correspondido pelo povo.
278
“Mas apareceram alguns imprudentes, que deram fora ao Sub-
Delegado, e querendo o Chefe de Polícia, eu e outros muitos cidadãos manter-nos a ordem e
chamarmos o povo ao sossego não nos foi logo possível, e apareceram então alguns excessos da
cavalaria que quis carregar contra o povo...” Na confusão saiu um homem ferido na cabeça. A
ordem foi restabelecida com algum custo e em seguida o chefe de polícia se retirou, deixando as
forças de cavalaria e infantaria sob as ordens do delegado Cândido Albuquerque.
Os acontecimentos do dia 8 iriam em parte se repetir no dia seguinte. Logo depois de
escrever o primeiro ofício, o delegado Cândido Albuquerque escreveria um segundo, quase
simultaneamente aos acontecimentos. Este segundo ofício, datado também do dia 9, foi escrito às
10:00h. Mais uma vez, grupos oriundos da Boa Vista, Santo Antônio, São José e outras partes da
cidade chegavam à povoação de Afogados. Apesar de estarem desarmados, o temor do delegado
era a da quebra da ordem. “Nesta hora em que estou oficiando a Vossa Excelência entra um
bando de quase cinqüenta homens, desarmados é verdade, porém lembro a Vossa Excelência que
lhe não faltarão armas se pretenderem, como suponho, algum atentado contra a ordem.”
279
Ainda
segundo o delegado, armas e farta munição vindas de fora haviam chegado à povoação dias
antes. De acordo com o Diário Novo, o ajuntamento teria chegado a mais de 2 mil pessoas.
280
Se
este foi de fato o número real daquela manifestação, era bastante expressivo para a época.
Corresponderia, mais ou menos, à metade da população daquela freguesia.
281
Diante de tamanho ajuntamento e do risco de quebra da ordem pública, com a ameaça de
confronto armado, Marcelino de Brito envia ofício a Cândido Albuquerque informando a
suspensão das eleições naquela freguesia.
282
Esta solicitação, segundo o delegado, seria feita pelo
Borges Mendes, que também era participante dos acontecimentos.
283
A recomendação do
Presidente da Província para o delegado foi a de tomar todas as providências para evitar o roubo
da urna, providência esta que foi prontamente tomada com a colocação de toda a força policial
dentro da Igreja. Mas ainda assim o delegado temia a ação dos populares, pois termina o seu
ofício escrito no calor da hora com a curiosa observação: “P.S. O povo está muito animado para
roubar a urna; e bom será que Vossa Excelência mande mais alguma força.”
278
Ver também o relato do Diário de Pernambuco. DPH, Diário de Pernambuco, n
o
204, 12/09/1844. Segundo esta
versão do Diário de Pernambuco, ele estava acompanhado de amigos e juntos foram cercados por uma multidão de
mais de mil pessoas armadas de cacete, sendo chamado de déspota, baronista e cabano.
279
APEJE, Coleção Polícia Civil, vol. 8, p. 388, 09/09/1844.
280
APEJE, Diário Novo, nº 198, 12/09/1844, p. 1.
281
Segundo um censo de 1856, doze anos depois daquelas ocorrências, a população de Afogados correspondia a
5.514 pessoas. Ver APEJE, Relação Numérica da População Livre e Escrava do 1
º
Districto do Termo do Recife,
10/01/1856.
282
APEJE, Coleção Registros de Ofício, vol. 18/03, pp. 75 e 76, 09/09/1844.
283
Francisco Borges Mendes, baiano, Solicitador de Causas, foi um dos presos durante a repressão aos revoltosos
praieiros de 1849. Acabou sendo absolvido da acusação de aliciar e reunir gente para a rebelião. Ver MELO,
Jerônimo M. F. de. Autos do Inquérito da Revolução Praieira. Brasília: Senado Federal, 1979. pp. 143, 439-444.