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É de grande destaque a importância do “escargot” na alimentação de civilizações
antigas. No Brasil, encontramos, entre outras, a espécie H. aspersa que foi introduzida
pelos portugueses. Contudo, produtores brasileiros de “escargot” importaram A. fulica sem
a mínima preocupação de possíveis danos à agricultura, às florestas, a competição com as
espécies nativas e à saúde pública que caramujos escapados ou abandonados de suas
criações pudessem causar.
1.3) Aspectos parasitológicos
Segundo Graczyk & Fried (2001), o parasitismo, como uma interação entre dois
organismos, hospedeiro e parasito, é exclusivamente dependente do grau de integração
fisiológica entre estes organismos e a sincronia fisiológica de seus ciclos biológicos. Assim,
segundo a definição de Olsen (1977), o parasitismo é aquela relação na qual o parasito é
fisiologicamente dependente do hospedeiro.
Moluscos são organismos de grande importância médica humana e veterinária, pois
servem como hospedeiros intermediários de uma ampla faixa de parasitos,
predominantemente do grupo dos trematódeos digenéticos, como o Schistosoma mansoni
Sambon, 1907 , Fasciola hepatica Linnaeus, 1758 e outros; também há nematóides de
grande interesse médico em nosso país que têm a participação de moluscos em seus ciclos
biológicos, como o Angiostrongylus costaricensis Morera & Céspedes, 1971.
Além disso, um grande número de parasitos, que não afetam a saúde humana ou de
animais de criação, hospedam-se em moluscos e participam da complexidade de ciclos e
interações que resultam na contínua evolução das espécies.
Os moluscos da espécie A. fulica são incriminados como possíveis hospedeiros
intermediários do nematóide Angiostrongylus cantonensis (=Parastrongylus cantonensis),
causador da angiostrongilíase meningoencefálica humana (ou angiostrongilose
meningoencefálica ou meningite eosinofílica) (TELES & FONTES, 1998). A manutenção
dessa zoonose tem potencial importância na medicina veterinária por apresentar também
roedores urbanos e silvestres como hospedeiros definitivos.
A infecção por A. cantonensis ocorre após o hospedeiro definitivo ingerir as larvas
de terceiro estádio (L
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), as quais emergem do hospedeiro junto com o muco que é
eliminado pelo molusco para reduzir o atrito entre a massa cefalopodal e o substrato por
onde se desloca. No homem, pode apresentar os seguintes sintomas: febre alta, vômito,
irritabilidade, rachadura na pele, ausência de reflexos nos tendões, retenção urinária,
incontinência anal e meningite, podendo levar crianças à morte. A eosinofilia pode ser
constatada no sangue periférico e no líqüor pela citologia. Assim como algumas infecções
secundárias bacterianas também podem ser observadas
Esses moluscos podem também hospedar o verme A. costaricensis, causador da
angiostrongilíase abdominal (ou angiostrongilose abdominal), doença grave com centenas
de casos já reportados no Brasil, embora nenhum desses casos haja correlação com o
molusco A. fulica como hospedeiro intermediário. Essa doença pode resultar em óbito por
perfuração intestinal, peritonite e hemorragia abdominal.
São vários os trabalhos que existem na literatura tentando elucidar a rota de
migração dos estágios larvais de A. cantonensis em A. fulica, hospedeiro intermediário
(BROCKELMEN et al. 1976; SAUERLANDER & ECKERT, 1974). Carvalho et al.
(2003), infectaram experimentalmente alguns exemplares de A. fulica com larvas de A.
costaricensis, demonstrando a susceptibilidade do molusco ao parasito. Concluindo que A.
fulica pode ser um risco para a urbanização da angiostrongilíase abdominal devido a sua