ficassem à retaguarda.
Os duzentos gangáridas puseram-se a rir das pretensões de seus aliados e garantiram que, apenas com
cem unicórnios, fariam fugir todos os reis da terra. A bela Formosante os apaziguou com a sua prudência
e as suas encantadoras falas. Amazan apresentou ao monarca negro os seus gangáridas, os seus
unicórnios, os espanhóis, os vascos e o seu belo pássaro.
Em breve tudo estava preparado para marchar por Mênfis, Heliópolis, Arsínoe, Petra, Artemite, Sora,
Apaméia, a fim de ir atacar aos três reis e dar início a essa guerra memorável, diante da qual todas as
guerras que os homens fizeram depois não foram mais que rinhas de galos e codornizes.
Todos sabem como o rei da Etiópia se enamorou da bela Formosante e como a foi surpreender no
leito, quando um suave sono lhe fechava os longos cílios. Recorda-se que Amazan, testemunha daquele
espetáculo, julgou ver o dia e a noite deitados juntos. Não se ignora que Amazan, indignado com a
afronta, sacou de súbito a sua fulminante, cortou a cabeça perversa do insolente negro e expulsou todos
os etíopes do Egito. Pois não estão esses prodígios registrados no livro de crônicas do Egito? A fama
espalhou com as suas mil bocas as vitórias que ele obteve sobre os três reis, com os seus espanhóis, seus
vascos e seus unicórnios. Entregou a bela Formosante ao pai; libertou todo o séquito da sua amada, que o
rei do Egito reduzira à escravidão. O grande cã dos citas se declarou vassalo, vendo confirmado o seu
casamento com a princesa Aldéia. O invencível e generoso Amazan, reconhecido herdeiro do reino de
Babilônia, entrou na cidade, em triunfo, com a fênix, na presença de cem reis tributários. A festa de seu
casamento ultrapassou em tudo a que o rei Belus oferecera. Foi servido à mesa o boi Apis assado. O rei
do Egito e o das Índias serviram bebidas aos dois esposos. E essas núpcias foram celebradas por
quinhentos grandes poetas de Babilônia.
Ó Musas, a quem sempre invocam no princípio das obras, somente no fim eu vos imploro. É em vão
que me censuram dar graças sem ter dito o benedicite. Nem por isso, ó Musas, me havereis de proteger
menos. Impedi que os continuadores temerários estraguem com as suas fábulas as verdades que ensinei
aos mortais nesta fiel narrativa, assim como ousaram falsificar Cândido, o Ingênuo, e as castas aventuras
da casta Joana que um ex-capuchinho desfigurou em versos dignos dos capuchinhos, em edições batavas.
Que não causem tal transtorno a meu tipógrafo, encarregado de numerosa família, e que mal possui com
que adquirir caracteres, papel e tinta.
Ó Musas, imponde silêncio ao detestável Coger, professor de parolagem no colégio Mazarino, que
não ficou contente com os discursos morais de Belisário e do imperador Justiniano e escreveu infames
libelos difamatórios contra esses dois grandes homens.
Ponde uma mordaça no pedante Larcher que, sem saber uma palavra do antigo babilônio, sem ter
viajado, como eu, pelas margens do Eufrates e do Tigre, teve a imprudência de sustentar que a bela
Formosante, e a princesa Aldéia, e todas as mulheres daquela respeitável Corte, iam dormir, por dinheiro,
com todos os palafreneiros da Ásia, no grande templo de Babilônia, devido a princípios religiosos. Esse
libertino de colégio, vosso inimigo e inimigo do pudor, acusa as belas egípcias de Mendes de só terem
amado os bodes, tencionando secretamente, sob esse exemplo, fazer uma viagem ao Egito, para
conseguir afinal aventuras galantes. Como não conhece nem o moderno nem o antigo, insinua, na
esperança de se introduzir junto a alguma velha, que a nossa incomparável Ninon, na idade de oitenta
anos, dormiu com o padre Gédoin, da Academia Francesa e da Academia de Inscrições e Belas Letras.
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