relacionada, ainda, com a luta contra a pobreza, foi inserida no contexto da educação de
adultos e da sociedade da aprendizagem. Foram aprofundadas preocupações primordiais
sobre as quais se debruçava o Instituto de Educação da UNESCO em Hamburgo, como a
sustentação do processo por meio da pós-alfabetização, evitando a regressão dos alfabetizados,
e a inserção do mesmo processo na perspectiva de educação continuada, do berço ao
túmulo. A um mundo cada vez mais complexo e globalizado correspondiam exigências
maiores de educação, elevando o limiar das exclusões sociais. Acompanhando a trajetória
histórico-social, a árvore continuava se tornando cada vez mais frondosa e estendendo as suas
raízes mais profundamente.
Hoje a concepção que a UNESCO tem da alfabetização é, desse modo, mais ampla.
É ampla quanto ao tempo necessário ao domínio de conhecimentos e competências, no que
se refere às novas e variadas linguagens utilizadas modernamente, e quanto aos caminhos para
atingir os objetivos, assim como em relação à flexibilidade e à diversificação de públicos. Não
se trata de um processo rápido e determinado, mas que se estende ao longo da vida e que
pode levar seis ou sete anos de escolaridade para manejar o código da leitura e escrita,
embora um domínio pleno da última requeira 12 anos de escolaridade, segundo as estimativas.
Por outro lado, a alfabetização no mundo atual é plural em diversos sentidos. Pode haver a
bialfabetização, em situações de bilingüismo. Igualmente, com o desenvolvimento das lin-
guagens, ela abrange a representação multimodal de linguagem e idéias (texto, figura, imagem
em movimento, em papel, em meio eletrônico, etc.). Embora as comunicações eletrônicas não
tenham substituído a alfabetização impressa, o analfabetismo e o divisor digitais, separando
incluídos e excluídos das novas linguagens, são algumas das preocupações da UNESCO,
manifestadas em especial pelo documento A UNESCO e a Sociedade de Informação para
Todos (1995).As alfabetizações, como conceito plural contemporâneo, implicam também
a aceitação dos caminhos da educação formal e não-formal, assim como da educação
presencial e da educação a distância. Além disso, é aconselhável a diversificação de públicos
que apresentam características e necessidades diferentes: adolescentes e jovens, meninas e
mulheres, trabalhadores, etc.Também o seu enfoque precisa ser integrado e, ao mesmo tempo,
flexível para articular-se a todos os aspectos da vida, para além da comunicação tanto oral
como escrita, tendo uma visão da linguagem como totalidade (falar, escutar, ler e escrever).
Para isso, pode incluir, conforme o contexto, agrotecnologia, saúde, nutrição, cidadania,
pequeno comércio, artesanato, literatura religiosa e microcrédito, entre outras áreas.
Pode-se afirmar, portanto, que as raízes da árvore hoje são mais profundas, ao mesmo
tempo que se encontra uma profusão de ramos para atender ao leque de diversidades que
enriquecem o processo educacional. Se as nossas possibilidades de resposta cresceram, com
novos recursos, também aumentou o tamanho do desafio.Temos, assim, uma corrida em que
não há lugar para lamentar o tempo perdido, mas em que se pode perceber que teria sido
mais simples responder antes aos desafios. Afinal, voltando ao Diretor-Geral da UNESCO, a
questão da alfabetização não deveria ter sido resolvida no século passado? Diante desse
panorama de complexidade, urge, portanto, não só responder às necessidades dos jovens e
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alfabetizaçãocomoliberdade