Campinas. Mas preferiu fazer
pedagogia na Unicamp porque
era de graça.
“Entrei na faculdade casa-
da, me separei, casei de novo,
estou me formando e, na se-
gunda-feira, já vou me inscre-
ver no curso de pós-gradua-
ção”, diz Marinalva. O tema
do seu projeto de pós é “Um
olhar psicodramático nas
inter-relações pessoais”.
Até ser escolhida pelos co-
legas para fazer o juramento
dos formandos na cerimônia
de colação de grau, ela teve
que vencer uma longa corrida
de obstáculos, ainda mais
numa sociedade conservado-
ra como a campineira, mas
nunca pensou em desistir. O
casamento entrou em crise
quando ela começou a sair
para ouvir palestras ou ir ao
cinema, enquanto o marido
preferia que ela cuidasse da
casa e dos filhos. “Os objeti-
vos no casamento foram-se
diferenciando, os valores mu-
dando, pintou o ciúme, não
teve jeito.”
Em 1998, ela resolveu sair
de casa levando só a roupa do
corpo e a filha, então com 14
anos. Os dois meninos fica-
ram com o pai. O problema é
que não tinha para onde ir e o
único jeito que encontrou foi
invadir a moradia estudantil
da Unicamp. “Foi de um dia
para o outro. Tentei numa
boa, expliquei minha situação,
mas a burocracia não quis sa-
ber. Como não havia feito ins-
crição para a moradia na épo-
ca certa, tive que pular a ja-
nela da cozinha com a minha
filha.”
Três dias depois, foi des-
pejada. Sem apoio da família
nem dinheiro para pagar alu-
guel, ameaçou acampar em
frente ao alojamento. Ficou
com medo até de perder a
guarda da filha.
Mas logo se deu um jeito.
As duas puderam ficar provi-
soriamente albergadas numa
sala de estudos por oito me-
ses até chegar outra carta de
despejo. Mãe e filha sobrevi-
viam com a bolsa-trabalho
que ela ganhou para fazer ser-
viços gerais na biblioteca.
“Foi a época mais difícil. No
começo, houve dia de não ter
dinheiro nem para comprar
água.” A essa altura, porém,
ela já tinha conseguido um
emprego com salário melhor
e pôde alugar um apartamen-
to no bairro de Barão Geral-
do, onde fica a Unicamp.
Com a ajuda dos colegas, do
novo marido, que conheceu
na Unicamp, e da cervejaria
Kaiser, que patrocinou o ma-
terial didático, foi levando o
curso até o fim. Este ano,
tudo melhorou. Desde feve-
reiro, a ex-faxineira trabalha
à noite no presídio Ataliba
Nogueira, em Hortolândia,
próximo a Campinas, onde é
responsável pelo curso de al-
fabetização de adultos. Além
disso, continua fazendo suas
pesquisas no Laboratório de
Políticas Públicas e Planeja-
mento Educacional da
Unicamp.
Agora, ela mora com o
marido, o auditor fiscal
Marcelo Takemoto, numa
chácara do bucólico Vale
das Garças. É lá que ela vai
fazer a festa de formatura
hoje à noite. “Aluguei até
um videokê”, comemora,
enquanto experimenta a
beca emprestada pela
Unicamp.
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