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aspectos positivos ou negativos das tecnologias, mas sim a relação entre o humano e a
máquina (representada pelo mito do ciborgue), tensionando outras dicotomias, como mente
/ corpo, organismo / máquina, natureza / cultura.
Talvez pudesse trazer para a tecnologia a situação que Chassot (2004, p. 13) traz
para a ciência – nem fada, nem bruxa ou nem fada, nem ogro. A tecnologia seria um Golem,
como explica:
[...] há um tempo dicotomizava a Ciência como sendo ora uma fada benfazeja
ou ora uma bruxa; ao fazer outras leituras acerca da bruxaria, que estão no
livro
Educação conSCiência
(Chassot, 2003, p. 211-234) revisitados
vários conceitos acerca das bruxas, tendo-as como pólo das disputas pelo
conhecimento, entre homens e mulheres, passei a falar que a Ciência era ora
uma fada benfazeja ou ora um ogro maligno, ficando no eterno duelo entre o
Bem e o Mal, que diferia da anterior apenas na personificação do Mal. Mais
recentemente, abandonei essa dicotomia, e adiro a uma outra metáfora para
Ciência, que aprendi com Colins & Pinch (2003), mesmo que seja mais
polêmica, me parece mais adequada, dizendo que a Ciência se parece mais ao
Golem
(Goilem), aquele ente da mitologia judaica que é descrito com um
gigante de barro que desconhece sua verdadeira força e se assemelha muito a
um bobão, mas que tem ações, às vezes, de sábio e outras de sabido.
Assim, podemos pensar na tecnologia como uma fada, como uma bruxa ou como
um
Golem
, como indica Chassot, mas o mais importante é que percebamos que existe, sim,
uma relação (ou relações) entre humanos e máquinas. Para isso, basta olhar a tecnologia (e
a Ciência) como uma invenção humana, fruto de sua / nossa inteligência.
Poderíamos aplicar o mesmo questionamento à Educação, perguntando: as
tecnologias educacionais trazem benefícios ou malefícios ao campo educacional? Juana M.
Sancho (1998) ajuda-nos a problematizar possíveis respostas afirmando que existem duas
posturas profissionais quase extremas quando se fala em tecnologia educativa ou
educacional
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, classificando-as em
tecnofilia
e
tecnofobia
. De um lado, situam-se o que a
autora chama de tecnófobos, que seriam aqueles para quem o uso de qualquer tecnologia
que não tenha feito parte de sua infância ou de suas vidas pessoais ou profissionais
representa uma ameaça; os ditos tecnófobos, por vezes, apresentam aversão à utilização de
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“Diz-se daquele que está engajado na luta por uma causa , uma idéia, um partido, etc.” ou, ainda,
“aquele que adere sem restrições a uma organização política, sindical, etc. e que participa
intensamente da vida dessa organização” (MINIDICIONÁRIO AURÉLIO).
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Mariana Maggio (1997) problematiza algumas concepções do que tem sido denominado como
Tecnologia Educacional. A autora aponta duas vertentes. Nas décadas de 50 e 60, a tecnologia
educacional estudou os meios como geradores de aprendizagem, mas, a partir dos anos 70,
promoveu-se o estudo do ensino como processo tecnológico; já nos anos 90, este conceito vem
sofrendo diferentes reconceitualizações. A definição de Litwin, apud Maggio (1997, p. 13), faz-se
pertinente no contexto desta dissertação quando afirma que a Tecnologia Educacional “preocupa-se
com as práticas de ensino [...] inclui entre suas preocupações o exame da teoria da comunicação e
dos novos desenvolvimentos tecnológicos: a informática, hoje em primeiro lugar, o vídeo, a TV, o
rádio, o áudio e os impressos velhos ou novos, desde os cartazes até os livros”.