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seria publicada em maio. Nela, ele dizia “Deus ao alto, não à Direita ou à Esquerda”,
criticando aqueles que estavam maldizendo figuras como dom Helder. Também faz duros
comentários sobre a perseguição ideológica, os Atos Institucionais, o restabelecimento
disfarçado da censura e o fanatismo religioso. Então diz à filha que o artigo poderia lhe
render um cala-boca, inclusive de dom Jaime, “pois nas entrelinhas verão carapuças ao
próprio cardeal”. No dia seguinte, 27 de março, Sexta-feira Santa, Alceu volta com peso em
sua confissão à filha. Dizia que dom Jaime nem mesmo na Sexta-feira Santa deixava
descansar seu ódio anticomunista, referindo-se à bênção que o religioso dava naquele dia
aos cristãos via artigo publicado no JB e no qual “acha jeito de juntar a Paixão de Cristo ao
ódio antic omunista”, reclamava Alceu. “Que doença! Que obsessão!”
78
Tristão dizia ter
passado a ler o Correio da Manhã, para compensar a irritação que o JB lhe causava, este
último “incomparavelmente mais sectário e fanático” que o primeiro. As Marchas da
Família, que ele tanto repugnava, estavam sendo apoiadas pelo cardeal, “o maior culpado”,
e pela grande imprensa, incluindo aí Estadão, Jornal do Brasil, Diários Associados, Diário
de Notícias e O Globo, “todos os jornais capitalistas à testa”. Logo após a deflagração do
golpe, no 1 de abril, ele considerava terem sido, entre outras vozes, incluindo a sua, os
grandes jornais, “a começar pelo Jornal do Brasil”
79
, os principais culpados por aquele
“desastre”
80
do dia 31 de março. No que dizia respeito a ele, dizia que a culpa era por não
ter sua voz o mínimo de ressonância, pois, se tivesse, “nem a oposição nem o governo
teriam chegado ao ponto a que chegaram”
81
. Poucos dias depois, Alceu dizia estar tanto o
JB quanto o Correio da Manhã entusiasmados com a revolução, “pois a palavra ‘golpe’
ficou mal vista”
82
.
Apesar de contar com o apoio da condessa Pereira Carneiro, percebe-se, pelo que
Tristão declarava à filha, que em algum momento logo após o golpe militar as relações
entre ele e o JB se estremeceram por conta da posição do jornal favorável ao governo. À
época, Tristão publicava artigos também no Suplemento Literário do Diário de Notícias e
estava vendo seu espaço minguar naquele veículo, com a diminuição ou mesmo o
desaparecimento do Suplemento. Foi então que comentou não conseguir ver outro jornal
78
Carta de Alceu à madre Maria Teresa, dia 27 de março de 1964
79
Carta de Alceu à madre Maria Teresa, dia 1 de abril de 1964
80
Id.
81
Ibid.
82
Carta de Alceu à filha madre Maria Teresa, dia 4 de abril de 1964