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Universidade de São Paulo
Instituto de Psicologia
Adriana Toyoda Takamatsu
Aloamamentação em cobaias Cavia porcellus
São Paulo
2007
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Universidade de São Paulo
Instituto de Psicologia
Departamento de Psicologia Experimental
Aloamamentação em cobaias Cavia porcellus
Adriana Toyoda Takamatsu
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre.
Área de concentração: Psicologia Experimental
Orientador: César Ades
São Paulo
2007
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Autorizo a divulgação e reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a
fonte.
Takamatsu, Adriana Toyoda.
Aloamamentação em cobaias Cavia porcellus / Adriana
Toyoda Takamatsu; orientador César Ades – São Paulo, 2007,
116 p.
Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Área de concentração: Psicologia Experimental). –
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
1. Cobaias 2. Cuidado alomaterno 3. Aloamamentação 4.
Filhotes precoces 5. Etologia I. Título.
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Adriana Toyoda Takamatsu
Aloamamentação em cobaias Cavia porcellus
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre.
Área de concentração: Psicologia Experimental
Banca examinadora:
(Nome e assinatura)
(Nome e assinatura)
(Nome e assinatura)
Defesa de Mestrado realizada em / / no Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, SP.
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Às minhas cobaias.
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Agradecimentos
Ao Professor César Ades, grande mestre e amigo, que soube ouvir e
encorajar nos momentos mais difíceis. Obrigada pelas inúmeras conversas
descontraídas e bate-papos que sempre deram uma energia positiva. Enfim, por
tudo.
À Suemi, obrigada pelo carinho, broncas construtivas, dicas, inúmeras
revisões do projeto, companheirismo, e principalmente pelo apoio e confiança de
sempre.
À Nina, pela amizade e inúmeras e looongas conversas sobre cobaias e
preás. E às nossas várias aventuras pela psico, quando algum preá fujão ou alguma
cobaia perdida entrava pelos jardins e nos fazia correr como loucas, levantando
pedras, fuçando em buracos, e os pequenos jardins transformavam-se em
verdadeiras selvas!
À Pati Handa, Angélica e Dani, obrigada pela amizade, companhia e altos
bate-papos. Enfim, obrigada pelo apoio de sempre.
À Carine, pela grande ajuda com a análise dos dados.
Aos grandes amigos Daisy e Anselmo, pela amizade e apoio incondicional,
desde os tempos de psico. Obrigada por me ouvirem as alegrias e desabafos sobre
o projeto e questões existenciais. Ao Anselmo, obrigada pela grande ajuda com a
captura das imagens de vídeo; à Daisy, obrigada pela paciência incansável. Aos
dois, por me acolher tão carinhosamente em sua casa na fase final de redação da
dissertação; à Nenêm e Mila, duas gatinhas lindas, por me fazerem companhia e por
me distraírem quando as coisas estavam muito sérias.
Agradeço a meus pais, Kazuite e Akiko, pela oportunidade de aprender; a
meus irmãos, Marcos e Renata, por me ajudarem com cadernos, livros, cds e
anotações, que eu sempre esquecia em algum lugar e vocês sempre davam um jeito
de me entregar, onde quer que eu estivesse. À minha família: Tia Toyoko, Tio Elso,
Dudu, Andrei, Tia Sigueko e Tio Chicão, por me ajudarem e apoiarem desde o
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começo. Agradeço a todos pelo suporte e paciência, cada um à sua maneira,
durante todos estes anos.
À Kiki, minha pequena gerbil, que deixou grandes lembranças e muitas
saudades.
Ao Chumbinho, meu cãozinho fiel.
À Fundação Parque Zoológico de São Paulo, por tornar possível a realização
da primeira etapa deste projeto. Aos funcionários do Biotério do Zoológico de São
Paulo pelo apoio e manutenção dos animais, sem os quais esta pesquisa não teria
sido possível.
À FAPESP, pela bolsa concedida.
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Takamatsu, A. T. 2007. Aloamamentação em cobaias Cavia porcellus. São Paulo.
Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São
Paulo.
Resumo
A aloamamentação parece desafiar o princípio geral de que o cuidado materno deve
restringir-se à própria prole. Embora a aloamamentação em cobaias domésticas
Cavia porcellus – espécie em que um macho dominante pode reproduzir-se com
várias fêmeas em um sistema de harém e em que os filhotes são precoces e
capazes de ingerir alimentos sólidos logodepois do nascimento – já tenha sido
observada, não foi submetida até o momento a um estudo sistemático. Na presente
pesquisa, realizada com cobaias comuns (Etapa 1) e cobaias albinas (Etapa 2),
buscamos descrever os aspectos básicos da interação fêmea-filhote ao longo das
primeiras quatro semanas de vida dos filhotes, comparando a freqüência e a
duração da amamentação de fêmeas mantidas sozinhas com a sua ninhada
(Condição FS, 20 fêmeas) à de fêmeas pareadas quando as ninhadas tinham no
máximo 3 dias de diferença (Condição FP, 19 pares de fêmeas), uma condição em
que pode surgir aloamamentação. Verificou-se que, apesar da existência de apego
em relação à mãe (os filhotes na condição FP permaneciam próximos à mãe
e mamaram mais dela do que da fêmea alheia), aproximadamente 60 % dos filhotes
alomamaram. A aloamamentação, que se concentrou na primeira semana de vida
com um decréscimo marcado em seguida e que não era sempre recíproca, decorreu
basicamente da iniciativa dos filhotes. Os resultados não apóiam a hipótese
funcional da aloamamentação enquanto competição entre os filhotes por um
superávit de alimentação, mas indicam que constitui uma estratégia oportunista dos
filhotes, propiciada pelas características da organização social das cobaias.
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Takamatsu, A. T. 2007. Aloamamentação em cobaias Cavia porcellus. São Paulo.
Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São
Paulo.
Abstract
Allosuckling in domestic guinea pigs Cavia porcellus
Allosuckling seems to challenge the general principle according to which maternal
care should be retricted to offspring. While already reported, allosuckling in domestic
guinea pigs Cavia porcellus – a species in which males may breed with several
females, in a harem system, and in which pups are precocious and able to ingest
solid food shortly after birth – has not been, to now, systematically described. The
aim of the present research, performed with common guinea pigs (Phase 1) and
albino guinea pigs (Phase 2) was to describe female-pups interactions throughout
development, and to compare such interactions in isolated females with their litter
(FS condition, 20 females) and in paired females with their litter (FP condition, 19
pairs), a condition in which allosucking performance is likely to happen. In spite of
pups' attachment to their mothers (in condition FS, pups remained nearer to their
mother than to the other lactating female and had longer and more frequent nursing
episodes with her), allosuckling was relatively frequent (approximately 60% of pups
were allonursed). Allosuckling peak occurred during the first week of life and
markedly decreased thereafter, being mainly under the control of pups. Results do
not favor a functional explanation of allosuckling as a competitive strategy of pups for
a surplus of food, but suggest it is an opportunistic strategy which is made possible
by the specific nature of guinea pigs social organization.
10
Índice
INTRODUÇÃO.....................................................................................................12
Custos da amamentação...........................................................................15
Formas de aloamamentação.....................................................................17
A cobaia doméstica....................................................................................20
Objetivos da presente pesquisa.................................................................24
MÉTODO...............................................................................................................26
Etapa 1........................................................................................................26
Etapa 2........................................................................................................28
Procedimento..............................................................................................29
Análise estatística.......................................................................................32
RESULTADOS......................................................................................................34
Observação qualitativa do comportamento no contexto de pareamento....35
Proximidade e agressão...................................................................35
Iniciação do episódio de amamentação............................................37
Posturas e comportamentos de amamentação................................38
A terminação da amamentação........................................................39
Figuras 7 a 17...................................................................................40
Resultados quantitativos..............................................................................51
Tamanho das ninhadas.....................................................................52
Ocorrência de aloamamentação.......................................................52
Freqüência de filhotes que mamaram e alomamaram.....................53
Reciprocidade da aloamamentação.................................................55
Distância fêmea-filhote.....................................................................55
FS x FPp...........................................................................................61
11
FPp x FP(p+a)..................................................................................65
FPp(p+a) x FPa(p+a)........................................................................70
Mudanças ontogenéticas no peso dos filhotes.................................75
Peso das fêmeas na primeira semana da Etapa 2...........................78
DISCUSSÃO..........................................................................................................79
Características da aloamamentação...........................................................79
A aloamamentação como característica típica do
Comportamento de cobaias..............................................................79
A manutenção da proximidade como processo básico.....................81
Mudanças ontogenéticas na amamentação......................................81
Uma janela temporal para a aloamamentação.................................83
O desenvolvimento ontogenético da aloamamentação....................83
O controle da ocorrência e duração das amamentações
pela fêmea........................................................................................84
O ganho de peso dos filhotes...........................................................85
Peso das fêmeas FS x FP................................................................85
Diferenças entre cobaias comuns e albinas.....................................86
Funções possíveis da aloamamentação em cobaias..................................86
Hipóteses para a explicação da aloamamentação em
cobaias domésticas.....................................................................................91
A hipótese da competição por um superávit alimentar..........92
A hipótese da amamentação oportunista..............................95
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................99
ANEXOS..............................................................................................................109
12
INTRODUÇÃO
A questão do cuidado aloparental, isto é, do cuidado de filhotes por indivíduos
que não são seus progenitores, é surpreendentemente complexa e parece
inconsistente com a teoria evolutiva clássica (Riedman, 1982).
A maioria dos casos de alocuidado e adoção foram registrados em mamíferos
e pássaros, nos quais os sistemas de cuidado parental são particularmente bem
desenvolvidos. O cuidado aloparental, ou comunal, tem sido freqüentemente
registrado em (1) grupos relativamente pequenos e fechados, caracterizados por um
alto grau de parentesco, (2) grupos familiares nos quais os jovens permanecem com
seus pais por um ou dois anos após o desmame ou após atingirem a maturidade
reprodutiva, e (3) grupos altamente sociais e cooperativos nos quais os indivíduos
são freqüentemente relacionados geneticamente. Condições ambientais severas ou
imprevisíveis parecem mediar a ocorrência de sistemas parentais que incorporam o
cuidado comunal: (1) presas de grande porte e fontes de alimento isoladas ou
imprevisíveis, nas quais são necessárias estratégias cooperativas de grupos de
forrageio e (2) recursos limitados para reprodução. Neste último caso, o alocuidado
pode ser a estratégia reprodutiva mais bem sucedida para indivíduos jovens, se não
a única opção reprodutiva a eles disponível em decorrência da saturação do habitat.
Reprodutores jovens podem não ser capazes de competir com adultos experientes
em conseguir parceiros, espaço, e fontes de alimento (Riedman, 1982).
A vida em grupo talvez seja um pré-requisito para que fêmeas ajudem outras
a criar seus filhotes (König, 1997), aumentando assim a proteção contra predadores
13
(defesa cooperativa); promovendo melhor defesa de território e melhores locais de
forrageio (caça cooperativa - Galef, 1991); favorecendo o efeito de diluição
(probabilidade de um indivíduo ser pego durante um ataque diminui - Grinnell &
McComb, 1996); gerando maior proteção contra condições ambientais desfavoráveis
(McShea, 1990) e melhor proteção contra ectoparasitas devido à limpeza social
(Russell, 1985 em König, 1997). Ainda assim, viver em grupo acarreta custos: como
uma maior competição por alimentos; competição por locais de reprodução e por
parceiros (van Schaik e van Noordwijk, 1986); maior probabilidade de infecção com
parasitas e doenças; maior visibilidade do ponto de vista dos predadores (Jarman,
1974) e custos de vigilância (Maestripieri, 1993). No entanto, o fato de muitos
mamíferos viverem em grupo implica que nestes casos os benefícios são maiores
que os custos (Lewin, 1987).
König (1997) define cuidado cooperativo como “uma situação na qual
indivíduos adultos além dos pais biológicos auxiliam regularmente no cuidado dos
filhotes” (para outras revisões ver: Riedman, 1982; Packer et al., 1992 e Roulin,
2002). As razões evolutivas para que fêmeas não-reprodutivas cuidem de filhotes
alheios não precisam ser necessariamente as mesmas que regulam a cooperação
entre fêmeas reprodutivas (König, 1997).
König (1994) observou em laboratório que fêmeas de camundongos Mus
musculus domesticus irmãs-familiares obtinham maior sucesso reprodutivo
(desmamavam mais filhotes) do que fêmeas em outras condições. Por outro lado,
Hayes (2000) argumenta que nestas condições de laboratório – nas quais a maioria
dos estudos com roedores foram feitos – o alimento é ilimitado e de fácil acesso, o
que pode reduzir o custo do compartilhamento de leite. Hayes (2000) vai mais
adiante e sugere que os resultados de König (1994) foram provavelmente artefatos
de laboratório e que não seriam observados sob condições ambientais menos do
que ótimas.
É muito disseminada a idéia de que os alocuidadores, tanto indivíduos não-
reprodutivos quanto os reprodutivos, cuidam de filhotes alheios porque estes lhes
são aparentados em algum grau; deste modo, direta ou indiretamente, os
alocuidadores estariam se beneficiando através do aumento da aptidão abrangente.
Esta questão foi analisada por Clutton-Brock (2002) e ele argumenta que vários
estudos em aves e mamíferos cooperativos mostram que os ajudantes podem não
14
ser aparentados aos filhotes que ajudam a cuidar e que estes ajudantes (não-
aparentados) investem tão arduamente quanto os parentes próximos. O autor
aponta para uma subestimação dos benefícios indiretos do comportamento
cooperativo e uma provável superestimação dos benefícios diretos do ato de ajudar.
Vários estudos verificaram a existência de diversas formas de cuidado
alomaterno: comportamentos de “tia”, “baby-sitting” e “brincar de mãe” em colobinos
(McKenna, 1979); defesa de filhotes alheios em veados Odocoileus hemionus
(Lingle et al., 2007); proteção contra predadores e limpeza social em coatis Nasua
narica (Russell, 1983); carregamento de irmãos mais novos em gerbilos Meriones
unguiculatus (Clark & Galef, 2000) e em bugios Alouatta guariba (Miranda et al.,
2005); vigilância e proteção em micos-de-cheiro Saimiri oerstedi (Boinski, 1987);
escolta de filhotes por fêmeas em golfinhos Tursiops truncatus (Mann & Smuts,
1998); alimentação de filhotes alheios em pinguins reis Aptenodytes patagonicus
(Lecomte et al., 2006) e em pegas Cyanopica cyanus (Valencia et al., 2006);
aloamamentação em elefantes africanos Loxodonta africana (Lee, 1987); cervos
Dama dama (Birgersson et al., 1991; Ekvall, 1998); cervos vermelhos Cervus
elaphus (Bartos et al., 2001); búfalos Bubalus bubalis (Murphey et al., 1991;
Murphey et al., 1995; Paranhos da Costa et al., 2000); capivaras Hydrochaeris
hydrochoerus (Nogueira et al., 2000); galea Galea musteloides (Künkele & Hoeck,
1995); preás Cavia aperea (Monticelli & Ades, 2003); cobaias Cavia porcellus
(Takamatsu et al., 2003 e 2005); cães da pradaria Microtus ochrogaster (Hayes &
Solomon, 2006 e 2007); degus Octodon degus (Ebensperger et al., 2002, 2006 e
2007); macacos-prego Cebus olivaceus (O´Brien & Robinson, 1991); camundongos
Mus musculus domesticus (König, 1993 e 1994); focas Arctocephalus gazella
(Hoffman & Amos, 2005); vacas Bos taurus (Víchová & Bartos, 2005); leões
marinhos Eumetopias jubatus (Porter & Trites, 2004), etc.
A existência de cuidado alomaterno aumenta as chances de um filhote órfão
ser adotado. Aparentemente não só o filhote se beneficia, pois alomães jovens
adquirem habilidades maternas (Roulin, 2002) ao manejar e transportar filhotes
recém-nascidos. É possível também que a atração natural por filhotes e os laços
sociais entre fêmeas alomães contribuam para a coesão e estabilidade do grupo.
Um alocuidado particularmente intrigante é a aloamamentação, que é
encontrada em aproximadamente 68 espécies de mamíferos (Roulin, 2002). Dado o
15
custo do leite, pode parecer estranho que fêmeas, em várias espécies, amamentem
filhotes alheios. Existe uma série de possíveis razões adaptativas que justificam este
uso “altruísta” do leite que, de qualquer maneira, não pode ser tão intenso a ponto
de prejudicar a alimentação dos próprios filhotes. Vários estudos comprovam que a
aloamamentação nunca é maior do que a amamentação (Birgersson et al., 1995;
Ekvall, 1998; Murphey et al., 1995; Lee, 1987).
Custos da amamentação
A maternidade é uma condição custosa e extenuante para todas as fêmeas
de mamíferos. A reprodução da fêmea é dividida em gestação, lactação, e retomada
do ciclo sexual (Fedigan & Rose, 1995), e todas estas etapas custam tempo e
energia. O custo energético da lactação é inquestionável, surgindo da conversão dos
nutrientes maternos ou reservas corporais em leite. A energia do leite está
relacionada à massa corporal da mãe (Oftedal, 1984). Apesar da conversão das
reservas ou consumo energético materno parecer eficiente (em torno de uma taxa
de 80%) (Prentice & Whitehead, 1987), a maioria das mães mamíferas ainda precisa
aumentar seu consumo de energia de duas a cinco vezes acima dos níveis normais
(Clutton-Brock, 1991; Sikes, 1995) para manter o crescimento do filhote.
Algumas das diferenças entre espécies no custo de transferência de energia
da mãe para o filhote estão relacionadas à capacidade materna de armazenar
energia antes da gestação, através das reservas de gordura corporal e da qualidade
de suas dietas antes e durante a lactação (Lee, 1997). A duração da lactação
também é ambientalmente sensível: a lactação prolongada pode ocorrer como
resultado de uma baixa aquisição energética ou do alto gasto energético em
ambientes de qualidade pobre (Lee, 1997). Assim, uma variedade de fatores pode
limitar o sucesso reprodutivo de fêmeas mamíferas: abrigo adequado, falta de
nutrientes específicos, ou até mesmo a disponibilidade de água para a produção de
leite. Porém, o aumento de consumo de comida não é sempre suficiente para
compensar as demandas corporais durante a primeira fase da lactação e no pico da
lactação, o que leva a fêmea lactante a mobilizar suas reservas de gordura, proteína
e minerais (Vernon e Flint, 1984).
16
Fêmeas cobaias armazenam parte relativa da grande quantidade de ingestão
energética durante os dias 30-55 de gestação na forma de gordura, para ser usada
durante as duas últimas semanas de gestação, época em que sua mobilidade física
fica limitada e sua necessidade energética é maior (Künkele, 2000b). Millar (1978)
observou que fêmeas de camundongos Peromyscus leucopus devem se
comprometer a um tamanho particular de ninhada muito antes do período de pico de
demanda energética: a fêmea não tem como prever as condições ambientais que
virão. Uma estratégia que envolve um comprometimento inicial a tantos filhotes
quanto poderiam ser sustentados em condições ideais permitiria o máximo sucesso
reprodutivo em condições favoráveis, com a opção de ajustar a posteriori o tamanho
da ninhada através de canibalismo (ou até mesmo do abandono de toda a ninhada)
se as condições não forem favoráveis durante a lactação.
Entre espécies que dão luz a ninhadas, o tamanho da ninhada afeta o
crescimento dos filhotes. Membros de ninhadas pequenas tendem a apresentar
acelerado crescimento e desmame precoce. Gravidez e restrição de comida durante
a lactação estão associadas ao desmame precoce e crescimento lento do filhote,
sugerindo uma franca troca materna entre a reprodução atual e futura que não é
influenciada pelas demandas do filhote. Alimentos pobres durante o período que
antecede a lactação ou durante a gestação, assim como pouco consumo de energia
durante a lactação, todos estes fatores reduzem a condição materna, a massa e a
composição corporal (Lee, 1997). Em ovelhas, Ovis aries, foi observado que fêmeas
nascidas em anos pobres podem perder um ano de reprodução, porque elas
alcançam a massa corporal crítica um ano mais tarde (Steinheim et al., 2002).
Apesar de ser a mãe quem determina, em sua maior parte, a estratégia de
investimento, os filhotes determinam alguns de seus aspectos. A estratégia de
lactação pode ser, por exemplo, alterada de acordo com o sexo dos filhotes: filhotes
machos tendem a apresentar altas demandas metabólicas e a crescer mais
rapidamente do que os filhotes fêmeas (Clutton-Brock et al., 1985). A mãe precisa
balancear as necessidades de crescimento e sobrevivência de seu filhote às custas
de sua própria condição física e futura habilidade de reprodução.
As mudanças no comportamento materno mostram-se sincronizadas com o
desenvolvimento dos filhotes, existindo um feedback na relação mãe-filhote que
regula a quantidade de comportamento materno apresentado (Brown, 1998). O
17
comportamento materno não pode ser considerado em separado do comportamento
filial, por causa de uma sempre presente regulação recíproca (Bussab, 1998). O
desenvolvimento do comportamento da mãe e dos filhotes ocorre dentro de
interações recíprocas e sincronizadas. As condições hormonais necessárias para a
gravidez e parto, sempre disponíveis para as mães, são usadas para a constituição
de um estado comportamental de cuidado e atração pelo filhote. O calor do corpo
materno com um odor particular está sempre disponível para mamíferos neonatos.
Estes estímulos são usados na produção de muitos comportamentos do neonato,
inclusive aqueles usados para manter contato com a mãe, mamar da mãe, e obter
nutrientes dela (Moore, 2007).
O forte apego ao cuidador é crítico para a sobrevivência em espécies
altriciais, incluindo humanos. O sistema de apego evoluiu para assegurar que
animais altriciais facilmente formassem um repertório comportamental de
proximidade e procura pelo cuidador primário, sem importar a qualidade de cuidado
recebido. Em ratos adultos, a emergência funcional do locus coeruleus e da
amígdala correlacionam-se ao término do período sensível de estampagem: o
cérebro do filhote recém-nascido não é uma versão imatura do cérebro do adulto,
mas é constituído para otimizar o apego ao cuidador (Moriceau & Sullivan, 2005).
Formas de aloamamentação
Em macacos-prego Cebus olivaceus (O´Brien & Robinson, 1991) o
parentesco é a mais consistente influência no comportamento alomaterno. Irmãos
interagiram com filhotes quase quatro vezes mais freqüentemente do que parentes
distantes e não-parentes. Irmãos se envolviam mais em associações com o filhote e
o carregava mais; estas interações permitiam que a mãe tivesse mais tempo para
outras atividades (forragear). Os comportamentos de carregar e de associação são
as interações alomaternas mais comuns e mais importantes porque os filhotes
precisam ser carregados até tornarem-se independentes e requerem monitoramento
à medida em que tornam-se auto-suficientes. A aloamamentação foi um
comportamento não freqüente comparado aos outros, envolvendo somente a fêmea
lactante, e não foi influenciada pela posição hierárquica ou parentesco. Os filhotes
mamaram de fêmeas não-aparentadas e de fêmeas de alto e baixo nível hierárquico.
As fêmeas facilitavam as interações de aloamamentação levantando o braço e
18
expondo a mama, como faziam quando seu próprio filhote se aproximava para
mamar. Os autores sugerem que o custo da aloamamentação é compensado pela
expectativa de reciprocidade de outras fêmeas. A reciprocidade explicaria por que a
aloamamentação independe da posição hierárquica e parentesco, e inclui fêmeas
grávidas e fêmeas que recentemente perderam seus filhotes.
Em cervos, Birgesson et al. (1991) e Ekvall (1998) relatam que uma situação
típica de aloamamentação ocorria quando um filhote estava mamando em sua
própria mãe e outros filhotes corriam e tentavam mamar nas outras três tetas
restantes. A fêmea freqüentemente inspecionava os filhotes que se aproximavam do
mesmo modo que fazia com o filhote próprio, e a aloamamentação só ocorria
quando o filhote próprio estava mamando. Os filhotes pareceram aprender
gradualmente a discriminar as fêmeas que eram mais receptivas (Ekvall, 1998).
Assim como em cervos, em búfalos Bubalus bubalis as fêmeas aceitavam filhotes
alheios somente quando seus próprios filhotes já estavam mamando (Murphey et al.,
1995); um caso de aloamamentação neste contexto foi observado em elefantes
africanos Loxodonta africana (Lee, 1987).
Segundo Murphey et al. (1995), a mãe não é capaz de afastar os filhotes
estranhos sem afastar o seu próprio. Em cervos, mães parecem capazes de impedir
que filhotes alheios mamem: quando o filhote alheio mamava pelo lado oposto ao do
filhote próprio a mãe era capaz de empurrar com a pata somente o filhote alheio; a
aloamamentação, uma vez iniciada, aumentava rapidamente, provavelmente devido
a uma combinação do desenvolvimento do filhote, aprendizagem e cópia social; o
aumento da aloamamentação ao longo da lactação reflete a capacidade de o filhote
em detectar episódios de amamentação, aumento de sua demanda nutricional e a
capacidade de fêmeas mais velhas em aumentar a produção de leite no período final
de lactação; de fato, filhotes que alomamaram cresceram mais rápido (Ekvall, 1998).
No caso dos elefantes, Lee (1987) observou que fêmeas que receberam cuidado
alomaterno quando eram filhotes ajudaram suas alomães a cuidarem de seus
filhotes mais tarde; essa reciprocidade a longo-prazo contribui para estabelecer uma
relação próxima entre filhotes e membros mais velhos dentro da unidade familiar,
assegurando a estabilidade familiar. Em elefantes também foi constatado que a
mortalidade de filhotes nos primeiros 24 meses de idade (período crítico de
dependência e vulnerabilidade do filhote) foi maior em famílias sem alomães, e essa
19
mortalidade declinou à medida que o número de alomães aumentava (Lee, 1987).
Em todos os casos, a amamentação foi maior que a aloamamentação.
Um estudo com dois grupos de capivaras, Hydrochoerus hydrochaeris
(Nogueira et al., 2000), mostrou que todas as fêmeas amamentaram todos os
filhotes de seu grupo na mesma freqüência. Os dados sugerem que o cuidado
alomaterno, no caso das capivaras, pode estar relacionado à posição hierárquica
das mães e que possivelmente fêmeas subordinadas cuidam mais dos filhotes do
que fêmeas dominantes.
Hayes & Solomon (2006) observaram em filhotes de cães da pradaria
Microtus ochrogaster que a condição em que há mais de uma fêmea reprodutiva
aumentava duas formas de investimento parental, termorregulação e volume de
leite, que contribuem para o maior ganho de peso dos filhotes.
Até o momento, o único estudo que diz claramente que fêmeas podem
controlar a liberação de leite e sincronizar as mamadas com outras fêmeas de modo
a evitar a aloamamentação, foi realizado em porcos Sus scrofa domestica por
Illmann et al. (2005). Os autores propõem que a sincronização de episódios de
amamentação (uma sobreposição temporal de episódios de amamentação de duas
ou mais fêmeas) seja um mecanismo para reduzir a incidência de aloamamentação.
Este mecanismo seria especialmente útil quando uma mãe não é capaz de
identificar seus filhotes antes e/ou durante a amamentação, como pode ocorrer em
mamíferos com grandes ninhadas, como no caso dos porcos. O Efeito da
sincronização da amamentação na redução da aloamamentação deve ser maior em
espécies que apresentam um tempo curto de liberação de leite e maiores intervalos
entre os episódios de amamentação. Isto implica que se um filhote alheio tenta
alomamar, eles correm o risco de perder completamente a amamentação
sincronizada de sua própria mãe. Portanto, o custo de alomamar é alto durante as
amamentações sincronizadas e os filhotes devem evitá-la. Uma fêmea de porco
doméstico amamenta a cada 45 – 70 minutos, e cada amamentação dura cerca de 4
– 10 minutos, mas o verdadeiro consumo de leite ocorre somente durante a breve
liberação de leite que se inicia de 1 – 4 minutos depois do início da amamentação e
dura por somente 15 – 20 segundos. O tempo curto e bem definido de liberação de
leite torna possível registrar se houve ou não transferência de leite durante a
amamentação e quais filhotes participaram. Uma característica clara de
20
amamentação com liberação de leite é o rápido aumento de vocalização do filhote
20 egundos antes da liberação de leite e os rápidos movimento de sucção da boca.
Os autores verificaram que a sincronização de amamentação aumentou em resposta
ao risco de aloamamentação; quanto menos amamentação sincronizada havia mais
tentativas de aloamamentação; e amamentações menos sincronizadas terminavam
mais freqüentemente sem liberação de leite. Os resultados sugerem que uma fêmea
pode baixar a probabilidade de aloamamentação aumentando as amamentações
sincronizadas e aumentando as amamentações não-nutritivas. No entanto, ela é
incapaz de impedir completamente a aloamamentação.
Neste estudo, a maioria das amamentações foram altamente sincronizadas, o
que significa que o tempo de intervalo entre as amamentações de fêmeas pareadas
foi muito curto para permitir que um filhote conseguisse leite das duas fêmeas. A
aloamamentação completa (com liberação de leite) foi observada em 17% das
amamentações observadas, o que comprova que as fêmeas foram incapazes de
inibir completamente a aloamamentação. Entretanto, se compararmos a freqüência
de aloamamentações completas (17%) com a freqüência das tentativas de
aloamamentação (36% do total de amamentação), nota-se que as fêmeas foram
capazes de diminuir a freqüência de aloamamentação completa pela metade, por
não liberarem o leite (Ilmann et al., 2005).
A cobaia doméstica
O presente estudo retoma a questão do alocuidado, sob a forma de
aloamamentação, em cobaias domésticas Cavia porcellus já abordada por Kunkel &
Kunkel (1964) e Fullerton et al. (1974) entre outros.
A cobaia doméstica Cavia porcellus é uma espécie exclusiva da América do
Sul, tendo como possível ancestral selvagem o preá, Cavia aperea (Weir, 1974). O
processo de domesticação do preá ocorreu nos Andes há 3000-6000 anos (Rood,
1972; Weir, 1974). Price (1984) descreveu para outras espécies domesticadas em
relação às silvestres, que o repertório dos padrões comportamentais era similar, sem
perda ou adição de elementos comportamentais, apenas mudanças nos limiares de
exibição. A cobaia é menos agressiva do que o preá e possui maior plasticidade
social, apresenta diminuição de respostas de fuga ou congelamento e menor
21
reatividade a estímulos externos, além de exibir com maior freqüência
comportamento de corte, quando comparada à espécie selvagem (King, 1956; Rood
& Weir, 1970; Rood, 1972; Weir, 1974). A cobaia é distintamente menos atenta a
seu ambiente físico do que o preá. A atividade basal do sistema simpático-
adrenomedular e a reatividade deste mesmo sistema e do sistema pituitário-
adrenocortical são reduzidos na cobaia doméstica. Assim, o processo de
domesticação da cobaia doméstica levou a traços comportamentais típicos:
agressividade reduzida e aumento da tolerância social. A diminuição da reatividade
do organismo ao estresse pode ser devido aos mecanismos fisiológicos que auxiliam
os animais domesticados a ajustarem-se às condições colocadas pelo homem
(Künzl & Sachser, 1999).
Furnari (2006) observou diferenças significativas entre pares intra e
interespecíficos de cobaias Cavia porcellus e preás Cavia aperea: cobaias
interagiram, cortejaram-se e exploraram-se mais do que preás, e preás se
mostraram mais ativos e exploradores do meio. Os pares interespecíficos também
diferiram significativamente entre si, de forma assimétrica: enquanto machos preás
cortejaram fêmeas cobaias e copularam com estas (menos, contudo, do que no caso
das fêmeas coespecíficas), machos cobaias praticamente não cortejaram fêmeas
preás, provavelmente por causa dos altos níveis de agressão destas. Os resultados
demonstraram a existência de barreiras comportamentais entre as duas espécies,
devidas provavelmente à domesticação, e capazes de gerar um isolamento
reprodutivo parcial.
King (1956) estudou cobaias domésticas em condições semi-naturais e
observou que a periodicidade diária das cobaias é governada em grande medida
pela temperatura e intensidade de luz solar. Durante o verão os animais eram mais
ativos quando o sol estava baixo ou logo após o crepúsculo, e evitavam a luz intensa
do meio-dia. Em dias nublados eram ativos ao longo do dia.
A cobaia vive em grupos caracterizados por uma estrutura de harém (Rood,
1972) e são animais altamente sociais. Machatschke et al. (2004) observaram que
em cobaias (8 – 36 meses) o nível de ocitocina (que possui efeito anti-estressante)
era menor em animais isolados do que nos animais que foram observados em
pares, o que sustenta a sociabilidade destes animais. Tokumaru (1995) verificou que
22
filhotes em condição de separação eram tranqüilizados (os comportamentos de
‘aflição’ foram suprimidos) quando um outro indivíduo era introduzido no mesmo
ambiente, podendo ser até um desconhecido.
O macho atinge a puberdade por volta de 30-40 dias, enquanto que a fêmea
torna-se madura entre 55-70 dias (Asdell, 1964). O ciclo estral varia entre 15 e 17
dias (Young, 1969); o estro é espontâneo e dura por aproximadamente 8 horas
(Young et al., 1935). Na cobaia ocorre também um estro pós-parto (King, 1956) que
se dá de minutos a algumas horas após o nascimento dos filhotes (Avery, 1925;
Young, 1969).
A gestação dura cerca de dois meses, podendo nascer entre um e oito
filhotes, apesar de a mãe só possuir duas tetas (Beisiegel, 1993). Os filhotes são
precoces, nascendo já homeotérmicos, com o corpo coberto por pêlos, com olhos e
ouvidos funcionais, capacidade para ingerir alimentos sólidos e de se locomover e
interagir com outros indivíduos do grupo (Tokumaru, 1995). Mamam por cerca de 23
dias (Raffel et al., 1996 em Künkele e Trillmich, 1997).
Os filhotes de cobaia reconhecem suas mães (Niciporciukas et al., 1999;
Jäckel & Trillmich, 2003) e as mães reconhecem seus filhotes (Tokumaru, 2000;
Porter et al., 1973). Niciporciukas et al. (1999) observaram que filhotes de cobaia
discriminavam sua própria mãe de uma fêmea lactante não-familiar sem que
houvesse contato direto e interação próxima, mas a discriminação só foi possível
quando o filhote estava a curta distância, de fato, quando o filhote estava próximo à
tela. Porter et al. (1973a) observaram que fêmeas cobaias passavam
significativamente mais tempo perto de seus filhotes de 1-2 dias de vida do que
perto de uma ninhada alheia de mesma idade; estas fêmeas apresentaram
indicações comportamentais de reconhecimento e apego a seus próprios filhotes
dentro de 48 horas após o nascimento. Este reconhecimento e um sistema de apego
(Henessy, 2003) permitem que a ninhada permaneça próxima da mãe, mesmo
durante o deslocamento. Wewers et al. (2003), em seu estudo com filhotes de
cobaias de 13-14 dias de idade, observaram que quando separados de suas mães e
colocados em um ambiente estranho, imediatamente após a separação somente
suas próprias mães eram capazes de tranquilizá-los (usando-se como critério de
tranqüilização, os níveis de cortisol dos filhotes), mas após 2 horas de separação a
presença de outro animal tinha o mesmo efeito tranquilizador.
23
Künkele (2000a) observou que mães cobaias alcançam até 50% da produção
total durante a gestação e que os efeitos relativos do tamanho da ninhada na
produção total e seu custo energético (incremento do consumo de energia pelas
mães) foram quase idênticos durante a gestação e a lactação. O incremento da
ingestão energético por filhote decresceu dramaticamente com o aumento do
tamanho da ninhada, e filhotes de ninhadas grandes obtiveram menos leite do que
filhotes de ninhadas pequenas. Os filhotes de ninhadas grandes reagiram
consumindo mais alimento sólido, porém, a taxa de crescimento e o peso corporal
final de filhotes de diferentes tamanhos de ninhada indicam que o consumo de
alimento sólido está longe de compensar totalmente a redução da ingestão de leite
materno, pelo menos durante os 10 primeiros dias de vida. O autor levanta a
hipótese de que a produção de leite da mãe cobaia parece ser ajustada pelo
tamanho da ninhada que ela de fato deu à luz, sem muita capacidade de aumentar
ou diminuir a produção de leite.
Esta hipótese foi confirmada por Laurien-Kehnen & Trillmich (2003), que
verificaram que mães cobaias não aumentam a produção de leite com o aumento da
demanda dos filhotes. De fato, os autores verificaram que mães cobaias têm sua
produção de leite ajustada para o tamanho de ninhada de que estava grávida. O
longo período de gestação relativo à lactação, assim como a alta eficiência
energética da produção materna durante a gestação permitem que as mães cobaias
mantenham sua ingestão energética diária durante a gestação em um nível
relativamente baixo e ainda assim alcançar 50% da produção total (Künkele, 2000b).
Sabe-se que muitos roedores altriciais ajustam o tamanho da ninhada através
do infanticídio durante a primeira fase da lactação (Perrigo, 1987). Esta opção não
se aplica às mães cobaias, porque na época do nascimento o investimento materno
está muito avançado e o tamanho da ninhada já terá afetado sua reprodução e seu
custo energético significativamente (Künkele, 2000a). Um mecanismo mais
adequado para ajustar o tamanho da ninhada é provavelmente a reabsorção fetal
durante a gestação (Peaker & Taylor, 1997). Além do mais, em contraste aos
roedores altriciais, o tamanho da ninhada afeta muito a massa corporal das mães
cobaias durante a gestação. Este fato deve ser ecologicamente relevante em termos
de risco de predação de fêmeas grávidas. Se o aumento da massa corporal reduz
suas chances de escapar de predadores, variáveis locais e sazonais na pressão de
24
predação podem desempenhar um papel importante na decisão do tamanho da
ninhada (Künkele, 2000a). O grande tamanho da ninhada da cobaia doméstica C.
porcellus comparadas às ninhadas de preá C. aperea parece se uma característica
selecionada pela domesticação; de acordo com Kasparian et al. (2005) o tamanho
ótimo de ninhada de C. aperea é de dois filhotes. De fato, parte relativa da grande
quantidade de ingestão energética das mães durante os dias 30-55 de gestação
podem ser armazenados como gordura para ser usada durante as duas últimas
semanas de gestação. Tal estratégia pode ser vantajosa porque evita que a mãe
tenha de gastar um longo tempo em forrageio justamente na época em que sua
mobilidade fica reduzida (Künkele, 2000b).
Albers et al. (1999a) pesquisaram estilos maternos em cobaias (ocorrência de
diferenças individuais consistentes ao longo do tempo em relação a parâmetros de
comportamento materno) ao longo de quatro ninhadas consecutivas, e observaram
que mães cobaias consistentemente diferiram uma da outra em relação ao
comportamento materno (comportamento afiliativo – grooming, contato ventral;
agressão – por diminuir a qualidade da relação social; e locomoção – por afetar
fortemente o tempo que a mãe fica em contato com o filhote). Albers et al. (1999b)
observaram que mães multíparas se comportaram de forma diferente das
primíparas; as mães multíparas eram mais ativas em allogrooming, farejar o pêlo e
contato focinho-focinho.
Objetivos da presente pesquisa
A presente pesquisa atende à necessidade de se saber mais a respeito da
aloamamentação em cobaias. São poucas as descrições existentes a respeito do
fenômeno e, na sua maioria, não sistemáticas. O delineamento experimental
consistiu de fêmeas mantidas sozinhas com suas ninhadas e fêmeas pareadas que
tiveram partos simultâneos ou quase (no máximo com 3 dias de diferença entre os
partos), durante um período de 4 semanas, que é o período normal de lactação das
cobaias. O problema que se colocou desde o início da pesquisa – além da
necessidade descritiva – foi o de entender, de um ponto de vista funcional, o
desenvolvimento da aloamamentação. Sendo o leite um recurso tão escasso para as
cobaias, como entender que ocorra partilha do recurso entre filhotes próprios e
filhotes alheios em condição de pareamento?
25
Uma explicação de que a aloamamentação em cobaias ocorria devido a uma
organização social muito permissiva - análoga à amamentação comunal em
camundongos - aventada no começo da pesquisa, precisou ser reformulada à
medida que analisávamos os resultados. A imagem que parece impor-se é de um
fenômeno complexo em que predomina o interesse das mães pela própria ninhada e
em que a busca do recurso em mães alheias é uma iniciativa dos filhotes.
26
MÉTODO
ETAPA 1: COBAIAS COMUNS
Sujeitos
Foram usadas 28 fêmeas coloridas com suas ninhadas (total de 72 filhotes)
provenientes do Biotério da Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Destas 28
fêmeas, 10 foram observadas na condição Fêmeas Sozinhas (FS – uma fêmea
sozinha com sua ninhada em cada caixa experimental) e 18 fêmeas na condição
Fêmeas Pareadas (FP - condição em que as fêmeas são pareadas logo após o
parto, uma condição que propicia a ocorrência de aloamamentação).
Os animais eram normalmente mantidos em cercados do Biotério da
Fundação Parque Zoológico de São Paulo, ao ar livre, em grupos compostos por um
macho dominante, dez fêmeas e várias ninhadas. A alimentação era dada duas
vezes ao dia (ração, folhas verdes), a água era disponível ad lib. Os cercados eram
construídos com telas de arame com trama pequena para impedirem a entrada de
outros animais, e cobertos por telhas. A temperatura e o ciclo claro-escuro eram os
do ambiente (Figuras 1 e 2). Os animais estavam adaptados a estas condições, e se
reproduziam freqüentemente. Mostravam-se familiarizados ao tratador e demais
funcionários não interrompendo seus habituais comportamentos (comer, dormir,
cortejar, amamentar) na presença deles.
27
Figura 1: Caixa experimental dentro de um dos cercados
do Zoológico de São Paulo.
Figura 2: Fêmeas com seus filhotes, numa caixa
experimental, no Zoológico de São Paulo.
28
ETAPA 2: COBAIAS ALBINAS
A coleta de dados desta etapa foi realizada no Biotério Itupeva, localizada na
Fazenda Bem Te Vi (em Itupeva, 80 km da cidade de São Paulo), de 10 de Janeiro a
28 de Abril de 2006. O Biotério mantém uma criação, com fins comerciais, de
cobaias albinas Cavia porcellus, e outros animais de laboratório, para uso em
pesquisa. Neste biotério, as cobaias eram mantidas em caixas brancas de
polipropileno (90 x 60 x 30 cm). Em cada uma delas havia um macho, quatro fêmeas
e filhotes. Os filhotes eram desmamados quando atingiam 180 g. A temperatura e o
ciclo claro-escuro eram naturais (Figura 3).
Figura 3: Sala das cobaias, no Biotério da Fazenda
Bem-Te-Vi, Itupeva.
Sujeitos.
Foram usadas 30 fêmeas de cobaias albinas Cavia porcellus e suas ninhadas
(total de 93 filhotes) escolhidas quando tinham acabado de dar à luz, ou quando os
filhotes tinham no máximo três dias de vida. Os animais usados faziam parte do
plantel do Biotério Itupeva. Das 30 fêmeas e suas ninhadas, 10 foram observadas na
condição FS, e 20 fêmeas e suas ninhadas foram observadas na condição FP,
formando 10 pares.
29
Com o auxílio da funcionária responsável pelas cobaias checava-se
diariamente as fêmeas que tinham dado à luz. Elas eram retiradas de sua caixa-
moradia, juntamente com os filhotes e transportadas para a sala experimental
(Figura 4) onde eram mantidas em caixas de mesmas proporções (90 x 60 x 30 cm).
A temperatura e o ciclo claro-escuro eram naturais.
Figura 4: Ambiente experimental, na Fazenda Bem-Te-Vi, Itupeva.
Os animais recebiam água e ração ad. lib., e capim uma vez ao dia. A limpeza
das caixas era feita duas vezes por semana.
Procedimento
Etapa 1
Fase de isolamento pré-parto. Fêmeas em período final de gravidez foram
retiradas dos cercados e isoladas em caixas experimentais até o nascimento dos
filhotes. (a) Fêmeas com partos simultâneos ou com até três dias de diferença foram
colocadas na condição FP; (b) fêmeas com partos isolados foram mantidas e
observadas na condição FS.
30
Registro e identificação do comportamento. A duração e freqüência dos
episódios de amamentação e aloamamentação foram registrados através de
observação direta, durante quatro semanas pelo método de todas as ocorrências,
pelo período de uma hora, duas ou três vezes por semana.
Definiu-se um episódio de amamentação, tanto na mãe própria quanto na
mãe alheia, quando o filhote efetivamente pegava a mama. Este comportamento foi
descrito como um comportamento de fácil identificação (Künkele e Hoeck, 1995;
Künkele e Trillmich, 1997). No entanto, se a identificação for feita somente pela
postura do filhote ou identificado como o filhote estando com o focinho apontado
para a teta, poderá levar a um registro equivocado. Por isso consideramos a
amamentação um fenômeno cuja identificação exige atenção do observador. Cabe
levar em conta o momento exato em que o filhote se aproxima da fêmea, pois nesse
momento é possível observar claramente se o filhote é bem sucedido em pegar a
mama ou não. Se este momento passar, pode-se supor que o filhote esteja
mamando quando na verdade está apenas em contato com a fêmea.
Para fins deste estudo considerou-se um episódio de amamentação e início
do episódio quando se observava que o filhote pegava a mama com a boca. Durante
um episódio o filhote podia eventualmente largar a mama rapidamente e depois
voltar a pegá-la. Se o filhote voltasse a pegar a mama dentro de dez segundos
considerava-se que se tratava ainda do mesmo episódio, se demorasse mais de dez
segundos, contava-se novo episódio.
Registro da distância. A distância dos filhotes com relação à mãe e à mãe
alheia, na condição FP era avaliada a partir de varreduras (scans) de distância entre
mães e filhotes, a cada quinze minutos da sessão de uma hora, havendo, assim,
quatro varreduras por sessão de observação. A unidade de distância considerada foi
a de “um corpo de cobaia”, aproximadamente 30 cm.
Peso. Os filhotes eram pesados após o nascimento (na primeira semana de
vida = peso inicial) e no último dia de observação (quarta semana de vida = peso
final), para se avaliar o ganho relativo de peso (peso final - o peso inicial/peso
inicial).
31
Etapa 2
O procedimento usado na Etapa 2 replicou, em todos os detalhes, o
procedimento da Etapa 1 com diferenças no registro (os animais eram filmados) e de
peso (eram pesados ao longo das 4 semanas experimentais)
Registro dos Dados. Os animais eram filmados em sessões de uma hora e
dez minutos (Figura 5) com câmeras VHC Sony e JVC.
Peso. Os filhotes foram pesados antes de cada filmagem de duas a três
vezes por semana durante o período de observação para obter uma estimativa do
desenvolvimento ponderal (na primeira etapa, dispúnhamos dos pesos inicial e final
de cada filhote).
Figura 5: Dispositivo de filmagem,
na Etapa 2: disposição da câmera
VHS e da caixa de cobaias.
32
Análise estatística
Foram 5 as variáveis dependentes analisadas: distância fêmea-filhote,
freqüência média de amamentação; duração média total de amamentação, duração
média por episódio de amamentação e ganho relativo de peso dos filhotes. (1) A
distância média fêmea-filhote foi calculada dividindo-se o total das distâncias
registradas pelo número de episódios; (2) as freqüências médias de amamentação
foram computadas dividindo-se o número total de episódios de amamentação
durante a semana pelo número de sessões de observação desta semana. (3) A
duração total de amamentação em cada semana, dividida pelo número de sessões,
fornecia a duração média de amamentação; (4) a duração por episódio foi obtida
dividindo-se a duração média de amamentação pelo número de episódios
observados; (5) o peso dos filhotes era tomado na primeira semana de observação e
na quarta semana, na Etapa 1; e semanalmente, na Etapa 2.
Para comparar os grupos de interesse ao longo do tempo, quanto às variáveis
de freqüência, duração total, duração por episódio, distância e peso utilizou-se uma
Análise de Variância para Medidas Repetidas (Winer, 1971; Diggle et al., 1994).
Essa metodologia permite avaliar se o comportamento médio das variáveis ao longo
das condições de avaliação é semelhante nos quatro grupos [FS, FPp, FPa(p+a) e
FPp(p+a), para cada etapa, ver legenda nos resultados], ou seja, se as curvas
médias dos grupos são paralelas, que corresponde à hipótese de ausência de
interação entre condição de avaliação e grupo. Caso essa hipótese não seja
rejeitada, prossegue-se a análise testando efeito de grupo e efeito de condição de
avaliação, sendo que o interesse foi comparar os momentos consecutivos. Caso
contrário, prossegue-se a análise através da comparação das médias dos grupos
dentro de cada momento e dos momentos dentro de cada grupo. Para modelar a
dependência entre observações dos filhotes da mesma mãe ou de filhotes de mães
pareadas incluiu-se no modelo estatístico os efeitos aleatórios. Esse método garante
que as comparações entre as médias sejam feitas ponderando-se pela dependência
das observações relacionadas. O nível de significância estabelecido para análise foi
de 5%.
33
Comparou-se o número de filhotes que mamaram e alomamaram nas
condições FS, FPp, FPa(p+a) e FPp(p+a) através do teste de χ
2
.
34
RESULTADOS
Na apresentação dos resultados serão usadas siglas para indicar os grupos
de indivíduos observados:
FPp. Dados referentes ao comportamento dos filhotes que mamaram
exclusivamente de suas mães, na condição FP.
FP(p+a). Dados referentes ao comportamento dos filhotes que mamaram da mãe
própria e da mãe alheia, na condição FP. Distinguiu-se, neste conjunto de dados:
FPp(p+a) = comportamento dos filhotes em relação à mãe,
FPa(p+a) = comportamento dos mesmos filhotes em relação à outra
fêmea (mãe alheia).
Também foram usadas siglas para nomear indivíduos. As fêmeas eram
designadas por letras maiúsculas (FP1, por exemplo): FP significa “fêmeas
pareadas”, o número (1, no caso) a família. Os filhotes foram identificados com letras
minúsculas (fp1a e fp1b, por exemplo). As primeiras letras (fp) indicam a condição;
o número seguido por uma letra indica, no caso, que os dois filhotes pertencem à
família 1, filhos de FP1.
35
OBSERVAÇÃO QUALITATIVA DO COMPORTAMENTO NO
CONTEXTO DE PAREAMENTO
Descrevemos aqui, usando como base os registros de videotape obtidos na
Etapa 2, aspectos gerais do comportamento dos filhotes e das mães cobaias no
contexto de fêmeas pareadas (FP). Esta descrição visa um conhecimento maior das
interações no contexto FP (não existem, na literatura, relatos qualitativos extensos a
respeito de como se comportam fêmeas e filhotes numa situação de ninhadas
simultâneas) e fornece uma base descritiva relevante para a interpretação das
análises quantitativas que fornecemos em seguida. Algumas das perguntas que nos
colocamos, ao observarmos as duas famílias, no contexto FP eram: Há segregação
espacial e comportamental das famílias? Há comportamentos agonísticos entre as
fêmeas? Há agressão seletiva das fêmeas em relação a filhotes alheios ou, pelo
menos, comportamentos que limitem o seu acesso às mamas? Há competição entre
os filhotes em relação ao acesso às mamas? Como se dá a iniciação de um episódio
de amamentação? A fêmea lactante tem sempre contato com o filhote antes do
episódio de amamentação? Há reconhecimento? Ela pode decidir se oferece seu
leite a um filhote próprio ou a um filhote alheio?
PROXIMIDADE E AGRESSÃO
Agrupamentos de descanso: Os animais em descanso ou parados formam
muitas vezes um aglomerado em que os animais mantêm contato corporal estreito,
cada animal assumindo uma postura individual. Destes agrupamentos fazem parte
filhotes de mães diferentes, não havendo indício de segregação por família (Figura
7, página 40). Para Rood (1972), há descanso quando o animal se deita com o
ventre e queixo em contato com o chão, patas traseiras para o lado ou esticadas
para trás. King (1956) atribui ao descanso o contato que ocorre nos agrupamentos
sendo a sua função a de preservar o calor corporal.
Contato entre filhotes: Os filhotes das duas ninhadas ficam uns perto dos
outros, alimentam-se ao comedouro juntos, misturam-se sem padronização espacial
clara, embora exista a tendência de seguirem a mãe e permanecerem perto dela
36
(Figuras 10 e 15). Não há agressão marcada, fora pequenos movimentos de
afastamento (por exemplo, a movimentação rápida da cabeça ou do corpo que um
filhote executa quando outro se aproxima e quase estabelece contato com o focinho)
e uma competição possível perto da mama disputada.
Filhotes seguem a fêmea: O comportamento de seguir a fêmea é um dos
mais constantes nos filhotes e é o que constitui a base para uma certa separação
espacial entre as famílias, na medida em que os filhotes tendem a seguir mais a sua
própria mãe do que a outra. Ocorre, contudo seguimento de filhotes em relação à
fêmea que não é sua mãe. Ao seguir, os filhotes ficam (individualmente ou em
grupo) atrás da mãe, ou paralelos a ela, parando eventualmente quando ela pára
(Figura 10a) às vezes tentam mamar depois de ela parar (Figura 10b). Não
observamos diferença entre filhotes próprios e alheios no jeito de seguir a fêmea.
Fullerton et al. (1974) observaram o mesmo padrão em seu estudo com cobaias. Os
autores verificaram que os filhotes ficavam mais freqüentemente em contato e
próximos de suas próprias mães, mas estas atividades ocorreram em menor grau
em relação à outra fêmea.
Contato e agressão entre fêmeas: As fêmeas ficam geralmente próximas umas
das outras, em descanso (Figura 7) e passam freqüentemente uma perto da outra
durante sua locomoção pela caixa (Figura 9). Mas pode ocorrer de uma fêmea
agredir outra quando uma se aproxima ou passa perto. Nos quadros da Figura 8,
vemos uma fêmea agredir e perseguir outra. Os atos agonísticos incluem bater com
o focinho e dar patadas. Rood (1972) relata serem raras as interações agressivas
entre fêmeas: ocasionalmente, uma fêmea mais velha, com um empurrão de
cabeça, afastava outra mais nova do comedouro ou do lugar de descanso. Segundo
ele, estes episódios não eram suficientemente freqüentes para caracterizar o
estabelecimento de relações de dominância. Segundo ele, as cobaias fêmeas são
passivas e de natureza amigável. Nossa observação confirma o caráter benevolente
das fêmeas, mas mostra que ele coexiste com atos agressivos e o possível
estabelecimento de dominância.
Agressão das fêmeas aos filhotes: As fêmeas são geralmente benevolentes
para com os filhotes, sejam próprios ou alheios. Contudo, episódios de agressão
leve foram observados e têm possível relevância para a compreensão do processo
de amamentação e aloamamentação. Fêmeas (ver mais adiante) podem interromper
37
agressivamente um episódio de amamentação. Mas elas também podem agredir
filhotes que estejam passando perto com movimentos bruscos da cabeça ou do
corpo. A observação indica serem estas agressões mais freqüentes no caso de
filhotes alheios do que dos próprios: se verificada esta observação, teríamos um
indício do porquê os filhotes preferem mamar de sua mãe e do porquê, como será
vista mais adiante, a freqüência de filhotes que alomamam cai
desproporcionalmente depois da primeira semana de vida.
INÍCIAÇÃO DO EPISÓDIO DE AMAMENTAÇÃO
Abordagem individual à fêmea: Não observamos diferença na maneira de a
fêmea ser abordada por seu filhote ou por um filhote alheio para a iniciação da
amamentação. A abordagem para amamentação nem sempre inclui um exame ou
contato sensorial do filhote pela fêmea que o amamentará, o que favorece a
hipótese de que não há controle sistemático do acesso à mama nem seletividade a
favor dos filhotes próprios. Em muitos episódios, a fêmea simplesmente é procurada
por um filhote que vem por trás e não há indicação de que ela possa efetuar o
reconhecimento ou impedir a sua aproximação.
O filhote, em muitos dos episódios, se aproxima diretamente da fêmea,
colocando o focinho sob o ventre dela para alcançar a mama, mantendo um ângulo
variável ao corpo dela, mas visando a região das mamas. Não há, neste caso,
contato prévio do filhote com a fêmea para que ela pudesse reconhecê-lo (se
próprio, se alheio) e não parece haver qualquer possibilidade de ela interromper
seletivamente a aproximação do filhote. O filhote entra lateralmente, por debaixo da
fêmea, sem que haja contato focinho-focinho ou outra forma de aproximação
sensorial da fêmea em relação ao filhote (Figuras 12a, 13a e 14a).
Em outros casos, o contato sensorial próximo ocorre. A fêmea encosta o
focinho no filhote que está se aproximando para mamar, conseguindo farejá-lo
(Figuras 11c e 12d). Estes casos indicam que a iniciação da amamentação não é
sempre “cega”, do ponto de vista da fêmea e que há eventualmente conhecimento,
de sua parte, a respeito da identidade (próprio/alheio) do filhote. Não sabemos se o
contato sensorial propicia respostas de rejeição seletiva que favoreçam o filhote
próprio.
38
Abordagem conjunta à fêmea: Os filhotes às vezes se dirigem juntos para a
fêmea, iniciando um episódio de amamentação (Figura 14a). Os filhotes que
mamam (ou procuram mamar) simultaneamente podem ser irmãos (Figura 16), ou
não (um filhote próprio + um filhote alheio) ou podem ser ambos alheios. A chegada
à fêmea, por parte do filhote alheio, não parece obedecer a uma regra do tipo:
“aproximar-se da fêmea se ela já estiver amamentando um filhote próprio”, ou
“aproximar-se junto com um filhote próprio”, como ocorre em búfalos (Murphey et al.,
1995) e cervos (Birgersson et al., 1991 e Ekvall, 1998).
Os filhotes ajeitam-se espacial e posturalmente quando chegam ao mesmo
tempo à fêmea: cada um acaba situando-se na região de uma das mamas. Quando
um filhote encontra outro mamando, dirige-se diretamente para a outra mama, um
comportamento que pode significar uma redução da competição direta. A
competição, no sentido de um filhote tentar desalojar outro que já esteja mamando,
ocorre quando ambas as mamas estão ocupadas na chegada de um terceiro filhote
e se caracteriza por movimentos de aproximação à região da mama associados com
empurrões laterais dirigidos ao outro filhote. Às vezes, quando um filhote pára de
mamar, um filhote que está próximo logo começa a mamar em seu lugar.
POSTURAS E COMPORTAMENTOS DE AMAMENTAÇÃO
Fêmea sentada : A fêmea está na posição sentada, região traseira do corpo
encostada ao chão, torso erguido, e com as quatro patas apoiadas. O ventre não
está, neste caso, apoiado por inteiro sobre o chão. (1) Um ou dois filhotes mamam
frontalmente: o filhote (ou os filhotes) se arrastam por entre as patas dianteiras da
fêmea para alcançar a mama, havendo um contato de suas costas do filhote com o
ventre da fêmea (figura 11c e 11d). (2) Um ou dois filhotes mamam lateralmente: o
filhote (ou os filhotes) está com apenas a cabeça sob o ventre da fêmea e com o
corpo exposto (Figura 13c).
Fêmea deitada com um filhote mamando lateralmente: A fêmea tem o ventre
todo apoiado ao chão e nesta posição é possível que somente um filhote mame;
este filhote só pode mamar na posição lateral, pois não é possível que ele passe
pelas patas dianteiras da fêmea (Figura 14c).
39
Estimulação do filhote pela fêmea durante a amamentação. Enquanto
amamenta, a fêmea pode, simultaneamente, realizar estimulação ano-genital no
filhote que mama (Figura 12b e 12e). Não temos uma contagem do quanto este
comportamento ocorre dirigido para um filhote próprio ou para um filhote alheio, mas
sabemos que ele ocorre nos dois casos. Quando estimulado, o filhote se vira, fica
com o ventre para cima, e levanta uma das patas traseiras. O filhote faz movimentos
rápidos e repetidos com a pata levantada, para frente e para trás, e pode emitir
vocalização característica de estimulação. King (1956) descreve a estimulação ano-
genital como sendo a única interação social associada ao comportamento
eliminativo, e ocorre quando a mãe lambe a região anal, enquanto o filhote relaxa e
permite ser virado de lado pela mãe e ao mesmo tempo emite uma série de
grunhidos.
Assim descreve Rood (1972) a amamentação em cobaias: a fêmea se senta
com as patas dianteiras estendidas, olhos parcialmente fechados, ou se põe deitada
sob o ventre ou de lado. Uma amamentação casual ocorre quando a fêmea está
comendo ou bebendo. Uma fêmea que amamenta pode ocasionalmente se inclinar,
lamber e esfregar o focinho na região ano-genital do filhote, para estimular a
eliminação. Os filhotes freqüentemente mamam com o quadril elevado o que facilita
a estimulação ano-genital pela fêmea.
A TERMINAÇÃO DA AMAMENTAÇÃO
O fim da amamentação se dá sob a iniciativa do filhote que interrompe
espontaneamente o episódio e se afasta ou da fêmea que força esta interrupção: (1)
A fêmea se afasta, em locomoção, e assim se desliga do filhote (Figura 8). Em
alguns casos, o filhote continua segurando a mama e chega a ser arrastado. (2) A
fêmea agride o filhote: ela pode virar-se, lateralmente, e dar um golpe com o focinho
no filhote que está mamando (Figura 16), ou ela pode efetuar um movimento brusco
com a pata, que freqüentemente atinge o filhote e o afasta dela. Vimos a interrupção
agonística da amamentação ser dirigida tanto para filhotes próprios como para
filhotes alheios e notamos que era mais freqüente na época próxima ao desmame.
40
Figura 7: Exceto por um filhote próximo à tigela, todos os indivíduos das duas
famílias se mantêm agrupados.
41
Figura 8: (a) FP7 (mancha nas costas), amamenta filhote próprio fp7a (círculo
verde) quando FP8 (sem mancha), se aproxima; (b) FP7 agride FP8; a
amamentação fica interrompida (c) FP8 foge e FP7 a persegue.
17c
17a
17b
c
b
a
42
Figura 9: FP7 (mancha nas costas) e seus filhotes são indicados pela cor
laranja, e FP8 (sem mancha) e seus filhotes pela cor azul. (a) as fêmeas se
encontram brevemente, quando FP7 passa por FP8; (b) FP7 passa novamente
por FP8. Durante a atividade ocorre uma mistura dos indivíduos.
a
b
43
Figura 10. (a) FP8 (sem mancha) e seu filhote fp8b (listra nas costas) se
locomovem em paralelo; (b) fp8b coloca o focinho no ventre de FP8, que parou
um instante, e tenta mamar; (c - d) fp8b se locomove atrás de FP8, o focinho a
pequena distância ou em contato com a região traseira da mãe. Enquanto isso,
FP7 (mancha no dorso) amamenta dois de seus filhotes.
a
b
c d
44
Figura 11: (a) fp7d, mancha cabeça+traseira (verde) contorna o corpo da mãe,
FP7, parada; (b) fp7d se aproxima da cabeça de FP7, sendo possível o contato
sensorial; (c) fp7d coloca a cabeça sob a cabeça de FP7; (d) fp7d se arrasta
debaixo de FP7 e alcança a mama.
a
b
c d
45
Figura 12: (a) os filhotes, próprios e alheios, vão em direção a FP7, o filhote
fp7b (verde) consegue mamar; (b) FP7 abaixa a cabeça e inicia estimulação
ano-genital em fp7b, que levanta a pata traseira; (c) fim da estimulação ano-
genital de fp7b; (d) fp7a, mancha cabeça (verde), aproxima-se de FP7
frontalmente e é farejado por FP7 (contato sensorial); (e) FP7 abaixa a cabeça
em direção à região ano-genital de fp7a.
a
c
e
d
b
c
e
46
Figura 13: (a) fp7c, mancha no pescoço (verde) aborda FP7 (mancha nas
costas), enquanto o irmão fp7d, mancha cabeça+traseira (verde) encontra-se a
uma certa distância; (b) o filhote fp7c mama enquanto fp7d se aproxima de FP7,
passando ao lado da mãe alheia FP8 (sem mancha); (c) os filhotes fp7c e fp7d
mamam juntos.
a
b
c
47
Figura 14: (a) fp8b, listra nas costas (amarelo), filhote alheio, está mamando em
FP7 quando o filhote próprio fp7d, mancha cabeça+traseira (verde), se
aproxima; (b) fp7d enfia o focinho para pegar a mama; (c) fp8b não larga a
mama e os dois filhotes se empurram; (d) os filhotes se empurram, e empurram
a pata de FP7. O filhote alheio fp8b continua mamando e fp7d fica perto sem
mais competir.
a b
c d
48
Figura 15: (a) fp8b, listra nas costas (verde), mama lateralmente em FP8; (b)
FP8 interrompe amamentação afastando-se de fp8b.
Figura 16: (a) Filhotes próprios fp7a (mancha na cabeça) e fp7c (mancha
traseira), mamam em FP7; FP7 está com o focinho em contato com fp7a (verde);
(b) FP7 vira a cabeça na direção da cabeça de fp7a, à sua esquerda, e bate nele
com o focinho; (c) fp7a larga a mama e tenta se afastar passando pelo espaço
entre FP7 e a parede da caixa.
a b
a
b c
49
a
b
c
d
e
50
Figura 17: (a) FP7 amamenta filhote próprio fp7a, mancha na cabeça (verde); o
filhote alheio fp8b, listra nas costas (amarelo) está próximo; (b) FP7 dá uma
focinhada no focinho de fp8b, que imediatamente recua; o filhote próprio fp7a
deixa a mama durante o ataque; (c) FP7 e fp8b entram em contato
focinho/focinho; (d) FP7 dá outra focinhada em fp8b, que recua e (e) afasta-se
de FP7.
As observações diretas do comportamento, na condição FP, confirmam o
caráter geralmente pacífico das interações de cobaias em situação de biotério. As
cobaias descansam muitas vezes em conjunto e se mesclam, ao longo do tempo, de
uma forma que indica não haver discriminação marcada entre as famílias ou, pelo
menos, não ser esta discriminação marcada e estabelecedora de territórios. Apesar
desta coexistência social tranqüila, existem laços de proximidade mais marcados
entre os filhotes e suas mães do que entre eles e a outra fêmea, e eventos
agonísticos entre fêmeas e entre fêmeas-filhotes. Os ataques de fêmeas a filhotes
que mamam podem ser entendidos como fazendo parte do processo de desmame,
ou do equilíbrio entre a disponibilidade de a fêmea amamentar e de os filhotes
procurarem as mamas. Mas os ataques espontâneos a filhotes, talvez direcionados
a filhotes alheios, podem ser a maneira que as fêmeas encontraram de defender o
leite enquanto recurso para os próprios filhotes (uma vez que não parecem aptas a
discriminar os filhotes que estejam mamando, nem capazes de afastar seletivamente
os filhotes alheios).
51
RESULTADOS QUANTITATIVOS
A análise dos registros quantitativos foi efetuada, basicamente, a partir das
três seguintes comparações:
(1) FS x FPp: através desta comparação, é possível verificar o quanto
difere o comportamento dos filhotes FS (filhotes com sua própria
mãe, sem competição com outra ninhada por espaço, comida, leite)
do comportamento dos filhotes FPp (que mamaram exclusivamente
de sua própria mãe em uma condição de possível competição com
filhotes de outra mãe).
(2) FPp e FP(p+a): comparamos os escores dos filhotes da condição
FP que mamaram exclusivamente de suas mães (FPp) com os, da
mesma condição, que mamaram e alomamaram [FP(p+a)]. Esta
comparação tem um interesse especial porque através dela pode-
se contrastar, no mesmo contexto, filhotes que usam estratégias
diferentes: as diferenças na freqüência e na duração da
amamentação, entre as estratégias, poderiam indicar a vantagem
eventual, do ponto de vista do filhote, em obter recursos de duas
fêmeas e não exclusivamente da própria mãe.
(3) FPp(p+a) x FPa(p+a): esta comparação também tem especial
interesse porque pode mostrar o quanto o comportamento de um
filhote que mama e alomama pode diferir quando dirigido à mãe ou
à outra fêmea. As comparações, nesta parte da análise são feitas
entre dados dos mesmos indivíduos (testes para dados pareados).
Nas análises estatísticas de freqüência e duração de amamentação ao longo
das semanas, levamos apenas em conta os dados dos filhotes que tinham tido pelo
menos um episódio de amamentação em cada semana examinada. É importante
lembrar que os resultados descrevem a ontogênese e as diferenças dos episódios
de amamentação (dirigidos à mãe e à outra fêmea), não levando em conta, como
dado, a eventual ausência de amamentação.
52
Nas comparações entre os dados das Etapas 1 e 2, usamos o algarismo 1 ou
2 para designar a etapa considerada: por exemplo, FS_1 e FS_2 são as siglas para
os filhotes da condição FS, respectivamente na primeira e na segunda etapa do
experimento. Nos gráficos, as curvas da Etapa 1 são sempre apresentadas em
vermelho, e da Etapa 2 sempre em azul.
Tamanho das ninhadas
Na Etapa 1 não houve diferença significativa entre o tamanho das ninhadas
na condição FS (10 pares de fêmeas) e FP (9 pares de fêmeas) (Student, t = 0,16, gl
= 26, p > 0,05), nem entre o tamanho das ninhadas na condição FS (10 pares de
fêmeas) e FP (10 pares de fêmeas), (Student, t = 0,48, gl = 28, p > 0,05). A ausência
de diferenças significativas garante que diferenças eventuais entre FS e FP serão
devidas ao contexto social, e não ao número médio de filhotes em cada caso.
Na Etapa 2 as ninhadas foram em média um pouco mais numerosas (cobaias
albinas) do que na Etapa 1 (cobaias comuns). No caso de FS, os tamanhos médios
das ninhadas foram 3 e 2,6 filhotes, respectivamente; no caso de FP, foram 3,1 e 2,6
filhotes, respectivamente. A diferença foi significativa no caso de FP (Student, t =
2,04, gl = 40, p < 0,05). Uma diferença no número de filhotes pode eventualmente
acarretar diferenças no comportamento de amamentação (Künkele, 2000a).
Ocorrência da aloamamentação
A aloamamentação foi um fenômeno generalizado. Ocorreu (com pelo menos
um filhote alomamando) em 8 dos 9 pares de fêmeas da Etapa 1 e em 10 dos 10
pares da Etapa 2. Na Etapa 1, 25 dos 46 filhotes alomamaram pelo menos uma vez
(54,3 %) e na Etapa 2, 40 dos 63 filhotes (63,5 %). Houve aloamamentação tanto
nas cobaias comuns como nas albinas na condição FP. A diferença entre as etapas
não foi significativa ( χ
2
= 0,3849,.gl 1, p > 0,05).
Contudo, a aloamamentação mostrou-se um comportamento eventual (ver
seção seguinte). Somente um filhote na Etapa 1 e outro na Etapa 2 alomamaram em
todas as 4 semanas de observação pelo menos uma vez. Houve o caso de um
53
filhote que alomamou somente na semana 4. O comportamento de alomamar foi
alternado entre filhotes e semanas.
Freqüência de filhotes que mamaram e alomamaram
A porcentagem dos filhotes FS, FPp, FPp(p+a) e FPa(p+a) ao longo das
quatro semanas de desenvolvimento, em ambas as etapas, estão representados nas
Figuras 18 e 19.
Nota-se a constância do número de indivíduos que mamam da mãe [FS, FPp
e FPp(p+a)] ao longo das três primeiras semanas, com um decréscimo na quarta
semana, quando se aproxima o desmame. A exceção é a condição FS_2 : nela não
houve decréscimo do número de lactentes na quarta semana, uma possível
indicação de um desenvolvimento mais lento. Não houve diferença significativa no
número de lactentes ao longo das quatro semanas de desenvolvimento, nem na
Etapa 1 (χ
2
= 1,44, gl = 6, p > 0,05), nem na Etapa 2 (χ
2
= 1,54, gl = 6, p > 0,05).
O resultado dos filhotes da condição FPa(p+a) – isto é, o número de filhotes
que, através das semanas, foi visto mamar pelo menos uma vez por semana na mãe
alheia – é bem diferente dos outros: na primeira semana, o número destes filhotes
que alomamaram se aproxima do número de filhotes que mamaram da mãe; nas
semanas seguintes, esta freqüência diminuiu drasticamente (na Etapa 1 apenas um
indivíduo ainda alomamava na quarta semana, e na Etapa 2 apenas 5 indivíduos
alomamavam na quarta semana).
54
ETAPA 1
0
20
40
60
80
100
FS FPp FPp(p+a) FPa(p+a)
% de filhotes que mamaram
sem.1 sem.2 sem.3 sem.4
Figura 18: Porcentagem de indivíduos que mamaram [FS, FPp e FPp(p+a)] e
alomamaram [Fpa(p+a)], na Etapas 1, ao longo das 4 semanas de
desenvolvimento.
ETAPA 2
0
20
40
60
80
100
FS FPp FPp(p+a) FPa(p+a)
% de filhotes que mamaram
sem.1 sem.2 sem.3 sem.4
Figura 19: Porcentagem de indivíduos que mamaram [FS, FPp e FPp(p+a)] e
alomamaram [Fpa(p+a)], na Etapas 2, ao longo das 4 semanas de
desenvolvimento.
A diferença entre os filhotes FPa(p+a) e FPp(p+a) foi significativa, tanto na
Etapa 1 (χ
2
= 9,95, gl = 3, p < 0,01) como na Etapa 2 (χ
2
= 18,04, gl = 3, p >
0,001). Da figura e das análises, verifica-se que a aloamamentação atinge seu pico,
55
em termos do número de filhotes que a praticam, na primeira semana de vida. Nas
semanas seguintes, mais e mais filhotes desistem de buscar leite na outra fêmea.
Reciprocidade da aloamamentação
Na condição FP houve, levando em conta ambas as etapas (19 pares de
fêmeas), 13 pares – 69 % - de aloamamentação recíproca (em que pelo menos um
filhote de cada fêmea alomamou junto à outra). Nove destes casos foram
assimétricos (o número de filhotes de cada fêmea que alomamaram não era o
mesmo) e 4 simétricos. Em 5 casos – 26 % - houve aloamamentação unilateral
(somente os filhotes de uma das fêmeas pareadas alomamaram) e em apenas um
caso – 5 % - houve ausência de aloamamentação, cada mãe cuidou com
exclusividade dos seus filhotes. Existe, portanto, uma probabilidade razoável de que
um ato de aloamamentação tenha contrapartida com um ato semelhante (não
necessariamente simétrico) na outra fêmea. Há casos de unilateralidade a ser
considerados, e também o caso mais raro que é de ausência de aloamamentação.
DISTÂNCIA FÊMEA-FILHOTE
A distância entre as fêmeas e os filhotes é um indicativo de um laço de apego
e um fator capaz de influenciar a escolha do filhote pela mãe ou pela outra fêmea.
FS x FPp
A Figura 21 e as análises estatísticas (Tabela 1) indicam que houve uma
diferença significativa entre a condição FS e a condição FPp na distância que os
filhotes mantiveram da mãe própria. Em ambos os casos trata-se de filhotes que só
se dirigiram à mãe própria para a obtenção de leite. Na condição FP, eles se
mantêm, em média, mais longe dela do que na condição em que a família está
isolada (FS). Esta diferença ocorreu nas três primeiras semanas e beira a
significância na quarta, que é quando se supõe que os filhotes sejam mais
56
independentes. Indica que uma situação de ninhadas simultâneas pode distanciar os
filhotes de suas mães.
Não houve diferença entre réplicas quanto à distância fêmea-filhote, seja em
FP ou FS. Curiosamente, a distância fêmea-filhote diminuiu da semana 1 para a
semana 2 na Etapa 1, mantendo-se constante depois. Não houve mudanças
significativas ao longo das semanas na Etapa 2.
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1234
Semana
Distância
própria FPp_1 alheia FPp_1 própria FPp_2 alheia FPp_2
Figura 20: Distâncias médias dos filhotes FPp nas Etapas 1 e
2 em relação à mãe própria e mãe alheia ao longo das quatro
semanas de observação.
57
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
1234
Semana
Distância
FPp_1 FS_1 FPp_2 FS_2
Figura 21: Distâncias médias dos filhotes FPp e FS das Etapas
1 e 2 em relação à mãe própria ao longo das quatro semanas
de observação.
Tabela 1: Análise estatística de distância da mãe própria dos filhotes FS e FPp nas Etapas
1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito P
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,0008
EFEITO DE SEMANA – FPp_1 0,0008
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0002
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,5947
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,8766
EFEITO DE SEMANA – FPp_2 0,8010
EFEITO DE SEMANA – FS_1 0,5416
EFEITO DE SEMANA – FS_2 0,0022
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,3901
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,8231
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0112
SEMANA 1
FPp_1 x FPp_2 0,0139
FPp_1 x FS_1 <0,0001
FPp_2 x FS_2 0,0001
58
FS_1 x FS_2 0,5810
SEMANA 2
FPp_1 x FPp_2 0,3857
FPp_1 x FS_1 0,0257
FPp_2 x FS_2 0,0004
FS_1 x FS_2 0,5080
SEMANA_3
FPp_1 x FPp_2 0,3781
FPp_1 x FS_1 0,0341
FPp_2 x FS_2 0,0001
FS_1 x FS_2 0,7054
SEMANA 4
FPp_1 x FPp_2 0,5757
FPp_1 x FS_1 0,1215
FPp_2 x FS_2 0,0581
FS_1 x FS_2 0,4367
FPp(p+a) x FPa(p+a)
A menor distância do filhote em relação à mãe do que à outra fêmea é um
resultado praticamente geral. Na Etapa 1, a diferença entre a distância da mãe e da
outra fêmea é significativa nas semanas 2, 3 e 4, e na Etapa 2, em todas as
semanas. Este resultado indica de maneira clara que os filhotes de cobaia
distinguem entre a sua mãe e a outra fêmea, e indica o seu apego pela mãe,
expresso na procura de proximidade.
Na Etapa 1, contudo, a diferença entre a distância da mãe e da outra fêmea
não foi significativa na primeira semana e nas semanas 2 e 3 a distância mantida em
relação à mãe foi diminuindo, enquanto se mantinha igual em relação à outra fêmea.
59
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1234
Semana
Distância
FPp(p+a)1 FPa(p+a)1 FPp(p+a)2 FPa(p+a)2
Figura 22: Distâncias médias dos filhotes FPp(p+a) e FPa(p+a)
nas Etapas 1 e 2 em relação à mãe própria e mãe alheia ao
longo das quatro semanas de observação.
60
Tabela 2: Análise estatística de distância da mãe própria dos filhotes FS e FPp nas Etapas
1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito P
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,0004
EFEITO DE SEMANA – FPa(p+a)_1 0,4449
EFEITO DE SEMANA – FPp(p+a)_1 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0223
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0264
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,2786
EFEITO DE SEMANA – FPa(p+a)_2 0,0003
SEMANA 1 x SEMANA 2 <0,0001
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0242
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,6794
EFEITO DE SEMANA – FPp(p+a)_2 0,7784
SEMANA 1
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,4869
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,0004
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,0006
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 2
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,0041
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,4115
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,1334
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 3
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 <0,0001
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,0538
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,9105
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 4
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,0001
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,1979
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,8262
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
61
FS x FPp
Freqüência média de amamentação
A freqüência média de amamentação se manteve constante nas semanas 1 e
2, decrescendo em seguida, nas condições FS e FPp. O descréscimo era esperado
e constitui uma característica do processo gradual de desligamento dos filhotes em
relação à sua mãe, típica de mamíferos (Andriolo et al., 2001). Os resultados
indicam que os filhotes se comportaram da mesma maneira numa condição em que
estão sozinhos com a mãe e na condição de fêmeas pareadas. Houve uma
freqüência maior de amamentações na Etapa 2 (cobaias albinas) do que na Etapa 1
(cobaias comuns) ao longo das semanas (Figura 23).
0
1
2
3
4
5
6
1234
Semana
Frequênciadia
FPp_1 FS_1 FPp_2 FS_2
Figura 23: Freqüência média de amamentação dos filhotes FS
e FPp nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de
observação.
62
Tabela 3: Análise estatística de freqüência média de amamentação dos filhotes FS e FPp
das Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito p
GRUPO x SEMANA (ausência de interação, paralelismo das curvas) 0,2160
EFEITO DE SEMANA <,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,3045
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0003
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0009
EFEITO DE GRUPO 0,0041
FPp_1 x FPp_2 0,0040
FPp_1 x FS_1 0,7437
FPp_2 x FS_2 0,7971
FS_1 x FS_2 0,0254
Duração média de amamentação
A duração média de amamentação seguiu um curso semelhante ao da
freqüência média durante o desenvolvimento dos filhotes, apresentando um
decréscimo significativo a partir da segunda semana de vida, tanto em FS como em
FPp (Figura 24).
Na Etapa 1, não houve diferença na duração média de amamentação entre as
condições FS e FPp: neste caso, não fez diferença os filhotes estarem isolados com
a mãe ou em um grupo maior. Na Etapa 2, contudo, os escores foram
significativamente superiores no caso dos filhotes na condição FS.
63
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
1234
Semana
Duração média total (s)
FPp_1 FS_1 FPp_2 FS_2
Figura 24: Duração média de amamentação dos filhotes FS e
FPp nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de
observação.
Tabela 4: Análise estatística de duração média de amamentação dos filhotes FS e FPp das
Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito p
GRUPO x SEMANA (ausência de interação, paralelismo das curvas) 0,0636
EFEITO DE SEMANA <0,0001
SEMANA1 x SEMANA2 0,7447
SEMANA2 x SEMANA3 0,0003
SEMANA3 x SEMANA4 <0,0001
EFEITO DE GRUPO 0,0002
FPp1 x FPp2 0,7452
FPp1 x FS1 0,4960
FPp2 x FS2 <0,0001
FS1 x FS2 0,0031
Duração média por episódio de amamentação
Na Etapa 1, a duração média por episódio de amamentação se manteve
constante ao longo das semanas. Na Etapa 2, houve um decréscimo significativo na
semana 4, no caso de FPp (Figura 25).
64
Na Etapa 2, nota-se que a duração média por episódio é maior para os
filhotes da condição FS do que para os da condição FPp. Esses filhotes FS parecem
ter sido mais motivados para mamar, uma vez que tiveram maior duração total e
maior duração por episódio de amamentação do que filhotes FPp.
0
100
200
300
400
500
600
700
1234
Semana
Duração média por episódio (s)
FPp_1 FS_1 FPp_2 FS_2
Figura 25: Duração média por episódio de amamentação dos
filhotes FS e FPp nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro
semanas de observação.
Tabela 5: Análise estatística de duração média por episódio de amamentação dos filhotes
FS e FPp das Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito P
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,0192
EFEITO DE SEMANA – FPp_1 0,5100
EFEITO DE SEMANA – FPp_2 0,1375
EFEITO DE SEMANA – FS_1 0,2082
EFEITO DE SEMANA – FS_2 0,0002
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0747
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0271
SEMANA 3 x SEMANA 4 <,0001
SEMANA 1
FPp_1 x FPp_2 0,2292
FPp_1 x FS_1 0,3445
FPp_2 x FS_2 0,0011
FS_1 x FS_2 0,3162
SEMANA 2
FPp_1 x FPp_2 0,0734
65
FPp_1 x FS_1 0,0559
FPp_2 x FS_2 0,0162
FS_1 x FS_2 0,1340
SEMANA 3
FPp_1 x FPp_2 0,0607
FPp_1 x FS_1 0,1119
FPp_2 x FS_2 <,0001
FS_1 x FS_2 0,3531
SEMANA 4
FPp_1 x FPp_2 0,0003
FPp_1 x FS_1 0,3517
FPp_2 x FS_2 0,0096
FS_1 x FS_2 0,3934
FPp x FP(p+a)
Freqüência média de amamentação
Um resultado interessante, nesta comparação, foi a ausência de diferenças
significativas entre FPp e FP(p+a), em todas as semanas. Um filhote que mamou e
alomamou não aumentou sua freqüência de amamentação em relação a outro que
se dirigiu exclusivamente para a própria mãe e isso vale inclusive para a primeira
semana - em que sabemos que houve maior aloamamentação, em termos do
número de filhotes envolvidos.
A freqüência média foi significativamente maior na Etapa 2 do que na Etapa 1.
66
0
1
2
3
4
5
6
1234
Semana
Frequência média
FPp_1 FP(p+a)_1 FPp_2 FP(p+a)_2
Figura 26: Freqüência média de amamentação e/ou
aloamamentação dos filhotes da condição FPp e FP(p+a) nas
Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Tabela 6: Análise estatística de freqüência Média de amamentação e/ou aloamamentação
dos filhotes FPp e FP(p+a) nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito p
GRUPO x SEMANA (ausência de interação, paralelismo das curvas) 0,2071
EFEITO DE SEMANA <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,9398
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0003
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0002
EFEITO DE GRUPO 0,0043
FP(p+a)_1 x FP(p+a)_2 0,0035
FP(p+a)_1 x FPp_1 0,8132
FP(p+a)_2 x FPp_2 0,3511
FPp_1 x FPp_2 0,0007
Duração média total de amamentação
As curvas relativas às condições FPp e FP(p+a) são semelhantes nas duas
etapas, decrescendo significativamente ao longo das quatro semanas de
observação. Nota-se, contudo, a ocorrência de um aumento significativo da semana
1 para a semana 2 no caso dos filhotes FP(p+a)_1.
67
Contrariamente ao caso das freqüências médias, não houve diferença entre
etapas. Vê-se então que as cobaias albinas (Etapa 2) tiveram maior freqüência de
amamentação do que as cobaias comuns (Etapa 1), mas uma duração total de
amamentação semelhante, o que leva a prever uma menor duração média por
episódio na Etapa 2.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1234
Semana
Duração média total (s)
FPp_1 FP(p+a)_1 FPp_2 FP(p+a)_2
Figura 27: Duração média total de amamentação e/ou
aloamamentação dos filhotes FPp e FP(p+a) nas Etapas 1 e 2,
ao longo das quatro semanas de observação.
68
Tabela 7: Análise estatística de duração média total dos filhotes FPp e FP(p+a) nas Etapas
1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito P
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,0008
EFEITO DE SEMANA – FP(p+a)_1 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0008
SEMANA 2 x SEMANA 3 <0,0001
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0015
EFEITO DE SEMANA – FP(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0173
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0032
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0022
EFEITO DE SEMANA – FPp_1 0,0165
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,6175
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,3004
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0209
EFEITO DE SEMANA – FPp_2 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0490
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0150
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,1251
SEMANA 1
FP(p+a)_1 x FP(p+a)_2 0,2280
FP(p+a)_1 x FPp_1 0,9436
FP(p+a)_2 x FPp_2 0,8870
FPp_1 x FPp_2 0,2119
SEMANA 2
FP(p+a)_1 x FP(p+a)_2 0,0387
FP(p+a)_1 x FPp_1 0,0114
FP(p+a)_2 x FPp_2 0,9776
FPp_1 x FPp_2 0,7894
SEMANA 3
FP(p+a)_1 x FP(p+a)_2 0,3011
FP(p+a)_1 x FPp_1 0,9710
FP(p+a)_2 x FPp_2 0,8180
FPp_1 x FPp_2 0,2835
SEMANA 4
FP(p+a)_1 x FP(p+a)_2 0,7398
FP(p+a)_1 x FPp_1 0,8794
FP(p+a)_2 x FPp_2 0,6605
FPp_1 x FPp_2 0,8811
69
Duração média por episódio de amamentação
A duração média por episódio se manteve praticamente constante ao longo
das semanas (salvo decréscimo da semana 2 para a semana 3), não havendo
diferença significativa entre FPp e FP(p+a). As durações médias por episódio, como
indicado acima, foram menores na Etapa 2 do que na Etapa 1.
0
100
200
300
400
500
600
1234
Semana
Duração média por episódio (s)
FPp_1 FP(p+a)_1 FPp_2 FP(p+a)_2
Figura 28: Duração média por episódio de amamentação dos
filhotes FPp e FP(p+a) nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro
semanas de observação.
Tabela 8: Análise estatística de duração média por episódio de amamentação e/ou
aloamamentação dos filhotes FPp e FP(p+a) nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro
semanas de observação.
Efeito P
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,1034
EFEITO DE SEMANA 0,0306
SEMANA1 x SEMANA2 0,8813
SEMANA2 x SEMANA3 0,0300
SEMANA3 x SEMANA4 0,7266
EFEITO DE GRUPO 0,0189
FPp+a1 x FPp+a2 0,0016
FPp+a1 x FPp1 0,4373
FPp+a2 x FPp2 0,8301
FPp1 x FPp2 0,0090
70
FPp(p+a) x FPa(p+a)
Freqüência Média de Amamentação
Em ambas as etapas os filhotes FP(p+a) tiveram uma maior freqüência de
amamentação junto à própria mãe do que à outra fêmea nas semanas 1, 2 e 3, mas
não na semana 4. Este resultado se coaduna com os dados da distância fêmea-
filhote e mostra que ao apego do filhote se junta uma tendência marcante a
selecionar a própria mãe para mamar.
Nota-se na Figura 29 que a freqüência média de aloamamentação [FPa(p+a)]
se manteve baixa e constante ao longo das semanas, enquanto que a de
amamentação na própria mãe tendeu a diminuir no final do período. Como em
comparações anteriores nota-se que os filhotes da Etapa 2 buscaram sua mãe para
mamar com maior freqüência do que os filhotes da Etapa 1.
0
1
2
3
4
5
6
1234
Semana
Frequênciadia
FPp(p+a)_1 FPa(p+a)_1 FPp(p+a)_2 FPa(p+a)_2
Figura 29: Freqüência média de amamentação [FPp(p+a)] e
aloamamentação [FPa(p+a)], nas Etapas 1 e 2, ao longo das
quatro semanas de observação.
71
Tabela 9: Análise estatística de freqüência média de amamentação FPp(p+a) e
aloamamentação FPa(p+a) nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de observação.
Efeito p
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,0022
EFEITO DE SEMANA – FPa(p+a)_1 0,8324
EFEITO DE SEMANA – FPp(p+a)_1 0,0134
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0110
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0064
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,8979
EFEITO DE SEMANA – FPa(p+a)_2 0,6983
EFEITO DE SEMANA – FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,9945
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,3683
SEMANA 3 x SEMANA 4 <0,0001
SEMANA 1
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,0043
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,7954
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 <0,0001
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 2
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,0003
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,9446
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,0208
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 3
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,1792
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,5030
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 <0,0001
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 4
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,4197
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,6616
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,9733
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 0,4350
Duração média de amamentação
Os dados são semelhantes aos dados de freqüência média de amamentação.
Em ambas as etapas (não houve praticamente diferença entre etapas), os filhotes
tiveram uma duração maior de amamentação junto à mãe do que à outra fêmea.
Houve decréscimo na duração da amamentação com a mãe [FPp(p+a)] a partir da
segunda semana (nota-se, contudo, um aumento da semana 1 para a semana 2),
mas uma manutenção da duração da aloamamentação [FPa(p+a)]. A
aloamamentação teve um decurso relativamente constante ao longo das semanas,
72
mas como foi visto mais acima, o número de filhotes que alomamaram diminuiu
drasticamente da semana 1 em diante.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1234
Semana
Duração média total (s)
FPp(p+a)_1 FPa(p+a)_1 FPp(p+a)_2 FPa(p+a)_2
Figura 30: Duração média total de amamentação [FPp(p+a)] e
aloamamentação [FPa(p+a)] para os filhotes do grupo FP(p+a),
nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de
observação.
Tabela 10: Análise estatística de duração média total de amamentação FPp(p+a) e
aloamamentação FPa(p+a) dos filhotes nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de
observação.
Efeito p
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,0007
EFEITO DE SEMANA – FPa(p+a)_1 0,2064
EFEITO DE SEMANA – FPp(p+a)_1 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0003
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0002
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0563
EFEITO DE SEMANA – FPa(p+a)_2 0,7614
EFEITO DE SEMANA – FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 0,0804
SEMANA 2 x SEMANA 3 0,0127
SEMANA 3 x SEMANA 4 0,0023
SEMANA 1
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 <0,0001
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,4934
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,2897
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 2
73
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 <0,0001
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,1598
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,0138
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 <0,0001
SEMANA 3
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,0788
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,0582
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,2467
Fpa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 0,0002
SEMANA 4
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,3325
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,9881
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,2104
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 0,3200
Duração Média por Episódio de Amamentação
A duração média por episódio de amamentação se manteve constante ao
longo das semanas. Não houve diferença significativa entre FPa(p+a) e FPp(p+a),
uma indicação de que as fêmeas cobaias (ou os filhotes) não interrompem um surto
de maneira diferencial no caso de uma dupla fêmea-filhote próprio e de uma dupla
fêmea-filhote alheio. Se houvesse essa diferença poderíamos pensar em um
controle seletivo (filhote próprio x alheio) da duração de cada surto de
amamentação.
A duração média por episódio de amamentação foi maior na Etapa 1 do que
na Etapa 2 (Figura 31).
74
0
100
200
300
400
500
600
700
1234
Semana
Duração média por episódio (s)
FPp(p+a)_1 FPa(p+a)_1 FPp(p+a)_2 FPa(p+a)_2
Figura 31: Duração média total de amamentação [FPp(p+a)] e
aloamamentação [FPa(p+a)] para os filhotes do grupo FP(p+a),
nas Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de
observação.
Tabela 11: Análise estatística de duração média por episódio de amamentação FPp(p+a) e
aloamamentação FPa(p+a) dos filhotes das Etapas 1 e 2, ao longo das quatro semanas de
observação.
Efeito p
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,4393
EFEITO DE SEMANA 0,1447
EFEITO DE GRUPO 0,0180
FPa(p+a)_1 x FPp(p+a)_1 0,8273
FPa(p+a)_1 x FPa(p+a)_2 0,0134
FPp(p+a)_1 x FPp(p+a)_2 0,0199
FPa(p+a)_2 x FPp(p+a)_2 0,0455
75
Mudanças ontogenéticas no peso dos filhotes
FS x FPp
Na Etapa 1 o ganho relativo de peso (peso final – peso inicial / sobre peso
inicial) não foi estatisticamente diferente em FS e FPp. Na Etapa 2, contudo, houve
maior ganho relativo de peso em FPp do que em FS, um resultado que contradiz a
expectativa de que filhotes sozinhos com a mãe deveriam ganhar mais peso
relativamente ao seu peso inicial, do que em uma condição em que se encontram
misturados e talvez em competição com filhotes de uma ninhada alheia.
Tabela 12: Análise estatística de ganho relativo de peso dos filhotes FS e FPp nas Etapas 1
e 2 .
Efeito p
FPp_1 x FPp_2 0,0051
FPp_1 x FS_1 0,4883
FPp_2 x FS_2 <0,0001
FS_1 x FS_2 0,0811
Na Etapa 2 os pesos dos filhotes foram registrados ao longo das quatro
semanas de observação, permitindo uma avaliação mais precisa dos efeitos das
condições experimentais do que na Etapa 1. Verificamos, na Etapa 2, tanto na
condição FS como na condição FPp, aumentos progressivos de peso com a idade,
um resultado previsível. O peso dos filhotes FPp foi maior do que dos filhotes FS na
quarta semana, não havendo diferença nas demais semanas (Figura 32).
76
0
50
100
150
200
250
300
350
1234
Semana
Peso (g)
FPp_2 FS_2
Figura 32: Peso dos filhotes nas condições FS e FPp ao longo
das quatro semanas de observação da Etapa 2.
Tabela 13: Análise estatística de peso da Etapa 2 dos filhotes FPp_2 e FS_2, ao longo das
quatro semanas de observação.
Efeito p
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) <0,0001
EFEITO DE SEMANA – FPp_2 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 <0,0001
SEMANA 2 x SEMANA 3 <0,0001
SEMANA 3 x SEMANA 4 <0,0001
EFEITO DE SEMANA – FS_2 <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 <0,0001
SEMANA 2 x SEMANA 3 <0,0001
SEMANA 3 x SEMANA 4 <0,0001
SEMANA 1 – FPp_2 x FS_2 0,9635
SEMANA 2 – FPp_2 x FS_2 0,7469
SEMANA 3 – FPp_2 x FS_2 0,0676
SEMANA 4 – FPp_2 x FS_2 0,0013
77
FPp x FP(p+a)
Na Etapa 1,mas não na Etapa 2, os filhotes FP(p+a) ganharam mais peso do
que os filhotes FPp.
Tabela 14: Análise estatística de ganho relativo de peso dos filhotes FPp e FP(p+a) nas
Etapas 1 e 2.
Efeito P
FP(p+a)_1 x FP(p+a)_2 0,6215
FP(p+a)_1 x FPp_1 0,0271
FP(p+a)_2 x FPp_2 0,6379
FPp_1 x FPp_2 0,1092
Os registros de peso efetuados na Etapa 2, ao longo das semanas, mostram
também ter havido um aumento progressivo, tanto em FPp quanto em FP(p+a). Não
houve diferenças de peso entre FPp e FP(p+a) em nenhuma das semanas do
desenvolvimento, o que significa que o acesso alimentar a uma fêmea lactante, além
da mãe, não proporciona ganhos de peso em cobaias (Figura 33). .
0
50
100
150
200
250
300
350
1234
Semana
Peso (g)
FPp+a_2 FPp_2
Figura 33: Ganho de peso dos filhotes FP(p+a) e FPp ao longo
das quatro semanas de observação da Etapa 2.
78
Tabela 15: Análise estatística de peso na Etapa 2 dos filhotes FP(p+a) e FSp nas quatro
semanas de observação.
Efeito p
GRUPO X SEMANA (ausência de interação, paralelismo) 0,3127
EFEITO DE SEMANA <0,0001
SEMANA 1 x SEMANA 2 <0,0001
SEMANA 2 x SEMANA 3 <0,0001
SEMANA 3 x SEMANA 4 <0,0001
EFEITO DE GRUPO 0,8626
Peso das fêmeas na primeira semana da Etapa 2
A fim de saber se o investimento das fêmeas em aloamamentação teve
repercussão sobre o seu peso individual, comparamos, na Etapa 2
1
, o peso das
fêmeas na condição FS (fêmeas sozinhas) com as da condição FP (fêmeas
pareadas: tomando, neste caso as fêmeas que tinham aloamamentado), na primeira
semana de vida dos filhotes, que é a semana em que há maior pressão da
aloamamentação. O peso médio das fêmeas em FS (média de 3 registros) foi 706,0
g; o peso médio das fêmeas em FP (média de 3 registros) 736,2 g. A diferença FS x
FP não foi significativa (Student, t= 1,319, gl = 26, p > 0,05).
1
Não tínhamos registros de peso das fêmeas na Etapa 1.
79
DISCUSSÃO
CARACTERÍSTICAS DA ALOAMAMENTAÇÃO
A aloamamentação como característica típica do comportamento de cobaias
Nossos resultados mostram que a aloamamentação em cobaias C. porcellus
é um fenômeno que se manifesta regularmente quando fêmeas dão à luz
simultaneamente ou com poucos dias de diferença, em situação de laboratório. Em
nossa amostra de cobaias comuns foram aproximadamente 54 % dos filhotes que
alomamaram; e dentre as cobaias albinas, na Etapa 2, aproximadamente 64 % dos
filhotes alomamaram. Esta freqüência sugere ser a aloamamentação uma prática
comum na espécie e não pode ser tomada como um artefato de condições especiais
de manutenção que coloca em questão o papel funcional que ela desempenha.
Nossos resultados confirmam as observações de Kunkel e Kunkel (1964) de
que em grupos que incluíam fêmeas recém paridas, algumas fêmeas amamentavam
filhotes alheios (em Fullerton et al., 1974). Künkel e Künkel (1964) afirmam que no
contexto de múltiplas lactantes as fêmeas parecem não diferenciar entre seus
filhotes e os de outras fêmeas, uma afirmação que não nos parece comprovada e
que talvez esteja incorreta.
Confirmamos em vários aspectos e de forma mais sistemática, as
observações de Fullerton et al. (1974) que observaram dez pares de fêmeas e suas
ninhadas (com uma diferença de até sete dias entre o nascimento das ninhadas)
durante nove dias após serem colocadas no mesmo ambiente, registrando as
80
amamentações, o contato físico e a proximidade. Notaram que os filhotes mamaram
mais de suas mães do que da outra fêmea lactante (foram registrados 729 episódios
de amamentação e 172 de aloamamentação durante o período de observação) e
que eles ficaram mais freqüentemente em contato físico e próximos de suas mães
do que da outra fêmea, uma indicação da existência de um laço de apego recíproco:
as mães seriam capazes de reconhecer os seus filhotes de longe e de se aproximar
preferencialmente deles, e os filhotes “tenderiam a permanecer próximos à mãe e a
mamar mais vezes dela do que de outra fêmea lactante, apesar da emissão
indiscriminada de aproximações iniciais à outra fêmea” (p. 153-154). Que tenham
sido indiscriminadas as aproximações iniciais representa uma observação
importante, do ponto de vista dos resultados que obtivemos: retomaremos a questão
mais adiante.
Fullerton et al. (1974) não encontraram indícios de uma fêmea interferir na
amamentação de seu filhote por outra fêmea, nem de reagir discriminadamente ao
filhote alheio quando este se aproximava para mamar - “Tanto os filhotes quanto as
mães parecem tolerar interações de amamentação fora da amamentação da mãe ao
filhote próprio”, p. 154. Não encontraram mudanças nas categorias
comportamentais, ao longo dos nove dias de observação, mas um decréscimo da
aloamamentação a partir do terceiro dia. Notam que “embora as interações entre a
mãe e os seus próprios filhotes sejam as mais freqüentes, interações sociais em
todas as categorias ocorreram também entre as fêmeas e os filhotes das outras
ninhadas” e concluem, a partir disso, que o laço de apego mãe-filhote “não é
rigidamente exclusivo, mas pode ser categorizado como frouxo (loose attachment)”
(p. 152). Embora concordando com Fullerton et al. (1974) a respeito da natureza
menos rígida do apego em cobaias, não diríamos que seja frouxo, mas que tem
características que o colocam numa categoria apropriada a um sistema reprodutivo
com alto investimento gestacional e uma correspondente diminuição dos cuidados
aos filhotes precoces. Nossos dados mostram que as interações entre mães e
filhotes alheios não são necessariamente da natureza do apego, mas que têm a ver
com uma forma de aproveitamento, por filhotes, dos recursos alimentares
disponíveis.
81
A manutenção de proximidade como processo básico
O processo comportamental no qual se insere a amamentação (da mãe e da
outra fêmea) parece ser o da manutenção de proximidade entre mãe e filhote. Os
filhotes permanecem mais tempo e seguem de maneira mais sistemática a própria
mãe, uma característica que provavelmente propicia contato alimentar privilegiado.
Dois aspectos merecem, contudo, ser levantados. Em primeiro lugar, na
Etapa 1, notou-se (Figura 22) que, na primeira semana de observação, a distância
do filhote às duas fêmeas (a mãe e a outra fêmea) era praticamente a mesma,
passando a existir diferença de proximidade somente a partir da segunda semana.
Embora este efeito não tenha sido replicado na Etapa 2, ele parece indicar uma
indiscriminação, pelo menos do ponto de vista espacial, no início do
desenvolvimento (ver Fullerton et al., 1974). Esta indiscriminação não se estende à
duração ou freqüência da amamentação, que são fortemente direcionadas à mãe
própria, já na semana 1.
O segundo aspecto que merece destaque é a maior distância mãe-filhotes na
condição FPp do que na condição FS, um resultado que aparece em ambas as
etapas e se estende por todo o período de observação (Figura 21). Possivelmente, o
contexto de fêmeas pareadas – com o aumento de indivíduos e de interações
disponíveis - interfere na proximidade que o filhote mantém com a sua mãe e gera
oportunidades de afastamento. O quanto estas condições iniciais de interação e de
apego à mãe se refletem no comportamento adulto dos filhotes é um ponto que
merece investigação.
Mudanças ontogenéticas na amamentação
O desenvolvimento da amamentação, avaliado a partir dos episódios em que
filhotes foram vistos buscando a mama da mãe ou da outra fêmea
2
segue o padrão
esperado de decréscimo, já descrito em muitas espécies de mamíferos e já relatado
para as cobaias por Stern e Hoffman (1970) e Fullerton et al. (1974) entre outros
2
Não em relação à quantidade de leite ingerida, uma variável que não tínhamos condição
de medir.
82
(Figuras 23, 26 e 29). É importante lembrar que os dados representados nas figuras
não incluem, em cada semana, escores nulos que seriam os dos indivíduos que não
mamaram nestas semanas. Referem-se aos indivíduos que mamaram pelo menos
uma vez. O ângulo de decréscimo destas curvas seria mais abrupto, caso levassem
em conta os indivíduos que não mamaram em cada semana.
Do ponto de vista da freqüência de amamentações, verificou-se que as
mudanças ontogenéticas foram semelhantes nos filhotes nas condições FS e FPp
(Figura 23) - filhotes que mamaram o tempo todo de sua própria mãe - e nos filhotes
FP(p+a) - que mamaram e alomamaram (Figura 26): o decréscimo de freqüência
ocorreu basicamente depois da segunda semana
3
.
Quanto à duração média de amamentação, verificou-se ser o padrão das
curvas (estável entre a semana 1 e 2, com decréscimo posterior – Figuras 24 e 27),
semelhante ao padrão das curvas de freqüência, para as condições FS, FPp e
FP(p+a). Na Etapa 1, as curvas para estas 3 condições coincidem praticamente; na
Etapa 2 (Figura 24), nota-se uma diferença inesperada entre FS e FPp, na duração
média de amamentação: os filhotes que estavam sozinhos com sua mãe gastaram
mais tempo mamando do que os imersos na agitação da situação de pareamento.
Não fica clara a razão desta diferença: ela talvez indique que, por um motivo não
averiguado, existia uma motivação alimentar maior na amostra de filhotes em FS_2.
A duração média dos episódios de amamentação se manteve, em quase
todos os casos, constante ao longo das 4 semanas de observação. É um dado
interessante, que indica que, ao longo de seu crescimento, para modular o acesso
ao leite, as cobaias recorrem mais à estratégia de aumentar ou diminuir a freqüência
de procura das mamas (que acarreta tempos totais de amamentação diferentes) do
que à estratégia de aumentar ou diminuir a duração de cada episódio de
amamentação (Figuras 25, 28 e 31).
A duração média dos episódios está controlada, contudo, por outras variáveis:
foi maior em FS do que em FPp, na Etapa 2, representando talvez mais um sinal de
maior motivação.
3
A freqüência de amamentações foi consistentemente maior nos filhotes da Etapa 2.
83
Que a condição FP(p+a) não levou a maiores freqüências ou durações de
amamentação em relação às condições FS ou FPp sugere que alomamar não
representa necessariamente, para as cobaias domésticas, a aquisição de um
superávit alimentar. O investimento do filhote em mamar de outra fêmea pode
redundar em perdas de mamadas na própria mãe, e, no final das contas, os ganhos
provenientes de alomamar equilibram-se com as perdas do mamar.
Uma janela temporal para a aloamamentação
O registro do número de filhotes que mamam e alomamam (pelo menos uma
vez), ao longo das semanas (Figuras 18 e 19), fornece dados esclarecedores sobre
a vigência da aloamamentação. Embora ela possa acontecer eventualmente com
um ou outro filhote, até a semana 4, ela se concentra principalmente no início do
desenvolvimento: é na semana 1 que o número de filhotes que alomamam se iguala
praticamente ao de filhotes que mamam. O desenvolvimento da aloamamentação
não segue paralelo ao da amamentação: se fosse, poderíamos levantar a hipótese
de que os filhotes dividem seu tempo e seu investimento em busca de leite de uma
forma constante entre as fontes disponíveis. O número de indivíduos que alomamam
diminui drasticamente a partir da primeira semana, sendo mínimo na última. É
possível que esteja em jogo um processo através do qual o filhote passa a
discriminar mais entre as fêmeas lactantes cada vez mais a partir da segunda
semana, reservando seu esforço de mamada mais e mais à própria mãe.
O desenvolvimento ontogenético da aloamamentação
Como é que se desenvolve ontogeneticamente, a aloamamentação? Os
dados obtidos com os filhotes FP(p+a) que tanto mamaram como alomamaram, são
inequívocos: nas semanas 1, 2 e 3, que são as semanas em que a motivação
alimentar se encontra mais alta, esses filhotes procuraram mais vezes e por mais
tempo a mãe [FPp(p+a)] do que a outra fêmea [FPp(p+a)] – Figuras 29, 30 e 31. A
aloamamentação - restrita, em termos do número de filhotes que a praticaram, ao
início da ontogênese - manteve-se sempre inferior à amamentação e constante ao
longo das semanas, sem o decréscimo que é típico do consumo efetuado com a
84
mãe. A aloamamentação surgiu, do exame de nossos dados, como uma atividade
de importância menor, em termos de investimento e de ganho ingestivo.
O controle da ocorrência e da duração das amamentações pela fêmea
Um mecanismo de defesa do próprio leite poderia ser, nas cobaias, como em
muitas outras espécies, o controle seletivo da ocorrência e da duração dos episódios
de amamentação. Uma fêmea que distinguisse o filhote próprio do alheio
(capacidade que as mães cobaias têm) ganharia em afastar-se deste, impedindo-o
de mamar, deixando o caminho livre para o filhote próprio. A defesa do leite também
poderia ser efetuada a posteriori, isto é, depois de um filhote ter agarrado a mama a
fêmea poderia interromper a mamada através de atos agonísticos.
Não parece plausível pensar que as fêmeas interromperam seletivamente as
mamadas alheias: a duração média por episódio de amamentação foi a mesma na
amamentação de um filhote alheio [FPa(p+a)] ou próprio [FPp(p+a)]. Se houvesse
esse controle a posteriori as durações médias deveriam ser menores no caso do
filhote alheio.
Dados de observação direta também sugerem que não esteja sendo usada a
interrupção seletiva de mamadas. Para que a interrupção fosse de fato seletiva,
seria necessário que a fêmea tivesse contato sensorial com o filhote para
reconhecê-lo sempre que este se aproximasse para mamar. Isso muitas vezes não
ocorreu: o filhote entrava por baixo da fêmea e chegava à mama antes que pudesse
sequer ser brevemente examinado.
As fêmeas cobaias podiam, de outro lado, por flexão do corpo, atingir um
filhote que estivesse mamando e afastá-lo, através de um golpe de focinho; ou usar
a pata para este fim. Vimos este recurso ser usado indiscriminadamente contra
filhotes alheios e próprios, cada vez mais freqüentemente com a aproximação da
época de desmame. A interrupção a posteriori representa, assim, uma maneira de a
fêmea interromper o contato de amamentação para resguardo próprio.
Foram observados atos de agressão de fêmeas a filhotes fora do contexto de
amamentação, quando o filhote simplesmente passava por perto. Não fizemos, por
enquanto, o levantamento quantitativo da freqüência destas agressões dirigidas a
filhotes alheios ou próprios (temos a possibilidade e a intenção de efetuar esta
85
verificação, nas fitas gravadas da Etapa 2). Se constatarmos maior comportamento
agonístico em relação a filhotes alheios, teremos uma chave para entender a defesa
do leite em cobaias domésticas. Uma vez que não possuem controle sobre a
ocorrência imediata ou a duração da amamentação, as fêmeas usariam de agressão
diferencial para afastar de si os filhotes alheios. A queda drástica no número de
filhotes que alomamaram, depois da primeira semana de vida, dever-se-ia, assim, à
aprendizagem de esquiva dos filhotes submetidos a uma agressão aleatória.
O ganho de peso dos filhotes
Foram pouco sistemáticos e claros os resultados a respeito do ganho de peso
dos filhotes: talvez nisso entre a falta, no nosso delineamento experimental, de
registros mais completos, incluindo o consumo de alimento sólido além do registro
de episódios de amamentação. Os efeitos encontrados na Etapa 1 não se
replicaram na Etapa 2. Na Etapa 1, não houve diferenças de ganho de peso entre as
condições FS e FPp; na Etapa 2, os filhotes em FPp tiveram um aumento relativo de
peso maior do que os filhotes em FS. Na Etapa 1, os filhotes FP(p+a) ganharam
mais peso (relativamente ao peso inicial) do que os filhotes FPp, uma indicação de
que talvez a aloamamentação representasse vantagem de aptidão. Esta diferença
não foi verificada na Etapa 2. Da análise global e dos dados sobre aumento de peso
na Etapa 2, obtidos com pesagens em todas as semanas, preferimos ficar com a
interpretação de que a aloamamentação não leva a aumentos ponderais.
Peso das fêmeas FS x FP
Se a aloamamentação representasse um prejuízio forte, para as fêmeas que
aloamamentassem, esperar-se-ia que tivessem um peso menor do que as fêmeas
mantidas sozinhas. A comparação, feita na Etapa 2, mostra que este não é o caso,
não havendo diferença significativa do peso médio na primeira semana de vida dos
filhotes (semana em que o maior número de filhotes alomamaram) entre as fêmeas
da condição FS e as fêmeas da condição FP que tinham aloamamentado. Este dado
é um argumento a mais favorecendo a idéia de que entre cobaias, a
aloamamentação não representa um fator de impacto marcado, seja sobre os
filhotes, seja sobre as suas mães.
86
Diferenças entre cobaias comuns e cobaias albinas
Embora em seus aspectos gerais, as amostras usadas na Etapa 1 (cobaias
comuns) e na Etapa 2 (cobaias albinas) tenham evidenciado comportamentos
semelhantes de amamentação e aloamamentação, distinguem-se por uma série de
aspectos que a análise estatística desvenda.
Cobaias albinas apresentaram maiores índices de freqüência de
amamentação e maiores ninhadas. Na literatura a maioria dos autores não
especifica se observaram cobaias albinas ou coloridas, sendo que apenas alguns o
fizeram: King (1956) usou cobaias coloridas e albinas, Porter et al. (1973a e 1973b)
e Fullerton et al. (1974) usaram animais originados do cruzamento inicial de fêmeas
albinas com machos coloridos. Em nosso experimento, as cobaias coloridas eram
criadas em condições ambientais naturais (luminosidade, ciclo claro-escuro e
temperatura) especificamente com o propósito de servir de alimento para outros
animais do zoológico. Já as cobaias albinas eram criadas em condição de biotério,
em ambiente fechado, sem controle de ciclo claro-escuro, mas mais protegidas
contra o frio e o calor, para serem comercializadas como sujeitos de pesquisa. Não
acreditamos que as diferenças encontradas em nosso experimento sejam devido às
linhagens coloridas ou albinas, apesar de que não há estudos comprovando que não
existam realmente diferenças. O único estudo de nosso conhecimento que
investigou diferenças entre cobaias albinas e coloridas é o de Bui & Vingrys (1999).
Os autores pesquisaram o desenvolvimento de receptores visuais em consideração
ao papel que a melanogênese possa ter neste processo.
FUNÇÕES POSSÍVEIS DA ALOAMAMENTAÇÃO EM COBAIAS
A vida coletiva das cobaias fornece um ambiente favorável para a ocorrência
do alocuidado e da aloamamentação, pois várias fêmeas podem engravidar e ter
partos simultâneos ou próximos um do outro. Não temos informação sobre a
sincronicidade natural dos partos em C. porcellus, e sobre possíveis efeitos de
arrastamento (entrainment) de estro ou de parto, não sendo possível estimar a
probabilidade de ninhadas conjuntas em condições normais. Künkele & Hoeck
87
(1995) observaram, contudo, sincronicidade de partos em seis grupos de galea
(Galea musteloides); 73% dos filhotes presentes em cada grupo durante o período
de lactação eram filhotes alheios, e em média as fêmeas amamentaram 86% desses
filhotes em seu respectivo grupo. Assim, 98% de todos os filhotes eram
amamentados pela própria mãe e por uma mãe alheia, uma proporção que
certamente ultrapassa a que encontramos em C. porcellus.
Mas a oportunidade não leva necessariamente à ocorrência de um
comportamento e não gera a sua função. A aloamamentação, que se coloca como
uma questão complexa e com vários determinantes de acordo com as exigências
ecológicas e a organização social das espécies, não tem a sua natureza facilmente
desvendada no caso das cobaias. Uma restrição no processo de produção de leite
(Laurien-Kehnen & Trillmich, 2003), que é específica das cobaias, torna ainda mais
instigante a constatação de que esses animais ocasionalmente amamentam filhotes
alheios. Como anteriormente mencionado, Laurien-Kehnen e Trillmich (2003), em
um experimento em que privavam filhotes de cobaia de alimento sólido - estes
filhotes são aptos a consumir desde o nascimento - verificaram que as mães dos
filhotes privados não aumentavam a sua produção de leite de modo a compensar a
carência experimentalmente produzida. Sua conclusão foi de que as fêmeas
lactantes não são sensíveis ao aumento da demanda nutricional dos filhotes,
preferindo alocar energia à sua própria manutenção corporal do que à dos filhotes.
Isso indica que o leite, cuja produção é rigidamente pré-programada, constitui para
as mães cobaias (e para os filhotes) um recurso limitado e limitante que não se
esperaria fosse desperdiçado. Esta estratégia de produção “contada” do leite
representa uma fonte de pressão para a seleção de estratégias que o mantenham
dirigido para a prole (reconhecimento dos próprios filhotes, afastamento dos filhotes
alheios, etc). Mesmo representando uma ocorrência periférica na vida das cobaias, a
aloamamentação coloca problemas funcionais instigantes.
Em um artigo recente de revisão, Roulin (2002) propôs uma classificação das
explicações funcionais para a aloamamentação. À pergunta “por que fêmeas
lactantes amamentam filhotes alheios?”, Roulin propõe cinco respostas, que
poderiam servir de ponto de partida para a discussão de nossos dados. É importante
frisar que Roulin não afirma que estas hipóteses tenham a ver com alternativas
mutuamente exclusivas. Como em outras questões funcionais, pode haver
88
multideterminação de um certo traço comportamental, isto é, ação conjunta de vários
fatores adaptativos.
1. Cuidado parental mal direcionado (misdirected): De acordo com esta
hipótese, uma mãe transfere leite para um filhote alheio inadvertidamente,
direcionando erradamente o seu cuidado materno. Ou ela não se dá conta de
que o filhote que mama não é dela, ou este filhote consegue, de uma maneira
ou de outra, roubar o seu leite. Esta estratégia seria, segundo Roulin,
particularmente eficaz num grupo denso de integrantes, em que a vantagem
de ficarem juntos ultrapassa a desvantagem da aloamamentação inadvertida,
em que os custos para a mãe que eventualmente aloamamente não sejam
grandes a ponto de justificar uma seleção de mecanismos de discriminação e
rejeição dos filhotes alheios.
2. Reciprocidade: A hipótese sugere que duas fêmeas podem eventualmente
alcançar maior sucesso reprodutivo (maior aptidão darwiniana) quando
amamentam o filhote uma da outra, do que quando se restringem à
alimentação dos filhotes próprios. Esta troca de favores é mais provável de se
fixar quando as fêmeas têm diminuição ocasional da produção de leite ou
quando há uma necessidade de se afastarem dos filhotes (o caso das
capivaras, em que há “creches” com rodízio de mães), na mesma extensão
do que quando não dividem o leite.
3. Seleção de parentesco (kin selection): Uma fêmea tem vantagem em
amamentar um filhote alheio se partilham genes, através de ascendência
comum. Trata-se de um caso de aptidão abrangente, em que cooperar com
um consangüíneo permite uma ampliação da transmissão dos próprios genes
que compensa o esforço suplementar investido. Esta estratégia tem melhor
probabilidade de se implantar em grupos de animais em que o grau de
parentesco é alto ou em que haja possibilidade, por parte de cada mãe, de
discriminar o grau de parentesco das outras fêmeas. Espécies em que há
criação comunitária dos filhotes são muitas vezes compostas de indivíduos
aparentados.
4. Evacuação de leite: A aloamamentação seria uma maneira de mães que
amamentam filhotes alheios evacuarem o leite excedente que seus próprios
89
filhotes não consumiram. De acordo com esta perspectiva, fêmeas que
produzem mais leite do que os próprios filhotes possam consumir seriam
propensas a aceitar aloamamentação. Dentre as observações que embasam
esta hipótese está a verificação de que mães com ninhadas menores têm
maior probabilidade de aceitar filhotes alheios do que as que têm ninhadas
maiores (Pusey e Packer, 1994).
5. Aprendizado materno: De acordo com esta hipótese, fêmeas amamentariam
filhotes alheios para melhorar suas habilidades maternas. Esta hipótese, de
acordo com o próprio Roulin (2002), tem pouca evidência empírica a seu
favor. Fêmeas de varias espécies de mamíferos – especialmente em primatas
- participam do cuidado aos filhotes quando ainda estão no seu grupo natal, e
adquirem assim experiência materna, mas isso não envolve aloamamentação.
O treino de aloamamentar apenas poderia ser de valor no caso de fêmeas
virgens ou primíparas: é difícil demonstrar que o cuidado com a prole genética
não seria suficiente para a aquisição de competência.
Em que medida se estas hipóteses aplicam à aloamamentação, tal como se
manifesta na cobaia doméstica, em nossa pesquisa? Roulin (2002) menciona haver
evidências empíricas, em pesquisas de campo, a favor das hipóteses de cuidado
parental mal direcionado, evacuação de leite e seleção de parentesco e ainda
poucas indicações conclusivas a respeito das outras hipóteses.
Cuidado parental mal direcionado: Apesar de haver reconhecimento entre
mãe-filhotes de cobaias (Niciporciukas et al., 1999; Tokumaru, 2000), os dados de
observação qualitativa indicam que filhotes muitas vezes se aproximam e alcançam
a mama sem serem inspecionados pela fêmea. Além disso, a fêmea não parece ter
condições de ser seletiva, a favor do filhote próprio, ao interromper a amamentação
depois de iniciada. A proximidade entre as ninhadas é um fator que facilita esta
iniciativa “não autorizada” dos filhotes. Não havendo controle estrito da mãe pelo
acesso às mamas e da permanência nas mesmas, a hipótese do cuidado “mal
direcionado” parece se aplicar às cobaias, e a razão funcional para a
aloamamentação deve ser procurada na iniciativa e nas vantagens que filhotes
eventualmente obtenham por visitar mães alheias.
90
Reciprocidade: Embora tenhamos encontrado, numa porcentagem razoável
de casos (em 13 de 19 pares de cobaias), reciprocidade no fornecimento de leite,
não há condições para afirmar que a aloamamentação decorra basicamente de uma
“troca de favores” entre mães cobaias. Na maioria dos casos de reciprocidade, não
havia simetria e uma das fêmeas poderia sair perdendo na troca. Quando a
aloamamentação era unilateral, o prejuízo era mais claro ainda. O caso das fêmeas
FP36 e FP37 ilustra o grau ao qual pode chegar a assimetria: FP36 tinha 2 filhotes e
amamentou 3 filhotes da outra; F37 tinha 3 filhotes e não amamentou nenhum filhote
de FP36.
A reciprocidade parcial pode, contudo, constituir-se em condição favorável
para a aloamamentação, no sentido de, em média, diminuir o desperdício de
investimento em fêmeas aloamamentadoras.
Seleção de parentesco: Não temos bases para saber se o grau de
consangüinidade entre as fêmeas pareadas entrava na sua disponibilidade para
alimentar filhotes alheios. Tanto no Zoológico de São Paulo, como no Biotério Bem-
Te-Vi de Itupeva, os grupos de cobaias eram montados sem renovação sistemática
e poderia haver um certo grau de consangüinidade. Uma das idéias iniciais da
pesquisa – abandonada por causa de dificuldades de infra-estrutura – era
estabelecer pares de fêmeas aparentadas (ou, pelo menos, com um grau de
familiaridade prévia que atuasse como sinal de parentesco) a serem contrastados
com pares não aparentados (ou não familiares), dentro de um delineamento
semelhante ao de König (1994). Uma maior taxa de aloamamentação, no primeiro
caso, seria um argumento a favor da hipótese de seleção de parentesco. De
qualquer maneira, é possível afirmar que a aloamamentação em cobaias não
depende estritamente de um período prévio (ao parto e ao aleitamento) prolongado
e de uma consangüinidade próxima: a natureza aleatória do pareamento de fêmeas
– dentro das amostras disponíveis de animais e o período relativamente curto de
contato entre fêmeas antes que se misturassem as ninhadas não impediram o
surgimento do fenômeno.
Evacuação de leite: Esta hipótese não é pertinente no caso da cobaia, pois a
quantidade de leite produzida pelas mães, na espécie, é regulada de acordo com o
número de filhotes em gestação, não aumentando sua produção com o aumento da
demanda/estimulação do filhote (Laurien-Kehnen & Trillmich, 2003). Se verdadeira a
91
hipótese de evacuação de leite, esperar-se-ia que houvesse maior número de
filhotes alheios aceitos quando a ninhada fosse pequena (maior probabilidade, em
princípio, de uma sobra de leite) do que quando grande. Isto não se verifica: a
correlação (tomando as etapas 1 e 2 conjuntamente) entre o tamanho da ninhada e
o número de filhotes que alomamaram não é significativa (Pearson, r = -0,2624, p >
0,05).
Aprendizado materno: Há alguma discordância quanto à capacidade de mães
cobaias melhorarem o seu desempenho materno com a experiência. Segundo
Albers et al. (1999a), nem o aumento da idade e experiência das mães cobaias em
criar filhotes, nem a diferença de idade das mães no começo do experimento,
influenciaram significativamente o comportamento materno. Já Künkele (2000c)
atribui à experiência um papel significativo na competência materna de cobaias.
Nossas observações indicam (como já mencionado) que a iniciativa para a procura
das mamas é própria dos filhotes e mostraram ser pequeno o papel das fêmeas na
iniciação da amamentação (mães não recuperam os filhotes que se afastam delas,
nem atendem de maneira diferencial ao chamado de aflição dos próprios filhotes, e
nem aprendem, quando se monta um procedimento experimental apropriado, a
discriminar entre chamados de um filhote próprio e de outro filhote): fica assim
comprometida a plausibilidade de uma hipótese que supõe que fêmeas cobaias se
valeriam de aumentar o número dos filhotes amamentados como exercício de
mothering”. Sendo pequeno o investimento em aloamamentação, não vemos como
seria de muita valia enquanto treinamento, em comparação com o esforço dedicado
aos filhotes geneticamente relacionados.
HIPÓTESES PARA A EXPLICAÇÃO DA ALOAMAMENTAÇÃO EM
COBAIAS DOMÉSTICAS
Ainda não estamos de posse de todas as informações suficientes do porquê e
como ocorre a aloamamentação em cobaias domésticas: o fenômeno é bastante
complexo e envolve, como pré-requisitos, as características do sistema social das
cobaias, em si bastante complexo. Mas os dados obtidos durante a pesquisa
92
permitem que delineemos hipóteses capazes de dar conta do que se sabe e de
constituir uma base para novas investigações.
As hipóteses que defendemos decorrem da rejeição de um modelo que
anteriormente nos pareceu interessante: a hipótese de que a aloamamentação
provém de uma competição dos filhotes por um superávit alimentar.
A hipótese da competição por um superávit alimentar
Muito no início da pesquisa, acreditávamos que a aloamamentação
decorresse de maneira direta da natureza intensamente social e pacífica da
organização social das cobaias: seria um traço a mais dentro da tolerância social
que marca o comportamento das cobaias dentro do grupo. A aloamamentação
ocorreria como uma troca espontânea entre as fêmeas, talvez baseada na
funcionalidade da aptidão abrangente, de modo análogo ao caso de espécies que
usam de uma estratégia comunitária para se reproduzir (Ebensperger et al., 2002,
2006, 2007; Hayes, 2000; Jennions e Macdonald, 1994; Künkele e Hoeck, 1995).
Ebensberger et al. (2002) que listam uma série de roedores histricognatas
neotropicais, aventam a possibilidade de serem estes roedores predispostos
evolucionariamente a adotar estratégias de criação, amamentação comunitária de
filhotes. “O fato de a maioria dos filhotes de histricognatas neotropicais serem
precoces”, escrevem eles, “pode ter favorecido a evolução de formas comunitárias
de amamentação e uso de ninhos; sendo a condição necessária que os benefícios
sejam maiores do que o custo de distribuir leite a filhotes alheios para as fêmeas que
se localizam em comunidades, desde que a lactação de filhotes precoces (em
contraposição com altriciais) envolva menor custo energético” (p. 145).
Logo, contudo, nos demos conta de que a aloamamentação não era
generalizada nem sempre simétrica e equitativa, e de que ela dependia
essencialmente da iniciativa dos filhotes. A hipótese da aloamamentação como
cooperação não se encaixava, além disso, com os resultados das pesquisas que
mostravam o quanto é econômico e muito pouco flexível o processo de geração de
leite nas fêmeas lactantes. A observação direta da amamentação nos revelou a
existência de fontes sutis do comportamento afiliativo, mas também a de uma
competição efetuada sem agonismo intenso, mas merecedora de atenção.
93
Foi então que, invertendo a perspectiva, tentamos interpretar a
aloamamentação a partir do comportamento dos filhotes e a categorizamos como
uma competição por um superávit alimentar. Um resultado parcial da Etapa 1, o
maior ganho de peso dos filhotes FP(p+a) em relação aos filhotes FPp, parecia
reforçar a hipótese, na medida em que indicava uma vantagem para o filhote que
disputava um ganho suplementar de leite alheio. Alguns filhotes, em virtude de
características próprias de motivação ou de vigor - por enquanto não especificadas,
poderiam ser explicitadas a partir de estudos que focalizassem o comportamento
individual dos filhotes em sua persistência na aproximação de mães alheias e de sua
aptidão em vencer as defesas da fêmea - teriam mais sucesso por obterem um
suplemento alimentar e por crescerem mais rapidamente, entrando precocemente
na carreira reprodutiva. De acordo com esta explicação, o leite seria “roubado”, a
partir do aproveitamento pelo filhote, da maneira pouco defensiva de a
amamentação ocorrer (e dos caminhos – inevitáveis do ponto de vista da fêmea –
até a mama), representando um prejuízo para as fêmeas cuidadoras. Não é difícil
imaginar como a apropriação do recurso alheio (como o colocávamos) poderia ter
sido fixada através da seleção natural, uma vez que baseada em diferenças
individuais herdáveis e tendo por conseqüência o aumento da aptidão reprodutiva.
A hipótese da competição entre filhotes por um suplemento de alimentação
tem recebido confirmação empírica (Riedmann, 1982; Packer et al., 1992). De
acordo com a hipótese imunológica de Roulin e Heeb (1999), além do benefício
propriamente ponderal e de maturação, um filhote - por mamar de mães diferentes -
obteria elementos imunes mais diversos e se protegeria contra uma maior variedade
de elementos patógenos. Há comprovações de que, de fato, filhotes tomam a
iniciativa para ter acesso ao leite alheio, mercê da inadvertência (má alocação) da
fêmea lactante e mesmo em condições em que a fêmea defende ativamente seu
leite. Em leões marinhos (Eumetopias jubatus), por exemplo, a aloamamentação
ocorre ocasionalmente e de duas maneiras diferentes, de acordo com o status
reprodutivo da fêmea. As fêmeas primíparas, provavelmente por causa de sua
inexperiência, aloamamentaram por significativamente mais tempo do que as
fêmeas multíparas, em condições em que claramente se dão conta da aproximação
dos filhotes alheios. As fêmeas multíparas, em compensação, atacaram fortemente
estes filhotes e somente se deixaram abordar para aloamamentação quando
94
estavam dormindo ou quando ocupadas com outra atividade, havendo um “roubo”
de leite (Maniscalco et al., 2007). Existem também vários relatos a respeito de
competição de filhotes por mamas em casos de aloamamentação (por exemplo, com
porcos, Ilman et al., 2006).
Os resultados obtidos nas fases ulteriores da pesquisa demonstraram a
limitação da hipótese da competição por um superávit alimentar. De um lado, não foi
replicado, na Etapa 2, o dado sobre o aumento ponderal relativo dos filhotes que
tivessem alomamado durante o seu crescimento, relativamente aos filhotes que se
fixaram na mãe como fornecedora exclusiva de leite [FP(p+a) vs. FPp]. Ao contrário,
as curvas de crescimento ponderal destes dois grupos de filhotes indicaram uma
impressionante coincidência do trajeto ontogenético. Além disso, evidências a
respeito do decurso da aloamamentação durante o crescimento mostraram que era
uma atividade localizada no tempo (ocorrendo principalmente, em termos do número
de filhotes envolvidos, na primeira semana de vida) e executada muito
eventualmente pelos filhotes daí por diante. O investimento de esforço do filhote em
procurar a mama da mãe alheia não representa necessariamente a obtenção de um
superávit: implica também possivelmente num prejuízo, a perda de acesso à mama
materna. A hipótese do superávit alimentar depende, para a sua verificação, de o
filhote ter sucesso em uma competição com seus irmãos pelas mamas da mãe
própria e em uma competição com os filhotes da outra ninhada pelas mamas da
mãe própria e/ou da mãe alheia. Um argumento final tem a ver com a possibilidade
de os filhotes aproveitarem, como fonte suplementar e como base para
compensarem possíveis déficits de acesso ao leite, os alimentos sólidos que lhes
eram proporcionados em abundância. A competência ingestiva não tem apenas a
ver com a competição em torno das mamas maternas (ou da mãe alheia), tem a ver
com a verdura presente durante o crescimento.
95
A hipótese da amamentação oportunista
Na nova formulação a respeito da aloamamentação em cobaias, permanece a
idéia de que a iniciativa provém basicamente dos filhotes e de que se valem da
“inadvertência” das fêmeas lactantes disponíveis para obter um suprimento de leite.
Diante da possibilidade de obter esse leite da própria mãe e de outra fêmea, abre-se
aos filhotes a possibilidade de usar as fêmeas de forma concorrente, no sentido que
é dado à palavra em estudos de laboratório, em que animais são postos diante de
duas fontes (ou esquemas) de obtenção de alimento e em que alternam entre as
fontes de acordo com as características de investimento de esforço e de tempo
exigidos por cada uma delas. O recurso à fonte alternativa (a mãe alheia) se
encontra em aberto, no início do crescimento, dentro de um contexto facilitador: de
um lado, está a natureza bastante benevolente das cobaias adultas em relação aos
filhotes; de outro, há a promiscuidade espacial que é inevitável, dentro do ambiente
cedido aos animais em condições de cativeiro. Os filhotes, muito cedo, entram em
contato com ambas as fêmeas, com os irmãos e os outros filhotes e vão
aproveitando o recurso do leite de uma forma oportunística. Que vários dentre eles
possam alomamar (às vezes de ambas as ninhadas postas em contato) cria, além
de tudo, um contexto de distribuição até certo ponto recíproca que diminui, do ponto
de vista das fêmeas que amamentam filhotes alheios, o custo total em aptidão.
Um primeiro aspecto que viesa em favor da própria mãe as tentativas de
mamada dos filhotes é a formação de um laço de apego (King, 1956). A observação,
por pouco que dure, mostra o quanto - apesar do jeito aleatório de disposição dos
filhotes de cobaia dentro da caixa de criação - eles se mantêm próximos à mãe e a
seguem em suas andanças pelo espaço dado. Existe uma típica coexistência entre
um padrão tranqüilo de mistura entre os filhotes, independentemente de sua
ninhada, e uma fidelidade subjacente à mãe, que constitui uma espécie de base
móvel. Há procura e manutenção de proximidade com a mãe a partir de possíveis
imperativos ecológicos de busca de segurança (imagine-se famílias de preás
andando dentro do gramado: permanecer perto da mãe ou de outros indivíduos
adultos do grupo tem a função primordial de proteção em relação a eventuais
predadores) e, evidentemente, de amamentação.
96
É relevante notar que um laço forte de apego pode se desenvolver em relação
à mãe alheia. Num caso bastante interessante de adoção, observado durante a
Etapa 2 de nosso estudo, uma das duas fêmeas postas em contexto de pareamento,
tendo entrado em conflito com a outra, acabou adotando-lhe todos os filhotes. Dois
aspectos nos pareceram dignos de nota: de um lado, a reação de seguimento das
duas ninhadas, feitas uma só, atrás da fêmea escolhida, conforme o que se
esperaria se todos os filhotes tivessem criado um laço de apego para com ela. De
outro, a agressão com que a outra fêmea reagia à aproximação de filhotes,
quaisquer filhotes, uma agressão que a deixou claramente isolada no espaço
disponível. É possível que tenha sido a exibição deste comportamento agonístico em
relação à aproximação de filhotes que tenha contribuido para o isolamento da
fêmea, e para o fato de não ter amamentado sua prole
4
.
Um segundo aspecto que viesa os filhotes em relação a mamar da própria
mãe, possivelmente decorra das interações entre fêmeas e filhotes, logo no início do
desenvolvimento. A favor da idéia de que a dinâmica das interações precoces
influencia o padrão de escolha posterior pela fêmea lactante está o decréscimo
acentuado do número de indivíduos que alomamaram, depois da primeira semana
(um resultado bastante robusto, obtido nas duas etapas da pesquisa). Um
decréscimo destes, ou é espontâneo, programado intrínsecamente no
comportamento dos filhotes de cobaias, ou então, o que nos parece mais provável, é
fruto da própria interação. Vimos fêmeas agredirem filhotes que passavam por perto,
a uma distância que permitia o eventual reconhecimento destes filhotes como
próprios ou alheios. Não temos ainda a quantificação (a partir dos registros em
videotape) destes episódios agonísticos, mas acreditamos que, caso se demonstre
que são seletivamente dirigidos a filhotes alheios, possam constituir uma das razões
pela queda do número de aloamamentações a partir da segunda semana. Se as
fêmeas nem sempre têm a oportunidade de inspecionar os filhotes que se
candidatam a mamar de suas mamas e nem sempre podem interromper mamadas
de forma seletiva, elas poderiam defender o destino de seu leite, por assim dizer,
preventivamente, gerando uma esquiva aprendida nos filhotes alheios. Um fator
4
Os dados relativos às duas fêmeas, protagonistas do episódio de adoção, não foram
incluídos na amostra analisada na pesquisa.
97
interacional destes e a suposição de que fêmeas podem diferir na sua propensão
agonística explicaria o fato de existirem aloamamentações unilaterais e casos em
que não aparece sequer o fenômeno.
De acordo com a hipótese da aloamamentação oportunista, são duas as
forças que mantêm a aloamamentação dentro de limites estreitos e a tornam um
fenômeno mais equilibrador do consumo, numa situação de disponibilidade múltipla
de amamentadoras, do que numa oportunidade para o crescimento diferencial de
filhotes: a criação de laços sócio-espaciais de apego e a geração de uma esquiva
diferencial.
Indícios de que filhotes possam aprender a discriminar entre fêmeas
produtoras de leite de acordo com a disponibilidade que têm para com eles foram
relatados por Ekvall (1998), na pesquisa já citada com cervos. Nas primeiras cinco
semanas de amamentação, a freqüência de tentativas de filhotes de cervos dirigidas
às 6 fêmeas mais novas, distribuíram-se equiprovavelmente, mas não na sexta
semana, indicando que os filhotes gradualmente aprendiam a discriminar entre as
fêmeas amigáveis e as mais agressivas. No caso dos cervos (Ekvall, 1998), como
dos búfalos (Murphey et al., 1991, 1995), o filhote próprio era o primeiro a ter
acesso às mamas da mãe, só depois é que os filhotes alheios se aproximavam para
alomamar. Não tivemos indicação de que estivesse prevalecendo entre as cobaias a
regra de primeiro mamar o filhote próprio, o que reforça ainda mais a conclusão de
que fêmeas cobaias não têm controle sobre o acesso de filhotes às suas mamas.
Cobaias não são a única espécie em que a aloamamentação não parece
influenciar o desenvolvimento individual de filhotes (dentro da linha de expectativa
da hipótese do superávit). São vários os casos documentados de uma
aloamamentação sem conseqüências, ou até com conseqüências negativas, na
maturação dos alomamadores. Murphey et al. (1995), trabalhando com búfalos,
verificaram que uma aloamamentação freqüente era associada a uma diminuição da
taxa de crescimento dos bezerros; em cervos vermelhos, bezerros que alomamavam
cresciam menos do que os outros (Bartos et al., 2001). Em porcos, Olsen et al.
(1998) demonstraram não haver diferença entre os filhotes que alomamaram ou não;
Illmann et al. (2006), observaram em porcos, tanto nos que chamaram de
“ganhadores” como nos “perdedores de tetas”, uma ausência de ganho ponderal
decorrente da aloamamentação.
98
A aloamamentação pode até ser vista, dependendo do caso, como um
recurso usado por filhotes para compensar pela baixa qualidade ou quantidade do
leite conseguido com a mãe (Bartos et al., 2001). Illman et al. (2006), contudo, no
trabalho com porcos, eliminaram (como nós também pudemos eliminar, no caso das
cobaias), a hipótese de uma aloamamentação compensatória: os porcos que
alomamaram tinham peso equivalente ao dos outros, no começo das observações,
não tendo, portanto, carência que explicasse terem alomamado posteriormente.
Não há como, no presente momento, negar em absoluto que a
aloamamentação tenha efeitos benéficos para os alomamadores. Efeitos desses
poderiam se manifestar em dimensões que não fossem ponderais (na área
imunológica, por exemplo) e poderiam se manifestar, bem mais tarde, por uma maior
aptidão reprodutiva dos alomamadores, constatada através de comparações a longo
prazo das ninhadas que eles e os outros produzem. Tudo indica, contudo, até prova
em contrário, que a aloamamentação surja apenas como um subproduto das
características que marcam a vida social da cobaia doméstica, sem benefícios
individuais seletivos. O sistema de reprodução por haréns, a restrição espacial, a
diminuição de agressividade decorrente do processo de domesticação, o modo
especial de os caviídeos amamentarem a prole (sem controle estrito sobre quem é
que está sendo amamentado, em dado momento), todos esses são fatores que,
aliados a uma tendência de os filhotes “experimentarem” as fontes de leite
disponíveis, propiciam o surgimento da aloamamentação. A defesa da destinação do
leite pelas fêmeas cobaias através de comportamentos agonísticos seletivos,
dirigidos a filhotes alheios, uma possibilidade aqui colocada com cautela, seria, se
comprovada, mais um peça para compor o quebra-cabeça e um progresso em
direção a um modelo causal e funcional a respeito de um comportamento de cuidado
bastante intrigante.
99
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109
ANEXOS
110
Deixamos disponível a base de dados em forma de anexos para que pessoas interessadas
possam eventualmente reanalisar ou reinterpretar os resultados da pesquisa.
Anexo I: Médias descritivas dos dados de Freqüência Média de Amamentação dos filhotes
FS_1, FPp_1, FS_2 e FPp_2, que mamaram pelo menos uma vez em cada semana.
Variável Etapa Condição Semana n Média Erro-
padrão
Mínimo Máximo
1 20 2,88 0,41 1,00 7,00
FPp 2 21 3,19 0,31 1,00 6,00
3 20 2,65 0,35 0,50 6,00
1 4 9 1,33 0,29 0,50 3,50
1 26 2,87 0,21 1,00 4,50
FS 2 26 3,19 0,25 1,00 5,50
Freqüência 3 25 2,64 0,30 0,50 6,50
Média de 4 19 1,34 0,21 0,50 3,00
Amament. 1 23 4,80 0,44 1,00 8,67
FPp 2 23 4,12 0,36 1,67 8,33
3 23 3,19 0,63 0,33 14,00
2 4 15 3,10 0,91 0,25 11,00
1 30 3,87 0,35 1,00 9,00
FS 2 30 4,80 0,37 1,50 10,00
3 30 3,53 0,32 1,00 8,67
4 30 2,94 0,30 0,33 6,67
111
Anexo II: Médias descritivas dos dados de Duração Média Total de Amamentação dos
filhotes FS_1, FPp_1, FS_2 e FPp_2, que mamaram pelo menos uma vez em cada semana.
Variável Etapa Condição Semana n Média Erro-
padrão
Mínimo Máximo
1 20 835,50 125,60 120,00 2160,00
FPp 2 21 884,29 100,35 90,00 2280,00
3 20 772,50 150,34 90,00 2460,00
1 4 9 493,33 122,79 150,00 1260,00
1 26 872,88 79,34 150,00 1710,00
FS 2 26 1120,38 78,55 360,00 2190,00
Duração 3 25 744,00 75,14 240,00 1560,00
Média 4 19 350,53 51,25 60,00 810,00
Total (s) 1 23 993,20 91,25 184,33 2196,67
FPp 2 23 766,94 81,70 142,50 1621,67
3 23 487,52 88,78 12,33 1422,00
2 4 15 371,59 116,45 11,25 1322,00
1 30 1370,92 106,38 299,50 2702,00
FS 2 30 1364,36 92,75 467,00 2625,00
3 30 1286,14 99,49 438,00 2463,33
4 30 782,31 92,86 8,33 2002,67
Anexo III: Médias descritivas dos dados de Duração Média por Episódio de Amamentação
dos FS_1, FPp_1, FS_2 e FPp_2, que mamaram pelo menos uma vez em cada semana.
Variável Etapa Condição Semana n Média Erro-
padrão
Mínimo Máximo
1 20 292,22 21,29 120,00 480,00
FPp 2 21 299,18 31,43 90,00 720,00
3 20 279,25 24,80 166,67 540,00
1 4 9 388,89 77,45 160,00 780,00
1 26 348,86 40,28 120,00 1189,00
Duração 2 26 407,87 47,66 192,00 1472,50
Média/ 3 25 368,19 56,25 120,00 1350,00
episódio 4 19 310,26 47,60 80,00 900,00
(s) 1 23 223,68 21,32 92,80 568,67
FPp 2 23 197,15 21,55 40,71 449,30
3 23 169,05 18,33 37,00 393,00
2 4 15 112,42 15,44 23,00 223,00
1 30 398,26 35,85 119,80 900,67
FS 2 30 326,16 36,00 162,33 1050,00
3 30 415,59 37,96 165,08 1190,67
4 30 257,58 23,76 25,00 531,50
112
Anexo IV: Médias descritivas dos dados de Distância em relação à mãe própria de todos os
filhotes FS_1, FPp_1, FS_2 e FPp_2.
Variável Etapa Condição Semana n Média Erro-
padrão
Mínimo Máximo
1 21 0,498 0,090 0,000 1,340
FPp 2 21 0,287 0,048 0,010 0,870
3 21 0,317 0,057 0,010 1,030
1 4 21 0,326 0,046 0,060 0,950
1 6 0,022 0,008 0,000 0,050
FS 2 6 0,050 0,029 0,000 0,190
3 6 0,093 0,024 0,030 0,200
Distância 4 6 0,168 0,082 0,000 0,520
Media da 1 23 0,348 0,040 0,130 1,000
Mãe FPp 2 23 0,368 0,037 0,060 0,740
Própria 3 23 0,400 0,056 0,000 1,000
2 4 23 0,386 0,044 0,050 0,900
1 30 0,069 0,016 0,000 0,310
FS 2 30 0,110 0,016 0,000 0,300
3 30 0,121 0,017 0,000 0,350
4 30 0,242 0,024 0,070 0,630
Anexo V: Ganho relativo de peso (peso final g – peso inicial g / peso inicial g), dos filhotes
FS_1, FPp_1, FS_2 e FPp_2, que mamaram pelo menos uma vez em cada semana.
Variável Condição n Média Erro-padrão Mínimo Máximo
Aumento FPp_1 18 148,37 9,37 82,61 250,00
Relativo FS_1 26 163,43 10,25 0,00 242,86
de peso FPp_2 23 200,62 9,20 114,06 303,57
FS_2 30 135,93 7,73 38,00 228,13
113
Anexo VI: Médias descritivas dos dados de Freqüência Média de Amamentação e
Aloamamentação dos grupos de filhotes FPp_1, FPp(p+a) _1, Fpa(p+a)_1, FPp_2,
FPp(p+a)_2, Fpa(p+a)_2 que mamaram ao menos uma vez em cada semana.
Variável Etapa Condição Semana n Média Erro-
padrão
Mínimo Máximo
1 FPp 1 20 2,88 0,41 1,00 7,00
Freqüência 1 2 21 3,19 0,31 1,00 6,00
Mãe 1 3 20 2,65 0,35 0,50 6,00
Própria 1 4 9 1,33 0,29 0,50 3,50
1 FPp(p+a) 1 23 1,96 0,17 0,50 3,50
1 2 23 2,93 0,31 0,50 6,00
1 3 22 1,84 0,20 0,50 4,00
1 4 15 1,77 0,29 0,50 4,00
Freqüência 1 FPa(p+a) 1 21 0,76 0,10 0,50 2,00
Mãe Alheia 1 2 12 1,29 0,26 0,50 3,00
1 3 8 1,19 0,38 0,50 3,50
1 4 1 1,00
1,00 1,00
Freqüência 1 FP(p+a) 1 25 2,44 0,17 0,50 4,00
Própria+ 1 2 25 3,32 0,26 0,50 6,00
Alheia 1 3 24 2,08 0,19 0,50 4,00
1 4 16 1,72 0,27 0,50 4,00
2 FPp 1 23 4,80 0,44 1,00 8,67
Freqüência 2 2 23 4,12 0,36 1,67 8,33
Mãe 2 3 23 3,19 0,63 0,33 14,00
Própria 2 4 15 3,10 0,91 0,25 11,00
2 FPp(p+a) 1 40 4,13 0,22 1,67 7,50
2 2 40 4,13 0,29 1,00 9,00
2 3 40 3,86 0,38 0,67 10,67
2 4 32 2,03 0,29 0,25 6,75
Freqüência 2 FPa(p+a) 1 35 1,07 0,16 0,25 4,00
Mãe Alheia 2 2 13 1,41 0,30 0,33 4,00
2 3 10 0,87 0,19 0,33 2,00
2 4 5 1,03 0,27 0,25 1,75
Freqüência 2 FP(p+a) 1 40 5,06 0,24 2,50 8,33
Própria+ 2 2 40 4,59 0,31 1,00 10,00
Alheia 2 3 40 4,08 0,40 0,67 10,67
2 4 32 2,19 0,29 0,25 6,75
114
Anexo VII: Médias descritivas dos dados de Duração Média Total de Amamentação e
Aloamamentação dos filhotes FPp_1, FP(p+a)_1, FPp_2 e FP(p+a)_2, que mamaram pelo
menos uma vez em cada semana.
Variável Etapa Condição Semana n Média Erro-
padrão
Mínimo Máximo
1 FPp 1 20 835,50 125,60 120,00 2160,00
1 2 21 884,29 100,35 90,00 2280,00
Duração 1 3 20 772,50 150,34 90,00 2460,00
Total - 1 4 9 493,33 122,79 150,00 1260,00
Mãe 1 FPp(p+a) 1 23 723,91 103,79 30,00 1740,00
Própria 1 2 23 1098,26 160,74 120,00 3540,00
1 3 22 711,84 141,23 30,00 2760,00
1 4 15 532,00 103,24 90,00 1260,00
Duração 1 FPa(p+a) 1 21 248,71 50,60 3,00 750,00
Total - 1 2 12 485,00 130,97 30,00 1620,00
Mãe
Alheia
1 3 8 498,75 160,25 30,00 1320,00
1 4 1 180,00
180,00 180,00
Duração 1 FP(p+a) 1 25 874,92 125,61 60,00 2460,00
Total - 1 2 25 1243,20 150,71 150,00 3540,00
Própria+ 1 3 24 818,77 160,83 30,00 3240,00
Alheia 1 4 16 510,00 99,05 90,00 1260,00
2 FPp 1 23 993,20 91,25 184,33 2196,67
2 2 23 766,94 81,70 142,50 1621,67
Duração 2 3 23 487,52 88,78 12,33 1422,00
Total - 2 4 15 371,59 116,45 11,25 1322,00
Mãe 2 FPp(p+a) 1 40 918,93 66,15 87,33 2015,33
Própria 2 2 40 777,72 55,18 220,00 1656,67
2 3 40 576,38 57,78 13,00 1533,67
2 4 32 321,23 53,80 8,50 971,00
Duração 2 FPa(p+a) 1 35 170,76 31,98 5,00 818,33
Total - 2 2 13 255,87 55,72 8,33 666,00
Mãe
Alheia
2 3 10 109,57 45,01 3,67 434,00
2 4 5 78,08 32,08 12,00 180,25
Duração 2 FP(p+a) 1 40 1068,35 63,39 131,33 2083,00
Total - 2 2 40 860,88 52,19 220,00 1665,00
Própria+ 2 3 40 603,77 57,14 13,00 1533,67
Alheia 2 4 32 333,43 52,94 8,50 971,00
115
Anexo VIII: Médias descritivas dos dados de Duração Média por Episódio de Amamentação
e Aloamamentação dos filhotes FPp_1, FP(p+a)_1, FPp_2 e FP(p+a)_2, que mamaram pelo
menos uma vez em cada semana.
Variável Etapa Condição Semana n Média Erro-
padrão
Minimo Maximo
1 FPp 1 20 292,22 21,29 120,00 480,00
1 2 21 299,18 31,43 90,00 720,00
Duração 1 3 20 279,25 24,80 166,67 540,00
Episódio- 1 4 9 388,89 77,45 160,00 780,00
Mãe 1 FPp(p+a) 1 23 356,52 39,68 60,00 720,00
Própria 1 2 23 405,06 64,49 150,00 1680,00
1 3 22 385,02 87,15 60,00 1920,00
1 4 15 382,00 88,57 60,00 1320,00
Duração 1 FPa(p+a) 1 21 334,33 64,66 6,00 960,00
Episódio - 1 2 12 394,17 115,26 60,00 1620,00
Mãe 1 3 8 458,57 101,31 60,00 840,00
Alheia 1 4 1 180,00
180,00 180,00
Duração 1 FP(p+a) 1 25 343,20 37,96 75,00 768,00
Episódio - 1 2 25 390,09 56,40 150,00 1640,00
Própria + 1 3 24 343,21 54,30 60,00 1104,00
Alheia 1 4 16 369,38 83,80 60,00 1320,00
2 FPp 1 23 223,68 21,32 92,80 568,67
2 2 23 197,15 21,55 40,71 449,30
Duração 2 3 23 169,05 18,33 37,00 393,00
Episódio - 2 4 15 112,42 15,44 23,00 223,00
Mãe 2 FPp(p+a) 1 40 231,90 15,82 37,43 442,89
Própria 2 2 40 199,82 11,33 94,04 398,58
2 3 40 157,74 10,08 19,50 275,20
2 4 32 145,29 14,84 17,00 308,56
Duração 2 FPa(p+a) 1 35 152,60 18,23 10,00 398,00
Episódio - 2 2 13 206,21 51,47 22,00 648,00
Mãe 2 3 10 94,97 33,71 11,00 325,50
Alheia 2 4 5 73,87 28,14 26,50 180,25
Duração 2 FP(p+a) 1 40 218,80 13,23 49,25 425,80
Episódio 2 2 40 202,04 11,26 109,40 398,58
Própria+ 2 3 40 159,42 10,16 19,50 275,20
Alheia 2 4 32 140,48 14,61 17,00 308,56
Anexo IX: Médias descritivas do ganho relativo do Peso - FPp x FP(p+a)
Variável Condição n Média Mediana Erro-padrão Mínimo Máximo
Aumento FPp_1 18 148,37 145,74 9,37 82,61 250,00
Relativo FP(p+a)_1 23 186,94 190,00 9,22 100,00 280,00
Do peso FPp_2 23 200,62 203,60 9,20 114,06 303,57
FP(p+a)_2 30 187,81 179,25 8,83 68,89 308,64
116
Anexo X: Médias descritivas do Peso (g) na Etapa 2: FPp_2 x FS_2
GRUPO SEMANA n media mediana se mínimo máximo
FPp2 1 23 91,09 93,00 3,68 56,00 119,00
2 23 156,00 166,00 9,30 63,00 222,00
3 23 214,35 235,00 11,53 101,00 275,00
4 23 274,70 295,00 13,60 137,00 340,00
FS2 1 30 85,57 84,00 3,67 50,00 125,00
2 30 143,07 143,00 7,23 67,00 205,00
3 30 171,13 169,00 10,07 75,00 292,00
4 30 203,70 202,00 11,45 69,00 328,00
Anexo XI: Médias descritivas do Peso (g) na Etapa 2: FP(p+a)_2 x FSp_2
GRUPO SEMANA n media se mínimo Máximo
FP(p+a)_2 1 40 91,40 2,33 60,00 114,00
2 40 155,35 5,15 94,00 210,00
3 40 204,18 7,01 124,00 268,00
4 40 261,40 9,18 152,00 374,00
FPp_2 1 23 91,09 3,68 56,00 119,00
2 23 156,00 9,30 63,00 222,00
3 23 214,35 11,53 101,00 275,00
4 23 274,70 13,60 137,00 340,00
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