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lhe toda forma de compensação, de conforto
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. Existe a promessa de que o
consumo é a fonte para a felicidade
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, pois esta é uma das metas máximas
da vida
69
. A pessoa comum, na tentativa de superar os problemas do novo
modo de vida e realçar o status, recorre à imitação ou identificação
70
. Para
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Bem afirma Schweriner que no cerne das “compras e consumo compulsivos costuma
residir uma ação compensatória para a frustração, depressão ou angústia”. Dessa forma o
“ato da compra em si, bem como a sensação gratificante de posse do bem, funcionam como
um paliativo para as carências emocionais da pessoa. Tanto as de ordem profissional, como
as de cunho afetivo”. E acrescenta que o “papel da propaganda e do marketing no incentivo
ao consumo é extremamente oportuno para, digamos assim, compensar muitas frustrações,
em especial as de ordem afetiva. (...) As compras assim efetuadas como que encobrem
frustrações, deixando a pessoa, antes deprimida, artificialmente aliviada. Tal processo é
fundamentado no mecanismo de defesa da sublimação, quando a energia a ser alocada para
a resolução do conflito é sublimada nas compras, o que é extremamente eficaz em um
primeiro momento, ou até mesmo em uma fase de curta duração” e assim a “ida às compras
passa a ser uma rotina visando encobrir ou disfarçar toda espécie de desordens afetivas e
profissionais, e como o consumo é incentivado em nossa sociedade, não há razão aparente
para estancar, retroceder, voltar atrás”. Por fim, aponta o aspecto danoso ao aduzir que
“compra e consumo compulsivos conduzem o sujeito a tal grau de dependência, que ele
passa a invadir perigosamente as fronteiras da doença, da conduta patológica”.
SCHWERINER, Mário Ernesto René. Comportamento do Consumidor: identificando
necejos e supérfluos essenciais, p. 155-157.
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Mas, como adverte Schweriner, “consumismo e drogas, ícones da cultura
hedonista/narcisista, têm se mostrado um fracasso como atalhos que prometem felicidade
imediata”. SCHWERINER, Mário Ernesto René. Comportamento do Consumidor:
identificando necejos e supérfluos essenciais, p. 106.
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Entretanto não passam de meras promessas, já que existe diferença substancial entre
prazer, alegria e felicidade. Certo que há dificuldade de se conceituar felicidade, pois existem
inúmeras definições que levam em consideração diversos critérios e orientações (apesar de
ser consenso que a felicidade advém da satisfação de necessidades/desejos muito pessoais,
e irá variar significativamente de um sujeito para outro), sendo que a discussão ingressa na
seara do debate filosófico. Entretanto, Mário Schweriner apresenta de forma bastante
esclarecedora a diferença entre essas três formas de expressão oriundas do ser humano,
apta a ser utilizada na análise do tema sob a ótica do Direito do Consumidor: “Prazer –
intensidade. Veiculado aos sentidos, ao corpo, é uma sensação. Mais intenso, menos
duradouro. Sensação de ter prazer. Superlativo: êxtase. Alegria – duração. Vinculada à
mente, é uma emoção. Energia que irradia de dentro. Mais fluida, mais duradoura. Estar
alegre. Superlativos: júbilo; euforia. Felicidade – extensão/multiplicidade. Vinculada ao
espiritual, uma comunhão com o Universo, é um estado de espírito. Sensação de leveza. Ser
feliz. Superlativo: plenitude. SCHWERINER, Mário Ernesto René. Comportamento do
Consumidor: identificando necejos e supérfluos essenciais, p. 119. Dessa forma, fica claro
constatar que o consumismo pode proporcionar prazer, e quando muito, alegria, mas
dificilmente felicidade.
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“FREUD entende identificação não como simples imitação [...] exprime um ser igual e
remete a uma similaridade ao nível do consciente”. A identificação, segundo FREUD, é o
processo psicológico através do qual o indivíduo assimila o aspecto, uma qualidade ou um
atributo e procura se transformar neste modelo ou ele se amoldar. A personalidade, pode-se
dizer, é constituída de uma série de identificações. E se a identificação, segundo FREUD, se
faz com objetos (objeto aqui entendido como coisa, seja pessoa ou objeto) ou com partes do
objeto, por meio de determinados aspectos da relação, posso perfeitamente identificar-me
com uma estrela de cinema ao platinar os cabelos ou com um adulto viril ao fumar cigarros
da marca X. “A identificação, segundo os teóricos de aprendizagem como KOGAN, é uma
reação cognitiva aprendida que contém semelhança com a pessoa objeto-modelo, e que