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Câmara Jr. (1970), que postula, para todo o PB, um subsistema ternário para a posição final
(/a, i, u/)
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e quaternário para a não final (/a, i, e, u/).
Contudo, a ocorrência da neutralização de vogais médias em posição postônica não
pode ser desconsiderada, mesmo nos dialetos analisados por Vieira (1994), os da região sul
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.
E é a alternância entre o subsistema /a, i, u/ e o subsistema por ela postulado /a, e, i, o, u/ que
a leva a atestar a conseqüente variabilidade da regra de neutralização. Assim, das sete vogais
em posição tônica, há uma regra de neutralização reduzindo o contraste entre as vogais
médias baixas e as médias altas (/ϯ/ = /e/, /ѐ/ = /o/), e outra regra, não categórica, reduzindo o
contraste entre as médias altas e altas (/e/ = /i/, /o/ = /u/).
Vieira (2001), dando um enfoque maior às postônicas não finais, analisa o que
considera um “comportamento variável”
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(VIEIRA, 2001, p.128). Há, assim, formas como
cóc[o]ras e ânc[o]ra, onde a neutralização de /o/ pode não acontecer, co-ocorrendo com
abób[u]ra e fósf[u]ro, onde a neutralização sempre ocorre. Da mesma maneira, tem-se
núm[i]ro, prót[i]se e cóc[i]ga, neutralizadas, e vésp[e]ra, cát[e]dra e vért[e]bra, não
neutralizadas. Concordando com Vieira (1994), para Amaral (1999), regulando o processo de
alçamento da postônica não final, existe, no dialeto investigado por ela, “uma redução
variável ao invés da neutralização” (AMARAL, 1999, p.90). Relata a variação dos termos
fósf[o]ro ~ fósf[u]ro; abób[o]ra ~ abób[u]ra; árv[o]re ~ árv[u]re; e, entre as vogais /e/ e /i/,
nos termos pêss[e]go ~ pêss[i]go; alfând[e]ga ~ alfând[i]ga; fenôm[e]no ~ fenôm[i]no;
aponta, contudo, a preservação das palavras vésp[e]ra, úlc[e]ra e úb[e]re.
Não se pode negar que o contexto exerça aí uma forte influência, e a ele se dedicam os
próximos parágrafos. Por exemplo, consoantes labiais, de acordo com os resultados de Vieira
(1994, 2001), corroborados por Amaral (1999, 2001), tendem a aumentar significativamente o
alçamento de /o/, devido ao traço de labialidade que compartilham, e, em ambos os estudos,
“a elevação de [o] ocorre mais freqüentemente” (AMARAL, 1999, p.90). Porém, essa
variabilidade corre o risco de ser apenas aparente, isso se olharmos para o indivíduo e não
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Cabe lembrar, contudo, a observação feita por Câmara Jr. (2002) quanto às postônicas finais: “Nesta última
posição, a pronuncia mais generalizada, e praticamente «padrão», é, como no Rio de Janeiro, a redução drástica
do quadro de vogais.” (CÂMARA JR., 2002, p.23). E “praticamente” não é uma expressão generalizadora.
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As cidades que compuseram a mostra de Vieira foram “Curitiba, Londrina, Pato Branco e Irati no Paraná;
Florianópolis, Blumenau, Lages e Chapecó em Santa Catarina; Porto Alegre, Flores da Cunha, São Borja e
Panambi no Rio Grande do Sul.” (VIEIRA, 2001, p.128).
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Porto Alegre, segundo Vieira (2001, p.158) é a “cidade que mais pratica a regra de elevação de /e/ e /o/”.
Conclui, assim, que, ao contrário das outras cidades, em Porto Alegre “já se poderia falar na existência da regra
de neutralização, uma vez que pouca variação ocorre em posição postônica não-final”.