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entre eles a marginalização racial daqueles que aqui aportaram em busca do sonho de
viver no eldorado e só depois descobrem que a magia funciona para poucos.
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Tenta-se construir, pelos meios de comunicação, um imaginário de que o
aspecto deplorável da cidade se deve aos forasteiros, já que a população uberlandense
era ditosa, harmoniosa. A contradição fica evidente, pois, ao mesmo tempo em que
intentam difundir o nome da cidade às outras regiões do país para atraírem
investimentos, reclamam a vinda de pessoas em busca de trabalhos e, não encontrando,
se lançam na mendicância, na prostituição, no roubo, uma maneira de sobreviver,
aspecto, aliás, recorrente em várias cidades brasileiras.
O que está em evidência não é somente a inegável existência da pobreza, da falta
de atendimento médico, da ineficiência do Estado. Percebemos setores distintos da
sociedade reivindicando ações condizentes com a sua forma de estar na cidade, nos
mostrando o choque de interesses com as camadas mais favorecidas financeiramente, as
disputas de poder, como também, de não haver na cidade, como em muitas outras do
país, um discurso único capaz de arregimentar sua estrutura política. Nesse sentido, é
possível vislumbrar no cenário de Uberlândia, greves que pululavam até meados de
1950, especialmente no setor de transportes. O “quebra-quebra” que eclodiu em 1957,
tornou a cidade uma praça de guerra por, no mínimo, três dias. A resistência dos pobres
à ação educativa e esclarecedora das instituições filantrópicas, a existência do Partido
Comunista, cuja existência, por mais pejorativa que fosse, fez com que a cidade ficasse
rotulada como a “Moscou brasileira”.
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Cf.: CALVO, Célia Rocha. Muitas memórias e histórias de uma cidade: experiências e lembranças
de víveres urbanos, Uberlândia 1938 – 1990. 2001. 291 f. Tese (Doutorado em História)-Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001; RODRIGUES, Jane de Fátima da Silva. Trabalho,
ordem e progresso: uma discussão sobre a trajetória da classe trabalhadora uberlandense; o setor de
serviços 1924-1964. 1989. 214 f. Tese (Doutorado em História)- Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989; MACHADO, Maria Clara Tomaz. A
disciplinarização da pobreza no espaço urbano burguês: assistência social institucionalizada,
Uberlândia, 1965-1980. 1990. 322 f. Dissertação (Mestrado em História)- Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990; ALEM, João Marcos. Caipira e
country: a nova ruralidade brasileira. 1996. 266 f. Tese (Doutorado em História)-Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996; OLIVEIRA, Julio César de. O
último trago, a última estrofe: vivências boêmias em Uberlândia nas décadas de 40, 50 e 60. 200. 181 f.
Dissertação (Mestrado em História)-Pontificia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000;
LOPES, Valéria Maria Queiroz Cavalcante. Caminhos e trilhas: transformações e apropriações da
cidade de Uberlândia (1950-1980). 2002. 190 f. Dissertação (Mestrado em História)-Instituto de História,
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002.
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NUNES, Leandro José. Cidade e imagens: progresso, trabalho e quebra-quebras - Uberlândia -
1950/1960. 1993. 113 f. Dissertação (Mestrado em História)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993; SANTANA, Eliene Dias de Oliveira. Cultura