Águas deo Pedro para a coleta das
amostras 62, 63 e 64, os trabalhos de Szikszay & Teissedre (1981) e
Kimmelmann e Silva et al. (1987) mostraram que essas águaso
cloretadas sódicas e meteóricas, quanto à origem, o que pode forne-
cer alguma analogia com águas de áreas muito confinadas do aqüí-
fero Guarani.
Os resultados das análises das amostras 62, 63, 64 e 65 repre-
sentados no Quadro 22 indicam que essas águaso redutoras
(Figura 54); o fácies hidrogeoquímico CI- Na
+
foi confirmado
neste estudo (Figura 55), verificando-se, também, que os elevados
teores de fluoreto (maiores que os das águas do aqüífero Guarani)
acompanham os altos valores de sódio dissolvido (igualmente
superiores aos das águas do aqüífero Guarani). Apesar destas
características, também denotadas pelos elevados valores de resí-
duo seco, em nenhum caso ocorre razão isotópica
234
U/
238
U supe-
rior a 4,8, bem abaixo do valor encontrado para a amostra 50 do
aqüífero Guarani.
Siegel (1989) sugeriu que os extremos desequilíbrios encontra-
dos para o
234
U relativamente ao
238
U poderiam estar relacionados
com a afluência de urânio enriquecido em
234
U, proveniente de
materiais de fina granulação, o que teria ocorrido durante o empla-
cement de fluidos glaciais no Pleistoceno; a água subterrânea já
enriquecida em
234
U poderia se tornar ainda mais enriquecida gra-
ças à precipitação de urânio na zona redutora, depois de ter deixado
a zona de recarga. O próprio autor aponta a necessidade de investi-
gações adicionais para avaliar melhor sua hipótese, sendo imprová-
vel que um mecanismo similar possa justificar o valor de 27,9 para
a razão de atividade
234
U/
238
U na amostra 50 do aqüífero Guarani.
A interpretação mais plausível reside na relação entre essa razão e o
teor de cálcio dissolvido, uma vez que, coincidentemente, o teor
deste cátion na amostra 50 também é elevado, constituindo o maior
valor registrado no Quadro 22.
Mistura de águas subterrâneas
do aqüífero Tubarão
O teor de urânio dissolvido nas amostras de águas subterrâneas
do Grupo Tubarão referidas nos Quadros 21 e 22 variou de 0,01 a
0,34 g/l, ao passo que o de radônio dissolvido variou de 202 a
1.712 pCi/1. Os maiores valores para urânio e radônio dissolvidos
foram obtidos para as águas de Gioconda (amostra 62) e Juventude
(amostra 63). Assumindo um diâmetro de cada poço correspon-
dente a 25 cm e levando em conta a espessura do Grupo Tubarão
em Gioconda (350 m), Juventude (229 m), Almeida Salles (122 m)
e Rio Claro (119 m), é possível estimar, respectivamente, 279 m
2
,
183 m
2
, 97 m
2
e 95 m
2
como a área das rochas do Grupo Tubarão
interceptadas pelas perfurações. Portanto, as maiores áreas deno-
tam mais acentuada distribuição superficial de radioelementos nas
rochas, o que favoreceria sua liberação para a fase líquida durante
as interações água-rocha que ocorrem no aqüífero.
Figura 54 - Representação em diagrama Eh-pH dos dados obtidos para as amostras de
águas subterrâneas do Grupo Tubarão.
Figura 55 - Representação em diagrama parcial de Piper (1944) dos dados obtidos para
as amostras de águas subterrâneas do Grupo Tubarão.
Relativamente ao radônio dissolvido nas águas, a Resolução n° 25
do Ministério da Saúde (Portaria n° 1.003, publicada em 13 de
agosto de 1976) para águas minerais estabeleceu que águas fraca-
mente radioativas possuem valores entre 5 e 10 UM (UM = Uni-
dade Mache, isto é, 1.000 pCi/1 = 2,75 UM). Quando se efetua a
apropriada conversão dos dados para as amostras 62 a 65 de águas
subterrâneas do Grupo Tubarão (Quadro 22), obtém-se valores
entre 0,56 e 4,71 UM para o radônio dissolvido, os quais sugerem
que as águas analisadas sejam classificadas como não-radioativas.
As águas subterrâneas do Grupo Tubarão coletadas em Águas
deo Pedro que exibem o fácies hidrogeoquímico Cl- Na
+
(Figura 55) podem ser separadas em três tipos, de acordo com os
baixos, intermediários e elevados teores de Na e Cl. Se os valores
intermediárioso atribuídos à mistura de águas possuindo baixos
e elevados valores, as equações de balanço de massa envolvendo
esses elementos como indicadores químicos permitem determinar
que na mistura um valor fracionário de 0,6-0,7 corresponde à con-
tribuição das águas caracterizadas pelos elevados teores. Uma vez
que a fácies hidrogeoquímica HCO
3
- Na
+
também ocorre para
águas subterrâneas do Grupo Tubarão (Figura 55), é conveniente
incluir todos os dados obtidos na modelagem. Nessa circunstância,
obtém-se um triângulo definindo a possibilidade de mistura de três
águas, inserindo-se a água resultante no interior desse triângulo.
Assim, processos de mistura envolvendo águas de composição
similar à das amostras 62, 63 e 65 produziriam uma água de com-
posição equivalente à da amostra 64, com os volumes relativos às
amostras 62 e 63 correspondendo, respectivamente, a 20% e 80%,
ao passo que seria desprezível (0%) a contribuição da amostra 65
(fácies hidrogeoquímico HCO
3
- Na
+
) na composição da mistura
(amostra 64). Esse balanço de massa empregando Na e Cl como
indicadores químicos é compatível com a hidroquímica verificada
para as amostras 62 a 65 (Figura 55).
Os valores distintos de concentração de U e razão isotópica
234
U/
238
U obtidos para águas subterrâneas do Grupo Tubarão
também permitem construir um triângulo com os dados relativos a
três componentes, inserindo-se em seu interior a água resultante,
conforme ilustrado na Figura 56. De acordo com o modelo isotó-
pico do urânio dissolvido, águas de composição similar à das amos-
tras 62, 63 e 65 produziriam água de composição equivalente à da
amostra 64, com os volumes relativos às amostras 62, 63 e 65 corres-
pondendo, respectivamente, a 1,4%, 4% e 94,6%. Esse balanço de
massa indica uma contribuição significante da amostra 65 (fácies
hidrogeoquímico HCO
3
- Na
+
) na composição da mistura (amos-
tra 64). Isto se deve à similaridade/pouca diferença nos valores da
razão de atividade
234
U/
238
U e do teor de urânio dissolvido deter-
minados nas amostras analisadas. Uma vez que o caráter aniônico
dominante na amostra 64 difere grandemente daquele na amostra
65, na situação investigadao pode ser considerada aplicável a
modelagem relativa aos isótopos de urânio
234
U e
238
U. Embora um
outro triângulo envolvendo os dados de pH e Eh também possa ser
construído para as mesmas amostras (Figura 54), o seu significado
na avaliação dos processos de misturao está totalmente esclare-
cido, pois é necessário levar em conta a presença de outros elemen-
tos sensíveis a reações de óxido-redução, os quaiso transferidos
para a fase líquida durante as interações água-rocha ocorrendo no
aqüífero Tubarão.
Figura 56 - Representação dos dados obtidos para as amostras de águas subterrâneas
do Grupo Tubarão em diagrama da razão de atividade
234
U/
23S
U versus inverso da
concentração de U.
Qualidade das águas e prospecção
hidrogeoquímica de jazidas de urânio
A despeito de o urânio ser um elemento importante do ponto de
vista econômico, sua presença no ambiente hídrico tem implica-
ções radiológicas, em razão de sua mobilidade nas águas e de
alguns de seus nuclídeos filhos, por exemplo, o
226
Ra, que apre-
senta um alto grau de radiotoxicidade, grande tendência de fixar-se
nos ossos, longa meia-vida de 1.622 anos e grande potencial de pro-
duzir dano biológico por ser emissor alfa. Existem vários padrões
nacionais para limitar a exposição ao
226
Ra nas águas potáveis. A
máxima concentração permitida nas águas, sugerida pela Organi-
zação Mundial de Saúde, é de 10 pCi/1 (WHO, 1972). O critério
empregado no Brasil baseia-se na Portaria n° 36, de 19 de janeiro
de 1990, do Ministério da Saúde, a qual estabelece o valor de refe-
rência de 0,1 Bq/1 (cerca de 2,7 pCi/1) para a radioatividade alfa
total e de 1 Bq/1 para a atividade beta total. A identificação dos
radionuclídeos presentes e a medida de suas concentraçõeso pre-
vistas quando os valores encontrados excedem os de referência,
situação na qual devem ser aplicados os critérios estabelecidos pelo
CNEN (1988) para se concluir sobre a potabilidade da água. Para o
238
U e o
234
U, os limites de ingestão anual envolvendo os compostos
inorgânicos de urânio solúveis em água correspondem, respectiva-
mente, a 5x10
5
e 4xl0
5
Bq.
Muitas águas analisadas neste trabalho e referidas nos Quadros
22 e 23o utilizadas para fins de consumo, de maneira que esse
padrão pode ser empregado para avaliar sua potabilidade relativa-
mente aos isótopos de urânio
238
U e
234
U. O maior teor de urânio
dissolvido corresponde a 4,82 g/l, determinado para a amostra 57
de água subterrânea do aqüífero Guarani; assumindo uma ingestão
diária média de dois litros de água por indivíduo e efetuando-se a
apropriada conversão de unidade, obtém-se para essa amostra uma
ingestão anual de
238
U igual a 44 Bq e de
234
U igual a 96 Bq.
Quando a estimativa é efetuada para a amostra 50 de água subter-
rânea do aqüífero Guarani, para a qual se mensurou a maior razão
isotópica
234
U/
238
U, os valores correspondem a 1,4 Bq e 38 Bq, res-
pectivamente, para o
238
U e o
234
U. Dessa forma, constatou-se que
as atividades obtidas para as águas estudadaso consideravel-
mente inferiores às máximas permitidas, denotando sua potabili-
dade relativamente aos isótopos de urânio.
O teor de urânio dissolvido e a razão isotópica
234
U/
348
U tam-
m foram empregados na elaboração de modelos direcionados à
prospecção hidrogeoquímica de depósitos de urânio. Cowart &
Osmond (1980) classificaram bidimensionalmente os sistemas de
águas subterrâneas de acordo com esses parâmetros, para os quais
estabeleceram os contornos ilustrados na Figura 57. A terminolo-
gia acumulação refere-se a um teor de urânio na rocha do aqüífero
superior ao valor normal. Entre 1 e 10 ppb, situam-se os teores de
urânio dissolvido característicos de aqüíferos oxidantes, nos quais
as águas lixiviam estratos portadores de concentrações médias de
minerais uraníferos. Acima de 10 ppb, situam-se os altos teores de
urânio dissolvido, relacionados à presença de elevado conteúdo
desse elemento nos estratos do aqüífero. Abaixo de 1 ppb, situam-
se os baixos teores de urânio dissolvido, indicativos de condições
redutoras ou de estratos contendo baixas concentrações do ele-
mento. A razão
234
U/
238
U = 0 denota a ocorrência de
234
U abaixo
dos limites de detecção. Entre 1 e 2, situam-se as razões
234
U/
238
U
normais, obtidas pela maioria dos pesquisadores. Abaixo de 1,
situam-se as baixas razões
234
U/
238
U, anormais nas águas subterrâ-
neas, devidas ao efeito do recuo alfa e explicáveis a partir da remo-
bilização da acumulação na escala de tempo de 10
5
anos (acumulação
em dispersão). Acima de 2, situam-se as altas razões
234
U/
238
U ori-
ginadas pela introdução de átomos de
234
U em solução graças ao pro-
cesso de recuo alfa, ocorrendo provavelmente onde o teor de urânio
dissolvido na água diminui concomitantemente com o aumento de
sua concentração no estrato hospedeiro (acumulação em formação).
No caso da ocorrência de deposição de urânio nos estratos situados
em zona redutora, em virtude do baixo teor de urânio dissolvido
nas águas, há um aumento de probabilidade de obtenção de altas
razões
234
U/
238
U por tornar-se significativa a adição de
234
U à água
pelo recuo alfa, mesmo sendo normais as concentrações dos mine-
rais uraníferos nos estratos. A situação é designada de "subjacente
à acumulação em formação" e a diagonal representada no diagrama
visa aproximar esse fator.
A utilização do modelo no Brasil foi efetuada por Bonotto (1989),
que sugeriu que a classificação "normal oxidante" seria mais apro-
priada para representar o sistema aqüífero no Morro do Ferro,
Poços de Caldas (MG), em vez da classificação "normal redutora",
indicada pelo modelo de Cowart & Osmond (1980). Numa outra
situação, Bonotto & Silveira (1993) apontaram que o modelo
encontrou aplicabilidade na avaliação de aqüíferos em Águas de
Lindóia (SP), onde a classificação "normal redutor" foi atribuída
ao sistema hídrico estudado.
Os teores de urânio dissolvido e as razões isotópicas
234
U/
238
U,
representados nos Quadros 22 e 23, foram inseridos no diagrama
da Figura 57 para caracterizar a potencialidade de utilização do
modelo nos aqüíferos estudados neste trabalho. O primeiro aspecto
que chama a atenção é o de que as águaso teriam circulado através
de litologias portadoras de elevado conteúdo de urânio, que denota-
riam acumulações desse elemento, pois, em nenhum caso, obteve-se
teor de urânio dissolvido superior a 10 g/l. Os teores típicos de urâ-
nio entre 0,88 e 2,94 g/g determinados neste trabalho para amos-
tras do arenito Botucatu confirmam isto. No caso do maciço
alcalino de Poços de Caldas, apesar da conhecida acumulação de
urânio na mina Osamu Utsumi, as principais rochas alcalinas que
afloram na área apresentam teores de U menores que 12 g/g
(Schorscher & Shea, 1991), queoo típicos da mineralização
desse elemento. Um outro aspecto verificado é queo se encontrou
nenhuma razão isotópica
234
U/
238
U anormal, isto é, menor que 1.
As águas subterrâneas das fontes termais e atermais de Poços de
Caldas inserem-se no campo "normal redutor", sendo o caráter
redutor também evidenciado pelos dados de Eh e pH. As águas
subterrâneas procedentes de poços perfurados no Grupo Tubarão
apresentam caráter redutor de acordo com o diagrama Eh-pH,
porém o seu enquadramento na Figura 57 indica isso apenas para
as amostras 63, 64 e 65,o existindo evidências de ocorrência de
deposição de urânio em condições oxidantes, conforme sugerido
pelo modelo para a amostra 62. Águas subterrâneas do aqüífero
Guarani com características tipicamente oxidantes como as amos-
tras 35,51,53e55 tendem a se enquadrar nos campos que definem
os processos oxidantes, contudo, como muitas amostras possuem
características redox intermediárias, verifica-se que a disposição
dos pontoso se concentra num campo específico, ocorrendo, em
vez disso, um posicionamento bastante disperso dentro de todos os
contornos estabelecidos. Além desse fator, outros podem ser apon-
tados como responsáveis pela disposição observada para os dados
das águas do aqüífero Guarani, por exemplo, o enriquecimento de
234
U na fase líquida por aumento na dissolução de cálcio eo por
processo de recuo alfa ou por mudanças nos potenciais redox
decorrentes de reações químicas provavelmente causadas por pro-
cessos antropogênicos. Um caso relacionado com essa última situa-
ção refere-se àquele envolvendo a amostra 37, pois o modelo sugere
que estaria ocorrendo deposição de urânio em zona redutora,
porém as considerações efetuadaso favoráveis à existência de
processos de mistura.
Uma situação típica envolvendo diminuição do teor de urânio
dissolvido e aumento na razão de atividade
234
U/
238
U relacionados
com mudança no potencial redox foi discutida para as amostras 4 e
21, inserindo-se os seus dados no campo IV do modelo de Cowart
& Osmond (1980), justamente onde seria esperado. Porém, a
Figura 44 sugere queo estaria ocorrendo deposição de urânio
como uraninita amorfa, estando tal processo, no caso da amostra 4,
provavelmente relacionado com a precipitação de carbonato de cál-
cio (o índice de saturação mineral SI determinado para a calcita
nessa amostra é positivo). Para a amostra 21, entretanto,o exis-
tem evidências adicionais à do comportamento hidrogeoquímico
dos isótopos de urânio para justificar a sua deposição, indicando,
talvez, que poderiam estar ocorrendo processos de mistura, de lixi-
viação de urânio dos sedimentos transportados pela água, ou,
então, de reações químicas de troca entre a solução e a rocha matriz
do aqüífero; nesse caso, a obtenção da elevada idade obtida para
essa amostra se explicaria com base no uso do método isotópico do
urânio dissolvido. De qualquer forma, constata-se que algumas situa-
çõeso previstas pelo modelo e outras não, de maneira que é conve-
niente utilizá-lo com cautela nos programas de exploração de urânio,
em decorrência da grande complexidade dos sistemas naturais.
Figura 57 - Relação urânio versus razão de atividade
234
U/
238
U para as amostras de
águas subterrâneas analisadas neste trabalho.
CONCLUSÕES
Este estudo permitiu avaliar o comportamento geoquímico dos
isótopos de urânio
238
U e
234
U sob condições controladas no labora-
tório e em sistemas naturais representando situações variadas do
ponto de vista climático e hidrogeológico, isto é, na área cárstica de
Mendip Hills e do granito Carnmenellis, na Inglaterra, e na bacia
sedimentar do Paraná e no maciço alcalino de Poços de Caldas, no
Brasil.
Os experimentos de lixiviação com diferentes soluções de amos-
tras de calcário, dolomita e granito de Mendip Hills e da Cornuália,
na Inglaterra, indicaram que as curvas cumulativas de dissolução
de cálcio, magnésio, sódio, potássio e urânio apresentam o aspecto
parabólico e/ou linear, caracterizando, no primeiro caso, uma rea-
ção de primeira ordem, na qual a taxa de dissolução diminui com o
tempo, e, no segundo, uma reação de ordem zero, na qual a taxa de
lixiviação permanece constante com o tempo, confirmando uma
tendência encontrada por outros investigadores em situações envol-
vendo diferentes rochas e soluções. Os resultados encontrados na
lixiviação de calcário e dolomito na escala de tempo de cerca de 200
dias mostraram que a quantidade de urânio dissolvida correla-
ciona-se diretamente com a de cálcio e magnésio dissolvidas, tor-
nando-se linearmente relacionadas naqueles processos verdadeira-
mente dominados por reação de ordem zero; nessas rochas, o
urânio e o magnésio foram preferencialmente dissolvidos em rela-
ção ao cálcio quando a solução era pouco agressiva, diminuindo a
preferência de lixiviação nos casos em que as soluções se tornaram
menos brandas. Isso implica que, para um processo de lixiviação
superficial de ordem zero, todas as espécies químicas presenteso
liberadas na mesma proporção em que ocorrem na matriz sólida,
na medida em que se acentua a erosão da superfície. O urânio tam-
m é preferencialmente lixiviado em relação ao magnésio presente
no calcário, e o experimento realizado com água destilada saturada
com CO, demonstrou a possibilidade de sua complexação como
espécies de carbonato de uranila, em decorrência do elevado valor
encontrado para a razão molar U/Mg. A alta suscetibilidade do
sódio aos processos de intemperismo foi identificada durante a lixi-
viação das amostras de granito graças à rapidez com que esse ele-
mento foi dissolvido em relação aos demais; nessa rocha, verificou-
se que o urânio continuou sendo mobilizado significativamente
para a fase líquida, mesmo quando a lixiviação de sódio, potássio e
magnésio praticamente deixou de ocorrer após cerca de 200 dias.
Diferentemente das rochas sedimentares, a alteração das rochas
cristalinas em condições controladas no laboratório mostrou que o
cálcio sempre se manteve preferencialmente dissolvido em relação
ao urânio. Os solos de Mendip Hills, derivados de arenito e calcá-
rio, apresentaram-se enriquecidos em urânio nos horizontes super-
ficiais A e B, sendo maior o fator de enriquecimento naqueles ori-
ginados a partir do calcário, proporcionado pelo favorecimento da
complexação do íon uranila em solução com os íons carbonato; o
coeficiente de mobilidade definido neste trabalho permaneceu
praticamente constante para os solos mais ácidos, porém, naque-
les queo quase neutros, aumentou de três a dez vezes nos
ensaios realizados com água destilada saturada em CO
2
, sugerindo
a possibilidade de formação dos íons complexos de carbonato de
uranila em decorrência da elevação na pressão parcial de CO
2
.
Os experimentos de lixiviação das amostras de calcário de
Mendip Hills mostraram que a razão isotópica
234
U/
238
U do urânio
dissolvido nas soluções lixiviadoras aumenta à medida que pro-
gride o processo de dissolução, o qual é acompanhado de elevação
no teor de cálcio dissolvido e na espessura da camada lixiviada. O
acréscimo mostrou-se relacionado com a dissolução gradual de
finas partículas aderidas nas superfícies expostas após britagem, à
medida que o processo progride para a lixiviação de superfícies de
calcita já bastante erodidas, tendendo a atingir, em alguns casos,
um valor cumulativo de cerca de 1,3 para a razão isotópica
234
U/
238
U. Valores diferentes deste foram encontrados em outras solu-
ções lixiviadoras de calcário, porém a média mostrou-se similar
àquela determinada nas águas subterrâneas da área cárstica de pro-
veniência das amostras de rocha utilizadas no laboratório, deno-
tando a direta aplicabilidade dos resultados obtidos sob condições
controladas para a interpretação de processos ocorrendo em siste-
mas naturais. Verificou-se também variabilidade nos valores da
razão isotópica
234
U/
238
U determinados nas soluções lixiviadoras
do granito Carnmenellis, indicando que cada superfície de rocha
exposta ao intemperismo contribui diferentemente para a presença
de
234
U na fase líquida. Isto é, embora o
234
U seja mais facilmente
transferido para a fase líquida do que o
238
U,o é possível prever o
valor exato da razão isotópica
234
U/
238
U a ser obtido na fase líquida
quando esta interage com a rocha. As amostras de solos de Mendip
Hills apresentaram razão de atividade
234
U/
238
U inferior à unidade,
indicando a ocorrência de lixiviação preferencial de
234
U em relação
a
238
U, o que foi comprovado por meio dos valores maiores que 1
para esta razão obtidos nas soluções lixiviadoras empregadas nos
experimentos realizados em laboratório.
A geração das razões isotópicas
234
U/
238
U superiores à unidade
para o urânio dissolvido, na escala de tempo dos ensaios conduzi-
dos em laboratório, demonstrou a eficácia do processo de lixiviação
preferencial de
234
U relativamente ao do recuo de
234
Th. Esse
mecanismo possibilitou interpretar os valores encontrados para as
águas subterrâneas da área cárstica de Mendip Hills, a partir de um
processo em dois estágios: uma lixiviação de ordem zero contínua
da superfície da rocha pelas águas da zona de recarga equilibradas
com a atmosfera, seguida pela lixiviação preferencial de
234
U dos
minerais de argila ou micáceos liberados durante a interação água-
rocha. Tal processo é de estado estacionário: nele as finas partículas
o continuamente liberadas, podendo explicar a constância obser-
vada no teor de U e na razão isotópica
234
U/
238
U em águas subter-
râneas de determinadas localidades da área cárstica estudada;
variações na quantidade de silicato na fração insolúvel em HC1 6M
do calcário explicariam a dependência da localidade relativamente
ao teor de urânio e à razão isotópica
234
U/
238
U na água subterrânea.
Confirmaram-se algumas tendências verificadas por outros
investigadores relativamente ao comportamento de parâmetros no
aqüífero Guarani, na porção investigada da bacia sedimentar do
Paraná, Estado deo Paulo, à medida que aumenta a profundidade
do seu confinamento, ou seja, progressiva elevação da temperatura,
pH, condutividade, resíduo seco e teores de sódio, bicarbonato, clo-
reto, sulfato e fluoreto. Essas tendências foram descritas com base
na pressão geostática (litostática), tendo sido identificadas outras
como aumento da intensidade iônica e diminuição do teor de oxi-
gênio dissolvido, potencial redox Eh e pressão parcial de CO,, as
quais acompanharam a evolução regional do fluxo subterrâneo.
Com o emprego do programa para microcomputador WATEQ 4F,
foi possível calcular o índice de saturação mineral relativamente a
várias fases, o qual indicou que a composição química da maioria
das amostras de água subterrânea do aqüífero Botucatu/Pirambóia
estaria refletindo principalmente a dissolução de carbonates e sul-
fatos, apesar de em alguns casos ter sido possível caracterizar a pos-
sibilidade de precipitação de carbonatos de cálcio, entre outras
fases minerais.
As águas subterrâneas do aqüífero Guaranio predominante-
mente redutoras, tanto ácidas quanto básicas, tendo sido também
constatada a tendência de elevação no teor de urânio dissolvido
durante o aumento progressivo das condições redutoras ao longo
das direções de fluxo subterrâneo. A formação de íons complexos
de carbonato de uranila, mesmo nas altas temperaturas verificadas
para algumas amostras, foi responsável pela migração de urânio
nesse aqüífero.
Uma redução na quantidade de urânio dissolvido e um acrés-
cimo na razão isotópica
234
U/
238
U do urânio residual dissolvido
m sido comumente observados para águas subterrâneas próximas
de barreiras de óxido-redução, modificações quem sido atribuí-
das a um aumento na taxa de recuo alfa ocasionado pela deposição
de urânio no início da zona redutora. Apesar deo terem sido
identificadas as interfaces de oxidação e redução, o processo foi
caracterizado em duas situações no aqüífero Guarani, possibili-
tando que se efetuasse a datação do sistema de águas subterrâneas
investigado a partir do modelo isotópico de urânio desenvolvido
para esses casos. Se as idades disponíveis baseadas no método do
14
C possuem significado, os valores determinados pela técnica do
urânioo elevados, implicando a possibilidade de ocorrência de
mistura de águas subterrâneas, de lixiviação de urânio dos sedi-
mentos transportados pela água que está sendo datada, ou, então,
de reações químicas de troca entre a solução e a rocha matriz do
aqüífero. Nas águas subterrâneas do aqüífero Guarani, também se
encontrou uma tendência de relação direta entre o aumento no teor
de cálcio dissolvido e a elevação na razão isotópica
234
U/
238
U, con-
forme igualmente verificado nos experimentos realizados em labo-
ratório com as amostras de calcário.
Mudanças no potencial redox possivelmente relacionadas com
o processo de nitrificação foram observadas em Ribeirão Preto,
localidade de amostragem de três poços no aqüífero Guarani, as
quais afetaram o teor de urânio dissolvido e a razão isotópica
234
U/
238
U. Pelo do modelo isotópico de urânio dissolvido, conseguiu-se
avaliar as proporções relativas das águas que estariam se mistu-
rando no sistema de captação envolvendo os três poços. O modelo
também foi utilizado na avaliação de fontes termais e atermais do
maciço alcalino de Poços de Caldas (MG), definindo melhor que
outros parâmetros físicos, químicos e físico-químicos das águas
subterrâneas investigadas estariam se misturando e em que pro-
porção isso estaria ocorrendo. O modelo, contudo,o se mostrou
aplicável na porção estudada do aqüífero Tubarão.
O trabalho permitiu caracterizar o maior valor na razão isotó-
pica
234
U/
238
U (correspondente a 27,9) registrado até o momento
no Brasil para o urânio dissolvido, o qual foi determinado em
amostra de água subterrânea do aqüífero Guarani e provavelmente
se relaciona com o elevado teor de cálcio dissolvido; nem mesmo as
águas subterrâneas do Grupo Tubarão analisadas no decorrer desta
investigação, com altos valores de salinidade, apresentaram enri-
quecimento em
234
U responsável por um acréscimoo significa-
tivo na razão de atividade
234
U/
238
U.
O estudo permitiu avaliar o modelo isotópico do urânio dissol-
vido proposto para uso na prospecção hidrogeoquímica de jazidas
de urânio, e os resultados obtidoso se concentraram num campo
específico do diagrama de concentração de urânio versus razão iso-
tópica
234
U/
238
U; ocorreu, em vez disso, um posicionamento bas-
tante disperso dentro dos contornos estabelecidos, mediante o qual
algumas situações concordaram com o previsto e outras não, tor-
nando possível recomendar a sua utilização com cautela nos pro-
gramas de exploração de urânio, em decorrência da complexidade
dos sistemas naturais. Do ponto de vista da qualidade, todas as águas
subterrâneas da bacia sedimentar do Paraná e do maciço alcalino de
Poços de Caldas analisadas no decorrer deste trabalhoo potáveis
quanto à presença de
238
U e
234
U, uma vez que a maior atividade
obtida para a ingestão anual correspondeu a 96 Bq, consideravel-
mente inferior à máxima permitida. Restrições ocorrem, contudo,
quando se considera a atividade do radônio dissolvido e se efetua a
sua comparação com a do limite de ingestão estabelecido pela legis-
lação norte-americana.
O desenvolvimento deste estudo permitiu, finalmente, que se
avaliassem os mecanismos de transferência de
222
Rn de amostras de
calcário e solos de Mendip Hills e de arenitos das Formações
Pirambóia e Botucatu para a água, sob condições controladas em
laboratório. Os resultados mostraram que uma estimativa mais
apropriada do coeficiente de emanação para o calcário foi obtida
em situações envolvendo menor área superficial específica, de
maneira que, se a rocha é pulverizada antes de se medir a taxa de
liberação de radônio, ocorre destruição da estrutura de poros, oca-
sionando uma emanação maior que a verdadeira. No caso dos
solos, uma proporção significativa do
222
Rn provavelmente foi
transferida para a água intersticial, a qualo se conseguiu remo-
ver pela técnica de extração utilizada. A avaliação dos modelos dis-
poníveis em literatura para calcular a atividade de radônio esperada
na água quandoo conhecidos o teor de urânio na rocha, a porosi-
dade, a densidade e a eficiência de emanação da rocha mostrou que
eleso possibilitam interpretar a radioatividade associada a esse
s nas águas subterrâneas do aqüífero cárstico em Mendip Hills,
uma vez que se obteve um valor cerca de 15 vezes superior ao espe-
rado, na melhor estimativa realizada. Buscando o ajuste dos mode-
los, propôs-se a introdução nas equações de um parâmetro definido
como a razão entre a área superficial da forma geométrica de um
bloco de rocha antes da britagem e a área superficial total gerada
após britagem, o qual, apesar de seu caráter relativamente empí-
rico, possibilitou que se efetuasse a modelagem do volume de
material necessário para fornecer os melhores resultados nos expe-
rimentos de transferência de
222
Rn. Já no caso do aqüífero Guarani,
o modelo utilizado mostrou-se adequado para interpretar os resul-
tados obtidos para a atividade do radônio dissolvido na água.
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APÊNDICE
Metodologia de análise isotópica de urânio
A espectrometria alfa foi a técnica utilizada para a caracteriza-
ção dos isótopos de urânio
238
U e
234
U nas amostras analisadas, uma
vez que o
238
U é um emissor a cuja energia predominante corres-
ponde a 4,2 MeV e o
234
U emite partículas principalmente com
energia de 4,8 MeV (Quadro 1A). Como fontes delgadaso
necessárias para a realização da espectrometria nuclear visando evi-
tar a absorção de partículas a pela camada depositada, as amostras
foram submetidas a várias etapas de separação de elementos inter -
ferentes até a preparação de discos deo inoxidável contendo o
urânio extraído. Na Figura 1A estão ilustradas de forma simplifi-
cada as etapas envolvidas.
Cada amostra de água subterrânea ou solução lixiviadora foi
recolhida em vasilhame de polietileno inicialmente enxaguado com
solução 1:1 de ácido clorídrico e água destilada, lavado com água
destilada e seco. Antes da campanha de coleta de amostras, cada
vasilhame foi numerado e pesado, sendo enxaguado com a água a
ser coletada durante a amostragem.
As soluções lixiviadoras e as amostras de águas subterrâneas
foram filtradas em membrana Millipore de 0,45 um, sendo defi-
nido o urânio "solúvel" como o presente na fase líquida após passar
por esse filtro. Acidificou-se o filtrado até um pH 2,0 a fim de
evitar a precipitação de Fe
3+
no recipiente, empregando-se, para
isso, HC1 concentrado (para 25 litros de amostra, utilizaram-se 20
ml de HC1 + 5 ml desse ácido para cada 100 ppm de HCO
3
). Em
seguida, adicionoram-se cloreto férrico e o traçador radioativo arti-
ficial às amostras acidificadas:
236
U naquelas processadas no Labora-
tório de Geoquímica Isotópica da Universidade de Bath, Inglaterra,
e
232
U naquelas processadas no Labidro - Laboratório de Isótopos e
Hidroquímica do Departamento de Petrologia e Metalogenia do
Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, em Rio Claro.
Para a obtenção dos dados isotópicos de urânio nas amostras de
rochas e solos, efetuou-se ataque químico sobre quantidade de
material compreendida entre 1 e 2 g.
As determinações nas amostras de calcário do Carbonífera envol-
veram tanto a fração solúvel em ácido clorídrico 6M quanto a fração
insolúvel, esta submetida à dissolução total pelo emprego de suces-
sivas misturas de HF, HC1O
4
e HNO
3
para solubilização de silicatos
e oxidação da matéria orgânica. As demais amostras de rochas e solos
processadas na Inglaterra foram dissolvidas pelo emprego de HF,
HC1O e HNO
3
, em todos os casos empregando-se o
236
U como
traçador para a quantificação de urânio por diluição isotópica.
Para a solubilização das amostras de arenito Botucatu condu-
zida em Rio Claro, utilizou-se sistema tipo Parr 4745 consistindo
de cilindro de teflon inserido em cilindro de latão; depois de ume-
decer cada amostra com água deionizada, adicionaram-se 5 ml de
HF e 4 ml de HNO
3
para ataque dos silicatos, e, após vedação, o
sistema foi mantido em estufa entre 100 e 120°C, durante 12 horas
(nessas condições, a pressão interna chega a atingir valores de até
1.200 psig). Depois, transferiu-se a solução para béquer de teflon,
adicionaram-se 3 ml de HC1O
4
para oxidação da matéria orgânica e
evaporou-se até secagem, repetindo-se o processo quando consta-
tada a presença de resíduoo dissolvido. Para essas amostras,
empregou-se o
232
U como traçador radioativo, porém, em todos os
casos, encerrou-se o ataque com dissolução do resíduo seco por
HC1 6M (amostras processadas na Inglaterra) ou HC1 8M (amos-
tras processadas em Rio Claro), num volume de 50 a 100 ml, acres-
centando-se também água deionizada até completar 1.000 ml.
Figura IA- Diagrama geral do procedimento de extração de urânio.
A etapa seguinte consistiu na eliminação dos carbônico dis-
solvido, processo importante, uma vez que pode ocorrer a forma-
ção de carbonato de amônio na fase posterior do processo de
extração, composto que forma complexos uraníferos altamente solú-
veis, passíveis de permanecerem em solução e impedirem a co-pre-
cipitação de urânio. Para isso, borbulhou-se ar isento de CO
2
através de cada amostra durante cerca de três horas.
A co-precipitação de urânio com hidróxido férrico foi efetuada
com base nos resultados experimentais de Kameli (1980), que ava-
liou o efeito no processo das seguintes variáveis: pH, tempo de
repouso, volume da solução e temperatura. O autor analisou 29
amostras de espeleotemas, às quais adicionou
232
U de atividade
aproximadamente igual à do
238
U natural na amostra. Verificou-se
que o melhor rendimento para a recuperação de urânio ocorreu no
intervalo de pH de 6,8 a 8 e para um volume de solução de 5 litros e
o de 15 a 20 litros, pois a exposição do precipitado de Fe(OH)
3
e
da solução ao ar favorece a dissolução de CO
2
e a subseqüente for-
mação de complexos solúveis de carbonato de uranila. Os experi-
mentos permitiram tempos de repouso para a co-precipitação de 1 a
80 horas, sendo considerados mais adequados para o urânio aqueles
variando de 1 a 4 horas. A realização da co-precipitação à tempera-
tura de 70°C auxiliou na coagulação do precipitado gelatinoso de
Fe(OH)
3
e melhorou o rendimento químico de extração de urânio.
Dessa forma, a cada amostra acidificada e isenta de CO
2
adicio-
nou-se hidróxido de amônio de maneira a elevar o pH da solução
até 7 ou 8. Nesse pH, o hidróxido férrico precipita de acordo com
esta reação:
O hidróxido férrico flocula rapidamente de uma solução super -
saturada, "arrastando" o urânio em sua precipitação. Kameli (1980)
considerou que os oxi-hidróxidos férricos possuem uma carga
superficial líquida positiva e, assim, uma capacidade catiônica de
absorção. A ligação química do UO
2
2+
e UO
2
(OH)
+
ocorreria, por-
tanto, através do oxigênio e dos grupos hidroxila. Como as amos-
trás de águas subterrâneas envolveram a análise de um volume de
cerca de 20 litros, aguardou-se nesses casos um período de 48-72
horas para o precipitado assentar, retirando-se, então, o sobrena-
dante. Após recuperação do precipitado por centrifugação, efe-
tuou-se sua dissolução em HC1 6M (amostras processadas na
Inglaterra) ou HC1 8M (amostras processadas em Rio Claro), con-
dição que propicia a formação de cloreto de uranila.
O Fe
3+
adicionado à amostra foi separado do urânio através de
extração com solvente orgânico, adicionado em quantidade igual à
do volume de solução existente. A extração foi efetuada em funil de
separação, onde o solvente entra em contato com a fase inorgânica e
o ferro transfere-se para a fase orgânica após vigorosa agitação.
Os métodos empregados para essa separação envolveram a
extração do ferro diluído em HC1 8M com éter (di)isopropílico
(DIPE) e a extração do ferro diluído em HC16M com metil isobutil
cetona(MIBK).
A eficiência de extração do ferro a partir de soluções de HC1
8M por meio de DIPE aumenta com o acréscimo da concentração
de HC1. Embora tenha sido registrada uma eficiência de extração
de 0,99 quando se utilizou HC1 8M (Dodson et al., 1936), experi-
mentos empregando
59
Fe como traçador mostraram que uma efici-
ência ainda maior foi obtida quando se utilizou HCl 10M (Specker
& Doll, 1956). Nesses experimentos, verificou-se ser suficiente um
tempo de 30 segundos para o equilíbrio entre as fases. A extração
de Fe
3+
a partir de soluções de HC1 6M por meio de MIBK mos-
trou-se ainda mais rápida e efetiva (ibidem), tendo sido considera-
dos adequados tempos de equilíbrio entre 15 e 30 segundos para 15
ml de HC1 contendo até 1 g de ferro.
A camada ácida contendo urânio foi evaporada até secagem e
dissolvida em HC1 9M (amostras processadas na Inglaterra) ou
HC1 8M (amostras processadas em Rio Claro), permanecendo o
urânio na forma dos íons complexos (UO
2
C1
4
)
2
" e (UO
2
C1
3
)" e o
ferro residual na forma de íons FeCl
4
". Para separar o urânio do
ferro residual, do tório e de outros elementos, efetuou-se a passa-
gem da solução ácida em resina de troca iônica.
A reação de troca iônica ocorre em virtude da propriedade que
leva alguns materiais sólidos (trocadores iônicos) a permutarem
íons de mesma carga presentes na fase líquida. Geralmente, os tro-
cadores iônicos empregadoso resinas obtidas pela introdução de
grupos ionizáveis numa matriz polímera. Os polímeros, por sua
vez,o substâncias formadas de macromoléculas que apresentam
unidades estruturais que se repetem sucessivamente (monômeros);
aqueles formados a partir de mais de um monômeroo chamados
copolímeros. A maioria das resinas de troca iônica é constituída de
um copolímero que emprega os monômeros líquidos estireno e
divinilbenzeno, insolúveis em água. Num reator de copolímero,
uma mistura dessas substâncias é levada ao aquecimento, e os
monômeros se polimerizam em pequenas esferas plásticas sólidas.
A natureza esférica da partícula e a sua distribuição de tamanhoo
fixadas nesta etapa do processo de produção. As cadeias poliestirê-
nicas mantêm-se unidas, e origina-se um material com estrutura
reticular tridimensional.
O grau de ligações cruzadas pode ser controlado por meio do
teor de divinilbenzeno, e as resinas em geral contêm de 8% a 12%
de divinilbenzeno (costuma-se dizer 8%-12% de ligações cruzadas).
Neste estágio, o produto é uma esfera plástica sólida insolúvel e,
para obter uma resina trocadora de ânions (resina aniônica), devem
ser introduzidos grupos funcionais de caráter básico na matriz
polímera. A primeira etapa adicional consiste em efetuar uma rea-
ção do copolímero de estireno-divinilbenzeno com éter clorometí-
lico para a formação de um produto intermediário. Realiza-se uma
reação entre esse produto e aminas (bases orgânicas derivadas da
molécula de NH
3
pela substituição parcial ou total dos átomos de
H por radicais monovalentes derivados de hidrocarbonetos).
A escolha da amina apropriada na etapa final determina o
quanto básica é a resina aniônica - se dimetil amina é usada, o toca-
dor aniônico é "fracamente básico"; e, se trimetil amina é empregada,
o tocador aniônico é "fortemente básico". As resinas aniônicas for-
temente básicas podem ser usadas em situações de baixo e alto pH,
ao passo que as resinas fracamente básicaso restritas a operações
em que o pH é baixo. Os grupos funcionais nas resinas trocadoras
de íons localizam-se no interior e na superfície da matriz de partí-
culas, estando geralmente presente o grupo funcional -N(CH
3
)
3
+
nas aniônicas fortemente básicas. Por ser a forma OH" menos está-
vel acima de 50°C, muitas vezes as resinas aniônicas fortemente
básicaso comercializadas sob a forma de Cl', que se converte facil-
mente em OH" quando se efetua lavagem com solução diluída de
NaOH. Nesse caso, o grupo ativo é representado por -N(CH
3
)
3
+
Cl.
A utilização comercial de resinas de troca iônica na recuperação
de urânio teve um desenvolvimento acentuado logo após 1950,
quando esse elemento foi considerado de importância econômica
vital, e esforços significativos foram realizados para extraí-lo eficien-
temente de minérios de baixo teor. Descobriu-se que tanto em siste-
mas ácidos quanto nos alcalinos se verifica a ocorrência de urânio
sob a forma de complexos aniônicos. Esse fato possibilitou a aplica-
ção das resinas de troca aniônica para concentrar e purificar o urânio.
Na indústria, os principais complexos aniônicos de urânioo
encontrados em soluções ácidas e alcalinas, nas quais os íons ura-
nila (UO
2
2+
) estão associados com várias espécies como bicar-
bonato [UO
2
(CO
3
)
2
]
2
, tricarbonato [UO
2
(CO
3
)
3
]
4
", bissulfato
[UO
2
(SO
4
)
2
]
-2
trissuifato [UO
2
(SO
4
)
3
]
4-
cloreto [UO
2
(Cl)
n
]
2-n
etc.
Esses íons negativoso retidos na resina trocadora e subseqüente-
mente eluídos durante o processo de troca.
A taxa pela qual os complexos aniônicos de urânio interagem
com a matriz polímera acrescida de água e efetuam a troca com os
grupos funcionais é importante na cinética de recuperação do urâ-
nio. A proporção de divinilbenzeno em relação a estireno no copo-
límero inicial também afeta a adsorção dos complexos aniônicos de
urânio presentes na solução e sua subseqüente eluição. Idealmente,
a resina deve adsorver seletivamente os complexos de uranila a par-
tir de solução contendo outras espécies aniônicas, necessitando
fazer isso rápida e reversivelmente, de maneira que o urânio possa
ser recuperado por eluição. A capacidade e a cinética de troca de uma
resinao importantes, pois apresentam efeito direto no volume de
resina necessário para se obter determinada quantidade de urânio.
Tradicionalmente, a operação de troca iônica conduzida em
laboratório emprega colunas de vidro contendo placa de vidro sin-
terizado ou torneira de controle da velocidade de fluxo; seu posi-
cionamento é vertical, de maneira que a resina forma um "leito".
Depois que a solução de interesse flui através desse leito, efetua-se
a passagem de um eluente para remover o urânio adsorvido. A
velocidade de fluxo é determinada pelo comprimento da camada
de resina, pela altura do líquido na coluna, pelo tamanho e forma
das partículas da resina e, ainda, pela viscosidade do líquido. Por
exemplo, para uma alta velocidade de fluxo, é preciso utilizar par-
tículas de maior granulação, porém, como isso reduz a capacidade
efetiva de troca da coluna, uma grande quantidade de resina é
requerida para assegurar a troca completa.
Duas resinas aniônicas fortemente básicas foram empregadas
na etapa de troca iônica realizada no decorrer deste trabalho: a
resina Bio Rad AG1-X8 da Bio-Rad Laboratories, para as amos-
tras processadas na Inglaterra, e a resina Rexyn 201 da Fisher Scien-
tific Company, para as amostras processadas em Rio Claro. A
primeira apresenta-se sob a forma de CI', possui porosidade variando
de 100 a 200 mesh e capacidade total de troca de 1,4 mEq/ml. A
segunda apresenta a mesma capacidade de troca, porém sua poro-
sidade varia de 50 a 100 mesh, estando sob a forma iônica OH" [o
grupo ativo é representado pelo radical -N(CH
3
)
3
+
OH
-
]. Na etapa
de passagem em resina de troca iônica, o urânio está na forma dos
íons complexos (UO
2
C1
4
)
2-
e (UO
2
C1
3
)
-
numa solução de HC1 9M
(amostras processadas na Inglaterra) ou HC1 8M (amostras proces-
sadas em Rio Claro). Neste último caso, quando se passa a solução
através da coluna contendo resina previamente acidificada com
HC1 8M, a seguinte reação de troca aniônica ocorre com os íons
complexos de cloreto de uranila:
A resina acidificada com HC1 8M ou HC1 9M retém também o
Fe
3+
que está na forma dos íons complexos FeCl
4
-
, mas deixa passar
os elementos alcalino-terrosos e o tório. O Fe
3+
pode ser eluído com
HNO
3
7M, o qual permite que o urânio permaneça retido na
resina. A separação do tório em relação ao urânio nesta fase do pro-
cesso é importante e necessária, pois as energias das partículas alfa
emitidas pelo
234
U e
230
Tho muito próximas, favorecendo a pos-
sibilidade de interferência no pico do
234
U no espectrograma alfa,
casoo ocorra a separação.
Os íons de cloreto de uranilaoo estáveis em soluções muito
diluídas de ácido clorídrico, sendo eluídos da coluna com HC1
0,1M, solução que é evaporada até a secagem. As colunas utiliza-
das possuem diâmetro ao redor de 12 mm, e para um volume de 20
ml de resina, empregou-se uma velocidade de escoamento da solu-
ção da ordem de 0,1 cm/min (20 gotas/minuto).
A determinação dos isótopos de urânio por espectrometria alfa
requer a utilização de fontes delgadas contendo o material extraído,
preparadas a partir da deposição uniforme desse elemento. Embora
essas fontes possam ser preparadas pelo emprego de Tenoil Tri-
Fluoraceton (TTA) (Bonotto, 1982, 1986), em muitos casos a ele-
trodeposição é preferível por resultar em fontes homogêneas de
grandes áreas, que permitem a utilização de maiores quantidades
de urânio. No método de evaporação, o urânio pode ser extraído
em igual volume de solução 0.25M de TTA diluído em benzeno e
solução de HNO
3
0,1M ajustada a pH 3. Esta técnica produz
espectrogramas alfa comparáveis em resolução aos obtidos para as
fontes preparadas por eletrodeposição, se a massa de urânioo for
maior que 38 (Kameli, 1980).
Vários sistemasm sido descritos para realizar a eletrodeposição
de urânio, em que quantidades pequenas (da ordem de nanogramas)
foram eletrodepositadas, por exemplo, a partir de álcool isopropí-
lico (Ramaniah et al, 1975). Procedimentos para efetuar rápida
deposição molecular de maiores quantidades de urânio também
foram descritos (Parker et al., 1964); neles, o elemento se acumula
em depósitos geralmente espessos e semi-aderentes. A deposição
eletrolítica do urânio em cátodos de alumínio,o inoxidável ou
platina em meio de oxalato de amônio foi empregada em experi-
mentos que resultaram em rendimentos químicos de extração de
100% a temperaturas entre 80 e 85°C (Laul et al., 1966). Já se des-
creveu também a deposição catódica de urânio em discos polidos
deo inoxidável a partir de um eletrólito de cloreto de amônio,
empregando-se um fio de Pt como ânodo e submetendo-se a solu-
ção a uma densidade de corrente de 1,2 A/cm
2
(Irlweck & Sopan-
tin, 1974).
O sistema de eletrodeposição utilizado para processar as amos-
tras na Inglaterra foi Originariamente implantado por Kameli
(1980) e serviu de modelo para a instalação de unidade similar em
Rio Claro, que também se prestou às análises das amostras referen-
tes a este trabalho. A célula de eletrodeposição consiste de um
cilindro de teflon (PTFE - Poli Tetra Flúor Etileno) com uma
flange, o qual é mantido fixo a um disco deo inoxidável (cátodo)
por dois parafusos e um anel de latão. Quando os parafusoso
apertados,o há saída de líquido entre o cilindro de teflon e o
disco. O ânodo consiste de um fio de platina de 1 mm de diâmetro,
disposto no formato de um núcleo quase helicoidal com um diâme-
tro de 15 mm (área superficial de 565 mm
2
). O cátodo é um disco
deo inoxidável de 22,6 mm de diâmetro e 0,27 mm de espessura.
Antes de serem utilizados, os discos devem ser limpos com NaOH
1M quente e, então, com dicloroetileno. Para remover qualquer
óxido presente nos discos, efetua-se tratamento com HC1 3M e,
então, lavagem com água destilada, mantendo-se os discos armaze-
nados em acetona. Durante a eletrólise ocorre a evolução do hidro-
gênio, que é efetiva para misturar a solução, e, portanto, nenhuma
agitação mecânica é necessária.
Os resultados experimentais de Kameli (1980) permitiram ava-
liar o efeito das principais variáveis relacionadas com o processo de
eletrodeposição, definindo os parâmetros utilizados na análise das
amostras. O melhor pH situa-se na faixa de 2,4 a 2,9, e valores
maiores que 3 favorecem a hidrólise do íon uranila para (UO
2
)
2
(OH)
2
2+
, o qualo deposita completamente no cátodo. Como
valores menores que 2,4 efetuam a dissolução do metal eletrodepo-
sitado, optou-se por utilizar esse valor para a realização do pro-
cesso, tanto na Inglaterra quanto em Rio Claro. A concentração do
eletrólito (NH
4
)
2
SO
4
o afeta significativamente o rendimento da
eletrodeposição, de maneira que valores entre 0,5 e 2M podem ser
utilizados, tendo recaído a escolha sobre este último. Quanto à
densidade de corrente, realizaram-se testes para valores entre 120 e
298 mA/cm
2
, obtendo-se fonte bastante aderente para o maior
valor, ao passo que o menor valor evitou perdas associadas ao
escape do eletrólito; por isso, decidiu-se pela utilização de valor
o muito elevado (cerca de 60-70 mA/cm
2
), atingido através do
emprego de polarização variando entre 250 e 300 mA. O volume
do eletrólitoo é crítico, tendo sido utilizado o valor de 10 ml,
consistentemente empregado nos testes realizados. Fontes de boa
qualidade foram obtidas no intervalo de temperatura de 20 a 80°C,
optando-se por realizar a eletrodeposição na temperatura ambi-
ente, em virtude das facilidades operacionais. O rendimento da
eletrodeposiçãoo se mostrou afetado pela distância entre o
ânodo e o cátodo, variada entre 0,6 e 1,5 cm; assim, para todas as
amostras, fixou-se em 1 cm essa distância, mantendo-se o ânodo
completamente paralelo ao cátodo. Quanto ao tempo de eletrode-
posição, ensaios realizados com 110 de urânio natural mostra-
ram que a maior parte se depositou nos primeiros 30 minutos de
eletrólise, requerendo a deposição restante cerca de 2 a 5 horas.
Para a eletrodeposição das amostras, adicionaram 2,5 ml de
H
2
SO
4
2M ao resíduo seco obtido após a troca iônica e evaporou-se
quase até a secagem, adicionando-se, então, 10 ml do eletrólito
(NH
4
)
2
SO
4
2M. Depois de se transferir a solução para a célula de
eletrodeposição, ajustou-se o pH para 2,4 através de H
2
SO
4
ou
NH
4
OH e a distância ânodo-cátodo para 1 cm. Conduziu-se a ele-
trólise numa corrente constante de 300 mA, aplicada por uma fonte
DC. Nessa circunstância, a tensão na célula de eletrodeposição é de
cerca de 5 V, sendo o tempo de eletrodeposição correspondente a 3
horas. Imediatamente antes de se desligar o circuito, adicionam-se
algumas gotas de NH
4
OH; em seguida, remove-se o ânodo, lava-se
o disco com água destilada e efetua-se sua secagem sob lâmpada
infravermelha. Convém ressaltar que várias reações ocorrem durante
a realização do processo. Inicialmente, no meio eletrolítico ácido,
verifica-se a evolução dos hidrogênio no cátodo de ácido inoxi-
dável de acordo com esta reação:
A reação se processa usualmente em dois estágios, envolvendo
uma etapa intermediária em que íons H
+
o descarregados e áto-
mos de hidrogênio ficam adsorvidos na superfície do cátodo:
Essa etapa prossegue da seguinte maneira:
Na ausência de outras substâncias facilmente oxidaveis, a oxi-
dação da água ocorre no ânodo produzindo tantos íons hidrogênio
quantoso perdidos no cátodo, isto é:
Portanto, se íons facilmente oxidáveis estão ausentes,o ocorre
mudança no pH do eletrólito. Nas proximidades do cátodo, o pH
aumenta em virtude da rápida evolução do hidrogênio e um filme
de hidroxila se forma na interface cátodo/eletrólito pela redução de
átomos ou moléculas de hidrogênio em meio básico ou neutro:
Simultaneamente a essas reações catódicas e anódicas, os íons
uranila (UO
2
)
2+
o atraídos para o cátodo. Eleso hidrolisados na
região básica próxima ao cátodo, conforme ilustram estas reações:
Esses íons complexoso subseqüentemente depositados no
cátodo, e vários compostos podem ser formados quandoo des-
carregados. Por exemplo, um depósito de U
3
O
8
de cor verde-oliva
metálica pode ser formado pela reação:
Fontes de cores que variam de amarelo a laranja ou de marrom a
cinza também podem ser obtidas, estando possivelmente associa-
das à formação de diferentes óxidos.o é possível ocorrer eletro-
deposição de urânio metálico a partir de um eletrólito aquoso em
razão de seu grande potencial negativo de descarga. Na presença de
outras espécies, a mais provável reação no cátodo é aquela na qual o
potencial de oxidação tem o menor valor negativo.
A espectrometria alfa dos discos preparados foi realizada empre-
gando-se detector semicondutor constituído por um cristal de silí-
cio do tipo N e criando-se, nas vizinhanças da superfície do cristal,
uma junção abrupta, a barreira de superfície. Para tanto, utiliza-
ram-se detectores de Si (Au) da ORTEC Mod. BA-026-450-300
(apresenta 450 mm
2
de área ativa, 300 de profundidade de
depleção, 26 KeV de resolução no pico de 5,48 MeV do
241
Am,
operando sob polarização reversa de 130 V) e Mod. A-025-200-
100 (possui 200 mm
2
de área ativa, 100 de profundidade de
depleção, 25 KeV de resolução no pico de 5,48 MeV do
241
Am,
sendo polarizado reversamente por 50 V). Um sistema contendo
seis detectores foi empregado nas medidas conduzidas na Ingla-
terra, ao passo que dois detectores foram utilizados na espectrome-
tria realizada em Rio Claro.
Os aspectos fundamentais envolvendo a descrição da eletrônica
associada e das etapas de calibração, a aquisição e o tratamento dos
dados foram extensivamente apresentados por Bonotto (1982,
1986). A principal diferença verificada na avaliação dos espectros
obtidos pode ser visualizada na Figura 2A, onde se nota que o pico
do traçador
236
U posiciona-se entre os picos do
238
U e do
234
U, ao
passo que o pico do traçador
232
U situa-se após o pico do
234
U. Tam-
m se observa a sobreposição dos picos do
235
U e do
236
U, porém,
tendo em vista a baixa abundância de
23S
U em relação a
238
U (1/
137,8), correçõeso necessárias para as amostras de elevada con-
centração de urânio, situaçãoo constatada em nenhum caso
neste estudo.
A técnica de mensuração de
222
Rn
A metodologia empregada para a quantificação do
222
Rn nas
soluções lixiviadoras e nas amostras de água foi implantada na
Inglaterra por Zereshki (1983), baseando-se na técnica de emanação
desenvolvida por Lucas (1957). As três etapas básicas do processo
envolvem a remoção do radônio da amostra, a sua transferência
para câmara de cintilação e a detecção dos pela contagem das
cintilações.
Na primeira etapa, a amostra foi degaseificada pela passagem
de ar comos de arraste, numa taxa equivalente a 1 litro por
minuto e num volume correspondente a dez vezes o volume da
amostra, conforme apontaram os testes realizados por Zereshki
(1983) e outros usuários do método. A umidade do fluxo de ar con-
tendo radônio foi gradativamente reduzida pelo emprego de
estágios de "secagem", consistindo de um tubo em U imerso em
recipiente com gelo, duas ampolas de 20 cm de comprimento por 3
cm de diâmetro preenchidas com CaCl
2
de 3 a 8 mesh e dois frascos
Dreschel contendo 300 ml de H
2
SO
4
concentrado cada um. O
222
Rn
foi absorvido em tubo pyrex em U com 20 cm de comprimento e
5 mm de diâmetro interno, que se encontrava preenchido até mais
da metade com carvão ativado de 18 mesh; o conjunto permane-
cia à temperatura de -76°C, mantida por mistura de CO
2
sólido e
acetona.
Figura 2A - Espectrogramas alfa típicos de amostras processadas com adição do traça-
dor(a)
236
U ou (b)
232
U.
Na segunda etapa, ocorreu a transferência do radônio absorvido
para câmara de cintilação consistindo de frasco cônico do tipo
Erlenmeyer com capacidade de 50 cm
3
, vedado com adaptador
pyrex B19 e revestido internamente com ZnS(Ag). Antes da trans-
ferência, a câmara foi evacuada a 0,05 Torr ou menos durante duas
a três horas e, então, conectada ao tubo em U com carvão ativado a
-76°C; manteve-se a outra extremidade do tubo acoplada a um sis-
tema de vácuo, que conduziu o conjunto até uma pressão menor que
0,1 Torr. Uma vez atingida essa pressão, inseriu-se o tubo em U em
forno tipo "poço", mantido a 200°C; depois de 15 minutos, permi-
tiu-se a admissão de um fluxo lento de ar para o sistema através de
uma válvula, até que se atingisse o valor da pressão atmosférica.
A terceira etapa caracterizou-se pela colocação da câmara cinti-
ladora em contato com válvula fotomultiplicadora de 3" de diâme-
tro (EMI modelo 9758 K/B) mantida no interior de ambiente
escuro, isto após o
222
Rn atingir o equilíbrio radioativo com os seus
descendentes de curta meia-vida (3 horas). As partículas alfa emi-
tidas na câmara colidem com a substância cintiladora ZnS(Ag)
1
ocasionando a emissão de fótons na região do visível e UV (cerca de
4.500 À), os quaiso detectados pelo tubo fotomultiplicador, por
sua vez conectado a um sistema eletrônico de contagem (pré-
amplificador, amplificador linear, analisador monocanal e conta-
dor/temporizador). Antes e depois da realização da medida para
cada amostra, procedeu-se à contagem de padrão de
239
Pu de ativi-
dade de 10
5
dpm, com o propósito de identificar qualquer modifi-
cação na resposta da instrumentação.
Um aspecto que merece destaque refere-se à necessidade de
calibração das câmaras de cintilação, conduzida por intermédio de
soluções padrões de
226
Ra, cada uma com atividade SA correspon-
dente a cerca de 1.000 pCi. Após a solução ter sido armazenada
durante pelo menos 25 dias, procedeu-se à extração e transferência
do radônio para a câmara de cintilação, de acordo com as etapas
descritas. Obtiveram-se a taxa de contagem (Tc) e o desvio padrão
a partir das expressões:
onde N é o número de contagens devido
o
222
Rn e to é o tempo de contagem da medida.
O número de contagens associado ruído de fundo (N
B
) das
câmaras também foi determinado, sendo o seu desvio padrão
expresso por:
A atividade real normalizada (An) foi obtida efetuando-se a dife-
rença entre a taxa de contagem Tc e a taxa de contagem do ruído de
fundo Tc
B
; o desvio padrão foi determinado pela expressão:
A atividade corrigida (Ad) associada ao decaimento do
222
Rn
durante o tempo t compreendido entre o início do processo de
extração e o final de realização da medida foi calculada a partir da
equação: Ad = An e , onde é a constante de decaimento do
222
Rn.
O desvio padrão é calculado pela expressão:
, onde se assume queo há erro em e em t.
Finalmente, o parâmetro que representa a calibração da câmara
cintiladora é obtido pela equação:
Assumindoo haver erro na atividade SA do padrão, o desvio
padrão desse parâmetro é fornecido por:
No Quadro 2A constam os resultados experimentais relaciona-
dos com a obtenção desses parâmetros para oito câmaras de cintila-
ção disponíveis para a realização das medidas.
Quadro 2A - Calibração das câmaras de cintilação para avaliação
do teor de
222
Rn nas águas subterrâneas da área cárstica de Mendip
Hills, Inglaterra, e nas soluções lixiviadoras de rochas e solos
utilizadas nos experimentos conduzidos em laboratório
Convém ressaltar que a definição do parâmetro t aplica-se nos
experimentos conduzidos em laboratório, porém, para as amostras
de águas subterrâneas, t corresponde ao intervalo de tempo entre a
coleta da amostra e o final da realização da medida. Além disso, Ap
corresponde à atividade calculada a partir da atividade corrigida
Ad e da calibração do frasco F
k
, de acordo com a seguinte equação:
O desvio padrão dessa atividade é computado a partir da
seguinte expressão:
Todas estas etapas e os procedimentos utilizados na Inglaterra
foram implantados no Labidro, em Rio Claro, por Lima (1993),
cujo trabalho apresenta de maneira bastante pormenorizada cada
passo analítico envolvido na quantificação dos nobre ""Rn.
Aquisição dos dados no campo
O monitoramento de temperatura, pH, potencial redox e teor
de oxigênio dissolvido para as águas subterrâneas analisadas nesse
trabalho foi conduzido no próprio local de coleta, uma vez que
esses parâmetros se modificam durante o transporte da amostra ao
laboratório. Os equipamentos utilizados na Inglaterra e em Rio
Claro diferiram quanto aos fabricantes, sendo, contudo, similares
quanto ao princípio de funcionamento. Assim, as descrições a
seguir se baseiam na instrumentação utilizada no Brasil, mesmo
porque foi empregada na análise de um número muito maior de
amostras.
Para a determinação da atividade protônica e eletrônica (pH e
Eh), recorreu-se ao modelo portátil da Digimed DMPH-PV, que
pode ser chaveado para as duas funções e possui conector BNC de
entrada para eletrodos combinados. A medição do pH foi efetuada
potenciometricamente por um eletrodo combinado, portador de
um eletrodo indicador e de um eletrodo de referência, cada um
constituído de uma meia-célula. A meia-célula que corresponde ao
eletrodo de referência gera uma voltagem constante,o depen-
dente do pH, e a que corresponde ao eletrodo indicador é constitu-
ída por um eletrodo de vidro, cuja membrana tem geralmente a
forma de um bulbo e é fabricada a partir de um vidro de composi-
ção controlada, com a propriedade de sofrer modificação superfi-
cial da estrutura pelo contato com uma solução aquosa; tudo se passa
como se a água da solução transformasse a camada externa do vidro,
inicialmente dura e compacta, numa película hidratada do tipo gel
extremamente fina, a qual permite a penetração dos íons H
+
e, con-
seqüentemente, o aparecimento de uma voltagem que é função
linear do pH. Soluções tampões de pH 4,7 ou 10 foram utilizadas
para calibração do medidor, ou seja, ajuste da inclinação da reta
mV versus pH.
A mensuração do potencial redox foi realizada pelo emprego de
eletrodo metálico de platina, combinado. Por intercâmbio de elé-
trons com o sistema redox a medir, o eletrodo recebe tensão igual
ao potencial eletroquímico do sistema. Como o intercâmbio de elé-
trons entre o sistema e o eletrodo só ocorre livremente nos sistemas
redox reversíveis, aqueles caracterizados por reação química em
solução que resultam, por exemplo, na evolução de ums ou na
formação de precipitado,o inadequados para uma medição
redox. Assim, o valor do potencial redox transmitido pelo eletrodo
informa apenas sobre o estado do equilíbrio do sistema, ou seja,
sobre as proporções relativas das formas oxidadas e reduzidas. Para
a leitura efetuada na amostra possuir algum significado, é necessá-
rio corrigi-la com a medida do potencial de solução contendo um
par redox estável e conhecido, prestando-se a esse propósito aquela
sugerida por Zobell (1946), que consiste de KC1 0,1M e quantida-
des equimolares de K
4
Fe(CN)
6
e K
3
Fe(CN)
6
. Nordstrom (1977)
avaliou a relação entre o potencial redox dessa solução e a tempera-
tura, encontrando uma forte dependência linear entre esses parâ-
metros até cerca de 60°C, porém, para temperaturas maiores que
esta, constatou que uma equação de segunda ordem se ajusta
melhor aos dados. No Quadro 3A estão expressos os valores pre-
vistos pelas equações propostas por Nordstrom (1977) para o
potencial redox Eh da solução de Zobell e para o potencial de meia-
célula (fern) do eletrodo de referência de Ag/AgCl em solução
saturada de KC1. O procedimento utilizado no campo para as
determinações de Eh consistiu em selecionar a escala mV no medi-
dor portátil, introduzir o eletrodo combinado de Pt em solução de
Zobell preparada no laboratório, adicionar o potencial medido ao
potencial do eletrodo de referência de Ag/AgCl na temperatura da
leitura e anotar a diferença entre o Eh medido e o valor esperado,
registrado no Quadro 3A; essa diferença foi adicionada (se o Eh
medido foi menor que o esperado) ou subtraída (se o Eh medido foi
maior que o esperado) do valor determinado para cada amostra de
água, e correções também foram realizadas para levar em conta a
diferença entre a temperatura da amostra de água e a temperatura
da solução de Zobell.
Quadro 3A - Variação com a temperatura dos valores da fem e de Eh
continuação
T(ºC)
8
10
12
14
16
18
20
22
24
25
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
fern (mV)
257
254
251
248
245
242
239
236
233
232
230
227
224
221
218
215
211
208
205
202
199
195
Eh
(mV)
472
467
462
457
453
448
443
438
433
430
428
423
418
416
407
402
397
393
386
381
376
370
T(°C)
58
60
62
64
66
68
70
72
74
76
78
80
82
84
86
88
90
92
94
96
98
100
fern (mV)
179
176
172
169
165
162
159
155
152
148
145
141
138
134
130
127
122
120
116
112
109
105
Eh
(mV)
343
338
332
326
321
315
309
304
298
292
286
280
275
269
263
257
251
245
239
233
226
220
A determinação de oxigênio dissolvido foi efetuada com equi-
pamento portátil da Analion, consistindo de sensor e indicador
analógico, respectivamente, Modelos 5920 e 0X900. O sensor
apresenta um corpo cilíndrico cujo eixo central é um cátodo de
ouro, o qual é circundado por um ânodo de prata; uma solução ele-
trolítica de AgCl preenche a cavidade entre os dois eletrodos,
sendo retida por uma membrana transparente de teflon, a qual é
mantida fixa na extremidade do sensor por meio de um anel de
vedação. O sensor está equipado com um termistor, que possibilita
a mensuração da temperatura da água; sua operação baseia-se no
princípio polarográfico, pelo qual a resposta ao oxigênio se dá pro-
porcionalmente à pressão parcial dos dissolvido na água. Dois
pontoso necessários para a sua calibração: o primeiro, o ponto
"zero", é obtido mergulhando-se o sensor em solução recém-pre-
parada de Na
2
S
2
O
3
1%, enquanto o segundo é obtido mergu-
lhando-se o sensor em frasco contendo água destilada, mantida sob
agitação para ocorrer aeração. Para a fixação do segundo ponto, é
necessário determinar a temperatura da água destilada e recorrer à
tabela que consta em APHA (1985) para a dependência com a tem-
peratura do teor de oxigênio dissolvido (em mg/l) em água desti-
lada no nível do mar. Como na situação mais freqüente a medida
da amostrao é realizada no nível do mar, um fator de correção
adicional é utilizado para levar em conta a pressão atmosférica (ou
a altitude) do local. O Quadro 4A exibe os fatores de correção
empregados; em que se nota que eles diminuem à medida que a
altitude aumenta. Essa diminuição é prevista pela Lei de Halley,
que estabelece que a pressão, numa atmosfera isotérmica, decresce
exponencionalmente com a altitude, caindo a 37% de seu valor ini-
cial no nível do mar em uma altitude correspondente a 8,4 km, con-
forme determinado pela equação (Nussenzveig, 1983):
onde h é a altitude, Pa é a pressão atmosférica no nível do mar, é
a densidade do ar a 15°C e no nível do mar e g é a aceleração da
gravidade.
Quadro 4A - Fator de correção da pressão
atmosférica de acordo com a altitude
Altitude
(m)
0
165
333
514
693
873
1.036
1.244
1.450
1.647
1.849
2.056
2.268
2.501
2.725
2.955
3.192
3.436
Pressão
(mmHg)
760
745
730
714
699
684
669
654
638
623
608
593
578
562
547
532
517
502
Fator de
correção
1.00
0.98
0,96
0,94
0,92
0,90
0,88
0,86
0,84
0,82
0,80
0,78
0,76
0.74
0,72
0,70
0,68
0,66
SOBRE O LIVRO
Formato: 14 x 21 cm
Mancha: 23,7 x 42,5 paicas
Tipologia: Horley Old Style 10,5/14
Papel: Offset 75 g/m
2
(miolo)
Cartão Supremo 250 g/m
2
(capa)
V edição: 2004
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Coordenação Geral
Sidnei Simonelli
Produção Gráfica
Anderson Nobara
Edição de Texto
Nelson Luís Barbosa (Assistente Editorial)
Armando Olivetti (Preparação de Original)
Ada Santos Seles e
Carlos Villarruel (Revisão)
Editoração Eletrônica
Lourdes Guacira da Silva Simonelli (Supervisão)
Edmilson Gonçalves (Diagramação)
Impressão e Acabamento
na Gráfica Imprensa da Fé
Daniel Marcos Bonotto é físico, especializado em abordagens hidro-
geoquímicas envolvendo os radioelementos naturais. É doutor
pela Universidade deo Paulo, pós-doutorado pela Universida-
de de Bath, Inglaterra e livre-docente pelo Instituto de Geociências
e Ciências Exatas - IGCE-UNESP, de Rio Claro-SP onde leciona
Geoquímica e outras disciplinas para graduandos em Geologia
e pós-graduandos em Geociências.
Este livro é de grande importância do ponto de vista do
estudo da qualidade das águas, já que a radioatividade é um
parâmetro queo pode ser descartado quando se busca uma
apropriada gestão dos recursos hídricos. Os descendentes da série
de decaimento do urânio investigadoso o
234
U e o
222
Rn que,
apesar de possuírem meias-vidas muito diferentes, constituem
ferramentas extremamente importantes em hidrologia isotópica.
O autor estuda a presença de
238
U,
234
U e
222
Rn na natureza
e a sua transferência de rochas e solos sob condições controla-
das de laboratório. Enfoca ainda os mecanismos de enriquecimen-
to de
234
U em águas subterrâneas de Aqüífero Cárstico, a disso-
lução de urânio em granitos e solos e mecanismos de transferência
de
222
Rn para as águas.
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