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não deve fazer-se esquecer que a configuração subjetiva tem, pela ligação
significante, uma objetividade perfeitamente localizável, que funda a própria
possibilidade da ajuda que trazemos sob a forma da interpretação. (op.cit., p.
82)
Ao longo da formação analítica, por meio do trabalho pessoal de análise e
supervisão e do estudo teórico, é possível apreender que há algo no discurso para além
das palavras, ou melhor, aquém destas. Lacan, no mesmo seminário já citado, assinala
essa questão, entre outras, e nos traz a idéia de que a experiência analítica é uma
experiência de discurso e, como tal, acarreta a possibilidade de investigação do “saber”
que se encontra por traz das palavras. Esse saber, que já está no mundo e faz parte dos
pilares da estruturação do sujeito, é um saber ancestral, que liga um significante a outro
para, assim, representá-lo; dessa forma, também se encontra ligado a um gozo, uma vez
que o traço que fez marca – “traço unário” – num momento fugidio, e apenas neste, já
que o gozo se encontra desde então interditado, estiveram ambos atrelados, e foi
precisamente este que deixou sua marca. Entende-se, então, que saber e gozo estão, de
alguma forma, articulados, e, portanto, pela via do gozo que aparece no discurso, é
possível atingir esse saber, ou seja, a verdade do sujeito.
Agora vem o que Lacan aporta. Que diz respeito a essa repetição, essa
identificação do gozo. (...) a função do traço unário – quer dizer, da forma mais
simples de marca, que é, falando propriamente, a origem do significante. (...) –
que é no traço unário que tem origem tudo o que nos interessa, a nós, analistas,
como saber. (LACAN, 1992, p. 44)
Assim, se é do discurso, e dos significantes que aí se apresentam, que devemos
dispor para um tratamento psicanalítico, também será destes que devemos partir para
uma pesquisa referenciada na psicanálise.
Diante dessas idéias ‘pré-concebidas’ acerca da pesquisa, a proposta da
Psicopatologia Fundamental veio ao encontro da questão sobre como viabilizar esse