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FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PSIQUIATRIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS: DESENVOLVIMENTO E
APLICAÇÃO DO MÓDULO WHOQOL-OLD E TESTE DO
DESEMPENHO DO INSTRUMENTO WHOQOL-BREF EM UMA
AMOSTRA DE IDOSOS BRASILEIROS
EDUARDO CHACHAMOVICH
Porto Alegre, Dezembro de 2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS : PSIQUIATRIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS: DESENVOLVIMENTO E
APLICAÇÃO DO MÓDULO WHOQOL-OLD E TESTE DO
DESEMPENHO DO INSTRUMENTO WHOQOL-BREF EM UMA
AMOSTRA DE IDOSOS BRASILEIROS
EDUARDO CHACHAMOVICH
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck
Porto Alegre, Dezembro de 2005
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências Médicas :
Psiquiatria como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre.
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Catalogação-na-Publicação
C431
Chachamovich, Eduardo
Qualidade de vida em idosos: desenvolvimento e aplicação do módulo
WHOQOL-OLD e teste do desempenho do instrumento WHOQOL-BREF em uma
população idosa brasileira / Eduardo Chachamovich. – 2005.
197 f.
Dissertação (mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Ciências
Médicas: Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck.
1. Qualidade de vida 2. Idosos I. Fleck, Marcelo Pio de Almeida II.
Título
NLM WA 30
(Bibliotecária responsável: Elise Maria Di Domenico Coser – CRB-10/1577)
4
“A natureza fez o pescoço com uma mobilidade de 360 graus.
Portanto devemos olhar a coisa de todos os ângulos””
(Millôr Fernandes, 2000)
5
AGRADECIMENTOS
Para a minha família Júlio, Jane, Régis e Lúcio, pelo suporte sempre
presente e, especialmente, por ensinarem que as conquistas, sejam quais
forem e em que âmbito ocorrerem, são para ser sentidas e aproveitadas.
Enfim, que a vida é música.
Para a minha esposa Juliana, palheta de cores da minha vida.
Às famílias Luzardo Rigol, em especial a Dario Carlos, Gladys, Eliana e
Marcos, pelo caloroso e sempre alegre acolhimento.
Aos colegas do Centro Brasileiro do Grupo de Qualidade de Vida, pelo
apoio mútuo e pelas valiosas contribuições que trocamos ao longo dos
trabalhos.
Aos amigos Jacques Zimmermann e Marcelo Berlim, pela profícua
parceria marcada por agradáveis momentos.
À amiga Clarissa Trentini, um muito obrigado pelo trabalho conjunto e
pela amizade desenvolvida.
6
À equipe de coleta de dados, especialmente às incansáveis Mônica
Carvalho e Valéria Marchi, pela intensa entrega à difícil tarefa. Muito grato pela
competência.
Ao meu orientador Marcelo Fleck, responsável pelo fundamental
aprendizado de que ciência é meio. Expresso minha imensa gratidão por ter
sido por ele acompanhado desde muito cedo nos diferentes papéis por que um
pesquisador passa, o que é motivo de orgulho e gerador de importante vivência
humana e científica. Do mesmo modo, agradeço a oportunidade de ter-me
juntado ao grupo de pesquisa em qualidade de vida WHOQOL, outro motivo de
orgulho e satisfação.
Ao Pós Graduação em Psiquiatria, pela criação de um espaço de
desenvolvimento científico e humano.
Às instituições de idosos que, pronta e acolhedoramente, se puseram à
disposição para colaborar.
Especialmente aos 424 idosos pacienciosos, que, com suas histórias e
rememorações, fizeram este árduo projeto de pesquisa ganhar vida.
7
SUMÁRIO
Resumo 09
Abstract 12
1. Apresentação 15
2. Revisão de Literatura
2.1 Epidemiologia do envelhecimento 16
2.2 Qualidade de vida 25
2.3 Qualidade de vida em idosos 30
3. O Projeto WHOQOL-OLD 44
3.1 Desenvolvimento do Módulo WHOQOL-OLD 46
3.2 Grupos Focais 47
3.3 Teste piloto do Módulo WHOQOL-OLD 49
3.3.1 Instrumentos 51
3.3.2 Método 51
3.4 Teste de campo 52
3.4.1 Instrumentos 54
3.5 A versão final do Módulo WHOQOL-OLD 54
4. Questões de pesquisa 59
5. Artigo 1 : Desenvolvimento e aplicação do módulo de avaliação
de qualidade de vida em idosos da Organização Mundial
de Saúde WHOQOL-OLD
5.1 Versão em português 60
5.2 Versão em inglês 85
8
6. Artigo 2 : Avaliação do desempenho psicométrico do
instrumento WHOQOL-BREF em uma amostra de idosos brasileira
6.1 Versão em português 110
6.2 Versão em inglês 134
7. Considerações finais 158
8. Referências bibliográficas 160
9. Anexos
9.1 Termo de Consentimento 171
9.2 Ficha de dados sócio-demográficos 173
9.3 Ficha de avaliação de classe social 179
9.4 WHOQOL-BREF 181
9.5 WHQOL-OLD 186
9.6 Inventário de Depressão de Beck (BDI) 192
9.7 Escala de Desesperança de Beck (BHS) 194
9.8 Aprovação da Comissão Científica e Comissão
de Pesquisa e Ética em Saúde do HCPA 196
9
RESUMO:
Introdução: A presente dissertação de mestrado tem como foco a investigação
de qualidade de vida em idosos. Não somente à expectativa de vida e à morbi-
mortalidade, o interesse científico tem-se voltado a conferir qualidade aos anos
de vida de uma população de idosos crescente em países desenvolvidos e em
desenvolvimento. A definição do construto qualidade de vida não desfruta de
consenso até o momento. Entretanto, é consensual que a população de idosos
apresenta particularidades que, por conseguinte, se refletem na conceituação
de qualidade de vida e na determinação de quais fatores contribuem para sua
composição. Entretanto, diversos instrumentos utilizados em estudos de
qualidade de vida em idosos não abrangem tais especificidades ou não
apresentam propriedades psicométricas adequadamente testadas para esta
população.
Objetivos: Os objetivos principais desta dissertação são dois. Primeiramente,
desenvolver a versão em português do módulo de aferição de qualidade de
vida em idosos da Organização Mundial de Saúde WHOQOL-OLD e descrever
suas propriedades psicométricas em uma amostra de idosos brasileiros. Em
segundo lugar, realizar a testagem do desempenho psicométrico do
instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida WHOQOL-BREF,
originalmente gerado em uma população de adultos não-idosos e
crescentemente utilizado em investigações geriátricas.
Método: 424 sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos foram
entrevistados, completando uma ficha de dados sócio-demográficos, os
instrumentos WHOQOL-BREF, Inventário de Depressão de Beck (BDI), Escala
de Desesperança de Beck (BHS) e o módulo WHOQOL-OLD. A uma
10
subamostra de 51 sujeitos foi aplicado o Módulo WHOQOL-OLD após duas
semanas.
Resultados: A amostra foi constituída predominantemente de mulheres
(64,2%), de sujeitos vivendo na comunidade (84,4%) e de sujeitos que se
consideram saudáveis (67,5%). O Módulo WHOQOL-OLD é composto por seis
facetas e 24 itens, gerando escores em cada uma das facetas e um escore
geral (overall). Os coeficientes de Cronbach indicam que todas as facetas e o
conjunto de itens apresentam fidedignidade satisfatória, variando de 0,710
(faceta autonomia) a 0,885 (overall). As seis facetas e o escore overall
mostram-se capazes de discriminar os idosos com diferentes níveis de
depressão, bem como os que se percebem saudáveis daqueles que se
percebem doentes. A validade concorrente, aferida através da correlação dos
escores com os de sintomatologia depressiva e de desesperança, apresenta
significância estatística. A comparação das médias dos escores do teste e
reteste não indica diferenças, atestando a estabilidade do instrumento. Em
relação ao desempenho do instrumento WHOQOL-BREF, todos seus quatro
domínios demonstraram-se capazes de discriminar níveis de sintomas
depressivos e de desesperança, bem como diferentes percepções de estado
de saúde. Os coeficientes de correlação entre os domínios e os escores do BDI
e BHS apresentaram significância estatística. Os coeficientes de fidedignidade
de Cronbach assumem valores que variam de 0,614 (domínio relações sociais)
a 0,925(conjunto de 26 itens). Em relação à validade de critério, O domínio
Relações Sociais não apresentou significância estatística no modelo proposto
de regressão linear múltipla (p=0,061). Os domínios físico, psicológico e de
11
meio-ambiente explicam 64,7% da variância do escore global, constituído por
dois itens de qualidade de vida geral.
Conclusão: O módulo WHOQOL-OLD representa uma ferramenta
adicional aos questionários genéricos de qualidade de vida WHOQOL-100 ou
WHOQOL-BREF como uma alternativa útil na investigação de qualidade de
vida de idosos, abrangendo aspectos relevantes e não abordados nos
instrumentos desenhados originalmente para populações não-idosas. A
testagem do desempenho psicométrico do instrumento WHOQOL-BREF
demonstrou que este apresenta consistência interna, validade concorrente,
validade discriminante e validade de critério satisfatórias em uma amostra de
idosos brasileiros. Seus itens foram analisados previamente em grupos focais,
em relação ao conteúdo e fraseamento, tendo sido considerados pelos idosos
como relevantes para a aferição de qualidade de vida e de fácil entendimento.
Assim sendo, o WHOQOL-BREF apresenta características que o colocam
como um instrumento genérico de aferição de qualidade de vida com adequado
desempenho psicométrico testado em idosos.
Descritores: qualidade de vida, idosos, WHOQOL-BREF, WHOQOL-OLD
12
ABSTRACT:
Background: This master’s dissertation focuses on the investigation on quality
of life in older adults. Scientists have been more interested in providing quality
of life to years of life in a growing population of older adults in developed and
developing countries than solely increasing life expectancy and decreasing
mobi-mortality. There is no consensus on the definition of the quality of life
construct up to the present. However, it is unanimous that the older adult
population shows particularities that reflect on the quality of life concept and the
determining of which factors contribute for its composition. Nevertheless,
several instruments used in studies on quality of life in older adults do not
comprehend these specificities or do not present psychometrical properties
appropriately tested for this population.
Objectives: This study has two main goals. First of all, to develop the
Portuguese version of the World Health Organization’s WHOQOL-OLD and to
describe its psychometrical properties in a sample of Brazilian older adults.
Secondly, to carry out the testing of the psychometrical performance of the
generic instrument for quality of life assessment WHOQOL-BREF, originally
generated in a population of non-elderly adults and widely used in geriatric
investigations.
Method: 424 subjects of sixty years old and over were interviewed, filling out a
socio-demographic data form, the WHOQOL-BREF, Beck Depression Inventory
(BDI), and the Beck Hopelessness Scale (BHS) instruments, as well as the
WHOQOL-OLD module. The WHOQOL-OLD module was reapplied to a sub-
sample of 51 subjects after two weeks.
13
Results: The sample was predominantly comprised of women (64.2%),
community-dwelling subjects (84.4%) and subjects whom consider themselves
healthy (67.5%). The WHOQOL-OLD module is comprised of six facets and 24
items, generating scores in each one of the facets and an overall score.
Cronbach’s coefficients indicate that all the facets and the set of items show
suitable reliability, ranging from 0.710 (autonomy facet) to 0.885 (overall). The
six facets and overall scores show the ability to discriminate older adults with
different depression levels, as well as the ones who consider themselves
healthy and the ones who consider themselves unhealthy. Concurrent validity,
measured through the correlation of facet and overall scores with those of
depressive and hopelessness scales, present statistical significance. The
comparison of the test –retest mean scores does not indicate differences,
proving the stability of the instrument. Concerning the WHOQOL-BREF
instrument’s performance, all its four domains showed the ability to discriminate
depressive and hopelessness symptoms levels, as well as different perceptions
of health status. The correlation coefficients among the domains and the BDI
and BHS scores showed statistical significance. Cronbach’s Alpha coefficients
range from 0.614 (Social relationships domain) to 0.925 (set of 26 items).
Concerning criterion validity, the Social Relationships domain did not show
statistical significance in the multiple linear regression model proposed
(p=0.061). The Physical, Psychological and Environmental domains explain
64.7% of the global score variance, comprised of two items of general quality of
life.
Conclusion: The WHOQOL-OLD module represents an additional tool to the
generic quality of life questionnaires WHOQOL-100 or WHOQOL-BREF as a
14
useful alternative, comprehending relevant aspects not covered in the
instruments originally designed for non-elderly populations. The testing of the
psychometrical performance of the WHOQOL-BREF instrument showed that it
presents suitable internal consistency, concurrent validity, discriminant validity
in a sample of Brazilian older adults. Its items were previously analyzed in focus
groups concerning content and phrasing, considered by the older adults as
relevant for the quality of life measurement and easy to understand. Therefore,
WHOQOL-BREF is a useful alternative of generic instrument for quality of life
instrument with appropriate psychometrical performance tested in older adults.
Keywords: quality of life, elderly, WHOQOL-BREF, WHOQOL-OLD
15
Apresentação
A presente Dissertação de Mestrado tem como foco a medição de
qualidade de vida em idosos. Trata-se da aproximação de um construto de
crescente interesse científico a uma população também crescente em número
e importância.
Para tanto, é composta de:
a) uma introdução, abordando o construto qualidade de vida, sua
aplicabilidade à população idosa e o projeto WHOQOL-OLD;
b) proposição das questões de pesquisa a serem respondidas;
c) um artigo que descreve o desenvolvimento e aplicação da
versão em Português do Módulo WHOQOL-OLD de aferição
de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde
(ARTIGO 1);
d) um artigo que descreve o desempenho do instrumento
WHOQOL-BREF de aferição de qualidade de vida da
Organização Mundial de Saúde em uma população idosa
(ARTIGO 2), e
e) considerações finais
f) referências bibliográficas.
16
1. Introdução: Revisão da Literatura
1.1 Epidemiologia do envelhecimento
O aumento da população de idosos é um fenômeno crescente e
mundial. Iniciado em países desenvolvidos, passa atualmente a ser uma
realidade também em países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Nos
países industrializados, as quedas das taxas de fecundidade e mortalidade,
cujo princípio data do século XIX, foram resultados diretos das melhorias
sociais, marcadamente nas áreas de saneamento básico, trabalho, alimentação
e habitação. Deste modo, a alteração da distribuição populacional e a inversão
paulatina da pirâmide etária se deram em consonância com uma série de
medidas de estruturação social, o que viria a fornecer condições mais
adequadas ao envelhecer. No Brasil, entretanto, foi a ação médico-sanitária
que deu base à diminuição de mortalidade, permitindo então que uma
população idosa maior permanecesse viva, mas sem as condições sociais que
devem acompanhar o aumento da faixa etária idosa na população. Decorrente
desta inversão, houve gradual diminuição de qualidade das condições de vida
da população idosa no Brasil, especialmente nas primeiras décadas do século
XX (Chaimowicz, 1997).
No período compreendido entre 1900 e 1940, a população brasileira
manteve grande estabilidade de sua estrutura etária devido especialmente à
reduzida oscilação das taxas de natalidade e mortalidade. A esperança ao
nascer, por exemplo, passou neste período de 33,3 a 37,6 anos para homens e
de 34,1 a 39,4 anos para mulheres (Chaimowitz, 1997). Neste mesmo período,
17
a população de idosos no Brasil representava somente cerca de 2,5% da
população geral, enquanto o grupo etário de até quinze anos compreendia
cerca de 46% (IBGE, 2005).
A partir da década de 1940, observa-se o início do processo de declínio
rápido das taxas de mortalidade, que se estendeu até o final dos anos 70. A
esperança de vida aumentou em 4 anos para homens e 6,8 anos para
mulheres, atingindo para estas 53,7 anos em 1970. O processo de
envelhecimento populacional tomou fôlego especialmente a partir de 1960, com
o marcado declínio da fecundidade, inicialmente nas regiões mais
desenvolvidas e, em seguida, espalhando-se às desfavorecidas. As taxas de
fecundidade, por exemplo, caíram de 5,8 (em 1970) para 2,7 filhos (em 1991)
por mulher em idade reprodutiva, acarretando um decréscimo do peso relativo
dos jovens e um aumento da proporção de idosos de 3,1 para 4,8%.
Concomitante ao aumento da representatividade dos idosos, o índice de
envelhecimento populacional (calculado pelo número absoluto de indivíduos
maiores de 64 anos multiplicado por 100 e dividido pelo número absoluto de
menores de 15 anos, e indicador da tendência de envelhecimento ou
rejuvenescimento populacional) passou de 6,4 em 1960 para 13,9 em 1991,
denotando um incremento de quase 100% em apenas 30 anos (Chaimowitz,
1997).
A composição da população se dá por um fenômeno dinâmico, as
chamadas “ondas jovens” que são coortes em que há um desequilíbrio da
relação natalidade-mortalidade, determinando uma pendência em direção ao
rejuvenescimento. As “ondas jovens” progridem com o decorrer dos anos,
acarretando futuramente um momento posterior de envelhecimento. Deste
18
modo, espera-se que na próxima década ocorra um rápido e intenso
incremento na proporção de idosos, que provavelmente passará de 5,1% a
14,2% da população total. Contribui para esta expectativa a persistente
redução de fecundidade nos últimos 10 anos. Calcula-se que, em 2020, a
esperança de vida deverá chegar a 75,5 anos no Brasil, sendo a população
formada por 7,7% de idosos (cerca de 16,2 milhões de indivíduos)
(Chaimowitz, 1997; Garrido et al, 2002; Ramos, 2003; Xavier, 2003).
Dentro da explosão demográfica de idosos no Brasil, destaca-se que
esta ainda não se dá às custas do aumento da população de “idosos muito
velhos”, assim chamados os idosos com mais de 80 anos de idade. Em 1995, a
proporção de idosos muito velhos em relação à população total de indivíduos
com mais de 65 anos de idade era de 9% (IBGE, 2005). Tal aspecto é de
fundamental importância no desenho de intervenções de saúde e alocação de
recursos, uma vez que a população de mais idade necessita de um perfil
distinto de cuidados e representa um custo significativamente mais elevado.
Em relação à distribuição dos idosos por sexo, assim como em outros
países do mundo há uma preponderância na população idosa brasileira de
mulheres. A proporção de mulheres na população acima de 60 anos é de 55%,
sendo que esta diferença se acentua com o aumento de idade. A razão mulher
homem é de 118/100 na faixa de 65-69 anos e de 141/100 no grupo de 80
anos ou mais. A esperança de vida ao atingir 60 anos também liga-se ao sexo.
As mulheres têm em média esperança de 19,3 anos de vida, enquanto os
homens vivem em média mais 16,8 anos (Garrido et al 2002).
Tomando índices de envelhecimento de outros países como
comparação, temos que a França, por exemplo, necessitará de 115 anos para
19
duplicar o número de idosos (85 anos na Suécia e 66 anos nos Estados
Unidos). Calcula-se que o Brasil leve somente 30 anos para tal. Deste modo, o
Brasil deve passar já em 2025 para o 6º colocado no mundo em número
absoluto de indivíduos com mais de 60 anos, enquanto ocupava a 16ª posição
em 1960 (Chaimowitz 1997; Paschoal, 2002; Ramos, 2003).
A tendência de retangularização da pirâmide etária, ocorrida desde 1970
no Brasil, traz impactos diretos na alocação de recursos em atendimento em
saúde. Paulatinamente as doenças infecto-contagiosas, mais associadas à
população jovem e cujo tempo de duração é reduzido (devido à dicotomia cura
ou morte), passam a dar lugar a uma crescente prevalência de condições
crônico-degenerativas, caracterizadas por um prolongado tempo de doença e
por requerer uma série específica de amplos cuidados em saúde. Os gráficos
abaixo, publicados pelo IBGE em sua página na internet, ilustram o processo
de retangularização etária brasileiro.
20
21
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística anualmente, foi oficialmente
divulgada pela entidade em início de dezembro de 2005 (dados referentes ao
ano de 2004). O total de idosos residentes no Brasil é de 17.461.495,
correspondendo a 9,8% da população total. A esperança de vida ao nascer no
Brasil alcançou os 71,7 anos (71 anos, 8 meses e 12 dias). Em relação a 2003
houve um acréscimo de 0,4 ano (4 meses e 24 dias). Entre 1980 e 2004 a
esperança de vida do brasileiro apresentou um acréscimo de 9,1 anos, ao
passar de 62,6 anos, para os atuais 71,7 anos. Assim, ao longo de 24 anos, a
esperança de vida ao nascer no Brasil, incrementou-se anualmente, em média,
em 5 meses. Em 2004, com uma esperança de vida ao nascer de 81,9 anos, o
Japão liderava os 192 países que integram o ranking da ONU, no qual o Brasil
ocupa a 82ª posição – sete posições acima da que ocupava em 2000, quando
22
estava em 89º lugar, com uma esperança de vida ao nascer de 70,5 anos. Em
2004, um brasileiro que completasse os 20 anos de idade tinha ainda pela
frente 54,6 anos, em média, perfazendo 74,6 anos de expectativa de vida. Já
um indivíduo com 50 anos de idade em 2004 poderia viver até os 78,3 anos, e
aqueles com 60 anos viveriam além dos 80 anos de idade. Mas os diferenciais
por sexo mudam de acordo com as idades: as mulheres que completassem
vinte anos em 2004 viveriam, em média, sete anos mais que os homens,
enquanto as sexagenárias viveriam apenas 3,1 anos a mais (IBGE, 2005).
Tal mudança de direção tem reflexos, há mais tempo, no direcionamento
de recursos financeiros nos países desenvolvidos. De modo geral, um terço
dos recursos destinados aos cuidados individuais na saúde dos Estados
Unidos em 1989 foram investidos nos 12% de idosos da população norte-
americana. Na Inglaterra, onde se calcula que o gasto per capita com o idoso é
cerca de três vezes maior do que com adultos jovens, os idosos (cerca de 17%
da população total) recebiam 60% dos investimentos nacionais de saúde na
década de 80 (Chaimowitz 1997).
Além de investigar e determinar o ritmo de envelhecimento populacional,
há também a preocupação de estudar a qualidade do envelhecimento e, em
um segundo momento, desenhar intervenções capazes de provocar impacto
em direção a um processo de envelhecimento saudável. Como destaca Litvak,
“o envelhecimento não começa subitamente aos 60 anos, mas consiste no
acúmulo e interação de processos sociais, médicos e de comportamento
durante toda a vida. As metas são promover a saúde e o bem-estar durante
toda a vida do indivíduo” (Litvak, 2000, p1). Segundo Neri (2000), o
envelhecimento bem sucedido seria produto de uma condição de bem estar
23
físico e social em nível individual e de grupo, sendo levados em conta os
valores existentes no ambiente em que o indivíduo envelhece e as
circunstâncias de sua história pessoal e de seu grupo etário.
Papalia e Olds (2000) propõem três aspectos gerais que, somados aos
fatores individuais, contribuem para a caracterização do processo de
envelhecimento. Aumento nas perdas físicas, indicado como primeiro deles,
relaciona-se especificamente com o prejuízo das capacidades motoras e do
funcionamento dos sentidos, modulando a interface do idoso com o mundo
externo. Em segundo lugar, colocam as perdas sociais acumulativas como
fonte de alterações nas configurações de amizades e de posicionamento no
círculo social. Por fim, como terceiro aspecto, destacam a percepção de
finitude da vida e de limite de tempo a ser vivido. Este último já fora citado
como um dos conflitos básicos da velhice por Erikson (1968), que destacava a
ambivalência de integridade de Ego e desespero como a tarefa a ser realizada
neste estágio da vida, ao qual chamou maturidade.
Rowe e Kahn (1987) indicaram a necessidade de diferenciação entre o
que chamam de envelhecimento bem sucedido e usual. Destacam que os
fatores que caracterizam o processo de envelhecimento como bem sucedido
dividem-se basicamente em dois grandes grupos: primeiro, os fisiológicos e de
vitalidade (em que se inserem capacidades físicas, alterações metabólicas,
capacidades cognitivas) e, segundo, os psicológicos (que englobam
capacidade de lidar com perdas afetivas, resiliência, suporte social). Assim,
concluem que o envelhecimento bem sucedido depende de uma série de
aspectos interligados e interdependentes. Dez anos decorridos, os mesmos
autores revisariam o modelo primeiramente proposto, acrescentando um
24
aspecto ambiental e redefinindo os componentes determinantes de um
envelhecimento bem sucedido. Em 1997, propõem então que a definição de
envelhecimento bem sucedido inclui três componentes: primeiro, baixa
probabilidade de doenças ou limitações decorrentes de patologias; segundo,
manutenção das capacidades cognitivas e físicas e; terceiro, engajamento ativo
com a vida. Deste modo, a inclusão do terceiro componente indica a tendência
de que o envelhecimento bem sucedido não está associado somente a
ausência de prejuízos e nem se dá de forma passiva, mas é determinado
ativamente pela postura do idoso (Rowe & Kahn, 1997).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em publicação
intitulada “WHO policy framework on active ageing” (2002), há uma substituição
do paradigma de envelhecimento de um modelo de necessidades (needs
based approach) para um de direitos ativamente conquistados (rights based
approach).
Neste contexto de valorização do processo de envelhecimento bem
sucedido, que propõe uma ruptura do entendimento prévio de que a velhice era
Figura retirada de Rowe e
Kahn, 1997
25
sinônimo da presença de patologias físicas e emocionais, a aplicação do
construto de qualidade de vida em investigações de idosos passou a despertar
interesse crescente.
1.2 Qualidade de vida
Qualidade de vida tem sido recentemente reconhecida como um dos
objetivos centrais do atendimento em saúde (Katschnig, 1997). Historicamente,
o desenvolvimento do conceito de qualidade de vida perpassou fases de
interesse científico distintos, criando um solo fértil e dinâmico que levou ao
estabelecimento de um corpo sólido teórico e prático acerca de Qualidade de
Vida, sem que, no entanto, se tenha chegado próximo a um consenso
conceitual.
As pesquisas em temas relacionados a construtos de percepção
subjetiva de satisfação iniciaram-se na literatura internacional em 1953, com a
publicação de uma série de estudos conduzidos por Jones, um psicólogo
americano da Universidade de Harvard, reunidos no livro The Pursuit of
Happiness (Jones, 1953). Guryn e colaboradores (1960) seguiram as
pesquisas em felicidade, determinando desde então que tal conceito
compunha-se de dimensões positivas e negativas, sendo importantes
determinantes não somente a presença da primeira, mas também a ausência
da última. A presença das dimensões positiva e negativa na composição do
construto felicidade também se verifica no construto qualidade de vida, aspecto
em que os dois conceitos se aproximam. Farquhar (1995) destaca, em relação
à definição de qualidade de vida, que o termo “qualidade” traz consigo uma
conotação positiva que não se aplica ao construto qualidade de vida, sendo
26
este último um indicativo de um estado e não necessariamente de um estado
positivo de vida.
Paralelamente aos estudos em felicidade, nas décadas de 1960 e 1970,
filósofos, políticos e cientistas sociais investiram esforços no desenvolvimento
de pesquisas em indicadores sociais como resposta especialmente a um
panorama de percepção de má distribuição de renda da população norte-
americana e a conseqüente insatisfação de uma parcela desfavorecida desta
população (Albrecht et al, 1994). Nos anos seguintes à Segunda Guerra
Mundial, com o fenômeno do reaquecimento econômico, indicadores objetivos,
tais como taxas de delinqüência e números de venda de eletrodomésticos e
carros, passaram inicialmente a ser utilizados como mensuração da qualidade
da vida da população (especialmente nos Estados Unidos e Europa Ocidental)
(Farquhar, 1995). Ademais, a evolução do estado de bem estar social
estimulou pesquisas abordando indicadores de bem-estar, particularmente em
relação à qualidade do trabalho, vida familiar e lazer, criando um arcabouço do
que viria a constituir pontos de interesse da pesquisa em qualidade de vida.
Como ilustração do vértice social do termo qualidade de vida em um contexto
político de bem estar, Lyndon Johnson, durante corrida presidencial norte-
americana de 1964, brada em seu discurso que “...esses objetivos não podem
ser medidos pela magnitude dos nossos balancetes bancários; só podem ser
medidos pela qualidade de vida que a nossa população leva” (tradução livre)
(Katschnig, 1997).
Outro momento científico que acarretou reflexão foi a publicação, em
1948, do conceito de saúde da Organização da Saúde (Testa et al., 1996).
Nesta, a saúde é definida como “um estado de bem-estar físico, mental e social
27
e não meramente a ausência de doença e enfermidade” (OMS, 1948). Tal
conceituação, além de determinar uma ampliação do conceito de saúde,
enfatiza o caráter subjetivo da avaliação. Assim, introduz de modo inequívoco
a percepção de bem-estar subjetivo como um dos pilares do conceito de
saúde.
A partir da década de 1990, a avaliação de resultados de intervenções
em saúde através do ponto de vista do paciente cresceu muito em importância.
Tal tendência teve início ainda na década de 1970, com um movimento de
insatisfação dos pacientes, enquadrados como consumidores de serviços
médicos inseridos em uma crescente visão mercantilista das práticas de saúde.
Tal insatisfação embasava-se, parcialmente, na crescente onda
intervencionista focada em necessidades e indicações estritamente técnicas e
despreocupada com o bem-estar, autonomia e satisfação do paciente
(Katschnig, 1997).
Ultimamente, a avaliação subjetiva dos resultados de intervenções
médicas por parte dos pacientes a elas submetidas (chamada Patient Reported
Outcomes) passou a ser parâmetro fundamental. Como exemplo de tal
importância, a Food and Drug Administration (órgão norte-americano
responsável pela regulamentação e aprovação de intervenções na área da
saúde) exige que os estudos de eficácia e eficiência de intervenções incluam
alguma medida de desfecho realizada a partir de pacientes (além das clássicas
medidas de redução de sintomatologia e morbi-mortalidade) (Wiklund, 2004;
FDA, 2005,). Deste modo, a tendência de valorização subjetiva dos pacientes
passou a ter maior relevância no contexto científico, o que também viria a
28
provocar impacto na conceituação teórica do construto qualidade de vida
(Brenheim, 1999).
Assim, a importância da valorização da percepção subjetiva e não
somente de parâmetros exclusivamente objetivos, bem como a necessidade de
ampliar o espectro de investigação na área da saúde para além de aspectos
unicamente clínicos e focados em doença e sintomas, compuseram o
panorama científico de onde emergiu o conceito de qualidade de vida e suas
diferentes definições e utilizações.
A primeira citação do termo qualidade de vida em um jornal médico data
de 1966, quando JR Elkinton publicou um editorial no periódico Annals of
Internal Medicine intitulado Medicine and Quality of Life. Nesse, o autor
criticava a prática médica vigente na época, a qual dava demasiado peso aos
desenvolvimentos tecnológicos e técnicos em detrimento da preocupação com
o bem-estar e o grau de satisfação que tais conquistas poderiam proporcionar
aos pacientes (Katschnig 1997). Três anos mais tarde, Fairweather e
colaboradores (1969) incluíram pela primeira vez medidas subjetivas de
satisfação e bem-estar (associadas a medição de desfechos objetivos
clássicos) em uma pesquisa de campo que visava a avaliar o impacto de um
programa de tratamento comunitário nos Estados Unidos. A partir de então, e
de modo mais acentuado a partir da década de 80, a necessidade de avaliação
subjetiva de desfechos viria a ser abordada pelo desenvolvimento dos
conceitos teóricos do construto qualidade de vida.
O conceito de qualidade de vida não desfruta de consenso até o
presente momento (Bowling, 1995; Wilson et al., 1995; Testa et al., 1996;
29
Hunt, 1997; Katschnig, 1997; Berlim, 2003). Há distintas teorias que conferem
conceituações particulares e partem de bases teóricas diversas.
A Organização Mundial de Saúde, representada pelo Grupo WHOQOL,
publicou em 1994 o conceito de qualidade de vida que adota e que, portanto,
dá embasamento teórico ao desenvolvimento de seus instrumentos. Para a
OMS, qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no
contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (The WHOQOL-Group,
1994). Tal definição traz consigo três áreas de fundamentação, sobre as quais
o conceito foi desenvolvido.
Primeiramente, a percepção subjetiva do indivíduo recebe especial
destaque no conceito de qualidade de vida da OMS e é incorporada em sua
definição em três níveis. Um primeiro nível diz respeito à percepção subjetiva
de uma condição objetiva (por exemplo, a percepção da adequação de uma
situação social). O segundo nível relaciona-se com a percepção global
subjetiva de funcionamento (por exemplo, o quão bem um indivíduo dorme). E,
em terceiro nível, há uma avaliação específica da percepção subjetiva (por
exemplo, o quão satisfeito um indivíduo está com seu sono) (WHOQOL-Group,
1995).
Como segunda área de fundamentação do conceito, salienta-se a
multidimensionalidade do construto. Por este princípio, os instrumentos de
aferição de qualidade de vida desenvolvidos pela OMS são compostos de
domínios (por exemplo, domínios físico, psicológico e relacionamento social),
ilustrando o entendimento de que qualidade de vida é um produto da interação
de diversas áreas independentes da vida do indivíduo.
30
Em terceiro lugar, há o reconhecimento que o construto é composto de
dimensões positivas (por exemplo, funcionalidade, mobilidade) e negativas (por
exemplo, sentimentos negativos, dependência de medicações). Uma adequada
aferição de qualidade de vida deve abordar a percepção subjetiva de ambas as
dimensões (WHOQOL-Group, 1995).
Uma vez que esta dissertação tem como foco o desenvolvimento e a
avaliação de instrumentos de qualidade de vida da OMS, utilizará como base
teórica conceitual a definição de qualidade de vida acima transcrita.
1.3 Qualidade de vida em idosos
O processo de envelhecimento e a vivência da velhice são experiências
particulares de cada idoso. Erik Erikson, como já supracitado, caracterizou a
etapa da velhice como a luta pela resolução do conflito desespero versus
integração (Erikson, 1968). Sobre esta consideração, Kimmel e colaboradores
(1974) resumem o posicionamento emocional do idoso frente à velhice ao
colocar que “se o indivíduo idoso consegue construir um senso seguro de ego
e uma percepção de seu legado, seja através dos filhos ou do trabalho, ele
manterá a integridade do ego. Por outro lado, a incapacidade de obter solução
para este conflito resulta simultaneamente em desapontamento com seu self e,
portanto, desespero” (tradução livre, Kimmel et al., 1974).
A década de 1940 testemunhou o início do interesse científico, e o
conseqüente desenvolvimento de estudos, na área do envelhecimento
saudável (ou do envelhecer bem), particularmente na Escola de Chicago.
Segundo tais pesquisadores, o “envelhecer bem” caracterizava-se por estar
satisfeito com o status atual de vida e ter planos ou perspectivas para o futuro.
31
A partir destes estudos, a percepção da satisfação passou a representar a
dimensão mais estudada em relação ao bem-estar na velhice. Na década de
1960, entretanto, a atenção voltou-se também à investigação da participação
de possuir atividades na determinação do bem-estar em idosos. Tal mudança
sofreu influências dos estudos publicados pela Escola de Kansas, em 1953, em
especial o Kansas City Studies of Adult Life (Neri, 1993).
Rede social também tem sido destacada como um fator associado a
desfechos positivos na velhice. Segundo Bosch (2003), uma das principais
ações a ser implementada pelo governo espanhol para melhoria da qualidade
de vida em idosos é o investimento na ampliação de redes sociais. Dados
espanhóis indicam que cerca de 50% das mulheres e 20% dos homens acima
de 65 anos vivem sozinhos, proporção que apresenta rápido crescimento (visto
que, de modo geral, o número de idosos que vivem sós passou de 12,6% em
1998 para 20,1% em 2001). Garcia e colaboradores (2005), em um estudo de
base populacional conduzido na Espanha, investigaram o impacto da rede
social na qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), partindo de dados de
literatura que evidenciam que redes sociais insatisfatórias estão associadas a
pior percepção subjetiva de saúde, piores escores de componentes mentais de
QVRS em mulheres e piores escores de componentes físicos de QVRS em
homens. Entrevistando 4.000 sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos
selecionados por amostragem probabilística multiestágios por clusters,
reportaram que viver sozinho estava associado com seis dos oito domínios
componentes do instrumento SF-36 (Ware et al., 1992). Apontam que o efeito
positivo da rede social pode ser explicado por sua capacidade de amortecer
impactos emocionais negativos, pela percepção do indivíduo de que conta com
32
suporte e companhia quando necessário e pela sensação de segurança
decorrente do senso de pertencimento e integração (Garcia et al., 2005).
Eizirik realizou investigação do papel da rede social, estado mental e
contratransferência em uma região de Porto Alegre. Por amostragem aleatória
sistemática, 344 idosos com idade igual ou superior a 60 anos foram
entrevistados através de instrumentos para detecção de estado de saúde e
rede social, capacidade cognitiva, sintomas depressivos e contratransferência
dos entrevistadores. Os resultados indicam que as mulheres fazem mais uso
da rede social, consideram os filhos como principais confidentes e relatam
sentimentos de solidão com freqüência maior do que os homens idosos.
Verificou-se, também, associação entre não ter filhos e maior intensidade de
sintomas depressivos (Eizirik, 1997).
O considerável impacto de sintomatologia depressiva sobre a desfechos
de satisfação e qualidade de vida tem sido evidenciado por diversos autores (
Ormel et al., 1998; McKenna et al., 2001; Demyttenaere et al., 2002; Berlim et
al., 2005 ). Heinonen e colaboradores (2004) estudaram o papel do estado
emocional em relação à avaliação de qualidade de vida global, com o intuito de
testar a adequação do modelo de quatro dimensões proposto por Cella e
colaboradores (1993). O estudo envolveu 10.000 finlandeses de diferentes
faixas etárias, com média de 45 anos. Na população estudada, os autores
demonstraram que o estado emocional constituiu o fator de maior impacto nos
escores de qualidade de vida. De modo semelhante, Sullivan e colaboradores
(2001) referem que sintomas de ansiedade e depressão são preditores de
qualidade de vida relacionada à saúde de magnitude comparável à percepção
do estado de saúde em populações de idosos.
33
Mesmo diante do fato de não haver consenso em relação à definição de
qualidade de vida ou a seus componentes, parece haver certa concordância
com a presença de dois grupos de fatores envolvidos na determinação de
qualidade de vida. O primeiro diz respeito a mecanismos internos psicológicos
e fisiológicos, produzindo grau de satisfação e gratificação na vida, tanto em
nível pessoal como comunitário. O segundo refere-se a fatores externos,
capazes de desencadear os primeiros (Rogerson, 1995). A noção da
importância dos fatores externos (ambientais) como componentes do construto
qualidade de vida indica uma distinção entre qualidade de vida (genérica) e
qualidade de vida relacionada à saúde, uma vez que a última não engloba em
sua definição aspectos não relacionados diretamente à área da saúde.
Mais recentemente, com o destaque do construto qualidade de vida em
diferentes populações, os pesquisadores na área da geriatria passaram a
demonstrar interesse em determinar quais fatores são relevantes para a
qualidade de vida em idosos (Xavier et al., 2003). Ainda assim, é notável a
escassez de artigos científicos em bases de pesquisa (MEDLINE e
PSYCHINFO), como também se destaca que a maioria dos artigos científicos
que pretendem investigar qualidade de vida em idosos o fazem na presença de
uma doença clínica, como medidor de impacto de diversas intervenções. De
acordo com Hyland e Sodergren, medidas de satisfação de vida são mais
utilizadas em populações saudáveis, enquanto o construto qualidade de vida é
mais investigado em populações clínicas doentes (Heinonen et al., 2004).
Perlman e colaboradores (1988) colocam que os muitos instrumentos utilizados
na aferição de qualidade de vida não levam em conta áreas de vida
34
identificadas pelos próprios idosos como fundamentais, tal como
relacionamento familiar.
Deste modo, como destacaram Gill e Feinstein (1994) em relação à
qualidade dos artigos em qualidade de vida em geral, há uma tendência na
literatura internacional de abreviar a etapa de discussão filosófica e de
conceituação, passando rapidamente à utilização prática de uma medida ainda
não bem estabelecida. No mesmo sentido, Haywood e colaboradores (2005)
demonstraram, ao realizar uma revisão estruturada de instrumentos de saúde
em idosos, que diversos instrumentos frequentemente utilizados em
investigações de populações idosas não apresentam propriedades
psicométricas adequadamente testadas para esta população (nominalmente
validade, confiabilidade e taxas de resposta).
Bowling (1995) investigou, em base populacional, quais fatores são
importantes na conceituação e determinação de qualidade de vida em adultos
de diversas idades. Ao analisar as respostas, dadas de forma espontânea a
questões abertas, identificou que os fatores determinantes de boa qualidade de
vida variavam de acordo com o estrato etário. Marcadamente, a percepção de
saúde (avaliada como fator importante por 65% dos indivíduos com idade entre
65-75 anos e por 38% dos indivíduos com 45-55 anos), o padrão de vida (63%
dos indivíduos com 45-55 anos e 35% dos com idade maior do que 75 anos) e
a habilidade para trabalho (22% de indivíduos com 45-55 anos e 4% dos com
65-75 anos) foram os fatores de maior divergência entre as faixas etárias. De
modo geral, a proporção de indivíduos em cada faixa etária que avaliaram sua
vida como sendo “muito boa” ou ”a melhor que poderia ser” aumenta com a
idade, indicando que a satisfação com a vida, na população estudada, aumenta
35
com o envelhecimento. Este estudo demonstra, entre seus achados, que os
idosos constituem uma população particular, portanto com especificidades, e
que, deste modo, necessita de uma abordagem diferenciada em relação à
definição conceitual de qualidade de vida e aos instrumentos de pesquisa a
serem a ela aplicados. Com uma metodologia semelhante à utilizada por
Bowling, outros autores realizaram investigações com o objetivo de definir, a
partir dos indivíduos idosos (população em estudo), quais fatores são
relevantes na conceituação de qualidade de vida.
Browne e colaboradores (1994), baseado-se no Schedule for the
Evaluation of the Individual Quality of Life (SEIQoL), um modelo no qual cada
indivíduo aponta domínios importantes na determinação de sua qualidade de
vida particular e pontua o grau de importância que cada domínio possui,
realizou um estudo para propor itens relevantes para a qualidade de vida de
idosos saudáveis. Arrolou também em seu estudo uma amostra de adultos
jovens (com média de idade de 28,8 anos e variação de 19-51 anos), com o
objetivo de identificar áreas de discrepância entre as duas faixas etárias.
Assim, demonstrou que os fatores destacados pelos idosos como fundamentais
para a qualidade de vida foram família (89% da amostra), atividades sociais e
de lazer (95% da amostra), saúde (91% da amostra), condições ambientais de
vida (80% da amostra) e religião (75% da amostra). A amostra de jovens
enfatizou também relacionamentos (86% da amostra), finanças (60% da
amostra), felicidade (48% da amostra) e trabalho (38% da amostra). Este
artigo, além de corroborar com a tendência de determinar fatores relevantes
para qualidade de vida a partir da população estudada (e não somente por
experts) e de reafirmar a população idosa como particular, apresenta uma
36
amostra saudável e não-clínica, posicionando qualidade de vida como tema de
interesse amplo e não necessariamente estritamente relacionado a contextos
de saúde.
Farquhar (1995) realizou uma investigação em que, através de cinco
perguntas abertas padronizadas, visou a identificar definições sobre qualidade
de vida em indivíduos acima de 65 anos. As questões, semelhantes às
utilizadas por Bowling (1995), Xavier (2003), Sousa (2003), Fleck (2003) e
Evans (2005), foram as seguintes:
a) Como o(a) senhor(a) descreve a sua qualidade de vida? Baseado em
que fatores o(a) senhor(a) pensa isso?
b) Que fatores acrescentam qualidade à sua vida?
c) Que fatores retiram qualidade de sua vida?
d) Que fatores fazem a sua qualidade de vida melhor?
e) Que fatores fazem a sua qualidade de vida pior?
Os dados foram analisados de forma estratificada, formando duas faixas
etárias (65-85 anos e acima de 85 anos), havendo também uma amostra de
indivíduos entre 65-85 anos de outra região da Inglaterra (Essex), com o
objetivo de permitir comparações entre uma região urbana (Londres) e uma
rural. A avaliação global de qualidade de vida não variou entre as duas faixas
etárias, tendo a maioria avaliado como positiva ou muito positiva (67% dos
indivíduos entre 65-85 anos e 56% com mais de 85 anos). Entre os fatores que
determinam a positividade da qualidade de vida, os idosos destacaram, em
ordem de importância, contato social, saúde/mobilidade/habilidade,
circunstâncias materiais e atividades para ambas as faixas etárias. Por outro
lado, os indivíduos com percepção negativa de sua qualidade de vida colocam
37
que tal percepção se deve pelos seguintes fatores, em ordem de importância:
desesperança/saúde ruim, infelicidade, desejo de ser mais jovem e
circunstâncias materiais (de forma uniforme nas duas faixas etárias).
Sousa e colaboradores (2003) realizaram um estudo exploratório em
Portugal com o intuito de investigar a definição de qualidade de vida e de bem-
estar a partir de entrevistas com 1.354 idosos com 75 anos ou mais, utilizando
o sistema de avaliação de idosos EASY (Elderly Assessment System), que
avalia a percepção dos indivíduos em relação às suas capacidades em
diversas áreas da vida. Descrevem como resultados, através da análise de
componentes principais, a detecção de quatro fatores básicos, que explicam
cerca de 65% da variância da avaliação de qualidade de vida: atividades da
vida diária, bem-estar, mobilidade e comunicação.
Xavier e colaboradores (2003), em um estudo com idosos acima de 80
anos em Veranópolis-RS, entrevistaram 67 idosos arrolados por amostragem
aleatória, representando um total de 219 octogenários daquela comunidade.
Utilizaram as cinco questões propostas por Farquhar para determinar os
fatores implicados no entendimento de qualidade de vida nesta população. Do
total de sujeitos entrevistados, 57% classificaram sua qualidade de vida como
positiva, enquanto 18% a classificaram como negativa. A comparação da
subamostra que se considera tendo qualidade de vida positiva indica que esta
apresenta sintomatologia depressiva menos intensa (aferida pela Geriatric
Depression Scale – GDS, Yesavage et al, 1983), mais problemas de saúde e
condições de vida inferiores, quando comparada com a subamostra que se
considera tendo qualidade de vida negativa. Os determinantes de uma
qualidade de vida positiva foram saúde satisfatória (43% da amostra), bom
38
relacionamento com familiares (32% da amostra) e segurança financeira (28%
da amostra). Por outro lado, os fatores determinantes de uma avaliação de
qualidade de vida negativa foram problemas de saúde (96% da amostra,
trabalho (17% da amostra) e insatisfação com família e amigos (13% da
amostra). A diferença entre a natureza dos fatores determinantes de qualidade
de vida positiva e negativa, e não simplesmente a presença ou ausência dos
mesmos fatores, indicam que estas possam constituir categorias distintas. Os
autores colocam que “parece inadequado definir que qualidade de vida
negativa seja o inverso da positiva” na população investigada. Sugerem que,
para idosos, qualidade de vida negativa possa estar relacionada à perda de
saúde, enquanto qualidade de vida positiva parece associada a uma variação
maior de categorias.
Evans e cols (2005), ao descrever a metodologia de desenvolvimento de
um instrumento para aferição de qualidade de vida em idosos (QuiLL), realizou
uma etapa de geração de itens através de grupos de discussão com idosos.
Utilizando questões abertas sobre mudanças de vida decorrentes do
envelhecimento, fatores que aumentam o diminuem qualidade de vida em
idosos, fatores que implementariam qualidade de vida se presentes e que
diminuiriam qualidade de vida se não estivessem presentes. Relatam que os
elementos determinantes de qualidade de vida agrupam-se em 11 domínios.
Destacam que auto-estima, disposição, modo como é tratado pelos outros,
transporte e mobilidade são domínios indicados como específicos da velhice.
De modo complementar, os domínios ocupação do tempo, lazer, vida social,
saúde, finanças, ambiente em que vive, segurança, fé e religião são indicados
como relevantes, mas não específicos da velhice (mas sim também presentes
39
em populações mais jovens). Os profissionais entrevistados referiram com
maior freqüência fatores relacionados a dignidade e autonomia, bem como
caracterizaram qualidade de vida de idosos como determinada mais pelos
aspectos que os idosos não têm e pelas habilidades que os idosos não
apresentam (e não valorizando tanto os aspectos presentes). De fato, houve
uma tendência de os profissionais avaliarem a qualidade de vida dos idosos
como mais negativa do que a percepção dos próprios idosos. Em um estudo
brasileiro comparando a qualidade de vida avaliada pelo idoso e por seu
cuidador, os achados obtidos corroboram os de Evans e indicam que os
cuidadores percebem a qualidade de vida dos idosos como mais negativa do
que os próprios idosos a avaliam (Trentini, 2004).
Em nosso meio, uma pesquisa realizada como parte inicial dos artigos a
serem apresentados nesta dissertação (Fleck et al, 2003) também abordou a
definição de qualidade de vida e seus determinantes em uma população idosa.
Através de metodologia qualitativa e de grupos focais conduzidos com idosos
saudáveis, doentes (de acordo com a percepção subjetiva de cada indivíduo) e
com cuidadores, os achados indicam que a definição de qualidade de vida
apresenta-se associada a bem-estar, saúde e independência. A tabela abaixo
descreve os achados dos grupos focais, divididos pelos grupos e sujeitos em
cada grupo focal.
40
Tabela 1. Resultados dos Grupos Focais (retirado de Fleck et al., 2003).
Grupos
Focais
Definição de
Qualidade de
Vida
O que é importante
para Qualidade de
Vida
O que prejudica
seu bem-estar
O que melhoraria
sua Qualidade de
Vida
60-80
doentes
Bem estar,
dinheiro,
sentir-se bem
Saúde, dar suporte
social aos outros
Não ter permissão
para ajudar,
problemas de saúde
Condições
financeiras estáveis,
trabalhar, ser ativo
60-80
saudáveis
Ter alegria na
vida, amor,
amizade
Ter atividades
voluntárias, religião,
saúde, bom
relacionamento com
a família, uma
atividade, suporte
dos outros, atividade
com outros idosos,
aprender, ler e
comer bem
Falta de
oportunidades de
trabalho, política,
falta de respeito para
com os idosos, falta
de atenção aos
sistemas de saúde e
educação, falta de
senso de humor
80+ doentes Independência, a
cabeça
funcionando
bem, liberdade e
saúde
Saúde
(especialmente
mental), motivação,
contato com os filhos
e netos, comer bem,
dinheiro
Doença, dor,
ansiedade
Comer bem,
caminhadas,
amizade, orações,
ser capaz de ajudar
os outros e obter
gratidão, saúde, ter
boas condições
físicas, ter
possibilidade de
compartilhar
sentimentos
80+
saudáveis
Saúde,
espiritualidade,
ter boas
condições de
vida
Participar de alguma
organização social,
sentir-se feliz
Falta de interesse,
problemas no
casamento, não ter
um bom
relacionamento com
a família
Ter vontade de fazer
as coisas
Cuidadores
Viver bem (sem
doenças), ter
atividade
intelectual,
expectativas
para o futuro, ser
respeitado
Falta de atenção e
amor, dificuldades
em acompanhar os
avanços
tecnológicos
Valorização,
preparação dos
jovens para lidar
com a velhice, amor
e contato por parte
da família, motivação
para aprender
Outra questão destacada na literatura internacional é até que ponto os
idosos se apresentam capazes de responder de modo satisfatório instrumentos
41
auto-aplicáveis de qualidade de vida. Dempster e colaboradores (2000)
realizaram um estudo exploratório com o objetivo de investigar tal questão.
Utilizam o instrumento SeiQol e o Modified Patient Generated Index (MPGI,
Ruta et al., 1994) como intervenção a ser medida, e concluem que a população
estudada (36 sujeitos com idade superior a 75 anos) mostrou-se capaz de
completar adequadamente os itens fenomenológicos.
Em relação aos instrumentos específicos para aferição de qualidade de
vida em idosos, destaca-se que há uma marcada escassez de questionários ou
escalas adequadamente desenhados e/ou testados nesta população. Como
apontam Garratt e colaboradores (2002), há um crescimento notável do
desenvolvimento de instrumentos de saúde avaliados pelo paciente, sendo
vários focados a idosos. Paradoxalmente, a maioria não apresenta
propriedades psicométricas disponíveis que embasem cientificamente seu uso,
causando confusão aos clínicos e pesquisadores.
Paschoal (2002) realça a necessidade do desenvolvimento de
instrumentos multidimensionais suficientemente sensíveis para captar a
variabilidade dos diferentes grupos de idosos e de sua qualidade de vida.
Destaca como importantes fatores as especificidades dessa faixa etária, tais
como situações sociais (aposentadoria, viuvez, dependência, perda de
autonomia e de papéis sociais, dentre outras) e perda de capacidades físicas
não relacionada a doenças.
Haywood e colaboradores (2005b) testaram, em uma revisão
estruturada, instrumentos utilizados para aferição de status de saúde e
qualidade de vida, incluindo 46 artigos no estudo. Do total de 18 instrumentos
analisados, apenas 4 apresentam validade, confiabilidade e taxas de resposta
42
adequadas (OARS Multidimensional Functional Assessment Questionaire,
Philadelphia Geriatric Centre Multilevel Assessment Instrument, Self-Evaluation
of Life Function e Quality of Life Profile Senior Version). Por fim, destacam que,
de modo geral, instrumentos desenhados para populações adultas não idosas
têm sido mais utilizados em idosos do que os instrumentos desenvolvidos
especificamente para esta população. A tabela 2 sumariza os achados
referentes aos conceitos de qualidade de vida em idosos.
43
Tabela 2. Revisão da definição de qualidade de vida em idosos na
literatura.
Autores Variação de
idade (anos)
N Definições de
qualidade de
vida
Browne et al.
(1994)
65-90 81 Família,
atividades de
lazer e sociais,
saúde, condições
de vida
Bowling (1995)
16-75 2033
(não especificado
o n por faixa
etária)
Saúde, segurança
financeira,
relacionamento
com familiares e
amigos
Farquhar (1995)
65 210 Contatos sociais,
saúde,
mobilidade,
condições
materiais,
atividades
Xavier et al.
(2003)
80 77 Saúde, família,
renda, trabalho,
amigos
Sousa et al.
(2003)
75 1665 Atividades da vida
diária, bem-estar,
mobilidade,
comunicação
Fleck et al.
(2003)
60 23 Bem-estar, alegria
na vida,
condições de
vida, atividade
Evans et al.
(2005)
65 100 Auto-estima,
transporte,
mobilidade,
solidão, lazer,
atividades,
família, saúde,
segurança
Os dados acima citados, quando avaliados em conjunto, indicam que: a)
não há consenso acerca da definição de qualidade de vida em idosos e dos
fatores determinantes desta; b) há carência na literatura internacional de
instrumentos para aferição de qualidade de vida em idosos, e; c) muitos
44
instrumentos utilizados não foram adequadamente validados e não têm
propriedades psicométricas testadas e publicadas. Frente a esta lacuna, e
decorrente da crescente importância que a população idosa assume, o Projeto
WHOQOL-OLD foi proposto e desenvolvido.
2. O Projeto WHOQOL-OLD
O projeto WHOQOL-OLD é um estudo internacional multicêntrico
iniciado em 1999. Tem como objetivo principal desenvolver e testar um módulo
específico de avaliação de qualidade de vida em idosos com propriedades de
uso transcultural. O projeto foi conduzido pelo Grupo WHOQOL (World Health
Organization Quality of Life Group), contando com a participação de 22 centros,
representando todos os continentes.
A metodologia de desenvolvimento do instrumento seguiu a preconizada
pelo Grupo WHOQOL, previamente aplicada aos outros instrumentos
WHOQOL. Contrariamente às metodologias clássicas do modelo seqüencial
(em que um instrumento desenvolvido em um idioma é submetido a um
processo de tradução e retrotradução, sem levar em conta as possíveis
diferenças culturais) e do modelo paralelo (em que um conjunto comum de
itens é gerado por discussão de experts de diferentes culturas e, em seguida, a
formulação dos itens é realizada em um idioma, com posterior tradução), o
Grupo WHOQOL propõe uma metodologia chamada de simultânea. Esta se
caracteriza pela participação dos diferentes centros, representantes dos
distintos contextos culturais, na definição de todos os aspectos a serem
considerados relevantes para a determinação de qualidade de vida, assim
como na geração de itens, formulação (fraseamento) destes e nos testes piloto
45
e de campo, assegurando uma metodologia mais capaz de permitir
investigações transculturais (Bullinger et al., 1996; Power et al., 1999).
A descrição das etapas do projeto, apresentada a seguir, baseia-se em
recente publicação do Grupo WHOQOL (Power et al., 2005), acrescida de
informações pertinentes ao centro brasileiro (Fleck et al, 2003; Chachamovich
et al, in prep).
Inicialmente, o projeto WHOQOL-OLD partiu da constatação de que a
validade da utilização de instrumentos desenvolvidos inicialmente com base em
uma população de adultos jovens para aferição de qualidade de vida em idosos
permanece uma questão em aberto na literatura. Poucos estudos têm sido
realizados com este propósito; ainda assim, Brazier e colaboradores (1996)
reportaram que dois instrumentos de uso comum (EuroQol e SF-36) podem ser
utilizados com desempenho razoável em idosos. Ressaltaram, no entanto, que
alguns pontos apresentam certo prejuízo, particularmente forma de
administração, consistência de respostas e efeito teto em algumas subescalas.
A amostra utilizada em tal estudo era predominantemente composta por idosos
saudáveis, o que pode conferir limitações aos resultados (Coast et al., 1998).
Alguns achados (Lam et al, 1991; Stewart, 1996) apontam que,
contrariamente ao estereótipo do idoso insatisfeito e poliqueixoso, a população
idosa relata maior grau de satisfação com relacionamentos sociais e melhor
saúde mental quando comparados com adultos jovens. Tais achados sugerem
a necessidade de aprofundar o estudo da adequada composição dos domínios
de qualidade de vida em idosos.
Outra questão de extrema relevância para a investigação de QV, e ainda
não investigada, é determinar se há áreas específicas de maior importância
46
para a população idosa (Baltes & Baltes 1990) e, portanto, se há necessidade
de alguma suplementação de itens adicionais a um instrumento genérico de
aferição de qualidade de vida. Como exemplo, cita-se duas facetas
originalmente propostas para o instrumento WHOQOL-100 e posteriormente
excluídas em função de seu desempenho psicométrico insatisfatório em
adultos jovens: problemas do funcionamento sensorial e comunicação. Tais
facetas mantêm-se não relevantes para idosos?
Em conclusão, o objetivo principal do Projeto WHOQOL-OLD foi
responder a três questões em relação à aferição de qualidade de vida em
idosos: a) As formas genéricas dos instrumentos WHOQOL (WHOQOL-100 e
WHOQOL-BREF) têm desempenho satisfatório na população idosa; b) Há
necessidade de adicionar itens específicos a esta população, e; c) Propor um
módulo adicional específico e testá-lo na população de idosos.
2.1Desenvolvimento do Módulo WHOQOL-OLD
O Grupo Coordenador do projeto, sediado na Universidade de
Edimburgo, produziu inicialmente um protocolo baseado nas experiências
prévias do Grupo em conduzir pesquisas internacionais colaborativas no
desenvolvimento dos instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-BREF
(WHOQOL Group, 1998a, 1998b, Fleck et al., 1999, Fleck et al, 2000). Tal
protocolo foi repassado e estudado por cada um dos 22 centros, de modo a ser
atingido um consenso de metodologia a ser aplicada.
47
2.2 Grupos focais
O passo inicial para o desenvolvimento do módulo foi composto pela
realização de grupos focais. O objetivo desta etapa foi o de discutir diretamente
com a população a ser estudada acerca das instruções e dos itens do
WHOQOL-100 (em relação à relevância do conteúdo dos itens e de sua
formulação semântica, de modo a serem adequadamente compreendida pelos
idosos). A metodologia aplicada nos grupos focais do centro brasileiro e o
resultado das discussões em tais grupos encontram-se detalhadamente
descritos em outra publicação (Fleck et al, 2003). Em resumo, foram realizados
grupos focais com idosos em lares de moradia, hospitais e na comunidade. Ao
todo, conduziram-se cinco grupos focais e um exercício de questionamentos
com um grupo de profissionais da área da saúde identificados com cuidados de
idosos. A tabela abaixo demonstra as características dos idosos participantes
dos cinco grupos focais. Destaca-se que, em consonância com a valorização
da percepção subjetiva do embasamento teórico da definição de qualidade de
vida do Grupo WHOQOL, a categorização dos idosos entre “saudáveis” ou
“doentes” se deu a partir da percepção do próprio idoso acerca de seu estado
de saúde.
Tabela 3. Descrição das características dos participantes dos grupos focais.
Grupos
n
mulheres
idade média
(mín. e
máx.)
média de
escolaridade
(anos)
média
do n de
filhos
procedência
60-80a
saudáveis
5 4 68 (65-71) 13,3 2,3 Coral de
idosos
60-80a
doentes
4 1 71 (63-77) 3,7 6 Hospital
80+
saudáveis
3 1 84,6 (80-90) 13,6 3,6 Coral de
idosos
80+ doentes
6
6 87,8 (80-94) 6,1 4,1 Lar de idosos
Cuidadores
5
5 55 (39-78) 14,4 - Lar de idosos
48
A discussão em grupos focais incluiu quatro momentos: (a) a discussão
aberta a respeito de o que é considerado importante para a qualidade de vida
de idosos; (b) a discussão sobre cada faceta e item componentes do
WHOQOL-100; (c) avaliação da pertinência dos itens adicionais propostos na
discussão internacional do protocolo; (d) a sugestão dos participantes de outros
itens relevantes não abordados no WHOQOL-100 e não presentes nos itens
adicionais propostos.
Os resultados desta atividade no nosso centro apontaram para a
presença de uma tendência de associação entre qualidade de vida e bem-estar
ou sentir-se bem. Ao serem questionados sobre os aspectos relevantes na
definição de qualidade de vida em idosos, as respostas espontâneas incluíram
os 6 domínios propostos no WHOQOL-100 reforçando, a
multidimensionalidade do construto. Das 24 facetas componentes do
instrumento, dezenove foram consideradas relevantes, sendo que as 5 facetas
não espontaneamente lembradas distribuíram-se em mais de um domínio,
reforçando a importância conceitual dos domínios. Ao serem perguntados
sobre a importância de cada uma das 24 facetas do WHOQOL-100, os
participantes dos grupos focais consideraram-nas todas relevantes. Sugeriram,
entretanto, algumas modificações em 5 facetas para torná-las mais adequadas
a sua aplicação a idosos. Itens adicionais também foram examinados e
considerados relevantes para a avaliação de qualidade de vida em idosos,
tanto pelos idosos entrevistados como pelos cuidadores.
Tais achados vêm ao encontro da hipótese de que os idosos constituem
um grupo particular e, como tal, apresentam especificidades de importante
relevância para a qualidade de vida. Portanto, um instrumento adequado para a
49
avaliação da qualidade de vida de idosos tem que necessariamente contemplar
estes aspectos (Fleck et al, 2003).
2.3 Teste Piloto do Módulo WHOQOL-OLD
O teste piloto foi conduzido em 22 diferentes centros no mundo. Cada
centro coletou dados de no mínimo 300 sujeitos utilizando amostragem por
conveniência e obedecendo estratificação segundo gênero (número igual de
homens e mulheres), idade (número igual de faixas etárias 60-69 anos, 70-79
anos e 80 ou mais anos) e percepção subjetiva de estado de saúde (número
igual de sujeitos que se percebem doentes e saudáveis).
50
Tabela 4. Descrição geral das amostras do teste piloto WHOQOL-OLD em todos os
centros participantes (N = 7.401).
Centro Amostra Idade Gênero
(Mulheres)
Estado saúde
(saudável)
*
N M ± SD % %
Edinburgo (Escócia) 303 73.3 ± 8.2 68.5 83.8
Bath (Inglaterra) 331 74.3 ± 8.0 59.5 84.5
Leipzig (Alemanha) 433 72.3 ± 8.2 43.6 65.6
Barcelona (Espanha) 302 74.5 ± 7.5 56.6 63.6
Copenhague (Dinam.) 467 71.3 ± 8.3 52.5 83.6
Paris (França) 130 73.3 ± 8.2 55.9 93.0
Praga (Rep Tcheca) 350 74.1 ± 8.2 50.3 62.0
Budapeste (Hungria) 304 74.7 ± 8.1 65.1 41.1
Oslo (Noruega) 372 73.5 ± 6.6 74.6 73.2
Victoria (Canada) 430 74.4 ± 8.6 73.0 89.3
Melbourne (Australia) 364 74.9 ± 7.9 55.1 82.0
Seattle (EUA) 235 72.8 ± 7.6 63.4 57.9
Beer-Sheva (Israel) 312 73.0 ± 8.3 52.4 71.3
Toquio (Japão) 410 70.8 ± 8.0 55.7 78.6
Umea (Suécia) 315 73.3 ± 6.6 54.6 74.2
Guangzhou (China) 478 73.6 ± 8.5 48.5 61.5
Hong Kong (China) 319 72.5 ± 6.9 63.7 64.4
Porto Alegre (Brasil) 339 73.4 ± 8.3 56.0 57.5
Montevideo (Uruguai) 256 71.6 ± 7.4 61.3 72.3
Izmir (Turquia) 345 70.3 ± 5.8 52.2 57.4
Geneva (Suíça) 161 74.7 ± 8.3 75.8 90.6
Vilnius (Lituânia) 445 73.3 ± 9.4 52.4 54.8
Total 7401 73.1 ± 8.0 57.8 70.1
Nota:
* “
saudável” ou “doente” definidos subjetivamente.
51
2.3.1 Instrumentos
O objetivo do teste piloto foi coletar dados sobre os itens do módulo
WHOQOL-OLD para a testagem de cada item e posterior redução de itens. Os
instrumentos incluídos nesta fase foram o WHOQOL-100, um conjunto de 40
itens do módulo OLD gerados a partir dos grupos focais, um conjunto de
questões para avaliar a importância de cada faceta do WHOQOL-OLD para o
respondente e um questionário de dados sócio-demográficos.
No centro brasileiro, associou-se a estes instrumentos o Inventário de
Depressão de Beck (BDI), o módulo de Espiritualidade / Religiosidade /
Crenças Pessoais (WHOQOL-SRPB) e um instrumento adaptado de medição
da percepção da qualidade de vida do idoso a partir de seu cuidador, gerando
dados adicionais relevantes para o teste de outras hipóteses (Trentini, 2004).
2.3.2 Método
A abordagem básica da análise estatística foi combinar as
potencialidades da metodologia de análise clássica e moderna (teoria de
resposta ao item). Seguindo a metodologia utilizada pelo Grupo WHOQOL (The
WHOQOL Group 1998b), as análises examinaram as distribuições das
respostas aos itens, missings, correlações entre escores e análise de
confiabilidade. Esta etapa de análise estatística foi conduzida pelo Centro
Coordenador (Edimburgo), tendo como base os dados gerados em todos os
centros participantes. O resultado das estratégias de análise estatística foi a
geração de um instrumento com 33 itens extraídos dos 40 previamente
testados, de acordo com parâmetros psicométricos previamente definidos
(Power et al, 2005).
52
2.4 Teste de campo
O teste de campo envolveu a aplicação de um conjunto de instrumentos
básicos com o objetivo de testar as propriedades do módulo WHOQOL-OLD.
Neste momento, cada centro adicionou ao conjunto básico de instrumentos
outros que geraram dados pertinentes aos interesses de pesquisa de cada
centro. O teste de campo foi conduzido com uma amostra total de 5.566
sujeitos em 20 diferentes centros (Guangzhou e Hong Kong não participaram
desta etapa).
53
Tabela 5. Descrição (tamanhos de amostra, características sócio-demográficas) do teste
de campo do WHOQOL-OLD em cada centro participante (N = 5.566).
Centro Amostra Idade Gênero
(Mulheres)
Estado saúde
(“saudável”)
N M ± SD % %
Edinburgo (Escócia) 116 77.59 ± 10.47 67.2 % 82.1 %
Bath (Inglaterra) 145 69.65 ± 7.10 62.8 % 91.6 %
Leipzig (Alemanha) 354 72.73 ± 8.65 46.7 % 63.4 %
Barcelona (Espanha) 271 71.96 ± 7.44 59.4 % 67.4 %
Copenhague (Dinam.) 384 72.35 ± 8.29 49.9 % 81.7 %
Paris (França) 164 76.65 ± 8.39 47.0 % 65.8 %
Praga (Rep Tcheca) 325 71.36 ± 7.72 59.7 % 61.1 %
Budapeste (Hungria) 333 73.80 ± 8.68 69.1 % 42.9 %
Oslo (Noruega) 324 75.14 ± 8.01 52.7 % 88.2 %
Victoria (Canada) 202 72.93 ± 8.52 54.0 % 84.4 %
Melbourne (Australia) 376 75.63 ± 6.92 58.2 % 83.7 %
Seattle (EUA) 295 72.00 ± 8.35 58.0 % 73.9 %
Beer-Sheva (Israel) 250 70.32 ± 7.58 66.1 % 81.3 %
Toquio (Japão) 188 69.39 ± 5.70 53.5 % 60.7 %
Umea (Suécia) 455 72.74 ± 8.21 53.4 % 76.2 %
Guangzhou (China) - - - -
Hong Kong (China) - - - -
Porto Alegre (Brasil) 328 71.78 ± 7.74 67.4 % 82.3 %
Montevideo (Uruguai) 248 73.19 ± 7.08 72.6 % 78.0 %
Izmir (Turquia) 327 70.97 ± 5.31 52.3 % 45.3 %
Geneva (Suíça) 139 74.34 ± 7.32 55.8 % 88.5 %
Vilnius (Lituânia) 342 68.66 ± 6.67 69.6 % 57.0 %
Total 5566 72.52 ± 8.01 58.5 % 71.5 %
54
2.4.1 Instrumentos
O conjunto de medidas incluído em todos os 20 centros foi composto de
WHOQOL-BREF (The WHOQOL Group 1998), o módulo WHOQOL-OLD de 33
itens, questões sócio-demográficas e de estado de saúde. A opção pela
utilização do WHOQOL-BREF se deu em função do tamanho do instrumento,
uma vez que os centros incluíram outros questionários além dos acima citados,
de acordo com o interesse científico de cada centro participante.
O centro brasileiro adicionou ao conjunto de medidas citadas acima o
Inventário de Depressão de Beck (Beck et al, 1961; Cunha , 2001), a Escala de
Desesperança de Beck (Beck et al, 1974; Cunha , 2001), o SF-12 (Ware et al.,
1996), a Escala de Depressão Geriátrica GDS (Yesavage et al, 1983). A
inclusão de tais medidas permitirá a obtenção de dados importantes para o
teste de outras hipóteses de pesquisa, assim como possibilitará o controle de
potenciais viéses de confusão, particularmente a influência de diferentes graus
de sintomatologia depressiva no desempenho das escalas de qualidade de
vida e nos modelos estatísticos que visam a identificar determinantes da
variação dos escores de qualidade de vida. Tais hipóteses serão objetos de
outras publicações futuras.
2.5 A versão final do modulo WHOQOL-OLD
O módulo WHOQOL-OLD é composto por 24 itens com resposta por
escala tipo Likert de 1 a 5, divididos em seis facetas. Cada faceta é composta
por 4 itens, gerando então escores que variam de 4 a 20 pontos. Os escores
das seis facetas combinados com as respostas aos 24 itens geram também um
escore overall (total). A análise dos dados gerados no teste de campo
55
internacional indica que o módulo WHOQOL-OLD pode ser utilizado como
adicional tanto ao WHOQOL-100 quanto ao WHOQOL-BREF.
A tabela 6 descreve os principais componentes teóricos de cada faceta
do modulo OLD.
Tabela 6. Conceitos e conteúdo das facetas do modulo WHOQOL-OLD.
Faceta Abrev Conceito/conteúdo
Funcionamento dos sentidos
SAB Funcionamento dos sentidos, impacto da perda do
funcionamento dos sentidos na QV
Autonomia
AUT Independência do idoso; ser capaz e livre de viver de
modo autônomo e de tomar as próprias decisões
Atividades passadas,
presentes e futuras
PPF Satisfação com realizações na vida e com objetivos a
serem alcançados
Participação social
SOP Participação em atividades da vida diária,
especialmente na comunidade
Morte e morrer
DAD Preocupações e medos acerca da morte e morrer
Intimidade
INT Ser capaz de ter relacionamentos íntimos e pessoais
56
A tabela 7 descreve a estrutura do instrumento em sua versão final de
24 itens (itens e facetas).
Tabela 7 – Facetas e itens do WHOQOL-OLD
Faceta 1 – Funcionamento dos sentidos
1. Perdas nos sentidos afetam a vida diária
2. Avaliação do funcionamento dos sentidos
3. Perda de funcionamento dos sentidos afeta a participação em atividades
4. Problemas com o funcionamento dos sentidos interferindo na habilidade de
interagir
Faceta 2 – Autonomia
5. Liberdade para tomar suas próprias decisões
6. Sente que controla seu futuro
7. Consegue fazer as coisas que gostaria de fazer
8. Pessoas ao seu redor respeitam a sua liberdade
Faceta 3 – Atividades passadas, presentes e futuras
9. Feliz com as coisas que pode esperar daqui para frente
10. Satisfeito com as suas oportunidades para continuar alcançando outras realizações
11. Recebeu o reconhecimento que merece na sua vida
12. Satisfeito com aquilo que alcançou em sua vida
Faceta 4 – Participação Social
13. Satisfeito com a maneira com a qual você usa seu tempo
14. Satisfeito com o seu nível de atividade
15. Tem o suficiente para fazer em cada dia
16. Satisfeito com as oportunidades para participar de atividades na comunidade
Faceta 5 – Morte e morrer
17. Preocupado com a maneira pela qual irá morrer
18. Medo de não poder controlar a sua morte
19. Medo de morrer
20. Teme sofrer dor antes de morrer
Faceta 6 – Intimidade
21. Tem um sentimento de companheirismo em sua vida
22. Sente amor em sua vida
23. Oportunidades para amar
24. Oportunidades para ser amado
Ao ser aplicado aos respondentes, o instrumento pode ser auto-
administrado, assistido pelo entrevistador ou completamente aplicado pelo
entrevistador. O entrevistador deve inicialmente checar a habilidade do
respondente de compreensão, capacidade de leitura (acuidade visual e
alfabetização) e de assinalar as respostas (habilidade motora). A partir de
então, deve optar pelo meio mais eficaz de administração. Sugere-se que, para
57
fins de pesquisa, sejam desconsiderados questionários com uma proporção de
itens incompletos de mais de 20% (The WHOQOL Group 1998 a e b).
O Módulo WHOQOL-OLD pode ser empregado em uma série de
desenhos de pesquisa, incluindo investigações de base epidemiológica, de
aferição do impacto da implementação de serviços ou intervenções e ensaios
clínicos nos quais a medição de qualidade de vida seja desfecho de interesse.
Idealmente, poderá servir como ferramenta para a medição da eficácia
de condutas em saúde pública, tais como protocolos de tomada de decisões,
alocação de recursos e modificações ou implementações de serviços
destinados a idosos.
Destaca-se que a metodologia transcultural do desenvolvimento do
instrumento, em que centros de diferentes contextos culturais participam da
fase de idealização do módulo e alimentam-no com dados coletados a partir da
população alvo nos distintos centros, permite a utilização do Módulo WHOQOL-
OLD em investigações transculturais, diminuindo o risco de viés cultural
(Skevington, 2004, The WHOQOL Group 1998b). Tal abordagem de pesquisa
resta muito prejudicada quando se utilizam instrumentos que, ao pretenderem
medir um construto tão subjetivo, multidimensional e dependente do contexto
cultural (qualidade de vida), são desenvolvidos em uma única cultura
(habitualmente Inglaterra ou Estados Unidos) e diretamente traduzidos para um
outro idioma, assumindo que o significado do conteúdo de cada item se
mantém inalterado mesmo em contextos culturais diferentes. Deste modo, a
metodologia aplicada no desenvolvimento do módulo WHOQOL-OLD mostra-
se particularmente importante para fins de pesquisa em que a percepção
subjetiva das questões ligadas à cultura seja fator de interesse.
58
Os resultados da validação do módulo WHOQOL-OLD na população
brasileira e o desempenho psicométrico do instrumento são descritos no Artigo
1 desta dissertação.
59
3. Questões de pesquisa
3.1) Partindo de: a) a caracterização da população idosa como
possivelmente particular e, portanto, apresentando especificidades, e; b) as
possíveis limitações do instrumento de aferição de qualidade de vida da OMS
(WHOQOL-100) para abordar adequadamente todas as áreas relevantes para
a medição de qualidade de vida em idosos (Fleck, Chachamovich & Trentini,
2003), desenvolver e validar em nosso meio o módulo WHOQOL-OLD.
3.2) Determinar se o instrumento genérico de medição de qualidade de
vida (WHOQOL-BREF), originalmente desenvolvido com base em uma
população adulta jovem, tem um desempenho psicométrico satisfatório em uma
população idosa.
60
ARTIGO 1
DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DO MÓDULO DE
AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS DA
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – WHOQOL-OLD
Versão em português
61
DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DO MÓDULO DE AVALIAÇÃO DE
QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE – WHOQOL-OLD
Chachamovich, E
1
; Trentini CM
1
; Fleck MPA
1
1
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e Hospital de Clinicas de Porto Alegre.
Submetido à Revista de Saúde Pública USP
RESUMO:
Introdução: O aumento da proporção de idosos na população geral e as
particularidades que esta faixa etária apresenta apontam para a necessidade
do desenvolvimento de instrumentos específicos para a aferição de qualidade
de vida em idosos. O Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolveu o
módulo WHOQOL-OLD, que consta de 24 itens divididos em seis facetas:
funcionamento dos sentidos, autonomia, atividades passadas, presentes e
futuras, participação social, morte e morrer e intimidade. O objetivo do presente
artigo é descrever o desenvolvimento e a aplicação da versão em português do
Módulo WHOQOL-OLD.
Métodos: O Módulo WHOQOL-OLD, o instrumento WHOQOL-BREF, BDI e
BHS foram aplicados em uma amostra de 424 idosos na cidade de Porto
Alegre.
Resultados/Conclusões: O instrumento demonstrou características
satisfatórias de consistência interna, validade discriminante, validade
concorrente e fidedignidade teste-reteste. A validade de critério apresentou
achados que necessitam complementação de futuras investigações. O Módulo
WHOQOL-OLD representa uma alternativa útil e com bom desempenho
psicométrico na investigação de qualidade de vida em idosos.
Descritores: qualidade de vida, idosos, WHOQOL-OLD
62
INTRODUÇÃO
A população de idosos tem apresentado crescimento marcado, não
somente nos países desenvolvidos, mas também nos em desenvolvimento. No
Brasil, a população geral vem envelhecendo significativamente nos últimos 40
anos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em dezembro de 2005 (dados
referentes ao ano de 2004), demonstra que o total de idosos residentes no
Brasil é de cerca de 17 milhões, correspondendo a 9,8% da população total. A
esperança de vida ao nascer no Brasil alcançou os 71,7 anos, representando
um acréscimo de 9,1 anos em relação a 1980 (IBGE, 2005).
O processo de envelhecimento acarreta relevantes alterações nas
demandas e necessidades do sistema de saúde brasileiro (Chaimowitz, 1997).
A retangularização da pirâmide etária traz impactos diretos na alocação de
recursos em atendimento em saúde. Paulatinamente as doenças infecto-
contagiosas, mais associadas à população jovem e cujo tempo de duração é
reduzido (devido à dicotomia cura ou morte), passam a dar lugar a uma
crescente prevalência de condições crônico-degenerativas (Ramos, 2003).
Além de investigar e determinar o ritmo de envelhecimento populacional,
há também a preocupação de estudar a qualidade do envelhecimento e, em
um segundo momento, desenhar intervenções capazes de provocar impacto
em direção a um processo de envelhecimento saudável. Assim, os
pesquisadores na área da geriatria passaram a demonstrar crescente interesse
em determinar quais fatores são relevantes para a qualidade de vida em idosos
63
(Xavier et al, 2003, Farquhar, 1995; Browne, 1994; Sousa, 2003; Fleck, 2003;
Santos, 2002; Evans 2005).
Fleck e cols (2003) realizaram um estudo em grupos focais para a
investigação da conceituação e dos fatores determinantes para a qualidade de
vida em idosos brasileiros. Seguindo metodologia preconizada pela
Organização Mundial de Saúde (Power et al, 2005), evidenciaram que o
conceito de qualidade de vida se relaciona principalmente a bem-estar,
sentimentos positivos e saúde. Os resultados indicaram que os itens
componentes do instrumento WHOQOL-100 são adequados e relevantes para
a medição de qualidade de vida em idosos, mas não suficientemente
abrangentes. Há aspectos fundamentais na composição da qualidade de vida
de idosos não incluídos no instrumento WHOQOL-100 (e consequentemente
no WHOQOL-BREF, uma vez que este último se origina de uma redução do
primeiro). Deste modo, os grupos focais destacam que a população idosa
apresenta particularidades, que, para a adequada aferição de qualidade de
vida, devem ser contemplados nos instrumentos utilizados para tal fim. Perlman
e cols (1988) corroboram os achados de Fleck e cols ao colocarem que os
muitos instrumentos utilizados na aferição de qualidade de vida não levam em
conta áreas de vida identificadas pelos próprios idosos como fundamentais, tal
como relacionamento familiar.
Power e cols (2005), representando o Grupo WHOQOL, destacam que,
devido às especificidades apresentadas pela população de idosos nos
diferentes centros envolvidos na coleta internacional dos dados, há a
necessidade de desenvolver uma medida de qualidade de vida direcionada aos
idosos e testá-la em contexto transcultural.
64
O presente artigo tem como objetivo descrever o desenvolvimento e a
aplicação no Brasil do módulo WHOQOL-OLD. Trata-se de um instrumento
complementar e específico para avaliação de qualidade de vida em idosos,
capaz de suplementar as informações pertinentes à qualidade de vida desta
população específica.
O módulo WHOQOL-OLD
O desenvolvimento internacional do projeto WHOQOL-OLD está descrito
mais detalhadamente em outra publicação (Power et al, 2005). A seguir, serão
colocados os dados referentes ao centro brasileiro.
O protocolo de desenvolvimento do instrumento seguiu a experiência
prévia do Grupo WHOQOL em conduzir projetos colaborativos internacionais
com WHOQOL-100 e WHOQOL-BREF (The WHOQOL Group, 1998), através
de metodologia transcultural simultânea (Guillemin et al, 1993, Bullinger et al,
1996, Power et al, 1999). A etapa inicial foi de discussão entre os 22 centros
participantes para que se obtivesse consenso a respeito do construto e dos
fatores a serem estudados.
Posteriormente, realizaram-se grupos focais e geração de itens (Fleck et
al, 2003), que foram analisados em conjunto com os itens internacionais para o
desenvolvimento de um módulo piloto. O processo de tradução do instrumento,
realizado em cada centro, obedeceu à metodologia proposta pela OMS para tal
fim descrita com detalhes em outras publicações (Fleck et al,1999; Fleck et al,
2000).
Procedeu-se, então, o refinamento e a redução de itens e teste piloto da
versão inicial de 40 itens. O teste piloto foi realizado no Brasil com 339 sujeitos
[.1] Comentário: Acho melhor
botar em letra minúscula para ser
entendidi como sub-divisão da
Introdução.
DÚVIDA: Acho que algum
revisor pode nos dizer que isto é
MÉTODOS
65
(média de idade de 73,4±8,3 anos, 56% de mulheres, 57,5% com percepção
subjetiva de estado de saúde saudável).
Seguiu-se a esta aplicação a análise psicométrica do desempenho dos
itens, de modo a desenvolver a versão de campo a ser testada nos 20 centros
participantes desta etapa, envolvendo ao todo 5566 sujeitos. O teste de campo
envolveu a aplicação do módulo contendo 33 itens, além do instrumento
WHOQOL-BREF.
Após re-análise dos dados obtidos no teste de campo, a versão final do
instrumento restou composta de 24 itens com resposta por escala tipo Likert de
5 pontos, divididos em seis facetas. Cada faceta é composta por 4 itens,
gerando, pois, escores independentes que variam de 4 a 20 pontos
(transformados por sintaxe em escala 0-100). Os escores das seis facetas
combinados com as respostas aos 24 itens geram também um escore geral
(overall) do instrumento. Como nos demais instrumentos WHOQOL, escores
mais altos representam melhor qualidade de vida nas determinadas facetas.
O módulo WHOQOL-OLD pode ser auto-respondido, aplicado com o
auxílio do entrevistador ou aplicado integralmente pelo entrevistador. Nos
casos em que há participação do entrevistador, este é orientado a não interferir
no entendimento do sujeito a respeito dos itens, bem como não refrasear ou
fornecer sinônimos às palavras utilizadas no instrumento, com o intuito de
preservar suas características originais (UFRGS, 2005).
Tabela 1
MÉTODO
Sujeitos e procedimentos
66
O Protocolo do Projeto WHOQOL previa uma amostra mínima de 300
sujeitos a ser arrolada em um hospital universitário, lares de convivência e
comunidade. Esta amostra deveria ser estratificada por sexo (50% de
mulheres e 50% de homens), faixa etária (60-69 anos, 70-79 anos e 80 ou
mais anos de idade) e percepção subjetiva de estado de saúde (50% que se
percebem como saudáveis e 50% que se percebem como doentes). A
estratificação teve como objetivo permitir sub-amostras mínimas que
possibilitassem a avaliação do desempenho do instrumento em condições
distintas. Os sujeitos foram recrutados e entrevistados entre o período de
Setembro de 2003 a Março de 2005.
Os critérios de inclusão estabelecidos foram idade igual ou superior a 60
anos e capacidade clínica de entender e responder aos instrumentos aplicados.
Os sujeitos entrevistados respondiam à questão “De modo geral, o(a) senhor(a)
se considera saudável ou doente?”, frente ao que eram estratificados como
saudáveis ou doentes exclusivamente de acordo com sua percepção subjetiva,
e não sendo considerado seu estado objetivo de saúde. Esta metodologia vem
ao encontro da base teórica dos instrumentos de qualidade de vida
desenvolvidos pela OMS, uma vez que o construto qualidade de vida é
entendido como multidimensional e eminentemente subjetivo (The WHOQOL
Group, 1998; Fleck et al, 1999).
Da amostra total, cinqüenta e um sujeitos selecionados por conveniência
foram re-entrevistados duas semanas após a entrevista inicial, sendo aplicado
novamente o módulo WHOQOL-OLD, com o objetivo de avaliar a fidedignidade
teste-reteste do instrumento.
67
A todos os respondentes foram informados os objetivos do estudo e a
confidencialidade dos dados obtidos. Os sujeitos receberam e assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pela Comissão de
Pesquisa e Ética em Saúde do hospital estudado. Os entrevistadores eram
estudantes de medicina e psicologia previamente treinados para a aplicação
dos instrumentos utilizados.
Instrumentos
Os instrumentos citados a seguir foram aplicados aos sujeitos de modo
transversal.
a) Ficha de Dados sócio-demográficos
b) WHOQOL-BREF: Instrumento genérico de medição de
qualidade de vida, desenvolvido pela OMS a partir do
instrumento WHOQOL-100 e validado para o Português (Fleck
et al, 2000).
c) Inventário de Depressão de Beck (Beck et al, 1961):
Instrumento que avalia presença e grau de sintomatologia
depressiva. Validado em Português (Cunha, 2001), mostrou-se
adequado para estudo de populações clínicas e não-clínicas.
Fornece um índice de 0-63 que indica a severidade dos
sintomas depressivos presentes
d) Escala de Desesperança de Beck (Beck et al, 1974):
Instrumento que avalia a presença e severidade de sintomas
de desesperança. Também validado em Português (Cunha,
68
2001), fornece um índice de 0-20, que indica a intensidade dos
sintomas de desesperança.
e) Módulo WHOQOL-OLD
RESULTADOS
Demografia
A amostra recrutada foi de 424 sujeitos, cujas características
demográficas e clínicas encontram-se descritas na Tabela 2. Destaca-se que
as médias dos escores do BDI e BHS demonstram que a amostra é
predominantemente composta de idosos não deprimidos e sem sintomas de
desesperança.
Tabela 2
Consistência Interna
A consistência interna do módulo WHOQOL-OLD foi avaliada através do
Coeficiente alfa de Cronbach. As facetas foram analisadas individualmente e foi
determinado o coeficiente de fidedignidade também para o conjunto de 24
itens, conforme ilustra a Tabela 3. Os coeficientes apresentam-se satisfatórios
quando avaliados por facetas ou pelo conjunto dos itens, variando de 0,710
(faceta autonomia) a 0,885 (overall).
Tabela 3
Validade discriminante
69
Compararam-se os escores médios de cada faceta e overall entre o
grupo de idosos com intensidade de sintomatologia depressiva mínima ou
maior que mínima (leve, moderada ou grave) avaliada pelo BDI. Do mesmo
modo, testou-se a diferença entre as médias dos escores de cada faceta e
overall entre os grupos que se percebiam saudáveis ou doentes. A Tabela 4
apresenta os dados referentes à análise de validade discriminante. Todas as
facetas e o escore overall demonstraram diferenças significativas quando
comparados entre os grupos, o que evidencia sua capacidade discriminante
satisfatória.
Tabela 4
Validade de critério
A regressão linear múltipla evidencia que os quatro domínios do
instrumento WHOQOL-BREF apresentam significância no modelo proposto,
utilizando a variância da resposta a pergunta “Como você avaliaria a sua
qualidade de vida” (item G1 no instrumento WHOQOL-BREF) como variável
dependente. Entre as seis facetas do módulo OLD, entretanto, 4 mostram nível
de significância estatística (utilizando α=0,1, medida menos conservadora por
se tratar de uma análise exploratória do instrumento). O presente modelo
explica 51,1% da variância da variável dependente.
Deste modo, as facetas funcionamento dos sentidos e intimidade não
demonstram significância estatística neste modelo (p < 0,1).
Tabela 5
70
Validade concorrente
Para a avaliação da validade concorrente, analisaram-se os coeficientes
de correlação entre os escores totais das escalas BHS e BDI e os escores das
seis facetas e o escore overall do módulo WHOQOL-OLD. Todas as
correlações apresentam níveis significativos. Observa-se que os coeficientes
negativos indicam que quanto maiores os níveis de desesperança e sintomas
depressivos, piores são os escores das facetas de qualidade de vida.
A faceta Morte e Morrer apresenta os menores coeficientes de
correlação com ambas as escalas, enquanto as demais facetas e o escore
overall possuem desempenho semelhante e satisfatório, como ilustra a tabela
6.
Tabela 6
Fidedignidade Teste-Reteste
Não houve diferenças significativas nas médias dos escores das facetas
e overall entre as avaliações de teste e reteste (Tabela 7).
A tabela 8 apresenta os coeficientes de correlação entre os escores das
facetas e overall do teste e reteste, indicando valores satisfatórios e
estatisticamente significativos. Os dados analisados em conjunto indicam que o
instrumento apresenta boa fidedignidade teste-reteste.
Tabela 7
Tabela 8
71
DISCUSSÃO
O presente artigo tem como objetivo apresentar a versão em Português
do Módulo WHOQOL-OLD, bem como descrever suas propriedades
psicométricas em uma população idosa.
O instrumento apresenta boa consistência interna, medida pelo
coeficiente α de Cronbach, tanto em cada faceta quanto em relação ao
conjunto de itens. Os coeficientes mostram-se próximos aos descritos para a
amostra internacional total (Power et al, 2005), e mais elevados do que os
encontrados nos instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-BREF em seus
processos de validação (Fleck et al, 1999; Fleck et al, 2000), atestando a
adequação da consistência do módulo.
O módulo WHOQOL-OLD discriminou, entre os idosos, níveis de
depressão (em todas as facetas) e a percepção subjetiva de saúde (em todas
as facetas, com exceção à Morte e Morrer). Os coeficientes de correlação entre
os escores das facetas e os de desesperança e depressão evidenciam
significância estatística, sendo que os coeficientes demonstram correlação
inversa. Deste modo, níveis mais elevados de depressão e desesperança
relacionam-se com escores menores de qualidade de vida nas diversas
facetas.
A fidedignidade teste-reteste foi satisfatória, indicando que não houve
diferenças significativas entre os escores de todas as facetas nos testes e
retestes. Os coeficientes de correlação entre os escores teste-reteste
apresentaram significância estatística, com valores variando de 0,558 a 0,820.
Em relação à validade de critério, observou-se que quatro das seis
facetas fazem parte do modelo de regressão linear múltipla e explicaram, junto
72
com os quatro domínios do WHOQOL-BREF, 51,1% da variância. Uma vez que
as facetas incluídas no módulo WHOQOL-OLD foram sugeridas e analisadas
pelos grupos focais, verificou-se uma discrepância entre a fundamentação
teórica dos itens e seu desempenho psicométrico. Levantamos 4 possíveis
razões para que estas duas facetas não fossem incluídas no modelo:
Uma primeira hipótese, de natureza conceitual, sugere que seja possível
que tais facetas (Funcionamento dos Sentidos e Intimidade) não tenham de
fato relevância para a qualidade de vida de idosos e, por isto, não entrariam no
modelo. Entretanto, estas facetas foram corroboradas em grupos focais do
centro brasileiro e de diferentes centros internacionais, e existe literatura
consistente sugerindo que são aspectos relevantes e que interferem na
qualidade de vida do idoso (Farquhar, 1995; Bowling et al, 2002), além de já
terem sido destacadas nas discussões originais teóricas do instrumento
WHOQOL-100 (Power et al, 2005).
A segunda hipótese se relaciona com a escolha da variável dependente
no modelo de regressão. A utilização de uma única pergunta geral de
qualidade de vida como variável dependente pode ser objeto de
questionamentos a partir da crítica de sua robustez. Bowling (2005) coloca que
itens robustos parecem ser fidedignos em sua medição, trazendo uma série de
vantagens em relação a instrumentos longos. Um outro argumento contrário a
esta hipótese é o de que o domínio “overall” do WHOQOL-100 e a pergunta
genérica de qualidade de vida do WHOQOL-BREF foram incluídos nos
instrumentos com o intuito de permitir aos pesquisadores uma avaliação geral
de qualidade de vida (The WHOQOL GROUP, 1998). Cabe lembrar que estas
73
perguntas genéricas foram também utilizadas para testar a validade de critério
nos teste de campo de ambas as versões (Fleck et al,, 1999; Fleck et al, 2000).
A terceira hipótese baseia-se nas características de nossa amostra, que
provém da comunidade e se considera saudável em sua maioria. Poder-se-ia
supor que as duas facetas que não entraram no modelo apresentariam
relevância ao examinarmos uma amostra com preponderância de idosos com
muita restrição em sua funcionalidade.
A quarta hipótese, ao nosso ver a mais provável, é a existência de
fatores de confusão ou de colinearidade no modelo, que possam acarretar
diminuição do impacto das facetas. As correlações entre os escores dos
domínios do WHOQOL-BREF e as facetas do módulo WHOQOL-OLD
mostraram-se relativamente homogêneas e de intensidade fraca a moderada
(variando de 0,17 a 0,62) (dado não mostrado em tabelas), refutando pois a
noção de que altas correlações pudessem enfraquecer a participação das
facetas no modelo de regressão. No entanto, é possível que outras variáveis
não incluídas neste modelo possam exercer tal papel. O impacto da presença
de sintomatologia depressiva na avaliação de qualidade de vida, evidenciada
em populações idosas (Xavier, 2003; Trentini, 2004), é um potencial
confundidor. Pretendemos estudar especificamente este impacto em outra
publicação
O presente estudo apresenta, juntamente com os achados relatados
pelos autores em outra publicação (Fleck et al, 2003), uma metodologia de
desenvolvimento de instrumentos na área da saúde que propõe a associação
de uma abordagem qualitativa (geradora de questões) a uma abordagem
quantitativa (de mensuração objetiva do desempenho do instrumento). Tal
74
associação proporciona que os sujeitos aos quais o instrumento se destina
possam participar ativamente do processo de geração de itens, de ponderação
da importância dos itens propostos pelos pesquisadores e de avaliação da
formulação dos itens (em relação aos termos utilizados e à compreensibilidade
do fraseamento).
O módulo WHOQOL-OLD representa uma ferramenta adicional aos
questionários WHOQOL-100 ou WHOQOL-BREF como uma alternativa útil na
investigação de qualidade de vida de idosos, abrangendo aspectos relevantes
e não abordados nos instrumentos desenhados originalmente para populações
não-idosas. Uma vez que a validação de um instrumento é um processo
continuado, estudos testando o desempenho do WHOQOL-OLD em
populações idosas com diferentes perfis são necessários.
75
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78
Tabela 1 – Facetas e itens do WHOQOL-OLD
Faceta 1 – Funcionamento dos sentidos
1. Perdas nos sentidos afetam a vida diária
2. Avaliação do funcionamento dos sentidos
3. Perda de funcionamento dos sentidos afeta a participação em atividades
4. Problemas com o funcionamento dos sentidos interferindo na habilidade de
interagir
Faceta 2 – Autonomia
5. Liberdade para tomar suas próprias decisões
6. Sente que controla seu futuro
7. Consegue fazer as coisas que gostaria de fazer
8. Pessoas ao seu redor respeitam a sua liberdade
Faceta 3 – Atividades passadas, presentes e futuras
9. Feliz com as coisas que pode esperar daqui para frente
10. Satisfeito com as suas oportunidades para continuar alcançando outras realizações
11. Recebeu o reconhecimento que merece na sua vida
12. Satisfeito com aquilo que alcançou em sua vida
Faceta 4 – Participação Social
13. Satisfeito com a maneira com a qual você usa seu tempo
14. Satisfeito com o seu nível de atividade
15. Tem o suficiente para fazer em cada dia
16. Satisfeito com as oportunidades para participar de atividades na comunidade
Faceta 5 – Morte e morrer
17. Preocupado com a maneira pela qual irá morrer
18. Medo de não poder controlar a sua morte
19. Medo de morrer
20. Teme sofrer dor antes de morrer
Faceta 6 – Intimidade
21. Tem um sentimento de companheirismo em sua vida
22. Sente amor em sua vida
23. Oportunidades para amar
24. Oportunidades para ser amado
79
Tabela 2 . Características gerais da amostra (n=424)
Idade N (%) ou M (SD)
60-69 anos 173 (40,9)
70-79 anos 153 (36,2)
80+ anos 97 (22,9)
Sexo
Masculino 152 (35,8)
Feminino 272 (64,2)
Percepção de saúde
Saudável 286 (67,5)
Doente 138 (32,5)
Estado civil
Solteiro 29 (6,8)
Casado 212 (50,0)
Separado 30 (7,1)
Viúvo 128 (30,2)
Nível de escolaridade
Analfabeto 7 (1,7)
Ensino Fundamental 165 (38,9)
Ensino Médio 110 (25,9)
Superior 90 (21,2)
BDI
9,05 (7,08)
BHS
4,80 (4,16)
80
Tabela 3. Coeficiente de fidedignidade de Cronbach (n=424)
Facetas ou Itens
Coeficiente de Cronbach
Numero de itens
Funcionamento dos sentidos
0,795
4
Autonomia
0,710
4
Atividades passadas, presentes e
futuras
0,785
4
Participação social
0,830
4
Morte e morrer
0,835
4
Intimidade
0,880
4
24 questões
0,885
24
81
Tabela 4. Comparação dos escores das facetas em relação à intensidade de sintomas depressivos e à percepção subjetiva de saúde
(n = 424).
Facetas Sintomas depressivos Percepção subjetiva de saúde
Média (DP) Média (DP)
BDI mínimo
(0-11)
BDI > mínimo
(>12)
T p saudável doente
t P
Funcionamento
dos sentidos
77,99 (19,36)
64,39 (22,50)
6,06
,000
78,85 (18,42)
63,09 (23,01)
7,01
,000
Autonomia
70,79 (15,63)
54,88 (18,91)
8,46
,000
69,93 (15,53)
57,24 (20,47)
6,43
,000
Ativid. passadas,
presentes e fut.
71,82 (15,41)
55,45 (17,65)
9,21
,000
71,70 (14,47)
56,29 (19,18)
8,32
,000
Participação social
71,13 (15,64)
50,79 (19,34)
10,63
,000
70,78 (15,07)
52,26 (21,17)
9,21
,000
Morte e morrer
66,85 (23,75)
57,89 (27,59)
3,23
,001
65,21 (24,88)
61,59 (26,16)
1,38
,168
Intimidade
72,57 (19,53)
53,43 (22,96)
8,32
,000
70,00 (20,98)
59,42 (23,85)
4,44
,000
Overall
71,79 (11,30)
56,17 (12,24)
12,41
,000
71,00 (11,01)
58,37 (14,71)
8,90
,000
82
Tabela 5. Regressão linear múltipla entre as diferentes facetas em relação ao questão “Como
você avaliaria a sua qualidade de vida” (item G1 WHOQOL-BREF)
Domínios / Facetas
β
T P
Físico
,275 5,56 ,000
*
Psicológico
,179 3,31 ,001
*
Relações Sociais
,084 1,83 ,067
*
Meio-Ambiente
,171 3,57 ,000
*
Funcionamento dos sentidos
,024
0,58
,561
Autonomia
- ,062
-1,34
,100
*
Atividades passadas, presentes
e futuras
,097
1,69
,091
*
Participação Social
,118
2,07
,038
*
Morte e morrer
- ,082
- 2,25
,024
*
Intimidade
,014
,345
,730
*
p 0,1, R
2
=51,1%
Tabela 6. Correlação entre os escores totais da BDI e BHS e os escores das facetas do
WHOQOL-OLD e overall
Faceta 1
(Func.
Sentidos)
Faceta 2
(Autonomia)
Faceta 3
(Ativ. pas,
pres e fut)
Faceta 4
(Particip.
Social)
Faceta 5
(Morte e
morrer)
Faceta 6
(Intimidade)
Overall
BDI
-,411 -,431 -,499 -,534 -,222 -,420 -,615
BHS
-,317 -,406 -,485 -,444 -,124 -,291 -,505
* todas as correlações apresentam p<0,001
83
Tabela 7. Comparação teste-reteste entre os escores das facetas e overall (n=51)
Média (DP)
Facetas
Teste Reteste t P
Funcionamento dos sentidos
74,39 (25,03)
74,03 (24,61)
,132
,89
Autonomia
65,86 (15,87)
62,13 (14,02)
1,95
,056
Atividades passadas, presentes e
futuras
68,26 (17,62)
64,90 (16,93)
1,90
,062
Participação Social
65,65 (19,39)
63,70 (17,76)
,79
,43
Morte e morrer
61,89 (23,87)
66,10 (25,28)
- 1,62
,11
Intimidade
68,01 (21,01)
68,01 (19,51)
,000
1,0
Overall
67,40 (13,53)
66,21 (12,24)
1,08
,28
84
Tabela 8. Coeficiente de correlação entre os escores das facetas e overall nas medidas
teste e reteste
Facetas
Coeficiente de
correlação (Pearson)
P
Funcionamento dos sentidos
,685
,000
Autonomia
,584
,000
Atividades passadas, presentes e
futuras
,730
,000
Participação Social
,558
,000
Morte e morrer
,771
,000
Intimidade
,584
,000
Overall
,820
,000
85
ARTIGO 1
DEVELOPMENT AND APPLICATION OF THE PORTUGUESE
VERSION OF THE WORLD HEALTH ORGANIZATION QUALITY
OF LIFE ASSESSMENT FOR OLD PEOPLE – THE WHOQOL-
OLD MODULE
Versão em Inglês
86
DEVELOPMENT AND APPLICATION OF THE PORTUGUESE VERSION OF
THE WORLD HEALTH ORGANIZATION QUALITY OF LIFE ASSESSMENT
FOR OLD PEOPLE – THE WHOQOL-OLD MODULE
Eduardo Chachamovich
1
, Clarissa Trentini
1
, Marcelo Fleck
1
1
Department of Psychiatry and Legal Medicine, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul and Hospital de Clinicas de Porto Alegre.
ABSTRACT:
Background: The rise in the proportion of older adults in the general population
and the particularities presented by this age group show the need for the
development of specific instruments to measure quality of life in older adults.
The World Health Organization Quality of Life Group developed the WHOQOL-
OLD module, which is comprised of 24 items divided into six facets: sensory
abilities, autonomy, past present and future activities, social participation, death
and dying and intimacy. This study aims at describing the development and
application of the WHOQOL-OLD module Portuguese version.
Methods: The WHOQOL-Old module, the WHOQOL-BREF, BDI and BHS
instruments were applied in a sample of 424 older adults in the city of Porto
Alegre.
Results/conclusions: The instrument showed suitable characteristics of
internal consistency, discriminant validity, concurrent validity and test-retest
reliability. Criterion validity presented findings that need further studies. The
WHOQOL-Old module represents a useful alternative with good psychometrical
performance in the investigation of quality of life in older adults.
87
Keywords: quality of life, older adults, WHOQOL-OLD
88
Background
Older adult population has been growing remarkably, not only in
developed countries, but also in the developing ones. In Brazil, the population in
general has been aging significantly in the last 40 years. The “Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios” published by the Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística in 2005 ( data referring to 2004), shows that the total
number of older adults living in Brazil is approximately 17 million, corresponding
to 9.8% of the total population. Life expectancy at birth in Brazil has reached
71.7 years, which adds up 9.1 years comparing to 1980 (IBGE, 2005).
The aging process causes relevant alterations in the demands and needs
of the Brazilian health system (Chaimowitz, 1997). The rectangularization of the
population pyramid brings direct impacts on the resource allocation for health
policies. Infectious diseases, more associated to the young population and
whose time of duration is reduced, are slowly being replaced by an increasing
prevalence of chronic-degenerative diseases (due to the healing or death
dichotomy)(Ramos, 2003).
Besides investigating and determining the pace of the population’s aging,
there is also the concern about studying the quality of aging and, later, design
interventions able to cause impact towards a healthy aging process. Therefore,
researchers in the geriatrics area start showing increasing interest in
determining which factors are relevant for the quality of live in older adults
(Xavier et al, 2003, Farquhar, 1995; Browne et al., 1994; Sousa et al., 2003;
Fleck et al., 2003; Santos, 2002; Evans et al., 2005).
89
Fleck and collaborators (2003) carried out a study with focus groups for
the investigation of the concept and the determining factors for quality of life in
Brazilian older adults. According to the methodology suggested by the WHO, it
was shown that the concept of quality of life is especially related to wellbeing,
positive feelings and health. Results indicated that the items of the WHOQOL-
100 instrument are appropriate and relevant for the measurement of quality of
life in older adults, but not comprehensive enough. There are fundamental
aspects in the composition of quality of life in older adults which are not
included in the WHOQOL-100 instrument (and consequently in the WHOQOL-
BREF, once the latter comes from the reduction of the former). Thus, the focus
groups stress that the elderly population shows particularities that must be
present in the instruments used so that quality of life is properly measured,
Perlman and collaborators (1988) corroborate Fleck and collaborators’ findings
by pointing out that several of the instruments used in the measurement of
quality of life do not take into consideration areas of life which are identified as
fundamental by the older adults, such as family relationships.
Power and collaborators (2005), representing the WHOQOL group,
emphasize that, due to the specificities shown by the population of older adults
in the different centers involved in the international data collection, there is a
need to develop quality of life measurement directed to older adults and test it in
a transcultural context.
This study aims at describing the development and application of the
WHOQOL-OLD module in Brazil. It is a complementary and specific instrument
for the assessment of quality of life in older adults able to supplement the
information concerning quality of life in this specific population.
90
WHOQOL-OLD MODULE
The international development of the WHOQOL-OLD project is described
in more details elsewhere (Power et al, 2005). Data referring to the Brazilian
center follow below.
The instrument’s development followed the previous experience of the
WHOQOL Group in international collaborative projects with WHOQOL-100 and
WHOQOL-BREF (The Whoqol Group, 1988), through simultaneous
transcultural methodology (Guillemin et al, 1993; Bullinger et al, 1996; Power et
al, 1999). The first phase was a discussion among the 22 participating centers
in order to obtain consensus about the construct and the factors to be studied.
After that, focus groups and item generation were carried out (Fleck et al,
2003), which were analyzed with the international items for the development of
a pilot module. The instrument’s translation was performed in each center,
following the methodology proposed by the WHO which is described in details
elsewhere (Fleck et al, 1999; Fleck et al, 2000).
The next step was the refining, item reduction and pilot testing of the initial
40-item version. The pilot test was performed in Brazil with 339 subjects
(average age 73.4, +- 8.3, 56% women, 57.5% subjects with healthy perceived
status). After this application, the psychometrical analysis of the items’
performance was run in order to develop the field version to be tested at the 20
centers that participated in this phase, involving a total of 5566 subjects. The
field test involved the application of the 33- item module, as well as the
WHOQOL-BREF instrument.
91
After the re-analysis of the data obtained in the field test, the final version
of the instrument was comprised of 24 items recorded on a 5-point Likert scale,
divided into six facets. Each facet is comprised of 4 items, and generate,
therefore, independent scores ranging from 4 to 20 points (transformed through
syntax into a 0 – 100 scale). The six facets scores, combined with the answers
to the 24 items, also produce an overall score of the instrument. As in the other
WHOQOL instruments, higher scores represent better quality of life in the
facets.
The WHOQOL-OLD module can be self-reported, administered with the
interviewer’s help or completely administered by the interviewer. In cases where
the interviewer’s participation is needed, he is asked not to interfere with the
subjects’s understanding of the items as well as not rephrasing or supplying
synonyms to the words used in the instrument, in order to keep its original
characteristics (UFRGS, 2005).
Table 1
METHOD
Subjects and procedures
A minimal sample of 300 subjects stratified by gender (50% women and
50% men), age (60-69 years of age, 70-79 years of age and over 80) and
perceived health status (50% considering themselves healthy and 50%
unhealthy) should be selected at a university hospital, nursing homes, and
92
community according to the WHOQOL-OLD project. Convenience sampling
was used. The stratification process provided minimum subsamples that
allowed for the instrument’s assessment in different conditions. The subjects
were recruited and interviewed between September 2003 and March 2005.
The inclusion criteria were age 60 or above and clinical ability to
understand and respond to the instruments administered. The subjects
interviewed answered the question “in general, do you consider yourself healthy
or unhealthy?”, and were later stratified as healthy or unhealthy solely according
to their subjective perception, not considering their actual health status. This
methodology is based on the theory for the quality of life instruments developed
by the WHO, once the quality of life construct is seen as multidimensional and
basically subjective (The WHOQOL Group, 1998; Fleck et al, 1999).
From the total sample, fifty-one subjects selected by convenience
sampling were re-interviewed two weeks after the initial interview. The
WHOQOL-OLD module was re-administered in order to assess the test-retest
reliability of the instrument.
All respondents were informed about the objectives of the study and the
confidentiality of the data obtained. The subjects received and signed the
Informed Consent approved by the Research and Ethics Committee of the
university hospital in which the study was carried out. The interviewers were
medicine and psychology undergraduates previously trained for the application
of the instruments used.
93
Instruments
The instruments mentioned below were applied to subjects cross-
sectionally.
a) Socio-demographic data Form
b) WHOQOL-BREF: generic instrument for quality of life measurement
developed by the WHO devised from the WHOQOL-100 instrument and
validated to Portuguese (Fleck et al, 2000).
c) Beck Depression Inventory (Beck et al, 1961): Instrument that
assesses the presence and level of depressive symptomatology. Validated to
Portuguese (Cunha, 2001), it proved suitable for study in clinical and non-
clinical populations. It supplies a 0-63 index that shows the severity of
depressive symptoms.
d) Beck Hopelessness Scale (Beck et al, 1974): Instrument that
assesses the presence and severity of hopelessness symptoms. Also validated
to Portuguese (Cunha, 2001), it supplies a 0-20 index that shows the intensity
of hopelessness symptoms.
e) WHOQOL-OLD Module
RESULTS
Demography
The sample recruited was 424 subjects whose demographic and clinical
characteristics are described in Table 2. It is pointed out that the BDI and BHS
score means showed that the sample is predominantly comprised of non-
depressed older adults without hopelessness symptoms.
94
Table 2
Internal Consistency
The internal consistency of the WHOQOL-OLD was assessed through
Cronbach’s Alpha Coefficient. The facets were individually analyzed and the
reliability coefficient was also determined for the set of 24 items, according to
Table 3. The coefficients are suitable when assessed by facet or by the set of
items, ranging from 0.710 (autonomy) to 0.885 (overall).
Table 3
Discriminant Validity
The mean scores of each facet and overall between the group of older
adults with minimum and higher than minimum intensity of depressive
symptoms (mild, moderate or severe) were compared. Similarly, the difference
of the mean scores of each facet and overall between the groups that
considered themselves healthy and unhealthy was tested. Table 4 shows data
referring to the analysis of discriminant validity. All facets and overall scores
indicated significant differences when compared between the groups, which
shows suitable discriminant capacity.
Table 4
95
Criterion Validity
Multiple linear regression shows that the four domains of the WHOQOL-
BREF present significance in the proposed model, using the variance of the
answer to the question “How would you rate your quality of life” (G1 item in the
WHOQOL-BREF instrument) as a dependent variable. Among the six facets of
the OLD module, however, 4 are statistically significant (using α=0.1, a less
strict value, once it is an exploratory analysis). The current model explains
51.1% of the dependent variable variance.
Therefore, the facets “sensory abilities” and “intimacy” do not present
statistical significance in this model.
Table 5
Concurrent Validity
For the assessment of concurrent validity, the correlation coefficients
between the total scores of the BHS and BDI scales and the scores of the six
facets and overall of the WHOQOL-OLD module were analyzed. All correlations
show significant levels. The negative coefficients indicate that the higher the
hopelessness and depressive symptoms levels, the worse the quality of life
facets scores.
96
The facet Death and Dying shows the lowest correlation coefficients with
both scales, while the other facets and overall have similar and satisfactory
performance, as shown in table 6.
Table 6
Test-Retest Reliability
There were no significant diferences in the score means of the facets and
overall between the test and retest assessments (Table 7) .
Table 8 shows correlation coefficients of the scores of the facets and
overall between test and retest, showing suitable and statistically significant
values. Data analyzed as a whole show that the instrument present good test-
retest reliability.
Table 7
Table 8
DISCUSSION
This study aims at presenting the Portuguese version of the WHOQOL-
OLD, as well as describing its psychometrical properties in an older adult
population.
97
The instrument shows good internal consistency measured by Cronbach’s
Alpha Coefficient in each facet as well as in the set of items. The coefficients
are close to the ones described for the total international sample (Power et al,
2005) and higher than the ones found in the WHOQOL-100 and WHOQOL-
BREF in their validation processes (Fleck et al, 1999; Fleck et al, 2000), proving
the appropriateness of the module’s consistency.
The WHOQOL-OLD module discriminated, among the older adults,
depression levels (in all facets) and perceived health status (in all facets, except
for Death and Dying). The correlation coefficients among the facet and the
hopelessness and depression scores show statistitical significance and the
coefficients indicate inverse correlation. Therefore, higher levels of depression
and hopelessness are related to lowest scores of quality of life in the different
facets.
Test-retest reliability was satisfactory, showing that there were no
significant differences among the scores of all facets in tests and retests. The
correlation coefficients between the test-retest scores showed statistic
significance, with values ranging from 0.558 to 0.820.
Concerning the criterion validity, four out of six facets are part of the
multiple linear regression module and explained, as well as the four domains of
WHOQOL-BREF, 51.1% of the variance. Once the facets included in the
WHOQOL-OLD module were suggested and analyzed by the focus groups,
there was discrepancy between the theoretical basis of the items and their
psychometrical performance. We have raised four hypotheses which can be
implicated in these findings.
98
The first one, of conceptual nature, suggests that these facets (Sensory
Ability and Intimacy) may not be in fact relevant to the quality of life in older
adults, and, therefore, are not significant in the regression model. However,
their importance has been reinforced in Brazilian and in several international
focus groups, and there is consistent literature describing they are relevant to
and interfere with quality of life of elderly (Farquhar, 1995; Bowling et al, 2002).
The second hypothesis is related to the choice of the dependent variable
in the regression model. The utilization of a single quality of life item as the
dependent variable may be questioned, based on its robustness. Bowling
(2005) states that robust items seem to produce reliable measurements,
presenting several advantages compared to long instruments. Another
important fact contrary to this hypothesis is that the WHOQOL-100 overall score
and the WHOQOL-BREF generic quality of life item were included in these
instruments to permit a global quality of life assessment to researchers (The
WHOQOL GROUP, 1998). It is important to point out that these global items
were used to test criterion validity in the field testing of both versions (Fleck et
al,, 1999; Fleck et al, 2000).
The third hypothesis is based on the characteristics of the sample
studied, which basically is composed of community-dwelling elderly who
consider themselves healthy. One could suggest that the two facets not
included in the regression model would present relevance if a predominant
functionality restricted old adult sample was examined.
The fourth hypothesis, which we believe is the most probable one, is the
existence of confounding factors or colinearity in the model that may cause
decreasing facets impact. Correlations between WHOQOL-BREF domains and
99
WHOQOL-OLD facets proved relatively homogeneous and of mild to moderate
intensity (varying from 0.17 to 0.62) (data not shown), which refute the notion
that high correlations could decrease the facets’ impact in the model. However,
it is possible that other variables not included in the model may play that role.
The depressive symptomatology impact in the quality of life, shown in older
populations (Xavier et al., 2003; Trentini, 2004), is a relevant potential
confounder. This issue will be addressed in another publication.
With the findings reported by the authors in another article (Fleck et al,
2003), this study presents a methodology for the development of health
instruments that proposes the association of a quality approach (item
generating) and a quantitative approach (objective measurement of the
instrument’s performance). Through this association, the subjects to whom the
instrument is devised is able to actively participate in the item generating,
determination of the importance of the items proposed by the researchers and
the evaluation of the item formulation (concerning the terms used and
understanding of phrasing).
The WHOQOL-OLD module represents an additional tool to the
WHOQOL-100 or WHOQOL-BREF as a useful alternative in the investigation of
quality of life in older adults, comprehending relevant aspects not covered by
the instruments originally designed for non-elderly populations.
Once an instrument’s validation is a continued process, further studies
testing the WHOQOL-OLD’s performance on older adult populations of different
profiles are needed.
100
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103
Table 1 - Final set of items for the WHOQOL-OLD module
Facet I Sensory Abilities
OLD-01 Impairments to senses affect daily life
OLD-02 Loss of sensory abilities affect participation in activities
OLD-10 Problems with sensory functioning affect ability to interact
OLD-20 Rate sensory functioning
Facet II Autonomy
OLD-03 Freedom to make own decisions
OLD-04 Feel in control of your future
OLD-05 People around you are respectful of your freedom
OLD-11 Able to do things you’d like
Facet III Past, Present and Future Activities
OLD-12 Satisfied with opportunities to continue achieving
OLD-13 Received the recognition you deserve in life
OLD-15 Satisfied with what you’ve achieved in life
OLD-19 Happy with things to look forward to
Facet IV Social Participation
OLD-14 Have enough to do each day
OLD-16 Satisfied with the way you use your time
OLD-17 Satisfied with level of activity
OLD-18 Satisfied with opportunity to participate in community
Facet V Death and Dying
OLD-06 Concerned about the way you will die
OLD-07 Afraid of not being able to control death
OLD-08 Scared of dying
OLD-09 Fear pain before death
Facet VI Intimacy
OLD-21 Feel a sense of companionship in life
OLD-22 Experience love in your life
OLD-23 Opportunities to love
OLD-24 Opportunities to be loved
104
Table 2 . Sociodemographic and clinical characteristics (n=424)
Age N (%) or M (SD)
60-69 y.o. 173 (40,9)
70-79 y.o. 153 (36,2)
80y.o. 97 (22,9)
Gender
Male 152 (35,8)
Female 272 (64,2)
Perceived Health Status
Healthy 286 (67,5)
Unhealthy 138 (32,5)
Marital Status
Single 29 (6,8)
Married 212 (50,0)
Separated 30 (7,1)
Widowed 128 (30,2)
Educational Level
Illiterated 7 (1,7)
Basic Level 165 (38,9)
High School 110 (25,9)
College 90 (21,2)
BDI
9,05 (7,08)
BHS
4,80 (4,16)
105
Table 3.
Cronbach’s alpha internal consistency (n=424)
Facets or Items
Cronbach’s alpha
Number of items
Sensory Abilities
0,795
4
Autonomy
0,710
4
Past, Present and Future Activities
0,785
4
Social Participation
0,830
4
Death and Dying
0,835
4
Intimacy
0,880
4
All 24 items
0,885
24
106
Tabela 4. Comparison of WHOQOL-OLD facets scores according to depressive symptoms level and perceived health status (n = 424)
.
Facets Depressive Symptoms Perceived Health Status
Mean (SD) Mean (SD)
BDI minimal
(0-11)
BDI > minimal
(>12)
T p Healthy Unhealthy
t P
Sensory Abilities
77,99 (19,36)
64,39 (22,50)
6,06
,000
78,85 (18,42)
63,09 (23,01)
7,01
,000
Autonomy
70,79 (15,63)
54,88 (18,91)
8,46
,000
69,93 (15,53)
57,24 (20,47)
6,43
,000
Past, Pres and Fut.
71,82 (15,41)
55,45 (17,65)
9,21
,000
71,70 (14,47)
56,29 (19,18)
8,32
,000
Social Part.
71,13 (15,64)
50,79 (19,34)
10,63
,000
70,78 (15,07)
52,26 (21,17)
9,21
,000
Death and Dying
66,85 (23,75)
57,89 (27,59)
3,23
,001
65,21 (24,88)
61,59 (26,16)
1,38
,168
Intimacy
72,57 (19,53)
53,43 (22,96)
8,32
,000
70,00 (20,98)
59,42 (23,85)
4,44
,000
Overall
71,79 (11,30)
56,17 (12,24)
12,41
,000
71,00 (11,01)
58,37 (14,71)
8,90
,000
107
Table 5. Results of Multiple Linear Regression between WHOQOL-BREF domains and
WHOQOL-OLD facets and item G1 “How would you rate your quality of life” (WHOQOL-BREF)
Domains / Facets
β
T P
Physical
,275 5,56 ,000
*
Psychological
,179 3,31 ,001
*
Social relationship
,084 1,83 ,067
*
Environmental
,171 3,57 ,000
*
Sensory abilities
,024
0,58
,561
Autonomy
- ,062
-1,34
,100
*
Past, present and future act.
,097
1,69
,091
*
Social participation
,118
2,07
,038
*
Death and dying
- ,082
- 2,25
,024
*
Intimacy
,014
,345
,730
*
p 0,1, R
2
=51,1%
Table 6. Correlation between BDI and BHS scores and WHOQOl-OLD facets and overall
Facet 1
(Sens.
Abilities)
Facet 2
(Autonomy)
Facet 3
(Past, pres
& fut act.)
Facet 4
(Social
part.)
Facet 5
(Death &
dying)
Facet 6
(Intimacy)
Overall
BDI
-,411 -,431 -,499 -,534 -,222 -,420 -,615
BHS
-,317 -,406 -,485 -,444 -,124 -,291 -,505
* p<0,001 for all correlations
108
Table 7.Comparison between test and retest facets and overall scores (n=51)
Mean (SD)
Facets
Test Retest t P
Sensory Abilities
74,39 (25,03)
74,03 (24,61)
,132
,89
Autonomy
65,86 (15,87)
62,13 (14,02)
1,95
,056
Past, present and future act.
68,26 (17,62)
64,90 (16,93)
1,90
,062
Social participation
65,65 (19,39)
63,70 (17,76)
,79
,43
Death and dying
61,89 (23,87)
66,10 (25,28)
- 1,62
,11
Intimacy
68,01 (21,01)
68,01 (19,51)
,000
1,0
Overall
67,40 (13,53)
66,21 (12,24)
1,08
,28
109
Table 8. Correlation between test and retest facets and overall scores (n=51)
Facets
Pearson Coeficient P
Sensory Abilities
,685
,000
Autonomy
,584
,000
Past, present and future act.
,730
,000
Social participation
,558
,000
Death and dying
,771
,000
Intimacy
,584
,000
Overall
,820
,000
110
ARTIGO 2
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO PSICOMÉTRICO DO
INSTRUMENTO WHOQOL-BREF EM UMA AMOSTRA DE
IDOSOS BRASILEIRA
Versão em português
111
Avaliação do desempenho psicométrico do instrumento WHOQOL-BREF
em uma amostra de idosos brasileira
Eduardo Chachamovich
1
, Clarissa Trentini
1
, Marcelo Fleck
1
1
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e Hospital de Clinicas de Porto Alegre.
Submetido ao International Psychogeriatrics
RESUMO
Introdução: A tendência de envelhecimento da população tem sido
observada em todo o mundo. Medidas de qualidade de vida têm despertado
crescente interesse em investigações transversais e na avaliação de desfechos
de intervenções em idosos. Diversos instrumentos utilizados na medição de
qualidade de vida em idosos não foram adequadamente testados nesta
população.
Objetivo: Descrever as propriedades psicométricas do instrumento
WHOQOL-BREF em uma amostra de idosos brasileiros
Método: 424 idosos foram arrolados por amostragem de conveniência e
completaram os instrumentos WHOQOL-BREF, BDI, BHS e ficha de dados
sócio-demográficos. Foram analisadas validade discriminante, validade
concorrente, validade de critério e consistência interna.
Resultados: A amostra foi constituída predominantemente de mulheres
(64,2%) vivendo na comunidade (84,4%) e que se consideram saudáveis
112
(67,5%). Todos os domínios do instrumento demonstraram-se capazes de
discriminar níveis de sintomas depressivos e de desesperança, bem como
diferentes percepções de estado de saúde. Os coeficientes de correlação entre
os domínios e os escores do BDI e BHS apresentaram significância estatística.
Os coeficientes de fidedignidade assumem valores que variam de 0,614 a
0,925.
Conclusão: O instrumento WHOQOL-BREF apresenta desempenho
psicométrico satisfatório em uma amostra de idosos brasileiros, constituindo-se
em alternativa útil na aferição de qualidade de vida em tal população.
113
Introdução
O envelhecimento populacional é uma realidade que se estende de
modo global, não constituindo mais um processo restrito aos países
desenvolvidos (Osborne et al., 2003). No Brasil, as últimas quatro décadas têm
observado uma mudança da composição etária populacional, determinando
acelerado aumento da proporção de idosos na população (Chaimowitz, 1997),
que atualmente representam 9,8% do total (aproximadamente 17 milhões de
indivíduos) (IBGE, 2005). O crescente número de idosos e o incremento da
expectativa de vida determinam marcadas alterações nas políticas de saúde,
alocação de recursos para a saúde pública e prevenção. Em alguns países,
como o Reino Unido, idosos já são os maiores usuários do sistema de saúde,
determinando a necessidade de ajuste do sistema de modo a contemplar as
necessidades deste grupo específico (Haywood et al., 2005b).
Há um incremento do interesse na literatura internacional em estender
as investigações de qualidade de vida à população idosa. A medição de
desfechos clássicos de saúde, tais como morbi-mortalidade e diminuição de
sintomatologia, mostra-se insuficiente nesta população. As intervenções em
idosos visam a possibilitar a manutenção da mobilidade, independência, nível
de atividade, participação social e capacidade de responder adequadamente às
demandas físicas e psicológicas da velhice. O objetivo principal seria, ao fim,
propiciar qualidade de vida aos anos de vida restantes (Bowling et al., 2002).
O conceito de qualidade de vida não desfruta de consenso até o
presente momento (Berlim, 2003; Bowling, 1995; Hunt, 1997; Katschnig, 1997;
Testa et al., 1996; Wilson et al., 1995). A Organização Mundial de Saúde
(OMS), através do Grupo WHOQOL, define qualidade de vida como “a
114
percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e
sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (The WHOQOL Group, 1995). Tal
conceito tem como embasamento a multidimensionalidade do construto, a
presença de dimensões positivas e negativas e a valorização da percepção
subjetiva (The WHOQOL Group, 1998).
Pesquisadores na área da geriatria passaram a demonstrar a
necessidade de determinar o conceito de qualidade de vida em idosos e
identificar quais fatores são relevantes para a melhora ou piora da qualidade de
vida, uma vez que os velhos constituem uma população particular com
características específicas. De modo geral, a conceituação, formulada a partir
de grupos de idosos, engloba os seguintes determinantes: saúde, participação
social, atividades, auto-estima, mobilidade e condições de vida satisfatórias
(Browne, 1994; Bowling, 1995; Evans et al., 2005; Farqhuar, 1995; Fleck et al.,
2003; Sousa et al., 2003; Xavier et al., 2003).
Ainda que a potencial relevância da investigação de qualidade de vida
em idosos tenha sido reconhecida, a metodologia para tal não se encontra
suficientemente desenvolvida. Muitos instrumentos utilizados na aferição de
qualidade de vida em idosos não levam em conta áreas de vida identificadas
pelos próprios idosos como fundamentais (Perlman et al., 1988). Haywood e
colaboradores (2005a) demonstraram que diversos instrumentos
frequentemente utilizados em investigações de populações idosas não
apresentam propriedades psicométricas adequadamente testadas (validade,
confiabilidade e taxas de resposta).
115
Outra questão metodológica relevante é a utilização de instrumentos de
aferição de qualidade de vida originalmente desenvolvidos para uma população
de adultos jovens em idosos (Power et al., 2005). Brazier e colaboradores
(1996), ao utilizar os instrumentos SF-36 e EuroQol em uma população de
idosos, relataram desempenho insatisfatório em algumas subescalas,
indicando que há necessidade de testar e calibrar os instrumentos para
populações específicas.
O WHOQOL-BREF é um instrumento genérico de medição de qualidade
de vida desenvolvido pela OMS (The WHOQOL Group, 1998). Gerado a partir
de metodologia simultânea transcultural (Guillemin et al., 1993; Bullinger et al.,
1996), mostra-se adequado para sua utilização em estudos de base
populacional e em investigações transculturais (Power et al., 1999; Fleck et al.,
2000). Naumann e colaboradores (2004) testaram o desempenho psicométrico
do WHOQOL-BREF em uma amostra de 39 idosos deprimidos, indicando
validade e fidedignidade satisfatórias em três de seus quatro domínios e forte
correlação dos escores dos domínios com os níveis de sintomas depressivos.
Apontam como possível limitação o tamanho reduzido da amostra, indicando a
necessidade de investigações com amostras mais amplas. Hwang e
colaboradores (2003) realizaram investigação de base populacional com a
versão taiwanesa do WHOQOL-BREF, reportando propriedades satisfatórias
de validade discriminante, validade de construto, taxas de resposta e
consistência interna. Entretanto, indicaram que dois itens (atividade sexual e
capacidade de trabalho) apresentaram índices elevados de missings,
sugerindo-os como problemáticos em idosos.
116
O objetivo do presente estudo é avaliar o desempenho do instrumento
WHOQOL-BREF em uma amostra de idosos brasileiros e determinar suas
propriedades psicométricas em tal população.
Métodos
Sujeitos
Foram arrolados no estudo 424 idosos recrutados em um hospital
universitário, asilos, grupos comunitários de idosos e em seus domicílios. A
amostragem se deu por conveniência, adotando estratificação prévia
determinada por percepção subjetiva do estado de saúde (50% saudáveis e
50% doentes), sexo (50% feminino) e faixas etárias (60-69 anos, 70-79 anos e
80 ou mais anos). Os critérios de inclusão adotados foram idade superior a 60
anos e capacidade de entendimento dos instrumentos aplicados.
Tomando como base o conceito de qualidade de vida do Grupo
WHOQOL-OMS, que privilegia a concepção subjetiva do construto, os sujeitos
eram solicitados a responder à questão “De modo geral, o(a) senhor(a) se
considera saudável ou doente?” e, de acordo com sua percepção, eram
estratificados como tal, a despeito de sua condição clínica objetivamente
aferida. Todos os indivíduos foram informados dos objetivos do estudo e
assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pela
Comissão de Ética em Pesquisa do hospital universitário em que o estudo foi
realizado.
Instrumentos
117
Os instrumentos foram aplicados por estudantes de medicina e
psicologia previamente treinados. Os sujeitos completaram um instrumento de
Qualidade de Vida (WHOQOL-BREF), um instrumento de aferição de
sintomatologia depressiva (Inventário de Depressão de Beck - BDI) e um
instrumento de aferição de sintomatologia de desesperança (Escala de
Desesperança de Beck– BHS) , além de uma ficha de dados sócio-
demográficos. Todos os instrumentos são auto-aplicáveis, e os entrevistadores
foram orientados a fornecer auxílio quando necessário sem, no entanto,
interferir com o entendimento do sujeito acerca dos itens e sem fornecer
qualquer sinônimo ou explicação das palavras constantes nos questionários.
Tal orientação visa a manter a formulação original dos instrumentos e, portanto,
não causar alterações capazes de prejudicar a avaliação do desempenho de
tais instrumentos (UFRGS, 2005).
O WHOQOL-BREF é um instrumento genérico de qualidade de vida
composto de 26 itens com escala de resposta tipo Likert de 5 pontos. É
composto por quatro domínios (Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio-
Ambiente) e em um escore global (overall). Conta com uma versão em
Português validada em uma população adulta não-idosa (Fleck et al., 2000) e
em uma população de pacientes adultos não-idosos deprimidos (Berlim et al.,
2005).
O Inventário de Depressão de Beck (BDI) é um instrumento de 21 itens
que avalia a presença de sintomas depressivos. É composto de duas escalas
(cognitivo-afetiva e somática-desempenho) (Beck et al., 1961). Foi validada
para o Português, mostrando-se capaz de discriminar entre diferentes níveis de
sintomatologia depressiva (Cunha, 2001). Fornece um escore único que varia
118
de 0-63 pontos, caracterizando níveis mínimos (0-11), leve (12-19), moderado
(20-35) e grave (36-63) de sintomatologia depressiva.
A Escala de Desesperança de Beck (BHS) é um instrumento composto
de 20 itens de resposta dicotômica (certo ou errado) (Beck et al., 1974). Foi
validada para o Português (Cunha, 2001), e apresenta propriedades
psicométricas satisfatórias. Fornece um escore único de 0-20, divididos em
níveis de sintomatologia mínima (0-3), leve (4-8), moderada (9-14) e grave (15-
20).
Resultados
Dos 424 idosos entrevistados, 64,2% eram mulheres, 50% eram
casados e 40,9 % tinham entre 60-69 anos de idade. Em relação à percepção
subjetiva de saúde, 67,5% se percebiam como saudáveis no momento da
entrevista. Em relação à procedência da amostra, 9,4% dos idosos estavam
internados, 3,1% estavam em atendimento de ambulatório e 84,4% eram
provenientes da comunidade. A Tabela 1 ilustra os dados sócio-demográficos e
os escores do BDI e da BHS da amostra. A taxa de respostas aos itens do
instrumento foi consideravelmente alta. Os itens que apresentaram valores de
missings mais altos foram atividade sexual (4,2%), sentimentos negativos
(1,4%) e relacionamentos pessoais (1,1%).
Tabela 1
Consistência Interna
A consistência interna foi avaliada através do Coeficiente de
Fidedignidade de Cronbach. Foram analisadas a consistência interna para os
119
domínios individualmente e para o conjunto de 24 itens, conforme ilustra a
Tabela 2. Destaca-se que os coeficientes assumem valores elevados quando
tomados por domínios ou pelo conjunto dos itens, conferindo ao instrumento
consistência interna satisfatória. O domínio Relações Sociais mostra o
coeficiente mais baixo.
Tabela 2
Validade discriminante
Para determinar a capacidade discriminante do instrumento,
compararam-se os escores médios de cada domínio e overall entre o grupo de
idosos com intensidade de sintomatologia depressiva e de desesperança
mínima ou maior que mínima (leve, moderada ou grave). Ademais,
compararam-se os escores médios de cada faceta e overall entre os grupos
que se percebiam saudáveis ou doentes. Espera-se que o instrumento testado
seja capaz de diferenciar populações com características distintas, atestando
uma habilidade do instrumento de ser sensível a, e medir adequadamente,
variações clínicas e subjetivas relevantes. A Tabela 3 apresenta os dados
referentes à análise de validade discriminante. Todos os domínios e o escore
overall demonstraram diferenças significativas quando comparados entre os
grupos, o que evidencia sua capacidade discriminante satisfatória. A tabela 4
demonstra a validade discriminante entre os grupos de idosos que se
percebem como sendo saudáveis e doentes. O instrumento mostra-se capaz
de discriminar o estado de saúde percebido em todos os domínios e no escore
total.
120
Tabela 3
Tabela 4
Validade de critério
O domínio Relações Sociais não apresentou significância estatística no
modelo proposto de regressão linear múltipla (p=0,061). Os domínios físico,
psicológico e de meio-ambiente explicam 64,7% da variância do escore global,
constituído por dois itens de qualidade de vida geral. As correlações entre os
domínios e o escore overall demonstram coeficientes moderados e altos,
indicando coesão dos domínios no modelo proposto. As tabelas 5 e 6
descrevem os dados citados.
Tabela 5
Tabela 6
Validade concorrente
A validade concorrente foi avaliada através do grau de correlação entre
escores dos quatro domínios e overall e os níveis de sintomatologia depressiva
e de desesperança. Houve correlações estatisticamente significativas entre
todos os domínios. Todos os coeficientes são negativos, o que indica que
quanto maiores forem os níveis de sintomatologia depressiva e/ou de
desesperança, menores serão os escores de qualidade de vida em todos os
domínios.
121
Tabela 7
Discussão
O presente artigo avaliou o desempenho do instrumento WHOQOL-
BREF em uma amostra de idosos brasileiros. Ainda que desenvolvido
primariamente em uma população adulta não idosa, o instrumento demonstrou
propriedades psicométricas e desempenho satisfatórios em uma amostra
heterogênea de idosos, incluindo sujeitos hospitalizados e na comunidade.
A despeito de o nível de escolaridade não ser elevado na população
estudada, contando inclusive com analfabetos, as taxas de missings em todos
os itens foram mínimas. Entre os itens que apresentaram missings, a questão
relativa a atividade sexual foi a que se mostrou com maiores números de não
resposta. A complexidade do item atividade sexual repete os achados de
Hwang e cols (2003) e Power e cols (2005). Entretanto, as taxas de missing
descritos para tal item na população taiwanesa foi de 17% (e 4,2% no presente
estudo). Gott e colaboradores (2003) utilizaram o instrumento WHOQOL-100
(Skevington, 1999) para investigar o quão importante os idosos consideram o
sexo na velhice, demonstrando que este representa invariavelmente um
componente de um relacionamento emocional íntimo, refutando o estereótipo
do “idoso assexuado”. A repetição do maior número de não respostas neste
item sugere que o modo como o item é proposto possa necessitar de
modificações. Grupos focais realizados com idosos e cuidadores indicaram que
o item enfatiza marcadamente a atividade sexual, caracterizando-a como o
intercurso sexual em detrimento de um conceito mais amplo de sexualidade
(Fleck et al., 2003). A substituição do item “atividade sexual” por “intimidade”
122
(que engloba oportunidade de dar e receber carinhos íntimos) é uma alternativa
proposta pelo Grupo WHOQOL no desenvolvimento do módulo WHOQOL-
OLD, que visa a testar um novo modelo de investigação do peso da
sexualidade na qualidade de vida de idosos (Power et al., 2005; Chachamovich
et al., 2005 (in prep)).
Assim como ocorrido com o desempenho do instrumento WHOQOL-
BREF em uma amostra brasileira de adultos não idosos (Fleck et al., 2000), o
domínio Relações Sociais não se mostrou estatisticamente significativo no
modelo de regressão linear múltipla, quando utilizado o escore global como
variável dependente. Este escore é calculado a partir dos itens que questionam
a avaliação global da qualidade de vida e satisfação do estado de saúde.
Utilizando somente o item “Como você avalia a sua qualidade de vida?” como
variável dependente, o domínio Relações Sociais passa a apresentar
significância estatística (p=0,03, R
2
= 48,7%, dados não descritos). Tal
discrepância de achados pode indicar que a inclusão do item de satisfação com
a saúde no modelo altere o perfil de fatores determinantes, diminuindo a
importância do domínio de relações sociais e mantendo a significância dos
domínios físico, psicológico (envolvidos diretamente na determinação da
satisfação com a saúde) e meio-ambiente. Este último apresenta itens que se
relacionam com o processo saúde-doença (como satisfação com acesso a
serviços de saúde e satisfação com o local onde mora), também implicados na
determinação da satisfação com o estado de saúde.
Naumann e cols (2004) também descreveram coeficientes de correlação
significativos dos escores dos domínios físico, psicológico e de meio-ambiente
com os de escalas de depressão (Geriatric Depression Scale e Hamilton
123
Depression Rating Scale), de atividades de vida diária (Instrumental Activities
of Daily Living) e de funcionamento cognitivo (Mini Mental State Examination).
De modo semelhante, em uma amostra de idosos deprimidos, relataram que o
domínio Relações Sociais não mostrou correlação com tais medidas clínicas,
reforçando a hipótese de que este domínio apresenta correlação frágil com
desfechos relacionados à saúde.
O WHOQOL-BREF mostrou-se capaz de discriminar idosos com
diferentes níveis de sintomatologia depressiva e de desesperança. Mostrou-se
também adequado na discriminação de idosos que se percebem como
saudáveis daqueles que se consideram doentes.
A amostragem por conveniência deve ser entendida como uma potencial
limitação deste estudo, uma vez que pode trazer como conseqüência a
constituição de uma amostra pouco representativa da população total de
idosos. No entanto, ela garante que os principais estratos demográficos dos
idosos estejam representados no processo de amostragem
O instrumento demonstrou apresentar consistência interna, validade
concorrente, validade discriminante e validade de critério satisfatórias. Seus
itens foram analisados previamente em grupos focais, em relação ao conteúdo
e fraseamento, tendo sido considerados pelos idosos como relevantes para a
aferição de qualidade de vida e de fácil entendimento (Fleck et al., 2003).
Assim sendo, constitui-se em uma alternativa útil de instrumento genérico de
aferição de qualidade de vida com adequado desempenho psicométrico
testado em idosos.
124
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129
Tabela 1 . Características gerais da amostra (n=424).
Idade N (%) ou M (SD)
60-69 anos 173 (40,9)
70-79 anos 153 (36,2)
80+ anos 97 (22,9)
Sexo
Masculino 152 (35,8)
Feminino 272 (64,2)
Percepção de saúde
Saudável 286 (67,5)
Doente 138 (32,5)
Estado civil
Solteiro 29 (6,8)
Casado 212 (50,0)
Separado 30 (7,1)
Viúvo 128 (30,2)
Nível de escolaridade
Analfabeto 7 (1,7)
Ensino Fundamental 165 (38,9)
Ensino Médio 110 (25,9)
Superior 90 (21,2)
BDI
9,05 (7,08)
BHS
4,80 (4,16)
130
Tabela 2. Coeficiente de fidedignidade de Cronbach do WHOQOL-BREF (n=424).
Itens
Coeficiente de Cronbach
Numero de itens
D. Físico
0,871
7
D. Psicológico
0,729
6
D. Relações Sociais
0,614
3
D. Meio-Ambiente
0,782
8
Itens dos domínios
0,914
24
26 questões
0,925
26
131
Tabela 3. Comparação dos escores dos domínios do WHOQOL-BREF em relação à intensidade de sintomas depressivos e de desesperança
(n = 424).
Domínios Sintomas depressivos Sintomas de desesperança
Média (DP) Média (DP)
BDI mínimo BDI > mínimo T P BHS mínimo BHS > mínimo
t P
Físico
71,40 (17,33)
49,71 (19,18)
11,48
,000
71,29 (17,04)
54,95 (21,37)
8,34
,000
Psicológico
74,23(11,91)
57,10(15,77)
11,07
,000
74,72(11,80)
60,39(16,13)
9,93
,000
Rel Sociais
73,38(15,00)
60,30 (17,01)
7,93
,000
74,09(15,19)
62,32 (16,54)
7,51
,000
Meio-ambiente
71,44(12,75)
50,70(13,96)
8,48
,000
71,439(13,20)
62,51(14,00)
6,61
,000
Overall
74,39(16,23)
52,16(21,12)
10,76
,000
73,94(17,08)
58,04(21,75)
8,06
,000
132
Tabela 4. Comparação dos escores dos domínios do WHOQOL-BREF em relação à
percepção subjetiva do estado de saúde.
Média (DP)
Domínios
Saudável Doente T P
Físico
73,84 (14,60)
45,62 (17,79)
16,11
,000
Psicológico
73,71 (12,72)
58,92 (15,77)
9,57
,000
Rel. Sociais
73,46 (14,85)
60,70 (17,26)
7,42
,000
Meio-ambiente
71,94 (12,60)
59,19 (13,49)
9,49
,000
Overall
76,53 (14,16)
48,55 (19,16)
15,25
,000
Tabela 5. Regressão linear múltipla entre os domínios do WHOQOL-BREF em relação ao
escore global (n=424).
Domínios
β
T P
Físico
,483
12,47
,000
Psicológico
,263
6,22
,000
Rel. Sociais
,068
1,88
,061
Meio-ambiente
,131
3,31
,001
Porcentagem da variância explicada (R
2
) = 64,7%
133
Tabela 6. Correlação entre os domínios e overall do WHOQOL-BREF.
Domínios
Físico
Psicológico
Rel. Sociais
Meio-ambiente
Overall
Físico
Psicológico
,602
Rel. Sociais
,430 ,551
Meio-ambiente
,565 ,607 ,491
Overall
,744 ,667 ,481 ,595
Todas as correlações apresentam p<0,001
Tabela 7. Correlação entre os escores dos domínios e overall com sintomas depressivos
e de desesperança.
D. Físico D. Psicológico D. Social D. Ambiental Overall
Escala de
Desesperança de
Beck
-,406
-,510
-,408
-,337
-,435
Inventário de
Depressão de Beck
-,612
-,611
-,468
-,449
-,602
Todas correlações com p < 0.01
134
ARTIGO 2
ASSESSMENT OF THE PSYCHOMETRICAL PERFORMANCE OF
THE WHOQOL-BREF INSTRUMENT IN A SAMPLE OF
BRAZILIAN OLDER ADULTS
Versão em inglês
135
Assessment of the psychometrical performance of the WHOQOL-BREF
instrument in a sample of Brazilian older adults
Eduardo Chachamovich
1
, Clarissa Trentini
1
, Marcelo Fleck
1
1
Department of Psychiatry and Legal Medicine, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul and Hospital de Clinicas de Porto Alegre.
ABSTRACT
Background: The population’s aging trend has been observed all over the
world. Measurements of quality of life have been raising growing interest in
cross-section investigations and the assessment of intervention outcomes in
older adults. Several instruments used in the measurement of quality of life in
older adults were not appropriately tested in this population.
Purpose: To describe the psychometrical properties of WHOQOL-BREF in a
sample of Brazilian older adults.
Method: 424 older adults were selected through convenience sampling and
filled out the instruments WHOQOL-BREF, BDI, BHS and socio-demographic
data form. Discriminant validity, concurrent validity, criterion validity and internal
consistency were analyzed.
Results: The sample was predominantly comprised of women (64.2%),
community-dwelling subjects (84.4%) and subjects who consider themselves
healthy (67.5%). All domains in the instrument showed the ability to discriminate
levels of depressive symptoms and hopelessness, as well as different
perceptions of their health status. The correlation coefficients among the
136
domains and the BDI and BHS scores were statistically significant. The
reliability coefficients present scores ranging from 0.614 to 0.925.
Conclusion: The WHOQOL-BREF instrument shows suitable psychometrical
performance in a sample of Brazilian older adults, becoming a useful alternative
in the measurement of quality of life in this population.
137
Background
The aging of the population is a global reality which is not only restricted
to developed countries (Osborne et al., 2003). In Brazil, there has been a
change in the population pyramid determining, in the last four decades, a rapid
growth of the proportion of older adults in the population (Chaimowitz, 1997)
who currently represent 9.8% of the total (approximately 17 million individuals)
(IBGE, 2005). The growing number of older adults and the increase in life
expectancy determine remarkable changes in health policies, resource
allocation for public health and prevention. In some countries, such as the
United Kingdom, older adults are already the major users of the public health
system, establishing the necessity for a change in it in order to meet the needs
of this specific group (Haywood et al., 2005).
International literature has been increasingly interested in expanding the
quality of life investigations to the elder population. The measurement of
classical health outcomes, such as morbimortality and decrease in
symptomatology, is insufficient in this population. Interventions in older adults
aim at maintaining mobility, independence, level of activity, social participation
and ability to respond to the physical and psychological demands of old age
properly. The main goal would be, at last, “to add quality of life to years of life”.
(Bowling et al., 2002).
The concept of quality of life has no consensus up to the present (Berlim,
2003; Bowling, 1995; Hunt, 1997; Katschnig, 1997; Testa et al., 1996; Wilson et
al., 1995). The WHOQOL Group on behalf of The World Health Organization
(WHO), defines quality of life as "the individual’s perception of his position in
life in the context of his culture and the value systems of the society in which he
138
lives compared to his objectives, expectations, standards and concerns”. (The
WHOQOL Group, 1995). Such concept is based on the multidimensionality of
the construct , the presence of positive and negative dimensions and the
importance of subjective perception (The WHOQOL Group, 1998).
Researchers in the Geriatrics area started showing the need to
determine the concept of quality of life in older adults and identify what factors
are relevant for increasing or decreasing quality of life, once older adults are a
particular population with specific characteristics. Generally speaking, the
concept devised from groups of older adults, comprehends the following
determining factors: health, social participation, activities, self-esteem, mobility,
and satisfactory conditions of life (Browne, 1994; Bowling, 1995; Evans et al.,
2005; Farqhuar, 1995; Fleck et al., 2003; Sousa et al., 2003; Xavier et al.,
2003).
Although the potential relevance of the investigation on quality of life in
older adults has been recognized, the methodology for that is not sufficiently
developed. Many instruments used in the measurement of quality of life do not
take into consideration several aspects of life that older adults consider
fundamental (Perlman et al., 1988). Haywood and collaborators (2005) showed
that several psychometrical properties of the instruments frequently used in
investigations on older adult populations have not been appropriately tested
(validity, reliability and responsiveness rates.
Another relevant methodological question is the use of measurement
instruments for quality of life that were originally developed for a population of
young adults in older adults (Power et al., 2005). Brazier and collaborators
(1996), when using the SF-36 and EuroQol instruments in a population of older
139
adults, reported unsuitable performance in some subscales, showing the need
for testing and calibrating these instruments for specific populations.
WHOQOL-BREF is a generic instrument for quality of life measurement
developed by the WHO (WHOQOL Group, 1998). Devised from a transcultural
simultaneous methodology, (Guillemin et al., 1993; Bullinger et al.,1996) it
shows appropriateness for use in population epidemiological studies and in
transcultural investigations (Power et al., 1999; Fleck et al., 2000). Naumann
and collaborators (2004) tested the psychometrical performance of WHOQOL-
BREF in a sample of 39 depressed older adults, showing suitable validity and
reliability in three of its four domains and strong correlation between the domain
scores and the levels of depressive symptoms. A possible limitation is the
reduced size of the sample, indicating the need for investigations with larger
samples.
Hwang and collaborators (2004) carried out a population-based
investigation with the Taiwanese version of WHOQOL-BREF, reporting
satisfactory properties of discriminant validity, construct validity, response rates
and internal consistency. However, they showed that two items (sexual activity
and working capacity) presented high missing rates, which possibly indicate
inappropriateness.
This study aims at assessing the performance of WHOQOL-BREF in a
sample of Brazilian older adults and determining its psychometrical properties in
this population.
Methods
Subjects
140
Subjects were interviewed between September 2003 and March 2005.
424 old adults were recruited at a university hospital, nursing homes, elderly
community groups and their own homes. Convenience sampling was used
adopting previous stratification determined by subjective perception of health
status (50% healthy ones and 50% unhealthy ones), gender (50% female) and
age (60-69 years of age, 70 years of age and over 80 years of age). The
inclusion criteria used were age over 60 and ability to understand the
instruments applied.
Based on the quality of life concept of the WHOQOL Group, which is
based on the subjective conception of the construct, subjects were asked to
answer the question “In general, do you consider yourself healthy or
unhealthy?” and they were stratified according to their perception, despite their
actual clinical condition. All individuals were informed about the objectives of the
study and signed the Informed Consent approved by the Research and Ethics
Committee of the university hospital in which the study was carried out.
Instruments
Instruments were administered by medicine and psychology
undergraduates who were previously trained. Subjects filled out a quality of life
instrument (WHOQOL-BREF), a depressive symptomatology measurement
instrument (Beck Depression Inventory-BDI) and a hopelessness
symptomatology measurement instrument (Beck Hopelessness Scale) as well
as a socio-demographic data form. All instruments are self-reported and
interviewers were told to provide help whenever necessary without interfering
with the subjects’ understanding of the items or supplying any synonyms or
141
explanations on the words in the questionnaires. Such instruction aims at
keeping the original formulation of the instruments, therefore, not causing any
alterations that may harm the assessment of the instruments’ performance
(UFRGS, 2005).
WHOQOL-BREF is a generic quality of life instrument comprised of 26
items recorded on a 5-point Likert scale. It is composed of 4 domains (Physical,
Psychological, Social Relationships and Environment) and an overall score
(Fleck et al., 2000). There is also a Portuguese version validated in a non-
elderly adult population (Fleck et al., 2000) and in a population of depressed
non – elderly adult patients (Berlim et al., 2005).
Beck Depression Inventory (BDI) is an instrument of 21 items which
assesses the presence of depressive symptoms. It is comprised of two scales (
cognitive-affective and somatic-performance) (Beck et al., 1961). It was
validated for Portuguese, and it is able to discriminate among several levels of
depressive symptomatology (Cunha, 2001). It provides one single score that
ranges from 0-63 points, showing minimum (0-11), mild (12-19), moderate (20-
35) and severe (36-63) levels of depressive symptomatology.
Beck hopelessness Scale (BHS) is an instrument comprised of 20 items
of true or false answers (Beck et al., 1974). It was validated to Portuguese
(Cunha, 2001), and shows needed suitable psychometrical properties. It
provides a single 0-20 score, divided into minimum (0-3), mild (4-8), moderate
(9-14) and severe (15-20) levels of symptomatology.
Results
142
Out of the 424 older adults interviewed, 64.2% were women, 50% were
married and 40.9% were between 60-69 years of age. Concerning the
subjective perception of health, 67.5% considered themselves healthy at the
time of the interview. Concerning the origin of the sample, 9.4% of the older
adults were inpatients, 3.1% were outpatients and 84.4% were community-
dwelling ones. Table 1 shows the socio-demographic characteristics and the
BDI and BHS scores of the sample. The response rate to the items was
considerably high. The items showing the highest missing values were sexual
activity (4.2%), negative feelings (1.4%) and personal relationships (1.1%).
Table 1
Internal Consistency
Internal consistency was assessed through Cronbach’s Alpha Coefficient.
Internal consistency was analyzed taking the domains individually and the set of
24 items according to Table 2. It is pointed out that the coefficients present high
values when taken by domain or by the set of items, which proves the
instrument’s with suitable internal consistency. The Social Relationships domain
shows the lowest coefficient.
Table 2
Discriminant Validity
143
In order to determine the instrument’s discriminant capacity of the
instrument, the overall and each domain scores were compared between the
group of older adults with a minimum intensity of depressive and hopelessness
symptomatology and higher than minimum (slight, moderate/mild or severe).
Besides that, the mean scores of overall and each facet were compared
between the groups of those who considered themselves healthy and
unhealthy. The instrument tested is expected to be able to differ populations
with distinct characteristics, stating the instrument’s ability to be sensitive to,
and measure clinical and subjective relevant variations properly.
Table 3 shows data referring to the discriminant validity analysis. All
domains and overall score showed significant difference when compared
between the groups, which indicates its suitable discriminant capacity. Table 4
shows the discriminant validity between groups of older adults who consider
themselves healthy and unhealthy. The instrument showed ability to
discriminate the perceived health status in all domains and total scores.
Table 3
Table 4
Criterion Validity
The Social Relationships domain did not show statistic significance in the
multiple linear regression model (p=0,061). The Physical, Psychological and
Environmental domains explain 64.7% of the global score variance, comprised
by two items of general quality of life. The correlations among the domains and
144
the overall scores present high and moderate coefficients showing the domains’
cohesion of the domains in the model proposed. Tables 5 and 6 describe the
data mentioned.
Table 5
Table 6
Concurrent Validity
Concurrent validity was assessed through the level of correlations among
the scores of the four domains and overall and the of depressive
symptomatology and hopelessness levels. There were statistically significant
correlations among all the domains. All coefficients are negative, which shows
that the higher the depressive symptomatology and /or hopelessness, the lower
the quality of life scores in all domains.
Table 7
Discussion
This study assessed the performance of the instrument WHOQOL-BREF
in a sample of Brazilian older adults. Although originally developed for a
population of non-elderly adults, the instrument showed suitable psychometrical
properties and performance in a heterogeneous sample of older adults,
including inpatients and community-dwelling subjects.
Despite the fact that the educational level is not high in the studied
population, the missing rates in all items were minimal. Among the items that
145
show missings, the question concerning sexual activity was the one that
showed the lowest responsiveness. The complexity of the item sexual activity
corroborates the findings of Hwang and collaborators (2003) and Power and
collaborators (2005). Nevertheless, the missing rate described for such item in
the Taiwanese population was 17% (and 4.2% in this study). Gott and
collaborators (2003) used the instrument WHOQOL-100 (Skevington, 1999) to
investigate how important sex is in the old age, showing that it means intimate
relationship (and not only sexual intercourse) and it is considered relevant,
refuting the “stereotype of an asexual older person”. The repetition of the
highest number of missings in this item suggests that the way the item is
proposed may need changes. Focus groups carried out in older adults and
caregivers showed that the item strongly emphasizes sexual activity defining it
as sexual intercourse instead of a wider concept of sexuality (Fleck et al., 2003)
The substitution of the item sexual activity for “intimacy” (which comprehends
the opportunity of exchanging intimate caress) is an alternative proposed by the
WHOQOL group in the development of the WHOQOL-OLD module and it aims
at testing a new approach of sexuality in the quality of life of older adults (Power
et al., Chachamovich et al., 2005 (in prep) ).
As well as the performance of the instrument WHOQOL-BREF in a
Brazilian sample of non-elderly adults (Fleck et al., 1999), the Social
Relationships domain was not statistically significant in the multiple linear
regression model, when the global score is used as an dependent variable. This
score is calculated based on the items that question the global assessment of
quality of life and health status satisfaction. Using only the item “How do you
rate your quality of life?” as a dependent variable, the Social Relationships
146
domain shows statistic significance (p=0.03; R
2
=48.7% data not shown). Such
discrepancy of findings may indicate that the inclusion of the item health
satisfaction in the model changes the profile of determining factors, reducing the
importance of the Social Relationships and keeping the significance of the
Physical, Psychological (directly involved in determining health satisfaction) and
Environmental domains. The last one includes items that are related to the
health – disease process (such as satisfaction with health services and
satisfaction with the place where they live), also implied in determining the
health status satisfaction.
Naumann and collaborators (2004) also described significant correlation
coefficients among the scores for the Physical, Psychological and
Environmental domains and the depression scales (Geriatric Depression Scale
and Hamilton Depression Rating Scale), activities of daily living (Instrumental
Activities of Daily Living) and cognitive functioning (Mini Mental State
Examination). Similarly, in a sample of depressed older adults, it was reported
that the Social Relationships domain did not show correlation with such clinical
measures, reinforcing the hypothesis that this domain shows fragile correlation
with health-related outcomes.
WHOQOL-BREF showed ability to discriminate older adults with
different depressive and hopelessness symptomatology levels. It also proved
suitable for the discrimination of older adults that consider themselves healthy
and the ones who consider themselves unhealthy.
Convenience sampling is considered a potential limitation in this study,
once it can turn the sample not representative enough. Nevertheless, it ensures
that the main demographic groups are represented in the sample.
147
The instrument showed suitable internal consistency, concurrent validity,
discriminant validity and criterion validity. Its items were previously analyzed in
focus groups concerning content and phrasing. The older adults considered it
relevant for the measurement of quality of life as well as easy to understand
(Fleck et al., 2003). Therefore, it is a useful alternative of generic instrument for
measurement of quality of life with appropriate psychometrical performance
tested in older adults.
148
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271(1):59-65.
39. Xavier MF, Ferraz MPT, Marc N, Escosteguy N, Moriguchi E. (2003).
Elderly people’s definition of quality of life. Rev Bras Psiquiatr, 25(1)31-9.
153
Table 1 . Socio-demographic and clinical characteristics (n=424)
Age N (%) or M (SD)
60-69 y.o. 173 (40,9)
70-79 y.o. 153 (36,2)
80y.o. 97 (22,9)
Gender
Male 152 (35,8)
Female 272 (64,2)
Perceived Health Status
Healthy 286 (67,5)
Unhealthy 138 (32,5)
Marital Status
Single 29 (6,8)
Married 212 (50,0)
Separated 30 (7,1)
Widowed 128 (30,2)
Educational Level
Illiterated 7 (1,7)
Basic Level 165 (38,9)
High School 110 (25,9)
College 90 (21,2)
BDI
9,05 (7,08)
BHS
4,80 (4,16)
154
Table 2. Cronbach’s alpha internal consistency (n=424)
Items
Cronbach coefficient
Number of items
Physical Domain
0,871
7
Psychological Domain
0,729
6
Social Relationships Domain
0,614
3
Environmental Domain
0,782
8
24 domain items
0,914
24
26 instrument items
0,925
26
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