Download PDF
ads:
Kátia Silva Tomaz
Alternância de vogais médias
posteriores em formas nominais de plural
no português de Belo Horizonte
UFMG
Belo Horizonte
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Kátia Silva Tomaz
Alternância de vogais médias posteriores em
formas nominais de plural no português de Belo Horizonte
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Lingüística.
Área de Concentração: Lingüística.
Linha de Pesquisa: D _ Organização Sonora da Comunicação
Humana.
Orientadora: Profa. Dra. Thaïs Cristófaro Alves da Silva.
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG.
2006
ads:
Tomaz, Kátia Silva
T655a Análise de vogais médias posteriores em formas nominais de plural
do português brasileiro [manuscrito] / Kátia Silva Tomaz. – 2006.
114 f., enc. : il. , grafs. ; 29 cm.
Orientadora : Profa. Dra. Thaïs Cristófaro Alves da Silva .
Área de concentração: Lingüística.
Linha de pesquisa: Organização Sonora da Comunicação Humana.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Letras.
Bibliografia: f. 92-99.
Anexos: f. 100-114
1. Língua portuguesa – Fonologia – Teses. 2. Língua portuguesa –
Vogais – Teses. 3. Língua portuguesa – Fonética – Teses. 4. Língua
portuguesa – Português falado – Belo Horizonte (MG) – Teses.
I. Cristófaro Silva, Thaïs. II. Universidade Federal de Minas Gerais.
Faculdade de Letras. III. Título.
CDD: 469.15
Aos meus pais e irmãos,
pelo amor, companheirismo e energia que
enriquecem e dão sentido à minha vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado forças para cumprir esta importante tarefa e por estar
presente em todos momentos de minha vida. À minha orientadora, Drª Thaïs Cristófaro-Silva, pela
amizade, carinho, pelo brilhante exemplo de profissional, dedicação ao meu trabalho, pela
paciência em meus momentos de dificuldade e pelos preciosos ensinamentos transmitidos à minha
formação. Aos meus pais, Maria do Carmo e José Grigório e aos meus irmãos, William e Weslley
por todo amor, apoio, carinho, compreensão e incentivo. Aos membros de minha “grande família”:
tios, tias, primos, primas, etc e especialmente aos meus avós: Estevão, Maria, João e Dina (in
memorian). À todos que gentilmente participaram da gravação dos dados para esta dissertação. Às
escolas Marília de Dirceu, ETFOP, UFOP (ICHS), UFMG (FALE-POSLIN). Aos professores do
Marília e notadamente à Edna (primeira professora). Aos professores da ETFOP e de maneira
especial à Silvana e ao Fernando que me acolheram com tanto carinho no estágio e à Maria Inês,
Rita Nogueira, Suely, Ricardo, Paulinho, César. Aos professores da UFOP (ICHS), especialmente à
J. Luiz V. Real, D.Hebe, Vanderlice, Denise, Kátia H., Glória, Sérgio R., William M., Maria Sílvia,
Madalena e especialmente à Adriana Marusso, à Margareth Freitas e ao Mário Alexandre, por todo
apoio e incentivo que foram fundamentais para que eu me ingressasse no mestrado. Aos
professores da UFMG (POSLIN): César Reis, Deise Dutra, Jânia Ramos, Rui Rothe, José Olímpio
e Hwa Lee por todos conhecimentos ministrados em seus cursos e pelas críticas e sugestões feitas a
este trabalho. A todos funcionários da UFMG, aos membros do membros do LABFON, do
POSLIN, do Projeto ASPA por todo apoio fornecido. Aos colegas e amigos da UFMG pela
convivência, pela valiosa amizade e por todo apoio, sobretudo à Elaine, Isabel, Maíra, Ana Paula,
Lirian, Rivânia, Marlúcia, Daniel, Aline, Alexandre, Andréia, Irene, Leandra, Adriana, Patrícia,
Leandro, Leonardo, Thiago, Idalena, Camila N., Erick , Frederico, e, de maneira mais especial aos
colegas: Raquel, Daniela, Camila L., Sandro, Rubens, Adelma e Alan pela amizade, paciência e por
tantos favores concedidos: sugestões, empréstimo de textos, e-mails trocados, leituras e etc. A
todos colegas de Ouro Preto, Mariana, Itabirito, Belo Horizonte, aos colegas do Marília, da
ETFOP, da UFOP, da turma D3INF1 e especialmente à Aline, Carla, Sheila, Miriam, Daiana,
Bruno A., Kelle, Edna, Isaac, Luciana, Jacqueline, Roberto, Flávia, Geraldo, Henrique, Marcos. À
FUMP e Moradia por todo apoio concedido e especialmente à Edla e à Mônica. Aos vizinhos da
Moradia: Reginaldo, Gabi, Júnia, Larissa, Júlio, Rodrigo, Marcos Aurélio, Henrique, Edgard, João,
Pequi e Robson. Às colegas do eterno apartamento "Olimpo": Jaqueline, Marceli, Lidiane, Tatiana,
Rosiley, Solange, Mariana, Sofia e Dayse pela amizade, apoio, carinho, por nossas longas
conversas na cozinha e por tantos momentos inesquecíveis. À CAPES, pelo apoio financeiro
indispensável aos meus estudos. Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram com esta
pesquisa. A vocês, registro aqui o meu simples e sincero muito obrigada!
"Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres
se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e
me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não o conheço e comunicar ou
anunciar a novidade. "
Paulo Freire
RESUMO
Esta pesquisa analisa a alternância entre as vogais médias posteriores tônicas,
aberta [ѐ] e fechada [o], em formas nominais de plural, no português de Belo Horizonte:
caroços ~ carѐços. três casos a serem observados (Cf. MIRANDA, 2002). O primeiro
caso abrange nomes que apresentam vogais médias posteriores tônicas abertas em ambas as
formas de singular e plural, como, cѐpo, cѐpos. O segundo caso, ao inverso, inclui nomes que
têm vogais médias posteriores fechadas em ambas as formas de singular e plural, como,
sogro, sogros. o terceiro caso abarca nomes que apresentam vogais médias posteriores
fechadas no singular e abertas no plural, como, coro, cѐros. Alves (1999), que estuda o
comportamento das vogais médias [ѐ] e [o] em posição tônica, aponta que o plural é um forte
condicionador para a variação entre tais vogais. Por essa razão, optamos por analisar a
variação de timbre (aberto ou fechado) das vogais médias posteriores tônicas na flexão de
número plural: miolos ~ miѐlos. A fim de analisarmos essa alternância, adotamos, como base
teórica, modelos multi-representacionais: a Fonologia de Uso (BYBEE, 2001) e a Teoria de
Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001). Utilizamos dados de 24 participantes de Belo
Horizonte e fizemos uma análise estatística desses dados com o programa Minitab for
Windows, versão 13. Nessa análise, avaliamos, como fatores não-estruturais, a idade, o
gênero, a escolaridade, e o indivíduo. Como fatores estruturais, consideramos a freqüência de
ocorrência e o item lexical. Constatamos, nesta pesquisa, que o fator freqüência de ocorrência
da palavra foi relevante nesse caso de alternância entre as vogais [
ѐ
] e [
o
]. Também, os
resultados corroboram a proposta da Fonologia de Uso de que as palavras menos freqüentes
mudam primeiro, em casos de mudança sonora sem condicionamento fonético (Cf. BYBEE,
2001; PHILLIPS, 1984).
ABSTRACT
This research analyses the alternation between tonic posterior medium vowels,
both opened [ѐ] and closed [o], in nominal forms of plural, in Brazilian Portuguese from Belo
Horizonte: car
o
ços ~ car
ѐ
ços. There are three cases to be considered (Cf. MIRANDA, 2002).
The first case includes names that present tonic posterior medium vowels opened in both
forms singular and plural, such as c
ѐ
po, c
ѐ
pos. The second one, on the contrary, includes
names with tonic posterior medium vowels close in both forms singular and plural, such as
s
o
gro, s
o
gros. However, the third case includes names that present tonics posterior medium
vowels closed in the singular and opened in the plural, such as coro, cѐros. Alves (1999), who
studies the behavior of medium vowels [ѐ] and [o] in tonic position, points out that plural
form is a strong conditioner to variation among such vowels. Based on this research, sound
variation was analyzed in this experiment (opened or closed) of tonic posterior medium
vowels in the plural number inflexion: mi
o
los ~ mi
ѐ
los. In order to analyze this alternation,
we adopted, as theoretical base, multi-representative models: the Phonology of Use (BYBEE,
2001) and the Exemplar Theory (PIERREHUMBERT, 2001). Data was collected from 24
participants from Belo Horizonte as statistical analyses was performed with Minitab for
Windows program, version 13. Non-structural factors such as age, gender, education and the
individual were evaluated. Structural factors considered were token frequency and the lexical
item. In this research token frequency factor was verified to be relevant in the case of
alternation between the vowels [ѐ] and [o]. Also, the results corroborate the Phonology of Use
proposal that less frequent words change first, in the case of sound change without phonetic
conditioning (Cf. BYBEE, 2001; PHILIPS, 1984).
LISTA DE FIGURAS
QUADRO 1 Caracterização articulatória................................................................. 18
QUADRO 2 Vocalismo........................................................................................... 22
FIGURA 1: Nuvem de exemplares.......................................................................... 47
GRÁFICO 1: Avaliação de exemplares................................................................... 48
TABELA 1: Freqüências de ocorrência ................................................................. 56
TABELA 2 Apreciação geral dos resultados obtidos................................................
67
TABELA 3 Dados excluídos ................................................................................... 67
TABELA 4 Dados esperados e não-esperados ........................................................
68
TABELA 5 Vogais não-esperadas em casos
específicos de formas nominais de plural..................................................................
68
GRÁFICO 2 – Apreciação geral dos dados.............................................................. 69
TABELA 6 O fator gênero no CASO B.................................................................. 71
TABELA 7 Fator idade no CASO B....................................................................... 71
TABELA 8 Fator escolaridade no CASO B........................................................... 72
TABELA 9 Efeito do indivíduo no CASO B........................................................... 74
TABELA 10 Fator freqüência de ocorrência no CASO B ..................................... 76
TABELA 11 Fator item lexical no CASO B ...........................................................
76
TABELA 12 Fator gênero no CASO C................................................................... 78
TABELA 13 Fator idade no CASO C..................................................................... 79
TABELA 14 Fator escolaridade no CASO C........................................................... 80
TABELA 15 Efeito do indivíduo no CASO C........................................................ 81
TABELA 16 Fator freqüência de ocorrência no CASO C....................................... 82
GRAFICO 3 – Fator freqüência de ocorrência no CASO C..................................... 83
TABELA 17 Fator item lexical no CASO C........................................................... 83
GRAFICO 4: Fator item lexical no CASO C............................................................
84
SUMARIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
CAPÍTULO 1 AS VOGAIS MÉDIAS POSTERIORES TÔNICAS EM FORMAS
NOMINAIS DE PLURAL.........................................................................
16
1.0 Introdução.................................................................................. 16
1.1 Caracterização das vogais médias posteriores .......................... 16
1.1.1 Caracterização articulatória................................................... 17
1.1.2 Caracterização acústica........................................................... 19
1.2 Avaliação diacrônica.................................................................. 20
1.3 Avaliação sincrônica.................................................................. 27
1.3.1 Observações de Cagliari (1997).............................................. 27
1.3.2 A análise de Alves (1999) ...................................................... 29
1.4 Comentários finais.................................................................... 33
CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................... 35
2.0 Introdução................................................................................ 35
2.1 A freqüência de uso na língua.................................................... 35
2.2 O papel da freqüência de uso nas línguas.................................. 37
2.3 Modelos multi-representacionais.......................................... 43
2.4 Comentários finais..................................................................... 50
CAPÍTULO 3 METODOLOGIA........................................................................... 52
3.0
Introdução..........................................................................
52
3.1 Preparação de material para análise.......................................
52
3.2 Seleção de participantes e coleta dos dados...................
59
3.3
Variáveis............................................................................
63
3.4 Comentários finais..............................................................
65
CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................... 66
4.0 Introdução..................................................................................
66
4.1 Apreciação geral dos dados........................................................ 66
4.2 Análise das formas de plural do CASO B ................................. 70
4.2.1 Análise dos fatores não-estruturais do CASO B..................... 70
4.2.2 Análise dos fatores estruturais do CASO B............................ 75
4.3 Análise das formas de plural do CASO C................................. 78
4.3.1 Análise dos fatores não-estruturais do CASO C..................... 78
4.3.2 Análise dos fatores estruturais do CASO C........................... 82
4.4 Comentários finais....................................................................
85
CAPÍTULO 5 CONCLUSÃO................................................................................. 89
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92
ANEXO A Versão do texto utilizada na gravação............................................ 100
ANEXO B Transcrição dos dados...................................................................... 101
INTRODUÇÃO
Esta dissertação avalia a alternância entre vogais médias posteriores tônicas,
abertas e fechadas, isto é, [o, ѐ], em formas nominais de plural no masculino no português
brasileiro falado em Belo Horizonte (MG.)
A literatura (ALVES, 1999) atesta a alternância entre vogais médias posteriores
tônicas, abertas e fechadas, em formas nominais de plural, de masculino, como por exemplo,
em: mi[o]los ~ mio[ѐ]los. Alves (1999) constatou que a flexão de número plural é um forte
condicionador dessa alternância. Tendo em vista essa constatação, optamos por estudar a
variação entre as vogais citadas, em palavras flexionadas no plural. Ainda, essa autora sugere
que o fator freqüência de uso da palavra pode ser um outro condicionador nesse caso,
contudo, ela não chega a fazer uma avaliação disso. Assim, esta dissertação propõe investigar
a influência do fator freqüência na alternância entre vogais médias posteriores tônicas, abertas
e fechadas, em formas nominais de plural, preenchendo essa lacuna na literatura.
Podem ser observados três comportamentos possíveis para as vogais médias
posteriores em posição tônica de formas nominais de plural (Cf. MIRANDA, 2002). O
primeiro caso diz respeito aos nomes que possuem vogais médias posteriores abertas,
independentemente da flexão número, isto é, fazem o singular e o plural com vogais abertas:
s
ѐ
lo, s
ѐ
los. O segundo caso agrupa os nomes que possuem vogais médias posteriores fechadas
tanto em suas formas de plural, quanto em suas formas de singular: lodo, lodos. Finalmente, o
terceiro caso apresenta diferenças em relação à abertura de timbre entre suas formas, sendo o
singular com timbre fechado e o plural com timbre aberto: ovo, ѐvos Dessa maneira, as
formas de plural esperadas para as palavras dos casos 1 e 3 terão timbre aberto, e as formas de
plural esperadas para o caso 2 terão timbre fechado. Entretanto, como observaremos nesta
pesquisa, as formas de plural pertencentes aos casos 2 e 3 poderão apresentar variação sonora
com relação ao timbre das vogais médias posteriores, se aberto ou fechado.
Nesta dissertação, sugere-se que as variações de timbre vocálico encontradas nas
formas de plural de palavras com vogais médias posteriores podem estar ocorrendo devido a
efeitos de freqüência lexical na língua. A fim de avaliarmos os efeitos da freqüência, esta
pesquisa baseou-se principalmente nos fundamentos teóricos da Fonologia de Uso (BYBEE,
2001) e da Teoria de Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001) e adotou a seguinte hipótese :
os plurais que apresentam qualidade vocálica não-esperada em
relação à abertura do timbre tônico (-aberto ou fechado)
apresentam baixa freqüência de ocorrência na língua, por este caso
tratar-se de mudança sonora sem condicionamento fonético.
Isto decorre da proposta de Phillips (1984, 2001) e Bybee (2001) de que as formas
pouco freqüentes numa língua que estejam sujeitas às mudanças sonoras sem motivação
fonética apresentarão a mudança em grau acentuado (com relação às palavras de uso mais
freqüente). Avaliamos também o comportamento do item lexical e de fatores não-estruturais,
como, por exemplo, gênero, faixa etária, escolaridade e indivíduo porque alguns estudos
indicam a relevância destes fatores em casos de variação sonora (Cf. LABOV, 1972, 2001).
Com base nos referenciais teóricos adotados, os objetivos norteadores desta pesquisa são:
avaliar os efeitos de freqüência de ocorrência nos casos de
alternância entre vogais médias posteriores tônicas em formas
nominais de plural no masculino, no português de Belo Horizonte;
avaliar o comportamento dos itens lexicais específicos na variação
observada entre vogais médias posteriores abertas e fechadas, em
formas de plural;
avaliar, no caso em estudo, a interferência dos fatores não-
estruturais: gênero, idade, escolaridade, indivíduo.
Esta dissertação está organizada da seguinte forma: o primeiro capítulo resenha a
literatura referente às vogais médias posteriores em posição tônica, com base em estudos
diacrônicos e sincrônicos do português brasileiro. O segundo capítulo discute efeitos de
freqüência de uso nas línguas naturais e introduz os principais referenciais teóricos adotados –
isto é, a Fonologia de Uso (BYBEE, 2001) e a Teoria de Exemplares (PIERREHUMBERT,
2001). O terceiro capítulo apresenta a metodologia adotada no desenvolvimento desta
pesquisa, explicitando como ocorreu a obtenção do material de análise, descrevendo as
características dos participantes que forneceram dados e apresentando as variáveis utilizadas
na pesquisa. O quarto capítulo apresenta a análise dos dados e discute os resultados obtidos à
luz dos modelos teóricos adotados. O quinto capítulo apresenta uma síntese desta pesquisa,
indicando as principais contribuições e conclusões desta dissertação, e apontando sugestões
para o desenvolvimento de trabalhos futuros.
CAPÍTULO 1
AS VOGAIS MÉDIAS POSTERIORES TÔNICAS EM FORMAS
NOMINAIS DE PLURAL
1.0 Introdução
Este capítulo avalia o comportamento das vogais médias posteriores em formas
nominais de plural no masculino, com base em estudos diacrônicos e sincrônicos e está
dividido em quatro partes. A primeira parte caracteriza articulatória e acusticamente as vogais
médias posteriores no português brasileiro. A segunda parte apresenta uma avaliação
diacrônica do comportamento das vogais médias posteriores em formas nominais de plural. A
terceira parte, com base em estudos sincrônicos, discute os trabalhos de Cagliari (1997) e de
Alves (1999). A última parte tece alguns comentários sobre os assuntos tratados em todo o
capítulo.
1.1 Caracterização das vogais médias posteriores
Vogais são produzidas sem a interrupção da passagem da corrente de ar, logo, não
ocorre nem obstrução, nem fricção do fluxo de ar durante a articulação de uma vogal
(ABERCROMBIE, 1967). As vogais se opõem às consoantes que são segmentos produzidos
com obstrução total ou parcial da passagem da corrente de ar, podendo ocorrer fricção ou o
(LADEFOGED, 1975). Esta seção apresenta uma descrição articulatória e acústica das vogais
médias posteriores do português brasileiro. O próximo item apresenta a descrição
articulatória.
1.1.1 Caracterização articulatória
Câmara Júnior (1970) classificou as vogais do português brasileiro mediante os
seguintes parâmetros articulatórios: zona de articulação, elevação da língua e arredondamento
dos lábios. A elevação da língua (ou altura) é relacionada à elevação tomada pelo corpo da
língua durante a articulação da vogal e refere-se à dimensão vertical da língua. Este parâmetro
divide as vogais em: baixa, médias de 1º grau (abertas), médias de 2º grau (fechadas) e altas.
A zona de articulação é representada através da posição do corpo da língua no
plano horizontal durante a produção da vogal e divide-se em anterior, que é a parte da frente
da cavidade bucal; posterior, que é a parte de trás da cavidade bucal; e central, que é a parte
que está entre a posição anterior e posterior. O grau de arredondamento refere-se aos lábios,
sendo que, durante a articulação, os lábios podem estar ou estendidos, ou arredondados. As
vogais posteriores do português brasileiro são arredondadas, e as outras vogais (a central e as
anteriores) não são arredondadas (CÂMARA JÚNIOR, 1970).
O QUADRO 1, a seguir, apresenta o sistema triangular das vogais do português
em posição tônica, de acordo com Câmara Júnior (1970, p. 41), e destaca, em cinza, as vogais
médias posteriores, que são os segmentos vocálicos de interesse primário nesta dissertação:
QUADRO 1
Caracterização articulatória
Altas
/i/
/u/
Médias
(2º grau)
/e/
/o/
Médias
(1º grau)
/ϯ/
/ѐ/
Baixa
/a/
Anteriores
Central Posteriores
O QUADRO 1 diz respeito à posição tônica, que é a posição acentual de interesse
neste estudo
1
. Então, podemos diferenciar as duas vogais médias posteriores do português por
meio da zona de articulação (média, de grau ou de grau), de acordo com Câmara Júnior
(1970):
- o : vogal posterior, arredondada, média de 2º grau (ou fechada);
- ѐ: vogal posterior, arredondada, média de 1º grau (ou aberta).
1
A distribuição das vogais médias em posição átona é diferente (CÂMARA JUNIOR, 1970) e não será discutida
neste trabalho.
Esta seção apresentou a caracterização articulatória das vogais médias posteriores
de acordo com Câmara Junior (1970). Passaremos à caracterização acústica das vogais médias
posteriores no próximo item.
1.1.2 Caracterização acústica
As vogais podem ser caracterizadas de acordo com os valores de seus primeiros
formantes. Os formantes referem-se às ressonâncias do trato vocal. O formante F1 é
relacionado ao grau de abertura ou altura da vogal e tem as freqüências mais baixas. O
formante F2 refere-se ao grau de anteriorização/ posteriorização da língua (KENT; READ,
1991). Os formantes F1 e F2 são suficientes para descrever as vogais médias posteriores.
Os formantes F1 e F2 das vogais médias posteriores, [o, ѐ], são muito próximos.
Podemos diferenciar as vogais médias posteriores com o formante F1: a vogal média aberta,
ѐ, tem valores de F1 mais baixos do que os valores de F1 da vogal média fechada, o. A vogal
média aberta é mais baixa do que a vogal média fechada. Quanto ao formante F2, a vogal
média aberta apresenta valores mais altos do que a vogal média fechada, portanto, a vogal
média aberta tem um grau mais anterior do que a vogal média fechada (Cf. KENT; READ,
1991).
A proximidade acústica entre as vogais médias abertas e fechadas pode estar
relacionada com a ocorrência de um timbre intermediário observado em vogais médias
posteriores (ALVES, 1999; CAMPOS, 2005). O som do timbre intermediário apresenta
valores de F1 e F2 o próximos que não se caracteriza nem como uma vogal aberta, nem
como fechada. Esta pesquisa não investigou a natureza acústica das vogais médias posteriores
com qualidade intermediária, porque foram poucos os dados coletados que apresentaram
vogais com qualidade vocálica duvidosa. Adicionalmente, seria interessante avaliar a natureza
das vogais médias com qualidade intermediária, em conjunto, na morfologia nominal
(ALVES 1999) e na morfologia verbal (CAMPOS 2005). Tal tarefa nos levaria além dos
propósitos desta dissertação. Um estudo de natureza específica para analisar a qualidade
vocálica intermediária das vogais médias no português brasileiro ainda deve ser empreendido.
Esta seção apresentou uma breve descrição acústica das vogais em estudo e
mostrou a possibilidade de ocorrer um timbre oscilante entre elas. A próxima seção discute
aspectos diacrônicos das vogais médias posteriores no português brasileiro.
1.2 Avaliação diacrônica
Esta seção discute alguns estudos diacrônicos relacionados com a formação de
nominais no plural, que possuem vogais médias posteriores em posição tônica. Baseamos a
discussão nas gramáticas históricas de Horta (s.d.), Carvalho; Nascimento (1984), Nunes
(1989) e nos trabalhos de Williams (1938), Silva Neto (1957), Teyssier (1980), Zágari (1988)
e Cunha (1991).
De acordo com a oposição de quantidade
2
, o latim clássico apresentava vogais
longas e breves. As vogais longas possuíam dois tempos de pronúncia, ou seja, uma
pronúncia mais demorada, e eram representadas por uma vogal com um traço horizontal
sobreposto: a, e, i, o, u. As vogais breves consumiam tempo menor de duração e eram
representadas por uma vogal com um traço curvo sobreposto:
a, e, i, o, u
. Na evolução do
latim para as línguas neo-românicas, houve perda do traço de quantidade por volta do século
III d. C. (CUNHA, 1991, p. 53), e as dez vogais do latim clássico reduziram-se a sete vogais
2
A oposição de quantidade refere-se à maior ou menor duração de pronúncia das vogais.
no latim vulgar e passaram a diferenciar-se apenas pela oposição de qualidade aberta ou
fechada (CUNHA, 1991; CARVALHO; NASCIMENTO, 1984).
uma ampla discussão na literatura sobre a oposição de qualidade das vogais
latinas. Tal discussão tem, sobretudo, por objetivo, identificar a origem das vogais médias
abertas e fechadas do português (Cf. SILVA NETO, 1957; ZAGARI, 1988; TEYSSIER,
1980). Para o tema em discussão nesta dissertação, é importante ressaltar que algumas
pesquisas sobre o vocalismo do português propõem que as vogais do latim clássico
apresentavam oposição de qualidade. Isto é, as vogais breves a, e, i, o, u tinham timbres
abertos, enquanto que as vogais longas a, e, i, o, u apresentavam timbres fechados. A vogal
central [a] manifestava-se sempre aberta, tanto em sua forma longa a quanto em sua forma
breve a

. Desta forma, após a queda da oposição de quantidade, a oposição de qualidade
apenas permaneceu. Por outro lado, outros estudos sugerem que a oposição de qualidade só
surgiu depois da queda da oposição de quantidade. O importante é que ambas as visões
ressaltam que a qualidade das vogais de serem abertas ou fechadas decorre de um processo
histórico de evolução do sistema vocálico do português.
O QUADRO 2, a seguir, resume a evolução das vogais latinas até o português, de
acordo com Carvalho; Nascimento (1984, p. 52).
QUADRO 2
Vocalismo
Latim Clássico Latim Vulgar ngua Portuguesa
a a a a
e ϯ ϯ
e i
e e
i i i
o ѐ ѐ
o u
o o
u u u
10 vogais 7 vogais 7 vogais
De acordo com o QUADRO 2, a vogal média breve o do latim clássico originou a
vogal média aberta ѐ no latim vulgar, que permaneceu de maneira idêntica na língua
portuguesa. As vogais o
longa e u
breve originaram a vogal média fechada - o no latim vulgar
e no português. Pode-se observar que as vogais médias do português conservaram os mesmos
timbres vocálicos do latim vulgar (HORTA, s.d.).
Encontramos referências na literatura de que, ao fim século XVIII, as palavras
cujas sílabas finais eram terminadas em -
o
e que possuíam vogais médias posteriores fechadas
[
o
], nas sílabas tônicas, faziam o plural com o timbre fechado (NUNES, 1989, p. 231;
HORTA, s.d., p. 119), conforme os exemplos citados a seguir: car
o
ço, car
o
ços; c
o
rpo,
c
o
rpos;
o
sso,
o
ssos;
o
vo,
o
vos; p
o
ço, p
o
ços.
Apesar de Nunes (1989, p. 231) e Horta (s.d., p. 119) sugerirem que as palavras
com [
o
] tônico fechado e terminadas em [
o
] mantiveram o timbre fechado até fins do século
XVIII, Juca Filho (1961 apud CUNHA, 1991)
3
, propôs que, nos séculos XVIII e XIX, havia
uma variação de pronúncia do /o/ que teve como resultado a abertura do timbre da vogal
média posterior tônica em formas de plural: cachopo/cachѐpos; caroço/carѐços,
contorno/contѐrnos.
De acordo com a gramática histórica de Nunes (1989, p. 231), o português
atual ainda modifica, na sílaba tônica, o timbre fechado do singular [o] para timbre aberto [ѐ]
no plural de várias palavras, como, por exemplo: caroço/carѐços, 'caroço(s)'; corpo/cѐrpos,
'corpo(s)'; ovo/ѐvos, 'ovo(s)'; povo/pѐvos, 'povo(s)'. Por outro lado, algumas palavras como,
aborto, arrocho, caboclo, canhoto, cebolo, estojo, folgo, folho, garoto, gosto, jorro, molho,
pescoço, xarroco conservam o timbre fechado da vogal nas formas de plural. O autor
também observa que há variações de pronúncia em algumas localidades, sendo que uma
mesma palavra pode ser pronunciada com [o] fechado em alguns lugares e com [ѐ] aberto em
outros. Contudo, Nunes (1989) não menciona exemplos nem dessas variações, nem das
localidades a que ele se refere.
Horta (s.d., p. 119) propõe cinco regras prosódicas, para explicar as formas de
plural das palavras com vogal fechada [o] no português atual, as quais descrevemos a seguir:
1) o [o] tônico final de palavra torna-se [ѐ] aberto no plural: avo, avѐs - 'avô';
2) o [o] tônico não-final permanece fechado no singular e em suas formas de
feminino: bobo, boba, bobos - 'bobo'. Uma exceção a esta regra seria: poço,
pѐça, pѐços - 'poço';
3
JUCA FILHO, Cândido. O fator psicológico na mutação vocálica portuguesa. Boletim de Filologia, Lisboa:
Centro de Estudos Filológicos. 18, p. 143-153, 1961.
3) se o feminino apresentar [ѐ]
aberto, o plural do masculino também te
[
ѐ]
tônico aberto: n
o
vo, n
ѐ
va, n
ѐ
vos, - 'novo';
4) se a palavra possuir um homógrafo verbal, o [o] tônico permanece fechado no
plural: sopro (s.), sѐpro (v.), sopros (s.) - 'sopro'; choro (s.), chѐro (v.), choros
(s.) - 'choro';
5) as palavras que não possuem nem forma feminina, nem forma verbal
homógrafa, geralmente, passam para o plural com a vogal tônica aberta. No
entanto, há várias exceções a esta regra: bojo(s), piolho(s), repolho(s);
Comparando as gramáticas históricas de Horta (s.d.) e de Nunes (1989) com o
trabalho de Juca Filho (1961), podemos observar que a origem da alteração do timbre
vocálico (aberto ~ fechado) das vogais médias posteriores em formas de plural no português é
controversa. Ainda, devemos destacar que, quanto às regras formuladas por Horta (s.d.) e
Nunes (1989), não uma explicação clara que defina o timbre tônico das vogais médias
posteriores em formas nominais no plural, pois as regras apresentam exceções.
Um outro trabalho que deve ser avaliado, nesta dissertação, é Miranda (2002).
Essa autora divide as palavras que possuem vogais médias em três grupos:
(1) CASO A (
timbre aberto)
: palavras que apresentam a vogal tônica
com timbre aberto tanto nas formas de singular, como nas formas
de plural. Ex.: cѐpo ('copo') e cѐpos ('copos');
(2) CASO B (
timbre fechado)
: palavras que apresentam a vogal
tônica com timbre fechado tanto nas formas de singular, como nas
formas de plural. Ex.: lobo (‘lobo’), lobos (‘lobos’), lobas
(‘lobas’);
(3) CASO C (
timbre alternante)
: palavras que apresentam a vogal
tônica com timbre fechado nas formas de singular e a vogal tônica
com timbre aberto nas formas de plural. Ex.: porco (‘porco’),
pѐrcos (‘porcos’), pѐrca (‘porca’), pѐrcas (‘porcas’).
De acordo com Miranda (2002), o grupo apresentado no CASO A tem poucas
palavras e constitui uma exceção. Há três subgrupos de palavras pertencentes CASO A:
a) empréstimos;
b) exceções;
c) palavras que entraram no português por via erudita.
Nos empréstimos, encontram-se por exemplo: bloco (francês: 'bloc') e bordo
(germânico: 'bord'). O subgrupo de exceções refere-se às três palavras vernaculares, c[ѐ]po,
originado de c[ѐ]pa; tr[ѐ]ço que veio de tr[o]ço; e à palavra m[ѐ]lho. A maior parte das
palavras do grupo (1) entrou no português por via erudita (CAVACAS
4
apud MIRANDA,
2002; WIILIAMS, 1938). Nestes casos, a vogal longa do latim clássico
o
manifestou-se,
tanto no latim vulgar (timbre contrário ao do clássico) como no português, como vogal aberta
ѐ. Exemplos destes casos são: devѐto de devo
tum
,
cѐlo de collum
(MIRANDA, 2002).
O grupo listado no CASO B, que é referente às palavras cujas vogais tônicas têm
timbre fechado em todas suas formas, possui um número grande de palavras. As vogais
tônicas das palavras do CASO B têm origens variadas, como, por exemplo: lodo (u
breve
latino); piolho (empréstimo), globo (o longo latino). Uma observação interessante do trabalho
de Miranda (2002) é que, apesar de não fazer uma contagem exata, a autora sugere que as
palavras do CASO B são predominantes em relação às palavras dos CASOS A e C
(MIRANDA, 2002, p. 74).
Miranda (2002, p. 76-79) observou alguns subgrupos de palavras pertencentes ao
CASO C:
a) palavras não-derivadas com alternância entre [ѐ] ~ [o], no feminino
e no plural: porco/ pѐrcos/ pѐrca/ pѐrcas;
b) palavras não-derivadas com alternância entre [ѐ] ~ [o], no plural:
mi
o
lo/mi
ѐ
los;
4
CAVACAS, A. D'Almeida. A língua portuguesa e sua metafonia. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1920.
c) palavras formadas por prefixação ou composição com alternância
entre [
ѐ]
~ [
o]
, no feminino e no plural: comp
o
sto/ comp
ѐ
stos/
compѐsta/ compѐstas;
d) palavras formadas por prefixação ou composição com alternância
entre [ѐ] ~ [o], no plural: aeroporto/ aeropѐrtos;
e) palavras derivadas por sufixação de -oso, com alternância entre [ѐ]
~ [
o]
, no feminino e no plural: gost
o
so/ gost
ѐ
sos, 'gostoso'.
A avaliação diacrônica que foi discutida nas páginas precedentes é importante por
fornecer subsídios sobre a evolução das vogais médias na passagem do latim ao português e,
conseqüentemente, por apresentar informações relevantes sobre a formação de nominais no
plural que apresentam vogais médias posteriores, que é o nosso objeto de estudo. Com base
nos estudos apresentados até este ponto, podemos concluir que ainda é necessário o
desenvolvimento de novas pesquisas para trazer maiores esclarecimentos sobre o
comportamento das vogais médias posteriores em formas nominais no plural. A próxima
seção avalia o comportamento das vogais médias posteriores em formas nominais no plural,
considerando-se aspectos dos estudos sincrônicos de Cagliari (1997) e Alves (1999)
relacionados ao comportamento dessas vogais.
1.3 Avaliação sincrônica
1.3.1 Observações de Cagliari (1997)
Esta seção trata de algumas partes do trabalho de Cagliari (1997) que dão ênfase
aos aspectos relacionados às formas nominais de plural que apresentam vogais médias
posteriores. De acordo com Cagliari (1997, p. 97), os sufixos átonos não afetam a qualidade
tônica da raiz dos nomes. Dessa forma, os sufixos de gênero e de número, por serem átonos,
não influenciam a qualidade vocálica (se aberta ou fechada) da vogal tônica da raiz dos
nomes.
Cagliari (1997), porém, verifica que alguns casos "marcados no léxico", em
que ocorre abaixamento vocálico em palavras que possuem estes sufixos de gênero e número
(CAGLIARI, 1997, p. 110). Estes casos podem ser vistos, segundo o autor, como resultantes
de uma "regra de diferenciação vocálica". De acordo com esta regra, as formas masculinas
apresentam duas vogais médias altas, e as formas femininas e de plural sofrem o abaixamento
vocálico: p
o
rco/ p
ѐ
rca/ p
ѐ
rcos/ p
ѐ
rcas; p
o
ço/ p
ѐ
ça/ p
ѐ
ços/ p
ѐ
ças.
Segundo Cagliari (1997), pronúncias dialetais, como em: cach
ѐ
rra/ cach
ѐ
rros -
'cachorro' mostram que a língua apresenta uma tendência geral à aplicação da regra de
abaixamento vocálico, isto é, as vogais tendem a ser abertas (CAGLIARI, 1997, p. 111).
Cagliari (1997, p. 121) apresenta exemplos de variação dialetal que mostram também a
deleção da marca -s de plural:
o p
o
rco os p
ѐ
rcos
a p
ѐ
rca as p
ѐ
rcas
o p
o
rco os p
o
rco
a p
ѐ
rca as p
ѐ
rca
A abertura do timbre da vogal tônica ocorre nas formas que apresentam o
morfema de plural. Palavras que não apresentam a desinência de plural mas que estão em
frases em que o sentido delas de plural pode ser depreendido por meio do artigo flexionado no
plural que as determina, como, "os porco" ocorrem com vogais fechadas. A vogal tônica
se manifestará com timbre aberto, depois de receber a marca de plural.
As principais contribuições do trabalho de Cagliari (1997) à literatura sobre
vogais médias posteriores em formas nominais de plural são:
a) a observação de abaixamento vocálico em pronúncias dialetais
(embora o autor não mencione variedades dialetais específicas);
b) a tentativa de explicar o fechamento do timbre em palavras com
sentido de plural, mas que o apresentam morfema de plural: "os
porco".
Esta seção apresentou o trabalho de Cagliari (1997). A próxima seção apresenta o
estudo de Alves (1999).
1.3.2 A análise de Alves (1999)
Alves (1999) estudou as vogais médias tônicas, anteriores e posteriores, em
formas nominais no singular e no plural do português de Belo Horizonte, mesmo dialeto que
avaliamos nesta dissertação. O objetivo da autora foi o de investigar, qualitativamente, o fator
motivador da variação atestada entre as vogais médias tônicas, anteriores (e ~ ϯ, ex.: corpete ~
corp
ϯ
te) e posteriores (
o
~
ѐ
, ex.: f
o
rros ~ f
ѐ
rros). Para cumprir seu objetivo, ela avaliou dados
de 21 informantes universitários e constatou que, das 63 palavras analisadas (13 palavras com
vogais médias anteriores e 50 palavras com vogais médias posteriores), 40 palavras, isto é,
63,5% dos dados apresentaram variação em relação ao timbre das vogais médias anteriores e
posteriores.
No que diz respeito às vogais médias posteriores, as 50 palavras com vogais
médias posteriores avaliadas foram dividas em 41 plurais e 9 singulares. Podemos observar,
no trabalho de Alves (1999, p. 91), que, das 41 formas de plural com vogais médias
posteriores estudadas pela autora, 28 apresentaram variação em relação às vogais médias
posteriores tônicas, isto é, um total de 68,29 %. Alves (1999) também encontrou, em 24
palavras de seus dados, a presença de um timbre vocálico intermediário
5
onde era esperada
uma das vogais tônicas [
o
] ou [
ѐ
] (Cf. ALVES, 1999, p. 114).
Em sua análise, Alves (1999) observou que alguns fatores lingüísticos
favoreceram a variação de timbre das vogais médias posteriores e anteriores, sendo eles:
1- número: o plural foi um fator forte no condicionamento da
variação;
2- anterioridade/ posterioridade: as vogais médias posteriores [o, ѐ ]
apresentaram maior variação do que as vogais médias anteriores
[e, ϯ];
5
Som intermediário: os valores dos formantes se tornam mais próximos, ou seja, este som possui características
tanto da vogal posterior aberta quanto da fechada (Cf. seção 1.1.2).
3- preferência pelo singular: algumas vezes, a marca de plural -s não
foi pronunciada. Nestes casos, a vogal tônica permaneceu fechada
no plural: Os [o]vo caipira.
os fatores não-favorecedores da variação de timbre das vogais médias
posteriores e anteriores, observados por Alves (1999), foram:
1- gênero: masculino (ex.: rostos) ou feminino (ex.: esposas);
2- correspondência entre nomes masculino e feminino: o são todas
palavras, como sogro/sѐgra, que apresentaram correspondência de
gênero;
3- correspondência entre formas nominais e verbais: Alves (1999)
apresentou a hipótese de que o número de correspondências entre
formas verbais e nominais é pouco freqüente no português. O
falante dificilmente associará palavras, como, ‘esposos’ e ‘fofos’ às
formas verbais ‘esp
ѐ
sa’ e ‘f
ѐ
fo’;
4- extensão da palavra: o número de sílabas. Ex.: cѐros (2 sílabas) e
rebocos (3 sílabas)
5- estrutura da sílaba: sílabas travadas por // ou /
s
/ ou terminadas em
ditongo. Ex.: pѐrcos~ porcos, pѐstos~postos, tamѐios~ tamoios;
6- adjacências: segmentos seguintes e precedentes às vogais médias
tônicas.
Segundo a autora, o contraste fonêmico entre vogais médias tônicas orais nos
nomes não é produtivo no português, uma vez que há poucos pares mínimos (molho/ mѐlho
de chave) que contrastam as vogais médias tônicas orais nos nomes, sendo que este aspecto
contribui com a variação de timbre observada nas vogais médias posteriores tônicas (ALVES,
1999).
Um aspecto importante do trabalho de Alves (1999), o qual deve ser destacado,
nesta dissertação, é que essa autora sugere que a freqüência de uso pode influenciar a variação
das vogais em estudo. Isso pode ser visto, por exemplo, no caso de palavras, como, alcovas e
amorfo, que podem apresentar variação de timbre vocálico devido ao uso restrito delas na
língua. É preciso dizer que Alves (1999) não chega a investigar essa influência da freqüência
de uso no fenômeno em análise.
Em resumo, as principais contribuições do trabalho de Alves (1999) são:
a) mostrar que variação envolvendo o timbre vocálico nas vogais
médias posteriores tônicas;
b) discutir alguns fatores condicionadores e não-condicionadores da
variação de timbre nas vogais médias posteriores tônicas;
c) sugerir a presença de um timbre vocálico intermediário observado
nas vogais médias posteriores tônicas;
d) sugerir que interferência da freqüência de uso na variação de
vogais médias posteriores em posição tônica.
Uma contribuição desta dissertação à literatura é investigar a influência do fator
freqüência de uso no caso da variação de timbre nas vogais médias posteriores tônicas em
formas nominais no plural.
1.4 Comentários finais
Este capítulo avaliou as características articulatórias e acústicas das vogais médias
posteriores e discutiu trabalhos diacrônicos e sincrônicos relativos a formas nominais de
plural que apresentam vogais médias posteriores em posição tônica. No trabalho de Alves
(1999), vimos que o uso que os falantes fazem da língua poderia ser considerado na avaliação
do fenômeno em análise. Como afirma Silva Neto (1957, p. 15):
As línguas estão, pois, em perpétua mudança, embora o repouso seja
facilmente perceptível. A evolução explica-se, principalmente pela
descontinuidade da transmissão e pela própria constância do uso.
Por toda a exposição feita neste capítulo, percebe-se que é relevante investigar o
papel do uso para avaliar a alternância entre as vogais médias posteriores. Vimos que, apesar
da existência de trabalhos sobre o tema desta pesquisa, as controvérsias encontradas na
literatura (como a origem da oposição de qualidade vocálica (- aberta ou fechada); a origem
da alteração de timbre vocálico nos plurais do português (ex.: caroço, carѐços ), as regras
formuladas para definir a abertura do timbre das vogais médias posteriores) nos fazem
considerar ser ainda necessário haver novos estudos. Esta dissertação traz a contribuição de
investigar o papel da freqüência de uso no fenômeno da alternância das vogais médias
posteriores tônicas, baseando-se em modelos multi-representacionais, os quais consideram a
atuação da freqüência de uso em fenômenos de variação e mudança sonora. Os referenciais
teóricos desses modelos são apresentados no capítulo que se segue.
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.0 Introdução
Este capítulo apresenta os pressupostos teóricos adotados nesta dissertação.
Primeiramente, apresentaremos alguns trabalhos que observam o fator freqüência na
lingüística. Em seguida, trataremos da influência da freqüência de acordo com dois modelos
multi-representacionais: Fonologia de Uso (BYBEE, 2001) e Teoria de Exemplares
(PIERREHUMBERT, 2001, 2003). Por último, é feito um resumo do capítulo.
2.1 A freqüência de uso na língua
O uso da língua é crucial para a organização do componente lingüístico e
determina o modo como gerenciamos as representações mentais (BYBEE, 2001). Neste
sentido, o uso de palavras de uma ngua tem caráter probabilístico (BOD; HAY; JANNEDY,
2003).
Para medir a freqüência das palavras de uma determinada língua, é necessário
consultar um corpus lingüístico, já que medir a freqüência de palavras, baseando-se apenas na
intuição do falante, não é um parâmetro adequado, por, entre outros, ser de difícil mensuração
(SARDINHA, 2004, p. 160).
Há, pelo menos, dois motivos que dificultavam a construção de corpora
lingüísticos no passado: a) a falta de tecnologia adequada, b) a influência da Teoria Gerativa.
Durante um período do século XX, os corpora lingüísticos foram construídos manualmente,
mas receberam muitas críticas, porque não eram confiáveis. Estes corpora manuais foram
construídos principalmente para auxiliar o ensino de línguas. Citamos, como exemplo, o
corpus Teacher's Wordbook, de aproximadamente 4,5 milhões de palavras, construído por
Thorndike (apud SARDINHA, 2004)
6
. Estes corpora identificaram as palavras mais
freqüentes da língua inglesa e deram base para as abordagens de ensino de línguas que
priorizavam a aprendizagem de palavras mais freqüentes antes das palavras infreqüentes
(SARDINHA, 2000, 2004).
A partir do final da década de 1950, época do desenvolvimento da Teoria
Gerativa, acreditava-se que os dados necessários ao lingüista estavam em sua mente, que o
que interessava era a análise da competência lingüística e não do desempenho. O investimento
financeiro para construção de corpora lingüísticos não foi considerado importante neste
período. Devido a estas dificuldades, houve uma diminuição do interesse e do número de
trabalhos baseados em corpora. O avanço da tecnologia possibilitou a construção de corpora
eletrônicos e despertou novos interesses por estudos baseados em corpora. A década de 1980
trouxe os computadores pessoais que facilitaram o avanço dos estudos baseados em corpora
lingüísticos (SARDINHA, 2000, 2004).
Atualmente, podemos contar as freqüências de uso em várias línguas, com base
em dados de corpora eletrônicos. Alguns exemplos de corpora do português são: Corpus do
LAEL (PUC-SP) disponível em: <http://lael.pucsp.br/corpora/index.htm>, Corpus do CETEM
que pode ser consultado em <www.linguateca.pt>, e o Corpus de Araraquara (UNESP) que
não se encontra disponível para consulta na internet.
6
THORNDIKE, E. L. Teacher's wordbook. Nova York: Columbia Teachers College, 1921.
duas maneiras de se contar a freqüência de uma língua (BYBEE, 2001, p. 10):
freqüência de tipo (type frequency) e freqüência de ocorrência (token frequency). A freqüência
de tipo
(type frequency), ou freqüência de dicionário, refere-se à quantidade de vezes que um
determinado padrão, como, um sufixo ou um encontro consonantal, ocorre na língua. Como
exemplo, podemos observar que o plural em -s (ex.: beijos, livros, pesquisas) é um padrão
muito mais freqüente no português do que o plural em -es (ex.: professores, amores,
educadores).
A freqüência de ocorrência (token frequency)
refere-se à
quantidade de vezes que
uma unidade, geralmente uma palavra, ocorre em um corpus oral ou escrito. Por exemplo, a
palavra poesia ocorre 10.555 vezes, e a palavra caboclo ocorre 627 vezes em 230 milhões de
palavras do Corpus do LAEL
7
, ou seja, a palavra poesia tem freqüência de ocorrência muito
mais alta do que a palavra caboclo nesse corpus.
Esta seção discutiu a contagem de freqüências nas línguas. A seguir,
apresentaremos como o fator freqüência tem sido avaliado em alguns trabalhos da literatura.
2.2 O papel da freqüência de uso nas línguas
Em 1885, Schuchardt observou o papel da freqüência em mudanças sonoras. O
uso freqüente de uma palavra teria um papel importante em casos de mudanças fonéticas
(SCHUCHARDT, 1885, p. 58), como veremos a seguir:
as mudanças sonoras atingem primeiro as palavras mais freqüentes;
7
Disponível em: http://lael.pucsp.br/corpora/index.htm. Acesso em: maio 2004.
as mudanças podem afetar o léxico gradualmente sem,
necessariamente, atingir todas as palavras.
Segundo Schuchardt (1885), a freqüência de certos grupos fonéticos influencia a
formação de novos grupos idênticos, ou seja, a freqüência de um som inovador pode passar a
generalizar a mudança. Apesar de o artigo de Schuchardt (1885) ter oferecido subsídios para a
literatura sobre o papel da freqüência de uso em mudanças sonoras, os aspectos deste estudo
referentes aos efeitos de freqüência só foram retomados muitas décadas depois.
Em seu trabalho, Bakker (1968) fez algumas observações sobre a interferência da
freqüência na língua. Bakker (1968) questionou se haveria uma relação entre a freqüência de
uso e as estruturas das palavras. O autor analisou as possíveis sílabas de monossílabos da
língua holandesa. Para medir os efeitos de freqüência, Bakker (1968) verificou aspectos,
como, a freqüência de tipo, a quantidade de palavras diferentes de um dado tipo, o fator
repetição, a freqüência de uso, o armazenamento lexical. O armazenamento lexical refere-se
ao total de palavras de um dado tipo. O fator repetição corresponde ao número da freqüência
de tipo dividida pelo número de palavras diferentes.
Segundo o autor, a maioria das estruturas silábicas mais simples apresentaria um
fator repetição mais alto do que as estruturas mais complexas no holandês. Ao avaliar
estruturas silábicas de monossílabos do holandês, Bakker (1968) observou que os tipos que
apresentaram um fator de repetição mais alto obtinham um baixo índice de armazenamento
lexical. Desta forma, a alta freqüência de tipo de estruturas silábicas simples de monossílabos
holandeses seria a conseqüência de um alto uso de um grupo pequeno de palavras. Por outro
lado, os grupos com maior número de palavras com estruturas silábicas complexas, CVCC e
CCVC, tiveram uma freqüência moderada e um baixo índice do fator repetição. Houve uma
relação entre as estruturas das palavras e o fator repetição: as palavras com estruturas mais
simples ocorreram mais na língua do que as palavras que apresentavam estruturas mais
complexas. Portanto, a tendência do falante em optar por estruturas silábicas mais simples foi
influenciada pela relação existente entre forma, fator repetição e armazenamento lexical
(BAKKER, 1968).
Fidelholtz (1975) propôs que, em alguns contextos fonológicos, a freqüência
associada ao fator familiaridade e ao contexto fonético poderia influenciar a direção de
mudanças sonoras. Baseando-se em um caso da língua inglesa de redução vocálica de vogais
seguidas por uma ou mais consoantes, Fidelholtz (1975) observou que havia mais redução de
vogal em palavras freqüentes do que em palavras pouco freqüentes. Alguns exemplos desse
caso de redução, apontados pelo autor, são: astronomy, mistake, abstain. Entretanto, ainda
segundo Fidelholtz (1975), as mudanças sonoras poderiam não afetar algumas palavras
freqüentes devido à influência de determinados contextos fonéticos inibidores.
Apesar de não apresentar conceitos para 'familiaridade' e 'freqüência', o autor
propõe que palavras familiares que não são freqüentes e que a familiaridade também seria
um fator relevante na redução vocálica do inglês. Fidelholtz (1975) fez o seguinte comentário
sobre a freqüência na fala e na escrita:
While words have roughly the same relative frequencies in spoken and
written language, the more frequent words are used even more frequently in
speech than in writing (and perhaps more frequently in less formal language
use in general); and conversely, less frequent words are used even less
frequently orally (FIDELHOLTZ, 1975, p. 201).
Segundo o autor, haveria uma relação entre a familiaridade da palavra e o seu
armazenamento no cérebro. Dessa forma, seria mais difícil buscar palavras menos freqüentes
na memória do que buscar palavras mais freqüentes, o que levaria as mudanças sonoras a
atuarem de forma diferente, em palavras mais e menos freqüentes. Em suma, Fidelholtz
(1975) sugere que o fator freqüência relativa de uma palavra é uma variável lingüística
significante. Embora o artigo de Fidelholtz (1975) tenha sido importante na literatura sobre
mudança sonora, pouco foi explorado deste artigo em relação à freqüência. As contribuições
mais consideradas do artigo de Fidelholtz (1975) foram: a importância do contexto fonético e
da organização lexical.
Em 1984, um artigo de Phillips retomou aspectos da freqüência na implementação
de mudanças sonoras. Phillips (1984) observou que as mudanças sonoras iniciavam-se em
alguns itens lexicais antes de outros, então, buscou encontrar o fator determinante da direção
da mudança sonora. Depois de avaliar a proposta de Schuchardt (1885) de que as palavras
mais freqüentes seriam as primeiras a serem atingidas por mudanças sonoras, Phillips (1984)
observou também que algumas mudanças atingiam primeiro as palavras menos freqüentes.
Logo, Phillips (1984) buscou comparar esses diferentes tipos de mudanças sonoras.
Ao avaliar casos como a mudança de acento no inglês moderno em palavras
homógrafas que passaram a receber acento final em suas formas verbais (ex.: permít) e acento
inicial em suas formas nominais (pérmit) e em palavras que sofreram cancelamento do glide
(ex.: tune, duke, news) –, Phillips (1984) observou que estas mudanças tinham algo em
comum: eram mudanças não fisiologicamente motivadas e afetavam primeiro as palavras
menos freqüentes (PHILLIPS, 1984).
Por outro lado, ao examinar mudanças, como, assimilação vocálica ou
consonantal, parciais ou totais, e redução vocálica, Phillips (1984) constatou que essas
mudanças afetavam primeiro as palavras mais freqüentes da língua e eram fisiologicamente
motivadas. Dessa forma, a autora sugeriu uma hipótese sobre a atuação da freqüência
(Frequency Actuation Hypothesis):
Phisiologically motivated sound change affect the most frequent words first,
other sound changes affect the least frequent words first (PHILLIPS, 1984,
p. 336).
O trabalho de Phillips (1984) trouxe contribuição quanto à atuação da freqüência
de ocorrência: as mudanças foneticamente motivadas iniciariam-se em palavras mais
freqüentes da língua, por outro lado, as mudanças sonoras sem motivação fonética atingiriam
primeiro as palavras menos freqüentes.
Albano (1999, p. 43) também faz algumas observações sobre a freqüência de uso
na língua. De acordo com a autora, verbos cujas conjugações causam dúvida nos falantes,
como os verbos irregulares, 'expelir' e 'aderir’, têm dois aspectos em comum: a) a baixa
freqüência de ocorrência na língua, b) o fato de não possuírem uma forma verbal semelhante
de radical. Apesar de o verbo ‘aferir’ apresentar baixa freqüência de ocorrência, ele não causa
dúvidas no falante, porque é conjugado como o verbo 'ferir' que apresenta semelhança com o
radical de ‘aferir’. Por outro lado, verbos que possuem freqüência de ocorrência alta de uma
forma, como 'concernir' 'concerne', não facilitam a conjugação das formas metafônicas
de baixa freqüência: 'concernir’ – ‘concirno’, ‘concirna' (ALBANO, 1999, p. 43). Estes
exemplos de Albano (1999) reforçam a relevância de se analisar a freqüência em pesquisas
sobre variação e mudança sonora.
Em artigo sobre um dicionário de freqüências do português, Biderman (1998) fez
algumas observações sobre a freqüência de uso na língua. Segundo a autora, a língua seria
uma média de usos freqüentes de palavras aceitas pelos seus falantes. A seguir, explicitamos
um comentário interessante da autora que relaciona a freqüência à evolução das línguas, com
um exemplo da evolução do latim para as línguas neo-românicas:
Também as mudanças lingüísticas que, no decorrer da história, leva de um
estado de língua a outro, advêm das freqüências de certos usos em
detrimento de outros. Quando estudamos a evolução do latim até as línguas
românicas verificamos que mudanças estruturais que acarretaram o
surgimento de novos sistemas lingüísticos (as línguas latinas) se deram em
virtude da freqüência com que certos fenômenos lingüísticos ocorriam. [...]
No latim havia cinco modelos de declinação de substantivos que, no período
românico desapareceram totalmente, em virtude da recorrência da
obliteração das desinências características de cada caso em cada um dos
paradigmas de declinação. (BIDERMAN, 1998, p. 162).
Também Brown (1999) aborda a questão da freqüência. A autora examinou o
fenômeno de posteriorização da labial em espanhol. Esse fenômeno é apontado por ela como
um caso de mudança abrupta: Pepsi> Pe[k]si, concepto > conce[k]to, apto> a[k]to. A autora
observou que havia uma pequena quantidade de palavras que possuíam o /p/ em coda, porém
o /k/ em coda seria muito freqüente no espanhol. Dessa forma, essa alta freqüencia de /k/
estaria motivando a posteriorização da labial: receptor> rece[k]tor. Assim, Brown (1999)
avaliou as freqüências de tipo e de ocorrência a partir de corpora do espanhol e verificou que
o /k/ em coda foi, aproximadamente, treze vezes mais freqüente do que o /p/ em coda. Ainda,
segundo a autora, o esquema /k/ em coda era mais forte, mais acessível e mais produtivo, o
que explicou a mudança abrupta em palavras, como, Pe[k]si. Como se pode notar, essa
mudança recebeu influência das freqüências de ocorrência e de tipo, uma vez que afetou
primeiro as palavras com freqüências de ocorrência mais baixa e que o padrão [p] tem uma
freqüência de tipo mais baixa do que o padrão [k] na posição de coda, no espanhol.
Cristófaro-Silva; Oliveira (2002) estudaram a mudança do R-forte para o r-fraco
antecedido de lateral pós-consonantal vocalizada no português, ex.: 'guelra'
ցϯwha ~ ցϯlwשa. Os autores constataram que esta mudança se deu de um padrão menos
freqüente para um padrão mais freqüente. A seqüência wR forte teve um número de tipos
menor do que a seqüência wr fraco, e as palavras menos freqüentes eram as primeiras a serem
atingidas pela mudança. Dessa forma, Cristófaro-Silva; Oliveira (2002) verificaram a
interferência da freqüência de tipo e de ocorrência, pois, neste caso, ocorreu a generalização
de um padrão (tipo) menos freqüente para um padrão mais freqüente que atingiu primeiro as
palavras menos freqüentes (CRISTÓFARO-SILVA; OLIVEIRA, 2002).
Os trabalhos discutidos, nesta seção, indicam ser pertinente avaliarmos efeitos de
freqüência de uso na implementação de fenômenos fonológicos. Com base nos estudos
apresentados, podemos observar que a freqüência de tipo e de ocorrência são fundamentais
para determinar quais são os itens mais propícios a serem atingidos por uma determinada
mudança sonora. A literatura mostra que algumas mudanças sonoras atingem primeiro os
itens mais freqüentes (SHUCHARDT, 1885; FIDELHOLTZ, 1975; PHILLIPS, 1984) e que
estas mudanças são fisiologicamente motivadas (PHILLIPS, 1984). mudanças que não têm
motivação fisiológica afetam, primeiramente, as palavras menos freqüentes (PHILLIPS, 1984;
BROWN, 1999; CRISTÓFARO-SILVA; OLIVEIRA, 2002). Uma proposta de organização
do léxico que considera a interferência das freqüências de tipo e de ocorrência na análise de
mudanças sonoras é a Fonologia de Uso (BYBEE, 2001). Tal proposta será apresentada a
seguir, conjugada com a proposta da Teoria de Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001), sob
o rótulo de modelos multi-representacionais.
2.3 Modelos multi-representacionais
Esta pesquisa adota dois modelos multi-representacionais: a Fonologia de Uso
(BYBEE, 2001, 2002) e a Teoria de Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001). Estas
propostas são compatíveis e complementares. A Fonologia de Uso assume o modelo de
estocagem da Teoria de Exemplares, pelo fato de esta última incorporar o detalhe fonético à
representação fonológica.
A Fonologia de Uso (BYBEE, 2001, 2002) propõe que a estrutura lingüística
emerge a partir do uso e da experiência que o falante tem com a língua. Alguns aspectos
importantes deste modelo são: o mapeamento das representações fonológicas a partir do uso
da linguagem, a não separação da fonética e da fonologia, e a atuação da freqüência em
mudanças sonoras (BYBEE, 2001).
Segundo Bybee (2001, 2002), outras áreas do conhecimento, como, por exemplo,
a biologia e a psicologia, também podem ser usadas para explicar o comportamento
lingüístico, assim como a lingüística pode ser aproveitada para explicar outras áreas do
conhecimento.
A Fonologia de Uso assume os seguintes pressupostos teóricos (BYBEE, 2001, p.
6-8):
a) a experiência afeta as representações;
b) objetos lingüísticos e objetos não-lingüísticos têm as mesmas propriedades de
representações mentais;
c) a categorização é baseada em identidade e em similaridade;
d) as generalizações das formas não estão separadas da representação das formas,
mas emergem a partir delas;
e) a organização lexical possibilita generalizações e segmentações em vários graus
de abstração e generalização;
f) o conhecimento gramatical é procedimental.
Os efeitos de freqüência têm um papel importante na propagação da mudança
sonora no léxico. Bybee (2001) apresenta hipóteses relacionadas aos efeitos das freqüências
de tipo e de ocorrência na língua, retomando a proposta de Phillips (1984).
1- Mudanças sonoras foneticamente motivadas, como assimilação e
redução de segmento, iniciam-se em palavras mais freqüentes na
língua e atingem o léxico, gradualmente, até afetarem as palavras
menos freqüentes, sem, necessariamente, atingirem todas as
palavras.
2- Por outro lado, as mudanças sem motivação fonética, como, o
nivelamento analógico ou a generalização fonológica, iniciam-se
em palavras menos freqüentes, atingem, gradualmente, o léxico e
finalizam-se nas palavras mais freqüentes. Neste caso, também, as
mudanças não atingiriam todas as palavras necessariamente.
É interessante notar que, no momento em que Bybee (2001) afirma que as
mudanças ocorrem de forma lexicalmente gradual, a autora demonstra adotar este postulado
essencial da Teoria da Difusão Lexical (WANG, 1969): o de que as mudanças sonoras
ocorrem de maneira gradual no léxico. Na verdade, Bybee defende que as mudanças sonoras
ocorrem de forma, lexicalmente e foneticamente, gradual, enquanto que a Teoria da Difusão
Lexical propõe que as mudanças sonoras ocorrem de modo lexicalmente gradual, mas
foneticamente abrupto.
A Fonologia de Uso sugere que a freqüência de tipo gera produtividade (BYBEE,
1995), isto é, a probabilidade de um padrão se aplicar a novos itens. Se um determinado
padrão for muito freqüente, este se tornará mais forte, mais produtivo e terá mais
possibilidades de se estender a novos itens:
Productivity is the extent to which a pattern is likely to apply to new forms
(e.g. borrowed items or novel formations). It appears that the productivity
of a pattern, expressed in a schema, is largely, though not entirely,
determined by its type frequency: the more items encompassed by a
schema, the stronger it is, and the more available it is for application to new
items (BYBEE, 2001, p. 12-13).
Palavras com estruturas menos freqüentes são mais propícias a mudanças por
nivelamento analógico, dessa forma, podem se regularizar. Estas teriam uma representação
mental mais fraca e, por esta razão, seriam mais favoráveis à regularização. Por outro lado, as
palavras irregulares freqüentes teriam uma representação mental fortalecida e, com isso,
seriam mais resistentes às mudanças por regularização. Os exemplares mais freqüentes
tornam-se robustos, ou seja, mais fortalecidos e mais resistentes às mudanças por
regularização (BYBEE, 2001).
Portanto, para a Fonologia de Uso, as mudanças sonoras são lexicalmente
graduais e gerenciadas pela freqüência de uso. A freqüência de uso tem papel fundamental no
gerenciamento do léxico. Os afixos e sufixos freqüentes, por exemplo, têm esquemas mais
produtivos e podem ser mais usados pelo falante quando este precisar criar um neologismo.
Ainda, segundo Bybee (2001), as palavras são armazenadas
inteiras
de acordo
com similaridades fonéticas, fonológicas e/ ou semânticas. Os padrões mais freqüentes têm
esquemas mais fortalecidos e, por isso, são mais propícios a se aplicarem a palavras menos
freqüentes. Quanto mais um esquema for acessado, mais forte este se tornará.
Conforme mencionamos, a Fonologia de Uso também incorporou a Teoria de
Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001). A Teoria de Exemplares foi formulada por
Johnson; Mullenix (1997) e desenvolvida por Pierrehumbert (2001, 2003). Apresentaremos a
Teoria de Exemplares segundo Pierrehumbert (2001, 2003).
De acordo com o modelo de exemplares, cada palavra tem uma representação na
memória feita por uma nuvem de ocorrências (tokens). Essas ocorrências estão organizadas
em um mapa cognitivo, em que ocorrências mais similares têm uma proximidade maior do
que ocorrências menos similares. Os exemplares contêm informações lingüísticas e não-
lingüísticas e são organizados por redes (PIERREHUMBERT, 2001). A FIG. 1, a seguir,
ilustra a organização de exemplares (BYBEE, 2001, p. 52):
FIGURA 1: Nuvem de exemplares
As categorias mais freqüentes são representadas por um número de ocorrências
maior do que as categorias menos freqüentes. Uma pessoa armazena, com o passar do tempo,
uma determinada quantidade de ocorrências de palavras, baseando-se em sua experiência de
uso. A Teoria de Exemplares pressupõe que as memórias recentes são mais fortes do que as
armazenadas, por exemplo, há uma década. Dessa maneira, as ocorrências de memórias mais
antigas podem enfraquecer-se com o passar do tempo.
Quando uma nova produção fonética de uma palavra for ouvida, esta será
armazenada de acordo com sua similaridade em relação às ocorrências de exemplares
estocados. Logo, a nova ocorrência será avaliada, provavelmente, através de uma comparação
feita com os exemplares similares armazenados. Assim, os exemplares estocados
influenciarão na categorização do novo exemplar.
O GRAF. 1 que é apresentado a seguir ilustra a categorização de um exemplar
vocálico . Neste gráfico, a força de ativação encontra-se no eixo das abscissas, e o formante
F2 encontra-se no eixo das ordenadas. Os exemplares da vogal /
ϯ
/ estão representados por
linhas pontilhadas, e os exemplares da vogal /
گ
/ estão representados por linhas contínuas. A
flecha apontando em duplo sentido indica o espaço em que está ocorrendo a comparação dos
exemplares. O exemplar em avaliação está na direção indicada por um asterisco nessa flecha,
na região em que proximidade tanto de exemplares da vogal /
ϯ
/ quanto de exemplares da
vogal /
گ
/. Tipicamente, os exemplares de /
گ
/ têm valores, para F2, mais altos do que os
valores de F2 de /
ϯ
/. Porém, o exemplar em questão que é representado por um asterisco,
apresenta valor de F2 mais alto, típico de /
گ
/. Este fato ilustra uma categorização, em que o
exemplar analisado apresenta tanto características de /
ϯ
/ quanto de /
گ
/. Possivelmente, isso
decorre de diferenças entre, por exemplo, falantes, dialetos, gêneros, idades, dentre outros
fatores
8
. No espaço em que a comparação está sendo realizada, mais exemplares para a
vogal /گ/ do que para a vogal /ϯ/. Alguns exemplares da vogal /گ/ têm força de ativação mais
alta do que os exemplares de /ϯ/. O exemplar em avaliação é categorizado como /گ/, porque
esta vogal apresentou maior quantidade de semelhanças fonéticas à vogal . /گ/.
GRÁFICO 1: Avaliação de exemplares
Fonte: Pierrehumbert (2001, p. 5)
8
Este exemplo restringe os parâmetros fonéticos ao formante F2. É importante ressaltar que modelo de
exemplares considera uma série parâmetros fonéticos e não lingüísticos .
Como podemos notar no caso do GRAF. 1 discutido acima, a Teoria de
Exemplares permite formalizar o conhecimento fonético detalhado que os falantes nativos têm
sobre suas línguas. Este conhecimento é obtido mediante a aquisição de experiências de uso
da língua (PIERREBUMBERT, 2001, 2002).
Apresentaremos brevemente, para exemplificar, dois trabalhos interessantes que
utilizam os modelos multi-representacionais em suas análises: Guimarães (2004) e Campos
(2005). O primeiro, Guimarães (2004), trata de um caso de variação sonora motivada
foneticamente e o segundo, Campos (2005), avalia um caso de variação sonora sem
motivação fonética.
Guimarães (2004) estuda a variação sonora em seqüências de. (sibilante + africada
alveopalatal) no dialeto de Belo Horizonte. Esta variação envolve dois fenômenos: a)
palatalização da sibilante em posição pós-vocálica seguida de africada alveopalatal: tϯstЀگ ~
ϯЀtЀگ; b) o cancelamento da africada em seqüências de (sibilante + africada alveopalatal: tϯЀtЀگ
~ tϯЀگ. Os resultados de sua análise indicam que os itens mais freqüentes favorecem o
cancelamento da africada, enquanto que os itens menos freqüentes desfavorecem, o que
corrobora a proposta de que as palavras mais freqüentes são as primeiras a serem afetadas em
casos de variabilidades sonoras foneticamente motivadas (PHILIPS, 1984; BYBEE, 2001). .
Campos (2005) avalia casos de abertura vocálica de vogais médias posteriores
de formas verbais de primeira e segunda pessoas no dialeto de Belo Horizonte: co[o]locar>
eu/ele col[ѐ]ca; averm[e]lhar> eu/ele averm[ϯ]lha. Em sua análise, Campos (2005) mostra a
relevância do efeito da freqüência de ocorrência e de tipo. O autor observa que os verbos com
baixa freqüência de ocorrência apresentaram maior índice de aberturas vocálicas, o que
corrobora a proposta de que as palavras menos freqüentes são afetadas primeiro em casos de
variação sonoras sem condicionamento fonético (PHILIPS, 1984; BYBEE, 2001).
É preciso dizer, ainda, que os modelos multi-representacionais discutidos acima
demonstram algumas limitações, como, por exemplo, não apresentar um recurso para
mensurar, de modo mais preciso, o nível de familiaridade do indivíduo com as palavras.
Podemos afirmar que, até o presente momento, não é nos possível determinar a freqüência de
uso de experiências individuais, porém sabemos que há palavras de uso raro na língua que são
muito utilizadas por determinados indivíduos. Por outro lado, há palavras que apresentam alta
freqüência de ocorrência, mas que não fazem parte da experiência de uso de alguns
indivíduos. Este fato nos leva a concluir que as freqüências de ocorrência e de tipo podem
apresentar diferentes índices de indivíduo para indivíduo, apesar de não dispormos ainda de
um recurso para avaliar isso de forma mais acurada.
Uma outra limitação que vale ser mencionada é o fato de não possuirmos corpora
de todas as comunidades de fala, o que restringe a avaliação da freqüência de palavras para a
língua como um todo. Contudo, apesar dessas limitações, podemos perceber, pelo exposto
acima, que a Fonologia de Uso e a Teoria de Exemplares são modelos que apresentam noções
interessantes sobre o papel da freqüência de uso na organização do conhecimento lingüístico
do falante.
2.4 Comentários finais
Este capítulo avaliou a questão da freqüência, apresentando trabalhos que
observaram o papel desta na língua Shuchardt (1885), Bakker (1968), Fidelholtz (1975),
Phillips (1984), Biderman (1998), Albano (1999), Brown (1999), Cristófaro-Silva; Oliveira
(2002) e discutindo modelos multi-representaionais: Fonologia de Uso (BYBEE, 2001) e
Teoria de Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001). A Fonologia de Uso e a Teoria de
Exemplares são os principais referenciais teóricos adotados nesta dissertação. Esses modelos
propõem que a freqüência tem um papel importante na percepção e na produção da fala. O
próximo capítulo descreve os procedimentos metodológicos adotados nesta dissertação.
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA
3.0 Introdução
Este capítulo descreve os procedimentos metodológicos adotados na coleta de
dados desta pesquisa, cujo objetivo central é o de investigar a alternância de vogais médias
posteriores, em posição tônica, em formas nominais de plural, no português de Belo
Horizonte. A primeira parte trata da organização do material a ser utilizado na coleta de dados
desta pesquisa. A segunda parte aponta como se deu a seleção dos informantes, a coleta e
organização dos dados. A terceira parte indica as variáveis que foram utilizadas na análise
estatística desta pesquisa. A parte final faz um breve resumo do capítulo.
3.1 Preparação de material para análise
Devido à dificuldade de obtermos, espontaneamente, dos falantes, a produção de
palavras pouco freqüentes contendo vogais médias posteriores, em posição tônica, em formas
nominais de plural, optamos pela gravação de um teste de leitura.
Para organizarmos o
material a ser gravado, o primeiro passo foi de observar os casos possíveis de formas
nominais com vogais médias posteriores em posição tônica e suas respectivas formas de
plural. Conforme descrito e discutido no capítulo 1 (seção 1.2), três casos de formas
nominais que se relacionam com o nosso objeto de estudo, sendo que tais casos são
apresentados novamente a seguir:
(1) CASO A (
timbre aberto)
: palavras que apresentam a vogal tônica
com timbre aberto tanto nas formas de singular, como nas formas
de plural. Ex.: cѐpo ('copo') e cѐpos ('copos');
(2) CASO B (
timbre fechado)
: palavras que apresentam a vogal
tônica com timbre fechado tanto nas formas de singular, como nas
formas de plural. Ex.: sogro ('sogro') e sogros ('sogros');
(3) CASO C (
timbre alternante)
: palavras que apresentam a vogal
tônica com timbre fechado nas formas de singular e a vogal tônica
com timbre aberto nas formas de plural. Ex.: povo ('povo') e
pѐvos ('povos').
Em síntese, podemos dizer que há as seguintes combinações de timbres de acordo
com os três casos apresentados acima: CASO 1
timbre aberto (singular), timbre aberto
(plural); CASO 2
timbre fechado (singular), timbre fechado (plural); CASO 3
timbre
fechado (singular), timbre aberto (plural). Relembramos que não se atesta, no português, uma
forma nominal, que apresente uma vogal tônica com timbre aberto na forma de singular e uma
vogal tônica com timbre fechado na forma de plural. Esta possibilidade é, portanto, excluída
dos grupos de formas nominais listados acima.
A partir dos três grupos de formas nominais de plural listados anteriormente, foi
feito um levantamento para selecionarmos as palavras para análise. Tal levantamento foi
realizado nos dados do Corpus do LAELhttp://lael.pucsp.br/corpora/index.htm – que consta
de 230 milhões de palavras, em sua versão cedida para o Projeto ASPA.
9
Uma ampla
descrição do Corpus do LAEL pode ser obtida em SARDINHA (2004).
As formas de plural selecionadas do Corpus do LAEL foram agrupadas como
mais freqüentes e menos freqüentes a partir de suas respectivas freqüências de ocorrência.
Adotamos o seguinte procedimento metodológico para classificarmos as palavras quanto à
freqüência de ocorrência: consideramos mais freqüentes as palavras cujas freqüências de
ocorrência foram superiores a 800 e consideramos como palavras menos freqüentes aquelas
cujas freqüências de ocorrência foram inferiores a 200, nos dados do sub-corpus completo de
escrita do LAEL. Tal procedimento visa definir um corte, de certa maneira aleatório, entre as
palavras do Corpus do LAEL. Entendemos que a lacuna de 600 unidades na contagem da
freqüência de ocorrência define um espaço significativo de freqüência entre grupos de
palavras distintos (acima de 800 ou abaixo de 200 ocorrências num corpus específico).
De posse da lista de palavras que apresentam vogal média posterior em posição
tônica em formas nominais de plural, fizemos uma consulta com relação à pronúncia esperada
para tais palavras. A forma ortográfica das palavras que estamos investigando, nesta pesquisa,
não oferece nenhuma pista com relação à sua pronúncia. Isto é, as grafias de ‘copos’,
‘sogros’, ‘povos’ não assegura ao leitor se a vogal média tônica deve ser pronunciada com
timbre aberto ou fechado.
Estamos cientes de que controvérsias entre autores diferentes com relação à
pronúncia das vogais em formas nominais de nosso objeto de estudo (ALVES, 1999). Para
efeito de sistematicidade, consultamos as pronúncias esperadas de acordo com o Dicionário
Aurélio (FERREIRA, 1975; FERREIRA; ANJOS, 2001) .
10
A partir da caracterização das
9
O Projeto ASPA está disponível em <www.projetoaspa.org> , acesso em fev. 2006.
10
Outros dicionários podem apresentar divergências de pronúncia em relação à abertura da vogal tônica das
formas de plural.
pronúncias das vogais médias posteriores nas formas de plural se abertas ou fechadas
organizamos os dados a serem coletados. A organização foi baseada na pronúncia esperada
para a vogal média posterior na forma de plural e sua respectiva freqüência de ocorrência. Os
dados foram agrupados de acordo com a TAB. 1:
TABELA 1: Freqüências de ocorrência
Itens mais freqüentes
Itens menos freqüentes
Caso Itens
Freq. de ocorrência
orrência
Itens
Freq. de ocorrência
1 copos 1224 13 torcicolos 21
2 solos 1166 14 cloros 1
3 votos 34867 15 flocos 171
CASO A
(aberto)
ѐ
ѐ
4 blocos 4443 16 meteoros 143
5 esgotos 898 17 lodos 21
6 rostos 1246 18 rebocos 4
7 lobos 2725 19 esposos 30
CASO B
(fechado)
o
o
8 pilotos 7185 20 sogros 88
9 corpos 9697 21 rogos 12
10 mortos 23369 22 coros 177
11 olhos 17291 23 caroços 65
CASO C
(alternante)
o
ѐ
12 povos 3751 24 miolos 119
Os dados da TAB. 1 estão divididos em dois grandes grupos indicados na primeira
linha: palavras mais freqüentes e palavras menos freqüentes. A coluna mais a esquerda lista
cada um dos três casos possíveis de registro de vogal média posterior tônica em formas
nominais de plural: a vogal será sempre aberta no CASO A, a vogal será sempre fechada no
CASO B e a vogal que é fechada na forma singular passa a ser aberta na forma de plural, no
CASO C. Para efeito de melhor visualização da tabela e separação dos três casos, optamos
por salientar o CASO B em negrito na tabela 1. Para cada um destes três casos, foi
selecionado um conjunto de 8 palavras sendo 4 destas classificadas como mais freqüentes e
outras 4 classificadas como menos freqüentes, de acordo com a consulta feita ao corpus do
LAEL. No total, foi selecionado um conjunto de 24 palavras (Cf. TAB. 1) que foram testadas
no texto utilizado na coleta dos dados.
Conforme mencionado anteriormente, a principal razão em se utilizar a leitura de
um texto diz respeito ao fato de ser difícil obter dados com as palavras de baixa freqüência na
fala espontânea. Ou seja, palavras, como, ‘cloros’, ‘rebocos’, ‘rogos’, dificilmente, seriam
produzidas, mesmo com tentativas de indução numa entrevista direcionada, mas com o caráter
de fala espontânea. O fato de que a ortografia não oferece pistas para se inferir o timbre da
vogal média posterior tônica nos ofereceu condições de testar as pronúncias escolhidas pelos
falantes em condição de teste de leitura.
Escrevemos um texto que continha todas as 24 palavras selecionadas para a
pesquisa (Cf. TAB. 1). Cada palavra selecionada ocorreu apenas uma única vez no texto.
Apresentamos, a seguir, uma versão do texto escrito que indica as palavras em investigação,
salientadas em cinza:
Observações sobre o mundo animal
Foi realizado um estudo comparativo dos macacos com os lobos, devido a
algumas semelhanças físicas entre as duas espécies. Foi observado que vários membros
das duas espécies tinham problemas de audição. Contudo, a investigação iniciou com
uma análise comparativa dos rostos. Depois mediram a distância entre os olhos. Além
destas semelhanças físicas, observaram que as duas espécies sempre se alimentavam de
caroços de frutos. Em algumas épocas do ano, também se alimentavam de flocos
encontrados na natureza em espécies herbívoras. Nas espécies carnívoras, estes animais
se alimentam dos miolos de cadáveres de animais e de partes da região abdominal. Os
esposos são sempre aqueles que vão em busca de alimentos.
Baseando-se no conhecimento do comportamento das duas espécies, foi feito
um estudo com as comunidades vizinhas. Observou-se que nas comunidades que vivem
próximas a estes animais, os rituais de enterro são muito solenes. Os povos destas
comunidades iniciam o ritual com rogos de longa vida. Depois salpicam cloros nos
caixões, enfeitam uma sala com flores e fotografias do falecido. Quando terminam de
preparar o ambiente, estes colocam os corpos nos caixões e os enfeitam com flores e com
um véu produzido na região. Fazem a despedida aos mortos. Enterram os falecidos em
solos férteis e os cobrem. Esperam que neste local floresça uma linda floresta. Com o
passar dos anos foi observado que florestas surgiram nestes locais e é aí que habitaram os
animais em estudo. Estes animais adoram caminhar em lodos. Nas vilas e pequenas
cidades que se formaram em regiões próximas desta floresta, não há rebocos em nenhuma
casa. A qualidade de vida é muito precária, pois até os esgotos ficam a céu aberto. Além
disto, muitos casais moravam com os pais ou sogros. Observaram que os animais e os
homens desta região sofriam torcicolos muito semelhantes. Os cientistas resolveram
então estudar a relação da comunidade local e a animal. A pesquisa constou de exame de
animais por pilotos de avião e que sobrevoaram a área. Estes se dividiam em vários
blocos. Eles tinham canetas e fichas de anotação.Todos registraram seus votos de
identificação dos animais. Observou-se que ao longo das florestas havia meteoros
espalhados por toda região. As pessoas das comunidades nem sempre tomavam água em
copos, às vezes bebiam água nos rios como estes animais faziam. Um fato que chamou a
atenção é que moradores de todas as idades cantavam muito bem e quase todos
participavam de coros das igrejas vizinhas.
A versão desse texto apresentada aos participantes (ver ANEXO A), durante a
leitura, não destacou as palavras, como é feito acima, utilizando-se a cor cinza. A próxima
seção apresenta os critérios de seleção dos participantes da pesquisa.
3.2 Seleção de participantes e coleta dos dados
O corpus desta pesquisa consta da elicitação de dados de 24 participantes
voluntários. Todos os participantes são naturais e moradores permanentes da cidade Belo
Horizonte MG
11
.. A seleção de participantes foi organizada de acordo com os seguintes
critérios:
a) gênero – selecionamos participantes para cada gênero:
1- gênero masculino 12 participantes;
2- gênero feminino
12 participantes;
b) faixa etária – dividimos os participantes em três faixas etárias:
1- jovens (entre 18 e 29 anos)
8 participantes;
2- medianos (entre 30 e 49 anos)
8 participantes;
3- mais velhos (acima de 50 anos)
8 participantes;
c) escolaridade – selecionamos dois níveis de escolaridade:
11
Informações sobre Belo Horizonte podem ser obtidas em http://www.pbh.gov.com, acesso em jun. 2004.
1- não-universitários
12 participantes com nível de escolaridade até a oitava
série do primeiro grau (ensino fundamental);
2- universitários
12 participantes graduandos ou graduados do Ensino
Superior.
Os critérios gênero, faixa etária e escolaridade serão considerados, porque
observamos que fatores sociais podem influenciar casos de variação sonora (LABOV, 1972).
Por exemplo, alguns estudos mostram que as mulheres usam menos formas estigmatizadas,
são mais conservadoras da ngua padrão, mas lideram mais as mudanças de prestígio do que
os homens (LABOV, 1972, 2001; CHAMBERS, 1995). Com isso, como se pode perceber,
adotamos aspectos da sociolingüística. Desta forma, pretendemos verificar se os parâmetros
gênero, idade e escolaridade interferem no caso em estudo. Em anexo, encontra-se uma tabela
que apresenta informações detalhadas relativas a cada um dos 24 participantes (ANEXO B)
que, aqui, serão denominados de P1(Participante 1) a P24 (Participante 24).
Os participantes não foram informados sobre o principal objetivo deste estudo,
sendo que a pesquisadora lhes disse apenas que esta seria uma pesquisa sobre análise sonora
acústica de dados gravados da fala de belo-horizontinos nativos. Explicamos a todos que
precisávamos de participantes que fossem moradores naturais e permanentes em Belo
Horizonte. Pedimo-lhes que viessem gravar na cabine acústica do Laboratório de Fonética da
Faculdade de Letras da UFMG (LABFON UFMG), a fim de evitar possíveis ruídos no
material gravado em áudio. Porém alguns participantes não puderam ir ao laboratório e,
nestes casos, a coleta de dados foi realizada em diferentes locais: uma sala de aula no Centro
Pedagógico – UFMG, a residência da pesquisadora, CEA UFMG e uma sala de reuniões da
FALE UFMG. Para a gravação dos dados, utilizou-se um gravador digital DAT (digital
audio tape), da marca Sony. Os dados gravados foram copiados para CD. As gravações foram
realizadas entre maio e julho de 2005.
Os dados editados foram transcritos a partir de uma análise auditiva das vogais
médias posteriores tônicas das palavras selecionadas para esta pesquisa. A análise auditiva foi
feita pela pesquisadora desta dissertação. As vogais médias tônicas posteriores das palavras
em análise foram classificadas em abertas ou fechadas e, quando o foi possível identificar
categoricamente o timbre da vogal, se aberta ou fechada, a vogal em questão foi classificada
como 'dúvida de timbre'.
O conjunto total de dados coletados para esta pesquisa consiste de 24 palavras
gravadas por 24 participantes, o que totalizaria 576 dados. No entanto, 19 dados não foram
computados na análise devido às seguintes razões:
a. dois dados o foram lidos por participantes durante a leitura do
texto: rogos (por P21) e lodos (por P23);
b. quatro dados foram pronunciados com qualidade vocálica duvidosa
do timbre (aberta ou fechada): caroços e lobos (por P21); e rogos
(por P14 e P22).
c. treze dados foram pronunciados com o cancelamento da marca de
plural s, ou seja, foram pronunciados com a mesma pronúncia da
forma de singular: rebocos (por P5 e P21); povos (por P12, P19,
P21); torcicolos (por P12 e P13); pilotos (por P15); corpos (por
P15); caroços (por P16); votos (por P19); lobos (por P23) e corpos
(por P23).
Sendo assim, a análise a ser apresentada, nesta dissertação, conta com 557 dados.
Os 19 dados excluídos, conforme os critérios discutidos acima, se relacionam com os três
casos em estudo, nesta dissertação, da seguinte maneira:
1)
CASO A
(aberto)
3 dados. Foram eliminados da análise:
torcicolos (de P12 e P13), e votos (de P19);
2)
CASO B
(fechado)
6 dados. Foram eliminados da análise: lodos
(de P23), lobos (de P21 e P23), rebocos (de P5 e P23), pilotos (de
P15);
3)
CASO C
(alternante)
9 dados. Foram eliminados da análise:
rogos (de P14, P21, P22), caroços (de P21, P16), povos (de P12,
P19, P21), corpos (de P15, P23).
Finalmente, vale dizer que, das 19 palavras que não foram lidas pelos
participantes, 9 foram classificadas como palavras mais freqüentes (corpos (de P15, P23),
votos (de P19), lobos (de P21 e P23), pilotos (de P15), povos (de P12, P19, P21)) e 10
palavras foram classificadas como menos freqüentes (torcicolos (de P12 e P13), lodos (de
P23), rebocos (de P5 e P23), rogos (de P14, P21, P22), caroços (de P21, P16)).
Os dados indicam que houve omissão de leitura de dados em todos os três casos
considerados. Contudo, os maiores índices de omissão de leitura foram atestados para os
casos B e C. Veremos, posteriormente, que os casos B e C são aqueles em que se observa
maior índice de variação das vogais médias posteriores tônicas em formas nominais de plural.
A próxima seção apresenta as variáveis utilizadas na análise dos dados.
3.3 Variáveis
As variáveis utilizadas nesta pesquisa foram: a) variável dependente, b) variáveis
estruturais e c) variáveis não-estruturais. Tais variáveis são tratadas a seguir.
a) Variável dependente
O caso em estudo trata da qualidade vocálica de vogais médias posteriores em
sílaba tônica de formas nominais de plural. Nestes casos, podem ocorrer vogais abertas ou
fechadas. Analisamos duas variantes :
- Variante 1 - vogal média posterior esperada;
- Variante 2 - vogal média posterior não-esperada.
b) Variáveis estruturais
As variáveis estruturais aqui consideradas foram: o item lexical e a freqüência de
ocorrência, apresentados abaixo:
a) item lexical: de acordo com Bybee (2001), a mudança afeta palavra
por palavra, gradualmente. Portanto, as palavras podem apresentar
diferentes índices de variação;
b) freqüência de ocorrência: as mudanças sonoras sem
condicionamento fonético afetam primeiro as palavras pouco
freqüentes, e as mudanças sonoras que têm condicionamento
fonético afetam primeiro as palavras mais freqüentes na língua
(BYBEE, 2001). O caso em estudo não tem condicionamento
fonético. Desta forma, temos a hipótese de que as palavras que
apresentarem qualidade vocálica não esperada em relação ao
timbre tônico são as menos freqüentes na língua.
C)
Variáveis não-estruturais
Como variáveis não-estruturais, consideramos, gênero, faixa etária, escolaridade
e indivíduo, os quais são tratados a seguir:
a) gênero – masculino ou feminino
alguns estudos indicam que
homens e mulheres têm comportamentos diferenciados em casos de
variação e mudança sonora (LABOV, 1972). Verificamos se um
destes gêneros poderia estar liderando a variação em estudo;
b) faixa etária comparamos três faixas etárias
a) entre 18 e 29
anos, b) entre 30 e 49 anos e c) acima de 50 anos. Analisamos se
haveria maior tendência à variação em alguma destas faixas etárias;
c) escolaridade avaliamos dois níveis de escolaridade
superior e
fundamental. Os participantes universitários são graduandos ou
graduados de cursos superiores (terceiro grau). Os participantes
não-universitários têm escolaridade até a oitava série do grau
(nível fundamental);
d) indivíduo os indivíduos podem ter comportamentos diferenciados
em casos de variação e mudanças lingüísticas (LABOV (2001)).
Esta seção apresentou as variáveis lingüísticas e extra-lingüísticas a serem
consideradas nesta dissertação. A seguir, apresentamos os comentários finais deste capítulo.
3.4 Comentários finais
Este capítulo apresentou os procedimentos adotados para a seleção dos dados, os
critérios de seleção de participantes e os parâmetros delineados para a análise estatística da
alternância de vogais médias posteriores em formas nominais de plural, no português de Belo
Horizonte. O próximo capítulo apresentará a análise e a discussão dos resultados obtidos.
CAPÍTULO 4
ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.0 Introdução
Este capítulo avalia os resultados obtidos a partir da coleta dos dados previamente
descritos no capítulo 3, nesta pesquisa, que considera a alternância de vogais médias
posteriores, o ~ ѐ, em posição tônica em formas nominais de plural. Um conjunto de 557
dados foi analisado a partir da coleta realizada com 24 participantes. Os fatores estruturais
analisados foram: o item lexical e a freqüência de ocorrência da palavra. Os fatores não-
estruturais avaliados foram: gênero, idade, escolaridade e indivíduo. Os dados coletados
foram submetidos a uma análise estatística que contou com a utilização do programa Minitab
for Windows, versão 13. O programa estatístico Minitab
12
é utilizado em rias áreas do
conhecimento, incluindo a Lingüística.
4.1 Apreciação geral dos dados
Um conjunto de 576 dados deveria ter sido obtido a partir dos dados de 24
palavras coletadas com 24 informantes. Contudo, um grupo de 19 itens não foi considerado
12
Informações sobre o programa Minitab estão disponíveis em <www.minitab>.com.br acesso em nov.2005
(Cf. capítulo 3), e os dados finais a serem analisados representam 557 itens. A tabela abaixo
ilustra esta distribuição:
TABELA 2
Apreciação geral dos resultados obtidos
Resultados Dados Porcentagem
Dados a serem analisados 557 96,7 %
Dados excluídos 19 3,3 %
Total 576 100 %
Os 19 dados excluídos podem ser assim resumidos:
TABELA 3
Dados excluídos
Tipos de dados excluídos Dados Porcentagem
Qualidade vocálica duvidosa 4 0,69 %
Cancelamento da marca de plural -s 13 2,26 %
Dados não pronunciados 2 0,35 %
Total 19 3,3 %
Do conjunto de dados a serem analisados nesta pesquisa, pode-se observar a
seguinte distribuição com relação às formas esperadas e não-esperadas para as vogais médias
posteriores em formas nominais de plural:
TABELA 4
Dados esperados e não-esperados
Resultados Dados Porcentagem
Qualidade vocálica esperada 482 86,53 %
Qualidade vocálica não-esperada 75 13,47 %
Total 557 100 %
A grande maioria das formas nominais de plural apresentou a qualidade vocálica
esperada em posição tônica para a vogal média posterior (86,53 %). Como se pode observar
na tabela que se segue, os 75 casos de qualidade vocálica não-esperada nas formas nominais
de plural, que representam 13,47 % do total de dados, concentram-se nos casos específicos
ou seja, casos B e C – de formação de plural:
TABELA 5
Vogais não-esperadas em casos específicos de formas nominais de plural
Tipos de timbre das vogais não
Esperadas Dados Porcentagem
CASO A (vogal sempre aberta)
Ex.: (c
ѐ
po, c
ѐ
pos)
188/0 0 %
CASO B (vogal sempre fechada)
Ex.: (sogro, sogros)
186/11 5,91 %
CASO C (vogal alternante)
Ex.: (coro, cѐros)
183/64 48, 76%
Chi-Square = 111,006; DF = 2; P-Value = 0,000
Os dados da TAB. 5 indicam que a grande maioria da ocorrência de vogais
tônicas não-esperadas em formas nominais de plural ocorreu no CASO C que agrupa formas
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Esperado Não esperado
Nº de dados
a
b
c
que apresentam alternância de qualidade vocálica, de fechada para aberta, respectivamente, do
singular para o plural (48,76 %). O CASO B, que agrupa vogais fechadas tanto nas formas de
singular quanto de plural, apresentou 5,91 % de casos de vogais não-esperadas. nos casos
de A, não se observou nenhuma vogal não-esperada, ou seja, quando a vogal aberta ocorre nas
formas de singular, a forma de plural sempre terá uma vogal aberta: cѐpo/ cѐpos. Podemos
resumir tais resultados, como:
GRÁFICO 2 – Apreciação geral dos dados
Acreditamos ser importante avaliar a motivação para as formas nominais de plural
do CASO C por representar a grande maioria dos casos não-esperados. Portanto,
verificaremos a hipótese de que as palavras do CASO C apresentam a vogal não-esperada em
maior número, em palavras pouco freqüentes, devido à falta de chances dos falantes de
aprenderem a forma esperada da vogal. Isto decorre da proposta de Phillips (1984, 2001) e
Bybee (2001) de que as formas pouco freqüentes numa língua que estejam sujeitas às
mudanças sonoras sem motivação fonética apresentarão a mudança em grau acentuado (com
relação às palavras de uso mais freqüente).
Considerando-se que os dados do CASO A não apresentam nenhum caso de vogal
não-esperada, tais dados serão desconsiderados a partir deste momento, na análise. Vale
ressaltar que os casos de A expressam um alto grau de generalização na morfologia nominal,
sendo que os nomes que tenham uma vogal média posterior aberta em posição tônica na
forma singular devem, sistemática e categoricamente, apresentar uma vogal com o mesmo
grau de abertura nas formas de plural. Avaliaremos os casos de B e C separadamente, o que
representa 369 (62,24 %) ocorrências do total de dados analisados: 186 dados do CASO B e
183 dados do CASO C.
4. 2 Análise das formas de plural do CASO B
4.2.1 Análise dos fatores não-estruturais do CASO B
Avaliamos os seguintes fatores não-estruturais: a) gênero, b) idade, c)
escolaridade e d) indivíduo. A discussão de cada um destes fatores será apresentada a seguir.
4- Fator gênero no CASO B
A TAB. 6, apresentada abaixo, indica os resultados obtidos referentes ao gênero:
TABELA 6
O fator gênero no CASO B
Gênero N Pronúncias não-esperadas ( % )
Feminino 92/2 2,17 %
Masculino
94/9 9,57 %
Chi-square = 4,576; DF = 1; P-Value= 0,032.
Os participantes do gênero feminino apresentaram 2,17 % de casos de qualidade
vocálica não-esperada em contraste com 9,57 % dos participantes do gênero masculino. Ou
seja, os participantes do gênero masculino mostraram um índice maior de qualidade vocálica
não-esperada no CASO B e este valor foi significativo (P < 0,05). Contudo, consideramos que
o número de participantes avaliados é, relativamente, pequeno para afirmarmos,
definitivamente, que os falantes de gênero masculino lideram esta mudança. Trabalhos
futuros, com maior número de participantes, poderão avaliar este aspecto.
b) Fator idade no CASO B
A TAB. 7, a seguir, apresenta os resultados obtidos referentes às três faixas
etárias: a) jovens (18 a 29 anos); b) medianos (30 a 49 anos); c) mais velhos (acima de 50
anos).
TABELA 7
Fator idade no CASO B
Participantes Dados Pronúncias não-esperadas
Jovens 63/4 6,35 %
Medianos 63/3 4,76 %
Mais velhos 60/4 6,67 %
Chi-square= 0,466; DF= 1; P-Value= 0,495.
Os resultados em relação ao fator idade não oferecem evidência de que ocorra
influência do fator idade, pois os percentuais são baixos e semelhantes para todos os grupos
etários (P> 0,05). Estes indícios preliminares indicaram que as variações sonoras encontradas
no CASO B não refletem uma mudança em progresso, pois, em uma mudança em progresso,
deveríamos encontrar uma redução progressiva de variação sonora com o aumento da idade
dos participantes (LABOV, 1994). O maior índice de pronúncias não-esperadas encontrado
foi o referente aos participantes mais velhos (6,67 %), e este valor foi semelhante aos
resultados dos participantes mais jovens (6,35 %). Indícios da influência do fator etário
devem ser buscados em pesquisas futuras.
c) Escolaridade no CASO B
O fator escolaridade foi considerado de acordo com dois grupos: a) não
universitários (até a oitava série) e b) universitários (graduandos ou graduados). A TAB. 8
apresenta os resultados obtidos.
TABELA 8
Fator escolaridade no CASO B
Grau de instrução N Pronúncias não-
esperadas
Não universitários 83/6 7,23 %
Universitários 103/5 4,85 %
Chi-square = 0,466; DF = 1; P-Value= 0,495.
Apesar de os participantes não-universitários apresentarem um maior percentual
de variação, não podemos afirmar que eles estão liderando a mudança, porque os percentuais
não foram significativos (P = 0,495). A diferença percentual observada entre os dois grupos é,
relativamente, pequena e não oferece resultados conclusivos. Trabalhos futuros poderão
avaliar a relação da escolaridade com a implementação do fenômeno analisado.
d) Fator indivíduo no CASO B
Avaliamos o efeito do indivíduo em relação à quantidade de pronúncias não-
esperadas do CASO B. A TAB. 9, a seguir, apresenta os resultados de todos os indivíduos,
além dos fatores, gênero, idade e escolaridade de cada participante avaliado, e destaca, em
negrito, os indivíduos que apresentaram maior índice de pronúncias não-esperadas.
TABELA 9
Efeito do indivíduo no CASO B
Participante Gênero Faixa etária Escolaridade Esperada Não-esperada Total
P1 M 1 U 8 0 8
P2 M 1 U 7 1 8
P3 F 1 U 8 0 8
P4 F 1 U 8 0 8
P5 M 2 U 7 0 7
P6 M 2 U 5 3 8
P7 F 2 U 8 0 8
P8 F 2 U 8 0 8
P9 M 3 U 7 1 8
P10 M 3 U 8 0 8
P11 F 3 U 8 0 8
P12 F 3 U 8 0 8
P13 M 1 F 8 0 8
P14 M 1 F 6 2 8
P15 F 1 F 6 1 7
P16 F 1 F 8 0 8
P17 M 2 F 8 0 8
P18 M 2 F 8 0 8
P19 F 2 F 8 0 8
P20 F 2 F 8 0 8
P21 M 3 F 5 2 7
P22 M 3 F 8 0 8
P23 F 3 F 5 0 5
P24 F 3 F 7 1 8
A maior parte dos participantes não apresentou qualidade vocálica não-esperada
nas formas nominais de plural do CASO B
13
. Apenas 29,16 % dos indivíduos, ou seja, sete
participantes (P2, P6, P9, P14, P15, P21 e P24) apresentaram pronúncias não-esperadas no
CASO B. Os participantes que apresentaram mais pronúncias não-esperadas foram: P14 e P21
13
É interessante observar que a maior parte dos dados eliminados da análise foi realizada pelos participantes P21
e P23. Em relação ao caso B, foram eliminados: lobos, lodos de P23 e lobos, rebocos de P21, por razões
previamente descritas no capítulo 3 (Cf. seção. 3.2).
(duas pronúncias não-esperadas) e P6 (que apresentou o maior número de pronúncias não-
esperadas 3 dos 8 itens analisados para o CASO B). Todos estes três participantes (P6, P14
e P21) são do gênero masculino, porém apresentaram diferenças quanto aos fatores
escolaridade e idade. De maneira geral, nenhum dos participantes partilhou das três
características não-estruturais investigadas: gênero, idade, escolaridade. Ou seja, não
indícios de que falantes de um grupo particular apresentem maior índice de vogais não-
esperadas no CASO B.
O efeito do indivíduo, avaliado para o CASO B, indica que um grupo de
participantes que não apresentou nenhum caso de vogal não-esperada (17 dos 24
participantes). o grupo dos 7 participantes que apresentaram uma vogal não-esperada,
aqueles que tiveram apenas um único caso de vogal não-esperada, e outros que tiveram mais
de um caso dessa.
4.2.2 Análise dos fatores estruturais do CASO B
Avaliamos os seguintes fatores estruturais quanto ao CASO B: a) freqüência de
ocorrência, b) item lexical. Apresentaremos cada um destes fatores a seguir.
a) Fator freqüência de ocorrência no CASO B
Para avaliarmos o fator freqüência de ocorrência, selecionamos dois subgrupos de
palavras: a) mais freqüentes e b) menos freqüentes. Observamos se o fator freqüência de
ocorrência influenciaria na ocorrência de vogais não-esperadas nas formas nominais de plural
do CASO B. A TAB. 10 que é apresentada a seguir mostra os resultados obtidos:
TABELA 10
Fator freqüência de ocorrência no CASO B
Itens N Pronúncias não-esperadas
Freqüentes 93/5 5,38 %
Infreqüentes 93/6 6,45 %
Chi-Square = 0,097; DF = 1; P-Value= 0,756
Os dados do CASO B, com relação às vogais não-esperadas em formas nominais,
totalizaram 11 ocorrências. Não houve evidência estatisticamente significativa de associação
entre os casos não-esperados e a freqüência de ocorrência (P = 0,756). Possivelmente, em
uma amostra maior, poderíamos encontrar generalizações mais claras sobre o efeito da
freqüência de ocorrência. Aparentemente, este grupo de palavras pode estar iniciando um
processo de alternância de qualidade vocálica em formas nominais de plural e, por isso, os
dados ainda são incipientes. Pesquisas futuras poderão trazer maiores contribuições para o
comportamento de nomes do CASO B.
b) Item léxico no CASO B
A TAB. 11 a seguir apresenta os resultados obtidos com relação ao item léxico:
TABELA 11
Fator item lexical no CASO B
Freqüentes Infreqüentes
Itens N % itens N %
esgotos 23/1 4,35 esposos 24/0 0
lobos 22/0 0 lodos 22/1 4,55
pilotos 22/1 4,55 rebocos 20/2 10
rostos 21/3 14,28 sogros 21/3 14,28
As palavras apresentaram comportamentos diferenciados em relação às
pronúncias das vogais médias posteriores tônicas. As palavras esposos' e 'lobos’ não
apresentaram nenhum caso de vogal não-esperada (0 %). O efeito de freqüência de ocorrência
parece não ser relevante no CASO B, uma vez que a palavra 'lobos’ foi classificada como
freqüente, e a palavra esposos' foi classificada como infreqüente. Por outro lado, as palavras
rostos' e 'sogros’ apresentaram três casos de vogal o-esperada em um conjunto de 24
dados. Também, neste caso, o efeito de freqüência de ocorrência parece não ser relevante,
uma vez que a palavra rostos' foi classificada como freqüente, e a palavra 'sogros’ foi
classificada como infreqüente.
De acordo com a hipótese formulada nesta pesquisa (Cf. INTRODUÇÃO), as
palavras menos freqüentes deveriam apresentar maior taxa de vogais não-esperadas do que as
palavras mais freqüentes. Este não foi o caso. Podemos ressaltar, entretanto, que as palavras
que apresentaram maior índice de vogais não-esperadas, rostos (14,28 %) e sogros (14,28%),
são de uso doméstico e podem, possivelmente, ser avaliadas pelo fator familiaridade
14
.
Trabalhos futuros poderão considerar os efeitos de familiaridade do item lexical neste grupo
de plural de formas nominais.
Com relação ao CASO B, podemos fazer as seguintes generalizações. um
número pequeno de ocorrência de vogais não-esperadas em posição tônica em formas
nominais de plural neste caso (186/11 = 5,91 % dos casos). Os fatores idade, escolaridade e
freqüência não mostraram indícios de contribuir para o desenvolvimento ou consolidação do
14
Conforme foi mencionado (Cf. seção 2.2), FIDELHOLTZ (1975), apesar de mencionar este termo, não
aprofundou sobre o que seria a familiaridade. Autores como Oliveira (1995) e Viegas (2001) também
mencionam o termo familiaridade em seus trabalhos. A análise do fator freqüência de ocorrência ainda apresenta
alguns problemas: a freqüência de um determinado item lexical varia de grupo para grupo, de indivíduo para
indivíduo. O fator familiaridade estaria relacionado ao fator freqüência que palavras que não são
freqüentes, mas que podem ser familiares aos falantes. Portanto, o fator familiaridade e sua relação com o fator
freqüência de ocorrência precisam ser mais esclarecidos e considerados, pois o fator familiaridade poderá trazer
contribuições à literatura.
fenômeno em análise. Ao final deste capítulo, buscaremos avaliar este pequeno grupo de
formas não-esperadas do CASO B no contexto geral de todos os casos analisados nesta
pesquisa. A próxima seção analisa os resultados do CASO C.
4.3 Análise das formas de plural do CASO C
4.3.1 Análise dos fatores não-estruturais do CASO C
Avaliamos, para o CASO C, os seguintes fatores não-estruturais: a) gênero, b)
idade, c) escolaridade e d) indivíduo. A discussão de cada um desses fatores será apresentada
a seguir.
a) Fator gênero no CASO C
A TAB. 12, apresentada a seguir, indica os resultados obtidos referentes ao gênero
(masculino e feminino) no CASO C:
TABELA 12
Fator gênero no CASO C
Gênero N %
Feminino 93/34 36,56 %
Masculino 90/60 33,33 %
Chi-square= 0,0209 ; DF = 1 ; P-Value = 0,647.
O índice de alteração de qualidade vocálica encontrado para o nero
masculino foi 35,56 %, e o índice de alteração de qualidade vocálica encontrado para o gênero
feminino foi 33,33 %. Este valor não foi estatisticamente significativo (P = 0,647). Sendo
assim, não temos indícios de que o fator gênero atue na implementação do fenômeno em
análise.
b) Fator idade no CASO C
Avaliamos três faixas etárias, as quais denominamos: a) jovens (18 a 29 anos); b)
medianos (30 a 49 anos); c) mais velhos (acima de 50 anos). A TAB. 13, apresentada a seguir,
ilustra os resultados obtidos.
TABELA 13
Fator idade no CASO C
Faixa etária Dados Porcentagem
Jovens 59/26 44,07 %
Medianos 64/17 26,56 %
Mais velhos 60/21 35 %
Chi-square = 4,137 ; DF = 2 ; P-Value = 0,126.
Conforme a TAB. 13, os falantes mais jovens apresentaram o maior índice de
vogais não-esperadas (44, 07 %), seguidos pelos falantes mais velhos (35%), sendo que os
participantes da faixa etária mediana apresentaram um índice de 26,56% de vogais não-
esperadas nas formas nominais de plural. Estes valores não se mostraram estatisticamente
relevantes (P > 0,05). Podemos afirmar, de acordo com os dados analisados, que o fenômeno
em análise não se trata de um caso de mudança em progresso, por não haver correlato etário
do fenômeno.
c) Fator escolaridade no CASO C
Avaliamos dois níveis de escolaridade: não universitários e universitários. A
TAB. 14, a seguir, destaca os resultados obtidos de acordo com o fator escolaridade.
TABELA 14
Fator escolaridade no CASO C
Grau de instrução Dados Pronúncias não-esperadas
(%)
Não universitários 81/30 37,04 %
Universitários 102/34 33, 33 %
Chi-square = 0,102 ; DF = 1 ; P-Value = 0,749.
Os participantes universitários apresentaram um índice de 33,33 % de vogais
não-esperadas em formas nominais de plural, enquanto que os participantes não-universitários
apresentaram um índice de 37,04 % em dados do CASO C. Observa-se que os participantes
universitários apresentaram um menor número de pronúncias não-esperadas, porém estes
valores não foram estatisticamente significativos (P > 0,05).
d)
Fator indivíduo no CASO C
A maior parte (24/20 = 83,33%) dos indivíduos apresentou, pelo menos, uma
vogal não-esperada em formas nominais de plural do CASO C. Apenas os participantes P5,
P6, P20 e P24 não apresentaram formas de plural com vogais não-esperadas, e estes casos
estão destacados em negrito, na tabela de resultados que se segue
15
. Os resultados relativos a
cada um dos participantes são apresentados na TAB. 15:
15
Ressaltamos novamente que é interessante observar que a maior parte dos dados eliminados da análise foi
realizada pelos participantes P21 e P23. No que diz respeito ao CASO C, os dados rogos, caroços , povos de P21
e copos de P23 foram eliminados da análise por razões previamente descritas no capítulo 3 (Cf. seção 3.2)
TABELA 15
Efeito do indivíduo no CASO C
Participante Gênero
Faixa etária Escolaridade Esperada Não-esperada Total
P1 M 1 U 4 3 7
P2 M 1 U 6 2 8
P3 F 1 U 4 4 8
P4 F 1 U 4 4 8
P5 M 2 U 8 0 8
P6 M 2 U 8 0 8
P7 F 2 U 5 3 8
P8 F 2 U 4 4 8
P9 M 3 U 6 2 8
P10 M 3 U 4 4 8
P11 F 3 U 7 1 8
P12 F 3 U 4 4 8
P13 M 1 F 4 4 8
P14 M 1 F 4 3 7
P15 F 1 F 4 3 7
P16 F 1 F 3 4 7
P17 M 2 F 6 2 8
P18 M 2 F 4 4 8
P19 F 2 F 4 3 7
P20 F 2 F 8 0 8
P21 M 3 F 3 3 6
P22 M 3 F 4 3 7
P23 F 3 F 3 4 7
P24 F 3 F 8 0 8
Os participantes P5, P6, P20 e P24, que não apresentaram nenhum caso de vogal
não-esperada, apresentam idade superior a 30 anos. Três destes participantes se encontram na
faixa etária mediana (P5, P6, P20) e um deles (P24) se encontra na faixa etária dos mais
velhos. Um fato importante na avaliação do indivíduo é que a grande maioria apresentou mais
de um caso de vogal não-esperada em seu conjunto de dados, para o CASO C. Como veremos
a seguir, este fato se torna ainda mais interessante quando contrastado com o efeito de
freqüência lexical.
4.3.2 Análise dos fatores estruturais do CASO C
Os fatores estruturais avaliados são: a) freqüência de ocorrência e b) item lexical.
Apresentaremos cada um destes fatores a seguir.
a) Fator freqüência de ocorrência no CASO C
As palavras foram divididas em 2 grupos: 1) freqüentes e 2) infreqüentes. A TAB.
16, apresentada a seguir, indica os resultados referentes às vogais não-esperadas para o CASO
C quanto ao fator freqüência de ocorrência.
TABELA 16
Fator freqüência de ocorrência no CASO C
Freqüência N Pronúncias não-esperadas (%)
Freqüentes 92/3 3,26 %
Infreqüentes 91/61 67,03 %
Chi-square = 81,12; DF= 1; P-Value= 0,000.
As palavras mais freqüentes apresentaram um baixo índice de vogais não-
esperadas, ou seja, 3,26 %, quando contrastadas com as palavras menos freqüentes que
apresentaram um alto índice de vogais não-esperadas, ou seja, 67,03 % dos casos. Estes
resultados foram altamente significativos (P = 0,000) e oferecem sólidos indícios de que as
palavras menos freqüentes na língua são aquelas que apresentam o maior índice de vogais
não-esperadas nas formas nominais de plural. O GRAF. 3 ilustra estes resultados.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Esperado Não esperado
Nº de casos
Frequentes
Infrequentes
GRAFICO 3 – fator freqüência de ocorrência no CASO C
b) Fator item lexical no CASO C
A TAB. 17, apresentada a seguir, indica as palavras analisadas do CASO C com
suas respectivas taxas de vogal não-esperada.
TABELA 17
Fator item lexical no CASO C
Freqüentes Infreqüentes
Itens N % itens N %
Olhos 24/0 0 Coros 24/20 83,33
Corpos 22/0 0 Caroços 22/11 50,00
Mortos 24/0 0 Miolos 24/14 58,33
Povos 22/3 13,63 Rogos 21/16 76,19
Avaliando o fator item lexical, observamos que os itens lexicais apresentam
diferenças relevantes quanto aos resultados de vogais esperadas e não-esperadas. Todos os
itens infreqüentes foram relevantemente favorecedores às vogais não-esperadas. A palavra
coros foi o item lexical mais favorecedor às pronúncias não-esperadas (24/20 = 83,33 %), e os
itens, caroços, miolos e rogos também foram bastante favorecedores à ocorrência das vogais
não-esperadas. Já as palavras freqüentes, olhos, corpos, mortos e povos, mostraram um
comportamento bastante diferenciado das palavras infreqüentes. Isto porque somente a
palavra povos apresentou casos de vogais não-esperadas: 13,63 %. As demais palavras
freqüentes, olhos, corpos, mortos, não apresentaram nenhum caso de vogal não-esperada nas
formas nominais de plural.
Portanto, de maneira geral, observamos que os itens mais freqüentes apresentam
menor índice de vogais não-esperadas do que os itens menos freqüentes. No grupo de
palavras infreqüentes, os índices de ocorrência de vogal o-esperadas são bastante altos (
50 %) e mostraram comportamento diverso para cada item lexical. O GRAF. 4, a seguir,
ilustra os resultados do fator item lexical para o CASO C.
GRAFICO 4: fator item lexical no CASO C
Os resultados apresentados, nesta seção, indicam que as palavras menos
freqüentes apresentam índices muito maiores de vogais não-esperadas em formas nominais de
plural do que as palavras mais freqüentes. O fenômeno em investigação, nesta seção, implica
na alternância ou troca de uma vogal média aberta por uma vogal média fechada e reflete uma
mudança sonora sem motivação fonética. PHILLIPS (1984, 2001) sugere que, nos casos de
0
5
10
15
20
25
Não esperado
Nº de dados
c[O]ros
r[O]gos
mi[O]los
car[O]ço
p[O]vos
mudança sonora sem motivação fonética, as palavras menos freqüentes são atingidas primeiro
(Cf. BYBEE, 2001). Acredita-se que, dada a baixa freqüência de ocorrência destas palavras,
os falantes não têm fonte de aprendizado sólido em suas experiências para consolidarem
formas irregulares. Já as formas mais freqüentes são mais presentes na experiência dos
falantes e se consolidam com suas formas irregulares. O CASO C consiste de formas
irregulares, porque, neste grupo de palavras, ocorre uma vogal média fechada na forma de
singular e uma vogal média aberta na forma de plural (
o
lho/
ѐ
lhos). nos casos A e B, a
mesma vogal média é esperada em ambas as formas de singular e de plural (cѐpo/cѐpos;
sogro/sogros). Sendo assim, os resultados obtidos nesta pesquisa corroboram a proposta de
Phillips (1984, 2001) de que casos de mudança sonora sem motivação fonética afetam
primeiro as palavras menos freqüentes da língua e oferecem evidências favoráveis à hipótese
central formulada nesta pesquisa que tem natureza análoga à proposta de Phillips (1984). A
próxima seção discute os resultados gerais deste capítulo.
4.4 Comentários finais
Este capítulo apresentou uma análise da alternância de vogais médias posteriores
em posição tônica, em formas nominais de masculino no plural. Os dados analisados são de
material gravado com 24 indivíduos belo-horizontinos, elencando-se 24 itens lexicais para
cada um dos participantes. Analisamos os fatores o-estruturais, gênero, idade, escolaridade
e indivíduo e os fatores estruturais, freqüência de ocorrência e item lexical. Observamos que
os fatores não-estruturais (gênero, idade, escolaridade) não foram estatisticamente
significativos (com exceção do fator gênero nos dados do CASO B). Isto nos leva a formular
que o fenômeno em análise não tem correlato com parâmetros sociais.
Os efeitos do indivíduo e dos fatores freqüência de ocorrência e item lexical
foram relevantes na análise. Tal resultado sugere que o fenômeno em estudo tem forte
condicionamento lexical, demonstra ser implementado lexicalmente, em padrões de difusão
lexical (BYBEE, 2001) e que os indivíduos têm comportamentos diferenciados em relação às
pronúncias esperadas e não-esperadas do fenômeno em estudo.
Três casos de formas nominais de plural com uma vogal média posterior tônica
foram analisados. O CASO A compreende formas que apresentam uma vogal aberta nas
formas de singular e de plural: c
ѐ
po/c
ѐ
pos. Nestes casos, todas as formas de plural, ou seja,
100% dos casos testados, apresentaram a vogal esperada. Nos casos de A, além de se
preservar a mesma qualidade vocálica no singular e no plural, com uma vogal média posterior
aberta, os falantes contam, adicionalmente, com o fato de não ocorrer, em português, nenhum
caso em que a forma de singular apresenta uma vogal média posterior aberta, como, por
exemplo, v
ѐ
to, cuja forma de plural apresente uma vogal média posterior fechada: *v
o
tos.
Em outras palavras, o fato de não ocorrerem formas de plural com vogais não-esperadas no
CASO A reflete, sobretudo, uma generalização categórica da gramática do português
brasileiro.
O CASO B apresenta uma vogal fechada nas formas de singular e de plural:
s
o
gro/s
o
gros. Nestes casos, 5,91% dos dados analisados nesta pesquisa apresentaram uma
vogal não-esperada, ou seja, uma vogal aberta na forma de plural: sogro/sѐgros. Os resultados
para o CASO B não indicaram correlato com parâmetros sociais, como, idade e escolaridade.
O fator gênero, por ouro lado, mostrou que os participantes de gênero masculino
apresentaram valores significativos de pronúncias não-esperadas: 9,57 % (P > 0,05). Maiores
dados são necessários para se consolidar esta proposta. Os fatores freqüência, item lexical ou
o comportamento do indivíduo não se mostraram relevantes. Parece termos um caso em que
os falantes apresentam alterações em formas regulares, como conseqüência de um fenômeno
que afeta formas irregulares. Retomaremos esta possibilidade de interpretação após
avaliarmos os resultados para o CASO C.
Os resultados da análise do CASO C mostram que este grupo agrega a grande
maioria dos casos de ocorrência de vogais não-esperadas (48,76 %). Não foi observada a
influência de parâmetros sociais (gênero, idade, escolaridade) na implementação e
consolidação do fenômeno em análise. Já fatores, como, freqüência, item lexical e indivíduo
se mostraram estatisticamente altamente relevantes no CASO C. Observamos que palavras
pouco freqüentes apresentaram maior índice de vogais não-esperadas do que as palavras mais
freqüentes. Dentre as palavras menos freqüentes, os índices de vogal não-esperada foram
altos, acima de 50%, mas com grande variabilidade: entre 50 % e 83, 33%. Este resultado
indica que as palavras menos freqüentes do CASO C contribuem para a implementação e
consolidação do fenômeno, mas que padrões de difusão lexical contribuem para que a
inovação se propague de palavra para palavra, atuando em conjunto com efeitos de freqüência
lexical (BYBEE, 2001). Os casos de C representam padrões irregulares, pois ocorre a
mudança de qualidade vocálica da vogal da forma no singular para a vogal da forma de plural
(nos casos A e B, preserva-se a mesma qualidade vocálica da vogal tônica no singular e no
plural). O fenômeno em análise reflete ainda uma mudança sem motivação fonética e afeta as
palavras menos freqüentes em primeiro lugar (PHILLIPS, 1984, 2001; BYBEE, 2001).
Resta-nos tentar entender por que algumas formas nominais de plural do CASO B
apresentam uma vogal não-esperada (ao invés de preservar a regularidade de se manter a
mesma vogal fechada na forma de singular e plural). Acreditamos que tal fato decorra da
inovação quanto à vogal não-esperada iniciada nas palavras do CASO C. Ou seja, parece
termos um caso em que os falantes apresentam alterações em formas regulares, como
conseqüência de um fenômeno que afeta formas irregulares. Note que os casos de vogal não-
esperada do CASO C buscam regularizar a vogal na forma de singular e plural:
caroço/carѐços passam a ocorrer como caroço/caroços. Mas, ao se manifestar a alternância
entre as formas carѐços-caroços, os falantes têm acesso à variabilidade entre vogais médias
abertas e fechadas numa mesma forma de plural. Ao pluralizarem palavras que apresentam
uma vogal média no singular, os falantes podem manifestar alternância análoga entre as
vogais médias nas formas do CASO B. Uma sugestão de se avaliar o comportamento das
palavras do CASO B, em pesquisa futura, seria investigar o caráter de familiaridade da
palavra neste grupo. Isto porque as palavras rostos e sogros mostraram maior índice de vogais
não-esperadas em nossos dados e estas palavras são de uso familiar. Por outro lado, no CASO
B, observamos que a palavra esposos, também de uso familiar, não apresentou nenhum caso
de vogal não-esperada.
Os resultados deste capítulo indicam que, no fenômeno em análise, a inovação de
se ter uma vogal não-esperada em formas nominais de plural decorre de efeitos de freqüência,
atuante em consonância com padrões de difusão lexical.
CAPÍTULO 5
CONCLUSÃO
Esta dissertação avaliou a alternância das vogais médias posteriores em posição
tônica de formas nominais de masculino no plural à luz dos modelos multi-representacionais
adotados: Fonologia de Uso (BYBEE, 2001) e Teoria de Exemplares (PIERREHUMBERT,
2001). Algumas variáveis sociolingüísticas também foram consideradas (LABOV, 1972,
2001).
Ao apresentar uma revisão da literatura relacionada ao tema desta pesquisa,
verificamos que seria importante uma investigação que relacionasse a alternância de vogais
médias posteriores em formas nominais de plural com a freqüência de uso, o que os estudos
avaliados não o fizeram. Esta dissertação teve por objetivo preencher esta lacuna na literatura.
Com base nos modelos multi-representacionais adotados, levantamos a hipótese
de que a variação encontrada nas vogais médias posteriores, nas formas nominais de plural,
ocorre por efeitos de freqüência lexical.
Desenvolvemos um experimento para a coleta de dados de três grupos de plural
(CASOS A, B e C). O CASO A apresenta uma vogal média aberta no singular e no plural:
c
ѐ
po/c
ѐ
pos. O CASO B apresenta uma vogal média fechada no singular e no plural:
s
o
gro/s
o
gros. O CASO C apresenta uma vogal fechada no singular e aberta no plural:
olho/ѐlhos.
Os resultados indicaram que as palavras do CASO A não apresentaram variação
de pronúncia em relação à abertura do timbre da vogal média: 100% dos dados apresentaram
as vogais médias posteriores abertas conforme esperado.
Os dados do CASO B, cujas vogais esperadas seriam fechadas no singular e no
plural, apresentaram 5,91 % de pronúncias o-esperadas para a vogal média posterior em
formas nominais de plural. Estes resultados não foram estatisticamente significativos (P >
0,05). Os fatores freqüência de ocorrência e item lexical e os fatores não-estruturais, idade,
escolaridade não foram relevantes nesta análise. O fator gênero, por outro lado, mostrou que
os participantes do gênero masculino apresentaram valores significativos de pronúncias o-
esperadas: 9,57 % (P > 0,05). Trabalhos futuros, com maior número de dados, poderão avaliar
estes indícios.
Os dados do CASO C, cujas vogais esperadas têm timbres abertos no plural,
apresentaram resultados estatisticamente significativos em relação à variação das vogais em
estudo: 48,76 % de pronúncias não-esperadas (P < 0,05). O fator mais importante na
ocorrência de vogais não esperadas foi a freqüência de ocorrência: as palavras mais freqüentes
apresentaram 3,26 % de vogais não-esperadas, e as palavras menos freqüentes apresentaram
67,03 % de pronúncias não-esperadas.
Estes resultados corroboram a hipótese desta dissertação de que efeitos de
freqüência no fenômeno em estudo. Mais especificamente, podemos dizer que isto se
manifesta com as formas menos freqüentes sendo atingidas primeiro, neste caso, que é uma
mudança sem motivação fonética (PHILLIPS, 1984, 2001; BYBEE, 2001). O fator item
lexical também foi fundamental na análise do CASO C, porque mostrou que as palavras
apresentaram comportamentos diferenciados em relação às vogais esperadas e não-esperadas.
Os fatores não-estruturais, gênero, idade e escolaridade, não foram relevantes nesta análise.
Contudo, o fator indivíduo foi importante, porque mostrou que indivíduos tiveram
comportamentos diferenciados em relação às vogais não-esperadas.
Trabalhos futuros, entre outros, poderão: investigar o comportamento das vogais
médias não-esperadas em outros dialetos do português; avaliar o comportamento das palavras
que contêm uma vogal média posterior em posição tônica em formas nominais de plural, em
contraste com as suas respectivas formas de feminino e outras palavras derivadas; e contrastar
a alternância entre vogais médias em formas nominais de plural e em formas verbais
(CAMPOS, 2005).
REFERÊNCIAS
ABERCROMBIE, D. Elements of general phonetics. Edinburgh: Edinburgh University
Press, 1967.
ALBANO, E. Criatividade e gradiência num léxico sem derivações. In: GRIM CABRAL,
L.; MORAIS, J (Orgs). Investigando a linguagem: ensaios em homenagem a Leonor Scliar
Cabral. Florianópolis: Mulheres, 1999.
ALI, S. Gramática histórica da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo, 1965.
ALVES, M. M. As vogais médias em posição tônica nos nomes do português brasileiro.
Dissertação (Mestrado em lingüística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 1999.
AULER, M. A. A Difusão lexical num fenômeno de aspiração do português. Revista de
Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 1, p. 43-51, jul./dez. 1992.
BAKKER, J. J. Frequency in usage and the lexicon. In: Língua. Amsterdã, 1968.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
BIDERMAN, M. T. C. A face quantitativa da linguagem: um dicionário de freqüências do
português. Alfa. São Paulo, 1998.
BOD, R.; HAY, J.; JANNEDY, S.
(ed.). Probability Theory in Linguistics. MIT Press, 2003.
p.1-33.
BORTONI, S. M.; GOMES, C. A.; MALVAR, E. A variação das vogais médias pretônicas
no português de Brasília: um fenômeno neogramático ou de difusão lexical? Revista de
Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 1, p. 9-30, jul./dez. 1992.
BROWN, E. The posteriorization of labial in Spanish: a frequency account. Mexico:
University of New Mexico, ms., 1999.
BUENO, F. S. Gramática normativa da língua portuguesa: curso superior com suplemento
literário e a nomenclatura gramatical brasileira. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1968.
BYBEE, J. L. Regular morphology and the lexicon. Language and cognitive process,
Hove, v. 10, n. 5, p. 425-455, 1995.
________ Phonology and language use. Cambridge: Cambridge University Press,
2001. 237 p.
________ Word frequency and context of use in the lexical diffusion of phonetically
conditioned sound change. New Mexico: University of New Mexico, Language Variation
and change, 2002.
CAGLIARI, L. C. Fonologia do português: análise pela geometria de traços. Campinas:
Edição do Autor, 1997.
________ Regra de feedback. Revista de Hoje-Fonologia: análises não lineares. Porto
Alegre: PUC-RS, 1994, v. 29, n. 4. apud CAGLIARI, L.C. Fonologia do português: análise
pela geometria de traços. Campinas: Edição do Autor, 1997.
CALLOU, D; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1990. 125 p.
CÂMARA JÚNIOR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. 35 ed. Petrópolis: Editora Vozes,
1970. 124p.
________ Dicionário de lingüística e gramática. 11
a
ed. Petrópolis: ed. Vozes, 1984. p. 50-
52.
CAMPOS, C. S. O. Abertura vocálica em verbos irregulares da primeira conjugação do
português: um caso de reestruturação fonotática por generalização fonológica. Dissertação
(Mestrado em lingüística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2005.
CARVALHO, D. G., NASCIMENTO, M. Gramática histórica: para o colegial e
vestibulares. 6 ed. São Paulo: Ática, 1984. 109p.
CHAMBERS, J. K. Sociolinguistics theory: linguistic variation and its social significance.
Oxford ; Cambridge: Blackwell, 1995. 284p.
CHAMBERS, J. K; TRUDGILL, P; SCHLING, N. The handbook of language variation and
change. Estes: Blackwell, 2001.
CHOMSKY, N.; HALLE, M. The sound pattern of English. New York: Harper & Row, 1968.
470p.
CRISTOFARO-SILVA, T. Difusão Lexical: estudo de casos do português brasileiro. In:
MENDES, E. A. M.; OLIVEIRA, P. M.; BENN-IBLER, V. (Org). Belo Horizonte: Faculdade
de Letras da UFMG, 2001.
________Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 4 ed.
São Paulo: Contexto, 2002.
________ Descartando fonemas: a representação mental na Fonologia de Uso. In: HORA, D.;
COLLISHCHONN, G. (Org.) Teoria Lingüística: fonologia e outros temas. João Pessoa:
Universitária, 2003. p.227-231.
CRISTOFARO-SILVA, T.; ABREU GOMES, C. Representações múltiplas e organização do
componente fonológico. Artigo submetido ao Fórum Lingüístico da UFSC, 2004.
CRISTOFARO-SILVA, T.; OLIVEIRA, M. On phonological generalizations and sound
change. In: Manchester Phonology, 10, may. 2003, Manchester Resumos…Manchester:
Manchester Phonology Seminar, 2002.
CUNHA, C. Gramática do português contemporâneo de acordo com a nomenclatura
gramatical brasileira. 2. ed. Belo Horizonte: Bernardo Alvares, 1969.
CUNHA, V. Um traço do vocalismo português: a metafonia. 1991. 154p. Dissertação
(Mestrado em Língua Portuguesa) - Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 1991.
CUNHA, C. F. Gramática da língua portuguesa. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Fename,
1976. 656 p.
DELGADO MARTINS, M. R. Ouvir falar: introdução à fonética do português,
Lisboa:Caminho, 1988.
FARACO, C. A. Lingüística histórica. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998.
FARACO, C. E. Gramática, fonética, fonologia, morfologia e sintaxe, 16. ed. São Paulo:
Ática, 1988.
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1975.
FERREIRA, A. B. H.; ANJOS, M.; FERREIRA, M. B. Novo Aurélio século XXI: o dicionário
da língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 2128 p.
FIDELHOLTZ, J. Word frequency and vowel reduction in English. In: Papers from the
eleventh Regional Meeting Chicago Linguistic Society. Chicago: Chicago Linguistic Society,
1975. p. 200-213.
GONÇALVES, C.A.V.G. Aférese e prótese: reverso fonológico. Revista de Estudos da
Linguagem, Belo Horizonte, v. 1, p. 65-77, jul./dez. 1992.
GUIMARÃES, D. M. L. O. Seqüências de (sibilante + africada alveopalatal) no português
falado em Belo Horizonte.2004 Dissertação (Mestrado em Lingüística) Faculdade de Letras,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.
HORTA, F. E. B. Noções de gramática histórica da língua portuguesa. 3ed. Rio de Janeiro: J.R.
de Oliveira, (19--) [s.d.] 257p.
HUBACK
,
A. P. S. Cancelamento do (R) final em nominais na cidade de Belo Horizonte uma
abordagem difusionista. 2003. Dissertação (Mestrado em Lingüística) Faculdade de Letras,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
JOHNSON, K.; MULLENIX, J. W. Complex Representation used in speech perception. In:
In: JOHNSON, Keith; MULLENIX, John W. (Ed.) Talker variability without in speech
perception. San Diego: Academic Press, 1997. p.1-8.
JONES, D. The pronunciation of English. Cambridge, 1980
KENT, R & READ, C. The Acoustic Analysis of Speech. San Diego, California: Singular
Publishing Group, 1991.
LABOV, W. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania, 1972. 344p.
________ Resolving the neogrammarian controversy. Language, 1981. v. 57, n. 2, p. 267-
308.
________ A proposed resolution of the regularity question. In: LABOV, W. Principles of
linguistic change: Internal Factors. Oxford: Basil Blackwell, 1994. v. 1, cap. 18, p.502-543.
________ A proposed resolution of the regularity question. In: LABOV, W. Principles of
linguistic change: Social factors. Oxford: Basil Blackwell, 2001. v. 2.
LADEFOGED, P. A. A course in Phonetics. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1975.
________ Phonetic data analysis. New York: Blackwell Publishing, 2003.
LADEFOGED, P.; MADDIESON, I. The sounds of the worlds languages. Oxford, 1996.
LEE, S. H.; OLIVEIRA, M. A. Variação inter- e intra-dialetal no português brasileiro: um
problema para a teoria fonológica. In: HORA, Demerval da; COLLISCHONN; Gisela. Teoria
lingüística: fonologia e outros temas. João Pessoa: Editora Universitária, 2003. p. 67-91.
LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM–LAEL. Banco de dados do
português. São Paulo: PUC/SP. Disponível em: <www.lael.pucsp.br/corpora>. Acesso em
maio de 2004.
MARUSSO, A. S. Redução vocálica estudo de caso no português brasileiro e no inglês
britânico. 2003. Tese (Doutorado em lingüística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
MIRANDA, A. R. M. A metafonia nominal (português do Brasil). Letras de Hoje. Porto
Alegre, v. 37, n.1, p.69-98, mar. 2002
________ A alternância metafônica da vogal média arredondada no português do Brasil. Letras
de Hoje. Porto Alegre, v.38, n. 4, p 359-368, dez. 2003.
MORAES, J., CALLOU, D. & LEITE, Y. O sistema vocálico do Português do Brasil:
caracterização acústica. In: KATO, M. A. (org). Gramática do português falado. São Paulo:
FAPESP, 1993.
MOLLICA, M. C.; MATTOS, P. B. Pela conjugação das abordagens variacionista e
difusionista. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 1, p. 53-64, jul./dez. 1992.
NEVES, M. H. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP, 2000.
NUNES
,
J. J. Compendio de gramática histórica portuguesa: (fonética e morfologia). 2. ed.
corr. e aum. Lisboa: 1989
OLIVEIRA, M. A. The neogramarian controversy revisited. International Journal of the
sociology of language, Berlin, 1991. v. 89, p. 93-105.
________ Aspectos da difusão lexical. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte,. v.
1, p. 31-41 jul./dez. 1992
________ O léxico como controlador de mudanças sonoras. Revista de Estudos da
Linguagem, Belo Horizonte, 1995. v.36, p. 75-91
PHILLIPS, B. S. Word frequency and the actuation of sound change. Language, Washington,
1984. v. 60, n. 2, p. 320-342.
________ Lexical diffusion, lexical frequency, and lexical analysis. In: J.; HOPP R, P.
(Ed.) Frequency effects and the emergence of linguistic structure. Amsterdam: John
Benjamins, 2001. p. 1-19. Disponível em: <www.ling.nwu.edu/~jbp/publications.html>.
PIERREHUMBERT, J. Exemplar dynamics: Word frequency, lenition and contrast. In:
BYBEE, J.; HOPPER, P. (ed.) Frequency effects and the emergence of linguistic structure.
Amsterdam: John Benjamins, 2001. p. 1-19.
________ Probabilistic Phonology: Discrimination and Robustness. In: BOD, R.; HAY, J.;
JANNEDY, S.
(ed.). Probability Theory in Linguistics. MIT Press, 2003. p.1-33.
RUSSO, I. ; Behlau, M. Percepção da Fala: Análise Acústica do Português Brasileiro. São
Paulo: Editora Lovise Científica, 1993.
SARDINHA, T. B. Lingüística de corpus: Histórico e problemática. DELTA, v. 16, n. 2, 2000.
________ Lingüística de corpus. Barueri, S.P.: Manole, 2004. 410p.
SHANE, S. A. Generative phonology. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1973. 127 p.
SILVA NETO, S. Fontes do latim vulgar: o appendix probi. 3. ed. Rio de Janeiro:
Acadêmica, 1957. 253 p.
SCHUCHARDT, H. On sound laws: against the neogrammarians. In: VENNEMANN, T.;
WILBUR, T. Schuchardt, the neogrammarians, and the transformational theory of
phonological change. Frankfurt: Athenaeum, 1972 [1885]. p. 39-72.
TARALLO, F. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 1985.
________ Tempos lingüísticos: itinerário histórico da língua portuguesa. São Paulo, Ática,
1990.
TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. 6ed. Lisboa:Liv Sa da Costa, 1980. 113p.
TRASK, R. L. Dicionario de linguagem e lingüística. São Paulo: Contexto, 2004.
VENNEMAN, T. Rule inversion. Lingua 29. 209-42, 1942
________ Phonetic detail in assimilation: problems in Germanic phonology. Language
48.863-92, 1972.
VIEGAS, M. C.. Alçamento de vogais médias pretônicas e os itens lexicais. 2001. Tese
(Doutorado em Lingüística). Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 2001.
WANG, W. S-Y. Competing change as a cause of residue. Language, Washington, v. 45, n.1,
1969. p. 9-25.
WENREICH, U.; LABOV, W, HERZOG, M. I. Empirical foundations for a theory of
language change. In: LEHMANN, W. P; MALKIEL, Y. (ed). Directions for historical
linguistics: a symposium. Austin: University of Texas Press. p. 95-188, 1968.
WETZELS, L. Mid vowel neutralization in brazilian portuguese. Caderno de estudos
lingüísticos, v.23, p.19-55. Campinas:UNICAMP, 1992.
WEINREICH, U.; LABOV, W & HERZOG, M. I. Empirical Foundations for a Theory of
Language Change. In: LEHMANN, W. P. & MALKIEL. Directions for historical linguistics:
a symposium. Austin: University of Texas Press.Y. (ed). 1968. p. 95-188
WILLIAMS, B. E. From Latin to Portuguese: Historical phonology and morphology of the
Portuguese language. 2. ed. Philadelphia: University of Philadelphia Press, 1938. 317 p.
ZAGARI, R. L. Fonologia diacrônica do português . Juiz de Fora, [MG]: EDUFJF, 1988.
148 p.
ANEXO A:
Versão do texto utilizada na gravação.
Observações sobre o mundo animal
Foi realizado um estudo comparativo dos macacos com os lobos, devido a algumas
semelhanças físicas entre as duas espécies. Foi observado que vários membros das duas espécies
tinham problemas de audição. Contudo, a investigação iniciou com uma análise comparativa dos
rostos. Depois mediram a distância entre os olhos. Além destas semelhanças físicas, observaram que
as duas espécies sempre se alimentavam de caroços de frutos. Em algumas épocas do ano, também se
alimentavam de flocos encontrados na natureza em espécies herbívoras. Nas espécies carnívoras, estes
animais se alimentam dos miolos de cadáveres de animais e de partes da região abdominal. Os esposos
são sempre aqueles que vão em busca de alimentos.
Baseando-se no conhecimento do comportamento das duas espécies, foi feito um estudo
com as comunidades vizinhas. Observou-se que nas comunidades que vivem próximas a estes animais,
os rituais de enterro são muito solenes. Os povos destas comunidades iniciam o ritual com rogos de
longa vida. Depois salpicam cloros nos caixões, enfeitam uma sala com flores e fotografias do
falecido. Quando terminam de preparar o ambiente, estes colocam os corpos nos caixões e os enfeitam
com flores e com um véu produzido na região. Fazem a despedida aos mortos. Enterram os falecidos
em solos férteis e os cobrem. Esperam que neste local floresça uma linda floresta. Com o passar dos
anos foi observado que florestas surgiram nestes locais e é que habitaram os animais em estudo.
Estes animais adoram caminhar em lodos. Nas vilas e pequenas cidades que se formaram em regiões
próximas desta floresta, não rebocos em nenhuma casa. A qualidade de vida é muito precária, pois
até os esgotos ficam a céu aberto. Além disto, muitos casais moravam com os pais ou sogros.
Observaram que os animais e os homens desta região sofriam torcicolos muito semelhantes. Os
cientistas resolveram então estudar a relação da comunidade local e a animal. A pesquisa constou de
exame de animais por pilotos de avião e que sobrevoaram a área. Estes se dividiam em vários blocos.
Eles tinham canetas e fichas de anotação.Todos registraram seus votos de identificação dos animais.
Observou-se que ao longo das florestas havia meteoros espalhados por toda região. As pessoas das
comunidades nem sempre tomavam água em copos, às vezes bebiam água nos rios como estes animais
faziam. Um fato que chamou a atenção é que moradores de todas as idades cantavam muito bem e
quase todos participavam de coros das igrejas vizinhas.
ANEXO B:
Transcrição dos dados
LEGENDA:
Variável dependente
: 0 pronúncia esperada
1 pronúncia não esperada
/ - PRONUNCIA SEM MARCA DE PLURAL
d- dúvida
N- não pronunciou
timbre:
a-aberto,
b-fechado.
Plural
:
a- CASO A (sempre aberto),
b- CASO B (sempre fechado),
c-CASO C (alternate)
Freqüência
:
F mais freqüente
I-menos freqüente,
Gênero
:
M-homens,
F-mulheres
Idades: faixa etárias:
1
2
3.
Escolaridade:
U- universitário,
F- fundamental
Transcrição
variá
vel
Timbre
espe
rado
Grupo
de
depe
nden
te
ab. ou
fech
Plural
freqüê
ncia
Gênero
idad
e
escola
ridade
palavra
informant
e
0 a A F M 1 U c[O]pos 1
0 a A F M 1 U s[O]los 1
0 a A F M 1 U v[O]tos 1
0 a A F M 1 U bl[O]cos 1
0 f B F M 1 U esg[o]tos 1
0 f B F M 1 U r[o]stos 1
0 f B F M 1 U l[o]bos 1
0 f b F M 1 U pil[o]tos 1
0 a c F M 1 U c[O]rpos 1
0 a c F M 1 U m[O]rtos 1
0 a c F M 1 U [O]lhos 1
0 a c F M 1 U p[O]vos 1
0 a a I M 1 U torcic[O]los 1
0 a a I M 1 U cl[O]ros 1
0 a a I M 1 U fl[O]cos 1
0 a a I M 1 U mete[O]ros 1
0 f b I M 1 U l[o]dos 1
0 f b I M 1 U reb[o]cos 1
0 f b I M 1 U esp[o]sos 1
0 f b I M 1 U s[o]gros 1
1 a c I M 1 U r[O]gos 1
1 a c I M 1 U c[O]ros 1
d a c I M 1 U car[O]ços 1
1 a c I M 1 U mi[O]los 1
0 a a F M 1 U c[O]pos 2
0 a a F M 1 U s[O]los 2
0 a a F M 1 U v[O]tos 2
0 a a F M 1 U bl[O]cos 2
0 f b F M 1 U esg[o]tos 2
1 f b F M 1 U r[o]stos 2
0 f b F M 1 U l[o]bos 2
0 f b F M 1 U pil[o]tos 2
0 a c F M 1 U c[O]rpos 2
0 a c F M 1 U m[O]rtos 2
0 a c F M 1 U [O]lhos 2
0 a c F M 1 U p[O]vos 2
0 a a I M 1 U torcic[O]los 2
0 a a I M 1 U cl[O]ros 2
0 a a I M 1 U fl[O]cos 2
0 a a I M 1 U mete[O]ros 2
0 f b I M 1 U l[o]dos 2
0 f b I M 1 U reb[o]cos 2
0 f b I M 1 U esp[o]sos 2
0 f b I M 1 U s[o]gros 2
1 a c I M 1 U r[O]gos 2
1 a c I M 1 U c[O]ros 2
0 a c I M 1 U car[O]ços 2
0 a c I F 1 U mi[O]los 2
0 a a F F 1 U c[O]pos 3
0 a a F F 1 U s[O]los 3
0 a a F F 1 U v[O]tos 3
0 a a F F 1 U bl[O]cos 3
0 f b F F 1 U esg[o]tos 3
0 f b F F 1 U r[o]stos 3
0 f b F F 1 U l[o]bos 3
0 f b F F 1 U pil[o]tos 3
0 a c F F 1 U c[O]rpos 3
0 a c F F 1 U m[O]rtos 3
0 a c F F 1 U [O]lhos 3
0 a c F F 1 U p[O]vos 3
0 a a I F 1 U torcic[O]los 3
0 a a I F 1 U cl[O]ros 3
0 a a I F 1 U fl[O]cos 3
0 a a I F 1 U mete[O]ros 3
0 f b I F 1 U l[o]dos 3
0 f b I F 1 U reb[o]cos 3
0 f b I F 1 U esp[o]sos 3
0 f b I F 1 U s[o]gros 3
1 a c I F 1 U r[O]gos 3
1 a c I F 1 U c[O]ros 3
1 a c I F 1 U car[O]ços 3
1 a c I F 1 U mi[O]los 3
0 a a F F 1 U c[O]pos 4
0 a a F F 1 U s[O]los 4
0 a a F F 1 U v[O]tos 4
0 a a F F 1 U bl[O]cos 4
0 f b F F 1 U esg[o]tos 4
0 f b F F 1 U r[o]stos 4
0 f b F F 1 U l[o]bos 4
0 f b F F 1 U pil[o]tos 4
0 a c F F 1 U c[O]rpos 4
0 a c F F 1 U m[O]rtos 4
0 a c F F 1 U [O]lhos 4
0 a c F F 1 U p[O]vos 4
0 a a I F 1 U torcic[O]los 4
0 a a I F 1 U cl[O]ros 4
0 a a I F 1 U fl[O]cos 4
0 a a I F 1 U mete[O]ros 4
0 f b I F 1 U l[o]dos 4
0 f b I F 1 U reb[o]cos 4
0 f b I F 1 U esp[o]sos 4
0 f b I F 1 U s[o]gros 4
1 a c I F 1 U r[O]gos 4
1 a c I F 1 U c[O]ros 4
1 a c I F 1 U car[O]ços 4
1 a c I F 2 U mi[O]los 4
0 a a F M 2 U c[O]pos 5
0 a a F M 2 U s[O]los 5
0 a a F M 2 U v[O]tos 5
0 a a F M 2 U bl[O]cos 5
0 f b F M 2 U esg[o]tos 5
0 f b F M 2 U r[o]stos 5
0 f b F M 2 U l[o]bos 5
0 f b F M 2 U pil[o]tos 5
0 a c F M 2 U c[O]rpos 5
0 a c F M 2 U m[O]rtos 5
0 a c F M 2 U [O]lhos 5
0 a c F M 2 U p[O]vos 5
0 a a I M 2 U torcic[O]los 5
0 a a I M 2 U cl[O]ros 5
0 a a I M 2 U fl[O]cos 5
0 a a I M 2 U mete[O]ros 5
0 f b I M 2 U l[o]dos 5
/ f b I M 2 U reb[o]cos 5
0 f b I M 2 U esp[o]sos 5
0 f b I M 2 U s[o]gros 5
0 a c I M 2 U r[O]gos 5
0 a c I M 2 U c[O]ros 5
0 a c I M 2 U car[O]ços 5
0 a c I M 2 U mi[O]los 5
0 a a F M 2 U c[O]pos 6
0 a a F M 2 U s[O]los 6
0 a a F M 2 U v[O]tos 6
0 a a F M 2 U bl[O]cos 6
0 f b F M 2 U esg[o]tos 6
1 f b F M 2 U r[o]stos 6
0 f b F M 2 U l[o]bos 6
0 f b F M 2 U pil[o]tos 6
0 a c F M 2 U c[O]rpos 6
0 a c F M 2 U m[O]rtos 6
0 a c F M 2 U [O]lhos 6
0 a c F M 2 U p[O]vos 6
0 a a I M 2 U torcic[O]los 6
0 a a I M 2 U cl[O]ros 6
0 a a I M 2 U fl[O]cos 6
0 a a I M 2 U mete[O]ros 6
0 f b I M 2 U l[o]dos 6
1 f b I M 2 U reb[o]cos 6
0 f b I M 2 U esp[o]sos 6
1 f b I M 2 U s[o]gros 6
0 a c I M 2 U r[O]gos 6
0 a c I M 2 U c[O]ros 6
0 a c I M 2 U car[O]ços 6
0 a c I M 2 U mi[O]los 6
0 a a F F 2 U c[O]pos 7
0 a a F F 2 U s[O]los 7
0 a a F F 2 U v[O]tos 7
0 a a F F 2 U bl[O]cos 7
0 f b F F 2 U esg[o]tos 7
0 f b F F 2 U r[o]stos 7
0 f b F F 2 U l[o]bos 7
0 f b F F 2 U pil[o]tos 7
0 a c F F 2 U c[O]rpos 7
0 a c F F 2 U m[O]rtos 7
0 a c F F 2 U [O]lhos 7
0 a c F F 2 U p[O]vos 7
0 a a I F 2 U torcic[O]los 7
0 a a I F 2 U cl[O]ros 7
0 a a I F 2 U fl[O]cos 7
0 a a I F 2 U mete[O]ros 7
0 f b I F 2 U l[o]dos 7
0 f b I F 2 U reb[o]cos 7
0 f b I F 2 U esp[o]sos 7
0 f b I F 2 U s[o]gros 7
1 a c I F 2 U r[O]gos 7
1 a c I F 2 U c[O]ros 7
1 a c I F 2 U car[O]ços 7
0 a c I F 2 U mi[O]los 7
0 a a F F 2 U c[O]pos 8
0 a a F F 2 U s[O]los 8
0 a a F F 2 U v[O]tos 8
0 a a F F 2 U bl[O]cos 8
0 f b F F 2 U esg[o]tos 8
0 f b F F 2 U r[o]stos 8
0 f b F F 2 U l[o]bos 8
0 f b F F 2 U pil[o]tos 8
0 a c F F 2 U c[O]rpos 8
0 a c F F 2 U m[O]rtos 8
0 a c F F 2 U [O]lhos 8
0 a c F F 2 U p[O]vos 8
0 a a I F 2 U torcic[O]los 8
0 a a I F 2 U cl[O]ros 8
0 a a I F 2 U fl[O]cos 8
0 a a I F 2 U mete[O]ros 8
0 f b I F 2 U l[o]dos 8
0 f b I F 2 U reb[o]cos 8
0 f b I F 2 U esp[o]sos 8
0 f b I F 2 U s[o]gros 8
1 a c I F 2 U r[O]gos 8
1 a c I F 2 U c[O]ros 8
1 a c I F 2 U car[O]ços 8
1 a c I F 2 U mi[O]los 8
0 a a F M 3 U c[O]pos 9
0 a a F M 3 U s[O]los 9
0 a a F M 3 U v[O]tos 9
0 a a F M 3 U bl[O]cos 9
0 f b F M 3 U esg[o]tos 9
1 f b F M 3 U r[o]stos 9
0 f b F M 3 U l[o]bos 9
0 f b F M 3 U pil[o]tos 9
0 a c F M 3 U c[O]rpos 9
0 a c F M 3 U m[O]rtos 9
0 a c F M 3 U [O]lhos 9
0 a c F M 3 U p[O]vos 9
0 a a I M 3 U torcic[O]los 9
0 a a I M 3 U cl[O]ros 9
0 a a I M 3 U fl[O]cos 9
0 a a I M 3 U mete[O]ros 9
0 f b I M 3 U l[o]dos 9
0 f b I M 3 U reb[o]cos 9
0 f b I M 3 U esp[o]sos 9
0 f b I M 3 U s[o]gros 9
1 a c I M 3 U r[O]gos 9
1 a c I M 3 U c[O]ros 9
0 a c I M 3 U car[O]ços 9
0 a c I M 3 U mi[O]los 9
0 a a F M 3 U c[O]pos 10
0 a a F M 3 U s[O]los 10
0 a a F M 3 U v[O]tos 10
0 a a F M 3 U bl[O]cos 10
0 f b F M 3 U esg[o]tos 10
0 f b F M 3 U r[o]stos 10
0 f b F M 3 U l[o]bos 10
0 f b F M 3 U pil[o]tos 10
0 a c F M 3 U c[O]rpos 10
0 a c F M 3 U m[O]rtos 10
0 a c F M 3 U [O]lhos 10
0 a c F M 3 U p[O]vos 10
0 a a I M 3 U torcic[O]los 10
0 a a I M 3 U cl[O]ros 10
0 a a I M 3 U fl[O]cos 10
0 a a I M 3 U mete[O]ros 10
0 f b I M 3 U l[o]dos 10
0 f b I M 3 U reb[o]cos 10
0 f b I M 3 U esp[o]sos 10
0 f b I M 3 U s[o]gros 10
1 a c I M 3 U r[O]gos 10
1 a c I M 3 U c[O]ros 10
1 a c I M 3 U car[O]ços 10
1 a c I M 3 U mi[O]los 10
0 a a F F 3 U c[O]pos 11
0 a a F F 3 U s[O]los 11
0 a a F F 3 U v[O]tos 11
0 a a F F 3 U bl[O]cos 11
0 f b F F 3 U esg[o]tos 11
0 f b F F 3 U r[o]stos 11
0 f b F F 3 U l[o]bos 11
0 f b F F 3 U pil[o]tos 11
0 a c F F 3 U c[O]rpos 11
0 a c F F 3 U m[O]rtos 11
0 a c F F 3 U [O]lhos 11
0 a c F F 3 U p[O]vos 11
0 a a I F 3 U torcic[O]los 11
0 a a I F 3 U cl[O]ros 11
0 a a I F 3 U fl[O]cos 11
0 a a I F 3 U mete[O]ros 11
0 f b I F 3 U l[o]dos 11
0 f b I F 3 U reb[o]cos 11
0 f b I F 3 U esp[o]sos 11
0 f b I F 3 U s[o]gros 11
0 a c I F 3 U r[O]gos 11
1 a c I F 3 U c[O]ros 11
0 a c I F 3 U car[O]ços 11
0 a c I F 3 U mi[O]los 11
0 a a F F 3 U c[O]pos 12
0 a a F F 3 U s[O]los 12
0 a a F F 3 U v[O]tos 12
0 a a F F 3 U bl[O]cos 12
0 f b F F 3 U esg[o]tos 12
0 f b F F 3 U r[o]stos 12
0 f b F F 3 U l[o]bos 12
0 f b F F 3 U pil[o]tos 12
0 a c F F 3 U c[O]rpos 12
0 a c F F 3 U m[O]rtos 12
0 a c F F 3 U [O]lhos 12
0 a c F F 3 U p[O]vos 12
/ a a I F 3 U torcic[O]los 12
/ a a I F 3 U cl[O]ros 12
0 a a I F 3 U fl[O]cos 12
0 a a I F 3 U mete[O]ros 12
0 f b I F 3 U l[o]dos 12
0 f b I F 3 U reb[o]cos 12
0 f b I F 3 U esp[o]sos 12
0 f b I F 3 U s[o]gros 12
1 a c I F 3 U r[O]gos 12
1 a c I F 3 U c[O]ros 12
1 a c I F 3 U car[O]ços 12
1 a c I F 3 U mi[O]los 12
0 a a F M 1 F c[O]pos 13
0 a a F M 1
F
s[O]los 13
0 a a F M 1
F
v[O]tos 13
0 a a F M 1
F
bl[O]cos 13
0 f b F M 1
F
esg[o]tos 13
0 f b F M 1
F
r[o]stos 13
0 f b F M 1
F
l[o]bos 13
0 f b F M 1
F
pil[o]tos 13
0 a c F M 1
F
c[O]rpos 13
0 a c F M 1
F
m[O]rtos 13
0 a c F M 1
F
[O]lhos 13
0 a c F M 1
F
p[O]vos 13
/ a a I M 1
F
torcic[O]los 13
0 a a I M 1
F
cl[O]ros 13
0 a a I M 1
F
fl[O]cos 13
0 a a I M 1
F
mete[O]ros 13
0 f b I M 1
F
l[o]dos 13
0 f b I M 1
F
reb[o]cos 13
0 f b I M 1
F
esp[o]sos 13
0 f b I M 1
F
s[o]gros 13
1 a c I M 1
F
r[O]gos 13
1 a c I M 1
F
c[O]ros 13
1 a c I M 1
F
car[O]ços 13
1 a c I M 1
F
mi[O]los 13
0 a a F M 1 F c[O]pos 14
0 a a F M 1 F s[O]los 14
0 a a F M 1 F v[O]tos 14
0 a a F M 1 F bl[O]cos 14
1 f b F M 1 F esg[o]tos 14
0 f b F M 1 F r[o]stos 14
0 f b F M 1 F l[o]bos 14
0 f b F M 1 F pil[o]tos 14
0 a c F M 1 F c[O]rpos 14
0 a c F M 1 F m[O]rtos 14
0 a c F M 1 F [O]lhos 14
0 a c F M 1 F p[O]vos 14
0 a a I M 1 F torcic[O]los 14
0 a a I M 1 F cl[O]ros 14
0 a a I M 1 F fl[O]cos 14
0 a a I M 1 F mete[O]ros 14
0 f b I M 1 F l[o]dos 14
0 f b I M 1 F reb[o]cos 14
0 f b I M 1 F esp[o]sos 14
1 f b I M 1 F s[o]gros 14
d a c I M 1 F r[O]gos 14
1 a c I M 1 F c[O]ros 14
1 a c I M 1 F car[O]ços 14
1 a c I M 1 F mi[O]los 14
0 a a F F 1 F c[O]pos 15
0 a a F F 1 F s[O]los 15
0 a a F F 1 F v[O]tos 15
0 a a F F 1 F bl[O]cos 15
0 f b F F 1 F esg[o]tos 15
0 f b F F 1 F r[o]stos 15
0 f b F F 1 F l[o]bos 15
/ f b F F 1 F pil[o]tos 15
/ a c F F 1 F c[O]rpos 15
0 a c F F 1 F m[O]rtos 15
0 a c F F 1 F [O]lhos 15
0 a c F F 1 F p[O]vos 15
0 a a I F 1 F torcic[O]los 15
0 a a I F 1 F cl[O]ros 15
0 a a I F 1 F fl[O]cos 15
0 a a I F 1 F mete[O]ros 15
0 f b I F 1 F l[o]dos 15
0 f b I F 1 F reb[o]cos 15
0 f b I F 1 F esp[o]sos 15
1 f b I F 1 F s[o]gros 15
1 a c I F 1 F r[O]gos 15
1 a c I F 1 F c[O]ros 15
0 a c I F 1 F car[O]ços 15
1 a c I F 1 F mi[O]los 15
0 a a F F 1 F c[O]pos 16
0 a a F F 1 F s[O]los 16
0 a a F F 1 F v[O]tos 16
0 a a F F 1 F bl[O]cos 16
0 f b F F 1 F esg[o]tos 16
0 f b F F 1 F r[o]stos 16
0 f b F F 1 F l[o]bos 16
0 f b F F 1 F pil[o]tos 16
0 a c F F 1 F c[O]rpos 16
0 a c F F 1 F m[O]rtos 16
0 a c F F 1 F [O]lhos 16
1 a c F F 1 F p[O]vos 16
0 a a I F 1 F torcic[O]los 16
0 a a I F 1 F cl[O]ros 16
0 a a I F 1 F fl[O]cos 16
0 a a I F 1 F mete[O]ros 16
0 f b I F 1 F l[o]dos 16
0 f b I F 1 F reb[o]cos 16
0 f b I F 1 F esp[o]sos 16
0 f b I F 1 F s[o]gros 16
1 a c I F 1 F r[O]gos 16
1 a c I F 1 F c[O]ros 16
/ a c I F 1 F car[O]ços 16
1 a c I F 1 F mi[O]los 16
0 a a F M 2 F c[O]pos 17
0 a a F M 2 F s[O]los 17
0 a a F M 2 F v[O]tos 17
0 a a F M 2 F bl[O]cos 17
0 f b F M 2 F esg[o]tos 17
0 f b F M 2 F r[o]stos 17
0 f b F M 2 F l[o]bos 17
0 f b F M 2 F pil[o]tos 17
0 a c F M 2 F c[O]rpos 17
0 a c F M 2 F m[O]rtos 17
0 a c F M 2 F [O]lhos 17
0 a c F M 2 F p[O]vos 17
0 a a I M 2 F torcic[O]los 17
0 a a I M 2 F cl[O]ros 17
0 a a I M 2 F fl[O]cos 17
0 a a I M 2 F mete[O]ros 17
0 f b I M 2 F l[o]dos 17
0 f b I M 2 F reb[o]cos 17
0 f b I M 2 F esp[o]sos 17
0 f b I M 2 F s[o]gros 17
1 a c I M 2 F r[O]gos 17
1 a c I M 2 F c[O]ros 17
0 a c I M 2 F car[O]ços 17
0 a c I M 2 F mi[O]los 17
0 a a F M 2 F c[O]pos 18
0 a a F M 2 F s[O]los 18
0 a a F M 2 F v[O]tos 18
0 a a F M 2 F bl[O]cos 18
0 f b F M 2 F esg[o]tos 18
0 f b F M 2 F r[o]stos 18
0 f b F M 2 F l[o]bos 18
0 f b F M 2 F pil[o]tos 18
0 a c F M 2 F c[O]rpos 18
0 a c F M 2 F m[O]rtos 18
0 a c F M 2 F [O]lhos 18
1 a c F M 2 F p[O]vos 18
0 a a I M 2 F torcic[O]los 18
0 a a I M 2 F cl[O]ros 18
0 a a I M 2 F fl[O]cos 18
0 a a I M 2 F mete[O]ros 18
0 f b I M 2 F l[o]dos 18
0 f b I M 2 F reb[o]cos 18
0 f b I M 2 F esp[o]sos 18
0 f b I M 2 F s[o]gros 18
1 a c I M 2 F r[O]gos 18
1 a c I M 2 F c[O]ros 18
1 a c I M 2 F car[O]ços 18
0 a c I M 2 F mi[O]los 18
0 a a F F 2 F c[O]pos 19
0 a a F F 2 F s[O]los 19
/ a a F F 2 F v[O]tos 19
0 a a F F 2 F bl[O]cos 19
0 f b F F 2 F esg[o]tos 19
0 f b F F 2 F r[o]stos 19
0 f b F F 2 F l[o]bos 19
0 f b F F 2 F pil[o]tos 19
0 a c F F 2 F c[O]rpos 19
0 a c F F 2 F m[O]rtos 19
0 a c F F 2 F [O]lhos 19
/ a c F F 2 F p[O]vos 19
0 a a I F 2 F torcic[O]los 19
0 a a I F 2 F cl[O]ros 19
0 a a I F 2 F fl[O]cos 19
0 a a I F 2 F mete[O]ros 19
0 f b I F 2 F l[o]dos 19
0 f b I F 2 F reb[o]cos 19
0 f b I F 2 F esp[o]sos 19
0 f b I F 2 F s[o]gros 19
1 a c I F 2 F r[O]gos 19
1 a c I F 2 F c[O]ros 19
0 a c I F 2 F car[O]ços 19
1 a c I F 2 F mi[O]los 19
0 a a F F 2 F c[O]pos 20
0 a a F F 2 F s[O]los 20
0 a a F F 2 F v[O]tos 20
0 a a F F 2 F bl[O]cos 20
0 f b F F 2 F esg[o]tos 20
0 f b F F 2 F r[o]stos 20
0 f b F F 2 F l[o]bos 20
0 f b F F 2 F pil[o]tos 20
0 a c F F 2 F c[O]rpos 20
0 a c F F 2 F m[O]rtos 20
0 a c F F 2 F [O]lhos 20
0 a c F F 2 F p[O]vos 20
0 a a I F 2 F torcic[O]los 20
0 a a I F 2 F cl[O]ros 20
0 a a I F 2 F fl[O]cos 20
0 a a I F 2 F mete[O]ros 20
0 f b I F 2 F l[o]dos 20
0 f b I F 2 F reb[o]cos 20
0 f b I F 2 F esp[o]sos 20
0 f b I F 2 F s[o]gros 20
0 a c I F 2 F r[O]gos 20
0 a c I F 2 F c[O]ros 20
0 a c I F 2 F car[O]ços 20
0 a c I F 2 F mi[O]los 20
0 a a F M 3 F c[O]pos 21
0 a a F M 3 F s[O]los 21
0 a a F M 3 F v[O]tos 21
0 a a F M 3 F bl[O]cos 21
0 f b F M 3 F esg[o]tos 21
0 f b F M 3 F r[o]stos 21
d f b F M 3 F l[o]bos 21
1 f b F M 3 F pil[o]tos 21
0 a c F M 3 F c[O]rpos 21
0 a c F M 3 F m[O]rtos 21
0 a c F M 3 F [O]lhos 21
/ a c F M 3 F p[O]vos 21
0 a a I M 3 F torcic[O]los 21
0 a a I M 3 F cl[O]ros 21
0 a a I M 3 F fl[O]cos 21
0 a a I M 3 F mete[O]ros 21
0 f b I M 3 F l[o]dos 21
1 f b I M 3 F reb[o]cos 21
0 f b I M 3 F esp[o]sos 21
0 f b I M 3 F s[o]gros 21
N a c I M 3 F r[O]gos 21
1 a c I M 3 F c[O]ros 21
1 a c I M 3 F car[O]ços 21
1 a c I M 3 F mi[O]los 21
0 a a F M 3 F c[O]pos 22
0 a a F M 3 F s[O]los 22
0 a a F M 3 F v[O]tos 22
0 a a F M 3 F bl[O]cos 22
0 f b F M 3 F esg[o]tos 22
0 f b F M 3 F r[o]stos 22
0 f b F M 3 F l[o]bos 22
0 f b F M 3 F pil[o]tos 22
0 a c F M 3 F c[O]rpos 22
0 a c F M 3 F m[O]rtos 22
0 a c F M 3 F [O]lhos 22
0 a c F M 3 F p[O]vos 22
0 a a I M 3 F torcic[O]los 22
0 a a I M 3 F cl[O]ros 22
0 a a I M 3 F fl[O]cos 22
0 a a I M 3 F mete[O]ros 22
0 f b I M 3 F l[o]dos 22
0 f b I M 3 F reb[o]cos 22
0 f b I M 3 F esp[o]sos 22
0 f b I M 3 F s[o]gros 22
d a c I M 3 F r[O]gos 22
1 a c I M 3 F c[O]ros 22
1 a c I M 3 F car[O]ços 22
1 a c I M 3 F mi[O]los 22
0 a a F F 3 F c[O]pos 23
0 a a F F 3 F s[O]los 23
0 a a F F 3 F v[O]tos 23
0 a a F F 3 F bl[O]cos 23
0 f b F F 3 F esg[o]tos 23
0 f b F F 3 F r[o]stos 23
/ f b F F 3 F l[o]bos 23
0 f b F F 3 F pil[o]tos 23
/ a c F F 3 F c[O]rpos 23
0 a c F F 3 F m[O]rtos 23
0 a c F F 3 F [O]lhos 23
1 a c F F 3 F p[O]vos 23
0 a a I F 3 F torcic[O]los 23
0 a a I F 3 F cl[O]ros 23
0 a a I F 3 F fl[O]cos 23
0 a a I F 3 F mete[O]ros 23
N f b I F 3 F l[o]dos 23
/ f b I F 3 F reb[o]cos 23
0 f b I F 3 F esp[o]sos 23
0 f b I F 3 F s[o]gros 23
1 a c I F 3 F r[O]gos 23
1 a c I F 3 F c[O]ros 23
0 a c I F 3 F car[O]ços 23
1 a c I F 3 F mi[O]los 23
0 a a F F 3 F c[O]pos 24
0 a a F F 3 F s[O]los 24
0 a a F F 3 F v[O]tos 24
0 a a F F 3 F bl[O]cos 24
0 f b F F 3 F esg[o]tos 24
0 f b F F 3 F r[o]stos 24
0 f b F F 3 F l[o]bos 24
0 f b F F 3 F pil[o]tos 24
0 a c F F 3 F c[O]rpos 24
0 a c F F 3 F m[O]rtos 24
0 a c F F 3 F [O]lhos 24
0 a c F F 3 F p[O]vos 24
0 a a I F 3 F torcic[O]los 24
0 a a I F 3 F cl[O]ros 24
0 a a I F 3 F fl[O]cos 24
0 a a I F 3 F mete[O]ros 24
1 f b I F 3 F l[o]dos 24
0 f b I F 3 F reb[o]cos 24
0 f b I F 3 F esp[o]sos 24
0 f b I F 3 F s[o]gros 24
0 a c I F 3 F r[O]gos 24
0 a c I F 3 F c[O]ros 24
0 a c I F 3 F car[O]ços 24
0 a c I F 3 F mi[O]los 24
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo