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segregação se tornam acentuados, o que acarreta a disputa pela apropriação do
espaço e a oportunidade de mostrar a diferença em espaço público. Muitos grupos
reforçam seus sentimentos de singularidade pelo contato com a alteridade em
regiões urbanas onde a diversidade cultural habita. Na questão gay, por exemplo,
torna-se evidente a alegria do compartilhamento e a expressão de afetividade em
espaço público;
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porém, essa expressão só é possível porque o próprio espaço
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O que podemos notar é ainda o contínuo repúdio em relação às afetividades homoeróticas (como
por exemplo o beijo e os carinhos trocados entre pessoas do mesmo sexo) em público. No entanto,
em alguns espaços públicos, em que convergem uma diversidade de “estranhos”, que não se
conhecem completamente, tais expressões, ao mesmo tempo em que são “estranhadas”, são
banalizadas. Mesmo as pessoas que passam ainda expressam certos “olhares” e comentários
discriminatórios. Porém, para serem vistas publicamente, as afetividades homoeróticas necessitam da
reunião microterritorial, na qual seus componentes sentem-se seguros pelo compartilhamento coletivo
delas. Em alguns países europeus elas apresentam-se dissolvidas por entre a multidão, sem denotar
algum problema; no entanto, em muitas cidades brasileiras, torna-se necessária a
microterritorialização de proteção à livre expressão, como, por exemplo, em Porto Alegre, as reuniões
pontuais homoeróticas no Parque da Redenção nos domingos, assim como a região do centro
comercial Nova Olaria e esquinas das ruas Lima e Silva e República, no bairro Cidade Baixa. No Rio
de Janeiro observamos a microterritorialização homoerótica no Posto 9 da Praia de Ipanema e em
alguns bares da rua Farme de Almoedo, neste mesmo bairro. Em Manaus essas expressões ocorrem,
em espaço público, nas periferias da boate A2, antes e durantes as festas noturnas das sextas e
sábados, muitas vezes entre passantes que se dirigem aos pontos de transporte coletivo. Também
Praça São Sebastião, durante a noite, para a qual converge uma diversidade de pessoas para
passearem. Verifica-se a reunião em frente ao Teatro Amazonas. Em Florianópolis é muito evidente,
assim como no Posto 9, no Rio de Janeiro, a concentração espacial no bar do Deca na Praia Mole. Os
exemplos das praias do Rio de Janeiro e de Florianópolis nos mostram microterritórios justapostos a
outros muito próximos, como, por exemplo, a reunião de surfistas e de outras expressões
heteroeróticas. Em Porto Alegre as reuniões pontuais no Parque da Redenção apresentam-se muito
diversificadas quanto às qualidades estéticas dos sujeitos homoeróticos. No Centro Comercial Nova
Olaria, microgrupos se formam, entre a maior concentração de pessoas, em frente ao centro
comercial, como, por exemplo, a “mistura” entre homoerotismo e expressões darks, rocks e emos - os
primeiros basicamente cultuando a estética sombria nas roupas e na maquiagem, inclusive com
alguns homens maquiados no estilo; os segundos, usando vestimentas surradas dos grunges de
Seatle (EUA) e elementos visuais, como camisetas, dos artistas e banda que cultuam; os terceiros,
misturando elementos darks e clubbers dos anos 1990, como, por exemplo, o uso de botas militares,
maquiagens sombrias com acessórios (cintos, pulseiras, colares, botons) multicoloridos e destoantes
do entorno; os emos (termo reduzido de emotion), acabam facilmente expressando homoerotismo em
seus gestos e comportamentos, pois a sigla e as reuniões implicam justamente a expressão livre de
emoção, qualquer que seja, muito próxima à proposta Queer, de expressão homoerótica livre, sem
qualquer necessidade de definição autoritária. As culturas homoeróticas de praia no Rio de Janeiro
apresentam-se mais específicas, mas, de certa forma, mais divergentes dos estereótipos tidos como
gays. As barbies – expressões que denomina muitos sujeitos homoeróticos cariocas – apresenta-se
como um grupo muito fechado de convivência e são, em sua maioria, homens que cultuam esportes
diversos, academias de ginástica e uso de anabolizantes. Fecham-se em círculos relacionais mais
restritos, e o corpo masculino musculoso e as roupas que permitem o delinear são atributos de
aproximação. Mesmo exacerbando as expressões masculinas, podemos perceber entre as “barbies
amigas” a expressão de muitos gestos e modos de falar efeminados, fazendo transitar muito
drasticamente a estética de gêneros sexuais, assim como alguns homens musculosos são drags em
boates como a Lê Boy – ou seja, os corpos são musculosos, mas a expressão, feminina, exacerbada,
da drag queen. Na Praia Mole, em Florianópolis, acaba também havendo essa tendência de culto